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I GENESE, I Do Individuo-fora-do-Mundo 20 Individuo-no-Mundo* dos primeiros séculos do crs primeiras etapas de uma evolucio, Um complemento ou ep- logo mostra, a longo prazo, a culmindncia dessa evoluefo em Calvino.** Os primbrdios eristios do individualismo id., pp. 8591) imsita parte € uma versio francesa da Deneke Lecture proferida na Lady Mergeret Hall, em Oxford, em maio de 1980. (cf. anterior: mente Annuaire de Ecole Pratique des Hautes Etudes, 6° seqdo, para 19751974). A hipOtese geral foi provocada por um coldquio da revista iano, Sally Humphreys € Peter Bro Daedalus, pit 1975, para uma primeits apresentagso da hipétese, que tribuiram para modificar e' amy (© complemento sobre, C proposto num seminério sobre de personne” (Oxtord, Wallon Colle, sale de 1980) 36 Génese, 1 0 Individuatismo a que se esteja de acordo quanto as suas origens. Para certos € implt- autores, sobretudo nos paises onde 0 nominalismo € forte, ela amos de sieve sempre presente por toda a parte, Para outros, ela surge E ”", designamos duas coisas 20’ mesmo tempo: um com a Renascenga, ou com a ascensio da burguesia, Mais lor. A comparagdo obriga-nos a freqiientemente, sem diivida, e de acordo com a tradigd0, con- sses dois aspectos: de um lad ase que as raizes dessa idéia estio em nossa heranca ensa e quer, ou dual da espécie humana, tal como a encontramos em to- das as sociedades; do outro, 0 ser moral independente, autd- nomo e, por conseguinte, essencialmente nio-so dos nossos valores supremos, e que se encontra em pr ' lugar em nossa ideologia moderna do hoi duas esp © valor supremo, falo deCindi Vidualismo- no caso oposto, ett -que_o valor se encontra na : Sociedade Como um todo, falo det Grosso modo, 0 problema das origens do i ido age sobre 2 sociedade inteira ¢ esté em esta em saber como, a partir do tipo geral das s a _acdo, Assim procedeu Max Weber. listas, péde desenvolver-se um novo tipo que cor por nossa parte, toda a consideragio damentalmente @ concepco comum. Como_f & estudemos somente’ as configuragdes de i¢#o, como podemos conceber uma transi idéias e valores, as tedes ideotégicas, a fim de tentar chegar as i relagdes fundamentais nelas subentendidas, Eis a minha tese,. ém termos aproximados:. algo do/individuallsm moderno estd presente nos primeiros cristdos.e 6 mundo que os cerca, mas exatamente do individualismo que nos € fai idade, a antiga forma e a nova estio separadas por uma . tansformago tio radical e t0 complexa que foram, precisos nada menos de dezessete séculos de cristd. para com pleté-la, e talvez prossiga ainda em nossos dias. A i o ferménto ese i 1s, a descoberta na Grécia do “discurso coerente homens que se viam como individuos: as névo: obra 4 qual substitui as relacées constran- como 0 conhecemos; mas, por jem_ quer, em, 0 Fenuciante, \é respor vése claramente nos textos antigos a origem da que € facilmente compreensfvel:_o_homem que busca a ver- dade Gltima abendona a vida social e suas restrigSes para con- sagrar-se a0 seu progresso e destino préprios. Quando ele algumas das primeiras etapas da transformacio. Que nos seja ‘olha para trés de si, para o mundo social que abandonou, desculpada a forma condensada em que apresentamos © que se vé-o a distancia, como algo desprovido de realidade, ¢ a desco- segue, + berta do eu confundese para ele, no com a salvagio no sen- Para vermos a nossa cultura em sua unidade e especifici- dade, cumpre_colocé-la em perspectiva, contrastando-a com ou- a aWePRDamee Cine t tras cultures, Somente assim podemos tomar consciéncia do entity Be se cialis inde” (1959), Fal Génese, 1 tido cristéo, mas com a libertagéo dos entraves da vi come_é vivida neste mundo. G renunclantepastese a si mesmo, #6 $= preocupa con. sig MESS. -O penisamento dele é semelhante a0 do individuo modemno, mas com uma diferenga essencial: nés vivemos no Gie vive fora deste. Foi pot isso