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‘0 Sonho FN CRM HURT IMEI SONIA M. BIBE LUYTEN 6 professora da Universidade Real da Utrecht (Holanda), Existe uma velha anedota no Brasil que trata de um cidadao portugués residente em Sao Paulo e que ganhou um prémio acumulado da loteria esportiva. A historia se passa na década de 60, e quando Ihe perguntaram o que iria fazer com tanto dinheiro, o feliz lusitano simplesmente respondeu: “Ora, pois, youcomprar avides Mirage”. Diantedasurpresa dos interlocutores, ele explicou: “Vejam, pois, se os ju- deus de Israel compram, deveserum bomnegécio!”. Algosemelhante acontece hojeemdia como mun- do diante do incontestavel sucesso econdmico do Ja- pao. Se os japoneses investem em determinado pro- duto ou regiao, todos concluem imediatamente que REVISTA YOUNG JUMP, PARA ADOLESCENTES MASCULINOS — EDITORA SHUEISHA, TOQUIO, 08.08.98 (NFLUENCIA DO ASAHARA DO SHINFIKYO - VERDADE SUPREMA) -“-~ rR = cc. “=. oe fC RON deve ser digno de imitagiospoisasexpert ll a coisa no ficou nisso, Ao se perceber que atrés do sistema de trabalho dos japoneses havia toda uma filosofia de encarar a vida, imediatamente abriram-se escolas e grupos de meditagao tipo zen-budista, além de ou- tras préticas religiosas do Japao. Nao fica- ram esquecidas as artes marciais,considera- das excelentes parase quebrar a tensoner- vosa acumulada durante atividades inten- sas de trabalho. As modalidades artisticas como ceriménia doché, origamie caligrafia também foram convocadas e no se esque- ceu da cozinha japonesa, to simples mas, a0 mesmo tempo, tao sofisticadae exigente. Com tudo isso, 0 Ocidente, sem divida, enriqueceu-se culturalmente, mas 0 fato motivador persiste: com crises ou sem cri- ses, com terremotos e com ameagas de gas sarin, o Japao continua lider no mundo dos negéciose fecha, ano apés ano,com abalan- ga de pagamento a seu favor. Nao obstante © decréscimo nos luctos dos tltimos anos, um fato ésempre garantido, apesar dos ana- listas internacionais, sequiosos de apontar aspectos negativos: 0 Japfo continua cres- cendo e fazendo lucro no conjunto de suas operagdes comerciais. Centenas de livros foram escritos nos Uiltimos anos sobre o fendmeno estrondoso desta relativamente pequena nagio asiéti- a, mas pouca atengdo tem sido dada aquilo que realmente faz os japoneses serem 0 que so, Muitos observadores apostam na imi- nentederrocadado poderio japonés, mas os anos vao passando e, bem ou mal, o PNB japonéscresceeomesmonemsempreacon- tece com os pafses pés-industrializados do Ocidente, ¢ isso sem mencionar 0 Terceiro Mundo. Nao temos aqui pretensdes de apontar chaves de sucesso nem caminhos a serem seguidos, masgostarfamosdecolaborarpara que se encarasse o Japao como um pais de gente com todas as qualidades e defeitos de qualquer outra nag. Nao € preciso com- prar avides Mirage do Japao. Mas, assim como 0 Japao que, desde os primeiros con- REVISTA USP, Sho PAULO (27) | : 3 g 5 3 3 & : B i a 3 5 tilmenteoferecidas pelos portugueses), tam- bém podemos aceitar do Japao aquilo que verdadeiramente nos interessa. Além disso, | irae i 83 5 Be Ee Be 2 8 4 gE é F i e f 2 S z E desvendar 0 como eo por qué desua tenta- tiva de realizagao. E onde vamos encontrar © sonho de uma nagio? Na sua expresstio, nasuaartee, explicitamente,nosseus meios de comunicagao de massa. Brexatamente | tasparaseusanseiosesonhos. Assim chega- mos ao cinema e teatro, & literatura e a im- prensa e, last but not least, as historias em quadrinhos, ou mangas, como sao chama- dasno Japao. E veremos que nao éa toaque noJap4oaprodugaodehistériasem quadri- nhos a maior do mundo. Certamente, néo & por acaso. A ATUAGAO E O IMPACTO DO MANGA NO PUBLICO JAPONES ih asemrquadrinhos, Podem até nao 0 confes- sar diretamente, mas um rdpido exame ‘mostrar4 que, pelomenosem alguma época desuas vidas, houve exposicao a esse tipode literatura. Acreditamos, porém, que em nenhum pafs do mundo modernoessa influ- éncia tenha sido