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FISCALIDADE

Benefício fiscal:
Dedução por Lucros Retidos
e Reinvestidos (DLRR)

Elsa Marvanejo da Costa

Contabilista Certificada e Especialista em


Imposto sobre o Rendimento

O BENEFÍCIO FISCAL As sociedades enquadradas no regime de transparência fis-


cal(4) sendo consideradas como sujeitos passivos de IRC que
O benefício fiscal DLRR tem como objetivo intensificar o apoio
exercem a título principal atividade comercial, industrial ou
ao investimento, favorecendo o crescimento sustentável e con-
agrícola, podem, desde que cumpram os requisitos previstos
tribuindo para o reforço da estrutura de capital das empresas.
no CFI utilizar o benefício fiscal DLRR, sendo este imputado aos
Trata-se de um benefício fiscal ao investimento e à capitalização.
sócios na proporção das suas quotas(5).
Encontra-se previsto nos artigos 27º a 34º do Código Fiscal
As sociedades enquadradas no regime simplificado de de-
ao Investimento (CFI)(1) e regulamentado pela Portaria n.º
terminação da matéria coletável não podem utilizar o benefício
297/2015, de 21 de setembro(2). Esta última assegurando a apli-
fiscal DLRR, nem qualquer outro benefício fiscal que opere por
cação integral das regras previstas no Regulamento (UE) n.º
dedução à coleta do IRC, é o próprio Código do IRC(6) que impe-
651/2014, de 17 de junho de 2014, que declara certas catego-
de a dedução.
rias de auxílio compatíveis com o mercado interno, em aplica-
ção dos artigos 107.º e 108.º do Tratado (RGIC(3)).
REQUISITOS
Trata-se de um benefício fiscal que opera mediante dedução
à coleta de IRC e que não admite reporte para anos seguintes. As entidades beneficiárias devem preencher, cumulativa-
mente, as seguintes condições:
CONDIÇÕES SUBJETIVAS a) Sejam micro, pequenas e médias empresas (PME)(7);
O benefício fiscal DLRR constitui um regime de incentivos b) Disponham de contabilidade regularmente organizada,
fiscais ao investimento em favor de micro, pequenas e médias de acordo com a normalização contabilística e outras
empresas. disposições legais em vigor para o respetivo setor de ati-
vidade;
Podem beneficiar da DLRR os sujeitos passivos de IRC resi-
c) O seu lucro tributável não seja determinado por méto-
dentes em território português, bem como os sujeitos passivos
dos indiretos;
não residentes com estabelecimento estável neste território,
que exerçam, a título principal, uma atividade de natureza co- d) Tenham a situação fiscal e contributiva regularizada.
mercial, industrial ou agrícola. Não podem ainda beneficiar do benefício fiscal DLRR os su-
O benefício fiscal DLRR não é aplicável ao reinvestimento de jeitos passivos que: i) estejam sujeitos a uma injunção de recu-
lucros retidos nos setores da pesca, da aquicultura e da produ- peração na sequência de uma decisão da Comissão Europeia,
ção agrícola primária. ainda pendente, que declare um auxílio ilegal e incompatível
com mercado interno; ii) sejam consideradas empresas em di-
Condições subjetivas ficuldade nos termos do RGIC(8).
Micro, pequenas e médias empresas Genericamente, considera-se empresa em dificuldade, por
Com exceção das que exercem atividade nos setores da pesca, exemplo uma empresa que se encontre em situação de perda
da aquicultura e da produção agrícola primária de metade do capital(9); ou se for objeto, ou se reunir, os crité-
rios para ser submetida a um processo coletivo de insolvência;

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ou sempre que tenha recebido um auxílio de emergência e ain- ou impugnado judicialmente a dívida, desde que tenha sido
da não tiver reembolsado o empréstimo ou terminado a garan- prestada garantia idónea, ou dispensada a sua prestação, nos
tia, ou tiver recebido um auxílio à reestruturação e ainda esti- termos legalmente previstos.
ver sujeita a um plano de reestruturação.
O facto de determinado sujeito passivo se encontrar a regu-
O conceito de PME para efeitos de DLRR é aferido de acordo larizar dívidas à Segurança Social ou à AT, mediante planos de
com o anexo ao DL 372/2007. A categoria das PME é constituí- pagamento em prestações com dispensa de garantia, não o
da por empresas que empregam menos de 250 pessoas e cujo impede de usufruir do benefício fiscal(13).
volume de negócios anual não excede 50 milhões de euros ou
cujo balanço total anual não excede 43 milhões de euros. Há Condições objetivas
que também ter em atenção se a empresa em causa é detida • Sejam micro, pequenas e médias empresas, que não exerçam
ou detém outras empresas. Tratando-se de uma empresa que atividade nos setores da pesca, da aquicultura e da produção
tenha entidades parceiras e associadas, a determinação dos agrícola primária
resultados da empresa (cálculo dos efetivos e dos montantes
• Disponham de contabilidade regularmente organizada, de acor-
financeiros) é efetuada de forma agregada. Caso determinada do com a normalização contabilística vigente
sociedade não tenha solicitado a certificação junto do IAPMEI,
• O seu lucro tributável não seja determinado por métodos indi-
a qual constitui prova bastante da qualificação como PME, deve
retos
estar em condições de comprovar a mesma(10).
• Tenham a situação fiscal e contributiva regularizada
Requisito 1 Requisito 2 • Não estejam sujeitos a uma injunção de recuperação na se-
N.º de Volume de quência de uma decisão da Comissão Europeia, ainda penden-
Categoria Balanço te, que declare um auxílio ilegal e incompatível com mercado
trabalhadores negócios
interno
=< 2 Milhões =< 2 Milhões
Micro <10 • Não sejam consideradas empresas em dificuldade nos termos
euros euros
do RGIC
=< 10 Milhões =< 10 Milhões
Pequena <50
euros euros
O benefício fiscal DLRR não é aplicável ao reinvestimento de
=< 50 Milhões =< 43 Milhões lucros retidos nos setores da pesca, da aquicultura e da produ-
Média < 250
euros euros
ção agrícola primária, tal como estabelecido no RGIC(14).

