You are on page 1of 12
MEGAGEOMORFOLOGIA DO TERRITORIO BRASILEIRO Aziz Nacib Ab’Saber 1. INTRODUGAO De raro em saro surgem novas éticas para inteoduzir métodos de trabalho e nogées de escalae de tempo-espago no campo dos estudos geomorfolégicos. Nio se trata de : novos paradigmas, nem de modismos passageiros ou ver- 71-106 balisticos, No caso especifico da expresso megageomor- fologia existe, acima de tudo, a oportunidade de exercitar a transdisciplinaridade por meio de uma preocupasio de integrar conhecimentos disponiveis, de ordem macror regional, regional ou sub-regional, significantes. Trata-se de sintetizar, seletiva e hierarquicamente, os fatos essen- ciais da geomorfologia de grandes extensdes territoriais, com énfase em reas de primeira orclem de grandeza es- pacial, No entanto, como a geomorfologia de um pais, BIBLIOGRAFIA por menor que cle seja, depende de vastos envoltérios, é possivel realizar estudos megamorfologicos centrados em espagos territoriais aparentemente de pequena extensio Mesmo porque para bem conduzir estudos geolégicos ¢ _geomorfoldgicos nao é possivel cingir-se a espagos admi nistrativos nacionais ou provinciais. Evidentemente, o Brasil é um pais altamente privi- legiado para enfoques de megageomorfologia. Possui uma escala territorial de primeira ordem de grandeza, atin- gindo mesmo um nivel de escala continental. E também, um dos blocos geolégicos da crosta terrestre resultante da separagio derivas de um “supercontinente transverso” no caso, o hipercontinente de Gondwana. Ao longo de toda sua fachada atLintica possui um sistema periférico de fragmentagdo tectOnica, traduzido por fossas riff-valleyse montanhas de blocos falhados: desde a fossa de Marajé 20 Recdncavo Baiano e desde a Bacia de Campos & bacia de Pelotas. Sofreu amplos soerguimentos pés-cretécicos em suas areas craténicas ¢ sedimentares paleomesozoicas, a0 mesmo tempo em que foi preservada a bacia amazénica ocidental através de diversas retomadas de subsidéncia. No decorrer do Cenozoico o territério brasileiro esteve sujeito as flutuagdes climiticas inter e subtropicais; ora envolvendo climas quentes ou subguentes timidos, ora 1 sujeito A expansio anastomosada de climas secos, em condigdes menos quentes ou de invernos bem. mais frios. A. propria caracterizagio dos aspectos essenciais dos dominios morfoclimaticos intertro- picais brasileiros pode ser considerada como um. enfoque particular de megageomorfologia, ainda gue tais estudos nao estejam inclusos nos objetivos do presente estudo. Entretanto, a megageomorfologia nio se prende, apenas, em consideraydes de ordens tec- tonica, estrutural ou morfoclimatica. Ela envolve a integragio dos estudos de histéria geomorfolé- gica, tendo por base 0 conhecimento da posigo ¢ significado das superficies aplainadas ~ de cimeira interplanilticas ¢ intermontanas — pediplanos, ec- taplanos, terragos escalonados ¢ o posicionamento c génese de diferentes gerasdes de “pies de agiicar” ¢ inselbergs, além dos depésitos correlativos de dis- tribuigio ampla ou localizada. Projeta-se, ainda, para o estudo comparativo da desnudagio mar- ginal e circundesnudagao (pés-creticea ou pés- pliocénica), responsavel pela génese de escarpas ¢ talhados nos bordos de platés mesetiformes, ou de “cuestas concéntricas de frente externa’, respec- tivamente no modelo dos bordos da Chapada do Araripe, ou no esquema das escarpas de circundes- nudagio da Bacia do Parana. Para cada uma dessas questées existe litera tura especifica, de maior ou menor grau de profun- didade, parte dela listada seletivamente na biblio- grafia no final do capitulo. 2. MACRODOMOS SALIENTES E MACRODOMOS ESVAZIADOS Os esforgos para retragar a megageomorfo- logia do territério brasileiro obrigam revisbes ceituais, de interesse para uma normatizasio termi- nolégica em geociéncias. Um bom exemplo disso diz respeito ao tradicional uso na geologia brasileira da expresso “arco”. Trata-se de um conceito empi- rico que tem sido aplicado a edificios geotecténicos muito diversos entre si. O chamado “arco de Ponta Grossa”¢ uma deformasio em absbada que afetou © niicleo curitibano do Escudo Brasileiro, trans- formando regionalmente estruturas paleozoicas (e parcialmente mesozoicas) em um capeamento abaulado e densamente cizalhado, conforme docu- mentam explicitamente as imagens de satélite. Por sua vez, uma porgio da velha abébada curitibana, na atual regido do alto Iguagu, sofreu forte rebaixa mento por complexos de eversio, seguidos por pe- quenas falhas geomorfologicamente contritias, que 2 propiciaram a sedimentagio da Bacia de Curitiba, em tempos pliopleistocénicos. O fato principal na geologia ¢ geomorfologia dos planaltos orientais do Parana é a deformasio macrodémica regional, a qual segue o modelo de abaulamento em abobada, devido & intervengio regional dos chamados do- bramentos de fundo (Ruellan, 1952). No conjunto do territério brasileiro existem, porém, diversos modelos de macrodomos cristalinos, sujeitos a evolusio topogrifica, geomorfoldgica ¢ ecolégica muito diferenciados: a abébada rebaixada e ever- tida do niicleo curitibano do Escudo Brasileiro; a abébada do Planalto da Borborema, no Nordeste Oriental, circundada por depresses pré-parte tectdnicas, pré-parte desnudacionais, homoge- neizadas por amplos processos de pediplanagio; a abébada do nicleo uruguaio-sul-rio-grandense do Escudo Brasileiro, bem conservada nos quadrants interiores do Rio Grande do Sul e Uruguai, porém rota por falhas na sua borda atlantica, face a Bacia de Pelotas; a paleoabobada da area onde hoje se encontra a bacia quaternaria do Pantanal, oriunda de um arqueamento existente entre a Bacia do Pa- rand, a Bacia dos Parecis ¢ o Sistema Chiquitano do Paraguai, sujeita a esvaziamento e eversio pelo incentivo da tectonica ¢ da desnudagio interior, fatos que se desenrolaram em um lapso de tempo que envolve todo o periodo tercidrio, com reto- mada da sedimentasio fluvial e pré-parte fluvio- lacustre, durante o Pleistoceno e Holoceno (bacia quaternaria do Pantanal.) A Bacia do Pantanal, designada boufonniére por Ruellan (Ruellan, 1953), ¢ bem identificada por Almeida (informe na con- feréncia URGS, 1960) é a tinica bacia sedimentar quaternaria do pais gerada pela intervengio de so leiras tectOnicas, geomorfologicamente contrarias. Acrescentamos a tais tipos especificos observagées sobre 0 megadomo czistalino falhado do Brasil de Sudeste: a area falhada ¢ evertida do paleodomo cearense, migrada posteriormente para leste (Bor- borema); ¢ 0 esvaziamento da abébada irregular de Roraima, rebaixada pela falha do Tacutu c sujeita & complexa tectanica e derrames vulcinicos Existe uma tendéncia compreensivel para iniciar os estudos de megageomorfologia por uma anilise dos diferentes feixes de estruturas que com poem as velhas massas rochosas dos escudos pré- cambrianos. Nas geociéneias brasileiras, quando se usa a expressio escudos faz-se uma referéncia direta a0 