que chamei a0 dividuo-fore-dormundo”. Compara- luos-nomundo”, indi luo extramundano| Fat —“tensivo dessa nogéo juo-fora-do-mundo" ris veiso para essa estranha_ctiatura € sua relagéo wm a sociedade. (O renuncianté) pode viver co- tério ou juntarse-@ Ua grupo de colegas de entncia, sob a autoridade de um_mestre-renunciante, repre- sentando uma determinada melhanga com os anacoretas ocidentais ou entre mos distas ¢ cristios pode chegar mui . Por exemplo, as uss espécies de congregagées inventaram, independentemente, ‘n6s, € 0 abismo que separa o re- do homemno-mundo. Em pri- ibertagdo somente esté aberto a do mun- © que € esse Inunciante do mundo soci Imeiro lugar, o caminho da lbertags {quem ebandona 9 mundo, O distanciamento em f dp social € a. condigao do. desenvolvimento dual. A relativizagao’ da vida no mundo res te da rendneia ao mundo. S6 0s ocidentais puderam cometer © erro de supor que certas seitas de renunciantes tentaram mudar a ordem social. A interagio com o mundo social assu- mia outras formas. Em primeiro lugar. riagdes de grande amplitude, segundo o tempers pastor ou autor e, sobretudo, de acordo com as Em vez de procurar regras convird mai cada caso os limites exatos da variagio permitida. \Eles slo Glaros em prine(pio: de um lado, o mundo no deve ser pura.| © simplesmente condenado, como foi pelos heréticos ends do outro, nao deve usurpar a dignidade que pertence somente E podemos supor que a variagdo seré minima nas | 3. amente. mi Um autor recente sul causa, AO estudar a exogese de Origenes, Caspary mostrou Sdmiravelmente como (0 que me patece ser) a oposiséo fun- damental age em diversos niveis ¢ em diverses formas, ¢ cons- SF Dvomik, Early Christian and Byzantine Political Philosophy. Ori fging and Background, Weshington, 1965, 2 vols ________— 50 Génese, 1 fitui uma rede de significagdo espiritual, uma hierarquia de correspondéncia.® O que é verdadeiro para a hermenéutica blfca pode aplicarse também a interpretagéo dos dados brutos da experiéncia, Dizia eu hé pouco que se pode tomar as coir sas deste mundo como hierarquizadés de acordo com sua rel tiva pertingncia para a salvagao. Sem divida, isso nfo ¢ tematicamente exposto em nossas fontes mas hé um aspecto, pelo menos, em que a diferenga de valor relative deve ‘ser Tevada em conta, Mostrei ent outra parte que.o mundo moderno subyerlera o primado tradicional das relagdes entre homens, stituindo-o peles relagées entre os homens ¢ as. coisas. bre este ponto, a atitude dos primeiros cristaos mio sofre vidas, porquanto as coisas apenas constituem meios ou estor- Vos na busea do reino de Deus, a0 passo que as relagGes entre homens baseiam-se em individuos feites & imagem de Deus ¢ destinados & unido com ele, Talvez seja nesse ponto que 0 contraste com os modernos esté mais marcado. ‘Assim, podemos supor (e constatamos) que a subordina- go do homem eri sociedude, seja no Estaco ou na escravatura, presenta questOes mais viteis para os primeiros cristios do Gue a atribuigio permanente de possess6es e pessoas, ou seja, ‘Miropriedade privada das coisas. Os ensinamentos de Jesus Sobre @ riqueza como impedimento e sobre a pobreza como adjutério da. salvagio, dirigemse pessoa _individualmente, No nivel social, a regra secular da Igreja € bem .conhecida; trata-se de uma regra de uso e ndo uma regra de propriedade. Pouco importa a quem a propriedade pertence, desde que ¢ seja utilizada para o bem de todos, sobretudo daqueles que sio necessitados, pois como diz La: contra 0 comunismo de Plato), a @ nao de circunstincias exteriores. Troeltsch Seas felizes, como 0 amor no sefo da comunidade acarrctava D desprendimento em face dos bens (nota 57 ¢ p. 115 € $8. TS1¢ s8), Por tudo o que sabemos, podemos supor que na auséncia de toda a insisténcia dogmética na matéria, as jovens ‘Com efeito, Cespary distingue quatro dimensées, de contraste ou “pa 1 ee os ats somente Fetém um como hierdrquico (op. el