A aferição da situação fiscal e contributiva é efetuada no Nos termos desta disposição comunitária, entende-se por
período de tributação em que o benefício fiscal é utilizado. «produção agrícola primária», a produção de produtos da terra
Como o benefício fiscal é utilizado no ano da retenção do lu- e da criação animal, enumerados no anexo I do Tratado, sem
cro e constituição da reserva é nesse ano que se deve verificar qualquer outra operação que altere a natureza de tais produ-
a regularidade da situação fiscal e contributiva, ainda que o tos. Exemplo de produtos que constam do Anexo I: animais vi-
investimento seja realizado nos anos seguintes, inclusive por- vos, carnes e miudezas comestíveis, peixes, crustáceos e mo-
que este benefício fiscal não permite reporte para anos se- luscos, leite e laticínios, ovos de aves, mel natural, plantas vivas
guintes. e produtos de floricultura, produtos hortícolas, plantas, raízes
e tubérculos alimentares, frutas, cascas de citrino e de melões,
Considera-se que o contribuinte tem a situação tributária café, chá e especiarias, cereais, sementes e frutos oleaginosos,
regularizada(11) quando não seja devedor de quaisquer impos- sementes e frutos diversos, plantas industriais e medicinais,
tos ou outras prestações tributárias e respetivos juros, bem palhas e forragens, entre outros.
como, caso o seja, esteja autorizado ao pagamento da dívida
em prestações, desde que exista garantia constituída (seja por
dispensa ou caducidade), nos termos legais. INVESTIMENTO INICIAL

Considera-se situação contributiva regularizada(12), para O benefício fiscal DLRR apenas é aplicável a investimentos
além da inexistência de dívidas de contribuições, quotizações, iniciais(15).
juros de mora e de outros valores do contribuinte: i) as situa- Considera-se investimento inicial, os investimentos relacio-
ções de dívida, cujo pagamento em prestações tenha sido au- nados com:
torizado e enquanto estiverem a ser cumpridas as condições
desta autorização, designadamente o pagamento da primeira – a criação de um novo estabelecimento;
prestação e a constituição de garantias, quando aplicável, ain- – o aumento da capacidade de um estabelecimento já exis-
da que o pagamento prestacional tenha sido autorizado a ter- tente. Quanto a esta tipologia não existe um indicador
ceiro ou a responsável subsidiário; ii) as situações em que o nem base de cálculo definidos, pelo que a empresa pode
contribuinte tenha reclamado, recorrido, deduzido oposição definir um indicador internamente (a título de exemplo,

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pode considerar a evolução do resultado operacional ou o O BENEFÍCIO FISCAL


montante das vendas);
Os sujeitos passivos podem deduzir à coleta do IRC até 10%
– a diversificação da produção de um estabelecimento no dos lucros retidos que sejam reinvestidos em aplicações rele-
que se refere a produtos não fabricados anteriormente vantes. O reinvestimento terá de ocorrer no prazo de quatro
nesse estabelecimento. Neste caso, as aplicações relevan- anos contado a partir do final do período de tributação a que
tes devem exceder em, pelo menos, 200% o valor líquido correspondam os lucros retidos. O montante máximo dos lu-
contabilístico dos ativos que são reutilizados, tal como re- cros retidos e reinvestidos, em cada período de tributação, é
gistado no período de tributação anterior ao do início da de € 12.000.000, por sujeito passivo. A dedução é feita até à
realização do investimento; concorrência de 50% da coleta do IRC no caso dos sujeitos pas-
– ou uma alteração fundamental do processo de produção sivos que sejam micro e pequenas empresas e até 25% da cole-
global de um estabelecimento existente. Neste caso, o ta do IRC no caso de médias empresas.
montante das aplicações relevantes deve exceder o mon-
Tal dedução abrange as situações em que durante o período
tante das amortizações e depreciações dos ativos associa-
de tributação se encontram reunidos os requisitos previstos na
dos à atividade a modernizar contabilizadas nos três pe-
legislação comercial para adiantamento por conta de lucros,
ríodos de tributação anteriores ao do início da realização
não podendo essa dedução ser superior àquela que seria obti-
do projeto de investimento.
da com base no lucro apurado no final desse período de tribu-
tação.
Investimento inicial:
• Criação de um novo estabelecimento Os lucros a reter no âmbito do benefício fiscal DLRR são
aqueles que poderiam ser distribuídos, isto é, depois de apura-
• Aumento da capacidade de um estabelecimento já existente
do o respetivo imposto sobre o rendimento.
• Diversificação da produção de um estabelecimento no que se
refere a produtos não fabricados anteriormente nesse estabe- Damos nota de que o benefício fiscal DLRR não utilizado no
lecimento ano, por insuficiência de coleta, não pode reportar para os
anos seguintes.
• Alteração fundamental do processo de produção global de um
estabelecimento existente

Vejamos os seguintes exemplos:


1) Determinado sujeito passivo irá proceder à aquisição de
novos equipamentos industriais no âmbito de uma altera-
ção fundamental ao processo de produção que ascendem
a € 500.000,00. Os equipamentos a substituir haviam sido
adquiridos por € 800.000,00, com um período de vida útil Face à dinâmica do benefício fiscal, importa analisar alguns
de 8 anos, pelo que nos últimos três anos o valor das de- exemplos que pretendem potenciar a sua utilização atendendo
preciações praticadas totalizou € 300.000,00. Neste caso, aos limites e regras a que é sujeito.
tais equipamentos configurar-se-iam como aplicações re-
levantes a título de alteração fundamental ao processo de Exemplos:
produção, pois o investimento efetuado de € 500.000,00 é
1) A sociedade GWK, uma pequena empresa, pretende reali-
superior ao valor das depreciações praticadas nos últi-
zar um grande investimento com o desenvolvimento de uma
mos três anos no equipamento a substituir.
nova linha de montagem nos próximos anos, que ascende a €
2) Determinado sujeito passivo no âmbito da diversifica- 650.000,00. Este ano apurou um resultado de € 500.000,00 e
ção da atividade de um estabelecimento existente irá uma coleta de € 300.000,00. Qual o valor do benefício fiscal
adquirir novos equipamentos cujo valor ascende a DLRR?
€ 400.000,00. Os equipamentos que vai realizar possuem
neste momento uma quantia escriturada de € 100.000,00 Vamos admitir que a entidade constitui uma reserva por lu-
(foram adquiridos por € 800.000,00 e acumulam um va- cros retidos no valor total do resultado, € 500.000,00.
lor de depreciações de € 700.000,00). Neste caso, tais Neste caso o benefício seria € 50.000,00 (€ 500.000,00 x 10%).
equipamentos configurar-se-iam como aplicações rele-
vantes a título de diversificação da atividade de um esta- Totalmente dedutível, uma vez que o limite da dedução à
belecimento existente, pois o investimento efetuado de coleta é de € € 150.000,00 (€ 300.000,00 x 50%).
€ 400.000,00 é superior em mais de 200% ao valor líqui- 2) Vamos agora admitir que a sociedade GWK apresenta
do contabilístico dos ativos que são reutilizados (que é uma coleta de € 80.000,00. Mantendo-se todos os demais ele-
atualmente de € 100.000,00). mentos. Qual o valor do benefício fiscal?

