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Tradução: Brynne

Revisão: Yardeen
Formatação: Addicted’s Traduções

Setembro 2019
Sinopse

É preciso um monstro para destruir um monstro.

Meus inimigos tomaram Celeste. Raptaram-na para torturá-la e


matá-la.

Não vou parar de procurá-la. Não desistirei dela. Destruirei


qualquer pessoa e tudo o que estiver no meu caminho e o castigo
para quem a tomou será brutal e impiedoso.

Seu lugar é comigo.

Ela pertence à mim.

Nunca a deixarei ir.

Nunca.

AVISO: Este livro contém situações muito perturbadoras, linguagem


forte e violência gráfica.

Ordem de leitura: 
Cold Hearts ( Heartbreaker prequel)
Bleeding Hearts (Heartbreaker livro 1)
Broken Hearts (Heartbreaker livro 2)

Black Hearts (Heartbreaker livro 3)


1
Alex

Andando de um lado para o outro pela sala, fiquei de olho no relógio


preto e branco, que pendia para a direita, desejando que as mãos
congelassem, querendo que o tempo parasse por um tempo. Só para mim.
Mas eles continuaram passando, os minutos se arrastando, infinitamente
zombando de mim, em sua passagem.
Doze horas. Isso é quanto tempo se passou, desde que perdi Celeste.
Doze longas e agonizantes horas, sem saber se ela está bem, mas
sabendo, com certeza, que está com sérios problemas.
Sentei-me no final da cama, colocando a cabeça em minhas mãos.
Pensamentos negros e emoções pesadas estavam correndo pela minha
mente, fraturados e confusos, espiralando juntos em uma dança sombria.
Fora de controle. Assim como a minha merda de vida.
Eu, geralmente, estava firmemente no controle, mas em algum lugar, ao
longo da linha, perdi todos os remanescentes e cada fragmento de
autorrespeito tinha ido embora também. Foi culpa minha. Tudo culpa
minha porra. Culpa martelava, constantemente, em meu cérebro, fazendo
minhas entranhas se contorcerem e a cabeça latejar.
Eu não precisaria ter ido trabalhar ontem, não deveria ter deixado
Celeste sozinha. Deveria ter-me desligado do hospital, no segundo em que
a levei, para que pudesse passar cada momento cuidando dela e a
mantendo segura, enquanto nós, lentamente, trabalhamos na eliminação
do Círculo.
Mas fui arrogante, cheio de orgulho. Pensei que poderia fazer tudo, tê-
la, ter meu emprego e lidar com todas as minhas outras coisas ao mesmo
tempo. Pensei que a criação de todas as medidas de segurança em torno
da localização relativamente rural, garantiria que tudo corresse bem e
preservaria sua segurança, mesmo quando eu estava a quilômetros e
quilômetros de distância.
Não foi nada além de um efeito placebo, fazendo com que eu me
sentisse bem com isso, quando, na verdade, não consegui fazer nada, pois,
quando ouvi os alarmes dispararem, Celeste já estava com problemas. Eu
estava a trinta milhas de distância, quando aqueles homens invadiram e
ainda quinze milhas, quando ela entrou no carro e saiu com eles.
Porra minha culpa. Deixei-a escorregar pelos meus dedos.
Depois de passar por todas as possibilidades, tive uma boa ideia de
quem a pegou. Havia três perspectivas principais para quem poderia
rastreá-la e levá-la com eles, seus amigos, policiais ou o Círculo.
Eliminei seus amigos logo de cara. De observá-la todos esses anos, sabia
que ela preferia manter amigas e não homens e as duas pessoas que vi na
filmagem de segurança eram, certamente, homens. Além disso, as amigas
dela não teriam enviado algum tipo de unidade de elite com quatro carros
pretos, para tentar me pegar, quando eu chegasse em casa e,
definitivamente, havia tantos carros em volta da propriedade,
perseguindo-me ao redor das estradas secundárias escuras, que foi difícil
despistá-los. Para acrescentar a isso, mesmo que seus amigos a tenham
rastreado, eles teriam informado a polícia, em vez de tentarem lidar com
isso sozinhos.
Então, isso nos levou à segunda possibilidade, os policiais ou até
mesmo o FBI. Percebi que essa era a opção mais provável no começo, por
três razões principais. Um, os caras que levaram Celeste pareciam
policiais. Mesmo que as imagens fossem granuladas e eu não conseguisse
distinguir seus rostos, adequadamente, a maneira como estavam vestidos
e o modo como se comportavam fazia com que parecessem oficiais.
Dois, fazia sentido que policiais estivessem procurando por Celeste, ou
por mim. Ela era uma pessoa desaparecida e eu também achei que eles
poderiam, finalmente, encontrar algumas evidências que me ligassem a
todos os assassinatos do Círculo. Talvez eu não tenha tido o cuidado
suficiente, quando larguei o último corpo; talvez eu estivesse distraído
demais, com pensamentos sobre Celeste. Eu poderia ter deixado
acidentalmente uma impressão, ou sido avistado por alguém, mesmo
sabendo que tinha sido tão vigilante e cauteloso como de costume. Se esse
fosse o caso e eles suspeitassem de mim, é claro que invadiriam minhas
propriedades.
Em terceiro lugar, havia a placa dos homens. Era difícil distinguir nas
filmagens, mas se eu parasse no segundo exato, podia ver parte dele,
quando eles saíram do quadro, com Celeste nos fundos. Era uma placa do
governo, o que, provavelmente, significava polícia ou FBI.
No entanto, acabei derrubando isso como possibilidade também. Se a
polícia realmente pensasse que eu era suspeito de algo importante, como
os malditos assassinatos do Heartbreaker, já teriam me prendido. Eles
teriam vindo ao hospital ontem e me tirariam da maldita cirurgia, para ler
os meus direitos e me conter e como eu não estava lá, sairia em todos os
noticiários como uma caçada em curso. Meu nome e foto seriam
espalhados por toda parte, TV, rádio, jornais.
Mas não foi. Quando liguei o rádio mais cedo, para ouvir as últimas
atualizações do crime, tudo o que ouvi foi algo sobre uma invasão em
casa, em East Liberty e um tiro duplo em Homewood, antes do repórter
falar sobre o clima. Não houve aviso ao público sobre qualquer tipo de
caçada.
Além disso, quando liguei para o hospital uma hora atrás, para
informá-los que precisava tirar uma licença de emergência, devido a
algumas "complicações familiares", a mulher do RH, com quem falei,
parecia calma e relaxada, talvez um pouco cansada, por causa do plantão.
Certamente não foi o comportamento de uma mulher que sabia que estava
falando com um perigoso criminoso procurado. Ela me disse que a
enfermeira Zoe Leigh já havia fofocado para algumas pessoas, que saí do
hospital ontem à noite, citando algum tipo de emergência familiar e então
estavam esperando que eu cancelasse todas as minhas próximas consultas
e cirurgias, de qualquer forma.
O hospital era meu empregador, então, se eu estivesse em apuros, os
policiais teriam dito a eles. Obviamente não foi feito e até onde a equipe
do hospital sabia, o único problema que eu tinha, atualmente, era minha
emergência familiar fictícia.
Além de tudo isso, dirigi para fora da cidade depois do telefonema e
estacionei a cerca de três quilômetros de distância da minha propriedade.
Havia apenas luz suficiente, no pálido céu roxo e dourado do alvorecer,
para eu pilotar um drone sobre minha propriedade e tirar algumas fotos e
gravações em vídeo do que estava acontecendo. Como previ, havia
homens destruindo o lugar para procurar por mim ou sabe Deus o que
mais e eles não eram policiais. Os carros deles não estavam marcados, os
homens não estavam em qualquer tipo de uniforme e não pareciam estar
seguindo algum tipo de protocolo apropriado.
Também verifiquei minhas outras duas propriedades de investimento,
um condomínio no centro da cidade e um lugar de dois andares em
Shadyside. Foi o mesmo negócio lá. Homens pululando em busca, mas
não houve presença da lei ou protocolo a ser visto.
Isso deixou apenas uma opção. O maldito Círculo.
Eles tinham Celeste.
O pensamento fez a bile subir na garganta, com uma sensação de medo
e peso no peito. Se tivessem sido os policiais que a levaram, pelo menos
ela teria uma chance de permanecer segura, desde que, finalmente
atendesse a todos os meus avisos passados e tivesse o cuidado de escapar
das garras daqueles bastardos doentes do Círculo, quando viessem buscá-
la. Mesmo se eu fosse para a prisão pelo resto da minha vida, uma vez que
os policiais me alcançassem, ela ainda teria essa chance tão pequena,
quanto pudesse ser dada ao poder e influência que o Círculo tinha. Mas
esse não foi o caso. Eles estavam com ela, não a polícia e se eu não a
localizasse a tempo, não teria chance alguma.
Com um suspiro cansado, olhei em volta do quarto de motel,
novamente. Era um daqueles lugares decadentes, com uma pintura
desbotada e mobília barata, onde os caras de gerência, com barriga de
cerveja, traziam prostitutas, para enganar suas esposas. Ou as próprias
prostitutas traziam seus clientes, pagando por quartos ruins e mal
iluminados por hora. Eu nem queria pensar o que poderia aparecer nos
travesseiros, edredons, carpetes e paredes, se tivesse uma luz negra sobre
o quarto.
O estacionamento estava cheio de lixo e ervas daninhas, crescendo
através de rachaduras no asfalto e eu estava disposto a apostar pelo menos
uma quantia, que um inspetor de edifício foi subornado para não fechar o
maldito lugar, durante a última revisão.
Apesar de tudo isso, o lugar aceitou dinheiro, sem eu precisar colocar
um cartão de crédito na recepção e agora, isso era tudo o que importava.
Eu precisava de um lugar seguro para me esconder; um que não pudesse
ser rastreado. Isso significava dinheiro, nenhum documento de qualquer
tipo apresentado a qualquer outra pessoa.
Mesmo que os policiais, claramente, não me tivessem em seu radar,
ainda tinha que mentir, porque o Círculo, obviamente, sabia quem eu era
agora. Se eles me localizassem e me matassem, perderia qualquer chance
de resgatar Celeste. Então larguei meu celular na beira de uma estrada, em
algum lugar e o substituí por um gravador, coloquei placas falsas na parte
de trás do meu carro - eu as mantinha na parte de trás, em caso de
emergência - e aluguei o quarto do motel. Meu habitual disfarce matador
também estava no lugar, a peruca loura escura e lentes de contato verdes.
Enquanto tentava pensar no meu próximo movimento, a mente
continuava se desviando e meu coração batia, dolorosamente, no peito,
assombrado pelas lembranças de Celeste e tudo que eu sabia que ela era.
Era tão linda, tão inocente e ainda tão selvagem, tão forte. Apesar de ter
recebido uma carta difícil em sua vida, nunca parou de perseverar e
quando sua conta bancária caiu para meros dois dígitos, em alguns meses,
ainda encontrou, dentro de seu coração aberto, dar algo àquele pequeno
abrigo para gatos que ela amava, tudo porque ela considerava mais
importante ajudar outras almas inocentes, antes de se ajudar.
Ela era gentil, generosa e maravilhosa. Nada como eu. Não havia
ninguém mais como ela e eu não conseguia imaginar um mundo sem sua
faísca, sua luz interior brilhante. E, no entanto, existiam pessoas que
queriam apagar toda a sua existência. Ela não era nada, além de um
inconveniente, para eles, uma mancha escura no horizonte, que precisava
ser afugentada para sempre.
Fiquei me perguntando o que aqueles malditos bastardos estavam
fazendo com ela, agora que estava em seu aperto vil e miserável. Isso
estava me deixando louco. Sua voz ecoou em minha mente,
constantemente, gritos de agonia, com gemidos suplicantes, implorando
para que seus agressores sombrios parassem. Por mais que eu tentasse me
impedir de ouvir, não conseguia, estava sempre lá, aquele medo gelado
das coisas horríveis que poderiam fazer com ela.
Eles poderiam brutalmente estupra-la, agora. Poderiam segurá-la e
entalhá-la, como fizeram com os outros. Ou poderiam atormentá-la de
outras maneiras, infligindo tanta dor e terror quanto possível, até o
momento em que ela perdesse a cabeça. Os pensamentos terríveis fizeram-
me querer vomitar.
Ela ainda estava consciente? Viva?
Eu disse a mim mesmo que ainda estava, porque os bastardos
gostavam de torturar suas vítimas por meses, até anos, mas uma voz
perturbadora, na parte de trás da minha cabeça, continuava sussurrando
coisas obscuras, dizendo-me que ela não era como suas vítimas habituais.
Isso é verdade, ela não era. Celeste é uma mulher jovem que poderia
arruiná-los, não uma criança ou adolescente que queriam escravizar,
então, provavelmente não fariam a merda de costume. Por tudo que eu
sabia, eles colocaram uma bala em seu crânio, imediatamente e
abandonaram seu corpo no sertão, em algum lugar.
Eu tinha que acreditar que não tinham feito isso, no entanto, não podia
aceitar que ela tivesse ido embora, não suportava a ideia daqueles idiotas
retorcidos cantarolando sobre seu corpo morto, antes de jogá-la para fora
como um pedaço de lixo.
Não, tinha que estar viva, para que eu pudesse fazer as coisas direito e
resgatá-la dos atos doentios, antes que fosse tarde demais.
Pânico e raiva me inundaram de novo e me levantei, precisando
descobrir o que fazer agora. Não dormi, desde que minha menina foi
tirada de mim e não ia, até que ela estivesse de volta em meus braços.
Precisava ver seu lindo rosto, ouvir sua voz, tocar sua pele macia.
Precisava afugentar todos os seus medos, matar todos os monstros que
ameaçavam seu mundo.
"Estou tentando, Celeste. Porra tentando. Apenas fique forte por mais
um pouco’’ eu disse em voz alta, desejando, contra toda razão e
racionalidade, que minhas palavras passassem pelo universo e
encontrassem o caminho até ela.
Ela precisava saber que eu estava ao seu lado, que a estava procurando
e que percebesse que eu nunca desistiria dela.
Respirei fundo e sentei novamente, tentando endireitar a confusão de
pensamentos. A respiração ajudou a diminuir o pânico, mas não a raiva.
Isso ainda estava crescendo, agitando-se como as nuvens negras de
tempestade, esperando que a iluminação batesse.
E finalmente, aconteceu. O tempo pareceu parar por alguns segundos,
como eu queria antes, enquanto uma ideia se cristalizava em minha
mente.
Sabia para onde ir e quem poderia ter respostas reais para mim. Com
uma expressão sombria peguei meu paletó e chaves, antes de ir para o
carro. Espere, anjo. Estou indo.
2
Celeste

