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MEDI@GOES Revista OnLine A incluso de criangas africanas negras no Brasi Trajetérias curriculares antirracistas em construgao CAROLINE DELFINO DOS SANTOS sarol.delfinesantov@-gmaiLeom Rede pblica de ensino de Duque de Caxias, Rio de Janeiro Resume Ete ania presets wm esti ah ronizungo crcl stad pore Tasem Dogue de Caxa Rd fice sere de cranes aeans gas. Tats de a alin soe os ocesos dents ecso aoe gas as as os ‘smi. Com wma nate dees, resvadon revel qo ebore 1 cols lala ao elm consruso ums pedis especie pam ted Ie de anor cone mis, moka ns aes sob = rene Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl Ip inatinces esis me dessus craneas. As ages promovidas a entio pattem decom fitosdecorrentes do processo migratrio, Este campo englobs os en- traves encontrados no trabalho com diferentes cultura, desde o id ‘oma as priticas de preconceito nico-ravial, Nasosio “A histéra da Affica e suas cultures enquanto conteido cur riculr” abordamos a importincia de um corpo legislative a favor da slucidagBo da histria e cultuasafrcanas, Tal abordagem justitia-se ‘em azo da necessdade de leitimarmos a cultura affo no espago e= colar por meio do protagonismo dos alunos aftcanos, pertencentes também @ nossa mri cultural, Preoeups-nos,sobretudo, pensar 05 contextos em que a Affica¢apresentada na sla de aula Encetranios 0 referidoastigo com alguns consideragdes provisrias ‘pontuando a necesidade de um olhar sobre 0 fenimeno migratrio contemporineo,sobretudo, sobre o processo de escolatizaao das et- angas em contexto de deslocamento, Ressltanos que todo © exposto| se refere a um recorte do sontexto escolar aalisad, vi entevistas realizadas até entdo, O proceso de escuta vem se dando em torno 42 uum fiagmento do complexo e vasto cenitio que & ‘pois, de uma letra patcial construida a partir das natatvas dos {eitos, no devendo, pos, ser intepretada como um retrato rigid da escola, Tratase, realidade das escolaspesquisada, nem mesmo da relagdes sociais nels instimidas 1. A chegada das erfaneas afreanas negras 4 rede pba mune cipal de ensino de Duque de Caxias RI (0s deslocamentos pds-colonais, assim como 0s colonia, n30 seta tam de merosprocessos migrtros, mas compem tm quads de i= actos sofridos em decortécia das mais variadas formas de explo fo. Assim, eabe-nos algunas reflexses sobre como a logica do mer- ado vem reconfigurando suas formas de apropriaglo,resltando, portanto, nos deslocamentosem massa, Import-nos a forma pela qual ‘© povo aicano vinha e vem sendo disperse mundo afora. A diispora licens, ov afrodispora, fie segue como resultado de um processo, de mereantilzago ora no periodo de colonizasio, ora na costempo- raid. Em observagio aos grupos de alunos atendidos na rede piblica muni cial, entre os aftieanos que vm migrando para a cidade de Duque de Caxias, a maior parte sio oriundos da Repiblica Democritica do (Congo e, em segundo Inga, de Angola, repibesextremamenteimpac- tados com a guera e seus resquicios, CConforme dats histricos dos paises supracitados, as mazelas locts, Vol ?-a*2-2019, Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl Ip inatinces esis Suto de um projeto global, vém impulsionando deslocamentos cont ‘nuos desde a década de 1970 laicialmente, 0 desgjo de 20t2 Io 08, paises europous, dadas as melhores eonigdes de vida ofeecidas i po- pulagdo, Em entrevista concedida, referente aos congoleses, Dr. Fle tima Moniz avalia que “Elestunbém colocamo Brasil como wi ram polim, ds vezes, para trbalhar. © soaho dele &ir para a Suiga & ir ‘para Franga, ir para Bélgica. Eu acho que & por causa da fecilidede Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl pinata esi ‘ena get se somtnicara meno com dons irene 3 on ‘as eve gle pa, pore os ener qe ao er ha de ‘ear pore eat to minds com foe AL dl parva so ra procure tan ean, o gue tus pr come. ove Hahn 34 ‘uaa Quer dzu ona um curate, exten os fas slemdo ions O senso gests, rotor Mariza Reis 2018) Em consondncia fala suproctada, a Orientadora Pedagogica Viviane Penso traz a0 debate o preconceito pelo fito de se tratar de alticanos ‘como send ua problemtica superior &diérenga do idiom: Ang, tose gue el ses ua problema pop ao. Ba eho que 0 problems de pesoceo & wn problea ms seo Pot ‘G07 Of doe fie earl tas