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Considerando a constituição da reserva por lucros retidos Empresa A: efeito do DLRR 10% x 2M€ = € 200.000,00
no valor total do resultado, € 500.000,00.
Empresa B: efeito do DLRR 12% x 2M€ = € 240.000,00
O benefício fiscal potencial seria € 50.000,00 (€ 500.000,00 x
Como nenhuma delas ultrapassa o limiar de dedução à cole-
10%).
ta (25% x 1M€ = € 250.000,00), a diferença no benefício fiscal
Contudo, esta pequena empresa tem como limite da dedu- entre uma e outra empresa atinge 20%.
ção 50% do valor da coleta, ou seja € 40.000,00 (€ 80.000,00 x
50%).
PRAZO PARA CONCRETIZAÇÃO DOS INVESTIMENTOS
Pelo que neste caso, poderia ponderar não constituir uma
Atualmente, o prazo para realização dos investimentos é nos
reserva de € 500.000,00, pois esta excede o limite do benefício
quatro anos seguintes àquele em que os lucros são retidos.
fiscal que poderia utilizar, mas sim de € 400.000,00, valor sufi-
ciente para esgotar o benefício fiscal. Ao longo dos anos já ocorreram várias alterações legislati-
vas a este respeito, assim como entendimentos a este respeito
3) A sociedade ADM, uma média empresa, pretende realizar
emitidos através de informações vinculativas.
investimentos nos próximos anos que ascendem a € 200.000,00.
Apresentou este ano um resultado de € 400.000,00 e apurou Resumimos no quadro seguinte os prazos possíveis.
uma coleta de € 160.000,00. Qual o valor do benefício fiscal
com a DLRR?   2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025

Se esta sociedade retivesse os € 400.000,00 do lucro com a 2014                        


constituição da respetiva reserva, o potencial benefício fiscal 2015                        
de € 40.000,00 (€ 400.000,00 x 10%) seria totalmente dedutível,
2016                        
uma vez que o limite da dedução à coleta era de € 40.000,00 (€
160.000,00 x 25%). 2017                        
2018                        
Contudo a sociedade não pretende fazer investimentos no
valor de € 400.000,00, mas sim no valor de € 200.000,00, pelo 2019                        
que neste caso haverá que equacionar todo o cenário. 2020                        
Se, efetivamente, os investimentos a realizar apenas serão 2021                        
no montante de € 200.000,00, então deve ser este o valor má-
ximo do lucro retido (da reserva), conseguindo assim um bene- Relativamente ao ano de 2014, em virtude da redação inicial
fício fiscal de € 20.000,00 (€ 200.000,00 x 10%), dentro do limite do artigo 66ºL do EBF, foi possível o investimento ser feito no
máximo da dedução à coleta. ano em que os lucros foram retidos e nos dois seguintes.
Nos anos de 2015 e 2016, a concretização do investimento
MAJORAÇÃO EM TERRITÓRIOS DO INTERIOR teria que ser realizada nos dois anos seguintes, assim em 2016/
2017 e 2017/ 2018, respetivamente, conforme a redação do ar-
As empresas que exerçam, diretamente e a título principal,
tigo 29º do CFI à data.
uma atividade económica de natureza agrícola, comercial, in-
dustrial ou de prestação de serviços em territórios do interior, No que se refere aos anos de 2017 e 2018, já foi possível a
tal como definido na Portaria n.º 208/2017, de 13 de julho, é utilização do novo prazo de investimento introduzido pela Lei
aplicável uma majoração de 20% à dedução máxima prevista n.º 2/2020, de 30 de março, quer pela interpretação resultante
no âmbito da DLRR, quando estejam em causa investimentos de um despacho vinculativo, quer por norma transitória previs-
elegíveis realizados nesses territórios do interior(16). ta na Lei OE2020(17).
Note-se que apenas as empresas que sejam elegíveis, isto é, Nos anos de 2020 e 2021 aplica-se a atual redação do artigo
que tenham direção efetiva em território do interior, não te- 29º CFI, que prevê os quatro anos para a concretização dos in-
nham salários em atraso, não tenham resultado de cisão nos vestimentos e utilização da reserva constituída.
dois anos anteriores e determinem o lucro através de métodos
O facto de o sujeito passivo possuir um período de tributa-
diretos ou do regime simplificado, beneficiam desta majora-
ção não coincidente com o ano civil não obsta à utilização do
ção.
benefício fiscal DLRR nos moldes gerais.
Vejamos o seguinte exemplo de aplicação da DLRR num ter-
ritório do interior. Para um valor de lucros retidos e reinvesti-
APLICAÇÕES RELEVANTES
dos de 2 milhões de euros e uma coleta de 1 milhão de euros.
Ambas médias empresas uma não se localiza no interior (em- Consideram-se aplicações relevantes(18) os ativos fixos tangí-
presa A), a outra localiza-se no interior (empresa B): veis, adquiridos em estado de novo, com exceção de:

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a) Terrenos, salvo no caso de se destinarem à exploração vés de despachos vinculativos(20) referindo que se considera
de concessões mineiras, águas minerais naturais e de que um ativo fixo tangível é considerado em “estado de novo”
nascente, pedreiras, barreiros e areeiros em projetos de se não integrou anteriormente o ativo não corrente da empre-
indústria extrativa; sa que pretende usufruir do benefício fiscal ou de qualquer ou-
b) Construção, aquisição, reparação e ampliação de quais- tra empresa. Refira-se que é a qualificação do próprio ativo que
quer edifícios, salvo quando afetos a atividades produti- releva e não o facto de estar ou não “devidamente” contabiliza-
vas ou administrativas; do como tal na esfera do anterior proprietário/ transmitente.
Ainda que o anterior proprietário fosse uma pessoa singular
c) Viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, salvo quando
que não possuísse contabilidade, o raciocínio não se alteraria,
afetas à exploração de serviço público de transportes ou
porque o que interessa é a qualificação do próprio ativo.
destinadas a serem alugadas no exercício da atividade
normal do sujeito passivo, barcos de recreio e aeronaves Os terrenos não são aplicações relevantes no âmbito do be-
de turismo; nefício fiscal DLRR(21), salvo no caso de se destinarem à explora-
d) Artigos de conforto ou decoração, salvo equipamento ção de concessões mineiras, águas minerais naturais e de nas-
hoteleiro afeto a exploração turística; cente, pedreiras, barreiros e areeiros em projetos de indústria
extrativa. Assim, na aquisição de um imóvel novo suscetível de
e) Ativos afetos a atividades no âmbito de acordos de con-
enquadramento no âmbito do benefício fiscal DLRR, não será
cessão ou de parceria público-privada celebrados com
considerada a parcela referente ao terreno onde o edifício está
entidades do setor público.
implantado. Caso a escritura de aquisição não determine o va-
Consideram-se ainda aplicações relevantes, para efeitos do lor do terreno deverá ser fixado 25% do valor total, tal como
presente regime, os ativos intangíveis, constituídos por despe- previsto nas normas contabilísticas e fiscais.
sas com transferência de tecnologia, nomeadamente através
Salientamos a relevância do registo contabilístico do ativo
da aquisição de direitos de patentes, licenças, know-how ou
adquirido, decorrente, naturalmente da sua função no âmbito
conhecimentos técnicos não protegidos por patente, desde
da entidade(22). Vejamos, um imóvel adquirido no estado de
que cumpridos cumulativamente os seguintes requisitos: i) es-
novo, para utilização numa atividade de prestação de serviços
tejam sujeitos a amortizações ou depreciações para efeitos fis-
de alojamento local, configura um ativo fixo tangível, e é assim
cais; ii) não sejam adquiridos a entidades com as quais existam
suscetível de utilização do benefício fiscal em análise. Já, este
relações especiais(19).
mesmo imóvel adquirido no estado de novo, que venha a ser
Os investimentos em curso realizados do período definido, utilizado na atividade de arrendamento, e, portanto, em ter-
configuram despesas elegíveis. mos contabilísticos registado como propriedade de investi-
mento, não será um ativo elegível no âmbito do DLRR(23).
Os adiantamentos, uma vez que se trata de um mero movi-
mento financeiro, não são elegíveis. Noutra situação, um imóvel adquirido no estado de usado
por determinada sociedade não configura uma despesa elegí-
Considera-se investimento realizado em aplicações relevan-
vel, porque, ainda que sendo um ativo fixo tangível, não está a
tes o correspondente às adições, verificadas em cada período
ser adquirido no estado de novo. Eventuais obras de remode-
de tributação, de ativos fixos tangíveis ou ativos intangíveis e
lação que sejam efetuadas neste imóvel, que reúnam as de-
bem assim o que, tendo a natureza de ativo fixo tangível e não
mais condições necessárias podem, ainda assim, configurar
dizendo respeito a adiantamentos, se traduza em adições aos
despesas elegíveis no âmbito do DLRR(24). Também as benfeito-
investimentos em curso. Para estes efeitos, não se consideram
rias realizadas em imóvel propriedade alheia, desde que reuni-
as adições de ativos que resultem de transferências de investi-
das as diversas condições necessárias para a sua elegibilidade,
mentos em curso.
podem configurar aplicações relevantes no âmbito da DLRR. O
O investimento na aquisição de equipamentos de substitui- facto de serem realizadas em imóvel que é de propriedade
ção não é um investimento elegível no âmbito da DLRR. Pois, alheia, por si só, não afasta tal possibilidade(25).
além de os investimentos terem que integrar o conceito de in-
No que se refere aos trabalhos para a própria empresa, por
vestimento inicial terão que se configurar como adições de ati-
exemplo, a construção de máquinas e equipamentos para se-
vos (e não meramente substituição dos existentes).
rem utilizados na atividade operacional da empresa, a classifi-
No caso de ativos adquiridos em regime de locação financei- car como itens do ativo fixo tangível, podem ser consideradas
ra, a dedução à coleta é condicionada ao exercício da opção de como investimento elegíveis, desde que respeitem a aquisi-
compra pelo sujeito passivo no prazo de sete anos contado da ções de materiais ou mão-de-obra a terceiros, titulados por fa-
data da aquisição. O valor do investimento, em nossa opinião, turas, para se poder considerar a realização de investimento
será o valor de aquisição do bem. dos lucros retidos. A dúvida surge relativamente à parte da
Embora a legislação base não contenham uma definição do mão-de-obra interna utilizada para a construção da máquina,
que se considera “estado de novo”, a AT já se pronunciou atra- que aparentemente, não se tratando de uma aquisição (mas

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sim gastos internos) pode não ser considerada como investi- sócios antes do fim do quinto exercício posterior ao da sua
mento elegível no âmbito da DLRR. Contudo, a este respeito, o constituição, sem prejuízo dos demais requisitos legais exigí-
Despacho de 2010-07-08 – Processo: 2010 001801, PIV n.º 819, veis.
parece trazer um diferente entendimento, ainda que no âmbi-
Lembramos que no preenchimento da IES, tal reserva deve
to do RFAI, determinando: “… a parcela de gastos suportados
constar do quadro 07 do Anexo A – “Aplicação dos resultados
em 2009 com o recurso à mão-de-obra da própria empresa
conforme deliberação que aprovou as contas do exercício/ pe-
com a instalação, adaptação e testes relativos ao imobilizado
ríodo”.
corpóreo adquirido (atual ativo fixo tangível) é indissociável do
«custo de aquisição», pelo que a quantia elegível para efeitos Os lucros a reter são os lucros apurados no próprio período
do RFAI 2009 deve ser a quantia total do «custo de aquisição», de tributação em que opera o benefício (por dedução à coleta
tal como vinha definido no POC e no diploma que regulamen- do IRC). Pelo que não podem ser retidos lucros apurados em
tava as reintegrações e amortizações, e não apenas o preço de anos anteriores (que constam de resultados transitados ou ou-
compra…”. tras reservas)(27). Se o legislador pretendesse que tal reserva
fosse constituída por resultados transitados “relativos a perío-
O Código Fiscal do Investimento prevê que os ativos fixos
dos de tributação anteriores” (ou até mesmo por reservas), tê-
tangíveis afetos a atividades no âmbito de acordos de conces-
-lo-ia acautelado expressamente na letra da lei.
são ou de parceria público-privada celebrados com entidades
do setor público são excecionados dos elegíveis para efeitos de
DLRR. Assim, por exemplo, os investimentos realizados com a
aquisição de parquímetros, para exploração de estacionamen-
tos, no âmbito de concessões celebradas com os municípios,
não são despesas elegíveis.
Não se consideram aplicações relevantes os artigos de con- A constituição da reserva irá ocorrer mediante uma delibe-
forto ou decoração, salvo equipamento hoteleiro afeto a explo- ração dos sócios em Assembleia Geral da sociedade. Essa deli-
ração turística. Contudo, considera-se que a aquisição de mo- beração pode ser tomada na Assembleia Geral ordinária, con-
biliário no âmbito da atividade de um lar de idosos, serão itens vocada para efetuar a aprovação e aplicação dos resultados do
elegíveis para efeitos de DLRR, uma vez que configuram equi- período, que normalmente é realizada até final de março do
pamento básico necessário ao desenvolvimento desta ativida- ano seguinte ao período a que os lucros obtidos respeitam(28).
de(26).
Muitas vezes se confunde o valor da reserva a constituir
Também não é elegível a aquisição de viaturas ligeiras de com o valor do benefício fiscal. Esclareça-se que a reserva cor-
passageiros ou mistas, salvo quando afetas à exploração de responde ao valor do lucro que é retido na empresa para futu-
serviço público de transportes ou destinadas a serem alugadas ros investimentos. O potencial benefício fiscal é de 10% do va-
no exercício da atividade normal do sujeito passivo, barcos de lor da reserva (com as limitações já referidas).
recreio e aeronaves de turismo. Assim, por exemplo, a aquisi-
ção de um táxi novo, ainda que viatura ligeira de passageiros,
PERÍODO MÍNIMO DE DETENÇÃO DAS DESPESAS ELE-
será elegível no âmbito do DLRR, uma vez que a sua exploração
GÍVEIS
constitui a atividade normal do sujeito passivo.
As aplicações relevantes em que seja concretizado o rein-
Um sujeito passivo que exerça exclusivamente uma ativida-
vestimento dos lucros retidos devem ser detidas e contabiliza-
de isenta de IVA, que está impedido do exercício do direito à
das de acordo com as regras que determinaram a sua elegibili-
dedução do IVA suportado, e como tal, este imposto (IVA não
dade, por um período mínimo de cinco anos.
dedutível) integra o custo de aquisição do ativo, deve conside-
rar o valor total como despesa elegível. Quando ocorra a transmissão onerosa dos ativos em que
seja concretizado o reinvestimento dos lucros retidos antes de
Não obstante, tudo o referido acerca de aplicações relevan-
decorrido o prazo previsto, o sujeito passivo deve reinvestir, no
tes no âmbito do DLRR, é de salientar que qualquer investi-
mesmo período de tributação ou no período de tributação se-
mento realizado só será elegível desde que realizado no âmbi-
guinte, o respetivo valor de realização em aplicações relevan-
to de um investimento inicial.
tes, os quais devem ser detidos, pelo menos, pelo período ne-
cessário para completar aquele prazo.
A RESERVA RELATIVA AOS LUCROS RETIDOS
Coloca-se a questão sobre se estivermos perante um item
Os sujeitos passivos que beneficiem da DLRR devem proce- do ativo fixo tangível cujo período de vida útil é inferior a cinco
der à constituição, no balanço, de uma reserva especial corres- anos, uma vez que o período de detenção necessário é de cinco
pondente ao montante dos lucros retidos e reinvestidos. Esta anos. A legislação referente à DLRR fixa o prazo de cinco anos
reserva especial não pode ser utilizada para distribuição aos sem prever qualquer outra possibilidade. Ao contrário do CFEI

