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REVISTA EVIDENCIAGAO CONTABIL & FINANGAS RE 6 3 SB AN Joa0 Pessoa, v.6, n.2, p.81-94, mai/ago. 2018. ISSN 2318-1001 ‘DOT:10.18405/recfin20180205, Disponivel em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/recfin A CONTABILIDADE DO CRIME NO BRASIL: AVANGOS E DESAFIOS ? THE ACCOUNTING OF CRIME IN BRAZIL: ADVANCES AND CHALLENGES Hermes Oliveira Gomes Mestrando em Contabilidade pela Universidade Federal da Bahia hermeskhotmasl com https: /orciel.org/0000-0003-0304-9646 Magno Oliveira Ramos Mestrando em Contabilidade pela Universidade Federal da Bahia magnussol@yahoo.com-br tps onc org/0000.0000.2895-7145 Maria Valesca Damasio De C. Silva Doutora em Administracto pela Universidade Federal da Bahia Professora da Universidade Federal da Bahia mwvalesca.ufbatymailcom https /orcidl org/0000.0002.4597-8863 Larissa Maiara Vieira Dos Santos Geaduacto em Ciéncias Contabeis pela Universidade Federal da Bahia Iarissa mvstoutlook com ;0900-0003-4299-895 RESUMO Objetivo: Apresentar 0s resultados alcangados, apés a obrigatoriedade de envio de informagées dos servigos de contabilidade expedidas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Fundamento: Neste trabalho, a discussao parti da andlise das informagdes disponiveis dono banco de dados do COAF, referente as comunicagdes enviadas por érgdos parceiros no combate a crimes, lavagem de dinheiro, sonegacao fiscal, entre outros. Método: O trabalho caracteriza-se como exploratério, com andlise de dados pré-existentes no banco de dados do COAF, no periodo dos anos de 2004 a 2015, particularmente, a partir de 2014, quando houve a obrigatoriedade dos envios. A abordagem do problema foi classificada como quantitativa, + Artigo recebido em: 24/09/2017. Revisado por pares em: 03/11/2017. Reformulado em: 14/12/2017. Recomendado para ppublicagdo em: 26/02/2018 por Luiz Felipe de Araijo Pontes Girao Fditor Geral). Publicado emt 30/04/2018. Organizacio responsavel pelo periddico: UPB Endezogo: Av. Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela, * andar, Salvador-BA. DOE itp//dx. do. ong/ 1018105 /secfin20150203 Revista Evidenciacio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, pS1-94, mai/ago. 2018, 8 xe Gomes, HO. etal tendo em vista que se apoderou do teste de estatistica descritivae da verificagao de dados estatisticos para efetuar todas as andlises. Resultados: Com o estuco, constatou-se uma pequena queda das informagdes repassadas ao 6rgao, como também, uma maior retragao das interpelagdes institucionais e como ainda sdo grandes os desafios em prol ao combate de crimes nos meios empresarias. Contribuigées: Os achados deste estudo contribuem para a discussao em torno da criagdo de uma consciéncia nos profissionais ¢ entidades contdbeis em relacdo ao papel da contabilidade como fer- ramenta util no combate ao crime contra a ordem tributaria. Também, levanta possibilidades de estudos futuros, pesquisando relacdes que nao so estudadas, j4 que nao existem trabalhos que se debrucem sobe o recorte apresentado. Palavras-Chave: Contabilidade do Crime. Lavagem de Dinheiro. Crime contra a Ordem Tributaria Lei Anticorrupsao. ABSTRACT Objective: To present the results achieved, after an obligation to send information from the account- ing services sent to the Financial Activities Control Council (COAF). Background: In this work, a discussion of the analysis of the information available in the COAF database, referring to communications sent by partner agencies without fighting crime, money laun- dering, tax evasion, among others. Method: The work is characterized as exploratory, with analysis of pre-existing data without COAF database, no period from the years 2004 to 2015, particularly, from 2014, when there was an obliga- tion of the shipments. An approach to the problem was classified as quantitative, taking into account that it took over the test of descriptive statistics and the verification of statistical data to perform all as analyzes. Results: With the study, there was a small drop in information sent to the agency, as well asa greater retraction of the institutional interpellations, and the challenges to fight crimes in business circles are still great. Contributions: The findings of this study contribute to a discussion around creating an awareness of our accounting professionals and entities regarding the role of accounting as useful. Also, it raises possibilities for future stucties, researching relationships that are not studied, since there are no stud- ies that look at the clipping, Keywords: Crime Accounting. Money laundry. Crime against a Tax Order. Anti-Corruption Law. 1INTRODUCAO; Nas tiltimas décadas, o mundo e particularmente o nosso pais passa por um cenario marcado por intimeros escindalos de corrupeao, mau uso do dinheiro piiblico e crimes de ordem tributaria Este cenario é visivel, e vem ameacando visceralmente as praticas contabeis no Brasil. Hoje trami- tam, em varas de primeira instancia, 5.861 processos relativos a crimes financeiros em todo o Brasil, como ocultagdo de bens e lavagem de dinheiro. Estados como Mato Grosso tem o segundo maior nuimero de processos, 613 e no