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© Editora da Universidade Tecnol6gica Federal do Parand ‘Kando Fukushima e Gustavo kira Projeto Gréfico Kando Fukushima Capa Maureen Schaefer Franga e Gustave Kira Editoragao Eletronica e Revisio Rebeca Pinheiro Queluz Revisio Gramatical dacs internacionais de D457, Design & cultura material/ organizacio : Marilda Lopes Pinhetro Queluz.— 1. ed. Curitiba: Ed. uT¥ER, 2012. 278p.:il2rem Inclai bibliografas Varios autores ISBN: 978-85-7014-102-6 4. Desenho industrial. 2, Cultura. 3. Cultura material. Queluz, Marilda Lopes Pinheiro, org. 1. Titulo. ep (22. ©) 745.2 Bibliotecério: Adriano Lopes cxa 9/1429 Depésito Legal na Biblioteca Nacional conforme Lei no 10.994, de 14 de dezembro de 2004. Baitora da urzeR ‘Av. Sete de Setembro, 3165 Reboucas Curitiba - ex 80230-g0r wwwutfpredu.br Imnpresso no Brasil, Printed in Brazil, CULTURA MATERIAL E DESIGN: trajetérias sociais de artefatos em contextos materiais e culturais de producdo, circulagdo e consumo Mariuze Dunajski Mendes RESUMO O presente artigo objetiva relacionar a vida social de artefatos @ processos culturais e refletir sobre como aspectos simbélicos e imagindrios so traduzidos e traduzem relacées sociais, cons- truindo, assim, um universo inteligivel mediado pela materia- Iidade das coisas. 0 fio condutor da narrativa seré 0 processo de investigaco conduzido na tese de doutorado, que objetivou seguir “rastros” de artefatos (méveis artesanais tranados em bras), mapeando trajetérias materiais e de significacao, o que possibilitou enunciar o potencial que estes representam para individuos, comunidades e territ6rios, Busco situar os artefatos em relagio a Materialidades, Espacialidades e Temporalidades, de forma dial6gica e relacional, definindo-os como expresso cbjetualizada de culturas. Neste cenério de complexidade, re- ‘ito também sobre o papel do designer, contemporaneamente, como um dos principais responsaveis pelo projeto de coisas que povoam o mundo e sobre possibilidades de faz@-las “durar” mais, aproximando a producdo e o consumo, e buscando ecos em projetos sociais e estilos de vida mais “sustentéveis” 1 Ope porcar pefowoniet 2 Tens aes pare fini ode semh eit sopra da fo “romana onde ecanaae, inti ace ‘armas soe cuca ar (Pode Sto caine sree sei sige rocens cute fre dt prod cre ‘orsine. algae ‘ara oni ‘ero leads nebo prot ‘eral ejece it depended “eo oe ret ani, (© humano 6 vestigio que o homem deixa nas coisas, é a obra, '¢ja ela uma obra-prima ilustre ou produto anérimo de wma poca, £« disseminacdo continua de obras, cbjetose sinais que faz a civitizagio, o habitat de nossa espécie, sua segunda natureza. E mais: todo homem & 0 homem-mais-coisas, € hhomem na medida em que se reconhece em um riimero de coisas, reconhece o humane investido em coisas, o si mesma que tomou forma de coisas. Italo Galvino, 2010 INTRODUZINDO: ARTEFATOS COMO MATERIALIZADORES DE CULTURAS ‘Ao deixar marcas e rastros — reais ou metaféricos ~ a cultura material significa, testemunha e materializa a construgio de histérias, identidades, lugares, épocas e formas de viver. As marcas, ilustres ou anGnimas, deixam sinais de culturas, re- velam modos de relacionamento entre sujeitos, destes com as coisas e com a vida em sociedade. Parto do entendimento de que artefatos® sto indissociéveis de processos culturais e de que os significados e cédigos relacio- nados a estes sio traduzidos e traduzem relacdes sociais, cons- truindo, assim, um universo inteligfvel mediado pela materiali- dade, bem como por aspectos simbélicos e imaginsrios sociais. Neste texto, proponho natrar o proceso de investigacéo con- duzido na tese de doutorado, que objetivou seguir “rastros” de artefatos (méveis artesanais trangados em fibras), mapean- do trajetérias materials e de significacdo, que possibilitaram enunciar © potencial que representam para comunidades e territérios. Busco situar os artefatos como expresso objetu- alizada de culturas, agindo como mediadores e constituidores de relacées sociais, além de refletir sobre o papel do designer, contemporaneamente, como um dos principais responsaveis pelo projeto de “coisas” que povoam 0 mundo. 