conjunto de formasées rochosas, rigidas ¢ consolidadas, que no mais podem ser dobradas. O mosaico de rochas cristalinas que participam da os- satura geol6gica dos escudos tem uma grande im portincia para o entendimento da geomorfologia dos macigos antigos sobrelevados (Mantiqueira, Bocaina) ou rebaixados por erosio em diferentes contextos geotectinicos (depressées interplansl- ticas e intermontanas dos sertdes nordestinos; se- tores pediplanados da depressio do médio Tocan- tins e Araguaia; pediplano cuiabano, entre outras 4reas de menor relevancia especial) A expressio escudo tem uma aplicagio ge~ nériea para englobar todos os embasamentos pré-cambrianos arqueozoicos e proterozoicos, in- dependentemente de seu arranjo interno e de sua cronogeologia arcaica. Por sua vez, a expressio criton ou area craténica tem sido reservada, pre- ferencialmente, para as 4 granitizadas, exibidas em diferentes setores dos es cudos, distribufdas por entre faixas orogénicas pré- cambrianas. Por fim, a expresso plataforma bra- sileira, preferida por Almeida (1967) em algumas de suas contribuigdes essenciais para a compre- ensio do arranjo, idades e atributos das formagoes pré-cambrianas do pafs, foi incorporada na atual terminologia geolégica como uma referéncia ao embasamento pré-cambriano total do Brasil ¢ da maior parte da América do Sul Oriental, desde as Guianas até o Rio Grande do Sul. Disso resultou, também, uma hierarquia es- pecialmente decrescente de areas do embasamento total pré-cambriano, na seguinte ordem: plata- forma, escudo e cratons, Para fins de megageo- morfologia interessa, sobretudo, a constituigao ¢ 0 comportamento das reas cratonicas e faixas oro- génicas dos escudos expostos, 0 grau de soergui- mento epirogénico e impactos regionais dos dobra- mentos de fundo e, sobretudo, a mancha habitual dos processos de decomposigio e erosio diferen- ciais, que se fazem atuar no feixe heterogéneo de rochas epimetamérficas cristalofilianas (quartzitos, filitos, anfiboloxistos ¢ calcarios metamérficos, além de conglomerados metamérficos). ‘A. expressio.plataforma, entendida como larga margem rigida ¢ rebaixada de uma faixa ge- ossinelinal, foi introduzida entre nés através dos notaveis cursos ministrados por Kenneth E. Caster, no Departamento de Geologia e Paleontologia da antiga Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras da Universidade de Sao Paulo. Na origem (1945-46), entendia-se por plataforma em Geologia os bordos baixos ou rebaixados de uma bacia geossinclinal, por oposigao as ald land, consideradas ativas areas- fonte de erosio, situadas na outra banda de uma faixa de subsidéncia acelerada, caracteristica das geossinclinais, as de rochas cristalinas Em um estudo recente sobre a geologia da regio norte brasileira, Bezerra (1991) incluiu um, tratamento conceitual das expresses plataforma € craton, que merece maior divulgasio, Assim se exprime o autor: ‘A Plataforma Sul-Americana é constitufda de um embasamento formado por rochas metaméricas, sedi- mentares ¢ igneas de idades axqueana € proterozoiea ¢ por coberturas sedimentares de idade fanerozoica. En- sloba vitios elementos tectdnicos de menor ordem onde se inchiem os cratons as faixas de dobramento e as bacias intracratonicas. Os exitons sio regides da crosta terrestre que foram antigas plataformas, quando havia uma faixa de dobramentos ou um geossinelinal ativo em suas bordas. Passaram a condigio de ordéons apés a estabilizagio da faixa de dobramentos ou do iltimo ciclo orogénico que 2 atingia, fato que no Brasil é representado pelo Ciclo Brasiliano, Neste contexto,cnton e plataforma sio entidades semelhantes, posto que atmbas sio limitadas por faixas de dobramentos. A diferenga ¢ que na plataforma a fuixa de obramentos encontra-se em atividade e assim seu em- basamento participa na deformagio; enquanto nos cri ‘ons, 2 faixa de dobramento © 0 respectivo embasamento ji se encontram estabilizados ¢ ambos edificam uma nova plataforma, somente susceptivel de individualizagio através de estudos Bacias intracratonicas so depresses no embasa- mento dos erdfons que foram preenchidas por diversos tipos de sedimentos ¢ material magmitico. Podem formados por subsidéncia da crosta ou por processos de falhamentos em blocos, constituindo os grabens. Ap6s a introdugio do termo plataforma bra: sileira por Almeida (1967), houve a tendéncia para projetar o conceito, a fim de abranger todas as éreas de escudos do continente, sob a designagao de pla- taforma sul-americana (Schobbenhaus e Campos, 1984). Ao utilizar esta expresso tio abrangente define-se apenas 0 embasamento total, sob o qual anicharam as grandes coberturas sedimentares das bacias intracratonicas, independentemente dos tipos de deformagées pré ou pés-creticeas so fridas pelos escudos (arqueamentos de grande raio de curvaturas, dorsais, abdbadas ou macrodomos, 3 rift-valleys, montanhas de blocos falhados). Para a megageomorfologia brasileira interessa mais o comportamento geotecténico moderno dos es- cudos do que a simples referéncia 20 espaco total raso dos embasamentos. Na medida em que as teorias sobre as jungdes antigas dos diferentes blocos do continente de Gon- dwana passam para um nivel de certeza cada ver maior, pode-se falar em plataforma afro-brasileira Tal ampliagio de paleoespagos de embasamentos pré-cambrianos tem muito a vez com a histéria ¢ os eixos de penetragio das bacias intracraténicas bra- sileiras, iniciadas por transgressdes de mares rasos provenientes do oeste (Pacifico), uma vez que os Andes sé vieram a se constituir como grande e nova barreira nos fins do Terciario. Nao se pode visualizar os paleoespasos da América do Sul centro-oriental sem se levar em conta a macrocompartimentagio da borda ocidental da plataforma afro-brasileira. O contorno dos espagos de velhas terras emersas em. relagio a0s corredores “mediterrineos” e as bacias sedimentares, diversas vezes invadidas por mares rasos ¢ grandes sistemas lagunares (Devoniano ¢ Permiano), indica um complicado festonamento de riicleos de escudo e depressdes marinhas, que fun- cionaram no Paleozoico. 