Parand, outros 331. Entre eles, estdo 0s relacionados & Operagao Lava Jato. O Brasil possui hoje 27 varas federais especializadas em crimes contra o Sistema Financeito Nacional e de lavagem e ocultacao de bens. Essas varas federais esto em 14 estados e no Distrito Federal. Nos demais estados, as ages tramitam em varas criminais comuns, Revista Evidenciagio Contabil & Finangas, 15 318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 1.2, p.81-94, mai. /ago. 2018, 82 ie Gomes, HO. et al. Diante disso, as mudangas recentemente introduzidas passaram a indicar, mais ainda, 0 pax pel dos profissionais e organizagies contabeis diretamente no rol dos obrigados a prestar informa- Ses ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Assim, os profissionais de conta- bilidade tém ocupado o centro da arena de discussdes. Consoante a esse quadro é possivel identificar que a responsabilidade civil, penal e administrativa do profissional e da organizagao contabil os tornam suscetiveis aos riscos e penalidades. A Lei 9.613 sancionada em 1998 defini o crime a lavagem de dinheiro, sendo caracterizacto por um conjunto de operacées comerciais ou financeiras que buscam a incorporacao na economia de cada pais, de modo transitério ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilicita e que se desenvolvem por meio de um processo dinamico que envolve, teoricamente, trés fases indepen- dentes (colocacio, ocultagao e integracao) que, com frequéncia, ocorrem simultaneamente. Em seguida, o COAF surgiti no mesmo ano, com um érgao do Ministério da Fazenda, cuja missdo ¢ identificar informagdes suspeitas. Vale salientar que muitas investigacdes, como a propria Operagao Lava-Jato, nasceram de notificagdes do COAF. Outro marco importante foi a aprovacao, em 2012, da Lei 12.683, que tornou mais rigorosa as penas de crimes de lavagem de dinheiro ou ocultacdo de bens, direitos e valores. Em 2012 os profissionais e organizacdes contabeis foram inclu- {dos no rol de responsaveis pela prestacdo de informacdes ao COAF. Essa obrigatoriedade se deu em funcao da Lei n. * 12.683/12. Desta forma, a contabilidade assume papel importante, acompanhando as mudangas, tendo reflexo da legislacao brasileira e da propria sociedade, Percebe-se ainda que, no Brasil, muitos crimes de orem tributaria, como, por exemplo, os de lavagem de dinheiro ocupam o centro da atengao da midia. © processo de construgao de uma contabilicade voltada para a corresao, fiscalizagao e con- trole de praticas fraudulentas motivou o COAF a acrescentar os servigos de contabilidade no ambito de atividades que, em virtude de sua relevancia, necessitam ser controladas e informadas Diante deste cendrio, a questao de partida que orienta este estucto 6: Qual o tratamento dado as informagées dos servigos de contabilidade apésa obrigatoriedade imposta pelo COAF? O objetivo deste trabalho é apresentar os resultacios alcangados apés a obrigatoriedade de envio de informagoes dos servigos de contabilidade ao COAF. A hipstese testada 6: apds esta nova obrigagdo a sociedade sera protegida contra a utilizagio indevida de servigos contabeis para atos ilicitos. A hipétese poderd ser confirmada apenas com 0 tratamento adequado das informagées dos servigos de contabilidade. Do contrario, nao havera con- trole das informacoes, a prevaléncia e incidéncia dos crimes resultarao em sancdes penais previstas em lei, além dos riscos da imagem, pela associagao do responsdvel com as organizagées criminosas. Para alcancar o objetivo pretendido, serao apresentados os resultados, apés a obrigatorie- dade, desde 2014, de comunicacdo dos servicos de contabilidade ao COAF. Para tanto a pesquisa, fundamentalmente, do tipo exploratério-descritiva, de natureza qualitativa, baseada em documen- tos e referenciais tedricos de estudos na Area, buscard evidenciar os resultados. 2 REFERENCIAL TEORICO, 2.1 Crimes Fiscais Contra o Estado Brasileiro Em uma sociedade cada vez mais exigente, fiscalizadora e, sobretudo, atenta aos aconte mentos, cresce os anseios para o exercicio do controle (Tatagiba, 2010). Este quadro pode ser visto nos trabalhos de Ribeiro (2002), Tatagiba (2010), Gohn (2010), Britto (1992), Avritzer (2007)e Lehman e Okcabol (2005), Diante da prevaléncia de crimes fiscais no Estado Brasileiro, a contabilidade busca mecanis- ‘mos para combaté-los ou, pelo menos, controli-los (Golden, Skalke & Clayton, 2011). E verdade que Revista Evidenciagio Contabil & Finangas, 15 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, p.81-94, mai./ago. 2018, 83 ie Gomes, HO. et al. crimes de ordem tributaria sdo comuns no Brasil e demais nagdes desenvolvidas e em desenvolvi- mento. Grande parte deles é responsavel pelos esquemas de corrupsao. Em certa medida, crimes desta natureza trazem danos ao erario, indicando ainda mau uso do dinheiro piblico (Lehman & Okcabol, 2005). Em termos de Setor Ptiblico, a sonegasao de impostos, por exemplo, ameaga as receitas do préprio Estado, e, amitide, provoca uma diminuigao dos recursos financeiros que seriam empregados na manutengao de atividades esséncias, reduzindo, desta forma, o nivel de qualidade de vida dos cidadaos (Jiinior & Moreira, 2011). Em termos de combate