0 objeto ~ mé- vel artesanal trancado em fibras - serviu como fio condutor do rocesso que, no entanto, poderia ser pensado para outros ar- tefatos ou sistemas. Nao pretendo prescrever “receitas” de passos metodolégicos para o projeto de produtos, sistemas ou servicos de design, mas, sim, apontar possibilidades de que, nas fases iniciais de projeto - levantamento de dados, andlise de contextos e de perfil de consumidores ~ sejam considerados procedimentos como: etnografias, narrativas de vida, trajetérias de materiali- zacGo, modos de uso, tecnologias ¢ conhecimentos envolvidos, potencialmente reveladores de dinamicas sociais e culturais, que ligam pessoas e coisas, formas e significados. Como relata Daniel Miller, em algumas situagées hé relativa 2m Danis cegueira de quem planeja o ambiente construldo e os objetos mmesone cans (cita 0s designers ¢ arquitetos), nfo raro, desconsiderando as frtutiviavtn consequéncias, os modos de apropriacdo e as transformacdes “SS performatizadas por quem os produz e os usa cotidianamen- 7" te, Desta forma, a opcao tedrica centra-se em articular e apro- ximar as esferas da produggo e do consumo que, ainda, so consideradas como “mundos” separados e desconexos em al- gumas aces e projetos de design, Ao enunciar os objetos como tendo uma “alma” tangivel e in- tangivel, dé-se vida a obras que pessoas deixam como legado para a civilizagéo, Este legado, a cultura material, muitas vezes, também é traduzido pela *pegada ecoldgica’, que determina 0 cardter de sustentabilidade de produtos e servigos. Busca-se 0 Justo equilibrio entre as dimensdes: ambiental, social, cultural © econémica, sempre costuradas por principios éticos. Fluxos @ emogées, expressas em palavras e gestos, significam a rele- vancia ¢ humanidade da existéncia de coisas, que, por sua vez, revelam e ocultam nossa propria existéncia. Significados dos objetos, seus usos, permanéncias e metamorfoses articulam sentidos de ser no mundo. © que valorizamos acaba reforgan- do, configurando e/ou transformando nossos comportamentos ¢ estilos de vida, convertendo-se em modos de compreender, vivenciar e valorizar o mundo e o que 0 constitui, sone, A Em processos de significacéo social, “a constancia aparente dos meneten Produtos dissimula a diversidade dos usos sociais a que séo submetidos”. Nesta perspectiva, Bourdieu (2007, p.23 a 27) ar + irieasiacna gumenta que as estatisticas sem a signficaglo social podem omens Juntar 0 que pode estar separado ou separar o que pode es- sr:frinteyralé tar unido, a exemplo do arroz e feijéo. 0 modo de preparagao “ammiteeie do arroz ou o tipo de arroz consumido em diferentes culturas Fortes) ¢ classes da indicios de propriedades pertinentes que significam Samson ar Socialmente ato de comer arroz pelo seu uso social’. Sem a isn het devida contextualizacio ¢ localizagio, modos da apropriagdo Mom dos bens culturais podem considerar uma aparente univoci- Mee. dade dos produtos, podendo ser deixados de lado fatores que dations Gracierizam distiniosestiloe de vida dstntos medos de uso “nibs dos artefatas, ‘ight - seule, Print af ete on eine trae prin Toso idee on esto de ctgorin. esc prs vj de mee or ‘giana edz, sertlon dodo ‘ve paras es i sje pers Bail Case non exenpfen ‘ere fome ses de ua come nda pr um ea ef et Secor or neem ap pote vase ae 20 eso aes ser sean ee a7o, pode wk de cenit het fl dpa de 70, ese mane» lr Peer igi ro arpa fo. “fie prod omar mata Syren a cele at space tompora, un onl sania ness © protagonismo de artefatos da-se na interago com quem os cia, produz, comunica, circula e usa. Trazendo os artefatos para um primeiro plano possfvel perceber que estes, como constituintes de nossa cultura, ao circularem, hibridizam-se fe marcam contextos vividos em espacos. A cultura material abrange, pois, produtos coletivos da vida humana, mediadores de relagBes, constituidos em processos dinmicos de externali- zago de individuos e sociedades na histéria, Envolve continui- dades, contradigées e rupturas na performatizagio cotidiana do ser e estar no mundo e no tempo. ‘Trajetérias, rotas e desvios, em contextos distintos, podem revelar aspectos importantes para pensar em como ocorrem transformagées em materialidades e como sao acionados me- canismos de ativaco e desativagio de sentidos e represent ‘Ses que inserem artefatos em regimes de valor. De acordo com teorizagées de Rafael Cardoso (2004), artefatos possuem certos significados inerentes*, no entanto, ao circula- rem por diferentes contextos sociais e culturais, podem assu- ‘mir, ou terem “colados”, outros significados, apesar da forma, materialidade e relagdes de uso permanecerem relativamente as mesmas®, ‘Um artefato de uso cotidiano, a exemplo de uma cadeira (cuja forma remete, inicialmente, ao significado inerente do sentar), se exposta em uma mostra ou saldo de design, tem outros va- lores “colados". Se exposta em museus, o tempo e espago “co- lam” valores intangiveis, para além da materislidade e fungio: meméria, histéria