e114), mas € facil ver que = ende se a todos 3 pequenas ¢ em grande medida aut8nomas, terdo po- fem seu tratamento da propriedade, algumas, tal- vez, colocando tudo em comum num dado momento, enquanto gue s6 era uniforme a injungio de ajudar os irmaos carentes. Os estéicos e outros tinkam declatado os homens enquanto seres racionais. A igualdade cristé estava, mais profundamente enraizada, no préprio coragio da pes mas era, mesmo assim, uma qualidade extramundana: “Néo | pode existir nem judew’ nem grego... nem escravo nem ho~ mem livre... nem macho nem fémea, pois na verdade sols | dos um homem em Jesus Cristo”, diz. Paulo, e Lactincio: wuém, aos ofhos de Deus, & escravo ou senhor... Todos | cavatra era coisa deste suais vex, do, mas € wi cacao do abismo que nos separa daqt essoas para quem aquilo que, para nés, constitui uma viole: | 40 do proprio da dignidade era ap tuma contradigo inerente & vide no mundo, assumida pelo préprio Cristo para redimir a humanidade ¢ converter assim a hhumildade numa virtude cardeal para nés. Todo_o esfargo_no fentido da perfeiczo estava voltado pata o interior, como com vyém a0 individue-fora-do-mundo, Tudo isso € muito bem vis to, por exemplo, ao nivel “tropolégico” da exegese de Orfge nes, onde todos os eventos biblicos sfo interpretados como tendo por teatro a vida interior do ctistio (Caspary, op. cit.) No que se refere & subordinacio polftica, o seu tratameh= to por Troeltsch pode, sem divida, ser melhorado, Ele segue Carlyle: a atitude em face das leis & governada pelas concep- ‘bes da Lei da Natureza, mas_o poder que promulza as_leis & visto de um modo diferente ¢ considerado De fato, a lei naturale a realeza acrossanta nao eram t80 estranhas uma outra. Bis mais um caso emi que ume perspectiva hie- rérquica € mais conveniente. © ponto essencial esta em Paulo: todo © poder vem de Deus. Mas no quadro desse principio, global hé lugar para a restrigfo ou a contradigdo. Isso € evi- obi iqualdade natural © do governo” © da RW. e A. J. Carlyle, A History of Me the West, tomo I, por A. J. Carlyle, “The Second Century ", Edimburgo e' Londres, 1905. 32 Génese, 1 denciado num comentério sobre Paulo do grande Origenes em seu Contra Cels Ele diz: “Nao hd outro poder seniio o de Deus.” Entao alguém poderia dizer: © qué? Também es- se poder que persegue os servos de Deus... provém de Deus? Respondemos brevemente a isso. A dé- diva de Deus, as leis, so para uso, ndo para abu- so. Haverd, na verdade, um julgamento de Deus contra aqueles que administram o poder que rece bberam de acordo com suas impiedades e nfo de acordo com a lei divina... Ele [Paulo] nao fala desses poderes que perseguem a fé, pois nesse caso seria necessério dizer: “Cumpre obedecer a Deus fe no aos homens”; ele fala somente do poder em geral (Troeltsch, nota 75). ‘Vé-se que, neste caso, uma instituicdo relativa ultrapas- sou seus limites e entrou em conflito com 0 valor absoluto. _-—Embora contréria a0 valor sltimo dos ctistdos, a_subordi fragGo_politica resultava da Queda ¢ encontrava. sua ju Go na_Lei da Natureza telativa, Assim disse Trineu: “Os homens “cairam Uonge] de Deus... Deus impés-Ihes 0 feio do medo de outros homens... para impedi-los de se entredevora- rem como peines.”. © mesmo ponto de vista foi aplicado por Ambrésio & escravaiura, um pouco mais tarde, talvez porque Se apresentava como uma questio individual, enquanto que Estado era uma ameaga para a Tgreja como um todo. ( noté- yel que uma explicaggo semelhantc nio tenha sido dada da propriedade privada, exceto por Jodo Criséstomo, que era um ppersonagem excepcional.) Também neste caso hé lugar para ccerta variago. Por uma parte, o Estado € 0 imperador séo aprovados por Deus como tudo 0 que existe sobre a terra. Por ‘outro, -o.Estado esté para a Igreja como a terra para o cfu, um mau principe pode ser, muito simplesmente, uma puri go enviads por Deus. Nao se pode esquecer que, em geral, na