aos crimes fiscais, o Estado Brasileiro apresentou certo avanco, moti- vado nao somente pela atual legislacdo, como também pela ascensao das instituigdes responsaveis pela fiscalizacao e controle (Roncato, 2006). Dentre tais avangos pode-se citar: a legislacao que trata da obrigatoriedade de prestacao de contas pelos gestores piiblicos; a atuagao da Receita Federal no controle da renda dos cidadaos; a atuagio mais efetiva e atenta das Instituigées Publicas de Controle Social (IPCS); 0 rigor maior da legislacao que trata de crimes contra a ordem tribuutaria; e etc. Con- tudo, mesmo diante de um cendrio que demostra superagdo de obstaculos que dificultavam 0 con- trole e fiscalizacdo, bem como do advento da tecnologia da informagao e dos avancos significativos nesta drea, ainda persistem desafios a serem superados, pois assim como o combate ao crime, os criminosos vao ao longo do tempo sofisticando seus mecanismos de ludibriar as instituicdes puibli- case as de fiscalizacao. Junior e Moreira (2011) falam que no combate aos crimes fiscais, o controle do Estado é ob- servado tanto no poder como no dever, que a propria Administragao (ou outro Poder) tem de vigiar, orientar e corrigir, diretamente, ou por meio de érgaos especializados, a sua attagao acministrativa ea dos demais entes, Historicamente, alguns eventos relacionados com crimes fiscais sempre esti- veram presentes na sociedade (Gouvéa & Avango, 2006), Entretanto, ha uma tendéncia mundial, no sentido de inibir a promogao de fraudes e outros crimes, principalmente, contra o erario ptiblico. A sociedade, constantemente, passa por situiagdes que refletem a sonegagao e desvio de recursos. Te- mas como lavagem de dinheiro refletido nas sociedades modernas, como é 0 caso do Brasil. Se- gundo Roncato (2006): A fim de garantir uma boa visibilidade no panorama intemacional, o pais participou de diversos encontros multilaterais que abordaram o tema da lavagem de dinheiro, como a Convencao de Viena em 1988, a Convengao de Estrasburgo em 1990 ea Con- vento de Palermo de 2000, entre ontros. Sendo signatério dessas Convengdes o Bra- sil se comprometeu a incorporar em seu ordenamento juridico mecanismos de com- bate 8 lavagem de dinheiro, Esse compromisso se materializou com a Lei n® 9.613, de 03 de marco de 1998. Entdo, crimes como lavagem de dinheiro e contra a ordem tributéria representam uma afronta 4 autonomia do Estado. Desta forma, a existéncia de crimes desta natureza indica a real necessidade de um controle de supostas informagoes fundadas em praticas ilicitas, com instauragio dos procedimentos cabiveis (COAF, 2015). Com isso, essa atuagao, reduzira a ocorréncia de ilicitos. Afinal, crimes como estes contribuem para o aumento da insatisfagao da sociedade, Os Crimes de sonegacao fiscal estao previstos na Lei 4729/1965, embora a doutrina majoritaria entenda que essa Lei fora revogada tacitamente pela Lei 8.137/1990 que trata dos crimes contra a ordem tributaria. A Lei 4.729/1965 trouxe a definigao de crime de sonegagao fiscal como comportamentos descritos de forma casuistica, estando relacionado com o dever tributério. Essa lei fora criada com o desejo das autoridades que pretendiam utilizar dessa norma legal com a intencao de intimidar os contribuintes que sonegavam os impostos. Atualmente, 0 Ministério da Fazenda e o Banco Central desenvolvem um esforgo conjunto para coibir crimes tributarios, como as praticas de lavagem de dinheiro, procurando “cercar” areas Revista Evidenciagio Contabil & Finangas, 15 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, p.81-94, mai./ago. 2018, Be ie Gomes, HO. et al. que nao tinham muita atengao. E 0 caso agora das Administradoras de Consércios, que precisam ficar atentas com relagio as situagdes ditas “anormais” Os delitos contra a ordem tributaria representam um dos temas juridicos bastante complexos da atualidade. Neste cenario, as diversas implicagoes destes crimes no ordenamento juridico nacio- nal sao visiveis. Mas para dizer-se consumado o crime, ¢ preciso que todos os elementos de sua caracterizagao estejam presentes, conjuntamente, tais como omitir informagao, fraucar a fiscalizar sa0, elaborar documento falso, entre outros 2.2 Combate a Contabilidade do Crime: Acdo Conjunta no Combate a Ma Conduta dos Contado- tes Asigla COAF significa “Conselho de Controle de Atividades Financeiras’. Trata-se de uma entidade do Ministério da Fazenda (MF), criada como uma Unidade de Inteligéncia Financeira (UIF) que atua na prevencdo dos crimes de lavagem de dinheiro, definido pela Lei 9.613 de marco de 1998. O COAF atua no territério brasileiro, mas se interliga com os varios érgaos internacionais. O COAF exerce vigilincia sobre todo o sistema financeiro brasileiro e atividades supervisionadas pelo Banco Central do Brasil: bancos, corretoras de valores, distribuidoras, casas de cambio, administradoras de consércios, entre outros. Por exemplo, os consércios nao sio, stricto sensu, instituigdes financeiras pelo fato de que sao normatizadas e controladas pelo Banco Central do Brasil (BACEN) , mais de certa forma estdo também sob a vigilncia do COAF ( COAF, 1998), Neste aspecto, tum exemplo de atuiagao do COAF, refere-se