e sentimentos, singularizam artefatos em dados momentos de suas trajetérias. Stallybrass (2004) aponta para estratégias de singularizacao de coisas, acionando e desacionando-as como mercadorias, dis- tanciando, por vezes, artefatos da esfera econ6mica. Ocorre um movimento de transformagio destes em objetos de memé- ria, marcados pelo revestimento por uma “aura’, que os torna experiéncia sensivel. Referindo-se as trajetérias de significado em circuitos de mercantilizagao, que estabelecem valores as mercadorias, Stallybrass faz uma narrativa das idas e vindas do casaco de Mars dos penhores londrinos e as consequéncias ¢ reflexos dos momentos de presenca e auséncia deste casaco em sua vida cotidiana’. Este exemplo demonstra que individu- os separados das coisas séo separados também de outras pes- soas, pois a cultura material intermedeia relagdes sociais e cul- ceeronA MUTE ERED ee Dee turais. Ao projetar e desenhar artefatos, seguir estes caminhos e compreender como modos de uso de artefatos determinam ‘até mesmo a telacdo com o mundo, ganha um relevo especial para designers. esta forma, a seguir, exponho o encadeamento metodolégico de minha pesquisa de campo, na qual materialidades, tempora~ lidades e espacialidades foram analisadas de forma relacional, a fim de compreender trajetorias de artefatos (mével trancado ‘em fibras) relacionadas a trajet6rias sociais. Também relaciono estes fatores com agdes de projeto de design, traduzidos nas etapas de: pré-produco, producio, distribuigéo, uso e pés-us0, recorrentemente citados em metodologias de design. (0 PROCESSO DE PROJETO: CARTOGRAFIAS DE ARTEFATOS EM CONTEXTOS SOCIAIS E CULTURAIS DE PRODUGAO, GIRCULAGAO E CONSUMO. Objetivando aprender a complexidade e a dinamicidade das coisas no mundo, ao narrar trajetérias, processos de significa- gio e materializacéo de méveis artesanais trancados em fibras, considerei um conjunto de fatores que englobam: 1. aexisténcia da matéria como ato potencial (matérias- primas: plantio, extragio e transformacéo); 2, o ato da criagio ~ projeto e desenho -mediado por planejadores (designers); 3, a transformacao da matéria em objeto ~processo de materializacdo - pelostas) trabalhadores(as) em processos tecnologicos; 4, a comunicacéo e circulacdo de significados - midias; 5, as visualidades'e circulagéo em espagos ~ lojas, feiras, mostras, museus, 6, as relagées de consumo; €, 7, como as pessoas performatizam usos e (re)significam artefatos, em praticas cotidianas, dialogando (ou no) com identidades e estilos de vida. Com relagéo a este esboco de “roteiro", como professora de um so de Design, pensei que minha contribuicéo poderia ser “efletir como este procedimento, enunciado na pesquisa de 7 Morzcaumava oro sae tongs de rae pumps itn © Fed Udo bers uae 3 ene erase ener. ‘Sl de ditto. ee rene soa ono poor difcaane teas ees moments der none | usomatineo de bre cls ee tscano seams « ‘perdi de peo svete Ni oye froin presen de rufa mor nas rupee ‘srs, eta ‘om de Mors es rnd or 880 ovo ate, wnt nnncs: Oe un ansannamaa as tt doutorado, também pade ser utilizado em processos de criagéo, projeto e produgio de novos produtos/sistemas de design. Fernando Martins Juez (2002) comenta que o objeto, enquanto projeto, enuncia estratégias ¢ visdes de mundo que podem re- ppresentar aberturas para inovagdes e mudangas, inclusive em modos de vida. Jé 0 objeto enquanto desenho, circunscreve po- tencialidades materiais, recursos, tecnologias e modos de fazer que, por sua vez, permitem materializar projetos. ‘Uma corrente recente, do Design para a Inovacao Social, parte dessas premissas e aponta a importancia de projetar para con- textos e vocagées locais e, desta forma, promover movimentos emudangas que valorizem territérios, saberes, o bem estar das pessoas, restaurando tecidos sociais, sistemas € 0 equilfbrio da vida na terra ~ a tal “sustentabilidade”. Pois bem, ao pensar © ciclo apresentado, que compreende ~ a existéncia e trans- formacéo da matéria-prima; a criagio de artefatos e sistemas; produsio; circulagio; usos e significacées sociais, de forma contextualizada, criamos vinculos ¢ conexées entre pessoas ¢ coisas. Estes vinculos possibilitam atualizar ou metamorfosear artefatos, prolongando sua existéncia (a no obsolescéncia pre- coce). A este respeito, Fernando Martin Juez cita: Las cosas sin uso no estén ahi ~ a la vista o no ~ solamen- te porque esperan el momento para ser utilizadas (.; estén ahi porque podemos aderir a ellas nuestra histéria de vida, y porque a través de campos de vinculacién tienen la facultad de