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CONTRIBUIÇÕES DO PLANEJAMENTO NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-

CRÍTICA PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍCO NA


EDUCAÇÃO BÁSICA

FRANCO, Sandra Aparecida Pires


sandrafranco@uel.br

FUJITA, Elza Tie


elzafj@gmail.com

BARROS, Marta Silene Ferreira


mbarros_22@hotmail.com

Resumo: Esta texto tem como objetivo apresentar um estudo referente à Formação
Continuada dos educadores participantes do minicurso O planejamento de ensino na
perspectiva histórico-crítica: compreensões e avanços, vinculado ao Projeto de Pesquisa
intitulado: “Formação Continuada: compreensões e avanços na elaboração de planejamento
de ensino”. O foco principal do projeto foi o de contribuir para o aperfeiçoamento e para a
formação de novos conhecimentos referente à prática de elaboração de planos de aulas e sua
importância enquanto ferramenta norteadora do processo de ensino e aprendizagem. Para a
realização deste minicurso foram coletados depoimentos dos educadores acerca das principais
contribuições e dificuldades enfrentadas no processo de elaboração do plano de unidade e a
aplicação do mesmo em sala de aula, a fim de discutir a viabilidade em desenvolver uma
metodologia de ensino pautada nos pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, assim como
analisar se houve avanços na compreensão e na aplicação de planos de aula. Como proposta
metodológica optamos por uma perspectiva de abordagem crítico-dialética. Por meio dos
depoimentos foi possível constatar que a Pedagogia Histórico-Crítica contribuiu de forma
expressiva para a formação continuada dos participantes do minicurso, pois, a elaboração dos
planos de aula e sua aplicação em sala de aula, possibilitou aos professores a conscientização
de que o planejamento é um dos instrumentos pelo qual é possível efetivar a transformação da
prática educativa em sala de aula, contribuindo assim, para a transmissão e assimilação do
conhecimento científico pelos alunos.

Palavras-Chave: Pedagogia Histórico-Crítica. Planos de aula. Formação docente.

Introdução

Planejar e pensar fazem parte da especificidade do homem, pois para atingir


metas e objetivos, ou mesmo realizar atividades do cotidiano, é necessário planejar as ações.
De maneira geral, o planejamento está inserido em vários setores da nossa vida, e “exige
organização, sistematização, previsão, decisão e outros aspectos na pretensão de garantir a
eficiência e eficácia de uma ação, quer seja em um nível micro, quer seja no nível macro”

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(LEAL, 2005. p.1). No entanto, convém considerar que existem aqueles que realizam suas
atividades sem pensar e planejar, executando-as de forma mecânica ou de forma improvisada,
comprometendo assim o resultado da ação.
O planejamento na perspectiva educacional representa um ato político e
pedagógico, pois envolve no ato de ensinar, intenções e intencionalidade, isto é, pensar a
prática educativa “refletindo sobre os objetivos, os conteúdos, os procedimentos
metodológicos, a avaliação do aluno e do professor”. (LEAL, 2005. p.1).
Segundo Vasconcellos (2002), o planejar torna-se importante para evitar a
improvisação, representando um momento de reflexão e de pesquisa, em que o professor tem
a possibilidade de uma atuação mais eficiente e eficaz. O planejamento é um aliado para
evitar a mecanização do conhecimento, é uma forma de valorizar a criatividade e o raciocínio
lógico. Envolve a conscientização por parte do professor da necessidade de mudança, pois a
eficácia só é atingida quando escolhemos previamente as ações que vamos executar.
O planejamento de ensino tem suas especificidades por se tratar de ações
que envolvem sujeitos que estão em processo de formação humana. Dessa forma, o docente
necessita refletir e prever o que poderá acontecer, ou seja,

[...] averiguar a quantidade de alunos, os novos desafios impostos pela


sociedade, as condições físicas da instituição, os recursos disponíveis, nível,
as possíveis estratégias de inovação, as expectativas do aluno, o nível
intelectual, as condições socioeconômicas (retrato sociocultural do aluno), a
cultura institucional, a filosofia da universidade e/ou da instituição de ensino
superior, enfim, as condições objetivas e subjetivas em que o processo de
ensino irá acontecer. (LEAL, 2005. p.2).