perspectiva exegética, a vida sobre a terra depois do Cristo € uma mistura: ele inaugurow uma etapa de tran: estado"dos homens ainda no resgatados do Antigo Testamento, € 0 cumprimento pleno da promessa esperada com 0 retorno) do Messias (Caspery, op. cit., pp. 176-177). No intervalo, os homens s6 tém 0 reino de Deus em si mesmos. © Individualism 3 Neste ponto, devo apresentar desculpas ao leitor. A con- tragosto, deixarei de Jado Santo Agostinho, embora seu pensa- mento seja central para o nosso problema € seu génio tenha pressentido infalivelmente e como que em esboco todo o de senvolvimento vindouro. A sua propria grandeza desaconse- Tha um tratamento sumério. Nos limites presentes, tenho ne- cessidade de um objetivo mais restrito. Serd a evoluéo das relacdes entre a Igreja e o Estado, esse resumo do_ mundo, ‘até & coroagdo de Carlos Magno em 800, Mais precisamente, isolarei uma notavel f6rmula dessas relagdes ¢ mostrarei como sador Const Igreja aun abriu um problema temivel: seria um Estado cristo? Voluntariamente ou nfo, estavacolocada frente a frente_com o mundo. Fstava feliz por ver que se punha fim as perseyticGes e tomave-se uma fio oficial prodigamente subvencionada. Nao podia inuar a depreciar o Estado tio livremente quanto o fizera até entdo, © Estado tinha, em suma, dado um passo fora do mundo,” reco da Tgreja mas, 20 mesmo tempo, a Igreja tornou-se mais mundane do que fora até af. Entretanto, a inferioridade estrutural do Estado foi_mantida, embora matizada. A latitu- de para a qual chamei a aten¢do aumentou no sentido de que se tornou possivel julgar o Estado mais ou menos favoravel- mente, segundo as circunstincias e os temperamentos. Os con- flitos no estavam_excluidos mas seriam doravante_internos, tanto para a Igreja_quanto para o império. A heranga da realeza sacrossanta helenistica devia inevitavelmente colidit com @ pretensio da Igreja de continuar sendo a instituigao su- perior. Os atritos que se produziram em seguida entre o im- perador e a Igreja e, em especial, com o primeiro dos bispos, (0 de Roma, envolveram principalmente pontos de doutrina. Enquanto que os imperadores. ciosos de unidade politica, in- sistiam para que fossem proclamadas concessGes mituas, por seu lado a Igreja, seus concilios ecuménicos ¢ especialmente © Papa queriam definir a doutrina como fundamento da uni- dade ortodoxa e nfo viam com bons olhos @ intrusio de um principe nos dominios da autoridade eclesiéstica. Uma suces- 4 Génese, 1 Igrejas de Alexandria e Antioquia, E notével que a desses debates tenha gravitado em torno da dificuldade em conceber e form jij de Deus ¢ do ho- mem em Jesus Cristo. Ora, fe af que se situa 0 que, em retrospecto, se nos apresenta como 0 &mago, o segre- 10 considerado em todo 0 seu desenvolvimento mundano e o intramundano, a Encamagio do Velor. A mes- ma dificuldade refletese mais tarde no movimento iconoclasta, conde ela foi, talvez, catalisada por uma influéncia puritana mugulmana (0 sagrado no pode ser figuredo). Ao mesmo tempo, havia claramente no arianismo © no iconoclasma um interesse politico imperial. Mas Peterson mostrou que a ado- ‘slo do dogma da Santissima Trindade (concflio de Consten- tinha, de fato, decretado « morte do monotefsmo Por volta de 500, quando a Inreja jé existi no império hd cerca de dois séculos, 0 Papa Gelésio I apre- sentou uma extraordingria teoria da relacio entre a Tereia & ‘© imperador, a qual foi em seguida acolhida na tradicto € abundantemente no parecem ter casos, consideram a sua declaragéo nobre ¢ clara como expon- do simplesmente a justaposi¢ao e a cooperacdo dos dois po- izer, das duas entidades ou funcdes. contém um elemento de hhierarquia mas, como os modernos sentem algum desconforto 20 tratar dessa dimensfo, apresentam-na mal ou ndo sabem ver todo o seu alcance, Pelo contrétio, a perspectiva comparativa que 6 a nossa deve permi itura I6gica © @ dignidade da teoria de Gel wus als