enlazarnos com otros seres, objetos ¢ ideas (Martin Juez, 2002, p. 182) Partindo destas consideracdes, ao optar por analisar alguns fragments de colecdes de méveis artesanais trangados em fi- bras, busquei “cartografar” trajetérias destes, no complexo ca- minho que percorrem. Este caminho ndo objetivou apenas con- gelar instantes de meméria, mas buscar “aberturas”, a partir de “fraturas”, para valorizar estes artefatos e, em certa medida (€ de acordo com potencialidades e desejos), projeté-los erm mer- cados contemporaneos, respeitando vocacées de quem os faz, ‘A mobilidade, ou “flexibilizacdo” das coisas, passa por estraté- gias de reconversio, por possibilidades de deslocamentos em diferentes campos. Transformacdes no campo social, princi- palmente na estrutura de consumo, reconfiguram o comércio e as profissbes e, sob este prisma, a categoria artesanal transfor- ma-se internamente, uma vez que “brechas” permite mob’ dade e reconversio, promovendo dinémicas que podem inserir artefatos em novas praticas ou projetos de vida. © objetivo central que norteou a tese foi: cartografar (mape- ar, descrever e analisar) como materialidades e significados, atribuidos em trajetérias de méveis artesanais trancados em ‘Aibras circulam, refletem, refratam e potencializam trajetérias sociais de sujeitos e como esses aspectos podem atualizar mé- veis em relagies dialogicas entre quem os idealiza, materisliza, circula e usa. Para alcancar minimamente esta compreenséo e tracar o que nao passou de um esboso de trajetéria, analisei a interagdo, mutuamente constituidora, entre artefatos e pes- soas, em alguns contextos temporais e espaciais, englobando circuitos de producao, circulagéo e consumo. * ‘Mapear, expor e analisar esferas pelas quais objetos circularao e quais estilos de vida poderdo vir a significar e materializar possibilita compreender qual o “lugar” e os valores destes arte- fatos no mundo. Considerei como eixos norteadores: materia- lidades, temporalidades e espacialidades, 0 que me permitiu acessar algumas camadas que envolvem o objeto. Comeco narrando materialidades e refletindo como atos hu- manos dao vida 4 matéria. As mos revelam o que esté no pla- no da imaginacdo e, por este ato, propiciam que outros olhos ‘vejam e outros corpos sintam o que era apenas matéria e ideia. MATERIALIDADES MEDIANDO PROCESSOS DE OBJETIFICAGAO E (RE)SIGNIFICAGAO DE ARTEFATOS: Contextualizando a narrative do artesanal como um sinal ins- crito em tempos e espacos, pelas mos dos homens e mulheres, Octavio Paz (2006, p. 82 a 83) 0 descreve como uma “cicatri2” (real ou metaférica) quase apagada de quem o fez, “Feito pelas maos, o objeto artesanal est feito para as maos, no s6 pode- ‘mos vé-lo como podemes apalpé-lo". f corpo e sinal compar- tilhado entre quem faz e quem usa, embora, muito recorrente- mente, a visibilidade da esfera da producao tem sido embacada ‘por relacdes capitalistas, que perpetuam abismnos de conheci- mento entre produgéo e consumo. © supostamente mais prosaico atributo das coisas ~a materia~ lidade ~ pode transmitir sensaces e revelar subjetividades valores: monetérios, sociais e culturais, dando consisténcia a trajetbrias individuais e sociais. Neste viés, minha intengo 20 fe comme So te Fore Cate e eo, Reva ai. 3. eotsp B85 iii aR nas, Dei eal Cire ant Mass neuron. ofr Bao ldo, 3 a et a al esa 8 CUSURA MATA relatar processos e materiais por meio dos quais so corpori- lheados méveis artesanais néo foi descrever matérias-primas ¢ processos em detalhes mas, principalmente, dar relevo 20 fazer Cao caminho que artefatos percorrem na esfera da producéo. ‘Ao realizar este transito, que revelou camadas assentadas Por ‘catilos, regimes de valor, espacos e tempos, apresentou-se & eceseidade de ler a cultura material também a partir de préti- tas de produgao no mundo do trabalho. © aparentemente mais ugonereto” dos conceitos ~ a materalidade - revelou-se, 20 fim, Somo 0 mais pléstico e orginico de todos. Mediada por muito Srais que matéria-prima, instrumentos e técnicas, a materiali- Gade oculta e revela acordos e tensbes que significa as coisas, Selacionando-as a préticas sociais, estilos de vida e as inserin- “Ho em politicas de valor. Pela andlise de discursos dos arteséos sobre suas praticas de trabalho busquei, a modo de urna arque- clogia de materiais, apresentar processos de objetificacio®, evi denciar fazeres e identificar quem materializa e performatiza ‘usos, humanizando os méveis. ‘Um dos materiais mais utilizados na fabricagdo de moveis ar- tesanais ~o vime ~ passa por varias etapas até chegar ao