Por meio desta reflexão, o educador poderá dar os encaminhamentos


necessários para sua ação educativa naquele contexto em específico. Vasconcellos (2002, p,
107) afirma que “conhecer a realidade do aluno é essencial para subsidiar o processo de
planejamento numa perspectiva dialética”, contudo, esse (re)conhecer a realidade do aluno
deve privilegiar a capacidade, os valores, a cultura no qual o mesmo está inserido, isto é,
aquele indivíduo resultante de um contexto que envolve múltiplas relações e que em algumas
situações carrega consigo rótulos resultantes da sua condição social, econômica e cultural.
Considerando as especificidades e a importância do planejamento no
contexto escolar, este trabalho tem como pressuposto analisar as reflexões e considerações
dos professores acerca das contribuições do plano de ensino na perspectiva da Pedagogia
Histórico-Crítica vivenciadas durante sua participação no minicurso: “O planejamento de
ensino na perspectiva histórico-crítica: compreensões e avanços”.

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Destacamos que os educadores envolvidos nesta pesquisa são oriundos de
escolas da Educação Básica do município de Londrina que apresentaram um baixo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), como também alunos de graduação e pós-
graduação. De maneira geral, as ações desenvolvidas durante o Minicurso tiveram como
objetivo central consolidar a junção entre teoria e prática ao desenvolver os trabalhos
pedagógicos.
Destarte, a primeira ação teve como pressuposto enfatizar a importância do
Método dialético para a construção da identidade docente, e assim reconhecer que muitas
dificuldades que encontramos no contexto escolar são resquícios do processo histórico que
ainda perpetua na atualidade. Ainda nesta etapa foi realizada uma abordagem teórica acerca
dos principais pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica (SAVIANI, 2000) e do plano de
ensino elaborado por Gasparin (2007), com o intuito de discutir a especificidade da educação
enquanto processo de que tem como finalidade emancipar e humanizar o sujeito.
Com o objetivo de enfatizar a importância da junção teoria e prática, a ação
seguinte teve como propósito permitir a assimilação de tudo o que fora abordado até então por
meio da elaboração de planos de aulas pautado na Didática da Pedagogia Histórico-Crítica
(GASPARIN, 2007) para posteriormente serem aplicados em sala de aula.
Após a aplicação do planejamento em sala de aula, foi realizado um
encontro com os educadores envolvidos para a socialização e discussão dos resultados
alcançados, permitindo verificar, assim, a viabilidade de aplicação em sala de aula dos
pressupostos e da Didática do planejamento na perspectiva da Pedagoga Histórico-Crítica.

A relação entre educação e formação humana na Pedagogia Histórico-Crítica

Segundo os pressupostos teóricos que abordam a Pedagogia Histórico-


Crítica, a educação tem por finalidade a formação humana enquanto processo que abarca a
disseminação de elementos culturais acumulados historicamente tendo como objetivo a
emancipação e a humanização do sujeito. De acordo com Saviani e Duarte (2012, p. 14),

[...] a análise do aspecto intelectual, isto é, da consciência, revela que o


homem não se mantém preso às suas condições situacionais e pessoais. Ele é
capaz de transcender a situação, assim como as opções e pontos de vista
pessoais, para se colocar na perspectiva universal, entrando em comunição
com os outros e reconhecendo suas condições situacionais, assim como suas
opções e seus próprios pontos de vista.

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Dessa forma, a educação é legitimada à medida que é realizada a
comunicação entre pessoas com diferentes níveis de maturação humana com o propósito de
intervir na vida das novas gerações para educá-las. No entanto, para que ocorra o processo de
formação humana por meio da educação é necessário compreender o homem historicamente
como resultado de síntese das relações sociais, unindo conteúdo e forma.
Baseado nos pressupostos do Materialismo Histórico-Dialético, Saviani e
Duarte (2012), afirmam que a formação humana deve ser analisada por meio do trabalho, pois
esta é a atividade vital do homem. O trabalho humano é fruto de

[...] uma atividade consciente que se objetiva em produtos que passam a ter
funções definidas pela prática social. Por meio do trabalho, o ser humano
incorpora, de forma historicamente universalizadora, a natureza ao campo
dos fenômenos sociais. Neste processo as necessidades humanas se ampliam,
ultrapassando o nível das necessidades de sobrevivência e surgindo
necessidades propriamente sociais (SAVIANI; DUARTE, 2012, p. 21).