Acordei.
Minha cabeça latejava e as pernas e braços pareciam paralisados. A
boca parecia cheia de algodão e a dor e a náusea atravessaram meu
sistema como um trem das profundezas do inferno. Por alguns segundos
não consegui lembrar o que aconteceu, como cheguei aqui ou quando fui
dormir. Ou até como fui dormir.
Então o nevoeiro diminuiu e tudo voltou, em uma onda fria de horror.
Apertei minhas mãos trêmulas em punhos e gemi suavemente, através
das as narinas, pelas memórias arrepiantes, desejando em vão que elas
saíssem da minha cabeça.
Com grande esforço, finalmente abri meus olhos secos e pegajosos e
levantei a cabeça. Um movimento tão pequeno e no entanto causou uma
explosão de agonia no pescoço. Não é de admirar, o lado esquerdo do
meu pescoço foi onde Dwyer espetou uma agulha gigante, ontem à noite,
depois de cerca de uma hora nas estradas escuras.
Fazendo careta, levantei mais um pouco a cabeça e o pânico inundou
minhas veias, quando percebi exatamente por que me sentia tão fraca e
paralisada. Não foi qualquer droga que Dwyer me deu. Eu estava deitada
em uma superfície cinzenta dura, contida com punhos de metal tão
pequenos e apertados, que minha circulação corria o risco de ser cortada.
Minhas roupas ainda estavam, exceto pela minha jaqueta grossa e
sapatos. Não senti nenhuma dor lá embaixo, que pudesse sugerir que
tinha sido estuprada. Uma pequena misericórdia.
Separei meus lábios secos e ofeguei, respirando fundo, quando torci o
pescoço dolorido e olhei ao redor, verificando o que havia ao meu redor.
Eu estava em um quarto pequeno e úmido, com paredes cinza-escuras e
piso de concreto, sem janelas. Uma pequena lâmpada amarela iluminava o
espaço. Não consegui ouvir nada. Sem vozes, música, trânsito, chilrear dos
pássaros lá fora. Nada.
Déjà vu caiu através de mim. Isso era muito familiar, acordar depois de
ser drogada e sequestrada, apenas para me encontrar presa em uma cela
cinza silenciosa. Isso foi dez vezes mais aterrorizante, porque minha nova
cela estava bem na barriga da besta.
Tentei puxar minhas mãos para fora das algemas, esperando que não
fossem tão fortes quanto pareciam, mas se recusaram a se mover, apesar
dos meus melhores esforços. Tentei com meus pés também, mas foi mais
do mesmo, eu estava travada. Uma lágrima escorregou pelo rosto,
enquanto eu deitava minha cabeça na desconfortável superfície,
descansando o pescoço dolorido. Minha mente estava girando de
arrependimento, lembrando-me o quão estúpida tinha sido, por não
confiar em Alex.
Um punho apertou meu coração, ao simples pensamento de seu nome.
Por tanto tempo pensei que ele mentiu para mim e me traiu, mas
acabou que eu era a traidora. Saí pela porta e me afastei de uma vida com
ele e agora não tinha mais esperança. O Círculo me possuía e não eram
nada como ele. Não haveria simpatia ou compaixão por mim, em suas
mãos.
Mesmo que Alex gostasse de infligir dor, nunca foi em um sentido
maligno. Ele poderia me chicotear ou me espancar, mas era só porque
sabia que eu gostava disso. Ele queria que eu quisesse a dor e eu queria.
Apesar de minhas apreensões e desconfianças anteriores, agora sabia,
embora tarde demais, que nunca houve qualquer ameaça de morte ali. O
pior que Alex faria comigo era me dar o tipo de dor que eu ansiava e
queria, de qualquer maneira.
Em relação a outras pessoas, ele era um assassino sim, mas matou por
uma razão que pude entender. A razão mais antiga da história. Retribuição.
Os homens que ele caçou, torturou e mutilou mereceram, em virtude de
suas ações terríveis contra a humanidade. Eram depravados e traziam
toda a agonia de si mesmos. Se qualquer coisa, mereciam mais do que o
que Alex fez com eles. Mais dor, mais sofrimento, mais derrota
incapacitante.
Eles não gostavam nem um pouco dele. Não houve justificativas para
suas ações, não há maneiras de girá-los e torcê-los. Eles não eram nada,
além de puro mal. Torturaram, estupraram e mataram inocentes, por
prazer.
E agora eu era o alvo deles, enjaulada e esperando por qualquer
tormento infernal que guardassem para mim.
Senti arrepios sob as roupas, quando uma porta se abriu e um novo
pavor ricocheteou através de mim. Dwyer entrou, um momento depois,
empurrando um carrinho de instrumentos de aço inoxidável na minha
direção, com uma mão, uma arma na outra.
"Você está finalmente acordada. Sobre a hora do caralho” disse ele,
aproximando-se. Pegou uma garrafa de água da bandeja superior do
carrinho e me forçou a engolir um pouco.
Meu estômago revirou, quando avistei o que mais estava na bandeja.
Facas, pinças, algum tipo de serra elétrica ou moedor, hastes grossas de
metal, um Taser, um maçarico. O terror fez minha garganta se fechar por
alguns segundos, então, não podia nem gritar, quando meu novo captor,
finalmente, puxou a garrafa de água para longe.
“Boa garota. Já está ficando quieta,” ele disse. “Embora você não seja
breve, não que isso importe.” Ele deu de ombros e olhou ao redor de nós.
"Esta casa toda é à prova de som."
"Vocês... vocês isolaram uma mansão inteira?" Eu disse, finalmente
encontrando a língua.
Ele pareceu confuso, por um segundo e então riu, indulgentemente.
"Ah eu vejo. Você pensou que estivesse lá.” Ele balançou a cabeça. "Eu não
te levei para a mansão."
"Então, onde estou?"
"Você não precisa saber disso. Tudo que precisa saber é que vou amar
tê-la aqui como minha convidada.” Um brilho desagradável entrou em
seus olhos, enquanto falava. Olhei para os mesmos olhos tantas vezes
antes, no escritório de campo e tudo que via era um cara quente e familiar.
Como não pude ver o quão vil e tóxico ele realmente era? Como
poderia ser tão cega?
"Por que está fazendo isso comigo?" perguntei, minha voz mal acima de
um sussurro.
“Por que estou fazendo isso?” Dwyer inclinou a cabeça para o lado e
depois zombou. “Você já sabe por quê. Seu amigo serial killer contou a
verdade, quando disse que estávamos atrás de você. Nós te procuramos
desde que revelou a sua terapeuta que começou a se lembrar de coisas
sobre nós. Mesmo que fosse apenas o começo de uma memória e você
nem sabia o que sabia ainda... nós sabíamos que era apenas uma questão
de tempo, antes que tudo voltasse. Antes de você ameaçar nossa
existência.”
Fechei meus olhos, quando ondas invisíveis de arrependimento
bateram em mim, novamente. Alex nunca mentiu e fui estúpida e indigna
de sua proteção.
"Então, você me assistiu todos esses anos..."
"Sim."
“Por que não me matou, depois que meu pai foi assassinado? Ou me
levar para a mansão, para ser uma das suas crianças escravas, como estava
planejando originalmente?” perguntei, em uma voz hesitante. Foi a
mesma pergunta que fiz a Alex tantas vezes, quando me recusei a
acreditar nele.
Ele sorriu. “Confie em mim, eu queria. Votei em te matar ou sequestrar,
apenas para ter certeza de que nunca falaria. Mas a maioria dos nossos
outros membros discordou. Eles pensaram que atrairia muita atenção, se
você morresse ou desaparecesse, logo depois que John fosse morto. Sua
mãe também, embora fosse muito mais fácil de lidar. Tudo o que tínhamos
que fazer era avisá-la de que a machucaríamos, se dissesse alguma
palavra. E ela nunca fez.”
Então Alex estava certo sobre tudo isso também, eles não me mataram
ou me levaram para a mansão, quando eu era criança, apenas para salvar
suas próprias peles. Era tarde demais para começar a ouvi-lo agora. Por
minha causa, ele foi preso por seus crimes, ou pior, apanhado pelo
Círculo. Eles devem tê-lo desejado ainda mais do que a polícia e o FBI,
porque ameaçou suas vidas por tanto tempo.
Minha mente correu, enquanto eu tentava pensar em alguma discussão,
algo para manter Dwyer falando. Quanto mais eu administrasse isso, mais
tempo teria, antes que ele começasse a me machucar.
"Com certeza, depois de um tempo, não importava," eu disse,
finalmente pensando em algo para dizer. "Já faz quinze anos, então você
poderia ter lidado comigo, mesmo se eu não me lembrava de nada, só
para não ter que ficar me observando. Quer dizer, quando desapareci, por
causa de Alex, a polícia achou que fugi e ninguém ligou isso ao
assassinato do meu pai. Exceto West...”
Culpa e náusea se agitaram em minhas entranhas, ao pensar em Jason
West deitado à beira da estrada, uma bala no crânio. Tudo o que ele fez foi
me procurar com a bondade de seu próprio coração e Dwyer o usou
secretamente e depois se livrou dele, assim que o levou direto para mim.
Dwyer estreitou os olhos. "Exatamente. West. Só é preciso uma pessoa
cavando seu desaparecimento. E olhe, ele quase percebeu, não é?
Descobriu que algum tipo de organização como nós existia e foi por isso
que o Heartbreaker estava nos atacando. Claro, ele não descobriu todos os
detalhes. Certamente, não descobriu que eu era parte disso. Mas ainda
assim, tinha uma visão geral e descobriu o suficiente, para saber que você
estava, muito provavelmente, com o nosso assassino. O que significava
que ele estava a poucos passos de nos encontrar.”
Ele tocou algumas das facas na bandeja, enviando outro raio de medo
em minhas veias. Então continuou. “É isso que precisamos evitar, uma
pessoa cavando. Além disso, não foi tão difícil ficar de olho em você,
afinal. Temos os meios e a mão de obra, e você nunca saiu da cidade. E por
que acha que conseguiu esse estágio?”
Minhas sobrancelhas se dobraram em confusão. "O que?"
“Seu estágio no FBI. Você não foi nossa primeira escolha, aquele garoto
do Bryce era. E para a segunda posição, foi entre você e cinco outros
candidatos. Quem acha que votou em você e insistiu que o lugar lhe fosse
concedido?”
Mordi o lábio para me impedir de chorar. Por muito tempo, achei que
trabalhei bastante na faculdade para merecer o lugar no escritório de
campo, quando, na verdade, poderia ter ido para outras cinco. Eu não era
especial. Dwyer lutou por mim, simplesmente, para que pudesse ficar de
olho em mim.
"Por que não pode, simplesmente, atirar em mim, se todos me querem
fora de cena? Por que arrastar-me para fora?” Meus olhos caíram sobre as
facas e outros instrumentos de tortura, novamente, enquanto falava,
minha voz um murmúrio irregular agora.
Por um momento fugaz, achei que ele faria exatamente o que eu disse.
Ele forçou minha boca aberta com os dedos e enfiou a pistola bem dentro
da minha boca, quase batendo em vários dos meus dentes, com o aço frio
do cano. Meus olhos se arregalaram de terror e esperei pelo som do tiro
que acabaria com a minha vida. Pelo menos seria rápido...
“Isso seria o mais inteligente, sim. É exatamente o que me disseram
para fazer, quando tive você. Atire imediatamente e faça com que pareça
um suicídio. Quero mesmo te fazer escrever um bilhete, para despejar com
o seu corpo, apenas no caso de alguém questionar.”
Estremeci com o pensamento de todos que eu conhecia, pensando que
eu fugiria e eventualmente me mataria. Mas Dwyer estava certo, tinha que
ser assim. Se alguém pensasse que havia algo estranho ou misterioso em
minha morte, então poderiam começar a cavar, o que, por sua vez,
ameaçava o Círculo. Eles nunca permitiriam isso.
"Mas... isso não é nada divertido, não é?" Dwyer continuou. "E depois
de tudo o que passei, para te conseguir, tudo o que os outros não
conseguiram fazer, depois que desapareceu, acho que mereço alguma
diversão. Você é um pouco mais velha do que o meu tipo usual, mas tenho
certeza que ainda vou gostar.”
Ele puxou a arma da minha boca e colocou na bandeja. Ofeguei por ar,
todo o meu corpo tremendo, enquanto tentava não imaginar sua ideia de
"diversão".
"Além disso," acrescentou ele, lentamente retirando a palavra. "Há
algumas pontas soltas que precisamos amarrar, antes de nos livrarmos de
você para sempre e convencer a todos que você se ofendeu."
"Como o quê?" sufoquei.
"Bem, para começar, você não disse apenas à sua terapeuta o que se
lembrava. West descobriu que você contou a outra pessoa, uma amiga."
"Não." balancei a cabeça. "Eu não fiz."
"Mentirosa." Ele sorriu e pegou o Taser da bandeja e segurou em minha
direção, antes de clicar em um botão. Houve uma fração de segundo em
que nada aconteceu e, em seguida, dois conectores de eletrochoque
voaram em direção ao meu peito.
Senti meu corpo endurecer, imediatamente, como uma tábua, enquanto
todos os músculos do meu corpo se trancavam ao mesmo tempo. Então,
comecei a sacudir em espasmos, a dor me atingindo ao mesmo tempo.
Parecia que alguém estava me apunhalando com agulhas de tricô quentes
e tentei gritar, mas nada saiu, exceto um som baixo e grunhido.
Finalmente, acabou e ofeguei ar novamente, agradecida por a dor ter
diminuído, assim que Dwyer desligou o Taser.
“O nome da sua amiga é Samara, eu já sei disso. Diga-me o que disse a
ela.”
Balancei a cabeça descontroladamente. “Ela não sabe de nada! Por
favor! Eu não estou mentindo. Tudo o que eu disse a ela foi que estava
começando a lembrar de algo e ter sonhos estranhos. Mas eu não tinha
ideia do que estava realmente acontecendo. É como o que você disse antes,
eu nem sabia o que estava me lembrando!”
Ele encolheu os ombros. “Hum. Isso pode ser verdade, mas ela ainda é
uma ponta solta. Agora que West se foi, ela, provavelmente, encontrará
alguém para assediar a cavar por aí.”
Cerrei meus dentes. “Se você sabe quem ela é, então não precisa de
nenhuma informação minha. Eu nunca te contaria, de qualquer maneira.”
Ele me atacou com o Taser por mais alguns segundos. Balancei e
convulsionei, a dor subindo pela espinha, encontrando lugares novos e
inesperados para me atormentar.
Dwyer assistiu impassível, em seguida, desligou novamente. “Tudo o
que sei é o primeiro nome dela. Nunca peguei seu sobrenome, quando
West falou sobre ela e não foi marcada em nossos registros como uma
visitante oficial com um compromisso, quando veio ao escritório pela
primeira vez para falar com ele. E lembre-se, ele não deveria estar olhando
para o seu desaparecimento, então teve o cuidado de não deixar rastros de
papel de qualquer tipo. Ele armazenou quase tudo aqui.” ele bateu no
lado de sua cabeça. "Infelizmente, o seu 'aqui em cima' foi pulverizado por
toda a borda de alguma estrada, no meio do nada."
"Você é nojento," sussurrei.
Ele suspirou, ignorando o meu jab, por agora. “Uma infeliz supervisão
em meu nome. Realmente, deveria ter perguntado a ele, antes de... ”Ele
parou, imitando uma arma em sua própria cabeça e então uma explosão.
Olhei-o, desejando que meus olhos pudessem disparassem lasers
aniquiladores. "Nunca te direi nada, sua porra doente."
Ele balançou a cabeça. "Você só vai atrasar sua morte. Terei que te
machucar mais do que já planejei.”
"Tudo bem," sussurrei.
Eu não contei a ele o óbvio. Se quisesse saber quem Samara era, poderia
apenas encontrar meus perfis de mídia social e pesquisar na minha lista de
amigos, para encontrar o sobrenome dela. Mas ele estava no final dos
cinquenta anos, ou início dos sessenta anos e, provavelmente, não muito
experiente em mídia social, por isso não deve ter-lhe ocorrido que tal coisa
era possível.
Eu queria tanto sorrir para minha pequena vitória sobre ele, mas a
sensação, imediatamente, desapareceu. O Círculo empregava caras mais
jovens, como capangas ou guardas. Como o Dan. Eventualmente, um
deles pode sugerir a ideia. Ou talvez o Círculo em si tivesse membros mais
jovens, ou com mais inteligência na internet do que Dwyer.
Em última análise, eles encontrariam Samara de um jeito ou de outro e
ela se tornaria outra vítima inocente. Outra vítima. O pensamento me fez
querer arrancar o próprio cabelo com culpa.
“Dê-me seu nome e endereço completos” ordenou Dwyer. "Ou vou
derreter um dos seus olhos. Isso não deixará ninguém desconfiado,
quando seu corpo for encontrado em uma floresta, em algum lugar,
porque todos sabem que animais gostam de pegar cadáveres,
especialmente os olhos.
Ele pegou o maçarico e comecei a chorar lágrimas quentes de medo.
Ainda assim, não me movi. "Não," assobiei, preparando-me para a dor.
Antes que Dwyer pudesse fazer algo, uma música soou em seu bolso.
Suspirando, ele colocou o maçarico para baixo e checou o telefone. "Você
tem sorte," ele murmurou. "Salva pelo gongo. Tenho que começar a
trabalhar e colocar um rosto amigável para o mundo.”
Engoli em seco, agradecendo minhas estrelas da sorte. Eu não
agradeceria por muito mais tempo, no entanto. O trabalho terminaria em
poucas horas e Dwyer estaria de volta, queimando-me, batendo-me,
estuprando-me. Eventualmente, ele me mataria.
Ele soltou minhas mãos e pés e me arrancou da mesa. "Ali no canto,"
disse ele, apontando para um balde. Ao lado, havia um pacote de
guardanapos de papel branco.
Fiquei confusa por um segundo, mas depois a verdade me atingiu. Ele
queria que eu usasse o balde, para que não me molhasse, enquanto estava
deitada na mesa. Isso tornaria sua "diversão" menos agradável.
Seu lábio superior se curvou em desgosto, quando deixei cair a minha
calça e me agachei sobre o balde e ele se virou e encarou a porta, enquanto
esperava que eu me aliviasse. Não senti que precisava ir, mas me forcei a
fazer xixi de qualquer maneira, sabendo que seria a única chance que eu
teria por pelo menos mais oito horas.
Depois que me limpei e fechei as calças, Dwyer me conteve novamente.
Então saiu do quarto, batendo a porta atrás dele.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, imaginei Alex. Fechei os olhos e
imaginei que tudo isso era um pesadelo horrível e ele estava bem ao meu
lado na cama. Quando acordei, ele me envolveu em seus braços e beijou
minha cabeça, dizendo que não era real. Ele iria perseguir todos os meus
demônios e me manter segura para sempre, assim como sempre
prometeu. Quase podia senti-lo, prová-lo... mas então abri meus olhos
novamente.. Ele não estava aqui. Ele não estava vindo para me ajudar
também. Ninguém estava.
3
Alex

