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Resumo: Esta texto tem como objetivo apresentar um estudo referente à Formação
Continuada dos educadores participantes do minicurso O planejamento de ensino na
perspectiva histórico-crítica: compreensões e avanços, vinculado ao Projeto de Pesquisa
intitulado: “Formação Continuada: compreensões e avanços na elaboração de planejamento
de ensino”. O foco principal do projeto foi o de contribuir para o aperfeiçoamento e para a
formação de novos conhecimentos referente à prática de elaboração de planos de aulas e sua
importância enquanto ferramenta norteadora do processo de ensino e aprendizagem. Para a
realização deste minicurso foram coletados depoimentos dos educadores acerca das principais
contribuições e dificuldades enfrentadas no processo de elaboração do plano de unidade e a
aplicação do mesmo em sala de aula, a fim de discutir a viabilidade em desenvolver uma
metodologia de ensino pautada nos pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, assim como
analisar se houve avanços na compreensão e na aplicação de planos de aula. Como proposta
metodológica optamos por uma perspectiva de abordagem crítico-dialética. Por meio dos
depoimentos foi possível constatar que a Pedagogia Histórico-Crítica contribuiu de forma
expressiva para a formação continuada dos participantes do minicurso, pois, a elaboração dos
planos de aula e sua aplicação em sala de aula, possibilitou aos professores a conscientização
de que o planejamento é um dos instrumentos pelo qual é possível efetivar a transformação da
prática educativa em sala de aula, contribuindo assim, para a transmissão e assimilação do
conhecimento científico pelos alunos.
Introdução
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(LEAL, 2005. p.1). No entanto, convém considerar que existem aqueles que realizam suas
atividades sem pensar e planejar, executando-as de forma mecânica ou de forma improvisada,
comprometendo assim o resultado da ação.
O planejamento na perspectiva educacional representa um ato político e
pedagógico, pois envolve no ato de ensinar, intenções e intencionalidade, isto é, pensar a
prática educativa “refletindo sobre os objetivos, os conteúdos, os procedimentos
metodológicos, a avaliação do aluno e do professor”. (LEAL, 2005. p.1).
Segundo Vasconcellos (2002), o planejar torna-se importante para evitar a
improvisação, representando um momento de reflexão e de pesquisa, em que o professor tem
a possibilidade de uma atuação mais eficiente e eficaz. O planejamento é um aliado para
evitar a mecanização do conhecimento, é uma forma de valorizar a criatividade e o raciocínio
lógico. Envolve a conscientização por parte do professor da necessidade de mudança, pois a
eficácia só é atingida quando escolhemos previamente as ações que vamos executar.
O planejamento de ensino tem suas especificidades por se tratar de ações
que envolvem sujeitos que estão em processo de formação humana. Dessa forma, o docente
necessita refletir e prever o que poderá acontecer, ou seja,
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Destacamos que os educadores envolvidos nesta pesquisa são oriundos de
escolas da Educação Básica do município de Londrina que apresentaram um baixo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), como também alunos de graduação e pós-
graduação. De maneira geral, as ações desenvolvidas durante o Minicurso tiveram como
objetivo central consolidar a junção entre teoria e prática ao desenvolver os trabalhos
pedagógicos.
Destarte, a primeira ação teve como pressuposto enfatizar a importância do
Método dialético para a construção da identidade docente, e assim reconhecer que muitas
dificuldades que encontramos no contexto escolar são resquícios do processo histórico que
ainda perpetua na atualidade. Ainda nesta etapa foi realizada uma abordagem teórica acerca
dos principais pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica (SAVIANI, 2000) e do plano de
ensino elaborado por Gasparin (2007), com o intuito de discutir a especificidade da educação
enquanto processo de que tem como finalidade emancipar e humanizar o sujeito.
Com o objetivo de enfatizar a importância da junção teoria e prática, a ação
seguinte teve como propósito permitir a assimilação de tudo o que fora abordado até então por
meio da elaboração de planos de aulas pautado na Didática da Pedagogia Histórico-Crítica
(GASPARIN, 2007) para posteriormente serem aplicados em sala de aula.