Sendo assim, é por meio do trabalho que ocorre a objetivação humana, no


qual a produção do objeto é fruto de uma ação consciente e previamente pensada. Contudo,
com a divisão social e a ascensão do sistema capitalista o produto humano se transforma em
capital, tornando-se propriedade da classe dominante e esta não permite que a classe
produtora tenha acesso aos objetos que ela mesma produz. Neste contexto, o trabalho humano
se transforma em um objeto que o trabalhador vende para conseguir se apropriar dos produtos
que ele mesmo produz. Ou seja:

[...] quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem para consumir;
quanto mais valores cria, tanto mais sem valor, tanto mais indigno ele é;
quanto mais elaborado é seu produto, tanto mais disforme é o trabalhador;
quanto mais civilizado é o seu objeto, mais bárbaro é o trabalhador. [...]
Certamente o trabalho produz maravilhas para os ricos, porém produz
privações para o trabalhador (MARX apud SAVIANI; DUARTE, 2012, p.
22).

Percebe-se que o trabalho humano torna-se uma objetivação alienante, pois


o sujeito perde o acesso aos produtos que ele mesmo produz, transformando o que deveria ser
humanização e a confirmação da individualidade em seu oposto, tornando o homem um ser
unilateral, isto é, que só se realiza mediante a posse imediata.
Saviani e Duarte (2012), à luz dos pressupostos teóricos de Marx, explicam
que, neste contexto, a atividade de trabalho torna-se externo ao homem, ou seja, o trabalhador
não se realiza na efetivação da atividade de trabalho, sente-se infeliz, só se realiza fora do

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ambiente do trabalho, o trabalho não é satisfação de uma necessidade, mas uma forma para
satisfazer necessidades externas.
Segundo Thiele (2008, p. 10956), o professor também se encontra
submetido às leis de mercado, pois são “obrigados a vender sua força de trabalho por muito
menos do que aquilo que produzem”. Assim, percebemos que o trabalho docente a cada dia se
torna mais precário e desvalorizado, pois as condições econômicas e sociais afetam
diretamente o fazer pedagógico, tornando-o frágil, perdendo a autonomia e a especificidade.
De maneira geral, a atual configuração da nossa sociedade,

[...] remete à desqualificação do trabalho docente, reduz os professores a


uma espécie de técnicos especializados, cumpridores de tarefas,
desumanizando o trabalho. Diante disso, a escola, situada entre os embates
do capital e do trabalho acaba sendo forçada a preparar a força de trabalho
para a manutenção das relações de produção vigente (FERNANDES; ORSO,
2010, p. 11)

Em uma sociedade no qual prevalece a divisão de classes pautada na


exploração do trabalho alheio, inevitavelmente terá uma educação voltada para o
disciplinamento e preparação de mão de obra para atender as demandas do sistema capitalista.
Na contemporaneidade, percebemos que os docentes perderam a autonomia
em relação ao desenvolvimento do seu processo de trabalho, pois estão sujeitos a seguir uma
organização escolar imposta por meio de horários, currículos e livros didáticos. Thiele (2008)
explica que estamos assistindo a uma intensificação do trabalho docente, acirrado a uma
crescente proletarização consequente do aumento do ritmo de trabalho e das atividades
exigidas pela escola. Essa situação tem afetado a prática educativa no contexto escolar, pois o

[...] excesso de trabalho, indisciplina em sala de aula, salário baixo, pressão


do sistema educacional, formação inicial deficiente, formação continuada
ineficiente, violência, demanda de pais de alunos, bombardeio de
informações, desgaste físico e, principalmente, a falta reconhecimento de sua
atividade seriam algumas causas de estresse, ansiedade e depressão que vem
acometendo os docentes. (THIELE, 2008, p. 10954).