3. REPERCUSSAO GEOMORFOLOGICA DOS DOBRAMENTOS DE FUNDO As repercussdes dos dobramentos pré-cre- téceos © pds-cretéceos, sobre a macrocomparti mentagio da plataforma brasileira e sul-americana, tém sido um t6pico negligenciado, ou até omitido, tanto nas obras de sintese quanto nos estudos de detalhamento regional sobre a geologia do Brasil O ensaio pioneito fundamental sobre 0 assunto foi realizado por Ruellan (1952) em trabalho in- titulado: “O Escudo Brasileiro ¢ os dobramentos de fundo”. Através desse estudo, Ruellan assentou as bases para compreensio dos arqueamentos de grande raio de curvatura e de outros de cariter mais regionais restritos espacialmente. Na bi- bliografia anterior existiam apenas referéncias, um tanto vagas, sobre arcos regionais, nomenclatura que depois viria criar muitas confusées pela sua aplicacao genérica a situagdes muito diversas, Por seu lado, Almeida (1964) em um excelente trabalho de sintese sobre “Os fundamentos geolé- gicos” do territério brasileiro referiu-se aos dobra mentos de fndo, no seguinte trecho do seu ensaio, a0 comentar a posigio do Brasil no quadro geotecténico sul-americano, 4 A leste, ocupando cerca da metade de sua superficie total estende-se vasta rea cratonica ~ Brasiia-Guiana ~ de cuja estrutura participam, sobretudo, rochas pré-cam brianas. Sobre ela se alojam grandes bacias sedimentares paleozoicas e mesozoicas de reduzido tectonismo, E zea que desde o Siluriano se tem mostrado tec~ tonicamente calina reagindo as agées dsteéficas através de manifestagbes de cariter epirogéncio e de deforma- s6es locais por abaulamentos pli de fond e falhamentos de gravidade Os principais modelos de deformasio ma- crorregionaisexibidos pelo Escudo Brasileiro, dotados de forte participagio na histéria paleo- hidrogrifica do Planalto Brasileiro, cingem-se a arqueamentos de grande raio de curvatura dorsais, relacionadas ao ressalientamento de velhas cordi- Iheiras (Espinhaso) ¢ abébadas regionais de tipo macrodémico complementadas por falhas em al- gumas de suas bordas. A saber: Macigo da Borborema; nicleo uruguaio-sul- rio-grandense do Escudo Brasileiro; abobada es vaziada do Pantanal Mato Grossense, sujeita a re- cheio sedimentar em fossa tecténica pés-pediplano cuiabano; ¢ abébada de Curitiba, semiesvaziada ¢ sede recente da Bacia de Curitiba, conhecida na bibliografia pelo nome de arco de Ponta Grossa. possivel que tenha ocorrido uma deformagio ma- crodémica em Roraima, posteriormente fragmen- tada e substituida pela fossa de Tacutu, sujeita a diversas fases de intrusdes ¢ vuleanismo. Dois sio os eixos principais de dorsais nor- te-sul correntes do Escudo Brasileiro: a dorsal do Espinhago ¢ a dorsal transversa que se estende desde 0 planalto do Alto Rio Grande (MG), passa pela Serra da Canastra, atinge o altiplano de Brasilia e termina por soerguer pacotes sedimen- tares do Devoniano ¢ Cretéceo de Mato Grosso ¢ Rondénia (Chapada dos Guimaries-Serra Azul ¢ Chapada dos Parecis). A primeira dessas alongadas dorsais é montanhosa e relativamente homogénea, desde Minas Gerais até 0 centro-norte da Bahia A segunda é dominantemente altiplandltica e ge- ologicamente heterogénea, pelo fato de afetar ter- renos cristalinos ¢ setores de bacias sedimentares soerguidas. Nenhum nome mais adequado existiria para a dorsal continental do Espinhago, do que a pré- pria designagao que o povo Ihe deu: Espinhago. As imagens de satélites, em falsa cor, hoje existentes, permitem avaliar a realidade geomorfoldgica dessa paleocordilheira, aplainada entre 0 Creticeo ¢ © Eoceno e reentalhada a0 estimulo do soergui- mento pés-creticico, no decorrer do Cenozoico (paleogeno ¢ neogeno). A Serra do Espinhaso, durante 0 Cretéceo Superior, servia de barreira topogrifica para toda uma alongada bacia sedimentar arenitica que se ¢s~ tendia pelo vio formado entre ela propria ¢ o alti plano de Brasilia. A esse tempo, segundo tudo leva a crer, 0 pacote sedimentar restrito aos chapaddes ocidentais da Bahia e Noroeste de Minas Gerais era mais largo e muito mais extenso, projetando-se até a bacia creticica do Maranhio, na contraen costa ocidental das escarpas devonianas do Piaui A depressio periférica talhada entre o Espinhaso ¢ 0s chapadées do Urucuia encarcerou o curso geral do Sio Francisco, por longo tempo, nos principios do Terciétio, até que 0 ativo macrodomo cristalino da Borborema abrigasse 0 “Velho Chico” a suces- sivos desvios para leste,atingindo sua posigio atual desde o cotovelo de Juazeiro-Petrolina até seu de- semboque no mar. 4. PALEOABOBADA DO ESCUDO BRASILEIRO TRANSFORMADA EM. MONTANHAS DE BLOCOS FALHADOS ‘Alem desses casos mais flagrantes de defor- mages macrodémicas, que envergaram regional- mente o Escudo Brasileiro, existem duas ou trés reas que merecem consideragées a parte. A maior ¢ mais persistente deformagio cm absbada do Escudo € certamente aquela que ocorre nos ter- renos cristalinos do Brasil de Sudeste. Trata-se de um megadomo cristalino, de presenga muito an- tiga, sujeito a diferentes fases de reativacio, a par com complicagées paleo-hidrograficas, devido as interferéncias da tectonica quebrivel, a partir dos meados do Terciario. A area atingida por esse gi- gantesco arqueamento radial envolve os terrenos cristalinos do Brasil de Sudeste, desde o planalto do alto rio Grande, o altiplano da Mantiqueira, © Quadrilatero Central Ferrifero, o planalto da Bocaina ¢ a atual area de serranias do alto vale do Paraiba, alto Tieté ¢ Jundiai-Sio Roque. A exagerada exaltagio dessa paleoabdbada, de onde nascem drenagens para todos os quadrantes (ca~ beceiras do rio Sao Francisco, drenagem da Man- tiqueira Ocidental, alto Paratba, alto Ticté, alto rio Grande, drenagens do Paraiba mineiro-fluminense e.alto vale do rio Doce), redundou na atuagao de uma tecténica quebrivel radical, responsivel pelo rift-valley do médio Paraiba ¢ suas projesies tec- ténicas na Bacia de So Paulo. A uma certa altura do periodo neogénico ocorreu uma captura de um brago antigo do paleo-Tieté, para a fossa do Paraiba, onde se acumularam sedimentos perten- centes a duas formagées geol6gicas Nio sendo possivel visualizar as feigdes dos paleoespagos das formagdes devonianas, as quais sofreram fortes retalhamentos erosivos entre 0 De- voniano Superior ¢ 0 Carbonifero Médio, pode-se garantir que 0 megadomo do Brasil de Sudeste teve continuada atuasio, a diferentes niveis tec- tonicos, desde o Carbonifero Superior até nossos dias, Pode-se inferir, ainda, que essa velha absbada, em conjugagdo com o restante corpo espacial da dorsal da Canastra ¢, a0 sul, pelo domo cristalino de Curitiba e, a oeste, com 0 domo hoje esvaziado do Alto Paraguai (Pantanal), colaborou para criar © teatro de sedimentagio da Formagio Bauru, em uma fase pés-derrames basilticos ¢ pés-fragmen- tag da arcaica plataforma afro-brasileira Enquanto na plataforma continental atlin- tica do Brasil estabeleciam-se fossas tecténicas ¢ espessos pacotes transgressivos de formagées ma- rinhas, acumulavam-se sedimentos fluviais ¢ flu- violacustres, em uma larga depressio central ter minal da bacia paleomesozoica do Parand (Bacia do Bauru). Registre-se, porém, que a separagio do Brasil em relagio a Africa, pela intervencao da tec- tonica de placas, tornon possivel o surgimento do Atlantico Sul, fator de forte amenizagio climatica e ruptura radical em relagio ao clima desértico que presidiu a sedimentagio do Botucatu. (Ab'Séber, 1950 ¢ 1951). Outta regitio do Escudo Brasileiro de histéria fisiogrifica e geomorfolégica complexa foi a paleo- abébada, onde hoje se localizam os rebaixados ser- tes do Ceara, Preocupados sempre em explicar a génese do Planalto da Borborema, o qual foi gerado por um “bombeamento” regional em algum periodo do Terciario, permanece em certo esquecimento 0 comportamento