as operagoes consicleradas “anor mais” equivalem as movimentagdes de dinheiro de origem suspeita e/ou duvicosas, as vezes em espécie, &s vezes incompativeis aparentemente com a renda formal da pessoa fisica ou juridica. A entidade financeira 6 obrigada, entao, a relatar formalmente ao COAF, mas sao proibidas de infor- mar ao cliente. Assim, o sofisticado sistema integracio do COAF e do MF que ira avaliar a eventual ilegalidade e se isso se caracterizar, procede o desenvolvimento da dentincia ao Ministério Piblico e este & Policia Federal, que abrirao processos de averiguagao. Portanto os leitores devem acompa- nhar o noticiario e tendéncias atuais neste assunto, porque o tema ¢ sério e importante para os bra- sileiros, devendo estes zelar pelo uso, controle e fiscalizagdo de recursos puiblicos, bem como qual- quer outra forma de crimes conta 0 erdtio. No combate aos crimes fiscais, 0 Conselho Federal de Contabilidade (CEC), em conjunto com © Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e a Federacdo Nacional de Contabi- lidade (FENACON), desenvolveram estudos junto ao COAF de modo a regulamentar a aplicac3o da Lei pela Lei 9.613, no ambito da classe contabil brasileira. Desta forma, se concretiza o papel dos profissionais de contabilidade como agentes protagonistas neste processo. Por outro lado, vale res- saltar que, a atuacao do COAF, no contexto moderno retrata as recentes adaptacdes ocorridas em diversos paises, com intuito de coibir atividades criminosas (Lehman & Okcabol, 2005). No caso brasileiro, a promulgacdo da Lei 12.683/12, que alterou e ampliou o aleance da Lei 9.613/98 nao pode ser considerada uma novidade ou “modismo” criado no Brasil. Um paralelo feito com muitos paises leva a conclusio de que estes j& passaram por este estagio. Adicionalmente, tais paises exercem esta disciplina, através da aplicacdo de penas administrativas, apds receberem, exa- minarem e identificarem as ocorréncias suspeitas de atividades ilicitas, com o tratamento adequado das informagées (Doost, 1999). Por isso que se justifica a necessidade de uma legislagdo no Brasil especifica, no intuito de coibir as inregularidades. Assim, contexto atual demanda, portanto, aderéncia ’s normas vigentes ea pratica de regulamentagao dessas normas no Estado brasileiro. Neste interim, Golden et al (2011) alerta que a contabilidade assume grande papel como ferramenta de gestéo, tomada de decisdes, controle e fiscalizacdo inter-relacionada institucionalmente com a identificacao e caracterizagao de crimes. Como por exemplo, a realizacao de exames periddicos de auditoria interna e externa; as Revista Evidenciacio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, pS1-94, mai/ago. 2018, 85 ie Gomes, HO. et al. agdes envolvendo os controles de operages suspeitas; fiscalizagao e acompanhamento realizado de atos e/ou fatos que envolvam a contabilidade; dentre outros. Discutir a contabilidade como instrumento para o combate ao crime nao é um tema novo, Mas, fato é que 0s interessacios nas informagdes contabeis, como acionistas, acministradores, ges- tores e a prépria sociedade, se utilizam da contabilidade para atender necessidades individuais. Esta Ansia leva as praticas ilicitas, que “maquiam” as informagées contabeis. De acordo com Silva (2012), para que se realize a prevengao destas praticas ¢ necessario que as demonstragdes contabeis sejam analisadas ¢ revisadas minuciosamente, entao serdo titeis nas investigacdes de fraudes. A pratica contabil sempre se preocupou com as fraudes ocorridas em diversos contextos em que esta inserida. (Ribeiro, 2002). Isso motiva as ages do COAF, no sentido de combater a contabi- lidade do crime no Brasil. Além disso, a contabilidade, como ciéncia, sempre buscou evitar colapsos financeiros, ma gestio e distorgGes nas grandes corporagdes (Lehman & Okcabol, 2005). Informag6es concernentes & atividade contAbil no Brasil, tradicionalmente, sempre foram ob- jeto de fiscalizagao e controle pelo proprio Estado brasileiro. Por isso a ago conjunta dos érgdos responsaveis tem por objetivo: identificar agentes que auferem renda dentro de limites da tributagio do imposto de renda; emitir estatisticas relacionadas com emprego e renda feita pela declaragio de cadastro geral de emprego e desemprego; avaliar salarios com objetivo de tracas programas sociais, bem como outras atividades. Destarte, as atividades financeiras realizadas pelos bancos também si0 fiscalizadas pelo BACEN. Debates envolvencio o tema fraude e crimes na contabilidade so comuns nos United States of America (EUA) (Lehman & Okcabol, 2005). Neste sentido, se exige um Estado mais operante e rigoroso, e Brasil precisa alcangar esse padrao. Para tanto, o Estacto brasileiro necessita de infor- magdes, nao sé para tomada de decisdes, como também para subsidiar sua atuagao de forma a ori- entar a politica econémica do pais, e combater a contabilidade criminosa. Emerge, portanto, um pa- norama em que as informagdes encaminhadas ao COAF devem originar-se de fontes confidveis, ou seja, um cenario que retrate a realidade. Uma agao conjunta entre o COAF e demais érgaos de con- trole evidenciard aquelas operagdes suspeitas de fraudes, bem como