Além desses fatores, existe a questão da identidade profissional, pois


atualmente são tantas as exigências em relação à competência que cabe ao educador
desempenhar que seu papel social acaba ficando comprometido.
Para a superação dessa condição, é preciso transformar a atividade de
trabalho em uma ativada autorrealizadora, ou seja, transformar essa atividade em uma
“relação consciente com o mundo resultante da objetivação histórica e social do gênero
humano” (SAVIANI; DUARTE, 2012, p. 27), pois se o trabalho é a atividade principal do

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homem, é por meio desta que ocorre a efetivação da sua individualidade de forma consciente,
livre e universal.
Saviani e Duarte (2012) chamam a atenção para a importância da
transmissão de conceitos clássicos que devem ser assimilados pelas gerações futuras enquanto
elemento fundamental para o processo de humanização do sujeito. No entanto, enfatiza que
existe uma diferença entre o tradicional e o clássico, pois o primeiro se refere ao passado ou
algo ultrapassado e o clássico são os conteúdos que permanecem historicamente e que servem
de referências para as gerações futuras. O acesso ao clássico permite compreender o contexto
no qual estamos inseridos, “o que tem grande valor educativo, já que a educação não é outra
coisa senão o processo por meio do qual se constitui em cada indivíduo a universalidade
própria do gênero humano”. (SAVIANI; DUARTE, 2012, p. 31). Assim, a educação deve ter
como pressuposto buscar caminhos para a apropriação das objetivações humanas enquanto
processo histórico a fim de efetivar a formação humana de forma plena e universal.

Encaminhamentos metodológicos

Ao longo da execução do minicurso, pressupõe-se que os docentes


envolvidos puderam vivenciar momentos de reflexões, aprendizagens e dificuldades. Desta
forma, considerando a necessidade de debater acerca das contribuições da Pedagogia
Histórico-Crítica para a Formação Continuada e para o aperfeiçoamento da prática educativa
enquanto encaminhamento que propicia a construção do conhecimento científicos, na etapa
final do minicurso os participantes tiveram a oportunidade de compartilhar por meio de
depoimentos orais, as principais contribuições e dificuldades enfrentadas acerca do processo
de elaboração do plano de unidade e a aplicação do mesmo em sala de aula.
O objetivo central deste trabalho foi o de discutir acerca da viabilidade em
desenvolver uma metodologia de ensino pautada nos pressupostos da Pedagogia Histórico-
Crítica, e por meio desta, analisar se houve avanços na compreensão e na aplicação de planos
de aula a fim de favorecer o desenvolvimento humano e propiciar a construção de
conhecimentos científicos.
Como proposta metodológica optamos por uma perspectiva de abordagem
crítico-dialética, que tem como pressuposto analisar as motivações, crenças, valores, desejos,
atitudes, a fim de interpretar as ações a partir do contexto no qual o sujeito está inserido, ou
seja, descrever as características do fenômeno e as relações estabelecidas entre as variáveis

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por meio de coleta de dados, questionários e observação sistemática, de maneira geral
assumindo a forma de um levantamento (MINAYO, 2010).
Esta abordagem metodológica foi concebida e realizada em estreita
associação com a ação, na tentativa de contribuir para a resolução de um problema coletivo,
no qual tanto pesquisadores e participantes representativos da situação estavam envolvidos de
modo cooperativo. Esse tipo de abordagem supõe uma forma de ação planejada, de caráter
social, educacional e técnico, realizando ao mesmo tempo, um diagnóstico e a análise da
situação, propondo mudanças que levem ao aprimoramento e a evolução da prática educativa
(THIOLLENT, 2008).
Salientamos que participaram deste minicurso pedagogos e docentes de
várias disciplinas, sendo necessário, portanto, considerar as especificidades de cada área do
saber, a dinâmica que envolve o contexto no qual os mesmos estão inseridos, as condições de
trabalho e a trajetória profissional construída ao longo do exercício da profissão.