politisches Problem", Theolo- BP. 25147. Leach ligou © Individualismo 55 A sua declaragao esté contida em dois textos que se com- pletam. Numa cara ao imperador ele diz (Epistola 12) Hé principalmente duas coisas, augusto imperador, pelas quais este mundo € governado: a autori sagrada dos pontifices e 0 poder real. Destas duas coisas, os saccrdotes sio portadores de uma respon: sabilidade tanto maior porquanto devem prestar contas a0 Senhor até dos atos do: do-0s a0 julgamento divino.. nistros das coisas divinas receber 05 meios de Yossa saivagao. A refer salvagdo indica claramente que se trata supremo ou final de consideragéo, Note-se a rquica entre a auctoritas do sacerdote € a potes- tas do rei. Apés um breve comentirio, Gelésio prossegue: Nas coisas respeitantes & di publica, os che- fes religiosos entendem que poder imperial vos foi conferido do alto ¢ eles préprios obedecem as vvossas I vyossa vor jemendo parecer que sio contrérios & ide nos negécios do mundo. Portanto, 0 sacerdote esté subordinado a0 rei_nos_assun- tos mundanos que dizem respeito % ordem péblica. O que 03 aristas modernos no discerniram plenamente € que 0 1 de consideracdo deslocou-se das alturas da salvacdo para mundo. Os sacerdotes so superio- ni a baixeza das coisas dest res, pois somente em um de uma simples submissio dos mas de uma complementaridade Ocorre que encontrei-a mesma configuragao na India a tiga, védica. Af, os sacerdotes consideravam-se religiosa ou tas de Gelésio foram extraidos de Carlyle, op. cit.. nota 22). A tradusdo preferids, entretant ‘pp 804-805 Authority in the Western Church 5; Walter Ullmann, iddle Ages, Londres, 1955, The Growth of Papal Government in the pp. 20 € 58. disposigao € ex reende, nos de fundo. sacerdécio ndo estava organizado de modo unitério tudo, fava em questio o individuo. (O renuncian que f Chegou-se a supor, agao em questo (© outro texto principal de Geldsio encontra-se num tra- tado, De Anathematis Vinculo. Seu principal interesse para nds esté na explicagao da diferenciagao das duas fungdes, en. quanto que instituida pelo Cristo. Antes del ram, de fato — se bem que num se 0 — homens ‘que como Melquisede- na intengao de que suas uma humildade salutar duas fungoes, de modo qui ram-se chamar pontifices sagrados”. E possivel que ‘a0 que restava da realeza sacrossanta pode-se ver nesse_ te € desarrazoado supormos que_a soberania sacros- por_exemplo, a do faraé ou do imperador da China, fenfia-se-diferengado, em certas culturas, em duas fun- ges, como foi o caso na India Seria interessante discutir as dificuldades dos comentaris- tas desses textos. Tenho que escolher. Um autor recente, 0 (diversame utriusque (B.S ‘Made, Pitt ito.” Ab lung, N. F. 10, Musique, 1954, p. © Indiv smo 37 padre Congar,** considera a fSrmula hierérquica autoridade/ poder puramente ocasional; e, de fato, vimos Gelésio, a pro- da diferenciacdo, falar somente de “dois poderes”. Mas 0 nao € a melhor expressio de toda a tese de Gelésio? Por outro lado, Congar tem certamente razio em dizer (p. 256) que, neste caso, a Igreja nao tende para “uma realizacao temporal de Cidade de Deus”. Tal como no caso indiano, ai hiierarquia opée-se Iogicamente 20 poder: ela nio pretende, como o faré mais tarde, trasladarse para o Mas Congar_susten dina 0 poder nperador aos bispos que, se 0 imperado cabe introduzir aq agente, 0 que, aliés, arru € que Carlyle’ reconhece, & ria a argumentagio de Gelésio, ia maneira, set freqiientemente 169). Com efeito, 0 império (na no imperador € cumpre entender Gelisio como tendo dito que, sea Igreja esté em oimpério para os negdcios do mundo, 0 império esté em a Tgreja para as coisas geral, os comentaristas parecem aplicar @ uma proposivio do ano 500 um modo de pensamento mais tardio muito dife- rente, Eles reduzem o uso estrutur da oposigéo atengao a ‘ou aquilo, em branco segundo Caspary, uma questéo unidimensional de 0 © negro. Ora, essas formas sé