arte- ‘sdo que iré trancéclo para fazer os mévels. A figura x ilust plantagdo de vime; as fibras secando; estas sendo preparadas pelos artesfos; e trancadas nas estruturas. Mapear a extracéo e a pré-producio possibilita conhecer me- thor o material utilizado e assegurar que, nesta etapa, relagoes de trabalho sejam justas e requisitos ambientais sejam con- siderados inseridos em sistemas sustentéveis. Jé na etapa de producéo, participar do cotidiano de trabalho, conhecer tec- Pigara x Buapas do process transforma dvi, Let: ara tees Sana caarina, Ponte Fotos de Mendes, 2608 nologias e modos de fazer ajuda a pensar processos de forma sistémica, respeitando saberes, préticas, adequando produtos projetados & realidade das fabricas, melhorando fluxos e relagdes de trabalho. Na figura 2, retrato algumas imagens do cotidiano das empre- sas pesquisadas, que ajudaram a compreender algumas etapas de acabamento de méveis. Na sequéncia: queima de rebarbas das fibras, lixamento das pecas, aplicacao de selador e pintura, ‘Tecnologias e trabalho envolvidos englobam fatores simbéli- cos, culturais, sociais, politicos e econémicos que esto per meados desde a concepsao do produto até a esfera do consumo, hhavendo no percurso uma atribuicdo de valores aos artefatos. Os artefatos dio sentido as agdes humanas e seriam apenas um amontoado de “artigos incoerentes, um nio-mundo” se “indo fossem condicionantes da existéncia humana”. gra Aexbarento para confecso de mi ‘dbase Movime e fatima Locals Crit Fone Foto de “uteri popes, ago 2006 out 20a Nosso contato com os objetos é corporal e sensivel, traduzin- do-se como “pulsagéo do tempo humano” (Paz, 2006). Diante dessa premissa, ao analisar e conceituar a cultura material é preciso focé-la nao como resultado, mas como processo perfor- matizado e corporificado em tempos vividos em espacos. ‘A seguir, aciono memérias materializadas em coisas e ima- gens e viajo por temporalidades que situam o mével artesanal nao apenas como sombras do que foi, mas como objetualidade tangivel do que veio a ser. O objetivo é discutir como o mével trangado em fibras circulou e circula por diferentes estilos de vida regimes de valor. ‘cong omara fin eran: Paece Unive, 257, P we, lt ett. (aa ne aii ahaa Rae A NNER sramoons A AVG rrr ob me epeciva aaa. ar aor, 28, ‘TEMPORALIDADES: TRAJETORIAS DE ARTEFATOS EM. DIALOGO COM TRAJETORIAS SOCIAIS ‘A intengao ao abordar tempos no foi apresentar um fluxo uni- linear ou cronol6gico, mas situar contextos vividos e materiali- zados ~ que muitas vezes foram distintos em relacdo a lugares ~ que apontam origens, permanéncias e transformacbes de téc- nicas, estéticas e usos de artefatos. Appadurai sugere seguir as, coisas por si na sua concretude, pois: usos, formas e trajetérias inscrevem seus significados pelas e nas dindmicas sociais. “S40 1s coisas em movimento que elucidam seu contexto humano e social” (Appadurai, 2008, p27)". Seguindo esta proposi¢do, outro procedimento adotado na pes- quisa foi mapear as trajet6rias histéricas, usando como fontes: relatos a partir de entrevistas com pessoas que vivenciaram 0 inicio da producao no Brasil e na Itélia (artesios e donos de empresas que produzem ou produziam méveis artesanais); re- feréncias bibliogréficas disponiveis; anélise de imagens de ca- ‘télogos e antincios publicitarios em revistas de diversas épocas. Para ilustrar esta temporalidade materializada e atualizada, apresento dois momentos, separados por 80 anos ¢ localizados em séculos diferentes, representados nas imagens da figura 3, ambas de interiores de navios europeus. igure Eequerde:ntesor de navio da cada de 930 Diet: Jntror de mato da dieads de 2ot0 Local: Udine, lia Epoc das Imagens Déeada de p90 ate Fonte Imagem da esquerds Dal ‘rita, pg nage Ga ret: Digponivel en: hep. macerumeifos com bemultimediaship/nfoshipnewcaes.apiship. "Rosstoem rode 200 Os planes, posicionamento de camera, o destaque as luzes, co- Tunas, um arranjo com plantas e arranjo dos méveis sio mui- to semelhantes nas duas fotos. O que muda? A imagem antiga mostra as formas arredondadas da mesa e das poltronas em formato de cesta. A imagem contemporanea exibe formas mais retas € 0 uso do trangado como um plano que reveste super- ficies. A fibra natural - ratan de cor clara, na composigio an- tiga - foi substituida no novo modelo pela fibra sintética, de cor escura, Luxo e sofisticacio traduzidos de formas diversas, acompanhando trajetérias sociais e gostos de épocas, mas guardando muitas semelhancas estéticas que caracterizam uma tradigdo no trangar. Figura: Varandaretidencial