to forte e constante como no Japao. E isso em todos 0s aspectos da publicagao dos agora internacionalmente conhecidos e até imitados mangas. Hé para isso uma série de razdes, antecedentes € conseqiléncias que pretendemosanalisarno decorrer deste trabalho. Para comegar, o mangé, hoje em dia, no Japao, € considerado por eles como japo- nés, apesar de sua divulgacdo anglo-ameri- cananasiiltimasdécadasdo século pasado. Os ambientes sao praticamente sempre in- seridosnocenérionipOnico, as personagens 130-137, SETENBRO/ NOVEMBRO 1995 facilmente identificdveis com os anseios coletivos do arquipélago, os desenhos ¢ a hébil utilizagao da escrita nipOnica, inclusi- ve para expressar as onomatopéias, so tini- cos no género. E como se tudo isso nao bas tasse, asua divulgacdomacicandotem para- lelonomundointeiro.Com publicagées para todas as faixas etdrias, sexos e preferéncias, 6 dificil que escape um 86 cidadao japonés daonipresente influéncia do mangd (1). Por issomesmo, seu consumo é publico eas cla- Tas. Pessoas de todas as idades léem os seus mangds, especialmente noscoletivos,duran- te as longas horas que tm que passar entre suas casas ¢ a escola ou o emprego. Por ou- tro lado, nas numerosas livrarias do pais (onde predomina a venda de mangé), pode- se folhear livremente os exemplares exis- tentes, e muitos se aproveitam da ocasiio para ler aquilo que ndo podem ou nao pre- tendem comprar. O mesmo se passa nas igualmente nu- merosas “lojas de conveniéncia” que ficam abertas 24 horas por dia, e onde também h4 largas seg6es de revistas. E comum, ao se passar por uma dessas lojas, especialmente no hordrio pés-meia-noite, quando as Tuas esto desertase escuras, observar-se grupos de jovens que, silenciosamente, passam ho- raslendo assuas revistas de quadrinhos pre- feridas. E tudo isso nao chega a alarmar os vendedores, como seria de se esperar. A venda macica ndo € ameacada por esses lei- tores de ocasiéo. Todos acabam levandoum ‘ou mais exemplares na safda. MANGAS PARA GOSTOS SIMPLES E EXIGENTES i outrospatses, Temos, assim, desde mangas dedicados aos mais diversos esportese artes marciais, as revistas que enfocam todos os possiveis interesses e preferéncias, desde culindria, administrago publica e, entre os langamentos mais recentes, uma série sobre aShinrikyo e seustenebrosos fabricantesde gs sarin. O livro de A. Morita, o capitao da REVISTA USP, SKO PAULO (27) Honda, Made in Japan, foi mais lido em ‘versio quadrinizada do que em impressio regular, Antes de morrer, o Imperador Hirohito tornou-se finalmente conhecido pelo pubblico japonés através de sua biogra- fia em forma de manga. Nao comporta este artigo a andlise de todas as modalidades existentes do qua- drinho japonés. Para isso, nos referimos 20 livro MangErO"POMePqOQUTEPRROS daponeses (2). O que importa para nés, aqui, € que todos os sonhos e anseios pos- stveis do cidadao japonés, de qualquer idade ou condigao social, sempre encon- trar4o seu referencial possivel nas histéri- as em quadrinhos. Assim, nao é de se es- tranhar que a jovem escritora japonesa Banana Yoshimoto, autora do best-seller Kitchen e outros mais, declarasse candi- damente em entrevista que a sua grande fonte de inspiragdio vem dos mangés diri- gidos ao ptiblico feminino juvenil (3). Hl Os mangés, como so adaptados para as diversas faixas etarias, costumam “facili- tar” a leitura mediante esse tipo de tradu- do intralingual, o que é praticamente inadmissfvel na imprensa ou livros. E essa ¢ uma de suas grandes caracteristi- cas. Os desenhistas japonesese os editores de mangé descobriram que parase alimen- tar sonhos de uma sociedade é necessério consolidar uma base de informagdes ve- rossimeis. Isso tudo aliado a uma identifi- cagéo completa com o seu piblico ea uma praticamente total auséncia de concorren- tes estrangeiros tornam os mangas um dos mais poderosos meios de idealizagao de anseios ¢ da confirmagao de identidade nacional, e,é preciso acrescentar, do senti- mento de superioridade dos japoneses. 