Foi um pouco depois das duas da tarde. Dezenove horas, desde que
perdi Celeste. Eu estava estacionado do lado de fora da casa de sua
terapeuta, em Shadyside, esperando que ela voltasse para casa. Tentei
chegar até ela mais cedo, mas, aparentemente, ela estava em uma
conferência em Nova York e não voltaria até esta tarde.
Odiava esperar tanto tempo por ela, mas, ao mesmo tempo, estava
grato por estar voltando hoje e não mais tarde na semana, ou pior, na
semana que vem.
Dez minutos depois vi um Uber com a Dra. Fitzgibbons e vi, quando
ela se aproximou da porta e entrou.
Esperei mais alguns minutos, para que não parecesse que eu estivesse
sentado do lado de fora, esperando por ela como um perseguidor
enlouquecido. Então andei até a sua porta e bati.
Do lado de fora, eu estava calmo e concentrado. No interior, minhas
tripas estavam atadas, com uma mistura de medo febril e raiva.
Ela atendeu a porta na terceira batida. A julgar pelas linhas ao redor de
seus olhos e lábios, coloquei sua idade em algum lugar, no início dos
quarenta anos. Ela vestia calças cinzas de aparência cara, um longo casaco
preto e um cachecol preto e cinza combinando. Quanto a mim, não usava
peruca loira e as lentes de contatos, por enquanto, porque queria que ela
me reconhecesse.
"Posso ajudá-lo?" Ela perguntou, inclinando a cabeça para o lado.
Poderia dizer que eu era familiar para ela, mas não conseguia me
reconhecer.
Afetei um sorriso genial, ligando o feitiço com força total. “Oi, Dra.
Fitzgibbons, sou Alex Magnusson. Nós nunca nos conhecemos,
oficialmente, mas ambos trabalhamos no Morrison Wright. Acho que já
nos vimos, de vez em quando.”
Seu rosto caiu de alívio, quando percebeu que eu não estava aqui para
tentar contratá-la ou vender um produto. "Ah, claro. Eu estava me
perguntando por que você parecia um pouco familiar.”
"Sinto muito incomodá-la em casa assim, mas queria saber se teria
tempo para discutir um paciente meu. Estou preocupado com algumas...
delicadas questões psicológicas e o tempo é essencial. Olhei a ficha e acho
que ela costumava vê-la.”
Ela sorriu. “Eu estava prestes a fazer um café. Entre e vamos
conversar.”
"Muito obrigado."
Eu a segui e esperei, enquanto ela se ocupava na cozinha. Voltou com
um bule de café e duas canecas e as colocou em uma mesa de café, em sua
sala de estar.
"Sente-se," disse ela, acenando para um dos dois sofás de couro preto.
"Vou pegar um pouco de creme."
Permaneci de pé.
"Tempo horrível que estamos tendo, não é?" Ela gritou da cozinha,
tentando fazer conversa fiada.
Revirei meus olhos. "Claro que é. Não parou de chover por dois dias
agora. Mas é quase inverno. O que esperamos, realmente?” Eu disse,
retornando o gesto civil. Tinha que manter as aparências por pelo menos
mais alguns segundos.
Ela riu. "Isso é verdade. Enfim, quem é o paciente que você está
vendo?” Ela disse, ao sair da cozinha com um pequeno jarro de cerâmica
branca em uma das mãos.
“Bem, ela não é minha paciente... mas é como alguém que amo e me
preocupo muito profundamente. Você vê, ela foi tirada de mim há dois
dias.”
Duas linhas apareceram entre as sobrancelhas, mas ela continuou
sorrindo, embora de maneira confusa e educada. "Não entendo."
"O nome dela é Celeste Riley."
Seu sorriso vacilou e ela deixou cair o jarro. Ele se espatifou nas tábuas
polidas do piso e creme se espalhou pelo chão e subiu pela lateral do sofá,
onde ela estava ao lado. “Oh. Sinto muito. Sou tão desajeitada. Deixe-me
apenas... vou buscar algo para limpá-lo.”
"Fique. Vou tomar café preto.”
Seus olhos corriam nervosamente para a porta. “Não, eu deveria limpar
essa bagunça. Levará apenas um minuto.”
Endireitei meu queixo e tirei minha pistola. "Eu disse que teremos café
preto."
Ela começou a tremer, imediatamente e levantou as mãos, as palmas
das mãos voltadas para mim. "O que é isso?" Ela sussurrou.
"Celeste foi sua paciente, não foi?"
Ela engoliu em seco e depois assentiu. “Sim, mas ela desapareceu. Falei
com o FBI sobre isso. Juro, não sei de nada.”
Meu rosto se contorceu em uma careta. “Algo me diz que isso não é
verdade. Tire seu casaco.”
Ela balançou a cabeça. "Por favor não…"
Zombei e acenei a arma. "Não quero te estuprar, só quero ver alguma
coisa. Tire."
Com as mãos trêmulas, lentamente, tirou o casaco preto grosso. Por
baixo, usava uma blusa creme, com mangas curtas. Dei alguns passos para
mais perto, em seguida agarrei seu braço esquerdo e o torci, de forma que
seu braço interno ficasse exposto. "Pensei que sim," eu disse suavemente,
enquanto olhava para a pequena tatuagem preta marcando sua pele. "O
velho círculo duplo."
Deixei cair seu braço e ela começou a tremer ainda mais, todo seu corpo
destruído pelo terror. "Você é ele, não é?" Ela perguntou, os olhos
arregalados.
Balancei a cabeça. "Sou."
Meu lábio superior se curvou, quando ela se urinou com terror,
vazando por toda a frente de sua calça cinza. Nem tentou fugir, pois sabia
que estava fodida e paralisada de medo.
"É uma pena que seus amigos do Círculo não tenham te avisado. Eles
sabem exatamente quem sou” comentei com naturalidade. "Sorte minha,
no entanto."
Ela balançou a cabeça, como se não pudesse acreditar que estivesse cara
a cara com o assassino em série que a atacava e a seus amigos há mais de
uma década. "Como... como você sabia quem eu era?" Ela sussurrou.
“Tive uma pequena conversa com Celeste, no outro dia e ela levantou
um bom ponto. Está tocando em minha mente. Como seus amigos do
Círculo poderiam ficar de olho nela, nos últimos tempos? Eles pareciam
saber o que estava dizendo em terapia, quase imediatamente, dada a
rapidez com que fizeram sua jogada para pegá-la. Eu sempre achei que
eles invadiram a rede e leram todas as suas anotações. Mas ela me fez
pensar se isso poderia ser possível. Ou se eles estivessem mesmo
conscientes de que ela estava em terapia. Então imaginei que alguém
próximo a ela pudesse estar alimentando informações. No começo pensei
que talvez fosse uma amiga dela...” parei e balancei a cabeça. “Mas isso
não fazia sentido. Qual o motivo? E seus outros médicos... mesmo lá. Tudo
o que eles sabiam sobre ela era que estava com dor. Eles não sabiam
exatamente o porquê. Mas você sabia, não é?”
Os olhos da Dra. Fitzgibbons se arregalaram. "Eu..." Ela hesitou
novamente, incapaz de completar qualquer frase que esperava dizer.
“Então, depois de tudo isso, comecei a pensar em você, Ângela. Você, a
chefe da unidade de saúde mental que, milagrosamente, teve tempo
suficiente para aceitar um novo paciente, apesar de sua agenda agitada.
Você, a primeira pessoa que Celeste contou, quando as memórias
começaram a voltar. Também a única pessoa que parecia estar,
propositalmente, mergulhando profundamente em sua psique, tentando
determinar se, de fato, ela se lembrava de alguma coisa.”
Ela engoliu em seco, seus olhos nunca deixando a arma na minha mão.
“Acho que reconheceu o nome dela, quando o Dr. Pompeo pediu uma
referência, e você sabia que poderia ser a filha de John Riley. Sabia que ela
poderia, finalmente, estar se lembrando de coisas, o que, por sua vez,
poderia estar causando sua dor no nervo. Então decidiu aproveitar a
oportunidade para ver por si mesma e dar informações em primeira mão
aos seus amigos no Círculo. Estou acertando?”
Ela assentiu devagar. "Sim, mas... você não entende, não sou como
eles.”
Zombei. “Não, entendo perfeitamente. Todas as vezes que escutei fora
de seu escritório, depois das sessões de Celeste… presumi que você estava
fazendo gravações de suas anotações. Mas então me ocorreu hoje cedo, já
existe um dispositivo nos consultórios de terapia, que registra toda a
sessão, sem que se precise fazer nada. Então, você não estava fazendo
observações gravadas, depois das sessões, estava na porra do telefone.
Estava dizendo a alguém como iam com as sessões e se ela parecia ou não
lembrar de alguma coisa ainda. Não posso acreditar que demorou muito
para que isso ocorresse a mim, para ser honesto.”
"Por favor. Posso me sentar?” Ela murmurou. Seus joelhos pareciam
que estavam prestes a ceder.
"Tudo bem." acenei para o sofá. “Nós nos sentaremos e conversaremos.
Temos muito o que fazer, depois de tudo.”
Meu comportamento ainda estava calmo e controlado, mas em algum
lugar lá dentro, estava fervendo, imaginando-me rasgando o peito da
mulher. Nunca matei uma mulher antes, o pensamento me deixou um
pouco inquieto, mas dado seu envolvimento nos problemas de Celeste,
ficaria feliz em fazer uma exceção para ela.
Mas não consegui tocá-la ainda, no entanto. Ela pode ser capaz de me
dar respostas.
"Diga-me onde ela está," ordenei, colocando minha arma no colo, com
uma mão nela.
"Não sei."
Sorri. "OK. Eu vejo como é. Mas deixe-me dizer uma coisa, Ângela.
Você já sabe por que estou aqui. Sabe o que fiz com aqueles homens, no
passado e sabe que isso vai acontecer com você também. Sabe que não vai
sair disso viva. Mas o problema é que ainda não sei bem o que sinto sobre
fatiar uma mulher e admito que estou um pouco desesperado hoje. Preciso
de respostas. Então, farei um grande favor a você.”
Seus olhos se arregalaram. "O quê?" Ela sufocou.
Segurei a arma novamente. “Normalmente eu passaria horas cortando
pequenos pedaços seus, fazendo furos ou queimando partes. Mas vou te
dar uma escolha. É o que acabei de descrever ou me fornece informações.
Se optar por cooperar, dar-lhe-ei esta arma e a deixarei se matar. Rápido e
indolor, se colocar a bala na sua cabeça no lugar certo. Então, o que vai
ser?”
Lágrimas encheram seus olhos. "Por favor," ela sussurrou. "Não me
mate. Eu não sou como eles, não mereço morrer.”
Inclinei a cabeça para o lado. “Você disse isso antes, O que quer dizer
com não ser como eles?”
Ela engoliu em seco. "Não machuquei crianças, nunca. E não sei nada
sobre o funcionamento interno, pois não sou um deles.”
"E ainda assim você tem a sua marca." pressionei meus lábios e balancei
a cabeça em direção ao seu braço esquerdo.
Ela ergueu as mãos novamente. "Por favor, apenas... deixe-me explicar,"
disse ela, com a voz embargada de medo.
Dei de ombros. "Bem, vou te dar três minutos.”
Ela ficou quieta por um momento, aparentemente reunindo seus
pensamentos. "Eles me resgataram," ela finalmente disse, olhando por
cima do meu ombro. “Eles me encontraram nas ruas, décadas atrás.
Nunca tive uma chance na vida, você sabe. Cresci em Wilkinsburg, com
dois pais drogados. Um saiu, quando eu tinha treze anos, o outro ficou,
mas não deu a mínima para mim. Não havia dinheiro. Sem esperança.
Finalmente abandonei a escola, quando tinha dezessete anos e comecei a
usar drogas também. Vendi-me nas ruas para pagar por isso. Estava indo
em direção à desgraça. Mas então eles me levaram embora.”
Arqueei uma sobrancelha. "E?"
"Eles não me machucaram, nem sequer me tocaram. Não é assim. Eu
era velha demais, para o gosto deles. Mas disseram que iriam me ajudar a
arrumar minha vida, tirar-me das drogas e me dar educação. Tudo o que
eu tinha que fazer, em troca, era permanecer fiel a eles e servi-los,
trabalhando na mansão que acabaram de comprar para os seus...” ela
limpou a garganta. "Seus propósitos."
"Servir-lhes como?"
“Como uma empregada, essencialmente. Tive que ajudar a manter o
lugar limpo e os guardas e crianças alimentados. Também fui garçonete,
em suas festas quinzenais. Não fui a única. Havia outras, claro. Mas nem
todas eram tão leais quanto eu. Eu era tão dedicada, porque eles me
ajudaram muito.” Ela balançou a cabeça lentamente. “Sem eles eu estaria
morta hoje, sem dúvida sobre isso. Provavelmente teria sofrido uma
overdose, vinte e cinco anos atrás. Eles me limparam e quando eu não
estava trabalhando para eles, fizeram-me terminar o ensino médio por
correspondência. Com a ajuda deles, acedi. Acontece que, com a
orientação certa, eu era um estudante excelente.”
"E eles deixaram você sair, depois disso?" fiz uma careta.
“Eu os servi por sete anos. Finalmente perceberam o quanto eu era leal
e depois de um tempo não precisaram mais dos meus serviços, já que
algumas das crianças tinham crescido o suficiente para serem servas, em
vez de... bem, o que elas antes eram.”
Escravas sexuais, sua cadela doida, pensei comigo mesmo, desejando que
ela simplesmente dissesse isso. Se ela fizesse, talvez, finalmente,
começasse a se sentir culpada.
"Então o Círculo cumpriu suas promessas," continuou ela. “Eles me
deixaram ir para a faculdade e pagaram por isso, em troca de ainda
trabalhar para eles de vez em quando e quando me formei, fui autorizada
a sair da mansão. Eles ajudaram a criar uma pós-graduação e uma
carreira, organizaram uma casa para mim e enviaram muitos clientes.
Agora sou bem sucedida, tenho tudo que sempre sonhei. Em troca, tudo
que tinha que fazer era ficar em silêncio, Manter seus segredos. Também
dirijo o programa Youth Outreach para crianças em risco, em Morrison
Wright, então, ocasionalmente, eu faço... recomendações para eles.
Crianças que não seriam perdidas.”
Apertei minhas mãos em punhos e enruguei o nariz em desgosto.
"Então você é outro desses. Um de seus peões, que fica em silêncio e os
ajuda a sequestrar crianças e adolescentes inocentes, em troca de
dinheiro.”
Ela balançou a cabeça. "Não. Não é só isso. Eles me ajudaram. Eles
salvaram minha vida! E eles ajudam as crianças lá também.”
Zombei. Essa mulher era verdadeiramente delirante. "Você está
brincando comigo? Viu o que acontece com essas crianças!”
“Mas têm uma chance. Geralmente tiram fugitivos ou crianças em risco
de más criações, como eu. Sei que eles os machucam, é assim que saem.
Mas se as crianças são boas, têm a chance de ser como eu, um dia. O
Círculo pode fazer algumas coisas confusas, mas são boas pessoas no
coração. Eles se importam."
Balancei a cabeça. "Pessoas boas? Jesus Cristo. Você é uma psicóloga e
nem imagina o quão longe está. Estocolmo, esse é o prazo, certo?”
Ela estreitou os olhos indignada. "Não tenho síndrome de Estocolmo,
sou realmente grata a eles. Como eu disse, eles salvaram a minha vida.”
“Bem, deixe-me perguntar uma coisa: se eles se importam tanto com