Percepções e contribuições dos docentes acerca das etapas percorridas

Partindo das considerações dos docentes acerca das etapas percorridas


durante o minicurso: “O planejamento de ensino na perspectiva histórico-crítica:
compreensões e avanços foi possível perceber que houve um interesse expressivo pela
proposta do minicurso, pois de maneira geral as escolas enfrentavam vários problemas devido
ao contexto sociocultural no qual as mesmas estão inseridas. No depoimento abaixo a docente
explica que o contexto escolar não se resume a questões educativas, existem inúmeros fatores
que interferem na rotina escolar, prejudicando o trabalho pedagógico em sala de aula.

[...] não são só as questões educativas, tem as questões socioeconômicas e


uma série de outras coisas que ... a gente enfrenta diariamente né ... porque
quem trabalha em realidades como a nossa sabe que ... o quanto é difícil
você conseguir dar uma boa aula ... você conseguir fazer com que o aluno
fique dentro da sala de aula ... e esse desafio que nós temos que é a questão
da evasão ... que a educação pressiona, o sistema pressiona muito a gente
... e a gente tem que dar conta de números [...] (Professor 7).

De acordo com Fernandes e Orso (2010), a escola por ser instituição social
que agrega sujeitos dos mais diversos setores sociais sofre influências das políticas
educacionais impostas pelo Estado de acordo com seus interesses. Neste contexto, o trabalho
docente não pode ser entendido sem levar em consideração as múltiplas determinações sociais

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que ocorrem no contexto. Tanto o trabalho docente como as questões educacionais só podem
ser compreendidos a partir da organização do meio sociocultural.
Além desses fatores, existe a questão da identidade profissional, pois,
segundo Possamai (2013), são tantos afazeres extracurriculares que o docente assume, que o
ato de ensinar acaba ficando em segundo plano.
Apesar dos incentivos para formação continuada do professor, atualmente
percebemos que muitas dessas capacitações são advindas de um programa ineficiente que não
contribui em nada para o aperfeiçoamento da prática educativa. Normalmente, o que ocorre é
apenas um acúmulo de certificados que são utilizados para a elevação no plano de carreira. É
possível perceber essa concepção por meio do depoimento de alguns docentes:

[...] quando eu entrei aqui e comecei a participar da primeira etapa, eu


entrei com um pézinho atrás sim, ah! De novo vai falar sobre planejamento,
eu tenho certeza que um monte de gente entrou dessa forma, ah eu vou fazer
mas tudo bem, planejamento não funciona [...] (Professor 1).

Essa situação retrata a desvalorização dos cursos de Formação Continuada


na busca pelo conhecimento científico. Atualmente, percebe-se que a formação docente está
voltada para desenvolver as “competências” dos alunos, a fim de suprir as exigências do
mercado de trabalho, acarretando assim, o esvaziamento do conteúdo didático, reduzindo a
escola em uma instituição que tem como objetivo formar mão de obra qualificada para suprir
as necessidades do capital. (POSSAMAI, 2013).
Segundo Saviani (1995, p.27), é necessário constituir um critério para
seleção do trabalho pedagógico e criar formas adequadas para desenvolvê-los, pois é:

[...] pela mediação da escola, dá-se a passagem do saber espontâneo ao saber


sistematizado, da cultura popular à cultura erudita. Cumpre assinalar,
também aqui, que se trata de um movimento dialético, isto é, a ação escolar
permite que se acrescentem novas determinações que enriquecem as
anteriores e estas, portanto, de forma alguma são excluídas.

Destarte, procuramos enfatizar durante os estudos teóricos realizados no


decorrer do minicurso a necessidade de resgatar o caráter e a especificidade da educação
sistematizada, a fim de que os docentes desenvolvessem uma visão crítica acerca do seu
próprio fazer pedagógico, pois, por meio das discussões realizadas nas etapas iniciais do
projeto, percebemos que alguns docentes possuíam um conhecimento superficial acerca dos
pressupostos teóricos da Pedagogia Histórico-Crítica e da importância da elaboração do plano
de aula.