130-137, SETENBRO/ NOVEMBRO 1995 1 Sonia M, Bide Luyten, "Mangés Expdem om gine Senimenios 8 Emo- bes" nO Estado oe S Baule, Sto Paulo, 2118 1906, 3 v0 Smit, “Helmwee naar Japan, heimwes MeDonalss” in Liter Nac. © MANGA COMO PRODUTO DE DIVULGACAO DA CULTURA JAPONESA Sao os exames de sangue, urina e fezes que dio aos médicos toda a seguranga em seus diagnsticos endo aparéncia fisica do paciente nem as suas queixas. Da mesma forma, pode-se fazer um paralelo com os habitos de consumo. Ficou bastante conhe- cido um caso nos Estados Unidos, onde al- guns pesquisadores, cansados dos “bias” causados pelas respostas de seus entrevista- dos, passaram a examinar o lixo caseiro dos mesmos. A mesma coisa se dé quando se fala em leitura e influéncias literdrias. To- dos conhecem Gilberto Freire e Fernando Henrique Cardoso masquem realmente leu a obra completa destes ilustres cidadios? Todos gostam de teatro mas a maioria nao passa de consumidor de novelas de TV. Paulo Coelho vende muito mais do que os dois escritores acimamencionados. Queira- MOS OU NAO, PAFEVEHACHTOFS GUC PEATE opovoecomoquesonha,éprecisoverificar PNOPTACAS CE UNEHMIENTO. E por isso que raramente se divulga ou sediscute o que se lé verdadeiramente. Isso também acontece no Japao onde o Monbushé - 0 Ministério da Educagao - publicacriteriosamente o que os estudantes devem ler e saber, e acrescenta estatisticas sobre os progressos jé aleangados. O que ‘go menciona é a quantidade astronémica de leitura ndo-obrigatéria que os estudan- tes consomem e que chega a cinglenta ou cem vezes mais do que o nimero de paginas didaticas. Emborao Japao seja um pafs onde se véem revistas de quadrinhos por todos os cantos, ninguém, pequeno ou grande, anda se vangloriando disso. Mas tanto a diversi- dade quanto a quantidade de revistas consumidas no pais mostram bem o quanto 0 japoneses estdo sujeitos a esse tipo de leitura. Podemosconcluir facilmente que os ‘mangds esto presentes em todas as fases da vida japonesa e esse fato tem sido percebi- do, aos poucos, pelos paises que mais conta- tos tém com o Japao. De inicio, podemos considerar os cha- mados “quatro tigresasiéticos”, a Coréia do Sul, Hong-Kong, Taiwan e Cingapura, pai- ses estes que esto seguindo 0 exemplo eco- n6mico do Japao com bastante sucesso. O REVISTA USP, SO PAULO (27) interessante € que ndo h4 nenhum lago afetivo entre os “tigres” 0 seu modelo. Antes pelo contrério, Hé fortes sentimen- tos antinipOnicos devido a passados colonialistas e de agressao, mas é justamen- te af que vamos encontrar as maiores doses de aceitago de tudo o que representa 0 produto cultural japonés. Situagies seme- Ihantes podemos encontrar nos paises limftrofes da Alemanha. Hé um forte senti- mento antigerm4nico que é coletivamente expresso pelaliteraturaeimprensamasque, ultimamente,s6aflorasensivelmenteduran- teoscampeonatoseuropeusde futebol. Fora disso, ¢ na vida didria, tudo o que a Alema- 130-197, SETEMBRO/ HOVEMBRO 1995 ACIMA, MAGINARU, DE MOTO HAGIO, EDITORA SHOGAKUKAN: AO LADO, 0 EDO WA NEMURENAI, DE KEIKO HONDA, EDITORA MARGARET comics; NA OUTRA PAGINA, OUTRO MOMENTO Do YouNG sume REVISTA USP, SHO PAULO (27): 130-137, SETEMBRO/ NOVEMBRO 1995 135 nha faz norma até para 0 resto dos paises da Comunidade Européia, Outro exemplo €0 sentimento de amor-ddio que os paises da América Latina sentem pelos Estados Unidos. Reclamammasbrigamentresipela preferéncia ianque. Quanto aos mangds, 0 que mais nota- mos é um grande volume de hist6rias traduzidas para as respectivas Iinguas dos quatro “tigres”, sendo, porém, em menor escala, a posigao de Cingapura, que tem muita influéncia dos quadrinhos da Malésia equesdo fortementedecunhoislamico.Nos outros trés, entretanto, devido a um passa- docultural comum, os herdis passam perfei tamente pelas fronteiras. Em termos gerais, apassagem se dé de tal maneira que alguém que nao conhece os quadrinhos japoneses propriamente ditos vai