geotecténico ¢ denudacional do setor cearense do Escudo, No Devoniano, ainda Vinculada a plataforma afro-brasileira, a regido es teve sujeita a transgressGes marinhas procedentes de oeste ¢ noroeste, provavelmente em uma vasta enseada projetada a partir da faixa paleozoica da Amazénia Oriental. Na época, boa parte do Ceara ocidental serviu de plataforma-embasamento para a sedimentagio marinha devoniana. Pela posisio da base das formagoes sedimentares, que se as- sentam em um legitimo paleoplano na meia-serra das escarpas do Ibiapaba, pode-se inferir que, na 5 época, os macigos antigos regionais estendiam-se para leste, sudeste, nordeste e norte, em uma abé- bada rasa que poderia ser designada pelo nome de paleo-Borborema, O setor cearense da plataforma afro-brasileira era muito mais amplo do que sua sucessora atual, migrada para leste ~ a Borborema (Pernambuco, Paraiba ¢ Rio Grande do Norte). A desnudagio marginal, forsada pelo soerguimento mesocreticeo, fer recuar as escarpas devonianas para oeste, esbogando o atual relevo de cuestas da porsio ocidental da Bacia do Parnaiba (sistema Serra Grande do Ibiapaba). No Creticeo Supe rior, a plataforma cearense foi exondada, evertida ¢ tectonizada, servindo para a extensio irregular de coberturas marinhas (Apodi) ow lacustres (Ara- ripe), logo que 0 Atlantico Sul, recém-formado, estabeleceu-se entre a Africa ¢ 0 Brasil. Foi a esse tempo, também, que a fachada atlintica do Nor- deste Brasileiro recebeu um complicado sistema de falhamentos e flexuras, responsivel pelas fossas tecténicas de uma geragio que permeia toda a pla- taforma continental e parte da retroterra costeira, A rigor, o sistema de grabens, rift-valleys ¢ pacotes marinhos transgressivos do Creticeo e Mioceno estende-se desde Marajé até as bacias de Santos ¢ Pelotas, envolvendo no Grande Nordeste a bacia de Sio Luiz, guar e bacia de Alagoas-Sergipe, ¢ a bacia do Re céneavo. As porgées mais soerguidas dessas bacias sedimentares, sincopadas entre si, foram as bacias sedimentares costeiras Potiguar (Rio Grande do Norte-Ceara) ¢ terrenos da fossa do Recéncavo, Depois da formagio da abébada tercidria que re- modelou toda a geomorfologia regional, os dife- rentes pacotes de rochas sedimentares cretacicas ficaram na condigio de um irregular e descontinuo sistema de cuestas semiconcéntricas de front in- terno: Araripe voltado para leste, chapada de Sio José/Buique voltada para o norte, Apodi voltada para o sul; e escarpas baixa e mal definidas eret- cias (Sergipe) ¢ pliocénicas (Paraiba), voltadas para este. Sem falar das altas escarpas de cuestas suces- sivas do Piaui, todas elas de frente voltadas para leste, para além do grande espago sujeito a eversio da paleoabébada Ceard ou paleo-Borborema. fossa de Barreirinhas, a Bacia Poti- 5. SUPERFICIES DE APLAINAMENTO. Na visualizacéo megageomorfoldgica de um territério tio vasto quanto o brasileiro € neces sirio rever a problemitica das velhas ¢ modernas superficies de aplainamento, Trata-se de uma area da geomorfologia clssica — de raizes davisianas — 6 inteiramente revista e fortalecida conceitualmente durante a segunda metade do século XX, por meio da introdugao dos conceitos de pediplano e eckta- plano, e através de uma nova percepsio da forga ¢ potencialidade dos processos erosivos por ocasiio de mudangas climéticas de paisagens ¢ ambientes timidos para ambientes secos. O correto uso dos conceitos de biostasia e resistasia ~ engendrados pelo pedélogo Henri Erhart (1966) — tornou pos- sivel captar a potencialidade dos processos erosivos e desnudacionais que incidem sobre mosaicos de geossistemas, ao sabor de mudangas climaticas € ecolégicas radicais. (Os estudos sobre testemunhos de aplaina~ mentos antigos iniciou-se com a divulgasio de Harder ¢ Chamberlin (1915) sobre uma superficie aplainada detectada nos altos da Serra do Espi- nhaco (1.700 a 1.800 metros de altitude). Preston James (1933) ¢ Chester Washburne (1935) cola- boraram para a identificag4o de uma superficie de aplainamento interplaniltica no interior da de- pressio periférica paulista. Mas foi certamente De Martonne (1940, 1943 ¢ 1944) quem estabeleceu 0 esquema das superficies aplainadas habitualmente existentes desde os macigos antigos até as depres- soes periféricas ¢ planaltos interiores do Brasil Em um s6 trabalho, o grande mestre detectou a superficie dos altos campos (Bocaina e reverso da ‘Mantiqueira), a das Cristas Médias (mudada para superficie do Japi, por Almeida), e a neogénica (desdobrada por Ab'Saber, para superficie de In- daiatuba ¢ superficie de Rio Claro). Coube, ainda, a De Martone (1940) identificar uma superficie fossil pré-Carbonifero Superior, em processo de exumagdo na margem oriental da depressio peri férica paulista. Caster (1947), posteriormente, re- gistrou trechos exumados de uma superficie pré- devoniana em seus estudos sobre terrenos dessa dade, nas margens da Chapada dos Guimaraes € da Serrinha (PR), Freiras (1951) elaborow um en- saio de maior valor teérico sobre “os relevos poli- ciclicos na tecténica do Escudo Brasileiro”, ensaio que deu oportunidade do ingresso de Fernando de Almeida no campo dos estudos sobre superficies aplainadas, por meio de um comentirio substancial a propésito dos relevos policéclicos na tecténica do Escudo Brasileiro (1951). Por volta dos meados da década de 50 intensificaram-se os estudos sobre testemunhos de aplainamentos antigos no Planalto Brasileiro, tendo de se destacar uma contribuigao importante, porém desligada da bibliografia prévia, levada a intento por Lester King (1956), sob 0 ti- tulo ded Geomorfologia do Brasil Oriental. Pouco antes ¢ logo apés Congresso Interna- cional da Unio Geografica Internacional (Rio de Janeiro, 1956), intensificaram-se os estudos sobre velhos € modernos aplainamentos ~ de cimeira ou interplanilticos ~ do Planalto Brasileiro, gragas a pesquisas conduzidas por Ruellan (1950), Almeida (1951), Ab'Saber (1955 ¢ 1964), Feio (1954), An drade (1958), Tricart (1957 1959), Dresch (1957 ¢ 1959) e Barbosa (1959), entre outras contribui- gies Nossos proprios trabalhos sobre a génese das depressoes periféricas no Brasil, iniciada com uma visio megageomorfoldgica no ensaio “Regides de circundesnudasio pés-cretécea no Planalto Brasi- leizo” (1949), foram inspirados na leitura atenta dos primeiros estudos geolégicos regionais de Rego (1932 ¢ 1941), logo seguidas pelo genial trabalho de De Martonne (1940, 1943 e 1944) sobre os pro- blemas geomorfolégicos fundamentais do Brasil de Sudeste, No que concerne 4 circundesnudasio, nossa contribuigio derivou de longas viagens pelo interior do pais ¢ pelas referéncias morfoestru- turais preexistentes sobre a Bacia de Paris, assim como pelo mapa geomorfoldgico sintético de Von Engeln (1942), incluido em seu excelente livro, pu- blicado nos Estados Unidos (Geomorphology Syste- matic and Regional) Rego (1932 ¢ 1936) fez transectos repre sentativos entre os terrenos antigos