oe ls ao sh aga ‘ere apes coin do esr dos eotes aes "Por aoe le fn assin™ Mesino fs Years seat tepos como os oo, oles os coro ateter nto problema gue east der de fora (rab Ese pessoal em de fon gure 0 0 esp, fs macea den” El oo ques stale ns odes dzeqe ¢9 am coi, So qe a a mea ci. pr ‘ov als de doles acaram um gaaco pr fr cence on ‘Hanem qed igual ce pobre ego. Ns ess ac Vor ponte, ego. as voce aia afcmo. Vooe ue bse n> Eo ¢ a mui um ‘pi’, ao bun qua dao ‘neal Ena questo ic, fatale epee de precoseho ‘one les ao so ices comm a eat, les sto anaes foraura Atfcs,pogue io iam haar socom um ae eee Por sera Anas te se peso. (Oren Pega Vi 2 ews, 2009) [As falas drigidas 90s affieanos negros, por vezes,oriundas de outs riangasadolescentes negros revelam um conflta idenitrio decor- rete do fato de alguns alunos nfo se reconhceress como send ne ios. A soviedade tend a projetar nesses alunos um mello estético © idonttrio amparado em valores histricamenteaccitos que no se sassemelhum ao perfil do negro. Dia dia atbui-se a0 neg a imagem do negative, enguanto a0 bance so assovidos elementos simbelicos considerndes como posi tivos, assim, nos apoiamos nas anélises de Fanon (2008) para uma reflexio sobre as questies de alteridade coustruidas pelo brance ex relagio a0 negro ‘carasco¢o bomen ere, Sat urgo, ase J wees, quando Sedo 8 mez ata zg io ei sje ln oad {Sjece rl fe ov sem tor. Fre spree 08 <&Senoz ao wablo de eur um gaade tre de expres ue fheem do nego 0 peed.) Enao lo comreeaermns est ‘oposigho eens condctader ala ea vied rosea mero. ‘Gun, oobneuo, soa as wets, ales es date, Ss profiaesne she, epee septa de agen «60 oe Jadoo lt coda oedasia apa anc ap aa rin ‘isin. FANON, 2008p. 160) A negagio a negrituderevelase cultural eustifca-se pelo que tradi ionalmenteobranco atrbui ao negro. Os prevonceitos profess por rnegros aos seus pares revelam que a eonsrugao ds identidade dessas ciangas épautada em uma relacio hirirquica entre diferentes poves «com supremacia das populagbesbraneas sobre as negra. Vol ?-a*2-2019, Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl pinata esi A discriminagio racial supostamente fundamestada em uma doutrina de superioridade com base nas dterengasécfntficamente fsa, mox ralmentecondenivel, soctalmente trpusta eperigasa (Convengao Tn- temuacional sobre Fliminagio de todas as formas de Discriminagio, 1965). Dito de outea forma, no hi jstifeativa moral ely manutengio e reprodugio de pritcas diseriminatries em relagdo a pessoas negras ou qualquer outro grupo étnico-acil. Ao contri, ncontramos wn importante referacial legislative brasileiro que nos trazsubsidios para o combate das priticas racistas na sociedade e f+ lam diretamente sescolas © demas instinigdes de ensino. A com- preensio da inserco da educagio na elminagto das formas de disti- -minagdo parte da necessidade e urgéacia em pensar a foxmagio de ‘uma sociedade fundamentada ns prneipos de jgualdade erespeito& divesidade humana. pare Osrelatos dos alunos ratificam o preconceitasofrida na escola messia sendo eles flhos de atieanos. A seguir, fla de uma crianga em rela- 0 & amiga ps episdio na escola ‘Oem iv chosdo, Expert “Porque vos et cbornio™ Eh die: "Quado a get chet ees ee explo! A gaa a sents da eso e peruse pala" que cates? Mea” Ela ‘se qoa colegn deiner nln uns ss aescol. a depos se ‘gover vata queacoege aise "Voct ila de Aas” PPensando na nccessdade de sanar os problemas de preconceito ex relago aos afreanos, tal conto exposto no relato,¢ em problemas de ‘orem geral que se referem a priticas de desespeito& todos, a8 es60- Jas vém investindo em atvidades de formago partindo da promogio de informagSes sobre a origem dos alunos imigrantesefugiados: Pes i te os (eas) ato ateni, nto des eas ‘S inssaurides pore co acho abe ei man foarte co ‘eno ua wba de uae aos cou cla com itcanea, Ean, voit someone el be ‘Shao an mini sl que vem de ooo paseo fo “Oba Vase Spreader nis eis anos compartir nai cues. 3 ‘Bose exe vvo desis ede es gba se wba les o psertazer express, vo poser copra!” 