apareceram, “com a fixagao das p [das investiduras] Nos E ocioso imaginar que os solucionado todos 0s conflitos entre os dois principais prota- gonistas, ou que ele tenha obtide 0 acordo de todos, duradou- ramente ou no. O priptio Gelésio tinha sido levado & sua 3 YveeM.J. Congar, ©. P., L'Eedlsiologie du haut Moyen Age, Px ris, Bd. du Cert, 1966 " yen O86, nas. Em | | 38 Génese, 1 declaragio por causa de uma crise aguda nascida da promul- {gasio pelo imperador de uma {6rmula, o Henotikon, destinads Essiberiguer seus stiditos monofisistes. De um modo geral, os patriarcas da TIgreja oriental nao seguiam cegamente © vig Sionde Si Pedro e, em primeiro lugar, o imperador tinha 0 feu préprio ponto de vista na matéria. Certos tragos mostrar Gque ‘ainda stbsistia algo em Bizincio da realeza sacrossanta Felenistica (ef. acima, nota 15), pelo menos para uso préprio do imperador e no palécio imperial. E cerios imperadores pre- fondevam concentrar em suas mos, simultaneamente, a supre tmacia espiritual e a temporal, e conseguiram-no algumas vezes. Nao 86," antes de Gelasio, Justiniano, rmas depois dele, no beidente, Carlos Magno ¢ Otdo T, cada um & sua maneira, Gssumiram as fungdes_teligioses supremas como parte inte: grante do reino..deles. Seria dificil imaginar contradigio mais gritante da dou- trina de Gelésio do que a politica adoteda pelo papado 2 partic de meados do século VIII, Em 753-754, 0 Papa Este P70 IL, numa iniciativa sem precedentes, saiu de Roma, cruzou bs Alpes e foi visitar 0 rei dos francos, Pepino, o Breve: Confirmou-o em sua realeza e conferiu-the o titulo de “pa frieio dos romanos” e 0 papel de protetor ¢ aliado da Tgreja emena. Cingienta anos depois, Leo TIT coroava Carlos Magno imperador em Si0 Pedro de Roma, no dia de Nate de 800, Pode-se compreender, de acordo com 2 situagio geral dleles como os Papas tinkam sido levados @ adotar uma linha de agzo tio radical, Nao esteriamos Tonge de dizer como Car, thie gue ela Ihes foi imposta pelas circunsténcias, No plano Trediato, pode-se resumir o que se passou em dois pontos, Os Papas puseram fim a uma situagso de humilhacdo, de Opressdo e de perigo, voltando as costas a Bizdncio ¢ subs flinds um protetor longinquo, civilizado mas incémodo, por Sito mais préximo, mais eficaz, menos civilizdo © que, por Geta razto, poderia esperarse que fosse mais décil. Ao mesmo fempo, aproveitavamse da mudanga para reivindicar @ autor dade politica soberana sobre uma parte da Itélia. Os impera: Gores ‘ocidentais poderdo, mais tarde, mostrar-se muito menos Bovis do que se esperava e, para comecar, Carlos. Magno via provavelmente os direitos politicos que sssegurava 0 Papa © Individuatismo 39 ‘como constituindo somente uma espécie de autonomia outor- fgada cob a sua propria soberania. Ele afirmou 0 seu dever Se néo s6 proteger mas também dirigir a Tereja. Para nds, 0 que & essencial € o fato de: os Papas se arro- garem uma funglo politica, como ficou claro desde 0 comeso, Segundo professor Southern, ao comentar o pacto com Pepi- no pela primeira vez na hist6ria, o Papa tinha agido como lima autoridade politica suprema, ao autorizar a transferéncia de poder no reino franco, ¢ sublinhara o seu papel politico como Fueessor dos imperadores ao dispor de terras imperiais na Itt lia”. A apropriagao de territérios imperiais na Itélia nd jniewainente explicita no comeco: o Papa obtém de Pepino ¢ mais tarde de Carlos Magno 0 reconhecimento dos “ t tenitérios da “repablica dos romanos”, sem que se distinga hhitidamente entre direitos e poderes privados ¢ piblicos, mas © exarcado de Ravena esté incluido. Nao podemos falar ainda de um Estado papal, se bem que exista uma entidade politica romana, Um documento falso, talvez um pouco posterior, a Chamada doasao de Constantino, exprime claramente @ preten: so papal, Nesse texto, o primeiro imperador cristdo teria, em 315, transmitido 0 bispo de Roma nfo s6 o “palécio” de Latvao, extensas terras patrimoniais ¢ 0 “principado” religioso sobre todos 0s outros bispos como “papa universal”, mas tame fbém o poder imperial sobre a Itslia romana e as insignias e privilégios imperiais.