um controle daquelas aparen- temente licitas. Em suma, ¢ preciso salientar que, mesmo o controle de informagdes contbeis e financeiras ser um tema em franco debate no Brasil, a preocupagdo em compartilhar informagSes emergiu re- centemente. O ineditismo relacionado com encaminhamento de informagdes contibeis ao COAF, e a. acdo conjunta com demais entidades, traz grandes repercussdes dentro da sociedade e do proprio Estado. Afinal, pela relevancia de tratar-se de informacies de interesse coletivo, tem o poder de impactar e impressionar (Golden et al, 2011). Em se tratando dos usuarios das informacies contabeis, revela, outrossim, uma protecdo contra a utilizacao indevida de informacées ilicitas. Serve de prote- Go também contra as sancbes penais previstas em lei, além dos riscos de ter uma imagem e nome associados com organizacées criminosas (Jiinior & Moreira, 2011). Combater a ma conduta daqueles que exercem atividades contabeis é essencial em um Es- tado Democratico de Direito e pais em desenvolvimento, como o Brasil. Uma profissdo que evolui junto com o Estado, caso da contabilidade, deve deixar-se se transformar pelas tendéncias futuras em termos de novas perspectivas. Assim, com 0 passar dos anos, 0 profissional da contabilidade transformou-se, deixando de ser um simples “guarda-livros” para se tornar um profissional impor- tante para a sobrevivéncia de uma empresa e do proprio Estado (Gouvéa & Avanco, 2006). O pro- fissional contabil deve, portanto, ser e passar a imagem de uma pessoa dinamica, bem informada, deter as informagées, saber utilizé-las e saber retransmiti-las (Schwez, 2001). Consoante a esse qua- dro, é inadmissivel uma ma conduta profissional. Entretanto, mesmo com aspiragdes para a ética contabil, e a busca por conscientizagdo dos contadores, ainda persistem profissionais que atentam contra o os principios morais e éticos. Esse Revista Evidenciagio Contabil & Finangas, 15 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, p.81-94, mai./ago. 2018, 86 ie Gomes, HO. et al. fato motivou 0 Ministério da Fazenda, quando criou em 1998 0 COAF, cuja atuagao ¢ conjunta com demais entidades no combate & ma conduta daqueles que prestam servigos contabeis. A misao do COAF ¢ prevenir a utilizagao pelos setores econdmicos de praticas de lavagem de dinheiro e finan- ciamento do terrorismo, promovendo a cooperagao € 0 intercambio de informagdes entre os setores piiblico e privado. Ascompeténcias do COAF estao definidas nos artigos 14¢ 15 da Lein®9.613,/98, quais sejam: receber, examinar e identificar as ocorréncias suspeitas de atividades ilicitas; comunicar as autori dades competentes para a instauracdo dos procedimentos cabiveis nas situagbes em que o Conselho concluir pela existéncia, ou fundados indicios, de crimes de “lavagem”, ocultacao de bens, direitos e valores, ou de qualquer outro ilicito; coordenar e propor mecanismos de cooperacao e de troca de informagées que viabilizem agées rapidas e eficientes no combate a ocultacéo ou dissimulacao de bens, direitos e valores e disciplinar e aplicar penas administrativas Vale ressaltar que os servicos de contabilidade somente foram objeto de controle pelo COAF, através de envio de informagdes, em 2014. Neste ano se tornou obrigatério, para o setor econdmico identificado pelos servicos de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria e aconselhamento ou as- sisténcia, representados pela contabilidade, o envio de informacées ao COAF. Tal obrigatoriedade surgit do artigo 9, inciso XIV da Lei n.°9,613/98 e dos artigos Ie 12 da Resolucdo CFC n.* 1445/13. Contudo, nao contempla os servigos de pericias e andlises de riscos em organizacdo que no seja seu dliente, exercidos pelo profissional ou a organizacdo contabil. Por tal motivo, nao sera objeto de co- municagao a0 COAF. Como forma de evidenciar a preocupagao do Estado brasileiro diante deste cenario, promulgou-se, mais recente, a Lei n° 12.638/12. O objetivo é dar mais rigor a Lei anterior, n° 9.613/98, tornando mais eficiente a investigacao e aplicagao de penas para aqueles que incorrerem na pritica de crimes de lavagem de dinheiro. 3 METODOLOGIA trabalho caracteriza-se como exploratério, com anélise de dados pré-existentes no banco de dados do COAE, disponibilizados no sitio: ; sem que haja qualquer interferéncia, Destarte, visa identificar, relatar e comparar os dados da amostra oriunda de base de dados de fontes confiiveis e de notéria reputagio. O intuito foi in- formar sobre situagdes, fatos, opinides ou comportamentos da populacdo analisada. Além disso, o trabalho levanta possibilidades de estudos futuros, pesquisando relagdes que nao sao estudadas. Relata ainda que nao existem trabalhos que se debrucem sobe o recorte apresen- tado. A hipétese de pesquisa indica isso, levantando as inquietacdes e possiveis respostas. J4 no que se refere aos procedimentos, o mesmo pode ser enquadrado como bibliografico e documental a par- tir de andlise de dados A abordagem do problema foi classificada como quantitativa, tendo em vista que se apode- rou do teste de estatistica descritiva. Desta forma, se apropriou da verificacao de dados estatisticos para efetuar todas as anilises. 