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Contudo, com o desenvolvimento das ações realizadas durante o minicurso,
foi perceptível o interesse dos docentes em buscar aprofundamento teórico acerca dos
pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítico como uma alternativa para melhorar os números
do IDEB, assim como resgatar o interesse dos alunos pelas aprendizagens do conhecimento
científico.
Em relação a planejamento, percebemos que o mesmo era concebido como
uma questão meramente burocrática que o docente cumpre como se fosse uma obrigação sem
sentido. É comum encontrarmos no cotidiano escolar professores que utilizam o mesmo
planejamento ano após ano, ou fazem somente alguma pequena alteração e entregam à equipe
pedagógica.
Fusari (1990), explica que a elaboração de planos de ensino tem se revelado
um grande problema no meio escolar, devido a falta de condições de preparo dos mesmos. A
complexidade e a fragmentação instalada no sistema curricular das escolas também
contribuem para esse problema. Em depoimento alguns docentes descreveram como foi o
momento inicial da elaboração do plano de aula.

No primeiro momento do projeto me apavorei porque você tem que buscar


partindo das duvidas deles, do que eles sabem daquilo lá...e ai eu disse:
gente não vai dar certo porque eles não vão falar nada, mas pelo contrario,
esse terceiro ano que foi a serie que eu escolhi para aplicar, eles
comentaram, foram atrás e o projeto começou a andar (Professor 2).

Gostei muito do curso, tivemos a parte teórica e um bom embasamento pra


gente, e depois na parte prática também a gente pode realmente seguir os
passos e por na cabeça que é preciso pesquisar. Uma coisa que mais achei
interessante, é a parte quando você define as dimensões que você vai
abordar do conteúdo, daí que você vai procurar organizar o todo também
[...] (Professor 6).

Desta forma, percebemos que com a discussão ofertados por meio do


minicurso, foi possível chamar a atenção dos docentes para a importância do plano de aula,
pois este, torna-se um instrumento essencial para garantir o sucesso na mediação entre aluno e
o conhecimento científico. Conforme afirmou os docentes:

Com o decorrer do projeto você vai mudando a sua cabeça, você vai
mudando o jeito de pensar, jeito de agir, com o segundo projeto que foi o
planejamento, fica mais fácil, fica mais claro pra você, qual a maneira que
você vai agir, como você vai falar com seu aluno, qual a perspectiva que
você espera do aluno relacionado à sua matéria é principalmente a minha
matéria por que é educação física [...] (Professor 3).

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[...] fez com que eu atingisse muito mais fácil o meu aluno do ensino médio,
eu acho que o nível de dar aula subiu, subiu um pouco mais, não que a gente
não planejasse antes mas o planejamento era diferente, e fez com que meu
nível de conversa com o aluno fosse diferente, né, eu não fiquei só preso
aquele conteúdo que tá lá no livro ou o contexto, teve uma abertura de
horizontes, novos assuntos foram introduzidos dentro do conteúdo que a
gente pode aproveitar bastante, principalmente o conhecimento do aluno
[...] (Professor 5).

É muito importante que a escola procure encontrar formas de trabalhar o


planejamento, enfatizando a necessidade de repensar o processo de ensino e aprendizagem
com o intuito de transformar os significados de elementos curriculares básicos.
Segundo Fusari (1990, p. 46), “a ausência de um processo de planejamento
do ensino nas escolas, aliada às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes no exercício
do seu trabalho, tem levado a uma contínua improvisação pedagógica nas aulas” prejudicando
o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Destarte, o plano de aula deve ser concebido
como um processo de reflexão que deve ser vivenciado enquanto prática docente.

[...] o planejamento do ensino é o processo de pensar, de forma "radical",


"rigorosa" e "de conjunto", os problemas da educação escolar, no processo
ensino-aprendizagem. Consequentemente, planejamento do ensino é algo muito
mais amplo e abrange a elaboração, execução e avaliação de planos de ensino
(FUSARI,1990, p. 45).