do Escudo Brasileiro ¢ os planaltos interiores, interessando 4 geomorfologia do Estado de Sio Paulo ¢ a do interior baiano. Identificou, geomorfologicamente, a depressio periférica paulista, disposta sob a forma de um segundo planalto, na borda nordeste da Bacia do Parana. Logo depois, em um ensaio geogrifico sobre o vale do Sao Francisco (1936), realizou um transecto entre o Espinhago e os cha- padées do Urucuia, contribuindo para caracterizar a depressio periférica do médio Sio Francisco, ocupado pelo alongado rio do mesmo nome. Seu discipulo mais ilustre e preparado, Almeida (1949), deu continuidade aos estudos geomorfol6gicos es- truturais, publicando um ensaio sobre o “Relevo de Cuestas, na bacia sedimentar do rio Parana”, dis cutindo ainda o trabalho de Freitas (1951), sobre relevos policiclicos no Brasil e, logo depois, divul- gando um estudo sobre “O planalto basiltico da Bacia do Parans” (1956) e a “Geologia do Centro- Leste Mato-Grossense” (1954). Caberia a Almeida (1964), em uma notivel contribuigdo para a obra coletiva, dirigida por Azevedo (O Brasil. A Terra ¢ 2 Homem), escrever um ensaio metédico sobre “Os Fundamentos Geolégicos” do Brasil, que se cons tituiu em um repositério, a um tempo sintético € analitico, para a megageomorfologia do territério brasileiro. De nossa parte, apés o ensaio sobre circun- desnudagio, em diferentes bacias soerguidas do pats, revimos os “Problemas paleogeogrificos do Brasil de Sudeste” (1955); “O planalto da Borbo- rema na Paraiba” (1953); “A Geomorfologia do Estado de Sao Paulo” (1954); “As altas superficies de aplainamento do Brasil de Sudeste” (1954); “A Bacia do Parané-Uruguai: estudo de geomor- fologia aplicada” (1955); “Depressoes petiféricas e depressées semiéridas no Nordeste Brasileiro” (1956); uma contribuigéo & geomorfologia do Su- doeste Goiano (1950), em colaboragéo com Mi- guel Costa; c, mais tarde, uma tese comparativa entre o Nordeste ¢ 0 Rio Grande do Sul, sob 0 titulo abrangente de “Participagao das depre periféricas € superficies aplainadas na comparti mentagao do Planalto Brasileiro” (1965). Em 1964 foi divulgado um longo estudo sobre “O relevo brasileiro e seus problemas”, no livro dirigido por Aroldo de Azevedo ~ 0 Brasil. A Terra ¢ 0 Homem — onde foi intentada uma megageomorfologia do pais, dentro dos limites dos conhecimentos ¢ da literatura especializada, acumulados até a metade do século, $6 muito recentemente conseguimos pesquisar na regido de Roraima com vistas ao en tendimento das caracteristicas da macroabébada esvaziada da regido, a histéria e a posigio geo- morfolégica da Fossa de Tacutu ¢ a ligeira eversio ocorrida na margem norte da Formagao Alter do Chao-Solimées, que tornou possivel a instalagio da Bacia de Boa Vista, no Pleistoceno Inferior. A contribuigéo principal desses trabalhos di- rigiu-se para a caracterizacao das superficies aplai- nadas do Terciario Inferior, agrupadas sob a desig- nagdo de séries de aplainamentos, hoje soerguidas ¢ colocadas no topo de macigos antigos e reverso de escarpas de cuestas de planaltos interiores. E, a0 ‘mesmo tempo, caracterizar a posigdo da outta série de superficies aplainadas do Terciario Superior, existentes em depress6es interplanilticas, geradas na segunda metade do Terciério, por circundesnu- dasio ou anastomose de pediplanos regionais. A série dos aplainamentos de cimeira (surfaces som- mitales) € testemunhada nas terras altas do Brasil de Sudeste, Brasil Oriental, Brasil Centeal e alti- planos basilticos ou arenitico-basilticos, por des- dobramentos ou tresdobramentos, selacionados aos ressaltos da epirogénese pés-creticea (epiro- genese par sacadé). Enquanto a série de superfi- cies interplandlticas e intermontanas, elaboradas 7 apés a principal fase de soerguimento do Escudo — responsivel pelas depresses periféricas ¢ seus prolongamentos ~ foram geradas no interespago situado entre macigos antigos e cuesfas ou bordo de chapadas interiores, exibindo um desdobramento de baixa amplitude topografica: superficie antiga da Campanha Gaticha, face a superficie moderna da Campanha; superficie de Indaiatuba face a su- perficie de Rio Claro; superficie Sertaneja Velha, face & Sertaneja Moderna; superficie centro-sul da Roraima, face & superficie de Boa Vista. Em pelo menos dois desses casos ocorrem pequenas © raras bacias detriticas pliopleistocénicas em setores res tritos das depresses interplanalticas, de retomada mais recente: exemplos na Bacia de Rio Claro (SP) ena Bacia de Boa Vista (RR). Cumpre lembrar que depois do desdobramento das aplainagées ne- ogénicas, ocorreram incisdes de vales pleistocénicos € holocénicos, um pouco por toda parte, os quais criaram nas suas vertentes sequéncias escalonadas de pedimentos, sérath terraces e baixos terragos flu- viais, abaixo dos quais embutiram-se planicies alu- viais em alvéolos ou em calhas, marcadas por forte meandrasio. Um levantamento epirogénico irre- gular, porém muito amplo, respondeu inicialmente pela elaboragio desses niveis de erosio embutidos nas vertentes de grandes ou médios © pequenos vales. Por fim, na zona costeira e nas terras baixas da Amazénia Oriental, sobretudo, ocorreram in- flugncias glacioeustiticas, devido as oscilagies so- fridas pelo nivel dos mares durante o Pleistoceno € 0 Holoceno, Estudos fundamentais sobre as flu- tuagdes paleoclimaticas, hidrolégicas ¢ ecolégicas, softidas pelo territério inter e subtropical brasi- Ieiros, tém tido um desenvolvimento muito avan- gado no Brasil, gragas & consolidagio da Teoria dos Redutos Florestais e Refiigios de Fauna, levados a efeito por diversos pesquisadores (Ab’Saber, 1964, 1977, 1982, 1984; Vanzolini, 1970 e 1973; Biga- rella, 1982 ¢ 1995; ¢ Brown, Ab’Saber, 1979), 6. SUPERFICIES DE APLAINAMENTO NOS DOIS BORDOS DO ATLANTICO: A CONTRIBUICAO DE FRANCIS RUELLAN E DE REINHARD MAACK, Um destaque especial no progresso dos es tudos sobre superficies aplainadas e niveis de erosio costeiros deve ser atribuido a Ruellan (1956). En- frentando a frieva dos colegas gedgrafos de paises do hemisfério norte, onde o estudo de velhas superficies aplainadas nao possuia a mesma impor~ tancia do que o Brasil e a Africa, Ruellan (1956) g conseguiut incluir entre os grupos de trabalho da U.G.I. uma Comissio para 0 estudo e correlagio dos niveis de crosio ¢ das superficies de aplaina- mento em torno do Atlintico. A aceitasio para a instalagao dessa Comissio foi alicersada no inte- resse despertado em alguns geomorfélogos pela palestra-sintese de Ruellan no Congresso Inter nacional de Geografia (UGI - Lisboa), em 1950, sob o titulo de Les surfaces dérosion de la région sud oriental du Plateau central brésilien, Em 1986, final- mente, Ruellan e seus colaboradores apresentaram, 6s ensaios revisivos sobre aplainamentos ¢ niveis de erosio na Africa ¢ Brasil, incluindo um capi- tulo final de conclusses pelo proprio organizador e diretor do projeto. Trata-se da mais séria e ampla empreitada cientifica