4 APRESENTACAO E ANALISE DOS RESULTADOS s resultados da pesquisa serdo apresentados em quatro formas: a primeira com o estudo dos resultados das comunicagdes enviadas ao COAF entre os anos de 2004 a 2015; a segunda com os resultados da evolucdo dos comunicados em processos de investigacdo; terceiro as inter-relagdes institucionais no combate ao crime; e por fim os ntimeros de comunicagdes por segmento de ativi- dade. Revista Evidenciagio Contabil & Finangas, 15 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, p.81-94, mai./ago. 2018, 7 4.1 Comunicagées enviadas a0 COAF Na Tabela 1 abaixo apresentada, representa uma anilise longitudinal das comunicages fei- tas por regiao no contexto geral Brasileiro durante 11 anos (entre os periodos de 2004 a 2015): Revista Evidenciacio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, pS1-94, mai/ago. 2018, 88 Tabela 1- Comunicagies enviadas a0 COAF Regises ee [2004 [2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 20 | 202 | 2013 | 2014 | 205 aa26 | 7e31_| 100s 2usss | s249 | aso0 | 53076 | sors | r2a00 | 77582 | 700s | assss6 225% | 40% ive [sox [33% [25% [206 [ae [7 | 20 Noraeste | 9752 | isies | 21499 sszsi | s2104 | 113107 | 14sis2 | 20225 [ 199726 | 16902 | isos | 1225346 159% 76% ser [2% [300 | ie [ ase [6 Sudeste [45757 120856 | 21s461 | 423013, es1ias | s03s72 | ssos7s | 7oossi | eases | o90se | ssosait 30% | 78% | 96% sae | 25% | 10% | 20% 10% 298450 | 227471 | 190397 | 20san: 7603 20015 | 30144 | 107089 | 186620 | 153691 ro_| asive [stays [7496 | -1860 ss | 24% | 16% | 9% ‘Centra 10013] 19518 | 20324 | 23018 | sos4o | 99078 | 77391 | 93420 | 1ssao7 | soieo | 72805 | s2isi | 760730 195% | 104% | 113% | 176% | 247% rive | 143% [aie [save [1am rose» | 23% | 73% | 93% | 179% | a2 | 240 [230 | -19% | -1i%6 | om Fonte: Conselho de Controle de Atividade Financeira ~ COAF (adaptado). Pela tabela acima pode-se notar que entre 0 periodo de 2004 a 2015 nao se registra uma regu- laridade, nem tendéncia sobre o ntimero total das comunicagdes enviadas ao COAF. Os ntimeros mostram que houve um periodo ascendente de 2004 até 2009 em todas as regides do Brasil. Isso demonstra uma crescente evolucao das comunicagdes. Essa ascendéncia pode ter sido oriunda pelo fato de ser uma novidade a implantacao do COAF. Tendo em vista ser algo, & de se esperar um crescente aumento no néimero de organizagdes obrigadas a enviar informacées ao COAF. Jé 0 de- créscimo pode ser explicado pela desobrigacao de envio de informagdes a0 COAF por parte de al- gumas dessas organizacées, devido o nao cumprimento das exigéncias legais para obrigatoriedade. Logo que foi instituido o COAF, muitas entidades ficaram receosas quanto ao envio ou nao de in- formacées. Isso pode ter motivado um crescimento das informacdes enviadas por regido geogréfica logo no inicio, mas que depois foi decrescendo, porque muitas das entidades perceberam que néo eram obrigadas a enviar as informacdes. Apés 2008 mostra-se uma queda nao regular das informagdes comunicada. Vale destacar que nos anos de 2013 e 2014 houve uma queda significativa de um ano comparando ao anterior, quando se analisa as informagdes encaminhadas por todas as regides brasileiras. Uma queda muito grande no envio das informagées pode ser observada no ano de 2010 em relagéo a 2009, com um valor de 42% a menor. Ao analisar os dados com mais detalhes, sob a perspectiva individual da regido geogratica, pode-se notar que as quedas comparativas do geral registrada nos anos de 2013 e 2014 foram acen- tuadas devido as quedas das comunicagdes em trés regides brasileiras: nordeste, suceste e sul. De fato, isso indica que essas regides ndo mantiveram regularidade no envio de informagdes. Neste mesmo periodo, diferentemente das demais, a regido centro-oeste apresentou um grande cresci mento no envio de informagées. A regido norte, por stia vez, nao apresentou um crescimento to expressivo como a regido do centro-ceste, contudo registrou um leve crescimento. Em linhas gerais, nos periodos analisados, as regides centro-oeste e norte esto sendo as re- gides com maior regularidade e crescimento no néimero de comunicacées enviadas. Desta forma, conclui-se que existe um fortalecimento e comprometimento dos profissionais e entidades contabeis na promogao e combate a crimes nestas regides. Afinal, quanto mais comunicagdes sto enviadas aos orgdos de controle e fiscalizagdo, maior sera a expectativa punitiva para como os responsaveis por Revista Evidenciacio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, pS1-94, mai/ago. 2018, ca ames 11.0 ma fé e por crimes fiscais, entre outros que atentam contra a ordem tributaria, e ao proprio Estado brasileiro como um todo. 4.2 Resultados das ages de intervencao do COAF Esta andlise ira apresentar como o COAF transforma as informagoes recebidas em reais pro- cessos no combate e intervencdo aos crimes. Tabela 2 - Principais resultados do COAF entre 2012 ¢ 2014 Comunicagdes recebidas dos setores obrigades 1144542 1286233 1587427 4018202 Relatéris de Inteligéncia Financeira (RIF) produzidas 31782480, 21047732 Comunicagdes relacionndas nos RIF 105259108962 85759299980 Pessoas relacionadas nos RIF 77089 5281215772. 