0 {ce opp de can ei ener econ crn coo sere oq ea est psa ose meas de bol ‘beta, de gato. lesbo a se eco aos a fe alia sp. al spre gue ves gum oporunie Ge ace © (Coage,a Augl nar ds Aiea agate vrge buss 0 mapa Els ‘alan “Ait Ese opsisdn Al Ese uisoio toda. Ese io oltgar que wo # fla? “Fao te sas mcs Et ‘Stine oe sls Tena gues cd cln dese ‘nit fae Ee ato praca opstgnis deses sss (roesoes Elsen Stl) ‘As priticas pedagoaicas jd insttidas evidenciam a importincia da divalgosao © promagao do conbscimento em rlagbes énico-raciis 4e forma a ample a formayio dos alunos com vista ao recone mento das expeiéoeis ¢ contibuigdes dos negrosaffcanos para 3 Vol ?-a*2-2019, Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl Ip inatinces esis distvia da bumanidade, Nesse contest, a Lei 10.630/2003 se apre- Senta como um importante matco na construgio de una educagodes- colonizads, possiblitando, via eurculo escolar, o (e}conhecimento ‘da histiaeculturas da Alia eatieanos 3. histria da Africa e suas eulturas enquanto eonteddo cure wular CConsiderando que nosso pais apresenta um histrio grau de racismo em relago a pessoas afto-brasileias,poiticas de agbes airmativas, tal como a Lei 10:639/2003 eorroboram para o reconbecimento dos direitos de tai grupos, bem como para a formagio de novas eompre- ensBes em relagio&comtibuigo da populagio negra, Een nossa for- magia, a histvia que tivemos aceso reduz a patcipagio do negro ‘em nossa Sociedade a uma populagio escravizada e paifica,contudo, as experidacas vivenciadas por estes revelam marcas de lute pit cas de essténia, com importantes aruages politica, no por caso silenciadas at entdo. Ao contro, as imagens impressas nos livros Aiditicos que retrtam 0 coidiano dos negros quase sempre os a550- cam a pessoas em contexto de subservignia, corroborando para a manvtengio de uma visto estereotpada em relago a0 negro quando elimitam seu papel de fiomem escravizado e domesticado pelo bance, ‘Quanto & formagdo doceats, em anilise so cospo da redagio das Die retrizes Currculares Nacionais para a Edueagio das relagdes Etnico- Raviis ¢ para o Ensino de Histriae Cultura Affo-Brasileia © AS «cana, observames que a mesma sponta orientages paras insituigdes Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl Ip inatinces esis do estado e até pais, visto que © Brasil no compreende destino final de desejo dos aftcanos, mas sim a Europa, Consideramos que aregito da Baixada Flominense se apresenta como uma altemativa de rota, dado o baixo custo de vida ¢a presena de outros conecids. Nesse context, ter seus pates por pero revela-s como uma importante rede de apoio moral epsicoogica As eseolas que atendem as crangasaicanascontabilizam, em mel, ser esse 04° ano desde a sua chepada em maior quantidad, evonke- cendo a relago com os Fogos Olimpicos do Rio, embora essa nio t= na sido a principal causa, presenes de africanos negros na sala de aula uz tone problemas inerentes& xenofabia que se mescla ao ae cismo, revelando ainda questOes de alteridade ¢ conflits ideattrios, ‘isto ques erangasafticanas on mesmo as erangas deseendentes de stiicanos nascidss em solo brasileiro, sto agredidas verbalmente efi slcamente por outras criangasnegras que fazem mengie 8 cor da pele € tipo de cabelo. O preconceitoatribuido aos africanos no vem pas- sando despercebido pelos professores que, via pojetos pedagdgis © ages cotiianas, ntervém com uma pedagogia a favor ds dferengas ‘manifestadas ndo apenas pelos imigrantestefugiodos, mas pelos ate nos de modo mais amplo. Com vista a superacio das priticas de bullying, racsmo, xenofabia€ ‘outeas experiaeias com vids intolerante 0s pofissionsis da edueagao ‘vim encontrando como altemativa © caminho da informagio a res peito da origem dos imigrantesrefuiados, suas histérias e eulturas africanas de modo a romper com conceitos construidos soialmeate em torn do continente aficano, As intervengbes pedagdeieas, ainda «que entendidss por alguns profssionis eomo insuficientes, mostra, que as eseatgiasadotadas vém cumiahando para un process inl sivo a favor da diversidade, Vol ?-a*2-2019, <109> Molinges Reis One dh Eso Superior de Esco do sit Polieaizo de Sxl pinata esi Referinctas Bibliogrificas [BRASIL Lei 939496, Le de Drees e Bass da Educagto Nacional Estabelece as dicerizse bases dt edvcao aca Brasilia, 1996 Disponivel em ap: ar pal 2%. ‘sO 19394 hn Avesso om Oma /2019, Leia 9174, Define mecansncs pas implementa do Este Tatoos Refugiados do 1981. detemana cua: providéncas. Bra- sll, 1997. 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