para esclarecimento das ques tes referentes a superficies aplainadas e niveis de erosio, ocortentes no Escudo Brasileiro e fachada atlantica do pais. Sendo de se notar que houve muitos acréscimos € modificasdes posteriores em relasio aos niveis de erosio costeiros, em fungio de pesquisas posteriores realizadas por Birot (1957), ‘Tricart (1957 © 1959), Bigarella, Marques Filho, Ab’Saber, Salamuni (1957, 1958 © 1959). Maack (1947 ¢ 1953), grande estudioso da geografia fisica ¢ fitogeografia do Parané ¢ Santa Catarina, abriu espago para uma discussio interes- sante a0 tever especulagées sobre a possibilidade de terem existido altas superficies aplainadas, ge- radas em tempos geolégicos em que o Brasil e a Africa ainda estivessem ligados. Conhecendo bem a metade Sul da Africa e a porsio meridional do Brasil, em termos geogrificos ¢ geomorfolégicos, Maack tinha todo o direito de especular sobre 0 problema. Na época era considerado herético ¢ ignorante quem apoiasse, ainda que de leve, a te- oria da separagio dos continentes. Criticava-se Wegener, omitia-se a contribuisio de Alexander Du Toit (1927), e se tentava desprezar as prefe- réncias de Reinhard Maack. ‘Tudo se modificou cultural e cientificamente quando se descobri as mudancas sofridas pela posigao dos polos magné- ticos, a época dos grandes derrames basilticos do Triissico-Creticeo Inferior, do Brasil © Sul da Africa. Para consolidar a teoria da fragmentago do continente Gondwana foi de importincia essen- cial a vinda 20 nosso pais do pesquisador britanico Crees. Mas as resisténcias as teorias sobre deriva dos continentes ¢ génese do Atlantico somente re- cuaram quando da introdugao dos conhecimentos sobre a tecténica de placas, em fins da década de 1970. Por fim, a trama da tecténica quebrivel na fachada atlantica e na plataforma continental bra sileira foi suficiente para transformar a velha teoria, tao bem defendida por Wegener (1937), em uma quase certeza. Os estudos de megagcomorfologia, or sua vez, acrescentam novos argumentos a favor da existéncia da velha plataforma afro-brasileira ¢ australo-indo-malgaxe, fragmentada no Cretiiceo Inferior. ‘A despeito do direito de propor hipéteses, como foi o caso de Maack, convém registrar que nenhuma das superficies de cimeira atualmente observaveis nas terras altas do Brasil pode ser con- siderada como de elaboraso 20 tempo da jungio geoldgica Brasil-Africa. Quando da separacao das placas continentais, a plataforma brasileira deveria estar em nivel tectdnico relativamente baixo, sem que entretanto possuisse a uniformidade geomor- folégica pressuposta em trabalhos anteriores. Os processos erosivos, que alimentaram a Formacio Bauru ¢ as areas de extravasamento sedimentar diretamente para terrenos aplainados pré brianos, reduziram as massas originais dos velhos plainos afro-brasileiros. Enquanto, por sew turno, os sucessivos soerguimentos epirogénicos sofridos pelas mais antigas abobadas do Escudo, sob a in- fluéncia desgastante de muitas futuagées clim: ticas, contribuiram para rebaixamentos erosivos das superficies aplainadas pré-creticicas, que por ventura possam ter existido, Os niveis aplainados remanescentes nas cumeadas dos altiplanos exista- linos (Mantiqueira, Bocaina, Espinhago), quando muito sio referéncias, parcialmente rebaixados de plainos de erosio herdados dos fins do Creticeo ¢ inicio do Terciario (paleoceno/eoceno) © exame ainda que ripido da megageo- morfologia de uma expressiva cristalinos e bacias intercraténicas, pertencentes em grande parte a um arcaico supercontinente pré-creticico, quando as aguas do Pacifico pene- ‘travam eventualmente pelo mediterrineo amaz nico, Bacia do Paraiba e areas da Bacia do Parand, possibilita uma meditagéo indutora sobre alguns dos grandes problemas da histéria geolégica do continente, prolongada pela histéria geomorfo- légica pés-cretacica. Na histéria geolégica seria difieil compreender, por exemplo, caso houvesse imobilismo das placas continentais, de onde teriam provindo as geleiras ¢ os materiais detriticos co! tinentais que se depositaram na Bacia do Parana Mais dificil, ainda, compreender porque os eixos de embaciamento e deposisio sedimentar indicam pe- netragbes de mares rasos devonianos provenientes da outra banda do continente de Gondwana, ou s¢ja, de mares provenientes do Pacifico. cam- rea de escudos Os estudos de megageomorfologia con- duzem forgosamente os pesquisadores interessados no relevo brasileiro a um desafio subsequente re- lacionado a uma classificas’o geomorfoldgica do territério. Tem sido dificil separar os objetivos de uma classificagio didética para uso de alunos do 1° € 2° graus, ¢ uma classificagio mais detalhada de cariter plenamente cientifico, Mais dificil ainda a tarefa de separar linguagens topograficas populares em face de uma correta linguagem cientifico-geo- morfolégica. Mesmo assim, foram realizadas duas, experiéncias de classificagdes adaptadas sobretudo a0 ensino pré-universitario ¢ universitario bisico (Ross, 1985 e IBGE, 1993). Em fungao da grande contribuigéo documentaria do Projeto RADAM, logo acrescido de um estoque de imagens de saté lites, de inigualivel valor, pode-se prever classifi- cages cientificas mais detalhadas e aprofundadas, fato porém que as distanciara mais ainda de uma aplicabilidade didética. Foi mais facil realizar um mapa sintético dos dominios morfoclimiticos ¢ fitogeogrificos do Brasil do que setorizar a extra- ordinaria compartimentasio topografico-geomor- foldgica do pais, Uma recuperagio mais integrada do Projeto RADAM, o uso sistemitico e seletivo das imagens de satélites, um respeito honesto e permanente aos informes geomorfolégicos existentes em trabalhos regionais — a par com um olhar atento para as es- calas da megageomorfologia - poderio determinar aperfeigoamentos progressivos na ciéncia-arte de realizar experiéncias tipol6gicas ou classificatorias no interior da alta interdisciplinaridade da Geo- morfologia. 