into seule x, la. Local de prods tli Matra vie. Spoce de prodag: nisi afealo ‘ez. Fonte: Dal Lago 983, 8 Apresento, ainda, trés imagens de catélogos analisados que ajudaram a compreender como o mesmo artefato ~ poltrona trancada em fibras, apresentada em momentos e lugares dife- rentes (figura 4: inicio de 1900 ~ Itélia; figura 5: década de 940 Brasil e figura 6: década de r990 — Brasil) - guarda semelhancas, estéticas e materiais (vime), mesmo em contextos temporais ‘to distintos. crib 2005, mpi ‘Corte Fonte: Cesiogo Rafineta Curitbu 2008 Estas imagens, analisadas a luz de suas relagdes contextuais, refletem como artefatos circulam e estabelecem didlogos entre esferas locais e globais, mediando biografias de coisas e pesso- as, Como se refere KopytofP*, no mundo homogeneizado das mercadorias, uma biografia rica de uma coisa é a historia de suas varias singularizagées, das classificagdes e reclassificacdes num mundo incerto de categorias cuja importancia se desloca com qualquer mudan- ca do contexto, Tal como acontece com as pessoas, o drama agui reside nas incertezas da valoracdo e da identidade. Sujeitos buscam borrar fronteiras do espaco e tempo, inserin- do as tradigGes e identidades em movimentos e dinamicas que possibilitam um constante renovar e reinterpretar de relacdes e de coisas. ESPACIALIDADES: LUGARES DE VER, VIVER E PERFORMATIZAR Em uma tentativa de aproximacao com procedimentos de pes- quisa etnogréfica, percorri espacialidades objetivando cartogra- far caminhos, formas de visualizagio, circulacéo de significa- dos e narrativas sobre méveis artesanais. Dividi a anélise em: espagos fisicos, dentre os quais destaquet: interiores e exteriores domésticos, lojas, vitrinas, feiras e mostras; e espagos em midias, nestes dando relevo a catdlogos, folders e revistas de decora- ‘so (abordados como espacos simulados em duas dimensées). Estes lugares “virtuais” so meios de comunicacao que podem acionar trajetérias significativas, promovendo permanéncias ¢ movimentos, incorporando atributos materiais e imateriais, que classificam, ativam/desativam os méveis artesanais como mercadorias, em circuitos de circulacdo e consumo. Os contextos do Brasil (Curitiba) e Itélia (Milo) foram recortes espaciais definidos para possibilitar analisar contrastes entre lugares que, apesar da distancia geogréfica, apresentam apro- ximagées entre: migracdes e dindmica cultural (a exemplo da imigracio italiana no Brasil); aspectos técnicos de trancado € estéticos de méveis; redes de atores na érea de design (median- te intercdmbios, parcerias e redes institucionais entre centros de pesquisa), entre outras. Também foi um exercfcio de estra- nhamento, pois acostumados a passar pelas coisas e deixar de percebé-las, nossos olhos esto treinados para capturar ea mente para registrar e catalogar apenas aquilo que se aproxi- ma de repertérios e esquemas circunscritos em “nosso” mun- do, por vezes, ignorando diferengas téo importantes em proces- sos de construgo do mundo pela alteridade. ‘A riqueza dos “passeios” por ruas, lojas, vitrinas, mostras e fei- rras foi perceber como o mével artesanal trangado em fibras as- sume caracteristicas que o configuram como “camaledo” (como alguns interlocutores o definiram), capaz de transformar-se € inserir-se em contextos distintos. De espagos sofisticados a es- pacos populares, 0 mével marca presenca e assume identida- des miltiplas. A primeira imagem ¢Ggura 7) remete ao luxo encontrado nas lojas de ruas de Mildo, na Itdlia. As vitrinas expdem os méveis trangados de modo a valorizé-lo como objeto ligado & ideia de “sofisticagao” e “requinte”. igure: Vina ~ Loja 848 ela Loca Via Darin, Milo Fonte: Foto de sutra props, ez 208. es As feiras, consideradas espacos “populares” de consumo, pro- ‘movern a comercializacio de produtos mais acessiveis, supos- tamente ofertados diretamente ao consumidor, estabelecendo uma relagdo de proximidade e confianga, ao sugerir que néo hé intermedidrios na negociacdo (0 que dificilmente representa a realidade). Na figura 8 est retratado um stand da loja Bambu Design, na feira de Rho, Itélia. Méveis sao vendidos a precos mais populares e o significado remete ao étnico, como algo distante e exético que os artefatos e discursos visuais buscam representar. gras: Stand ds Loja Bambu Design ma era de atesanto de ide. Local Milo alia Font: Toto de autre propia, de, 209, Diferentemente de lojas e feiras, as mostras e exposicdes so ‘espacos indiretos de consumo. Apresentam produtos conside- rados “inovadores”, assumindo posicionamento de “vanguarda” em estilos