considerar a produ- 40 coreana, taiwanesa e de Hong-Kong ‘como sendo legitimamente autéctones. Hi para sso um paralelo fortissimo que € constitufdo pelos desenhos animados ja- poneses que, além de terem penetrado no mundo inteiro, reinam nos quatro paises mencionados. Muitos desses desenhos so abstrafdos dos mangds e, assim, abrem uma tendéncia natural para muitos quadrinhos no Extremo Oriente. Alémdisso, hdescolasde desenhistasque seguem os moldes estéticos dos mangds e estes se encontram, em ordem decrescente, naCoréia, Taiwan, Hong-KongeCingapura. Nesse caso, o que notamos mais é a mudan- ado ambiente fisico: os aspectos de violén- cia se tornaram mais acentuados e os dese- nhoslangorososdos mangas femininosmais atenuados. Pelo acima observado, nao se notam figuras como O Lobo Solitério, que tanto sucesso obteve nos Estados Unidos ¢ Europa mas 0 mangé de exportagio n° 1,0 Akira, esta presente em todo lugar. Na Europa, toram os franceses os que _emprimeiro lugar descabriram osdesenhos _ japoneses. J4 na década de 6, os desenhis- tas Druillet e Gigi se declaravam influenci- “ROSS PElAS Ca acter isticas UO Mange. AMEE cola de Bruxelas, a maior fonte de inspira- 0 e difusdo de quadrinhos no mundo oci- - dental, nos anos 70 apresentava uma série $0, boa parte dos herdis regulares europeus jd passaram por algum evento no Japao, embora sem perder suas caracteristicas es- REVISTA USP Sho PavLo (27) ‘t6tieas. S6 0 Tintin se manteve fiel na carac- terizagdo antijaponesa e pré-chinesa. / mange, s6 que feitas por desenhistas ameri- canos. E este foi o grande salto dado, a partir de Miller, que renovou muito a linguagem dos comics, com a quebra dos limites do qua- drinho convencional, dando um dinamismo maiorno visual. E,sem divida nenhuma, via Estados Unidos, esse modelo passa a ser in- tegrado ao quadrinho ocidental. No entanto, nem nos Estados Unidos e- ‘eH Mens tia Europe podese Malar de ‘uma verdadeira influencia dos mangas. O que temos séo exemplos esporédicos que mostram a fora dos quadrinhos nipdnicos mais a situaco de imitagio massiva, como na Coréia e Taiwan, af nao existe. A “MANGAMANIA” NO BRASIL © Brasil € um dos poucos lugares no mundo onde nao existe um sentimento co- Ietivo.adversoaosjaponeses. Isso talvez pode ser explicado por trés motivos: 1) nunca houve uma guerra de agresso como acon- teceuno Extremo Orienteeaté nos Estados Unidos;2) a0 contrério dos paises europeus €, novamente, os Estados Unidos, no ha concorréncia direta entre produtos japone- ses e locais; 3) no Brasil, um dos paises que recebeu grande contingente de imigrantes nipénicos, estese caracterizoucomoelemen- totrabalhadoragricolagranjeando,comisso, mais simpatia dos habitantes j4 estabeleci- dos. O mesmo nao aconteceu em outros lugares, como México, Peru e Argentina, ‘onde os imigrantes japoneses se dedicaram em grande parte ao pequeno comércio,che- gandoa ser considerados pelo povo simples como exploradores. Em nosso pafs também se encontra 0 maior mimero de japonesese descendentes fora do arquipélago. Ao todo so cerca de 1.200.000. Com excegao de um pequeno perfodo durante a Segunda Guerra Mundi- al, quando a ditadura de Vargas proibiu as, escolas japonesas e suas reunides sociais, sempre houve um clima de cordialidade entreos dois paises e seus habitantes. Sénos Ultimos anos é que este clima foi alterado 130-137, SETEMBRO/ NOVEMBRO 1995 devido & controvertida situagio trabalhista dos quase 200,000 descendentes de japone- ses, os dekasseguis, pois 0 tratamento que Tecebem no Japao esté longe de ser cordial. No que se refere a presenga dos mangas no Brasil, é preciso distinguir duas fazes dis- tintas. A primeiraéasuapresengadentrodo contexto da vida dos imigrantes e seus des- cendentes. Nesse aspecto, cumpriram um papel importantissimonaos6comoelemen- to de manutengao ¢ atualizagio do idioma japonés como de influéncia estética nos de- senhistas nisseis. Através da leitura das his- \6rias,osideogramas em kanji, acompanha- dos