Em suma, o planejamento envolve um processo de atenção, análise e busca de


significados, além de uma atitude crítica do professor para com seu trabalho docente.
Salientamos que a educação sistematizada e disseminada de forma intencional é o que permite
o acesso à cultura intelectual e a participação ativa na sociedade. Isto é,

[...] o trabalho educativo alcança sua finalidade quando cada


indivíduo singular se apropria da humanidade produzida histórica e
coletivamente, quando o individuo se apropria dos elementos
culturais necessários à sua formação como ser humano, necessária à
sua humanização. Portanto, a referência fundamental é justamente o
quanto o gênero humano conseguiu se desenvolver ao longo do
processo histórico de sua objetivação (DUARTE, 2012, p. 50).

Duarte (2012) enfatiza que a função da escola deve estar além dos limites
impostos pelo sistema capitalista, ou seja, o trabalho educativo deve ter como finalidade
primordial contribuir para o processo de humanização e emancipação do sujeito, tornando o
fazer pedagógico uma atividade intencional e dirigida com um propósito claro e específico.

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Segundo Saviani (2012), a construção do conhecimento científico
compreende dois momentos, o primeiro momento inicial parte-se do conhecimento empírico,
no qual o objeto é apreendido por meio de uma visão sincrética, caótica, seria uma visão
imediata, e a partir dessa representação

[...] chega-se por meio da análise aos conceitos, às abstrações, às


determinações mais simples. Uma vez atingido esse ponto, faz-se necessário
percorrer o caminho inverso (segundo momento) chegando, pela via da
síntese, de novo ao objeto [...]. Assim compreendido, o processo de
conhecimento é, ao mesmo tempo, indutivo e dedutivo, analítico-sintético,
abstrato-concreto, lógico-histórico”. (SAVIANI, 2012, p. 61 - 62).

Dessa forma, o concreto pensado é resultado da elaboração de conceitos


empíricos derivados de uma visão imediata do objeto, assim é possível afirmar que as ideias
são determinadas pela realidade, ou seja, o conhecimento não é neutro, uma vez que
buscamos adquirir o conhecimento conforme as nossas necessidades, ou seja, como forma de
satisfazer nossas carências.
Isso pode ser identificado em alguns depoimentos que evidenciam a
necessidade de partir da realidade empírica do aluno:

[...] e aí assim, com essa perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica ir


conversando e dialogando com aluno, e o aluno te trazendo o retorno fica
mais fácil pra você trabalhar com ele, com a visão diferente do que ele está
acostumado, é teve bons resultados. (Professor 3).

[...] quando você envolve o aluno o retorno é bom, no começo eles tem uma
certa resistência, [...] quebrar essa prática, esse costume que eles tem de
copiar e de esperar resposta é difícil, então você tem que persistir. [...] mas
realmente ter um planejamento (é ajudar a orientar), e é você não fugir das
suas metas (Professor 4).

É possível perceber por meio desses depoimentos que o preparo das aulas é
uma das etapas mais importante do trabalho docente, pois representa o momento no qual o
docente tece “a rede do currículo escolar proposto para determinada faixa etária, modalidade
ou grau de ensino” (FUSARI, 1990, p. 47).
Neste contexto, vale salientar o quanto é importante que o professor tenha
uma concepção teórica consistente e que assuma o compromisso com a democratização do
ensino, buscando assim, reconhecer quem são seus alunos, quais os objetivos que pretende
alcançar com determinado conteúdo, como irá conduzir os processos de ensino e de
aprendizagem no decorrer da aula, além de se preocupar com o processo de síntese final do

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aluno em relação ao conteúdo proposto, pois se considera que o aluno necessita vivenciar e
compreender cada aula para que o mesmo possa avançar do senso comum ao conhecimento
científico.
Alguns docentes elencaram que é necessário:

[...] mostrar pra eles que eles são agentes, que eles podem mudar a vida
deles, a realidades deles é interessante (Professor 4).

[...] o planejamento ajuda, quando você levar uma coisa diferente, (quando)
eles percebem que eles fazem parte da realidade, quem constroe o
conhecimento deles, o aprendizado deles é responsabilidade deles, o
professor o que ele pode fazer é ajudar, orientar, mostrar o caminho, mas o
aprendizado depende de cada um [...] (Professor 4).

[...] cheguei a conclusão que essa é a maneira de dar aula mesmo, o


planejamento histórico-crítico é um meio da gente conseguir que eles
aprendam um pouco mais do que aquilo que eles estão acostumado no dia-
a-dia, acho que cabe a todas as disciplinas (Professor 2).