ABR/JUN 2022 61
FISCALIDADE

II, por exemplo, em que está prevista a possibilidade de deten- metemos também, em termos práticos para a organização do
ção dos itens por um período inferior a cinco anos quando seja quadro 10 da modelo 22, que aplica a orientação resultante do
este o determinado pelo Regime das depreciações e amortiza- n.º 2 do artigo 90º do Código do IRC. Este benefício fiscal (DLRR)
ções, ou quando ocorre o abate físico, desmantelamento, opera por dedução à coleta de IRC, devendo ser incluído no
abandono ou inutilização de acordo com o previsto no artigo campo 355 do quadro 10 da folha da Modelo 22. No entanto, as
31ºB do Código do IRC. Desconhece-se a existência de qual- deduções a efetuar terão de obedecer à hierarquia estipulada
quer entendimento emitido pela AT a este respeito, contudo o no Código do IRC, que é refletida na forma como estão organi-
procedimento previsto no âmbito do CFEI II é muito mais ade- zados os campos da declaração de rendimentos modelo 22.
quado à realidade das situações. Assim, a dedução dos benefícios fiscais que operem por dedu-
ção à coleta terá de ser efetuada antes da dedução do paga-
OUTRAS INFORMAÇÕES mento especial por conta (campo 356).

Caso o sujeito passivo esteja enquadrado no regime espe-


CUMULATIVIDADE E LIMITAÇÕES
cial de tributação de grupos de sociedades (RETGS) e proceda à
retenção do lucro e respetiva constituição da reserva para efei- O benefício fiscal DLRR não fica abrangido pela limitação ao
tos do benefício fiscal DLRR, então importa referir que a dedu- resultado da liquidação. De acordo com o disposto na alínea f)
ção à coleta efetua-se ao montante apurado nos termos da do n.º 2 do artigo 92.º do Código do IRC, a limitação prevista no
alínea a) do n.º 1 do artigo 90.º do Código do IRC, com base na n.º 1 do mesmo artigo, não se aplica ao DLRR.
matéria coletável do grupo, é feita até 25% do montante e não
Em termos gerais, um determinado benefício fiscal ao inves-
pode ultrapassar, em relação a cada sociedade e por cada pe-
timento não é cumulável com quaisquer outros benefícios fis-
ríodo de tributação, o limite de 25% da coleta que seria apura-
cais da mesma natureza, relativamente às mesmas aplicações
da pela sociedade que realizou as aplicações relevantes caso
relevantes, contudo existe uma exceção para a DLRR e RFAI. O
não se aplicasse o regime especial de tributação de grupos de
Código Fiscal ao Investimento permite que o RFAI seja cumulá-
sociedades.
vel com a DLRR(29), desde, e na medida em que, não sejam ultra-
Aos sujeitos passivos que se reorganizem, em resultado de passados os limites máximos aplicáveis aos auxílios com finali-
quaisquer operações previstas no artigo 73.º do Código do IRC, dade regional em vigor na região na qual o investimento é
reestruturações por fusões, cisões, entradas de ativos e per- efetuado, sendo que, no cálculo desse limite deve ter em con-
mutas de partes sociais, aplica-se o disposto no n.º 3 do artigo sideração o montante total dos auxílios de Estado com finalida-
15.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais, aprovado em anexo ao de regional concedidos ao investimento em questão, prove-
Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de julho, que determina: “… é igual- niente de todas as fontes.
mente transmissível inter vivos, mediante autorização do Mi-
Apesar da DLRR não ter, propriamente, as características de
nistro das Finanças, o direito aos benefícios fiscais concedidos,
um auxílio com finalidade regional, como acontece com o regi-
por ato ou contrato fiscal, a pessoas singulares ou coletivas,
me de benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo
desde que no transmissário se verifiquem os pressupostos do
e o RFAI, certo é que a sua cumulação com estes benefícios a
benefício e fique assegurada a tutela dos interesses públicos
sujeita à limitação prevista para os limites máximos aplicáveis
com ele prosseguidos…”.
aos auxílios estatais com finalidade regional(30).
Inclusive, refere o nº 1 do artigo 75º-A do Código do IRC, que
Surge muitas vezes a dúvida sobre se um mesmo investi-
os benefícios fiscais das sociedades fundidas são transmitidos
mento pode beneficiar da DLRR e ser objeto de um apoio a fun-
para a sociedade beneficiária, desde que nesta se verifiquem
do perdido(31). Ora, considerando que o apoio a fundo perdido
os respetivos pressupostos e seja aplicado o regime especial
é um incentivo financeiro e não um benefício fiscal, tal situação
estabelecido no artigo 74.º do Código do IRC.
é possível. Contudo, devemos atender que, caso os investimen-
No que se refere ao cálculo do pagamento por conta por um tos beneficiem de outros auxílios de Estado, o cálculo do limite
sujeito passivo que utilizou o benefício fiscal DLRR referimos aí referido deve ter em consideração o montante total dos au-
que sendo o pagamento por conta calculado com base na cole- xílios de Estado concedidos ao investimento em questão, pro-
ta (campo 351 do quadro 10 da modelo 22), a dedução do refe- veniente de todas as fontes.
rido benefício fiscal à coleta (campo 355 do quadro 10 da mo-
Vejamos o seguinte exemplo para efeitos de cálculo do limi-
delo 22) não será considerada aquando do cálculo do
te máximo aplicável aos auxílios com finalidade regional. Va-
pagamento por conta. Ou seja, a utilização do benefício fiscal
mos considerar uma média empresa localizada na região cen-
DLRR num determinado ano não terá efeito no cálculo do pa-
tro que utiliza o RFAI, a DLRR e obteve uma comparticipação do
gamento por conta no ano seguinte.
“Portugal 2020”, cujo investimento ascende a € 2.500.000,00.
Por sua vez, no que se refere à hierarquia na dedução à co- É-lhe aplicável uma taxa máxima de auxílio de 25%, a qual be-
leta quando exista a possibilidade de, além do benefício fiscal neficia de uma majoração de 10 pontos percentuais pelo facto
deduzir o valor referente ao pagamento especial por conta, re- de ser uma média empresa. Esta taxa é apurada através do