145633 Intercmbio com autoridades nacionais 2971-3107, 2aL 8499 Intercimbio realizados com UIF (Rede de Egmont) 160170404 Bloqueio de recursos (em RS miles) 44 1S lA LTB Averiguagdes Preliminares coneluides B 7 6 16 Cadastramento de pessoas reguladas 1748268577 04 Processo Administrative Puntivo instaurados 4s 9 6 60 Processo Administrative Puntivo julgados 2 10 18 40 Adverténcias apicadas 2 v 18 56 Multas aplicadas (em RS mil) DULL 6244 45321289 Fonte: Conselho de Controle de Atividade Financeira - COAF, A tabela apresentada acima demonstra os resultados do tratamento das informacées recebi- das pelo COAF no periodo compreendido entre 2012 ¢ 2014. Com 05 resultados pode-se apontar que dos 13 itens analisados, 8 deles apresentaram quedas acentuadas, equivalendo a 61% das avaliagdes. A preocupagdo especial deve ser dada as multas aplicadas, pois as mesmas apresentam um aumento entre 2012 2013, em seguida, talvez por uma falta de atengdo, corregdo e tratamento das informa- .g0es, as multas apresentam uma queda. Esta queda pode ter sido oriunda da correo de informa- des anteriormente encaminhas a0 COAF, e maior diligéncia e preocupacdo com as informagdes por parte das entidades e profissionais. Os recursos bloqueados, por conta da agao do COAF, tendo em vista as informagées encaminhadas, apresentaram um aumento de aproximadamente 92% entre 2012 e 2013. Em 2014 caem para apenas 33% em relagao a 2013, corroborando com a atuagao emi- nentemente punitiva. Neste interim, a queda no bloqueio dos recursos mostra que as averiguagdes preliminares e processos instaurados foram reduzidos. Sendo assim, um enfraquecimento instituci- onal no combate aos crimes contra 0 erario public pode ser notado. ‘Os dados mostram-se preocupantes, pois mesmo com o crescimento das comunicacées rece- bidas pelo COAF, ainda sdo incipientes as agdes deste érgio na efetividade das acées de fiscalizagao, controle e punigdo. Os ntimeros mostram uma redugao dos intercambios “troca de informacao” com outras autoridades, tais como Policia Civil, Policia Federal, Receita Federal, dentre outros. Como veremos a seguir: Revista Evidenciagio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, p.81-94, mai. /ago. 2018, 90 ‘Tabela 1 - Intercambio com autoridade 2003 a 2014 Total Departamento de Policia Federal 6158, 741 6909) Policia Civil 1267 435 1702 Sub-total 7435 1176 8611 Ministério Piblico Federal 1850 226 2076 Ministério Péblico Estadual 4947 Sol S748. Procuradoria na Geral da Repiiblica B 19 32 Outros do Ministério Piblico 4 4 Is Sub-total 6824 1050 7874 Justiga Federal 1601 116 1719 Justiga Estadual 1681 279 1960 Outros - Poder Judicidtio 389 206 595. Sub-total 3871 603 274 Receita Federal do Brasil ~ RFB 567 106 ons Controladoria Geral da Unido ~ CGI a 4 485 Comissto Parlamentar de Inquérito nm 1 B Diversos 459 21 480 Sub-total 1569 142 7 Fonte: Conselho de Controle de Atividade Financeira - COAF A tabela disponivel do COAF nao permite uma anilise horizontal das informagdes, afinal nao possibilita uma andlise comparativa temporal dos anos anteriores, principalmente no perfodo agregado entre 2003 a 2013. De qualquer forma, os mimeros totais de intercambio sdo insignificantes em relacdo 20 mimero de comunicados recebidos. Entretanto, 0 intercambio com a Policia Federal foi o que mais sobressaiu seguido pelo Ministério Pablico Federal. Isso pode ser considerado um agravante, pois no processo de fiscalizacdo, controle e punicdo dos responsaveis, esta troca de infor- macées constitui elo com os principais érgaos responsaveis pela investigacdo e conclusdo das infor- macoes processadas. Neste contexto, vivemos num ambiente no qual as investigacdes de dentincia contra crimes fiscais sao evidentes na midia, sendo comum nos noticiarios. No entanto, alguns érgaos de controles ¢ fiscalizagao nao conseguem desenvolver suas atividades intrinsecas. Tal fato corrobora com aexis- téncia de impunidade na sociedade. De certa forma, os profissionais responsaveis pelo envio destas informagdes podem sentir-se desestimulados, motivados pela falta de averiguagdo e conclusdo das comunicagées enviadas. ‘Ao analisar as adverténcias confrontadas com os comunicados, so nitidos os resultados apresentados. Dentre casos entre 2012 a 2014 apenas 1% deles foram passiveis de adverténcia. As- sim, é evidente que, mais uma vez, a investigagdo e impunidade ainda é muito grande no Estado brasileiro. O contexto indica uma necessidade de mudanga de postura frente as informagGes recebi- das e seu posterior tratamento. Revista Evidenciacio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, pS1-94, mai/ago. 2018, 91 ames 11.0 4.3 Comunicagdes Recebidas por Setores Econémicos Obrigados Nesta andlise, percebe-se abaixo um quadro comparativo de comunicasao por érgaos regu ladores no sistema financeiro nacional entre outras instituigdes vinculadas, mostrando importantes, pois permite identificar a contribuigao no combate ao crime por érgao regulador. ‘Tabela 4 - Comunicagdes Recebidas por Setores Econémicos Obrigados (Art.9" da Lei n® 9.613/98) igo 5 19988 sD x Baeriador Sor Eeomieo oo aol 201220132014 Total 6th ‘Operagies Aplicadas 'BACEN.