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“A. CLASSE -DIRIGENTE? * MoSO | G AAADE DeGew ie cri IK SP22A, A. coke ) SeUele 2 Tradusio de’ ALice Ranorn ej 4 por, G APIA DAPH fi “ZA 4 CL 1. Entre os fatos e tendéncias encontrados de mancira { Sonstante em todos os organismos politicos, um € tio Sbvio que é Nisivel até a0 observador menos atento.” Em t6des as sede, Gades — desde as parcamente desenvolvidas, que mal atingi- Fam 08 primérdios da civilizacio, até as mais avancadas © po. gb seresas — aparece duas clases de pesoat: ume clase Oy |. yx? 4 Mlitige © outra que € dirigida.. A pr |, Sempre menos nu- £ ~ meresa, exerce tédas es fe: ‘yGes politicas, monopoliza 0 poder - y k goza das vantagens que 0 poder traz’ consigo, enquanto a vi sqeuada, mais numerosa, é diigida e contzolada pela primeira, de maneira ora mais ou menos legal, ora mais ou mono, arbitréra ¢ violenta, ¢ supre aquela, pelo menos aparentemente, Com meios materiais de subsisténcia e com o instrumental ne. C*ssério 8 vitalidade do organismo politico. F Na pritica, todos és reconhecemos a existéacia “dessa classe dingente (ou classe politica, como também a definiens ros traballios).1" Sabemos nosso pals, qualquer due scja fle at ea aes direcao essa A qual, volun- {aria ou involuntiriamente, a maioria se submete, Stbernoe que Jemesma coisa acontece em paises vizinhos, © em verdade Lng ae 6 cm parte devido a habitos inveterados de raciocinio ¢ cm ‘parte & importincia exagerada que conferimos a dois fatos po- Iiiods que sio ‘muito mais ameacadores em aparéncia que na realidade. O primeiro désses fatos — e basta abrir os olhos para 0 ‘vermos — € que em todo organismo politico existe um individuo que € 0 chefe entre os lideres da classe dirigente ¢ que se situa, como dizemos, & testa do Estado, Esse individuo nao € sempre a mesma pessoa que, de acérdo com a lei, detém o poder su- premo. As vézes, a0 lado do rei ou imperador hereditério, existe um primeiro-ministro ou um mordomo do pago que na realidade exerce um poder maior que o do soberano. Outras ‘vézes, em lugar do presidente eleito, ser o politico influente que possibilitou a eleicio do presidente quem governard. Sob ireunstincias especiais, pode haver, ao invés de uma nica pessoa, duas ou trés que desempenhem as fungdes do contréle supremo. segundo fato & também ficilmente discernivel. Qualquer amen Se oxeeninactp pallies, eneDet odes do ‘das massas governadas ov das paixdes pe- Jas quais sio dominadas exercem certa influéncia na politica da classe dirigente, da classe politica Mas o homem que esté & testa do Estado nfo poderia certsmente goverar semi 0 apoio de ima mumeross caste que se encarregue de impor respeito as suas ordens assim como de fazer com que sejam executadas; e mesmo supondo que poss fazer sentir o péso seu poder a um, cu mesmo a varios individuos da classe dirigente, certamente no poderia ir contra ‘a classe como um todo ou dispensé-la inteiramente. Mesmo que isso fésse possivel, seria imediatamente-obrigado a criar ‘outra classe, sem o apoio da qual sua ago seria completamente paralisada. Por outro lado, ‘0 descontentamento das massas conseguisse depor uma classe Siricenty; Soe — mente, como mostraremos mais adiante, sainoria organizada no ‘ceeciat es Rages seio das massas para de uma clase dls ‘De outro modo, téda organizagéo ¢ estrutura social seria destruida. 2. Do ponto de vista da pesquisa.cientifica a verdadeira superioridade do conceito de classe dirigente, ou classe politica, esté no fato de que a estrutura varidvel dessa classe dirigente ‘tem importancia preponderante na determinagio do tipo politico, 52 acbrdo com uma classificagio de formas de govémo ainda em voga, a Turquia e a Rissia egam ambas, até hé-poucos anos atrés, monarquias absolutas, enquanto a’ Inglaterra ¢ a Itélia eram monarquias constitucionais ou limitadas, e a Franga e os Estados Unidos eram classificados como repiblicas. A classi- ficagao cra baseada no fato de que, nos dois primeiros paises mencionados, a chefia do Estado era hereditéria e 0 chefe era nominalmente onipotente; nos dois seguintes sea cargo € here- ditério, mas seus podéres e prerrogativas sio limitados; nos dois ‘iltimos, 0 chefe de Estado é cleito. ‘Essa classificagio € dbviamente superficial. Apesar de serem ambas absolutistas, muito pouco havia em comum na mancira pela qual a Riissia e a Turquia eram administradas politicamente, nos niveis de civilizagdo dos dois paises, sendo ainda a organizagio de suas classes dirigentes inteiramente dife~ ente. Nas mesmas bases, o regime da Itélia monérquica € muito mais semeluaate ao’ da Franga republicana do que 20 regime da Inglaterra, também uma monarquia; ¢ existem dife- rencas importantes entre as organizagbes politicas dos Estados Unidos ¢ da Franca, apesar de serem ambos repéblica Como jé sugetimos, arraigados hébitos de raciocinio estive- ram por muito tempo, e estio ainds, barrando o caminho do Progresso cientifico nesse setor. A’ classificacio mencionada acima, que divide os eovernos em monarquias absolutas, monar- Quias limitadas ¢ repiblicas, foi idealizada por Montesquieu com o fito de substituir as categotias cléssicas de Atistételes, gue dividia os governos em monarquiss, aristocracias e demo- cracias. O que Aristételes chamava de democracia era simples- mente ‘uma eristocracia com maior participacéo. O proprio Aristételes péde observar que em todo Estado grego, quer au tocrético, quer democrético, existia sempre uma p.ss0a, on mais de uma, que possuia influéncia preponderante. No perfodo que vai de Poltbio a Montesquieu, muitos outros autores aperfeicoa- ram a classificagao de Aristételes, introduzindo 0 zonceito. de governos “‘mistos”. Mais tarde, a moderna teoria de democra- cia, que teve como fonte Rousseau, fortaleceu 0 conceito de que “a maioria dos cidadéos em qualquer Estado pode, ¢ deve, participar da vida politica, ea doutrina da soberania popular ainda mantém muitas mentes sob contréle apesar do fato de que a doutrina moderna tem tomado cada vez mais claro que os principios ‘monérquicos ¢ aristocré- ee een eal RTP Nas ne oe 53 "também do estigio de civilzagéo, dor diferentes povos.” De!” i > remos aqui para refutar essa teoria democrética, jé que € ésse 6 objetivo desta obra, Além do mais, seria dificil destruir ex poucas péginas todo um sistema de idéias que se tornou firme- Frente enraizado na mente humana. Como Les Casas escreveu Gnuito bem na sua vida de Crist6vio Colombo, € muitas vézes ‘ais diffcl desaprender do que aprender. 3, Pensamos que seria, nfo obstante, desejvel, responucr neste ponto'a uma objecio que poderia ser prontamente feita zo nosso ponto de vista. Se é fécil compreender que, um ‘inico individuo néo pode comandar um grupo sem achar ‘uma minoria que 0 apéie, € bastante dificil aceitar como fato ‘constante e natural que minotias dirijam maiorias ¢ nfo 0 con- {rario, Mas isso € um dos pontos — tio numerosos em t6das fs outras ciéncias — onde a primeira impressio que se tem Gas coisas € contréria ao que elas sio na realidade, © dominio Ge uma minoria organizada, obedecendo ao mesmo intpulso, s6- ‘bre a maioria desouganizada, ¢ inevitével na realidade. © podcr ge qualquer minoria ¢ irresistivel ao se dirigit contra cada um Gos membros da maioria tomado isoladamente, o qual se vé sdzi- tho face & totalidade da minoria organizaéa. Ao mesmo tempo, t minoria 6 organizada exatamente por ser uma minoria. Cem homens agindo uniformemente e em coajunto, com uma mesma comprecnsi. das coicas, trinnfaréo s€bre mil homens que nfo fstze de acOrdo e que portanto podem ser eucarados indivi- Gualmente. Além disso serd mais fécil para cs primeiros agirem concordemente e terem uma compreensio mitva simplesmente porque éles sfo cem e néo mil. Segue-se dai que quanto maior ‘2 comunidade politica, tanto’ menor seré a pr ca ‘em relagao & maioria No entanto, além da grandé vantagem decorrente do fato maioria ‘em rexgfo A minoria. de serem organizadas, as minorias dirigentes sfo usualmente constituidas de tal maneira que os indiv.duos que a constituem Sho distinguidos da massa dos por qualidades que conferem certa superiori ‘material, intelectual e mesmo mo- Sal; ou eatGo so herdeiros de individuos que, possuiram tais Gqraidades, Em ouras palevras, os membros de uma, minors irgente sempre ‘um atributo, real ou aparente, a0 € altamente ‘c de muita influéncia ne sociedade em que vivem. 