7. CONCLUSOES Uma tevisio do edificio territorial do Brasil, a0 nivel megageomorfoldgico, permite listar fatos ¢ processos basicos para a histéria geotecténica, de- nudacional e paleoclimitica do pais. A saber: ‘A plataforma brasileira, composta de rochas granitizadas ou metamorfizadas em feixes de ve- Ihissimos dobramentos ¢ incluindo vastas bacias intracraténicas, formadas entre 0 Devoniano In- ferior e 0 Cretaceo Inferior, eram partes de um gigantesco continuo geolégico, reconhecido pela classica expresso “Continente de Gondwana”, Até 0 Creticeo Inferior todo o pais esteve voltado para uma fachada pacifica, somente ob- tendo sua fachada atlintica, tectonicamente com plexa, a partir de meados do Cretéceo para 0 Cre- téceo Superior. Com a fragmentagio do continente de Gon- dwana e, mais tarde, nos fins do Terciario, com 0 soerguimento da barreira ocidental constituida pela Cordilheira Andina, toda a drenagem antiga tributiria da fachada pacifica teve que se inverter, por mecanismos complexos, para a fachada atlin- tica. Cada setor das redes hidrogrificas instaladas apés o Creticeo Superior teve problemas especi ficos para encontrar caminhos para o Atlintico Fato que torna particularmente rica e complexa a interpretasio paleo-hidrografica do territério brasileiro: do Amazonas, do Parané-Paraguai, do Sao Francisco ¢ das bacias isoladas do Nordeste, Leste, Sudeste ¢ Sul do Brasil. Ocorreram desvios de cursos d’égua para Leste e capturas de setores hidrogriicos para depresses tecténicas ‘Na histéria da fragmentagdo megatecténica do continente afro-brasileiro, tém importincia os grandes derrames de lavas basdlticas que, através de raizes de efusio situadas abaixo dos embasamentos das bacias intracraténicas, atingiram o topo das fxeas de sedimentagio, escorrendo por grandes es- pagos de areais. Os sucessivos derrames, interca~ lados com pacotes de dunas extensas, documentam que aos processos climaticos de grande aridez, da Formagio Botucatu acrescentaram-se_produtos de um vuleanismo macigo, vineulado ao inicio da tectdnica de placas que deu origem a separagio de Afro-Brasilia, Desde os derrames iniciais até os iiltimos houve transformagées geoquimicas radi- cais, fato observavel no gigantesco tampio de lavas, do Rio Grande do Sul. Quando 0 bolsio magmé- tico subsialico arrefeceu suas atividades, restaram pequenos bolsées espagados entre si, que respon- deram pela formagio de edificios vuleinicos do tados de rochas sieniticas, responsaveis pelos ring dygues do Itatiaia, Pogos de Caldas e setores da Ilha de Sio Sebastiao: éreas de exceso no meio das ser- ranias do Brasil de Sudeste. Houwve uma dualidade opésita marcante entre a sedimentagao cretacea terminal, acontecida no dorso da plataforma brasileira, ¢ os espessos depésitos acumulados nas fossas tectOnicas da chada Atlintica brasileira. Enquanto os depésitos mesozoicos continentais eram exclusivamente la~ custres, fluviais e fluviolacustres, os sedimentos das bacias tecténicas da plataforma continental eram predominantemente marinhos ou semimarinhos, torando possivel a gerasio de formagées oleiginas (Bacia de Campos, Recéncavo, Alagoas-Sergipe, Bacia Potiguar ¢ Bacia de Santos). Muito embora os sedimentos dessas bacias estejam predominan- temente recobertos por espessas aguas marinhas, 10 algumas delas ou parte delas apresentam-se como estruturas transgressivas na retroterra das regides costeiras de alguns Estados, O protétipo de tais estruturas homoclinais subliterineas é a regio do baixo platé, designado chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte, com suas pequenas escarpas de cuestas, voltadas para o interior. No momento terminal da separasio entre Africa e Brasil a plataforma brasileira estava em nivel tecténico mais baixo do que o atual (Freitas, 1951). Mas certamente haviam setores abaulados nos terrenos cristalinos interpostos entre as ba- cias sujeitas a subsidéncia residual, 20 fim do Cre- taceo. Estas bacias sedimentares que fecharam os episédios deposicionais no Escudo Brasileiro localizaram-se parcialmente sobre setores das grandes bacias paleomesozoicas ou se estenderam por areas de extravasamento em porgées depri- midas da plataforma brasileira. O paradigma das formagées creticeas residuais sobre velhas bacias devono-tridssicas ¢ a Formasio Bauru, No que tange as bacias cretacicas hoje dispostas em forma de mesas ¢ chapadées limitados, distanciadas entre si, ¢ sotopostas diretamente sobre terrenos crista- linos ou cristalofilianos do embasamento, existem modelos muito diversos. Destaca-se, no caso, a grande mesa dos sertées nordestinos (Araripe); © planalto dos Parecis; 0 baixo plato do Raso da Catarina; a Serra do Roncador; os chapadées do Noroeste de Minas e Oeste da Bahia; e as chapadas florestadas do Sudoeste ¢ Centro do Maranhio, que se estendem até o Sudeste do Para. ‘As principais depresses periféricas, exis- tentes no entorno ou margens de bacias sedimen- tares soerguidas no territério brasileiro, foram escavadas na primeira metade da era Terciaia (P: leogeno). O incentivo principal para ativar os pro~ cessos de desnudagio marginal, incluindo sistemas de circundesnudasio, foi a fase de soerguimento epirogenético pés-cretécea e pré-pliocénica, ao té mino da qual restaram vastas areas de aplainagées interplanilticas, nas mais diversas regides do terri- t6rio brasileiro, tendo como protétipos a depressio periférica paulista, as depressdes interchapadas ¢ intermontanas dos sertées do Nordeste, ¢ as de- pressdes periféricas da metade sul da terra gaticha, © quadro das superficies aplainadas no Brasil envolve superficies fosseis em processo de exumorgio, superficies de cimeira desdobradas ou mesmo tresdobradas ¢ superficies interplanal ticas de niveis ligeiramente desdobradas. A mais perfeita aplainagio antiga do territorio brasi- leiro tem baixissima participagio no relevo atual, porém grande importincia para a histéria paleo- geomorfoldgica do pais: foi designada paleoplano pté-devoniano por Caster (1947). Enquanto essa velhissima aplainagio, aperfeigoada por transgres- sdes de mares rasos, apresenta-se apenas como uma forte discordancia angular na frente de escarpas devonianas (Serrinha, Ibeapaba, Guimaries), as aplainagdes que se seguiram no Carbonifero Supe- rior foram muito mais abrangentes, porém menos aperfeigoadas, como € caso clissico da superficie fossil pré-carbonifera superior, identificada por De Martone (1940) nos arredores Itu-Salto ¢ Soro- caba. Estudos posteriores, realizados um pouco 4 margem da faixa de contato dos depésitos glaciais ¢ subglaciais regionais, demonstraram a existéncia de fortes irregularidades topogrificas no embasa- mento pré-glacial da regio. As superficies de ci- meira, por sua vez, foram geradas a partir dos re- baixamentos denudacionais dos fins do Cretéceo, sendo muito bem marcadas nas cimeiras das terras altas do Escudo Brasileiro ¢ no reverso das cuestas concéntricas da Bacia do Parana e Bacia do Par- naiba, Foram reconhecidas nos altos do Espinhago, por Harder ¢ Chamberlin (1915), no topo da Man- tiqueira ¢ da Bocaina por De Martone (1940), sob 0 nome de “superficie dos Altos Campos”, tendo um desdobramento mais baixo, designado por “superficie das cristas médias” pelo proprio De Martone (1940), modificada para “superficie do Japi”, por Almeida (1951). A “superficie dos Altos Campos” esté presente na cimeira do Espinhago, na ‘Mantiqueira ena Bocaina, eaparecendo no topo do planalto basaltico, na regido de So Joaquim (SC) ¢ Sao Francisco de Paula (RS), enquanto a superficie das cristas médias, além de aparecer no reverso de todas as escarpas de cuestas do Brasil Meridional, encontra-se muito bem preservada no planalto de erso da cuesta do Caiapé, no Sudo este de Goids. No interior do Nordeste Brasileiro, eas tais como a Serra de Teixeira, os altos do Ba- turité, o reverso da escarpa do Ibiapaba e 0 topo da Chapada do Araripe constituem testemunhos