__ Sistema Financeira _IS4S1S 373741819 $3244 SASS ADANS__15.92 ‘Contador - Sevigos de Assesara CConsutoria, CEC Contador, auditoria, Aconselha- - - wos wos gs ee nn Prowocto inobilica Compra veda Imgvels AS83768, aes Mereado Segurador SUSEP. 2078699 332606 467512 _125451__45285 _3048823_1.33 “Total Reguladores Proprios. 2414160 §43008 719889 363421123649 4164127 “Bans de [xo on de Alto Valor - 3559 4505 S194 14166, “Cartdes de Crédito 2636831396. 73745, Factoring ¢ Securitizagio de Ativos, Titulos ou Recebiveis Mobiiatios 70381 1802617114 «32876-15890. ISI787 6.09 coaF “Objetes de Arte e Antizuidades “RemessaAltemativa de Recwsoy Serigos de Assessori, Consol, ‘Auditoria : - 1 8 1s 2 833 Aconselhamento ou Assisténcia ‘Total Regulador COAP Tas TT 2 ‘Outros Setores Previstos na Lei 86 13 08 BACEN Sistema Financeiro 1524578 729395 S11869 859994 9670565192592 7.09. “Total Geral “4316083 1280087 1587233 1286233 1144542 9620342 Fonte: Conselho de Controle de Atividade Financeira ~ COAF, No que tange as informagdes comunicadas por érgaos reguladores, nota-se que os drgaos do sistema financeiro bancario sao responsaveis por maior volume de comunicacées encaminhadas no ano 2014. Considerando-se o acumulado dos periocos analisados, quem mais cooperou com infor- mages foi a Superintendéncia de Seguros Privados (SUSEP). Destarte, sobre o crivo da prépria COAF, as informacdes das empresas de cartdo de crédito representam uma grande parcela das co- municacdes, seguidas das operacbes de factoring e securitizacio de ativos e/ou titulos. Igualmente, um dado preocupante refere-se & participagao dos profissionais de consultoria e contabilidade. Para esta modalidade de servigo, a obrigatoriedade de envio de informagoes a0 COAF iniciou-se em 2014. Ja que esta obrigatoriedade ¢ nova, os servigos de contabilidade apenas 105 co- municagées foram feitas ao COAF. Destas apenas §,57% foram, de fato, titeis. Este dado pode nos indica que este setor ainda nao coopera com 0 envio dos comunicados. Por outro lado, demonstra Revista Evidenciacio Contabil & Finangas, ISSN 2318-1001, Jodo Pessoa, v.6, 2.2, pS1-94, mai/ago. 2018, 92 xa Gomes, HO. etal tum grande desafio para a classe contabil, ¢ cria uma consciéncia acerca da relevancia das informa oes ao Estado. Reafirma a necessidade de avaliar a atuasao deste setor econémico a partir da per- cepsao do quanto ¢ importante encaminhar informasdes para a fiscalizacao do erario. Além disso, permite uma maior atuayao do profissional da contabilidade, no que se diz respeito ao seu compro- misso ético profissional, numa tentativa de contribuir para evitar ou minimizar as praticas de lava- gem de dinheiro e demais crimes contra a orcem tributaria 5 CONCLUSAO. De todo 0 exposto, conclui-se que o os resultados alcangados depois da obrigatoriedade de envio de informacées pelos profissionais contabeis ao Estado brasileiro, através do COAF, ainda se encontram em estado latente, e ndo podem prescindir duma analise temporal maior, pois a obriga- toriedade de envio das informagdes contébeis iniciou em 2014. Entretanto, a aplicacdo como ferra- menta nova e que traca, mesmo que num estado inicial e incipiente, um perfil das informagdes de contabilidade ante uma realidade nova ¢ indiscutivel. Por essa razio, jé se pode afirmar que os resultados alcangados, apés a obrigatoriedade de envio de informagoes pelos profissionais contabeis a0 COAF, caminham para a procura de respostas a questdes polémicas, como o comportamento deste segmento diante dum Estado, cuja prerrogativa fiscalizadora e punitiva faz-se crescente. Ainda, 0 estudo motiva a ct 0 duma consciéncia nos profissionais e entidades contabeis em relacdo ao papel da contabilidade como ferramenta itil no combate ao crime contra a ordem tributaria. Quanto a urgéncia e repercussao do tema, sobretudo no seio da sociedade, é necessario maior enfoque das futuras pesquisas, principalmente pelo fato do envio de informacdes ao COAF ser recente para o segmento de contabilidade. Uma anilise dos even- tos pds adosao desta obrigatoriedade de envio de informasdes do segmento contabil é indiscutivel Sugerem-se algumas recomendagées para pesquisas futuras. E necessaria uma abordagem maior sobre os resultados da utilizagao das informagoes contabeis enviadas a0 COAF e investigar as possiveis medidas adotadas ou a serem adotadas pelo Estado brasileiro apés o recebimento e tratamento das informagoes contabeis recebidas, REFERENCIAS Avritzer, L. (2007). Sociedade Civil, Instituigées Participativas e Representacao: da Autorizacio a Legitimidade da Acao. Revista de Ciéncias Socinis, Rio de Janeiro, 50(3), 443-464. Brasil. (2016). Constituigao, 1988. Constituigao da Republica Federativa do Brasil. Brasilia. Sao Paulo: Revista dos Tribunais, Brasil. (2016b). Comstituigao Federal - Codigo Penal - COdigo de Processo Penal. Organizador: Luiz Flavio Gomes. (3a ed) Sao Paulo: Revista dos Tribunais. Brasil. (2016c). Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1983. Define os Crimes Contra a Seguranca Nacional, a Ordem Politica e Social, Estabelece 0 seu Processo e Julgamento e da Outras Providéncias. Re- cuperado em 27 de janeiro, 2016, de www-senado.gov.br. 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