Após a aplicação do planejamento em sala de aula, foi realizado um
encontro com os educadores envolvidos para a socialização e discussão dos resultados
alcançados, permitindo verificar, assim, a viabilidade de aplicação em sala de aula dos
pressupostos e da Didática do planejamento na perspectiva da Pedagoga Histórico-Crítica.
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Dessa forma, a educação é legitimada à medida que é realizada a
comunicação entre pessoas com diferentes níveis de maturação humana com o propósito de
intervir na vida das novas gerações para educá-las. No entanto, para que ocorra o processo de
formação humana por meio da educação é necessário compreender o homem historicamente
como resultado de síntese das relações sociais, unindo conteúdo e forma.
Baseado nos pressupostos do Materialismo Histórico-Dialético, Saviani e
Duarte (2012), afirmam que a formação humana deve ser analisada por meio do trabalho, pois
esta é a atividade vital do homem. O trabalho humano é fruto de
[...] uma atividade consciente que se objetiva em produtos que passam a ter
funções definidas pela prática social. Por meio do trabalho, o ser humano
incorpora, de forma historicamente universalizadora, a natureza ao campo
dos fenômenos sociais. Neste processo as necessidades humanas se ampliam,
ultrapassando o nível das necessidades de sobrevivência e surgindo
necessidades propriamente sociais (SAVIANI; DUARTE, 2012, p. 21).
[...] quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem para consumir;
quanto mais valores cria, tanto mais sem valor, tanto mais indigno ele é;
quanto mais elaborado é seu produto, tanto mais disforme é o trabalhador;
quanto mais civilizado é o seu objeto, mais bárbaro é o trabalhador. [...]
Certamente o trabalho produz maravilhas para os ricos, porém produz
privações para o trabalhador (MARX apud SAVIANI; DUARTE, 2012, p.
22).
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ambiente do trabalho, o trabalho não é satisfação de uma necessidade, mas uma forma para
satisfazer necessidades externas.
Segundo Thiele (2008, p. 10956), o professor também se encontra
submetido às leis de mercado, pois são “obrigados a vender sua força de trabalho por muito
menos do que aquilo que produzem”. Assim, percebemos que o trabalho docente a cada dia se
torna mais precário e desvalorizado, pois as condições econômicas e sociais afetam
diretamente o fazer pedagógico, tornando-o frágil, perdendo a autonomia e a especificidade.
De maneira geral, a atual configuração da nossa sociedade,
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homem, é por meio desta que ocorre a efetivação da sua individualidade de forma consciente,
livre e universal.
Saviani e Duarte (2012) chamam a atenção para a importância da
transmissão de conceitos clássicos que devem ser assimilados pelas gerações futuras enquanto
elemento fundamental para o processo de humanização do sujeito. No entanto, enfatiza que
existe uma diferença entre o tradicional e o clássico, pois o primeiro se refere ao passado ou
algo ultrapassado e o clássico são os conteúdos que permanecem historicamente e que servem
de referências para as gerações futuras. O acesso ao clássico permite compreender o contexto
no qual estamos inseridos, “o que tem grande valor educativo, já que a educação não é outra
coisa senão o processo por meio do qual se constitui em cada indivíduo a universalidade
própria do gênero humano”. (SAVIANI; DUARTE, 2012, p. 31). Assim, a educação deve ter
como pressuposto buscar caminhos para a apropriação das objetivações humanas enquanto
processo histórico a fim de efetivar a formação humana de forma plena e universal.
Encaminhamentos metodológicos
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por meio de coleta de dados, questionários e observação sistemática, de maneira geral
assumindo a forma de um levantamento (MINAYO, 2010).
Esta abordagem metodológica foi concebida e realizada em estreita
associação com a ação, na tentativa de contribuir para a resolução de um problema coletivo,
no qual tanto pesquisadores e participantes representativos da situação estavam envolvidos de
modo cooperativo. Esse tipo de abordagem supõe uma forma de ação planejada, de caráter
social, educacional e técnico, realizando ao mesmo tempo, um diagnóstico e a análise da
situação, propondo mudanças que levem ao aprimoramento e a evolução da prática educativa
(THIOLLENT, 2008).
Salientamos que participaram deste minicurso pedagogos e docentes de
várias disciplinas, sendo necessário, portanto, considerar as especificidades de cada área do
saber, a dinâmica que envolve o contexto no qual os mesmos estão inseridos, as condições de
trabalho e a trajetória profissional construída ao longo do exercício da profissão.