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FISCALIDADE

quociente entre os benefícios usufruídos e o investimento ele- apurada por aplicação da taxa de IRC, acrescida de eventuais
gível. Assim, no numerador da fração deve colocar-se o valor tributações autónomas e derrama e abatida das deduções à
do RFAI, da DLRR e a comparticipação do “Portugal 2020”. No coleta, nesta última se inclui o benefício fiscal com a DLRR.
denominador constará o investimento elegível, ou seja, o valor
de € 2.500.000,00. Caso a percentagem obtida exceda os 35%,
deve corrigir o excedente dos benefícios na declaração modelo
22 de IRC, utilizando para o efeito o campo 372 do Quadro 10.
Deve ser considerado parte de um projeto de investimento
único(32) qualquer investimento inicial iniciado pelo mesmo be-
neficiário, incluindo qualquer empresa do mesmo grupo, num
período de três anos a contar da data de início dos trabalhos
de um outro investimento relativamente ao qual tenham sido
concedidos benefícios fiscais, ou qualquer outro auxílio de Es- No caso do benefício fiscal DLRR, não há lugar ao registo de
tado com finalidade regional na mesma região de nível 3 da impostos diferidos, pois, este benefício não permite o reporte
Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos para os anos seguintes.
(NUTS). Ao contrário, entende-se que um investimento único se Surge muitas vezes a questão de como corrigir a estimativa
caracteriza pelo seu carácter de continuidade, ou seja, investi- de IRC, quando nesta não foi devidamente acautelada a dedu-
mentos sucessivos efetuados no âmbito de um projeto comum, ção com o benefício fiscal. Ora, no ano seguinte haverá que
caso contrário, qualificar-se-á como investimento distinto(33). corrigir o excesso de estimativa que ocorrerá por débito da
No que se refere a uma eventual cumulatividade entre o be- 241x – Estimativa de IRC por contrapartida a crédito da 7882 –
nefício fiscal DLRR e a Remuneração Convencional do Capital Excesso da estimativa para impostos.
Social (RCCS), referimos que tal não é possível para o mesmo No que se refere ao registo contabilístico da reserva especial,
resultado(34). Desde logo, no âmbito do benefício fiscal DLRR com base na ata da Assembleia-Geral de Sócios para delibera-
impõe-se a criação de uma reserva especial, não sendo acaute- ção da aprovação e aplicação de resultados, onde se deliberou
lada a possibilidade desta ser utilizada para aumento de capi- sobre a constituição de tal reserva, o registo contabilístico a efe-
tal. Assim, consideramos que no mesmo ano o sujeito passivo tuar será a débito da 56 – Resultados Transitados, por contra-
pode acumular os benefícios fiscais DLRR e RCCS desde que partida a crédito da conta 55x – Reserva Especial da DLRR, pelo
disponha de diferentes parcelas do resultado para cada um respetivo montante do lucro retido e investimento a realizar(36).
dos benefícios. Sendo que o mesmo resultado não pode ser
utilizado simultaneamente para a criação de reserva especial
no âmbito do DLRR e aumento de capital para efeitos de RCCS.
Destaca-se também a impossibilidade de acumulação entre
o DLRR e o SIFIDE ou CFEI II(35) para as mesmas aplicações rele-
vantes. No entanto, a possibilidade de acumulação pode ocor-
rer num mesmo período de tributação desde que estejam em
causa investimentos diferentes.
Para finalizar o capítulo da cumulatividade e limitações, refe-
rir que o regime do reinvestimento não se considera um bene- Findo o prazo de cinco anos em que se deve manter a reser-
fício fiscal, pelo que não existe qualquer restrição, sendo possí- va, esta poderá ser transferida para Resultados transitados
vel, que determinado sujeito passivo tendo visto a sua mediante deliberação dos sócios nesse sentido.
mais-valia (obtida pela realização de um item do ativo fixo tan-
gível) ser tributada em apenas 50% em virtude do regime do OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS
reinvestimento, utilize este mesmo ativo (onde foi concretizado
o reinvestimento) como despesa elegível no âmbito do DLRR. O benefício fiscal DLRR, como já se referiu, é um benefício
fiscal que opera por dedução à coleta do IRC, pelo que, no
preenchimento da modelo 22 este deve ser inscrito no campo
TRATAMENTO CONTABILÍSTICO DO BENEFÍCIO FIS-
355 do quadro 10 e no campo 727 do quadro 075 do Anexo D,
CAL DLRR
pode ainda haver lugar ao preenchimento do quadro 078-A do
Não existe um lançamento contabilístico específico para o Anexo D consoante ocorra a utilização de outros benefícios fis-
benefício fiscal, este é evidenciado na contabilidade através do cais. No preenchimento do quadro 07 do Anexo A da IES/ DA
lançamento da estimativa de imposto (débito 8121 – Imposto deve ser dado conhecimento da constituição da reserva criada
estimado para o período; crédito 241x – Estimativa de IRC). para efeitos de DLRR, com o preenchimento do campo A0805,
Aquando do cálculo da estimativa de IRC, este resulta da coleta no ano em que tal ocorre.