você, onde estão agora? Por que não informaram que estão cientes da
minha identidade? Por que não te avisaram?”
Sua expressão vacilou. "Eu... tenho certeza que eles estão ocupados,
tentando te encontrar. Eles entrarão em contato comigo em breve.”
Sorri. “Claro que vão. Exceto que sabem quem eu sou há pelo menos
dois dias. Isso é muito tempo para que um deles faça uma ligação rápida,
para qualquer pessoa que possa estar em alto risco. Como você, por
exemplo, vendo como devem saber que eu sei que estava vendo Celeste.
E, no entanto, não te disseram nada.
Ela rangeu os dentes e não respondeu, mas pelo olhar assombrado em
seus olhos, eu sabia que fiz um ponto.
"Como eu disse: você não está saindo disso viva. Ajudou a entregar
Celeste para eles e, como acabou de admitir, também ajudou a sequestrar
várias crianças e adolescentes no passado. Essas crianças foram
estupradas, rotuladas e torturadas. Muitos deles foram mortos por
insubordinação, ou, simplesmente, porque ficaram muito velhos e se
recusaram a ser servos da mansão. Você sabia que isso aconteceria,
quando as levasse e em algum lugar dessa sua mente fodida, tinha que
saber que estava errado. Mas os entregou assim mesmo. Você é um
membro do Círculo, quer admita ou não. E, no entanto, eles não pensaram
em você da mesma maneira, nem sequer pensaram em avisá-la que eu
poderia estar vindo.” bati a arma na mesa de café. “Então, faça sua
escolha. Informação e uma morte rápida, ou uma morte lenta e
agonizante.”
Suas bochechas se avermelharam de angústia e lágrimas se juntaram
nos olhos novamente. Misturaram-se com seu rímel e derramaram por
suas bochechas coradas, em regatos escuros.
"Não sei o que te dizer," ela sussurrou. “Mesmo se eu quisesse, não há
nada para contar, não estou no círculo interno. Eu não sei de nada.”
“Dê-me seus detalhes de contato. Quero nomes e números de telefone,
ou corto um dedo. Um, por cada minuto que você não responde.”
O rubor rosa sumiu de seu rosto, quando percebeu que estava ficando
sem tempo. Estava branca como osso. O medo ou a culpa, finalmente,
alcançaram-na. Talvez os dois.
"Está bem, está bem! Apenas espere, por favor! ”Ela apontou para uma
bolsa preta, do outro lado da mesa de café. “Meu telefone está lá. Há um
número sob o nome William. É o que uso para entrar em contato com o
chefe do Círculo, se necessário. Mas ele usa um gravador e o número
muda todo mês. Você pode tê-lo, mas ainda não me contataram com o
número deste mês. Então, provavelmente, não vai funcionar.”
"Dê-me nomes completos, então," eu disse, enquanto me ocupava com
seu celular, pegando o número falado, apenas no caso.
Ela balançou a cabeça. "Eu... não sei seus nomes completos. Eles nunca
me disseram, quando eu estava lá, só me deram nomes, que podem não
ser reais. E eu, provavelmente, nem os reconheceria, se os visse agora, pois
já faz quase duas décadas. O único contato que temos é via telefone.”
Eu queria estrangulá-la, mas algo nos olhos dela me dizia que estava
dizendo a verdade, realmente, não sabia seus nomes.
“Diga-me onde fica a mansão. Isso é tudo que preciso saber.”
"Eu não sei," ela sussurrou.
"Você não sabe, porra?" gritei. "Viveu lá por cerca de uma década e não
sabe?"
Ela se encolheu e levantou as mãos, em um gesto protetor. “Por favor,
apenas ouça! Quando me levaram pela primeira vez, fui vendada e
drogada. Não vi nada, até estarmos dentro da mansão.”
Bati a arma com impaciência. “Ainda assim, você morava lá, deve
haver algo que possa me dizer.”
Ela balançou a cabeça, miseravelmente. “Nunca fui permitida fora,
exceto em uma estufa, para obter ervas e legumes para as refeições. Estava
ligada à casa, então, nunca estive realmente fora, de qualquer maneira.
Tudo o que eu podia ver, através das janelas, eram os tijolos vermelhos. E
dentro, eu poderia dizer que era velho, mas caro. Três histórias.”
"O que pôde ver pelas janelas, quando estava dentro?"
Ela balançou a cabeça lentamente. "Terra. Muito verde. Árvores, grama,
jardins. Campos se estendendo por quilômetros.”
"Então, é muito longe da cidade."
"Acho que sim. Quando estava pronta para sair para sempre, eles me
vendaram novamente e não a tiraram, até que estivéssemos nos subúrbios
da cidade. Eu diria que demorou cerca de quarenta minutos, indo bem
devagar.”
Suspirei. Quarenta minutos de Pittsburgh, mesmo a uma velocidade
relativamente lenta, poderia significar qualquer lugar dentro de um raio
de trinta a trinta e cinco milhas, talvez até mais. Isso levaria muito tempo,
que eu não tinha. Provavelmente não tenho mais do que alguns dias.
Meu interior se transformou em gelo, com o pensamento do que
poderia acontecer com Celeste, enquanto eu estava sentado aqui, falando
com a terapeuta, ficando sem porra nenhuma de pista.
"O que mais? Você viu algum marco à distância?”
Ela balançou a cabeça. “Como eu disse, eram apenas árvores e campos
de grama. Ah, e a estrada que levava aos portões. É isso aí."
Torci meu relógio em volta do pulso, agitando-me, com sua falta de
ajuda. “E os tijolos? Você disse que eram vermelhos. Que tipo de
vermelho?
"Luz vermelha. Mais como uma cor de salmão, suponho.” Mais
lágrimas se derramaram sobre suas bochechas e ela franziu o rosto com
tristeza. Era uma chorona feia. “Por favor, é tudo que sei, eu juro."
Tirei uma faca do bolso esquerdo do casaco, cansado de seus soluços
irritantes.
"Pense mais difícil."
"Eu... não há nada..." Ela balançou a cabeça, descontroladamente.
"Vamos," eu disse. “Faça o truque que você faz com seus pacientes.
Concentre-se em algo calmante e feche os olhos. Tente lembrar de algo
útil.”
Eu sabia que ela não seria capaz de se acalmar completamente,
enquanto estava na minha presença, mas ainda assim, poderia funcionar
um pouco.
Ela fez o que ordenei e fechou os olhos.
“Finja que está de volta lá. O que lembra, quando estava pegando
ervas? Ou olhando para fora das janelas?”
Ela ficou em silêncio por um tempo, depois abriu os olhos novamente.
“Havia uma fonte na frente, no meio de um grande gramado. Você sabe,
aquelas grandes fontes de mármore antigas? Havia uma grande
rachadura, em um lado da base. Não me lembro muito, mas, antes de
deixar o lugar para sempre, uma nova garota chegou. Ela se sentava na
janela e olhava para aquela fenda e uma vez ela me disse que achava que,
se quisesse o bastante, poderia entrar na fenda e desaparecer em outra
realidade.”
E isso não era uma pista para ela que o lugar estava fodido? Jesus.
Endureci e cerrei meus dentes. “Qual era o nome da garota? Era
Evangeline?”
Seus olhos se arregalaram. "Como você sabia disso?"
"Acho que é sorte," murmurei. "Mais alguma coisa que você lembra?"
Ela encolheu os ombros, indiferente. “As janelas eram de guilhotina
branca. É isso, juro. Não me lembro de mais nada que ajudaria alguém a
encontrar a mansão.”
Com um suspiro pesado, levantei-me. Usando as pistas que ela me
disse, provavelmente seria capaz de encontrar o lugar, mas levaria dias, se
não semanas. Meu coração estava pesado, quando percebi que Celeste
poderia ter ido embora então. Eu precisava de mais tempo.
Ainda assim, a Dra. Fitzgibbons ajudou um pouco, pelo menos eu tinha
agora algo para continuar.
Coloquei a arma na mesa. "Isto é para você. Há um silenciador, para os
vizinhos não suspeitarem. E não se preocupe em tentar atirar em mim, ao
invés de si mesma, eu tenho outra arma e vou atirar em você, antes
mesmo de puxar o gatilho, se mirar em qualquer lugar perto de mim. ”
Ela balançou a cabeça. "Por favor, não," ela murmurou, não
encontrando meus olhos. "Não estou pronta para ir."
"Que pena. A menos que possa me dizer onde eles levaram Celeste, seu
tempo acabou.”
"Não. Por favor. Tenha... tenha misericórdia,” ela balbuciou, lágrimas
negras ainda escorregando pelas bochechas. "Nunca direi à polícia ou a
qualquer outra pessoa quem você é, se me deixar viver. Não direi ao
Círculo que você veio me ver também. Mantive o segredo deles por
décadas, vou manter o seu também, juro."
"Não." estreitei meus olhos. “Sabia que isso aconteceria um dia. Todas
as vidas que ajudou a arruinar, em vez de salvar... você merece isso, pelo
que fez com eles. ”
Ela começou a soluçar de novo, com os ombros caídos para a frente,
enquanto olhava a arma. Então, cautelosamente, pegou. Com os olhos em
mim, obviamente esperando que eu mudasse de ideia no último segundo,
segurou-o entre o lábio superior e a parte inferior do nariz.
Balancei a cabeça para ela, encorajando-a. Quando ela puxasse o gatilho
naquele local, seria rápido e indolor. A bala iria, imediatamente, até o
tronco cerebral e com aquela parte de seu sistema nervoso destruída,
estaria morta em um instante, antes mesmo de cair no chão.
"Espere." Ela colocou a arma no chão.
Cruzei meus braços. "Não vou deixá-la ir, então, pare de tentar."
"Não, é só que... pensei em algo que poderia ajudá-lo a encontrar
Celeste," disse ela.
"O que?"
“Lembro de ouvi-los falar algumas vezes. Havia um lugar onde os
piores levavam as crianças por uma semana, antes que chegassem à
mansão. Um lugar onde poderiam mantê-los longe de todo mundo,
enquanto...” Ela hesitou.
"Quebrava-os?"
Ela assentiu. "Sim. Também levavam outras pessoas da mansão, às
vezes, para o mesmo lugar. Se dissessem que te levariam para lá,
significava que você não voltaria. Sempre...” ela disse baixinho, olhando
para o colo. “...foram as crianças que se recusaram a quebrar
completamente, ou as que tentaram escapar. Também as que se recusaram
a trabalhar para eles, quando ficaram velhas demais. Eu estava apenas
pensando... talvez levassem Celeste para lá. São, basicamente, seus
campos de morte.”
Raiva encheu minha cabeça, mas eu a deixei continuar.
“Eu estava bem, então, é claro que nunca fui lá. E não fui levada para lá
no começo, porque minha função foi servi-los como empregada, não
precisaram me derrubar. Tudo o que tinham que fazer era me afastar das
drogas e me prometer uma vida melhor.”
Cerrei meus dentes. Ela não parava de falar, falar, falar, comprando
mais tempo para si mesma. "Certo. Então, está dizendo que não tem ideia
de onde é?”
"Não exatamente. Como disse, às vezes eu os ouvia falando sobre isso.
Sei que é uma pequena casa, em uma grande propriedade, muito longe,
perto de uma floresta. E me lembro de um guarda dizendo o endereço
uma vez, quando não perceberam que eu estava ouvindo.”
Meu pulso acelerou. "Conte-me."
“14 Blandess Road. Ou talvez fosse Street ou Drive...” Ela balançou a
cabeça devagar. "Não tenho certeza sobre a estrada, mas foi 14 algo
Blandess".
Fiz uma careta. "Tem certeza disso?"
Ela assentiu. "Sim."
"Onde fica isso?"
"Não sei sobre a área, só ouvi o nome e o número da estrada.” ela disse
baixinho, antes de pegar a arma novamente. "Suponho que eu poderia ter
descoberto por interesse, quando estivesse livre para sair da mansão, mas,
realmente, não quis."
"É bom que temos mapas em nossos telefones, hoje em dia," murmurei,
puxando meu celular e abrindo um aplicativo. Olhei para a Dra.
Fitzgibbons, vendo-a levantar a arma para o mesmo lugar onde o colocou
antes. "Alguma última palavra?" Eu disse, sentindo-me generoso, depois
de toda sua cooperação.
Ela ficou em silêncio por um longo tempo. Então, levantou os olhos
para os meus. “Parte de mim se sentiu mal pelo que aconteceu com os
outros, mas só queria escapar do meu próprio destino, então eu fiz o que
foi preciso. Mas você nunca pode realmente escapar, pode?”
Ela soltou um suspiro pesado. Então puxou o gatilho, antes que eu
pudesse responder. Seu corpo caiu de costas no sofá, um buraco sangrento
acima da boca, cercado por uma marca de queimadura, da proximidade
do cano da arma, em seu rosto. Os olhos estavam arregalados, mas sem
vida.
Em apenas uma fração de segundo, ela se foi para sempre.
Não me senti mal por ela, nem um pouco. Peguei a arma, virei-me e saí
da casa, o coração batendo rapidamente, enquanto olhava para o
aplicativo de mapas no celular. Havia uma Blandess Drive, a cerca de
meia hora da cidade de Snowden, uma parte rural de South Park
Township. Além disso, não havia uma única estrada, rua, avenida ou faixa
de Blandess em todo o país.
Isso tinha que ser o que Fitzgibbons queria dizer.
Snowden estava longe o suficiente para que o Círculo pudesse ter,
facilmente, uma pequena casa em um grande pedaço de terra. Faz sentido
que fosse o lugar certo. Pelo menos foi o que eu disse a mim mesmo,
enquanto corria para o sul, seguindo as instruções do GPS do meu celular.
Quando cheguei ao 14 Blandess Drive parei, com uma sensação de
afundamento no estômago. Essa parte particular de Snowden não parecia
muito rural, era cheio de casas, nenhuma das quais tinha grandes quintais
e muito menos grandes extensões de terra ao redor deles. Não havia uma
floresta perto da área, também.
O número catorze em si era um barraco minúsculo e decadente, com
tinta branca descascando no exterior. Estava em um pedaço de terra do
tamanho de um selo postal, com ervas daninhas crescidas, através do
caminho de cimento rachado, que levava até a velha porta marrom.
Entrei e vi, obviamente, que tinha sido abandonado anos atrás e dei
uma olhada ao redor, o sentimento de afundamento piorando em minhas
entranhas, com cada quarto que encontrei vazio. Chequei em todos os
lugares que pude, até mesmo, desesperadamente, procurando por
quaisquer quartos secretos escondidos ou adegas subterrâneas.
Nada.
Raiva ardente encheu meu corpo novamente, mas desta vez foi
apontada para mim mesmo. Em meu estado de puro desespero, eu me
fodi e cometi o mesmo erro que cometi anos atrás, quando comecei minha
carreira de assassino. Confiei que a Dra. Fitzgibbons estava me dando
informações reais e s deixei morrer, antes de confirmar que estava correta.
A cadela, porra, mentiu para mim.
Obviamente, ela não se sentia tão culpada quanto eu pensava, mesmo
depois de ter coragem de lhe dizer que o Círculo não se importava com
ela. Permaneceu fiel a eles até o amargo fim e me deu uma carga de
besteira inventada, junto com um endereço errado.
Celeste não estava aqui... e ainda não tinha ideia de onde estava.
4
Celeste