De acordo com Fernandes e Orso (2010), a escola por ser instituição social
que agrega sujeitos dos mais diversos setores sociais sofre influências das políticas
educacionais impostas pelo Estado de acordo com seus interesses. Neste contexto, o trabalho
docente não pode ser entendido sem levar em consideração as múltiplas determinações sociais
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que ocorrem no contexto. Tanto o trabalho docente como as questões educacionais só podem
ser compreendidos a partir da organização do meio sociocultural.
Além desses fatores, existe a questão da identidade profissional, pois,
segundo Possamai (2013), são tantos afazeres extracurriculares que o docente assume, que o
ato de ensinar acaba ficando em segundo plano.
Apesar dos incentivos para formação continuada do professor, atualmente
percebemos que muitas dessas capacitações são advindas de um programa ineficiente que não
contribui em nada para o aperfeiçoamento da prática educativa. Normalmente, o que ocorre é
apenas um acúmulo de certificados que são utilizados para a elevação no plano de carreira. É
possível perceber essa concepção por meio do depoimento de alguns docentes:
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Contudo, com o desenvolvimento das ações realizadas durante o minicurso,
foi perceptível o interesse dos docentes em buscar aprofundamento teórico acerca dos
pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítico como uma alternativa para melhorar os números
do IDEB, assim como resgatar o interesse dos alunos pelas aprendizagens do conhecimento
científico.
Em relação a planejamento, percebemos que o mesmo era concebido como
uma questão meramente burocrática que o docente cumpre como se fosse uma obrigação sem
sentido. É comum encontrarmos no cotidiano escolar professores que utilizam o mesmo
planejamento ano após ano, ou fazem somente alguma pequena alteração e entregam à equipe
pedagógica.
Fusari (1990), explica que a elaboração de planos de ensino tem se revelado
um grande problema no meio escolar, devido a falta de condições de preparo dos mesmos. A
complexidade e a fragmentação instalada no sistema curricular das escolas também
contribuem para esse problema. Em depoimento alguns docentes descreveram como foi o
momento inicial da elaboração do plano de aula.
Com o decorrer do projeto você vai mudando a sua cabeça, você vai
mudando o jeito de pensar, jeito de agir, com o segundo projeto que foi o
planejamento, fica mais fácil, fica mais claro pra você, qual a maneira que
você vai agir, como você vai falar com seu aluno, qual a perspectiva que
você espera do aluno relacionado à sua matéria é principalmente a minha
matéria por que é educação física [...] (Professor 3).
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[...] fez com que eu atingisse muito mais fácil o meu aluno do ensino médio,
eu acho que o nível de dar aula subiu, subiu um pouco mais, não que a gente
não planejasse antes mas o planejamento era diferente, e fez com que meu
nível de conversa com o aluno fosse diferente, né, eu não fiquei só preso
aquele conteúdo que tá lá no livro ou o contexto, teve uma abertura de
horizontes, novos assuntos foram introduzidos dentro do conteúdo que a
gente pode aproveitar bastante, principalmente o conhecimento do aluno
[...] (Professor 5).
Duarte (2012) enfatiza que a função da escola deve estar além dos limites
impostos pelo sistema capitalista, ou seja, o trabalho educativo deve ter como finalidade
primordial contribuir para o processo de humanização e emancipação do sujeito, tornando o
fazer pedagógico uma atividade intencional e dirigida com um propósito claro e específico.
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Segundo Saviani (2012), a construção do conhecimento científico
compreende dois momentos, o primeiro momento inicial parte-se do conhecimento empírico,
no qual o objeto é apreendido por meio de uma visão sincrética, caótica, seria uma visão
imediata, e a partir dessa representação
[...] quando você envolve o aluno o retorno é bom, no começo eles tem uma
certa resistência, [...] quebrar essa prática, esse costume que eles tem de
copiar e de esperar resposta é difícil, então você tem que persistir. [...] mas
realmente ter um planejamento (é ajudar a orientar), e é você não fugir das
suas metas (Professor 4).