ABR/JUN 2022 63
FISCALIDADE

OBRIGAÇÕES CONTABILÍSTICAS E AO NÍVEL DO DOS- butária e Aduaneira; e outros elementos que sejam consi-
SIER FISCAL derados pertinentes.
A contabilidade dos sujeitos passivos de IRC beneficiários da
DLRR deve evidenciar o imposto que deixe de ser pago em re- PENALIZAÇÕES POR INCUMPRIMENTO DAS CONDI-
sultado da dedução, mediante menção do valor corresponden- ÇÕES DO BENEFÍCIO FISCAL DLRR
te no anexo às demonstrações financeiras relativas ao exercí-
Configuram-se como incumprimento das condições da DLRR
cio em que se efetua a dedução.
as seguintes situações:
A dedução à coleta com DLRR é justificada por documento a
– A não concretização da totalidade do investimento até ao
integrar no processo de documentação fiscal(37), que identifi-
termo do prazo de quatro;
que discriminadamente o montante dos lucros retidos e rein-
– Não exercer a opção de compra no caso da locação finan-
vestidos, as aplicações relevantes objeto de reinvestimento, o
ceira no prazo de sete anos contado da data de aquisição;
respetivo montante e outros elementos considerados relevan-
tes. Ou seja, deverá ser constituído o dossier do próprio bene- – Caso os itens adquiridos a título de aplicações relevantes
fício fiscal a integrar no dossier fiscal do sujeito passivo. sejam alienados antes de decorrido o prazo mínimo de de-
tenção de cinco anos, sem que sejam adquiridos novos
Sugere-se que os sujeitos passivos incluam no processo de itens;
documentação fiscal os seguintes elementos:
– A não constituição da reserva especial;
– Indicação do valor da reserva especial correspondente ao – Distribuição da reserva aos sócios antes do fim do quinto
montante dos lucros retidos e que têm de ser reinvestidos exercício posterior ao da sua constituição.
em aplicações relevantes, juntando cópia da ata da Assem-
bleia Geral em que a reserva foi constituída e seu reconhe- Em qualquer destas situações deve ser adicionado o mon-
cimento contabilístico; tante de imposto que deixou de ser pago acrescido dos corres-
pondentes juros compensatórios majorados em 15 pontos per-
– Cálculo do benefício fiscal relativo à DLRR, identificando,
centuais.
assim, o montante de imposto que deixou de ser pago em
virtude da utilização deste benefício; Vejamos o seguinte exemplo, imagine que beneficiou de
– Descrição do “investimento inicial”, indicando designada- uma dedução à coleta de € 10.000,00 a título de DLRR no ano
mente os objetivos, áreas de intervenção e os principais de 2020, sendo que procedeu à venda dos equipamentos no
investimentos, bem como o respetivo enquadramento ano seguinte. Como deve proceder?
numa das tipologias previstas; Considerando que a correção é realizada precisamente com
– Identificação da data e custo de aquisição de todas as apli- a diferença de 365 dias, seria:
cações relevantes, bem como listagem das faturas que ti-
tulem a respetiva aquisição; Benefício fiscal: € 10.000,00

– Identificação de outros auxílios de Estado concedidos ao Juros compensatórios: € 10.000,00 x 19% x 365/365
mesmo investimento (se aplicável)(38); Preenchimento da modelo 22 do ano de 2021, no quadro 10:
–D
 eterminação da intensidade dos auxílios concedidos ao Campo 372 (Reposição de benefícios fiscais): € 10.000,00
mesmo investimento (se aplicável), em percentagem, re- Campo 366 (Juros compensatórios): € 1.900,00
sultante do quociente entre o montante total dos auxílios
de Estado e o montante das aplicações relevantes; Os juros compensatórios visam ressarcir o Estado pelo atraso
– Cálculo do limite máximo de auxílio, de acordo com o dis- na cobrança do imposto em razão do incumprimento do sujeito
posto no artigo 43.º do CFI (se aplicável), tendo em conta o passivo, contando-se dia a dia desde o termo do prazo de apre-
disposto no artigo 31.º do CFI (possibilidade de acumular sentação da declaração ou do dia imediato ao termo do prazo
com RFAI e com benefícios contratuais) e no artigo 10.º da de pagamento até ao termo do prazo para a entrega da declara-
Portaria n.º 297/2015, de 21 de setembro, e apuramento, ção de rendimentos ou da sua autoliquidação, se anterior(39).
quando aplicável, do excesso entre o limite máximo de au- A taxa dos juros compensatórios corresponde à taxa dos ju-
xílio e o montante dos auxílios de Estado concedidos ao ros legais(40) em vigor à data em que se tiver iniciado o retarda-
mesmo investimento. mento da liquidação ou do pagamento do IRC(41). Atualmente a
– Outras informações relevantes, nomeadamente, compro- taxa de juros legais é de 4%/ ano, conforme a Portaria n.º
vativo de qualificação como sendo micro, pequena e mé- 291/2003, de 8 de abril.
dia empresa, tal como definido na Recomendação n.º No caso em concreto, à taxa de quatro por cento acrescem-
2003/361/CE, da Comissão, de 6 de maio de 2003; certi- -se 15 pontos percentuais, perfazendo uma taxa anual de 19
dões de não dívida à Segurança Social e à Autoridade Tri- por cento.