Tentei dormir, enquanto estava na mesa, mas isso nunca aconteceu.


Mesmo sentindo-me nauseada e exausta, o medo superou isso e a
adrenalina me manteve acordada o dia todo.
O único ponto positivo sobre a falta de descanso foi que tive muito
tempo para pensar. Não que isso me fizesse bem. Em algum momento,
por volta das cinco ou seis horas, Dwyer voltaria, e eu começaria a sentir o
tipo de agonia, que fez minha dor no TOS1 parecer uma caminhada no
parque.
Percebi, no entanto, em todo o meu tempo de raciocínio, que Alex não
havia sido preso. Dwyer não deixaria nenhum de seus colegas do FBI ou
da polícia, saber que ele tinha a identidade do Heartbreaker, via West. Ele
manteria em segredo e organizado, para que seus conhecidos ou capangas
do Círculo o detivessem.
Se ele não tivesse feito isso, as pessoas estariam se perguntando onde
diabos eu estava, depois do meu "resgate". Eles também estariam
começando a se perguntar onde West estava e perguntariam a Dwyer
sobre isso. Além disso, Alex teria dito a todos sobre a existência do
Círculo, se fosse preso, em um último esforço para erradicá-los do mundo
e Dwyer não poderia ter isso, visto que ele era um deles.
Um pensamento arrepiante subiu pela espinha. Talvez eu estivesse
errada. Talvez Dwyer tenha arranjado para Alex ser preso ontem à noite,
quando voltou para casa, mas simplesmente pagou a um dos policiais ou