* Do nosso ponto de vista, o que importa aqui, em pr meiro lugar, € @ mudanca ideolégica que assim se ve comegar Pique sera plenamente desenvolvida mais tarde,"de um modo fotulmente independente do futuro reservado, de fato, & pre- tensdo papal! Com a reivindicagéo de um dircito inerente 20 Mer politico, introduz-se wma mudaiiga na relagdo entre _o seaer reo terreno: o divino pretende agora reinar sobre 0 | | Srundo por intermédio da Igreja, ¢ a Tgre}a tomase mundana | vim sentido em que néo o era até entao. Os Papas, por umal Spedo histérca, anvlaram a formulagao lgioa por Gelésio da BROW, Southern, Western Society and the, Church “Ages, Lendres, Pengin Books, 1970, p. 60; ef. Peter Part OfSi. Peter, Londzes, 1972, pp. 2125. ———_———— 6 Génese, 1 relagio entre a fungio rel ‘fungio politica e escolhe- tam uma outra. A dianjuia-hierérquica de“Gelésio & substitu ynarquia de um tipo sem precedentes, uma “spiritual. Os dois domfnios ou fungdes io € relegada do nivel fundamental um nivel secundério, como se dive a mas to-somente em’ grau. E a distingéo entre espiritual ¢ temporal, tal como a conhecemos desde ent impo é tunifieado, de modo que podemos falar dos tual temporal. E caracte bido como superior 20 tempor como se fosse um grau superior do temporal ou, por assim dizer, © temporal elevado a uma poténcia superior. 7 seguad fesse eixo que, mais tarde, 0 Papa. poderd_serconcebido_como ‘2 sutoridade “que ““delega” o. poder temporal ao imperador ‘como seu representante, Em contraste com a teoria de Geld: acentuada aqui as custas da diferenca, © a chamar a essa mudanga uma perversio da inge-se uma coeréncia de ‘A nova unficagio representa uma transformagio de uma 1a unidade. Se nos Iembrarmos do modelo arquetipico da realeza ja pelo que se poderia chamar Sc nova configuragio € rica de sentido ¢ de desenvolvi- hist jientes. Deve ser evidente que, num ral, o(individuo cristo staré doravante mais. in- , a superioridade & passa agora_a_participar mi Itos, universalistas. Por assim dizer, ele € consagrado de um modo inteiramente novo. E podemos assim aperceber-nos de uma virtualidade que seré realizada mais tarde, a saber, que uma unidede politica particular possa, por sua vez, emergit como portadora de valores absolutos. E tal é 0 Estado mo: demo, porquanto ele ndo esté em continuidade com outras ja transformada, como se ve no ordens ou fungbes © Individuatismo 6 mas de individuos — um ponto que o proprio Hegel no impossivel dar aqui o que nao seria mais do que um esbogo desse desenvolvimento futuro. Digamos apenas que esse deslocamento que acabamos de assinalar seré seguido de ‘outros na mesma diego, e que essa longa cadeia de desloca- {nuos culminaré magéo deste mundo, ao mesmo completa do individuo em este mundo. Essa cadeia de transi ges pode ser vista & imagem da Encarnagdo do Senhor como @ encarnagio progressiva no mundo desses mesmos valores que 0 mente para o individuo- meio ol diferenga notével como valor era ento coneebido terior da organizagio social e p acima dela, um individuo-foredomundo em contraste 6 nosso individuo-no-mundo. Com a ajuda do exemplo ind no, sustentei que o individualismo nao teria podido desenvol~ verse de outro modo, surgir sob uma outra forma, a partir do holismo tradicional, © que os primeiros séculos_da_hist®ria | da_Tereja mostravam os primérdios da adaptagio_ao mundo desse estranho sérNo comego, sublinhamos a adogio da Lei da Natureza dos. -racional para a adaptago 3 n6 ‘Voltamo-nosem segiida par significativa, a dimensio politica para a Igreja como © mundo para Deus. E por isso que a his de que a Rev ‘em Hegel's ‘se a referencia ao § 258 — de fato —'é © Estado € confundido com a sociedade ci 6 Génese, 1 t6ria da concepao pela