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A fórmula para cálculo dos juros compensatórios é: imposto  Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 162/2004, de 31 de outubro
(1)

x taxa de juros compensatórios x n.º dias/365).  Refira-se que inicialmente este benefício fiscal esteve previsto nos artigos 66ºC
(2)

a 66ºL do Estatutos dos Benefícios Fiscais que haviam sido aditados pelo artigo
O número de dias é determinado desde o fim do prazo de 208º da Lei n.º 83ºC/2013, de 31 de dezembro
apresentação da declaração do ano em que utilizou o benefício  Regulamento Geral de Isenção por Categoria
(3)

fiscal até à data em que a falta que originou o atraso da liquida-  Ver a este respeito o Despacho de 2019-12-06 – Processo: 2019 001072, PIV
(4)

n.º 15282
ção for suprida, ou seja, a data da autoliquidação do IRC do
(5)
 Neste caso, o benefício fiscal deve ser incluído no campo G05 do quadro 032
período em que procede à correção. do Anexo G da IES a entregar pela sociedade e no campo 902 do quadro 6 do
Anexo D da Modelo 3 a entregar por cada sócio, quando pessoa singular
E se proceder à entrega de uma declaração de substituição
 N.º 8 do artigo 90º do Código do IRC
(6)

antes do final dos prazos de incumprimento? O Código do IRC


 Tal como definidas na Recomendação n.º 2003/361/CE, da Comissão, de 6 de
(7)

prevê prazos e condições de entrega de declarações de subs- maio de 2003, transposta para a nossa legislação pelo Decreto-Lei n.º 372/2007,
tituição, pelo que admitimos que, tendo sido utilizado o bene- de 6 de novembro

fício com a DLRR e se saiba antecipadamente (antes de decor-  Nos termos do parágrafo 18 do artigo 2.º do RGIC
(8)

 Nos termos previstos nas alíneas a) e b) do artigo 2º do parágrafo 18 do RGIC


(9)
ridos os prazos das situações de incumprimento) da impos-
(10)
 A este respeito ver Despacho de 16/9/2014 ao Processo n.º 683/2014
sibilidade de o manter, poderá proceder à substituição da (11)
 Artigo 177.º-A do Código do Procedimento e Processo Tributário (CPPT)
modelo 22. Desta forma, estaremos perante a entrega de
 Artigo 208º do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de
(12)

uma declaração fora de prazo sujeita à respetiva contraorde- Segurança Social


nação e juros compensatórios, mas não serão assim aplicadas (13)
 Ver Despacho de 2018-02-05 – Processo: 2017 003943
as penalizações previstas no âmbito da DLRR. Desconhece-  Despacho de 2020-08-05 – Processo: 2020 002028, PIV 17587, Despacho de
(14)

mos a existência de entendimentos da Autoridade Tributária 2020-09-01 – Processo: 2020000014, PIV n.º 16881, Despacho de 2020-09-21 –
Processo: 2020 002724, PIV 17832 e Despacho de 2020-09-30 – Processo: 2020
a este respeito. 003259, PIV 18042
(15)
 Conforme previsto no artigo 11º da Portaria n.º 297/2015, de 21 de setembro
Por último apenas referir que, consideramos que ocorrendo (16)
 Esta majoração apenas é aplicável a partir de 2019
a cessação de atividade antes de verificadas as diversas condi- (17)
 Despacho de 2020-08-31 Processo: 2020 002726, PIV 17870
ções necessárias para utilização do benefício, nomeadamente
 Sugere-se leitura Despacho de 2018-10-29 – Processo: 2018 001593, PIV
(18)

os prazos previstos ao nível dos incumprimentos, tais penaliza- 13746


ções poderão ser aplicadas. Também neste caso, se desconhe- (19)
 Nos termos do n.º 4 do artigo 63.º do Código do IRC
ce qualquer entendimento emitido pela Autoridade Tributária (20)
 Despacho de 2021-03-05 – Processo: 2021 000036, PIV n.º 19533
a este respeito. (21)
 Despacho de 2020-09-30 – Processo: 2020 003259, PIV 18042
(22)
 Despacho de 2019-02-08 – Processo: 2018 4769 – PIV 14797
(23)
 Despacho de 2018-11-27 – Processo: 2018 004093
HIERARQUIA NA UTILIZAÇÃO DOS DIVERSOS BENEFÍ-  Despacho de 2021-03-05 – Processo: 2021 000036, PIV n.º 19533, Despacho
(24)

CIOS FISCAIS de 2021-01-19 – Processo: 2020 004566, PIV 18720 e Despacho de 2018-11-27
– Processo: 2018 004093
Relativamente à hierarquização da dedução à coleta dos vá- (25)
 Ainda que emitido relativamente ao CFEI II, o raciocínio também se aplica no
rios benefícios fiscais, nos períodos em que o sujeito passivo âmbito do DLRR – Despacho de 2021-05-13 – Processo: 2021 814 – PIV 19647
tenha direito a deduzi-los em simultâneo, a legislação fiscal,
(26)
 Despacho de 2020-04-07 – Processo: 2020 000145
(27)
 Despacho de 2020-03-17 – Processo: 2020 000573, PIV 17071
nomeadamente o artigo 90º do CIRC (ou qualquer outra legisla-
(28)
 Conforme o nº 5 do artigo 65º do Código das Sociedades Comerciais
ção complementar), é omissa nesse procedimento, não estan-
(29)
 Despacho de 2019-02-20 – Processo: 2018 001499
do definido um tratamento específico. (30)
 Despacho de 2021-06-02 – Processo: 2021 000873, PIV 20123
No entanto, a Autoridade Tributária já veio dar um entendi- (31)
 Despacho de 2020-08-05 – Processo: 2020 002028, PIV 17587
mento sobre esse tema, considerando que quanto à operacio- (32)
 Alínea a) do n.º 1 do artigo 4º da Portaria n.º 297/2015, de 21 de setembro
nalidade dos benefícios que operam por dedução à coleta(42), a  Despacho de 2017-07-04 Processo: 2016 000717 e Despacho de 2020-08-31
(33)

Processo: 2019 004225, PIV n.º 16403


dedução pode ser feita em função da antiguidade do nasci- (34)
 Despacho de 2019-07-31 – Processo: 2019 002008, PIV n.º 15692
mento do direito aos benefícios, sendo que, quando tenham (35)
 Despacho de 2021-03-05 – Processo: 2021 000036, PIV n.º 19533
origem no mesmo período de tributação, mostra-se razoável  Lembramos que o resultado já se encontra na 56 – Resultados Transitados,
(36)

que se possa deduzir, em primeiro lugar, o benefício que não é pois o primeiro lançamento contabilístico do ano é a transferência da conta 818
reportável e/ou a parcela do benefício cujo período de dedu- – Resultado Líquido do Período por contrapartida a crédito da 56 – Resultados
Transitados
ção é mais curto. Se existisse mais do que um benefício no (37)
 A que se refere o artigo 130.º do Código do IRC
mesmo período de tributação com diferentes limites máximos  Tendo em conta o disposto no artigo 31.º do CFI e no artigo 10.º da Portaria n.º
(38)

de dedução, aplicar-se-ia a regra da proporcionalidade sobre 297/2015, de 21 de setembro


esses benefícios. (39)
 Conforme os números 2 e 3 do artigo 102º do Código do IRC e artigo 35.º da
Lei Geral Tributária (LGT)
(40)
 Prevista no n.º 1 do artigo 559º do Código Civil
(41)
 Conforme o n.º 10 do artigo 35º da LGT
(42)
 Despacho de 2019-07-31 – Processo: 2019 001093, PIV n.º 15306

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