e veiculos de difusio de tendéncias ~ materiais, tec- nolégicas e/ou comportamentais. Na mostra brasileira Casa Cor, a sustentabilidade tem sido a tonica das iltimas edigdes. No ano de 2009, o tema foi “Natu- reza e Burle Marx”. Em 2010, na edicdo do Parané, 0 slogan foi: “Morar Verde: sustentével maneira de viver’. Apesar de algu- mas pecas expostas demonstrarem preocupacéo sustentavel, 2 exemplo do sofé “Ursa Maior” projetado pela designer Bernade- te Brandio (figura g), nenhuma mengZo ao process de criagio, produgio ou origem dos produtos foi feita explicitamente na mostra. Significados da forma de viver sustentével séo enunciados na mostra Casa Cor, no entanto, de acordo com minhas observa- ‘Bes das tiltimas mostras, a representago da sustentabilidade Tesumiu-se insergio de alguns méveis, elementos decora- tivos e objetos feitos de lixo reciclado, madeira de demolicao unre ar EES neuen fibras naturais, Devido ao foco e piiblico alvo da mostra, hé pouca (ouso dizer quase nenhuma) preocupagio com contex- tos mais amplos da sustentabilidade (origens, processos, quem fez, como fez, prinefpios sociais, culturais, éticos, ambientais e prescricdo de uso consciente das coisas e recursos naturais) Figura: Ambiente projetedo pare x Cees Cor~polnons “Urea alo” Autor: Beraadate brand, Produgt’ Morime Loa! de Produtos Curtb, rz. Bpoe: 209. Font: Foto caida por Bernadete Seaneao. Além dos espacos de circulagio, os espacos de uso-residéncias, comércio, locais piblicos ~ também sao fontes fundamentais de referéncia a projetos. Formas de dispor e arranjar artefatos, sistemas relacionais de objetos, modos de uso, ressignificagées apropriacdes criativas narram como pessoas interagem me- diadas pela materialidade e como interpretam e performati- zam significados das coisas pela sua posse (ou no) e us0s. Observar demandas e desejos de consumo pode apresentar op- des e estratégias para quem materializa artefatos, a aderir (ou ‘nio) a estruturas sociais preferenciais, refletindo e refratando projetos sociais e estilos de vida. As formas de circulagéo ana- lisadas, em certa medida, mostraram como circular por con- textos variados e manter-se atualizado pode representar uma questio de sobrevivéncia de empresas em sociedades urbanas complexas, marcadas por relacSes capitalistas de mercado. CONCLUINDO... Apesar de ser a trajetéria relacional de coisas, sujeitos que cir- culam em tempos e espacos performatizando acces, persiste uma lacuna do quase “sobrenatural” em relagio ao trabalho envolvido na producao. Parece que méveis e artefatos simples- mente aparecem em espacos de comercializacio e, uma placa, etiqueta ou rétulo, indica que foi feito em “tal lugar”, com “ma- terial x" e custa “tanto”, No entanto, que maos puderam revelar vernonia seats om Car, © oculto? Onde e de que forma os méveis so materializados? Por quais processos a matéria “x” passou até tornar-se algo sensivel as nossas petcepcies, & visdo, ao tato, olfato? Como a fibra transformou-se nesta ou naquela cadeira, poltrona, mé- vel, no qual podemos sentar-nos? Com estas indagacées, ao abordar o processo de materializa- ‘cdo, englobei também processos que relacionam fluxos e cit~ culagées, locais e globais, que podem (reyconfigurar estilos de vida, gostos e préticas, articulando artefatos a contextos so- ciais, culturais e trajetérias biogréficas. Relacionando o mével artesanal a novas narrativas, tempora- lidades, tecnologias e estilos de vida, mas mantendo a caracte- ristica principal do “feito a mao”, Armando Tillio explica que é possivel manter rotas e adequar desvios, que mantenham o artefato no mercado. IA fibra natural] é um material que, numa decoragéo, voce pode misturar, vocé pode por junto, vocé pode usar com ago escovado, com lato, com mérmore, com granito, com jaca- randé. Entéo, ele se] associa facilmente, [e] voc8 esta sempre nna moda. Eu tenho visto, com o passar dos anos, que méveis que eu fiz hé trinta, quarenta anos, retornam. O arquiteto manda aqui, ele sugere um processo de atualizagSo para 0 cliente. f feita uma laca, trocadas as almofadas por uma ‘mais modernas, e aquilo [refere-se ao mével] volta a decorar ‘© ambiente, 0 mesmo ambiente {em] que ele estava, quer di- zer, ele nAo foi descartado, ele esta sendo reaproveitado, 36 ‘mudando 0 acabamento, mudando a aparéncia. Na verdade, lento, isso tem acontecido, Eu tenho aqui em andamento mais de vinte pedidos de hotéis. Por exemplo, tenho ali do Palddio, 1é de Ponta Grossa, [para o qual] eu estou agora fa- zendo uma nova adaptagio, trocando a almofada, |... Séo coi- as que, com o