Igreja de sua relagdo com o Estado € central na evolugio da relagéo entre o portador de valores, © individuo-fore-domundo, e 0 mundo. Depois que a conver- so do imperador ¢, em seguida, do império impuseram & Igreja uma relagio mais estreita com 0 Estado, Gelésio I de- senvolveu uma formula légica da relagdo a que podemos chamar uma diarquia hierérquica. Entretanto, a verdade dessa formula nao nos deve esconder o fato_de_que Cla ndO—TEM em_absoluio, qualquer relaggo com oCindividualismoy como 0 fParalelo indian) nos mostra. Depois, no século VIII, produz-se ‘aria -mudanca dramética. Por uma decisio hist6rica, os Papas rompem seu vinculo com Bizincio e arrogam-se 0 poder tem- poral supremo no ocidente. A situagdo muito dificil em que se encontrayam convidara-os a esse ato prenhe de conseqiién- cias mas no poderia explicé-lo. Houve uma sutil transigio ideolégica mas fundamental. A Igreja pretende agora reinar, diteta ou indiretamente, sobre o° mundo, o que significa que (© individuo cristio esta agora comprometido no mundo num ‘grou sem précedenies, Seguir-se-o outras etapis na mesma dirego mas esa foi decisiva em geral e, em particular, quanto aos desenvolvimentos politicos subseqiientes. Passamos assim fem revista alguns dos estigios da transformacio do indivi- duofora-do-mundo em individuo-no-mundo, A principal ligéo a meditar talvez seja que a mais efetiva humanizagio do mundo saiu, a longo prazo, de uma religifo que 0 subordinava do modo’ mais rigoroso a um valor trans- cendente. Calvino # uma fraqueza do presente estudo deter-se no séeulo VIII. A tese seria reforgada se se pudesse apresentar 0 desenvolvi- mento ulterior até & Reforma, Néo estou em condigSes de © fazer, de momento, mas para remediar essa falha, em certa medida, proponho-me considerar brevemente 0 estdgio termi- ral do’ processo, tal como € representado por Calvino.** Ado- taremos como base a interpretagao que Ihe dé Troeltsch, pro- 3 Espero fomnecer subseqientemente uma exposi compl curando mostrar que hd vantagem em reformulé-la na lingua- gem aqui utilizada*" Em que sentido Calvino pode ser considerado 0 marco que assinala o fim de um processo? O desenvolvimento geral prossegue depois dele. O individuo-no-mundo progrediré com 1s seitas, com 0 Iuminismo e daf em diante. Mas do ponto de vista que escolhemos, 0 da relaco conceptual entre o indi viduo, a Igreja e 0 mundo, Calvino marca uma conclusio: a sua Igreja é a cltima forma que a Igreja podia adotar sem desaparecer. Além disso, quando digo Calvino tenho em vista a Reforma na medida em que ela culmina — do nosso ponto de vista — em Calvino. Com efeito, Calvino construiu sobre icerces implantados por Lutero. Ele tinha somente cons- do de Lutero dela extrait as conclusGes Igicas. Podemos, portanto, para sermos sucintos, evitar uma consideraao do luteranismo em si, reten~ do apenas 0s pontos de vista de Lutero que constituem pres- supostos em Calvino ¢ deixando de tado aqueles que foram suplantados ou substitufdos em Calvino. ‘A tese & simples. Com Calvino, a dicotomia hierérquica que caracterizava 0 nosso campo de estudo chega a0 fim: elemento mundano antag6nico,.ao qual_o até_entdo reservar um lugar, desaparcce._ cracia” ealvinista,"O"-€ampo est4 completamente individuo estd agora no mundo, ¢ o valor individualista seni resirigoes nem limitagBes. Temos diante de nds 0 inc ‘viduo-no-mundo. Na verdade, 0 reconhecimento desse fato no novo, pois esté presente em cada pégina do capitulo de Troeltsch sobre Calvino, mesmo que af se expresse numa linguagem algo 3 Assim, este epilogo nada mais € do que um simples exercicio sobre fo texto de Troeltsch. Se uma desculpa se impOe por ndo ter conside- Fado uma literatura mais vaste, diel que, apés algumas incursGes, como fos livros de Choisy a que Trostsch nos remete ot nos préprios inst tes de Calvino, ver 1 recebem fa fisse um outro éngulo

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