1 Um grupo de distúrbios que ocorrem, quando determinados vasos sanguíneos ou nervos são
comprimidos.
agentes para matá-lo à vista. Ele nunca poderia falar e revelar a existência
do Círculo. Simplesmente entraria para a história como "aquele serial
killer que cometeu suicídio, antes que pudesse dizer a alguém por que fez
o que fez."
Quanto ao fio solto, que era eu... Dwyer poderia nunca ter dito a eles
que eu estava lá, ou que ele "me resgatou". Isso explicaria por que não
consegui ver nenhum outro policial, ou FBI, quando saí de casa com eles e
por que o esforço de resgate parecia tão casual e, é claro, por que ele
assassinou o Agente West, então, não havia mais ninguém que soubesse
que eu estava lá. Ele, intencionalmente, chegou à casa antes do tempo, sob
o disfarce de reconhecimento, recuperou-me e, em seguida, deu a ordem
para os outros irem em frente e invadir o local para prender Alex.
Ninguém mais teria conhecimento do fato de que estive sempre lá. Ele
pode até ter feito a caixa de minhas fotos e lembranças na casa
"desaparecer", para que ninguém jamais suspeitasse que Alex me conhecia
e me tivesse lá.
Soltei um gemido derrotado e fechei os olhos, implorando para que o
sono finalmente chegasse, só assim eu poderia descansar minha mente
torturada. Toda vez que pensava em um cenário em que Alex estaria
seguro, percebi o quão improvável era. No fundo, acho que já sabia que o
cenário mais provável era que ele já estivesse morto. O pensamento me
deixou doente de dor.
Eu estava tão errada sobre ele. Pensei que ele pretendia me manter
trancada e longe do mundo para sempre, nunca tendo permissão para
voltar para a faculdade, ter um emprego, ver qualquer um dos meus
amigos. Nunca. Mas agora percebi que ele fez isso para me proteger. Se eu
estivesse lá fora no mundo, o Círculo teria me alcançado e me matado.
Tudo porque ele se importava comigo.
Se e quando ele acabasse com o Círculo para sempre, eu teria tido uma
vida relativamente normal. Teria recebido meu diploma, voltado ao
trabalho, visto todos os meus amigos novamente. Alex até se sacrificou,
dizendo que eu poderia dizer à polícia, exatamente onde estava o tempo
todo, sabendo que ele seria preso por me sequestrar e me manter em
cativeiro, só para me fazer feliz. Enquanto eu estivesse segura no final, ele
não ligaria para o que acontecesse com ele. Ele sentiu isso fortemente por
mim.
Descobri o quão profundos meus sentimentos são agora e sabia o que
teria feito, quando ele me libertasse. Um pouco tarde demais, mas ainda
assim... eu sabia. Se, de alguma forma, ele ainda estivesse vivo e viesse me
resgatar, não que eu merecesse, ficaria com ele. Nunca contaria a
ninguém o que ele fez comigo, como me sequestrou e me segurou contra a
vontade. Seria nosso pequeno segredo sombrio para todo o sempre.
Talvez isso fosse insano. A escolha de ficar com um cara que me fez
passar por tudo isso parecia completamente louco, mas não tem
importância, ele fez isso porque queria que estivesse segura. Amava-me
de maneira estranha e era um amor puro e altruísta, que não pedia nada
em troca. Sinto-me da mesma maneira, amo-o de volta.
Desde o início, nosso relacionamento tinha um fio escuro e sempre
seria. Mas ainda era amor, eu sabia disso agora.
Muito tarde.
Meu coração doía, ao pensar em todas as coisas que nunca teríamos.
Todas as coisas que nunca compartilhamos.
A porta se abriu, alguns minutos depois e meu sistema ficou em alerta,
novamente, quando Dwyer entrou, com um sorriso desagradável. Estava
empurrando outro carrinho com comida, toalhas, corda e muita água para
eu beber, em uma enorme garrafa de plástico.
Ele soltou minhas mãos e me puxou para a posição sentada. "Quer um
pouco de água?" perguntou, apontando para a garrafa.
Uma sensação estranha e inquietante surgiu em meu estômago, com
suas palavras, como se estivesse faltando algo importante, mas assenti,
mesmo assim. "Sim," falei. Após oito horas com zero de água, eu estava
ressecada.
"Quanto? presumo que muito.”
"Sim." balancei a cabeça, suspeitando de sua generosidade repentina.
Ele derramou um pouco em um copo, então me entregou, observando-
me com olhos redondos, enquanto eu engolia tudo. Então pegou um
pouco da comida, um saco de bolachas de arroz com sabor e me deu
também. "Coma," ele ordenou. "Você precisa de energia."
"Para quê?" perguntei, estupidamente, pois já sabia por quê. Ele não
queria que eu desmaiasse, durante a tortura. Queria-me acordada e alerta,
processando a cada segundo.
Ele sorriu maldosamente. “Para a nossa próxima sessão, idiota. Ainda
tenho muitas perguntas e você vai me dar respostas desta vez.” ele olhou
para a bandeja de aço inoxidável, que ficou perto de mim o dia todo,
torcendo os lábios, enquanto seu olhar caía sobre o maçarico.
"Percebi, infelizmente, que não posso derreter seus olhos, como
esperava fazer. Tanto quanto os pássaros e outros animais gostam de
pegá-los de cadáveres, de modo que pareceria normal, no início, para um
médico legista, percebi que poderia deixar marcas de queimaduras ao
redor das órbitas oculares. Isso não pode ser explicado pela predação de
animais e queremos fazer com que pareça um suicídio no final. Então...”
acenou com a mão, como se essa fosse a conversa mais normal do mundo.
"Preciso fazer coisas mais invisíveis em você."
"Invisível?" Eu disse baixinho, depois de engolir o último biscoito.
Meus ombros caíram levemente em alívio, ao perceber que ele não podia
me queimar ou me cortar. Todas essas coisas apareceriam em uma
autópsia.
Ele viu meu alívio e riu. “Ainda há muitas maneiras de torturar
alguém, sem que apareça no corpo. Sua amiga, por exemplo. Vou
encontrá-la em breve, de uma maneira ou de outra e ninguém importante
se importará, se ela desaparecer. Nenhuma história familiar estranha,
nada para cavar. Apenas mais uma garota fugitiva, que acabou
assassinada por gangsters. Pelo menos é o que vão pensar. Então, poderei
queimá-la e cortá-la em pedaços e você terá que sentar e assistir.”
A culpa transformou meu estômago em nós, novamente e quase
vomitei as bolachas de arroz e água. Se ele pegasse Samara e a
machucasse, tudo seria minha culpa.
"Como acha que os gritos dela soam?" Ele pensou.
Estendi a mão para tentar lhe dar um tapa, mas ele segurou meu braço
a tempo e empurrou para baixo, antes de me conter novamente, com as
algemas de metal. "Agora, tudo o que precisa fazer é responder às minhas
perguntas e Samara terá muito mais facilidade, quando estiver aqui. Mas,
por enquanto, você disse que queria muita água...”
Ele pegou uma das toalhas do carrinho e segurou no meu rosto. Gritei,
mas fui imediatamente abafada pelo pano, quando ele o envolveu com
força em volta da minha cabeça e debaixo da mesa, segurando-o com a
corda.
O pânico me inundou, quando ele fez algo na mesa para que se
inclinasse para trás em ângulo. Minha cabeça e meu corpo estavam agora
um pouco para baixo, mantidos no lugar com as restrições. Eu não
conseguia ver o que estava acontecendo, mas meus outros sentidos
estavam em alerta máximo e podia ouvir tudo. Dwyer estava agora
enchendo outro copo de água e se aproximou de mim em seguida.
No início, havia apenas um fio de água, quando ele inclinou o copo
sobre o meu rosto, mas logo derramou sobre a toalha rápido e pesado,
fazendo-me engasgar e ofegar sob o tecido apertado em volta do meu
rosto. Sabia que não estava me afogando, mas com certeza sentia-me
assim. Minhas vias aéreas estavam completamente cheias de água e eu via
pontos coloridos explodindo, mesmo que não houvesse nada na frente dos
meus olhos, além da escuridão.
Dwyer puxou a toalha depois de vinte segundos. Depois de cuspir e
lutar contra o desejo de vomitar, soltei respirações profundas. "Isso foi
apenas um gosto," disse ele. “Tenho uma pergunta e quero que responda
honestamente, a menos que queira um pouco mais disso.
"O que?" sufoquei.
“Alex Magnusson. Quando te encontrei, você me disse que ele
originalmente te levou, porque estava preocupado que se lembrasse do
rosto dele. Mas isso não é verdade, sabemos disso. Ele te levou por outras
razões e você começou um relacionamento com ele, não é?”
"Eu..." ofeguei, ainda não totalmente recuperada do afogamento
simulado.
Dwyer me deu um tapa, fazendo-me gritar de dor.
"Responda."
"Sim," sussurrei. “Sim, estávamos juntos."
"Pensei isso. Agora me diga, onde ele está?
"Hein?" Meus olhos se arregalaram, quando o peso total de suas
palavras me atingiu. "Você não o matou?"
"Não." Seu nariz enrugou, em uma expressão de nojo. "Ainda não. Os
idiotas conseguiram perdê-lo. Ainda estão procurando, mas ele está bem
escondido. Que pena que não podemos envolver os policiais, de verdade.
Ele matou os únicos caras que tivemos na força, anos atrás, como seu pai,
então não é uma opção, a menos que queiramos nos foder totalmente. E
não há nada que eu possa fazer pessoalmente, no escritório de campo, sem
levantar suspeitas. Pelo menos não agora.” Ele estreitou os olhos. "Então é
aí que você entra. Onde ele está, Celeste?"
"Eu não sei." Apesar do ardor no meu rosto e a queimação na garganta
e nas fossas nasais, nunca estive tão feliz na minha vida. Quase podia ver
e ouvir anjos dourados cantando "Aleluia".
Alex está vivo!
Eu estava certa antes, Dwyer nunca contou à polícia ou ao FBI sobre ele.
Alex não foi procurado por eles e não chegaram perto de sua casa para
tentar prendê-lo, na noite passada. Apenas o Círculo fez e eles o
perderam, como um bando de amadores trapalhões.
Sorri para mim mesma com o pensamento. Pela primeira vez, os idiotas
retorcidos foram forçados a perceber, que nem sempre podiam estar dez
passos à frente de todos os outros no mundo, não importando que tipo de
poder e influência acreditassem ter exercido.
Dwyer colocou a toalha de volta no meu rosto e derramou mais água
em mim por dez segundos. Levei isso, felizmente. Eu não me importava
mais. Se Alex está vivo e Dwyer e o resto do Círculo não sabem onde está,
então isso significa que ele pode estar me procurando. Sei que o traí,
escolhendo deixá-lo e não confiar, mas certamente ele me ama o suficiente
para ver além disso e me perdoar.
Por favor, Alex. Sinto muito.
"Eu disse, porra: onde ele está?" Dwyer disse, puxando a toalha
novamente.
"E eu disse que não sei!" gritei. "Mas espero que ele te encontre e te
deixe vivo, sua porra doente!"
Isso me rendeu outro tapa forte e mais trinta segundos de tortura pela
água.
"Você deve ter falado muito com ele," Dwyer disse, depois de me
torturar pela terceira vez. “Sabe coisas sobre ele. Onde iria se esconder?”
Uma pequena ideia se formou na minha mente. Se eu jogasse isso
corretamente, poderia fingir desistir, eventualmente e lhe dar falsas
informações falsas. Poderia levá-lo direto para um lugar no meio do nada,
onde eu sabia, com certeza, que ninguém estaria por perto. Isso me dará
mais tempo e compraria mais tempo para Alex.
Eu conhecia o lugar perfeito.
Anos atrás, quando minha mãe ainda estava viva e no meio de seu
alcoolismo, gastou muito dinheiro de forma imprudente. Ela costumava
ficar cega de bêbada e comprar coisas online e uma vez comprou uma
velha cabana de caça decrépita, perto das terras de caça do estado, ao sul
da floresta nacional, apesar de não sermos caçadores e nunca fomos perto
dessas terras.
Ela não conseguiu vender e essa pequena cabana permaneceu em nome
de nossa família por anos. Quase me esqueci disso até agora.
"Por favor..." murmurei, forçando as lágrimas a saltar dos olhos. “Alex
nunca me disse nada parecido, não sei onde ele iria.”
Dwyer me deu um tapa novamente. “Mentindo, putinha. Diga-me
agora mesmo, ou vou dobrar Samara, assim que eu a encontrar e jogar um
poker quente em sua bunda.”
"Não!" gritei. Ele me deu um tapa novamente, mais forte desta vez,
estalando em meu nariz. Estremeci e implorei a ele, quando senti o sangue
vazar de uma das narinas. "Pare! Por favor! Prometa que não vai machucá-
la.”
"Só se você me disser."
"Tem que me prometer que não vai machucar Alex também," eu disse,
levantando a cabeça.
"Não tenho que te prometer nada do tipo, sua puta estúpida. Porra me
responda. Onde ele iria se esconder?”
Fingi um novo conjunto de lágrimas e então abaixei a cabeça, em falsa
derrota. “Uma vez ele me perguntou onde poderíamos nos esconder, se
alguém nos alcançasse. Eu sugeri... eu... " Deixei-me arrastar, como se não
pudesse acreditar que estava, realmente, dando Alex para o Círculo.
"Vamos. Você sugeriu o quê?”
Balancei a cabeça. "não posso te dizer," eu disse, em uma voz irregular.
"Oh, sim, você pode." Dwyer levantou outro copo de água. "Ou quer
mais disso?"
"Ok, ok!" gritei. “Ele, provavelmente, nem foi lá, mas eu disse a ele que
poderíamos nos esconder em uma cabana de caça no norte, se
precisássemos. O lugar está na minha família há anos.”
Seus olhos se estreitaram novamente. "John nunca nos contou nada
sobre uma cabana de caça."
“Minha mãe comprou, depois que ele morreu. Ela estava bêbada. Nós
nunca a usamos."
"Se estiver mentindo, estará com muitos problemas. Sabe que posso
verificar os registros de terras e propriedades, certo?”
Balancei a cabeça fracamente. "Não estou mentindo, pode checar, está
em nome dela. É perto de State Game Lands 54, Forest Road. Fica a
poucos metros da Game School Road. Não há número de casa, mas é a
cabina marrom de um andar, no final da rua à direita. ”
Foi a mesma tática que uma vez, infelizmente, usei com Alex. Uma
mentira revestida da verdade. Porque a cabana era real e honestamente,
pertencia à minha família, por isso pareceu convincente, quando falei.
Dwyer olhou para mim por um longo tempo e então se endireitou. "Isso
não foi tão difícil, foi?" Ele disse, tirando um celular do bolso da calça.
Tocou na tela, presumivelmente anotando o endereço da cabine ou
enviando para outra pessoa.
"Direi a Magnusson como você desistiu dele," ele disse, sorrindo para
mim, um momento depois. "Ele ficará tão feliz em saber a facilidade com
que quebramos o brinquedinho dele, tenho certeza." Inclinou a cabeça
para o lado. "Embora, você não pareça tão quebrada. Ainda. Por que não
conserto isso?”
Com isso, desafivelou o cinto e começou a desabotoar as calças,
aproximando-se de mim.
5
Alex

A raiva, que tinha construído dentro de mim o dia todo, estava agora
saindo de mim, minhas mãos cerradas em punhos apertados, enquanto
vasculhava a cabana abandonada de novo e de novo, abrindo buracos nas
paredes finas. Meu rosto estava contorcido em uma careta mortal,
simultaneamente esperando, além da razão, que algo, finalmente,
aparecesse das paredes e com certeza não faria.
Anteriormente, tinha conseguido manter meus sentimentos sob
controle, porque ainda tinha uma fração de esperança de encontrar Celeste
a tempo. Agora, meu medo de perdê-la ultrapassara tudo, excluíra todo
senso de racionalidade. Isso me transformou em um animal selvagem.
Tinha que encontrá-la. Porra, tinha que fazer. Eu não poderia existir em
um mundo sem ela, um mundo sem a luz, a presença angelical, que
equilibrava a escuridão dentro de mim. Havia tantas coisas não ditas entre
nós.
Tantas coisas que eu deveria ter dito a ela.
Posso ter perdido a esperança, mas não perdi a motivação, eu
desnudaria todo o planeta até os ossos, apenas para encontrá-la e segurá-
la novamente. Eu destruiria qualquer um e qualquer coisa que entrasse no
meu caminho e a punição, naqueles que a levaram, seria brutal e furiosa,
sem misericórdia.
Respirei profundamente e fechei os olhos, tentando me forçar a pensar
com clareza, para recuperar um pouco de lógica e propor um novo plano.
Apenas segundos depois, eu tive. Sabia, exatamente, o que tinha que fazer
agora.
Passei o último dia me escondendo do Círculo, achando que esse era o
melhor curso de ação. Do jeito que vi, se eles me encontrassem e me
matassem, eu não poderia salvar minha garota. Mas agora percebi que
poderia ir em outra direção. Eu poderia dirigir de volta para a minha
propriedade fora da cidade e esperá-los aparecerem novamente.
Isca.
Se eu jogasse direito, poderia deixar que eles me levassem até ela.
Mesmo quando pensei, sabia que o plano tinha grandes riscos. Colocar-
me lá fora de tal maneira ,poderia me deixar gravemente ferido ou morto,
antes que tivesse a chance de seguir o Círculo de volta à sede deles. Mas
tinha que encontrar uma maneira de chegar até eles, porque isso
significava chegar a Celeste e agora, não parecia ter nenhuma outra opção,
a menos que contasse 'dirigindo em todas as direções, procurando por uma
mansão de tijolo vermelho com uma fonte rachada' por dias a fio como uma
opção.
Saindo da casa, peguei minhas chaves e caminhei em direção ao carro.
Enquanto eu ia, um homem da casa do outro lado da rua aproximou-se de
mim.
"Ei, acabei de ver você sair do número 14?" Ele perguntou, seu tom
hesitante e cauteloso.
Merda. A última coisa que eu precisava era de alguém suspeitando de
mim e chamando a polícia, especialmente quando eu estava dirigindo com
placas falsas no meu carro.
Afetei um comportamento amigável e relaxado e parei. "Sim, estava lá,"
respondi. "Você não conhece George Eastman, não é?"
O cara balançou a cabeça. "Não. Quem é ele? E quem é você?” Seus
olhos estavam redondos e estreitos.
Dei a ele um sorriso autodepreciativo. "Sou Brett e estou meio confuso,
para ser honesto. Dirigi todo o caminho até aqui para conversar com
George e este é o endereço que ele me deu há anos. Mas não há ninguém
aqui. Liguei para ele e ele disse para entrar, que estaria lá atrás, mas o
carro dele não está aqui, e olhei por todo o lugar, não há ninguém por
perto. ” acenei a mão de volta para a cabana abandonada. "Para ser
honesto, esta casa não é mesmo o seu estilo."
Os ombros do homem relaxaram. "Bem, não conheço seu amigo e esse
lugar está vazio há anos, mas tenho a sensação de que sei o que aconteceu.
Você é a última vítima do nosso sistema de nomeação idiota. ”
Fiz uma careta. "Hã?"
Ele apontou um polegar para a placa da rua. "Deixe-me adivinhar. O
endereço que ele lhe deu há muitos anos foi para a Blandess Road, não
Drive."
Enruguei minha testa, pensando na conversa com Fitzgibbons. "Uh.
Sim. Não encontrei uma Blandess Road, então pensei que fosse este aqui.”
O homem sacudiu a cabeça. “Não, lugar errado. A estrada que você
está procurando é há uma hora, ao norte daqui.”
Minha carranca se aprofundou. "O que? Verifiquei todos os mapas e
este é o único lugar com esse nome.”
Ele balançou sua cabeça. "Costumava haver uma Blandess Road todo o
caminho ao norte da cidade, em Dorseyville, até cerca de três anos atrás,
quando eles mudaram o nome." Ele gesticulou para sua casa. "Moro a 19
anos na Blandess Drive, mas pelo menos três ou quatro vezes por ano, na
última década, recebi correspondência para Jon Lee de 19 Blandess Road,
Dorseyville. Às vezes encomendo coisas on-line e nunca chega. Adivinhe
para onde vai?”
"Dorseyville."
"Sim. Mesmo que esteja tão longe, ainda é o mesmo condado, então,
acho que eles ficam confusos, às vezes. Fodendo trabalhadores postais,
hein? Mas de qualquer maneira, como eu estava dizendo, eles
renomearam a outra estrada um tempo atrás. Seu amigo deveria ter-lhe
contado.
"Sim, realmente, deveria ter," eu disse, uma faísca de esperança
acendendo em mim, novamente.
Se houvesse uma chance de que Fitzgibbons estivesse, realmente,
contando a verdade sobre o endereço da casa e eu estivesse,
simplesmente, no lugar errado, então não teria que me expor ao Círculo
como isca para chegar a Celeste. Eu poderia continuar com meu plano
original para salvá-la.
Por enquanto, tive que me perguntar novamente se a terapeuta estava
cheia de merda ou não. Presumi que sim, uma hora atrás mas, para ser
justo, eu sabia que ela não mentiu sobre uma coisa, pelo menos. Eu ouvi
essa história da fonte quebrada antes, da boca de alguém que, realmente,
poderia ser confiável.
Então, talvez Fitzgibbons se sentisse culpada, afinal. Talvez o lugar que
ela descreveu existisse em Dorseyville.
"É Revell Drive agora,” disse o homem. "Quer que eu escreva isso para
você?"
“Acho que consigo me lembrar. Mas obrigado, isso é realmente útil.”
"Sem problemas. Desculpe, você teve que dirigir tão longe do seu
caminho.”
"Direi oi para Jon Lee por você," eu disse, com uma piscadela, ainda
fingindo um ar de convívio.
O cara riu, depois acenou e voltou para casa, sem mais desconfiança de
mim ou de minhas intenções.
Carreguei meu novo destino no GPS e decolei, indo o mais rápido que
pude nas estradas escorregadias, enquanto a chuva recomeçava.
Os minutos pareciam se arrastar a passo de caracol e eu tamborilava
minhas mãos no volante, querendo que o tráfego na cidade fosse limpo. Já
era quase hora do rush, então, o que deveria ser uma viagem de cinquenta
minutos, demoraria mais de uma hora e meia e o congestionamento não
seria resolvido tão cedo. Especialmente com toda essa porra da chuva.
Finalmente, cheguei a Dorseyville. Revell Drive estava na periferia,
todos os grandes pedaços de terra, com uma faixa espessa de floresta se
estendendo na distância, atrás dela. Assim como Fitzgibbons descreveu.
"Bem, bem," murmurei, enquanto estacionava no final da longa entrada
que levava ao número catorze. "Parece que você mereceu essa morte
rápida, depois de tudo."
Este era o lugar certo, sem sombra de dúvida. O mesmo carro escuro,
com placas do governo, que eu tinha visto nas filmagens da minha
propriedade, estava em uma pequena casa, meio escondida atrás de um
pedaço de arbustos verdes espessos.
Comecei a correr, o coração batendo forte. "Eu estou indo, anjo,"
murmurei, meu corpo inundando com adrenalina. "Estou chegando..."
6
Celeste