passar dos anos, vocé vai pegando e fazendo. [..] Eu transforme o préprio mével que eu fabriquel ha vinte, trints, quarenta anos, deixando ele mais atualizado, com a tendéncia da moda (T6110, entrevista, 2005) Esta narrativa apresenta-se muito rica por resumir bem o pro- cesso de atualizacdo e reinsergio de artefatos em trajetérias sociais. Nela, o artesdo e empresario Armando Tillio, de Curi- tiba, aponta para o fato de que materialidades, relacionadas a0 aspecto temporal na vida das coisas, podem estabelecer novas politicas de valorizagio de coisas. Artefatos podem incorporar UTA MATE EOE ene ene e/ou atualizar narratives sociais, que, por sua vez, os atualizam. ‘Transformando-se, objetos podem acompanhar um tempo vi- vido em espacos, que se torna meméria e histéria. Ao insisti- remem perdurar, perdem seus valores de mercadoria e passam a ter outros valores acionados (como os emocionais) e, desmer- cantilizados, caracterizam-se como pecas singularizadas de colecdo (domésticas ou de museus), Préticas que prolongam a vida de produtos inserem-nos em uma longa temporalida- de, perdendo o caréter ef@mero que 0s condena ao descarte, a exemplo dos desvios relacionados aos circuitos da moda. Isto no significa que, em algun momento, ndo possam voltar a ter va~ lores monetarios acionados e retornar aos circuitos de circulacso. Configuram-se rotas a partir de processos de objetificacéo subjetificacéo de coisas. A materialidade, apesar de aparente- mente negada, torna latente o significado das coisas para as pessoas e, como o proprio Stallybrass"* argumenta: “apesar de toda nossa critica sobre o materialismo da vida moderna, @ atencao ao material € precisamente aquilo que esté ausente. Rodeados como estamos por uma extraordinaria abundancia de materiais, seu valor deve ser incessantemente desvaloriza- do e substituido”. © pereurso dos objetos, suas trajetérias, seus usos e significa- des permitem interpretar transagées, normas e diferentes re- gimes de valor em que estes circulam, associados a processos dinémicos de produco e reproducéo social, A histéria cultu- ral de attefatos corporifica performances pessoais e coletivas, culturalmente afirmadas, articuladas com conhecimentos de ‘componentes técnicos, mitol6gicos e valorativos, suscetiveis & “interacdo miitua e dialética’, como sugere Appadurai”. ‘Ao cartografar esse campo ¢ tentar perceber quem séo os en- volvidos nesses processos de rupturas, (re)significacdes, apro- priacdes e transformacées, a insercao no cotidiano permitiu- me tracar mapas de atores e redes de valor que, mais que sistematizagées fechadas, objetivam representar ¢ visualizar processos ¢ encadear conexdes existentes, além de projetar ou- tras posstveis, entre esses agentes. Este encadeamento, em procedimentos de pesquisa de novos artefatos, sistemas ou servicos de design, representa parte fundamental da metodologia para pensar artefatos e sistemas que dialoguem com contextos sociais de producéo, circulacao e consumo, Os(as) consumidores(as) sao agentes fundamentais ‘Case de Mans oupes, ‘rns de Sle 220ap 19620 ss etazosy A.A Vide ‘Soll der Coa ab message pewpsti ate ‘Rr etry, 2058, pst que se apropriam, usam e (re)significam objetos em préticas co- tidianas e processos de humanizacéo, relacionando trajetérias sociais a trajetérias de artefatos. A existéncia de uma sinergia de desejos, demandas e projetos, entre a produgio/circulagao/ ‘consumo, mantém o espaco para artefatos, a exemplo dos mé- ‘veis artesanais (pesquisados na tese), atualizarem-se no tempo. Esse sistema, aberto e multidirecional, contempla miituas i terferéncias, inter-relagdes e negociacbes. A mediagao do de- sign pode enfatizar valores na interface das esferas da producéo e consumo, resultando em sistemas de interagdo e valorizagio de territérios, saberes, culturas, préticas sociais e ambientais, ‘coerentes com 0 conceito de sustentabilidade, O design, por si, nnio é capaz de transformar o mundo, entretanto, pode ser ins- pirador de muitas mudancas. REFERENCIAS ARENDT, Hannah. A Condigio Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitaria, 2007. BOURDIEU, Pierve. A Distingicr critica social do julgamento, So Paulo: EDUS?, 2007, CALVINO, Italo. Colegdo de arti So Paulo: Companhia das Letras, 2010. CARDOSO, Rafael. Putting the magic back into design: from object fetishism to product semantics and beyond. Artigo disponivel em: hetp://www.waspress.co.uk/journals/artontheline/ journal_20042/articles/pdl/20041_0z.pdf. Acesso em: ago. 2004. DALLAGO, Gabriella. 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