Destarte, por meios desses relatos podemos perceber que os educadores


reconheceram que a mediação docente se torna um fator de grande importância a fim de
estimular o aluno no desenvolvimento da percepção crítica acerca da realidade no qual esta
inserido e que sua função como educador é procurar “estimular os alunos ao desenvolvimento
de atitudes de tomada de posição ante os problemas da sociedade; valorizar nos alunos
atitudes que indicam tendência a ações que propiciam a superação dos problemas objetivos da
sociedade brasileira” (FUSARI, 1990, p. 47).

Considerações Finais

Mediante as análises e reflexões realizadas acerca dos depoimentos dos docentes,


foi possível constatar que a Pedagogia Histórico-Crítica contribuiu de forma expressiva para a
Formação Continuada dos participantes do minicurso, pois o aprofundamento teórico
realizado no seu decorrer foi de suma importância para o entendimento da importância da
transmissão do conhecimento científico para as gerações futuras e da necessidade de buscar
encaminhamentos que viabilize a construção do conhecimento científico pelo aluno.
Neste contexto, a elaboração dos planos de aula e sua aplicação em sala de aula
possibilitaram aos professores a conscientização de que o planejamento é um dos
instrumentos pelo qual é possível efetivar a transformação do ambiente escolar.

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É interessante ressaltar que os participantes experimentaram uma nova dinâmica
em sala de aula, no qual o aluno deixa de desempenhar o papel de agente passivo, tornando-se
o sujeito de sua aprendizagem, ou seja, por meio de uma ação previamente elaborada e
intencional o professor promove a mediação entre conhecimento científico e o saber empírico
do aluno, possibilitando ao mesmo a assimilação e a (re)elaboração da cultura elaborada.
Contudo, apesar dos avanços e da constatação da viabilidade em desenvolver um
trabalho pedagógico pautado nos pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, é necessário
considerar que o contexto escolar oferece vários percalços, devido ao excesso de atribuições
que o docente vem sofrendo, além de inúmeras outras dificuldades que envolvem questões
sociais, econômicas, políticas e a crescente precarização e desvalorização que os educadores
vêm sofrendo.
Percebe-se que as dificuldades enfrentadas pelos professores em sala de aula vão
muito além do pedagógico, pois o contexto social, político, econômico e cultural interferem
diretamente nos processos de ensino e de aprendizagem. Dessa forma, é extremamente
importante que teoria e prática caminhem juntas, pois ambas se completam e subsidiam a
práxis educativa. No entanto, sabemos que durante a formação docente não ocorre um
aprofundamento teórico dos conteúdos, não se enfatiza a importância do planejar a aula, não é
ofertado aos alunos de graduação uma formação profissional crítica e coerente, visando a
construção de conhecimentos, atitudes, valores e habilidades articulada e comprometida com
a democratização da escola enquanto disseminadora do saber elaborado.
Enfim, por meio das análises e discussões ficou claro que a educação
sistematizada possui uma especificidade: que é a de disseminar os conhecimentos científicos
de forma igualitária a todos os indivíduos a fim de contribuir no processo de humanização do
aluno. No entanto, diante de tantas dificuldades e afazeres a escola acaba perdendo sua
especificidade, prejudicando a efetivação dos processos de ensino e de aprendizagem.
O fazer pedagógico a cada dia tem se tornado um grande desafio, pois envolve
uma complexidade de dimensões que atende ao contexto no qual está inserido. Para ser um
bom educador é necessário ter uma formação profissional sólida, demonstrando ter domínio
teórico e acima de tudo saber realizar a mediação entre conhecimento científico e o aluno.
Todo educador tem a grande responsabilidade de formar cidadãos, porém, no
percurso da sua trajetória profissional ele pode escolher em continuar a formar o indivíduo
passivo e alienado ou pode escolher formar o sujeito pensante e autônomo que seja capaz de
exercer sua cidadania.

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Referências

DUARTE, Newton; SAVIANI, Demerval. A Formação Humana na Perspectiva Histórico-


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