Parecia que o ar no quarto havia ficado escuro de repente, esfumaçado


e amargo, com puro pavor e trepidação.
Dwyer estava com as calças abertas até o fim e seu pênis rosado se
projetava como um porrete. Ele estava trabalhando no meu jeans com uma
faca, prolongando o processo de cortá-los, apenas para me atormentar. A
mesa estava inclinada para trás na direção oposta, de modo que eu estava
de frente para ele e minhas feições contorcidas pelo medo só pareciam
deixá-lo mais duro.
"Por favor, não..." gemi. Prefiro ser esfaqueada no pescoço, do que esse
homem nojento se forçar dentro de mim.
Seus olhos brilhavam com desejo doentio e eu sabia que ele não podia
esperar para me fazer gritar. Não podia esperar para me violentar tão
profundamente, tão completamente, que eu poderia, finalmente, perder a
vontade de lutar, meu corpo forçado a entregar tudo para ele.
"Não! Não!” gritei, enquanto ele soltava meus pés, para que pudesse
abrir minhas pernas. Chutei e gritei, mas ele era muito mais forte do que
eu e, com as mãos ainda algemadas acima da cabeça, não tive esperança.
Ele riu e colocou a mão ao redor da minha garganta, removendo o ar
dos meus pulmões e sufocando meus gritos. Tentei virar minha cabeça
para baixo e para os lados, para poder morder o outro braço dele, mas não
consegui alcançar.
De repente ele se virou, sua mão saindo da minha garganta. Alguém
chutou a porta.
Um grito tremulante saiu de mim, quando vi quem era. “Alex!
Socorro!” gritei.
Ele estava aqui.
Em um instante, ele voou em direção a Dwyer, arrastando-o para trás e
para longe de mim. O homem mais velho não era páreo, em termos de
força, mas se recusou a descer sem lutar, grunhindo, enquanto tentava o
seu melhor para dar a volta e conseguir um bom golpe.
Os olhos de Alex estavam iluminados com fúria, quando bateu com o
punho no nariz de Dwyer e o jogou no chão, com outro golpe no queixo.
As costas de Dwyer bateram contra o concreto, quando ele caiu e sua
cabeça fez um estalo enjoativo, quando se conectou com o chão, uma
fração de segundo depois.
Alex olhou para ele por um momento, os nós dos dedos cobertos de
sangue. Então veio para mim, removendo rapidamente as algemas, que
mordiam meus pulsos, antes de me puxar para seus braços, longe da
mesa. "Pensei que te perdi," ele murmurou, sua voz rouca de emoção,
quando acariciou minha cabeça.
"Sinto muito," choraminguei, quando as lágrimas saltaram dos olhos.
"Sinto muito. É minha culpa. Eu te deixei."
Ele recuou, seus olhos escuros e assombrados. "Por que foi com eles?"
Ele já sabia metade da resposta, sabia que eu queria ser livre, ansiosa
para voltar ao mundo real e ver todos os meus amigos novamente. Então,
eu entendia qual era o verdadeiro significado por trás da pergunta dele. A
poderosa conexão que tivemos, a mesma que nos uniu como ímãs, tantas
vezes no passado... não foi o suficiente para me fazer perceber que podia
confiar em tudo o que ele dizia e que realmente me amava? Não foi o
suficiente para me fazer ficar?
Na época, não foi. Mas fui uma tola. Eu não sabia de nada e estraguei
tudo e quase paguei o preço final, por causa disso.
"Sinto muito," repeti, lágrimas rolando sem fim pelas minhas
bochechas. "Eu estava errada, tão errada. Por favor, perdoe-me, Alex. Por
favor!"
"Você não precisa me pedir, você sempre tem e estará segura agora.
Tenho você.” ele murmurou, puxando-me para perto de novo, seus braços
fortes apertados à minha volta. "Eu nunca te deixarei ir. Nunca."
"Bom. Não quero que me deixe ir," eu soluçava. "Eu te amo. Não te
mereço, mas eu amo.”
"Eu também te amo" ele murmurou, suas mãos tecendo no meu cabelo.
Ficamos assim pelo que pareceu uma eternidade. Finalmente pude
respirar de novo, segura em seus braços e era tudo que eu queria fazer,
ficar envolvida em seu abraço quente, sentindo suas mãos na minha pele e
meu cabelo, esfregando-me e acariciando-me, até o último dia parecer um
pesadelo distante.
Eu sabia que não terminara para nós ainda. Alex não afugentou todos
os demônios em nossas vidas, mas por enquanto, estávamos bem. Nós
poderíamos respirar e ter certeza de que o outro estava vivo e bem.
Dwyer se mexeu e gemeu no chão e eu endureci, a sensação de medo e
terror retornando, rapidamente.
Alex se afastou de mim, pegou uma corda do carrinho e amarrou
Dwyer nas pernas de metal da mesa. "Não se preocupe, Ele não se mexerá
tão cedo,” ele disse baixinho, dando-lhe um chute rápido e duro nas
costelas. Então puxou uma arma do bolso e quebrou a lateral do cano em
sua têmpora. Dwyer gemeu e caiu para a frente, desmaiando novamente.
Alex olhou para mim novamente e viu os arrepios nos meus braços,
enquanto eu tremia no canto. "Você está congelando," disse ele,
lentamente abaixando a arma. Tirou a jaqueta e me estendeu.
Limpei minhas bochechas e balancei a cabeça. "Tudo bem, fique com
ela. Tenho uma jaqueta aqui, em algum lugar. Ele tirou de mim.” lancei
meus olhos ao redor do quarto, por um momento, então apontei. "Aí está."
Estava embrulhada em um canto, com meus sapatos. Alex se
aproximou e pegou. Quando sacudiu a poeira do chão sujo, meu bracelete
de coração caiu e a foto de Evangeline saiu. Seus olhos se arregalaram e
ele olhou para a foto por um longo momento. Então a pegou e segurou
para mim.
"Por que você tem isso?" Ele perguntou, com a testa franzida.
"É por isso que eu saí. Porque não confiei em você por tanto tempo,” eu
disse suavemente. “Quando a energia acabou, naquele dia, encontrei uma
caixa em seu escritório, e pensei... pensei...”
"Que eu menti." Alex passou a mão pelo cabelo e seu corpo inteiro
parecia esvaziar. "Que eu a tinha lá, antes de você?"
"Sim. E então Dwyer me disse que você a matou. Que encontraram o
corpo dela no quintal de um dos seus outros lugares. Eu sei que não é
verdade agora.”
"Não, não é." Ele balançou a cabeça. “Jesus, todas aquelas perguntas
que você me fez, a desconfiança, tudo faz sentido agora,” ele murmurou.
“É a porra da minha culpa. Você não teria saído, se eu tivesse te contado.”
"Contasse o que?"
“A história toda.”
Pela primeira vez em semanas, vi vulnerabilidade nos olhos de Alex.
Ele balançou a cabeça lentamente, depois falou de novo.
“Eu ia te contar um dia. Eu sabia que estava curiosa sobre como
descobri o Círculo e como eu sabia quem eram alguns deles. Sempre
planejei te dar todas as respostas, mas parei, odeio falar sobre isso, é
difícil. Mas é minha culpa que você foi embora. Jesus, eu deveria ter
contado...”
"Pode me dizer agora," eu disse, em uma voz suplicante. Odiava vê-lo
assim e precisava que ele parasse de se segurar e se abrisse.
“Evangeline era minha meia-irmã. Todos nós a chamávamos de Lina”
ele começou em uma voz suave, sem encontrar meus olhos.
Todo o ar na sala parecia evaporar. Senti como se tivesse levado um
soco no peito.
Como pude ser tão estupida?
Alex me disse o nome de suas irmãs há muito tempo: Abigail e Lina.
Claro que eles tinham um sobrenome diferente para ele, o padrasto de
Alex não era um Magnusson, por razões óbvias e quando suas filhas, as
meio-irmãs mais novas de Alex, nasceram, devem ter recebido seu
sobrenome, que era Gibson.
Quando Alex me disse que suas irmãs "não estavam mais por perto,"
assumi que que elas deixaram o estado, junto com o resto de sua família,
não me ocorreu que uma delas pudesse estar morta.
"O que aconteceu com Lina?" perguntei em voz baixa.
Ele olhou para a foto dela novamente. “Essa foi tirada em nossa antiga
casa. Ela sempre amou esse tapete,” ele disse, aparentemente sem ouvir
minha pergunta. "Suponho que é por isso que você pensou que eu a tinha
na minha casa atual, em algum momento, pelo mesmo tapete. Eu o levei
comigo, quando meus pais deixaram o estado, eles não queriam mais.”
Alex olhou para mim, esperando-me confirmar sua suposição.
Balancei a cabeça. "Sim," sussurrei, minhas bochechas ardendo de
vergonha. Se eu tivesse perguntado...
“Lina e Abigail eram gêmeas, quatro anos mais nova que eu. Amava as
duas, mas eu estava sempre mais perto de Lina. Ela era tão...” Ele parou
por um momento, olhando para o espaço. “Ela era impetuosa, confiante.
Abigail era mais um verme tímido e preferia ficar sozinha.”
"Uh-huh". balancei a cabeça, levando-o a continuar.
“Quando tinham cerca de treze anos, Abigail ainda era muito quieta,
mas Lina desenvolveu um pouco de rancor selvagem. Costumava fugir de
casa, ter problemas na escola, ser pega fumando... coisas assim. Tão jovem,
mas tão desesperada para crescer. Eu ficava dizendo para se acalmar,
curtir a infância, mas ela não queria. Essa foto foi tirada na época.” Ele
olhou para a foto novamente.
Minhas sobrancelhas se ergueram. "Ela tinha apenas treze anos?"
Ele assentiu. “Ela amava maquiagem, tanto quanto nossos pais
odiavam. Isso a fez parecer mais velha. Mas sim, ainda era,
essencialmente, uma criança. Mal pesava quarenta quilos.”
Ele ficou quieto novamente, por um longo momento. “Não muito
depois de começar a ter problemas, ela desapareceu. Todos assumiram
que fugiu, sendo uma criança selvagem e tudo, mas eu sempre soube que
algo mais lhe aconteceu. Sabia o tanto que Lina queria crescer, não iria,
simplesmente, desaparecer assim. Então um dia, dois anos depois, ela foi
encontrada.”
Exalei, percebendo que estava segurando a respiração. "Ela estava...?"
"Não. Não estava morta.” Alex sacudiu a cabeça. “Ela foi encontrada na
beira de uma estrada em algum lugar. Eles pensaram que estava morta, no
começo e eu acho que por um tempo estava. Mas, de alguma forma,
conseguiram fazê-la respirar novamente. Levaram-na para o hospital,
onde, eventualmente, identificaram-na e ligaram para nossa família.”
"Então o que aconteceu?"
Ele ergueu a mão, silenciosamente pedindo para eu lhe dar mais tempo.
“Ela estava quase irreconhecível no começo. Sofreu hemorragia interna
maciça, fraturas ou ossos quebrados, rins dilacerados, pulmões
machucados e ferimentos na cabeça. Alguns de seus outros órgãos
internos tinham quase sido esmagados, mas estavam presos por um fio.
Tudo era consistente com o atropelamento de um carro, o que, como se
viu, foi exatamente o que aconteceu.”
Ele fez uma pausa para respirar e fiz uma careta. "Eu não entendo."
"Você irá. Quando os médicos a estabilizaram, contra todas as
probabilidades e pelo menos algumas, das massivas contusões,
começaram a desaparecer, perceberam que ela tinha cicatrizes e feridas
anteriores ao possível atropelamento. Tenho certeza que você as viu nas
fotos, que foram tiradas no hospital, semanas depois de ela ter sido
encontrada, quando, finalmente, conseguiu se levantar. Os médicos as
usaram como prova de que Lina tinha sido terrivelmente abusada, muito
antes de ser atropelada pelo carro.”
"Sim, eu vi as fotos," murmurei.
“Ela tinha cicatrizes antigas em suas costas, nádegas e pernas,
consistentes em ser severamente espancada e queimada com cigarros
várias vezes. Havia também um círculo esculpido nela.”
Balancei a cabeça. “Mas não havia círculo nas fotos. É por isso que
pensei...” Eu parei. Não queria dizer em voz alta o que pensei que tinha
sido uma vítima de Alex e não do Círculo.
"Eu sei, vou chegar a isso,” ele murmurou. "Ela não falou no começo,
apenas ficou sentada na cama do hospital, olhando para o espaço por
semanas. Sentei-me com ela todos os dias, esperando. Eu tinha que saber
quem a machucou. Minha irmãzinha...” Ele engoliu em seco, hesitando.
“Então, finalmente, contou-me o que aconteceu. Ela disse que tentou fugir,
uma noite, para uma festa com seus amigos mais velhos, mas antes que
pudesse chegar lá, foi tirada da rua por alguns homens. Eles a drogaram e
a levaram para algum lugar, não tinha certeza onde, tudo o que lembrava
das primeiras semanas era que estava em um quarto escuro e cinzento,
provavelmente este.” Ele olhou ao redor, seus olhos cheios de fúria fria.
“Eles a machucaram, drogaram-na, estupraram-na. Homens com
pequenas tatuagens nos braços.”
Engoli o gosto amargo da bile. "Sinto muito," sussurrei.
“Em algum momento ela disse que dormiu, pelo que pareceu dois ou
três dias seguidos e, quando acordou de novo, estava em uma sala
diferente, um quarto melhor. Foi capaz de ver onde estava, pelas janelas.
Era uma mansão de três andares, muito longe da cidade.”
"A mesma mansão que fui levada, quando era criança?"
Ele assentiu. “Quando ela me contou todos os detalhes sobre o interior
do lugar, ela nunca foi permitida fora, descreveu aquele corredor que você
sonhava, da mesma maneira. Foi o mesmo lugar. Eles a mantiveram lá por
dois anos. Os homens vinham e faziam o que queriam, sempre que
quisessem. Geralmente nas festas que davam, mas em outras ocasiões
também, se eles sentiam vontade. Ela disse que havia um em particular,
que a estuprava e a machucava toda semana, com um sorriso fodido no
rosto, toda vez.”
Eu ainda não tinha elaborado o cronograma exato, mas me senti mal
com a possibilidade de estar lá com meu pai para uma de suas "festas", ao
mesmo tempo que Lina.
“Ela disse que nunca ouviu seus nomes, mas viu seus rostos e os ouviu
conversando nas festas e descobriu, a partir disso e também de conversar
com outras crianças mais velhas, que todos eram pessoas ricas e
influentes, juízes, advogados, altos funcionários da polícia, políticos,
diplomatas e assim por diante,” continuou ele.
“Ela também disse que a maioria das outras crianças e adolescentes que
estavam lá quebraram rapidamente. Pareciam mortos atrás dos olhos,
deixando tudo acontecer com eles. Mas não ela. Lutou contra eles a cada
passo e foi punida por isso também. Ela foi espancada e queimada, pior
que as outras. Também foi dada aos guardas e estuprada por eles todos os
dias, quando os membros do Círculo não estavam por perto. Mas
continuou lutando. Deu-lhes tal dificuldade que, quando eles, finalmente,
decidiram marcá-la como deles com o círculo, decidiram cortá-la em outro
lugar, apenas para tentar humilhá-la e finalmente destruí-la.”
"Onde estava?" perguntei, minha voz mal acima de um sussurro.
"Logo acima... tenho certeza que você pode adivinhar," disse ele, seus
olhos viajando pelo meu corpo, para a frente do meu jeans meio rasgado.
"Oh." Meu estômago se agitou. Foi por isso que a cicatriz não foi
mostrada nas fotos tiradas no hospital. Para proteger sua modéstia,
presumivelmente, ela não estava completamente nua, usava sutiã e shorts.
Os shorts cobriam a cicatriz do círculo, mas estava lá o tempo todo.
“Foram tiradas fotos dessa cicatriz para mostrar à polícia, mas eu não
queria olhar para elas. Foi demais. Os outros que mantive apenas para...
”Ele olhou para baixo, sua voz desaparecendo.
"Para lembrá-lo do que foi feito com ela?"
Ele assentiu. "Algo parecido. Isso me manteve focado todos esses anos,
vendo o que fizeram com ela. Odiava olhar para as fotos mas, às vezes,
quando parecia que eu não tinha mais nada, nenhuma outra maneira de
encontrar o resto deles... eu olhava para essas fotos e me sentia acendendo
tudo de novo.”
Balancei a cabeça, entendendo. "Compreendi."
Um pesado silêncio encheu a sala, enquanto deixei tudo passar por
mim por um momento.
"Acho que eu deveria terminar a história." Alex passou a mão sobre o
rosto, deixando escapar um suspiro pesado. "Depois de um tempo,
perceberam que ela, simplesmente, não iria quebrar. Um deles a
engravidou, mesmo que a obrigassem a tomar pílulas anticoncepcionais e
isso era apenas mais um inconveniente. Ela disse que alguns deles a
levaram para alguma propriedade e lhe disseram que haviam terminado
com ela, pois não valia o esforço e estava ficando velha demais, de acordo
com eles. Idade madura de quinze anos. Jogaram-na no chão, bateram
nela, então um dos guardas a atropelou com o carro. Eles pensaram que
estava morta, então pegaram seu corpo e o jogaram na beira de uma
estrada, em algum lugar. Foi pura sorte que alguns turistas aleatórios a
viram lá, algumas horas depois e a reanimam, caso contrário, estaria
morta.”
Balancei a cabeça lentamente, a pura desumanidade e maldade da
história entrando em mim como água gelada nas veias. "Oh Meu Deus,"
murmurei. "O que aconteceu, depois que Lina contou a todos o que foi
feito com ela?"
Suas mãos cerraram em punhos e, apesar de todos os horrores que eu
tinha acabado de ouvir, sabia que o pior da história ainda estava por vir.
“Ninguém acreditou nela. Ninguém, além de mim” disse ele, com os
dentes cerrados.
Meus olhos se arregalaram. "O que? Mas todas as cicatrizes. Como não
podiam acreditar nela?”
“Eles fizeram no começo. Os médicos chamaram as autoridades,
imediatamente. O próprio chefe de polícia entrou no hospital para falar
com eles e meus pais, quando ficou sabendo do que tinha acontecido e
prometeu investigar. Alguns dias depois voltou e nos disse que ela estava
mentindo. Disse que tinha provas de que ela, simplesmente, fugiu com um
cara mais velho, seu "namorado". O namorado acabou sendo
horrivelmente abusivo, espancando-a, torturando-a e a forçando a fazer
sexo com ele. Ela, finalmente, fugiu dele, depois de engravidar, apenas
para ser atropelada por um carro, quando tropeçou na estrada. Ela devia
estar muito envergonhada para dizer a verdade e então inventou a
história horrível e fantástica sobre o círculo sexual de elite e a mansão. Ele
disse que ela era claramente instável e meus pais e os médicos não tinham
motivos para não acreditar nele, especialmente quando lhes entregou
provas.”
"Prova?"
“Ele disse que tinham um homem sob custódia, um homem grande e
tatuado de vinte e seis anos de idade. Ele, aparentemente, admitiu ter um
relacionamento com ela e a deixou morar com ele por dois anos, mesmo
que ela fosse menor de idade e admitiu que abusou dela. Ele ficou alguns
anos na prisão por isso, mas acabou saindo por bom comportamento,
depois desapareceu no vento. E eu sei por que, ele era um dos guardas da
mansão. Obviamente o pagaram para "admitir" um monte de merda que
nunca aconteceu, apenas para desacreditar minha irmã."
"Então todo mundo pensaria que ela fez a coisa toda," eu disse
suavemente. Meu estômago deu um nó da injustiça de tudo isso.
Alex fez uma careta. "Sim. Quem eles ouviriam? O reverenciado chefe
de polícia, ou uma adolescente, com histórico de problemas?”
"Deus, isso é horrível."
“No mesmo dia em que nos disseram toda essa porcaria, o chefe a
visitou em seu quarto, enquanto eu estava lá. Ele disse que sabia o que lhe
aconteceu e entendia por que sentiu a necessidade de mentir. Disse
também que esperava que um dia ela admitisse a "verdade."”
Ele olhou para o concreto por alguns segundos, antes de continuar.
"Nunca esquecerei como ela estava com medo, depois que ele saiu. Estava
branca como osso, tremendo de terror. Então se inclinou e disse: "ele era
um deles."
"Meu pai."
"Sim. Fui o único que acreditou nela. O único que não questionou o que
lhe aconteceu. Eu a ajudei o máximo que pude e prometi que um dia
encontraria justiça para ela. Mas não havia tanta coisa que eu podia fazer,
não levaria de volta o que foi feito para ela. Não poderia fazê-la feliz,
nunca mais.”
"Então, o que aconteceu?"
Seus olhos ficaram lisos. "Ela se matou, apenas alguns meses depois
que foi liberada do hospital," ele disse suavemente. “Isso me rasgou em
pedaços, quebrou meu coração."
"A nota..." Eu não consegui terminar a frase, estava muito sufocada.
"Ela me deixou uma nota, antes de fazer isso, sim," disse ele. “Ela disse
que sentia muito e me amava, mas, simplesmente, não podia mais estar
aqui. Não neste mundo, o tipo de mundo que levaria alguém como ela
para debaixo do tapete, depois de todas as maneiras que foi brutalizada.
Fui eu quem a encontrou no banheiro, com os pulsos cortados. Tentei
salvá-la, mas não consegui. E depois disso, só... Eu sabia que precisava
manter minha promessa, então decidi que não iria parar, até que fizesse
cada um deles pagar pelo que fizeram com ela e todas as outras crianças.
Tenho tentado exterminá-los, desde então. ”
"Sinto muito," eu disse, lágrimas escorrendo pelo rosto novamente.
Ansiava por ele, senti sua terrível dor e tristeza. "Sinto muito por nunca
ter perguntado."
"Está bem, entendo porque você não fez, estava com medo,” disse ele.
Balancei a cabeça tristemente. "Ainda assim... eu deveria ter dito
alguma coisa."
"Não," ele disse com uma voz firme, pegando minha mão. “Eu deveria
ter contado sobre Lina mais cedo. Deveria ter-lhe dito como e por que eu
sabia tanto sobre o Círculo, quando ninguém mais sabia que eles existiam.
Deveria ter-lhe dito por que comecei a ir atrás deles, em primeiro lugar.
Contive-me e me arrependo disso.”
Estendi a mão para esfregar seu braço. "Entendo por que não me
contou, no entanto. E como disse, você iria, eventualmente. Se eu não
tivesse bisbilhotado suas coisas e tirado conclusões precipitadas, nada
disso teria acontecido.”
"Talvez não. Mas você me entende agora?” Ele inclinou meu queixo
para encontrar os seus olhos. "Entende como sei que eles são tão
perigosos? Como podem destruir vidas e se livrar de problemas toda
vez?”
Balancei a cabeça. "Sim. Claro. Desculpe-me, não confiei em você. Não
posso... não consigo me perdoar,” murmurei, abaixando os olhos. "Quase
consegui matar nós dois."
“Bem, você tem que se perdoar. Sua reação fazia sentido e não importa
o que fizéssemos, esse idiota iria nos encontrar e aparecer ontem à noite,
de qualquer maneira.” Ele acenou para Dwyer.
"Acho que sim." Era verdade, mas ainda assim, senti uma sensação
esmagadora de culpa.
“Prometo, de agora em diante, não vou mais me segurar, espero o
mesmo de você.”
"Você vai conseguir, prometo, ”respondi.
Ele sorriu, depois se ajoelhou e pegou a pulseira que tinha saído junto
com a foto. "Você levou isso com você, quando saiu," ele murmurou
baixinho, apertando-o em volta do meu pulso esquerdo, em seguida,
levantando a mão para alisar o meu cabelo novamente. "Sabe o que isso
me diz?"
"O quê?" Eu disse sem fôlego.
"Isso me diz que parte de você ainda me amava e confiava em mim,
mesmo quando o resto não acreditava em uma palavra do que eu disse."
Balancei a cabeça. "Eu queria lembrar de você," sussurrei. "Apenas no
caso de eu estar errada... e estou tão feliz por estar."
Ele me puxou para outro abraço caloroso. Respirei seu cheiro, sabendo,
com certeza, quão completa e totalmente eu pertencia a ele. Mente corpo
alma. Eu era dele.
Finalmente me afastei e o olhei novamente. "Como me encontrou aqui?"
“Sua terapeuta. Você estava certa, quando pensou que ninguém estava
invadindo seus arquivos. Ela era uma informante, vazando informações
sobre você para o resto.”
"Oh Deus. Realmente?” Meu coração pulou uma batida. Parecia que
quase todo mundo estava no Círculo, neste momento. Primeiro meu pai,
depois Dwyer, agora Dra. Fitzgibbons também. Quem seria o próximo?
Foi louco.
"Sim. Mas ela foi útil no final, suponho, pois me trouxe até aqui.”
"Ela está...?" hesitei, deixando a pergunta óbvia sem declaração.
Ele assentiu. "Sim, está morta. Foi rápido.”
"E ele?" olhei de volta para Dwyer, que ainda estava desmaiado na
mesa.
Os olhos de Alex brilharam. "Ele? Vou matá-lo também. E isso não será
tão rápido.”
Uma miríade de pensamentos e sentimentos flutuou em minha mente,
ao perceber a morte iminente de Dwyer, até que uma ideia em particular
afogou o resto, com sua insistência sinistra e insidiosa.
Alex estava certo o tempo todo.
Todos nós tínhamos os materiais escuros dentro de nós; o risco, que só
precisava de um pequeno fósforo contra ele, para inflamar nossa
necessidade de matar. Minha própria necessidade estava bem e
verdadeiramente excitada, nas últimas vinte e quatro horas e agora,
praticamente, estava respirando fogo.
"Não." balancei a cabeça e olhei para Alex. "Eu quero fazer isso."
7
Alex