de um importante periodo de aplainamento, des- figurado por deformagées tecténicas e processos desnudacionais responsaveis pela notavel expansio dos aplainamentos interplanilticos sertanejos. Terminada a sedimentagio creticica_no centro da Bacia do Parand e nas areas de extra- vamento dos processos deposicionais em Areas descontinuas da plataforma brasileira, sujeitas a discretas subsidéncias, instalaram-se os primeiros cixos hidrogrificos dos quais depende o tragado relativo de numerosos rios do Planalto Brasileiro. Vacaria e no re Na Bacia do Parana ocorreu uma superimposicio hidrogréfica centripeta, comportando rios de quase todas as periferias convergindo para 0 curso d’égua consequente mestre (rio Parana). O soerguimento das bacias variou de relativamente simétrico (Alto do Parana) a bastante assimétrico (Bacia do Pa naiba), até soerguimentos tabuliformes de reas centrais de bacias (Aratipe, Parecis e Uructiia) Sob o incentivo da epirogénese pés-creticica ocorreram amplos esquemas de circundesnudasio, muito perfeitos no caso do Alto Parané, e parcial- mente conservado na Bacia do Parnaiba, devido ao forte empenamento sofrido pelo edificio geo- légico regional. Em ambas as bacias a amarrasio das redes hidrogrificas centripetas permaneceu com marcante individualidade. Identicamente, formaram-se nos dois casos relevos estruturais do tipo designado “uestas concéntricas de frente ex- terna’. Um sistema de escarpas estruturais desse modelo somente é possivel de ser formado & custa de soerguimento de uma bacia, acompanhado de complexos processos de circundesnudagio, que por sua vez respondem por uma rede de depres- sées periféricas, algumas das quais transformadas em compartimentos de planaltos. No estado de Sio Paulo, a chamada depressio periférica paulista € um legitimo segundo planalto interposto entre © Planalto Atlantico ¢ os planaltos interiores, su- jeita a retomadas de erosio fluvial no decorrer do instavel periodo Quaternario, No Parané, desde ha muitos anos utiliza-se a expressio “segundo pla- nalto” para o setor de relevo que se estende desde 0 alto reverso da “Serrinha” até as escarpas arenitico- basilticas do interior, No centro-oeste do estado de Mato Grosso, na outra banda da Bacia do Parané, apés a atuagio dos processos de desnudagio mar- ginal e de aplainagdes interplanilticas (pediplano Cuiabano), aconteceu 0 caso mais radical de tecto- nica residual quaternaria do pais, representado pela bacia sedimentar do Grande Pantanal. As aplainagées tercidrias, que se_fizeram atuar com grande amplitude espacial no Planalto Brasileiro, foram acompanhadas na Amazénia ¢ na faixa costeira do Brasil Atlintico Central por imensos pacotes de depésitos correlativos pliocé- nicos ou pleistocénicos. A medida que os processos de ecktaplanizasio progrediam, preparando a se- diplanasio extensiva, os depésitos detriticos argi- loarenosos ou arenoargilosos eram evacuados para teatros deposicionais da Amazdnia Ocidental e, outros tantos, projetados para um cinturio subli- torneo de sedimentasio, ligeiramente subsidente, em uma época em que a linha de costa estava a dezenas de quilémetros de distancia, Uma flexura continental do bordo costeito favoreceu a aproxi- masio das 4guas marinhas, incluindo processos de abrasio e encaixamento de baixos vales fluviais. Ainda que tenham ocorrido variasées do nivel do mar em diversos periodos do Quaternario, aquelas que influenciaram mais diretamente no afeigoa- mento da zona litorinea do Brasil estio relacio nadas com o periodo Wiirm IV, Wisconsin Supe- rior. Entre 23.000 ¢ 12.700 anos AP. o nivel do mar baixou muito, atingindo um descenso aproxi- mado de -100 metros, obrigando os rios costeiros a descerem para um novo nivel de base e iniciarem uma notivel erosio regressiva até o encontro de ro- chas muito resistentes, ocorrentes na retroterra: no Brasil atlantico e no interior do vale amazénico. Por sua vez, a corrente das Malvinas/Falklands subiu muito na faixa oceanica, aleangando o sul da Bahia, € implicando em enormes extensdes de climas secos no litoral e depressées interiores. Enfim, um mosaico anastomosado de faixas semidridas, sob temperaturas médias bem inferiores as de hoje. Terminadas as grandes aplainagées dos fins do Terciario, embutidas em depressées interplandl- ticas, ocorreu uma reativagio de soerguimentos de grande abrangéncia espacial e baixa amplitude al timétrica. Ao sabor desse socrguimento pés-plio~ nico, foram claborados niveis de erosio interme- didtios (sedimentos, terragos de pedimentagio ¢ baixos terragos fluviais) entre 0 Pleistoceno Infe- rior € 0 Pleistoceno Médio. Do Pleistoceno Médio para o Superior cessaram os soerguimentos de con- junto, substituidos por casos de tectonica quebrivel irregular, muito raros ¢ localizados. Passaram a pre- dominar os amplos efeitos paleoclimaticos ecolé: gicos, relacionados a ripidas e sucessivas flutuasdes do nivel do mar, sobretudo no intervalo de tempo decorrido entre 110,000 anos antes do presente (AP) até nossos dias. Quando 0 mar, apés descer para -100 metros ascendeu até +3 metros, durante a primeira metade do Holoceno, houve forte aio de afogamento costeiro, criasio de rias, entalhe de falésias nos setores frontais de ilhas e espordes de serras, além de notiveis ranhuras de abrasio como 12 aquelas da base do morro do Penedo, no interior da Baia de Vitoria. A maior parte das baias, estué- rios ¢ rias do pais foram geradas durante essa im- portante fase de transgressio e ingresséo marinhas. Sendo de se acrescentar que o mar desceu de 2,5 a 3 m, com algumas irregularidades, deixando vazar argilas que serviram de suporte para a expansio de manguezais de diversas configuragdes e ampli- tudes espaciais: manguezais frontais no Maranhio © Pard, e manguezais de funda e flanco de estuatios, na maior parte do Brasil, até o sul de Santa Cata- rina. 8. QUESTOES DE DISCUSSAO E REVISAO 1. As duas anomalias hidrogrificas mais conhe- cidas no Brasil sio encontradas no “cotovelo de Guararema” (rio Paraiba do Sul) ¢ no cotovelo de Petrolina-Joazeito (rio Sao Francisco). Qual a significancia dessas anomalias em termos mega- geomorfoligicos? 2. Existem depésitos marinhos do Mioceno na Amazénia Ocidental e, separadamente, na Fossa de Marajé e na chamada “Regio Bragantina do Para”. Qual a significincia paleogeomorfoldgica dessas ocorréncias de mares miocénicos, tao se~ parados entre si? 3. Qual o significado hidrogeomorfolégico das “lagoas de terra firme” ¢ dos rios da “Geragio Xingu’ na Amazénia? 4. Qual o significado geomorfolégico das forma- ges detriticas da fachada atlintica do Nordeste Oriental (Formagio Barreiras) e aquelas da Amazonia, designadas por Formagio Solimées? 5. Qual o cenario predominante nas redes hidro- grificas atuais de regides que sofreram def masées macrodémicas no Escudo Brasileiro (Borborema, Centro-Oeste de Mato Grosso ¢ Niicleo Uruguaio-sul-rio-grandense do Escudo Brasileiro)?

You might also like