É possível perceber por meio desses depoimentos que o preparo das aulas é
uma das etapas mais importante do trabalho docente, pois representa o momento no qual o
docente tece “a rede do currículo escolar proposto para determinada faixa etária, modalidade
ou grau de ensino” (FUSARI, 1990, p. 47).
Neste contexto, vale salientar o quanto é importante que o professor tenha
uma concepção teórica consistente e que assuma o compromisso com a democratização do
ensino, buscando assim, reconhecer quem são seus alunos, quais os objetivos que pretende
alcançar com determinado conteúdo, como irá conduzir os processos de ensino e de
aprendizagem no decorrer da aula, além de se preocupar com o processo de síntese final do
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aluno em relação ao conteúdo proposto, pois se considera que o aluno necessita vivenciar e
compreender cada aula para que o mesmo possa avançar do senso comum ao conhecimento
científico.
Alguns docentes elencaram que é necessário:
[...] mostrar pra eles que eles são agentes, que eles podem mudar a vida
deles, a realidades deles é interessante (Professor 4).
[...] o planejamento ajuda, quando você levar uma coisa diferente, (quando)
eles percebem que eles fazem parte da realidade, quem constroe o
conhecimento deles, o aprendizado deles é responsabilidade deles, o
professor o que ele pode fazer é ajudar, orientar, mostrar o caminho, mas o
aprendizado depende de cada um [...] (Professor 4).
Considerações Finais
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É interessante ressaltar que os participantes experimentaram uma nova dinâmica
em sala de aula, no qual o aluno deixa de desempenhar o papel de agente passivo, tornando-se
o sujeito de sua aprendizagem, ou seja, por meio de uma ação previamente elaborada e
intencional o professor promove a mediação entre conhecimento científico e o saber empírico
do aluno, possibilitando ao mesmo a assimilação e a (re)elaboração da cultura elaborada.
Contudo, apesar dos avanços e da constatação da viabilidade em desenvolver um
trabalho pedagógico pautado nos pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, é necessário
considerar que o contexto escolar oferece vários percalços, devido ao excesso de atribuições
que o docente vem sofrendo, além de inúmeras outras dificuldades que envolvem questões
sociais, econômicas, políticas e a crescente precarização e desvalorização que os educadores
vêm sofrendo.
Percebe-se que as dificuldades enfrentadas pelos professores em sala de aula vão
muito além do pedagógico, pois o contexto social, político, econômico e cultural interferem
diretamente nos processos de ensino e de aprendizagem. Dessa forma, é extremamente
importante que teoria e prática caminhem juntas, pois ambas se completam e subsidiam a
práxis educativa. No entanto, sabemos que durante a formação docente não ocorre um
aprofundamento teórico dos conteúdos, não se enfatiza a importância do planejar a aula, não é
ofertado aos alunos de graduação uma formação profissional crítica e coerente, visando a
construção de conhecimentos, atitudes, valores e habilidades articulada e comprometida com
a democratização da escola enquanto disseminadora do saber elaborado.
Enfim, por meio das análises e discussões ficou claro que a educação
sistematizada possui uma especificidade: que é a de disseminar os conhecimentos científicos
de forma igualitária a todos os indivíduos a fim de contribuir no processo de humanização do
aluno. No entanto, diante de tantas dificuldades e afazeres a escola acaba perdendo sua
especificidade, prejudicando a efetivação dos processos de ensino e de aprendizagem.
O fazer pedagógico a cada dia tem se tornado um grande desafio, pois envolve
uma complexidade de dimensões que atende ao contexto no qual está inserido. Para ser um
bom educador é necessário ter uma formação profissional sólida, demonstrando ter domínio
teórico e acima de tudo saber realizar a mediação entre conhecimento científico e o aluno.
Todo educador tem a grande responsabilidade de formar cidadãos, porém, no
percurso da sua trajetória profissional ele pode escolher em continuar a formar o indivíduo
passivo e alienado ou pode escolher formar o sujeito pensante e autônomo que seja capaz de
exercer sua cidadania.
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Referências
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4 ed. rev. e ampl.
Campinas, SP. Autores Associados, 2007.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa. In: _____(org.). Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
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_______. Marxismo, educação e pedagogia. In: ______. Pedagogia Histórico-Crítica e luta
de classes na educação escolar. Campinas, SP: Autores Associados, 2012. p. 59 -85.
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