da insergao dos firigana, eram ludicamente assimilados no processo da absorgio © aprendizado da lingua. Além disso, os mangas cumpriram também o pa- pel de atualizagéo da Iingua corrente no Japao por incluirem palavras de origem in- glesa, em silabério katakana, Por muitas décadas, as revistas de man- gd chegavam ao Brasil através de importa- dores que se encarregavam de distribui-las nas livrarias da col6nia japonesa. Sem dtivida alguma, além da fungio di- ditica, 0s mangés influenciaram sobrema- neiraacarreira de muitosdesenhistasnisscis, de maneira estética, pelo trago do desenho ena tematica das hist6rias. Nesse aspecto, 0 Brasil éum dospioneiros domundo. Jadesde 68 anos 50, Julio Shimamoto marcou pre- senganoscléssicos brasileirosde histriaem quadrinhos do género terror. No decorrer das décadas hé inimeros exemplos da utili- zaco da técnica do manga nas historias em quadrinhosnacionaispelos desenhistasnipo- brasileiros sem que 0 mundo tomasse co- nhecimento desta grande inovagio. Na década de 70, também no Brasil, fo- ram iniciados os primeiros estudos acadé- micos sobre o manga, publicados pela revis- ta Quadreca, em 1976, na Escola de Comu- nicagdese Artesda USP (4), alémdaforma- gio de biblioteca especializada em revistas de mangé e acriagdo da Abrademi (Associ- ago Brasileira de Desenhistas de Mangae Ilustradores), com exposigées itinerantes pelopafs. Tudoisso, pioneiramente,semque a Europa e os Estados Unidos tomassem conhecimento, sem que Brasil fosse ponto de referéncia para o mundo. ‘A segunda fase da presenga dos mangas no Brasil é caracterizada pela sua divulga- do via Estados Unidos. Apés a tradugao de REVISTA USP, SKO PAULO (271: 130-137 alguns mangas cléssicos para o inglés, a de- claragéo de desenhistas americanos e euro- eus, pela imprensa mundial, que recebe- ram influéncias do mangé, a importagdo macica de desenhos animados nipdnicos paraaTV-s6afaseditorasbrasileiras““acor- daram” para o fendmeno manga. “O que 6 bom para a América é bom para o Brasil.” E inicia-se a etapa da “mangamania” em nosso pais, exemplificada pela publicagéo do Mangajin em Portugués, revista que vern obtendo muito sucesso nos Estados Unidos ecujoobjetivoéo ensinodalinguajaponesa através dos quadrinhos. ‘Com isso ndo descartamos o que de fato ocorreu com a enorme popularizagao dos ‘mangas, mas queremos apenas colocar este fendmeno dentro do justo contexto do Bra- sil em relagio ao mundo, CONSIDERACOES FINAIS Os mangds, assim como 0s outros pro- dutos japoneses, industrializados oude teor cultural, tendem, certamente,aseimpor em outros paises, incluindo-se af o Brasil, Os quadrinhos japoneses, no entanto, fazem parte de um “pacote” maior de produtos e influéncias. Devido as peculiaridades da si- tuagao nip6nica, nao se espera que uma produgao maciga de quadrinhos influencia- dos pelo Japaio venhase dar em outros luga- res,com excecao dos “quatro tigres” (que ja seguem 0 Japo em tudo quanto é area de sistema de produgao). O que ¢ importante considerar é que, nos tiltimos anos, tem sido reconhecida internacionalmente a impor- tancia do fendmeno manga. Assim como a literaturaeo cinema japonés, que passaram de um desconhecimento total para momen- tos de idolatria, também omangé percorreu caminho semelhante, mantidas as devidas proporgdes. O momento agora é de assen- tamento e de coexisténcia, Naocremos que, em futuro préximo, ougamos falar de qua- Grinhos ocidentaisoude qualquer outra area influenciandoaprodugdoniponica, Paraisso cla é demasiadamente forte e voltada para dentro de si mesma e para a realidade (¢ sonhos) que representa. O que podemos fazer, isso sim, é como os propriosjaponeses sempre fizeram: aceitar do estrangeiro so- mente aquilo que se torne indispensdvel e que tenha uma utilidade marcante. O resto devolver, com ou sem sorriso. SETENBRO/ NOVEMERO 1995 Edtoracto smOvadennoe, ola Aura desde 1073n ECA-USP. Os resutacos

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