4, Em sociedades primitivas, que ainda nos primelos sti de organza, 0 alr itar € 2 qualidade 4 que mais faciimente are © avessu polities. Em sociedade Condigao excepcional. Pode ser considerada senenal ein sociedades que estio nos estégios iniciais do seu de- Fenvolvimento; e os individuos que demonstram a maior habili- dade na guerra ganbam facilmente supremacia sObre seus com- panheiros — os mais corajosos tomam-se_chefes. 0 fato é POnstante, mas as formas que pode assumir, de achrdo com o Conjunto de circunstincias, variam considerdvelments. ‘Via de regra, 0 dominio de uma classe guerreira sobre ‘uma multidio pacifica ¢ atribufda a uma superposicéo de rasas, 2 conquista de um grupo relativamente ndo-guerreiro por um ‘grupo agressivo. Algumas yézes é realmente ésse 0 caso —— Enos exemplos na India, apés as invasbes dos Arias, no Império Romano, depois das invasdes germfnicas, e no México, depois Ba conguista asteca. Mais freqiientemente, porém, sob certas oe igbes sociais, notamos a ascensio de uma classe dirigente Ge tipo guerreiro em lugares onde nfo hé absolutamente nenhum trace de conquista estrangeira. Enquanto uma hords vive exclusivamente da caca, todos os individuos podem facilmente tornar-se guerreiros. Haveré ldgicamente lideres que governa- ‘io sObre a tribo, mas néo encontraremos uma classe guerreira gscendendo pare explorar, e ao mesmo tempo proteger, outra classe Gue se dedique a idades mais pacificss. A medida que a tribo emerge do estégio da caga € eure no estagio da agricultura ¢ do pastoreio, entio, paralelamente a um enorme aumento de populagdo e a'uma maior estabitidade nos meios de exercer influéncia social, dar-se-4 uma divisio, mais ou menos nitida, em duas classes, uma devotando-se exclusivamente A agricultura, outra & guerra. ‘Nesse caso inevitével que a classe sobre a outra a ponto "A Polénia oferece um exemplo caracteristico d~ metamor- fose gradual de uma classe guerreira em uma classe absoluta- mente dominante. Originalmente os poleneses tinkam a mesma izagio em vilas rurais que prevalecia nos povos eslévicos. Nio havia distingSo entre guecreiros e agricultores — em outras palavras, entre nobres ¢ camponeses. Mas depois que os polo- Pees se fixaram nas extensas planicies banhadas pelo Vistula © pelo Niémen, a agricultura comegou a se desenvolver entre les, Entretanto, a necessidade de Iutar com vizinhos guerre ros continuou, de modo que chefes tribais, ou “voivodes”, reu- 55 SORES sis wos ar imero de homens clad eaja Cpe 20 especifica era o porte de armas, Esses guerreiros eram Gistribufdos entre as vérias comunidades rurais, Eram isentos de deveres agricolas, mas recebiam a sua quota da producio do solo com os demais membros da comunidade, Tnicialmente sua posigdo no era considerada muito desejav:l, e camponeses souitas vézes fugiam isencio dos trabalhos rurais para evitar 2 ida a guerra. Mas gradualmente, a medida que essa > Jem de coisas se estabilizava, & medida que uma classe se habituava 2 pritica das armas, enquanto a outra empelernia-se no uso do arado, os guerreiros tornavam-sé nobres « senhores, © 0s camponeses, antes companheiros ¢ irmfos, tomiavam-se aldebes © servos. Pouco a pouco os seahores guerreiros aumentaram suas exigéncias a ponto da quota que recebiam como membros a comunidade incluir t6da a producdo da comunidade menos © estritamente necessdrio & subsisténcia dos agricultores; ¢ quan- do ésses ‘ltimos tentavam escapar a tais abasos, eram cons- wangidos pela f0rga a. ficar presos 20° solo. assumindo sua situagao tOdas as caracteristicas. da servidio pura e simples. No decorrer dessa evolugio, por volta do ano de 1333, 0 Rei Casimizo, o Grande, tento em véo curvar a insuportivel fnsoléncia dos guerreiros. Quando campone:es vinham quel- xarse dos nobres, contentava-se em perguntir se nfo tinham paus e pedras. Em 1537, algumds geracdss

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