Naquele momento, quando Celeste disse que queria matar Dwyer, seus
olhos brilhando com uma intenção ardente, eu soube que ela era,
finalmente, minha.
Semanas atrás, quando ela escolheu ficar comigo e me deixou matar
Dan Vallone, pensei que a tinha. Pensei que finalmente se entregou a mim
completamente. Mas estava errado naquela época. Isso foi apenas uma
pálida imitação do que poderia ter sido, o que deveria ter sido.
Este foi o verdadeiro negócio.
Ela realmente me amava agora. Confiou em mim. Pretendia,
totalmente, ficar comigo.
A cereja no topo era que estava tão perfeitamente fodida quanto eu.
"Você tem certeza?" perguntei, colocando uma mecha de seu cabelo
atrás da orelha. Sua pele estava pálida, com círculos escuros sob os olhos,
do estresse de seu cativeiro, neste pequeno quarto esquecido por Deus.
Mesmo assim, nunca pareceu mais bonita do que agora.
Ela assentiu com firmeza, o rosto marcado pela fúria fria. "Tenho
certeza. Por favor, deixe-me fazer isso.’’
O calor irradiava pelo meu corpo, enquanto ela falava. Imaginei a
jornada à nossa frente, nós dois nos livrando de todos os membros do
Círculo juntos. Imaginei o sangue que verteríamos, as vidas inúteis que
estouraríamos e as vidas jovens que pouparíamos, ao fazê-lo. O tempo
todo Celeste estaria ao meu lado, ajudando-me na minha vingança. Assim
como eu sempre esperei.
Cristo, eu a amava.
Peguei uma faca, antes de perceber que, provavelmente, era demais
para ela, para a primeira vez. Balancei a cabeça para a arma que deixei no
chão mais cedo. "Sabe como usar uma dessas?"
Ela balançou a cabeça, de olhos arregalados.
"Pegue com cuidado."
Ela se agachou para pegar a arma, depois se endireitou e a segurou.
Movi-me atrás dela, ligeiramente para a esquerda, meus lábios se
demorando perto da concha de sua orelha. "Não queremos que ele morra
imediatamente. Nós só queremos machucá-lo, por um tempo. Desenhe.
Ele merece muito.”
"Ele pode ser capaz de nos dizer as coisas também," disse ela, olhando
para mim.
Olhei para o porco nojento que quase maculara minha garota. Ele
estava começando a se mexer na mesa. Sinceramente, duvidava que ele
nos contasse alguma coisa, era um membro antigo do Círculo. Mas Celeste
estava certa, se aplicássemos a pressão correta, ele poderia ser útil, de
alguma forma.
"Sim. Mas ele nem vai pensar em nos contar nada, até machucá-lo.
Então, vamos fazer algumas práticas de alvo, apontar para uma de suas
pernas.”
"Queria poder apontar para sua virilha," ela murmurou, estreitando os
olhos em concentração.
Eu ri. "Paciência, coisa doce." Meus dedos passaram sobre as partes da
arma que ela não estava tocando. "Desligue a segurança aqui." Cliquei em
uma pequena pegada cinza, acima da arma. “Agora, descanse o dedo no
gatilho. Não aperte ainda. Você vai se surpreender com o quão poderoso
é. A força pode te derrubar, no começo, porque você não está acostumada
com isso. ”
Celeste rangeu os dentes. "Vou gerenciar."
Sorri. "Aponte este caminho." lentamente movi a mão para baixo, de
modo que a arma estava de frente para o joelho esquerdo de Dwyer.
"Agora aperte o gatilho, quando estiver pronta."
Ela fechou os olhos por um segundo, depois os abriu e apertou o
gatilho. Fiquei tenso, esperando pelo estrondo alto do tiro, mas nada
aconteceu, além de um pequeno clique.
Celeste abaixou a arma e se virou para mim, as sobrancelhas franzidas.
"O que aconteceu?"
"A arma deve ter bloqueado." Eu apeguei e inspecionei. "Eu resolvo
isso."
Havia alguma gosma acumulada, perto do pino de disparo, mas estava
pronto para ir, dentro de alguns minutos. Segurei, para ela tomar
novamente.
Dwyer estava acordado agora, olhando para nós de onde ele estava
amarrado. "Você não atiraria em mim, Celeste, não tem coragem,” ele
murmurou, em uma tentativa superficial de jogá-la fora. Eu o ignorei,
sabendo que ela tinha força e coragem para se defender agora.
“Quer apostar?” disse ela, segurando a arma com o cano voltado
diretamente para seu rosto. Baixou de volta para o joelho. "Quando eu
terminar com você, será o único nesta sala sem coragem, literalmente."
Sorri. Sempre amei sua faísca. "Vá em frente,” eu disse suavemente.
Seus olhos vacilaram, por alguns segundos e me preocupei que
estivesse mudando de ideia. Então ela abaixou a arma e se virou para
mim. "Acabei de perceber algo," ela disse suavemente.
"O que?"
"Eu sabia que você não seria capaz de fazê-lo, sua cadelinha," Dwyer
disse, zombeteiro. Celeste se aproximou e bateu no seu rosto, bem no
nariz. Ele gemeu e sangue jorrou de uma narina, coletando gotículas
carmesim em sua camisa azul-claro.
"Cale a boca," disse Celeste. Ela andou de volta para mim. "Alex," ela
continuou, percebendo minha expressão. "Não mudei de ideia, quero
fazer isso. Mas... ”Seu olhar foi para o chão, havia algo que ela não queria
dizer em voz alta.
"O quê?" perguntei. "Conte-me. Nós prometemos, lembra? Não
retenha.”
"Eu sei, só não quero te machucar mais do que já foi ferido," ela
murmurou. “Mas me lembrei de algo. Quando Dwyer veio para casa,
fingindo me resgatar, ele inventou toda essa história sobre o que,
alegadamente, aconteceu com sua irmã, quando me viu segurando uma
foto dela. Sei que ele fez isso para me fazer te odiar e não confiar em você,
mas apenas me ocorreu, ele sabia o nome dela, antes de eu dizer qualquer
coisa. Ele a reconheceu imediatamente.
Olhei para Dwyer e para ela. “Então voce pensa….”
Ela assentiu. “Acho que foi quem a machucou toda semana com um
sorriso, como você disse antes. Faz sentido, ele estava no Círculo há muito
tempo atrás e realmente, pareceu se divertir com o que fez comigo mais
cedo. Ele adora torturar garotas e acho que adora ainda mais quando elas
tentam revidar. Também acho que é um dos caras que tentaram matá-la
naquele dia. Então, apenas pensei, tanto quanto quero matá-lo... ”Ela
entregou a arma de volta para mim. “Esse aqui deveria ser seu. Ele foi,
provavelmente, o pior para Lina. E está bem, haverá outros para mim,
mais tarde.”
Olhei para Dwyer. "Isso é verdade?" perguntei, os olhos estreitados de
raiva. “Evangeline Gibson era sua garota favorita na mansão e você a via
toda semana? Estava lá, quando tentaram matá-la?”
Ele olhou para mim com uma expressão inocente e falsa em seu rosto
malicioso. "Sim, me pegou. O que é isso para você?” Ele fez uma pausa,
depois riu. “Oh espere, isso mesmo. West encontrou um artigo de jornal
antigo sobre seu ato de desaparecimento e a pequena história, que
disseram ter inventado, quando foi encontrada novamente. Você foi
mencionado na legenda da foto, com o resto da família. É o meio-irmão
dela.”
Balancei a cabeça, em sua pura maldade, sentindo a necessidade oleosa,
rasteira de matar deslizando em minhas entranhas. Olhei para Celeste,
novamente. Ela estava olhando para Dwyer, sua mandíbula definida de
uma maneira determinada. Pensei no bastardo machucando-a. Pensei em
como ele machucou minha irmã, todos esses anos atrás. Toda essa dor e
sofrimento.
Eu precisava desse filho da puta, para sentir essa mesma dor.
Agachei-me ao seu nível. "Ela tinha apenas treze anos, quando você a
levou."
Dwyer zombou. “Se ela não tivesse vagado à noite, parecendo uma
prostituta, talvez nós não a tivéssemos levado. Além disso, você entendeu
tudo errado, ela adorou. Toda essa luta de volta... foi apenas um ato. Ela
queria tudo.”
Ele olhou para mim com expectativa, um leve sorriso curvando em seus
lábios finos. Eu sabia exatamente o que ele estava fazendo. Esperava que
eu atacasse e essa era a reação exata que queria. Ele pensou que, se ele me
irritasse o suficiente, eu ficaria com tanta raiva que o mataria rapidamente,
em um ataque de raiva, atirando bem na cabeça ou no coração.
Ele não teria essa satisfação de mim. Sua morte estaria gritando,
queimando agonia.
"Sei o que v está fazendo e não vai funcionar," eu disse baixinho,
colocando a arma no chão e a empurrando para longe, enviando-a para o
outro lado da sala. “Celeste está certa. Essa matança deve ser minha e não
será rápida. Não será com uma bala. Eu só queria poder levar o tempo que
você teve com minha irmã. Dois malditos anos.”
Pela primeira vez, Dwyer pareceu assustado. Ele já sabia que íamos
matá-lo, mas agora, finalmente sabia o quanto doeria, porque eu não
estava caindo em seus jogos.
Desabotoei sua camisa e ele lutou contra mim, tentando se libertar das
amarras. Foi inútil, estava bem preso.
Puxei a faca novamente, segurando-a diretamente em seu rosto, em
seguida, abaixando-a para seu intestino peludo. "Veja como você gosta,"
eu disse baixinho, afundando a lâmina em sua carne. Eu o arrastei em um
círculo lento, esculpindo o padrão, profundamente, em sua pele.
Ele gritou, até que Celeste se aproximou, pegou uma pequena toalha do
carrinho e a enfiou em sua boca. "Eu não te disse para calar a boca?"
"Obrigado, anjo," eu disse, olhando-a com um sorriso. Ela sorriu de
volta.
Dwyer choramingou e olhou para seu estômago, o rosto ficou pálido,
quando viu o corte circular e todo o sangue que vazava dele. Arranquei a
toalha de sua boca.
"Isso é apenas o começo," eu disse, levantando-me e olhando para ele.
“Tem alguma coisa que queira nos contar? Farei isso um pouquinho mais
rápido, se nos der alguma informação que possamos usar. Ainda vai doer,
mas não por muito tempo.”
Ele engoliu uma respiração profunda, depois cuspiu aos meus pés.
"Foda-se."
“Hum. Assim como pensei.” peguei Celeste de lado. "Preciso de sua
ajuda com o que direi em seguida", murmurei baixinho. “Sua terapeuta
tinha um número em seu telefone, sob o nome de William. Provavelmente,
não é um nome real, mas ainda assim estava lá por um motivo. Vou usá-
lo, para ver como ele reage.”
Ela assentiu, depois se sentou e viu quando cortei parte da orelha
esquerda de Dwyer, com uma navalha da bandeja de metal. Ele gritou
novamente, seus sons chorosos ecoando pela sala.
"Tem certeza de que não há nada que queira nos dizer?" Perguntei,
inclinando a cabeça para o lado.
Dwyer tentou o seu melhor para se recompor e depois cuspiu para
mim, novamente. "Eu disse, foda-se."
"Eu te ouvi. Mas veja, a coisa é, nós já sabemos muito mais do que você
pensa. Nós sabemos onde está a sede da sua mansão, só precisamos
colocar todo mundo lá ao mesmo tempo,” eu disse, começando meu blefe.
"É por isso que precisamos de você."
"Besteira,” ele rosnou. "Você não sabe de nada, não há como saber onde
fica.”
“Oh, mas eu sei. Sei tudo sobre isso, até a fonte de mármore rachada na
frente,” eu disse suavemente. "Então, preciso que me faça um favor e
chame William."
Os olhos de Dwyer se arregalaram e percebi que ele, finalmente,
acreditou que eu sabia muito mais do que realmente sabia. “Como… como
v sabe onde é? E como você sabe sobre ele? Quem diabos te contou?”
“Tenho meus modos. Também tenho o número de William” falei,
puxando meu telefone. "Acho que é um antigo, mas tenho certeza que
você tem o novo, certo?"
Ele não respondeu e simplesmente olhou, presumivelmente ainda
incapaz de acreditar que alguém havia traído o círculo e me dado
informações cruciais. Alegadamente.
“De qualquer forma, aqui está sua tarefa, se quiser uma morte um
pouco mais rápida. Vai ligar para William e dirá a ele que recebeu uma
carta do Heartbreaker.”
“Uma carta?” Dwyer sacudiu a cabeça. "Eu não entendo."
Levantei a mão. "Não interrompa. Dirá que a carta estava zombando de
você, dizendo que o Heartbreaker é, realmente, um de vocês, e que a coisa
toda do "Alex Magnusson" era uma pista falsa, que ele jogou lá fora, para
enganar a todos. Ele é um membro do Círculo, que se tornou desonesto há
anos, por culpa. É assim que está recebendo todos vocês. Lentamente, com
certeza. Um por um. Ele poderia ter se livrado de todos vocês anos atrás,
mas gostou de jogar esse jogo. Gostou de ver todos se contorcerem,
esperando para ver quem será o próximo.”
Fiz uma pausa para efeito dramático. “Depois de ter dito isso, precisa
dizer a William que tem que organizar um evento para cada membro da
mansão. É obrigatório que participem, ou então, será assumido que eles
são a parte culpada e tratados de acordo. Quando todos estiverem lá, você
poderá começar a descobrir qual é o assassino. Meio como um jogo de
pistas, só para pedófilos doentes. Pense nisso."
Dwyer olhou para o chão, contemplando minhas palavras. O sangue
ainda estava escorrendo do ferimento da orelha e do círculo entalhado em
seu estômago. Ele parecia sem esperança.
"Alex," Celeste sussurrou, puxando-me de novo, para que ele não
pudesse ouvir nada. "Na verdade, não sabemos onde fica a mansão.
Mesmo que ele faça o que você diz, como vamos chegar lá para esse
evento?”
"Acho que poderemos encontrá-lo. A Dra. Fitzgibbons me contou
alguns detalhes sobre isso e acho que esses detalhes podem acionar o
suficiente em sua mente, para ajudá-la a lembrar onde está.”
Seus olhos se arregalaram. "Mas e se eu não fizer?"
"Então, vamos ter que encontrar o caminho mais difícil e olhar em todas
as mansões, em um raio de trinta quilômetros, até encontrarmos uma que
corresponda à descrição."
"Isso pode levar séculos." Ela cruzou os braços.
"Vou manda-lo fazer o evento daqui a duas semanas. Mas não se
preocupe, anjo. Acho que será capaz de lembrar, acredito em você."
Ela mordeu o lábio inferior. “Acho que comecei a lembrar de mais
coisas, recentemente. Ontem à noite, finalmente, lembrei-me de como era
o salão principal.”
Toquei a mão em seu ombro. "Viu? Vai ficar tudo bem.”
Eu sabia que era uma aposta, mas tinha a sensação de que funcionaria.
Celeste havia sido exposta à verdade por um tempo agora e as memórias
estavam retornando, lenta, mas seguramente. Continuariam vindo.
"Eu pensei sobre isso," disse Dwyer, do outro lado da sala.
Voltamos nossa atenção para ele. "E?" perguntei, aproximando-me.
Ele me deu um sorriso frio e sem humor. “E minha resposta ainda é:
foda-se. Só porque alguém desistiu de informações e te ajudou, não
significa que eu vou.”
Celeste entrou, antes que eu pudesse responder. "Tive a sensação de
que você poderia dizer isso," disse ela. “Mas deveria saber, lembro da sua
mesa, no escritório de campo. Você tem uma foto de seus filhos lá. Pode
gostar de ferir as crianças de outras pessoas, mas não quer que a sua seja
presa e cortada em cubos, não é?”
Ela inclinou a cabeça para o lado, interrogativamente. Sorri. Ela estava
levando este jogo como um pato para a água. Nós dois sabíamos que
nunca machucaríamos os filhos de Dwyer, mas ele não sabia disso.
"Você... você não faria isso," ele murmurou. Nós o chacoalhamos, eu
sabia.
Celeste sorriu. “Isso é um risco que quer correr? Quais eram seus
nomes mesmo? Ela coçou o queixo. “Oh, Eric e Sarah, certo? Não deve ser
muito difícil rastreá-los.”
"Eu..." Dwyer balançou a cabeça impotente. "Por favor. Não.”
"Como é ser aquele a quem implorar, uma vez?" perguntei, olhando
para ele sem um traço de pena em minha expressão. "Deve se sentir
estranho, hein?"
"Você não poderia realmente machucar uma criança, poderia?" Ele
respondeu suavemente, com os olhos arregalados, enquanto olhava para
cada um de nós.
"Isso é irônico, vindo de você," disse Celeste, suas bochechas vermelhas.
“Ontem à noite, lembrei-me de tudo, desde quando te conheci, Dwyer. Eu
tinha apenas seis anos, mas você ainda queria me levar para cima e fazer
as coisas comigo. Você, certamente, não parece ter nenhum problema com
crianças magoadas, então por que deveríamos?”
"Eu prometo, se fizer o que dissemos, eles ficarão bem," acrescentei.
Ele olhou para baixo, percebendo que não havia nada que pudesse
dizer ou fazer para mudar nossas mentes. "Farei a ligação" ele disse
indiferente.
"Bom." peguei minha arma. "Vou segurar isso perto de você, enquanto
faz a ligação. Você sai do roteiro por uma fração de segundo e atirarei em
seu pau. Então, irei encontrar seus filhos.”
Dwyer estremeceu, com o pensamento. "Não vou, apenas me fale o que
dizer” ele murmurou.
Passei pelas palavras exatas do que precisava dizer, dependendo do
que o outro homem disser ou perguntar, durante a conversa. Eu o fiz
ensaiar uma dúzia de vezes. Então peguei o telefone do bolso da calça e
segurei. "Diga-me a senha para entrar."
“6401.”
Uma vez que eu estava em seu telefone, percorri sua lista de contatos
até encontrar um chamado William. Segurei o telefone para ele. "Este é o
número certo?"
Dwyer balançou a cabeça tristemente. "Uh-huh".
"Vou colocá-lo no alto-falante." Apertei o botão do alto-falante e
coloquei o telefone na frente de Dwyer.
Um homem respondeu apenas alguns segundos depois. "Onde diabos
você está, Greg?" Ele latiu.
"Eu... estou preso no trabalho," disse Dwyer. Ele nervosamente limpou
a garganta. "Tenho que manter as aparências."
O homem grunhiu. “Hmph. Certo. Ainda não consigo acreditar nessa
merda. Por que diabos estamos pagando esses idiotas? Eles perderam a
porra do Heartbreaker, o único cara que precisamos. E você sabe,
realmente te responsabilizo por isso. Se você estivesse por perto e se
certificasse de que tudo estava planejado, em vez de fugir com a garota
Riley, poderia ter funcionado. Onde ela está, afinal?”
Celeste tinha uma expressão distante no rosto, como se reconhecesse
vagamente a voz, do outro lado da linha, mas não conseguia identificar,
exatamente, onde tinha ouvido antes.
"Ela está morta. Lidei com ela como planejado,” disse Dwyer.
“Ninguém irá encontrá-la por um longo tempo e, quando isso acontecer,
parecerá suicídio. Eu a fiz escrever a nota e tudo mais.”
"Bom."
“De qualquer forma, eu estava ligando sobre a nossa situação
Heartbreaker. Magnusson não é nosso cara, então podemos parar de
procurar por ele.”
"O que?" O outro homem disse bruscamente. "Como isso é possível?
Você disse..."
“Sei o que eu disse e tive certeza disso na época, mas não é ele. Ele
tinha Celeste por todas aquelas semanas sim e é, provavelmente, por isso
que ele fugiu de nossos caras, mas não é nosso assassino. ”
"Como sabe disso?"
“Recebi uma carta no escritório do verdadeiro Heartbreaker. Ele disse
para não contar a ninguém sobre isso e que mataria minha família, se ele
descobrisse que eu fiz, mas, obviamente, não vou guardar isso para mim.
Tive que te dizer, pelo menos.”
"E? O que ele disse?”
“Ele estava me provocando. Sabia que eu estava usando o West para
tentar encontrá-lo e lhe forneceu informações falsas, para fazer parecer
que Magnusson poderia ser nosso cara, só para brincar conosco. Entenda
isso: ele disse que é um dos nossos.”
"O que?"
“Ele é um de nós. Círculo interno. Está brincando conosco esse tempo
todo. Todos esses anos, ele poderia ter matado qualquer um de nós, a
qualquer momento. Mas ele gosta de jogos.”
"Besteira."
“Nenhuma besteira. Realmente, não posso acreditar que não percebi
antes. Apenas pense nisso. Nós nos perguntamos por anos como ele
estava nos encontrando, como, exatamente, ele sabia quem nós éramos e o
que fazemos. Agora sabemos. Ele não estava descobrindo as coisas ao
longo do caminho. Ele sempre soube, desde o começo. Esteve lá o tempo
todo, bem debaixo dos nossos narizes. Um de nós."
O outro homem ficou em silêncio por um momento. "Merda" ele
finalmente disse. “Merda do caralho. Não, eu… não posso acreditar.”
Como previsto, estava funcionando. Ele estava, claramente,
desconcertado; sua voz velha e rouca subiu ligeiramente um tom.
“Eu também não, a princípio, mas ele deixou outra coisa no envelope
para provar isso. É um anel que costumava pertencer a John Riley. Ele
roubou dele, quando o assassinou e manteve isso o tempo todo. Quinze
malditos anos.”
O outro homem soltou um suspiro longo e instável. Estava
completamente abalado agora. "Porra. Bem, obviamente, não é você e não
sou eu, mas ainda há o que... outros quarenta e sete que poderiam ser?
Qual é a nossa associação nestes dias?”
“Quarenta e nove, incluindo nós, então sim.”
"O que diabos devemos fazer?"
"Tenho uma ideia. Damos a palavra a todos que há uma reunião
obrigatória, em algumas semanas, na mansão. Não vamos dizer a eles por
que e porque estamos indo tão longe no futuro, não parece ser urgente e
portanto, suspeito. Quando todos chegarem, tentaremos descobrir quem
pode ser. Se tudo se resume a isso, vamos mantê-los todos trancados
naquele salão de baile, até descobrirmos.”
"E se ele não aparecer?"
"Se alguém se recusar a comparecer, provavelmente, podemos assumir
que é culpado de alguma coisa, mas acho que nosso cara virá."
"Por quê?"
"Ele não será capaz de resistir à chance de nos ver a todos e,
secretamente, rir de nós, enquanto passa na frente de nossos rostos. Ele
tem feito isso o tempo todo, afinal. Então, por que perderia outra chance?
Contanto que não saiba que eu contei a mais alguém sobre a carta, ele
estará lá. É só mais uma festa para ele. Apenas mais uma chance de
zombar de nós.”
O homem grunhiu. "Suponho que isso faz sentido."
"Sei que é um tiro longo. Mas nós temos que tentar, ou então ele vai nos
pegar, eventualmente.
"Certo. Vou configurar. Faremos isso no dia 1º de dezembro. Íamos
fazer uma festa naquela noite, de qualquer maneira. Direi que é
obrigatório. Talvez eu diga que temos novas crianças entrando e é por
isso.”
"Boa ideia," disse Dwyer.
"Vou deixar todo mundo saber. E não diga isso a ninguém. Faça-o
pensar que não contou a ninguém, assim como a carta exigia. Como você
disse, se ele sabe que estamos nele, não vai aparecer. Obviamente,
saberíamos quem é, mas não queremos apenas saber, queremos acabar
com ele, bem aí.
"Sim. Dará certo.”
Acenei minha mão para Dwyer e ele terminou a ligação.
"Perfeito," eu disse, com um sorriso triunfante. “Isso foi ainda melhor
do que eu pensava. É uma pena que você não vá participar da festa e ver
todos os seus amigos morrerem. ”
Dwyer caiu para trás, o rosto branco e coberto de suor. "Só deixe meus
filhos em paz, ok?" ele murmurou.
"Não se preocupe, cumpro minhas promessas,” eu disse. "Não vamos
tocar em um fio de cabelo das suas cabeças."
Ele olhou minha arma. "Você disse que me mataria rápido, se eu te
ajudasse."
Inclinei minha cabeça para o lado. "Oh, isso mesmo. Eu fiz, não fiz?
Mas você vê, nunca prometi, realmente, essa parte.”
Seus olhos se arregalaram. "Mas... você... você disse..." ele balbuciou.
“Às vezes eu minto. Você sabe tudo sobre isso, passou toda a sua vida
mentindo para as pessoas e fingindo ser um bom rapaz,” eu disse.
Levantei-me e inspecionei os dispositivos de tortura, no carrinho de metal,
antes de escolher uma rebarbadora sem fio. “Bem, que coincidência. Isso é
exatamente o que preciso.”
Coloquei o moedor para baixo e desamarrei Dwyer, antes de colocá-lo
em pé e jogá-lo na mesma mesa em que tinha algemado Celeste, há apenas
uma hora atrás.
"Ajude-me a amarrá-lo," eu disse, olhando para ela.
"Sim, senhor," ela murmurou. Ainda é minha boa menina. Entrou em
ação, usando as cordas para amarrar os pulsos de Dwyer ao redor das
algemas de metal, visto que ele não caberia nelas.
Ele chorou na mesa, implorando por misericórdia. Assim como sempre
fizeram no final. Peguei o moedor de novo, tirei a guarda, liguei-o e virei
de lado, para que a lâmina ficasse voltada para baixo. Com a visão e o som
do aço zunindo, ele começou a gritar.
"Vire-se. Você não quer ver isso," gritei para Celeste.
Seus olhos foram de Dwyer para mim. "Quero ver isso." Seus lábios se
contorceram em fúria, quando voltou seu olhar para ele. Estava sedenta
pela matança, não importa o quão horrível e sangrenta.
Essa é minha garota.
Dwyer gritou novamente quando eu trouxe o moedor para baixo em
seu peito. Cortou facilmente através da pele, desde logo abaixo do pomo
de Adão, até um pouco acima do umbigo, antes de se enrugar
desagradavelmente, através do osso esterno embaixo.
Os olhos de Celeste nunca vacilaram, enquanto observava o sangue de
Dwyer voar em todas as direções. Ele soltou uivos após uivos, mesmo
depois de eu ter virado o moedor e o colocado no chão.
Estendi a mão para o esterno aberto e o abri, dando-me acesso ao
coração dele, sem ter que quebrar as costelas. Dwyer, finalmente, parou de
gritar, quando o choque se instalou. Em vez disso, gaguejou e gemeu,
quando peguei seu coração e o puxei para fora. "Não…"
Seu coração continuou batendo por alguns segundos, enquanto sua
pele se tornava mortalmente branca. Então o pulsar cessou e seus olhos
ficaram vazios.
"Ele está..." A pergunta de Celeste foi interrompida, antes que ela
pudesse perguntar.
Balancei a cabeça e deixei cair o coração ao lado dele na mesa. "Ele se
foi."
"Foi rápido."
Sorri. "Acho que eu disse a ele a verdade, depois de tudo."
Ela pegou algo, de uma das bandejas de metal, uma espécie de barra de
metal e foi até o corpo de Dwyer. Depois de mergulhar a vara em uma
poça de seu sangue, levantou-a no ar e se dirigiu para uma das paredes.
Então, lentamente, pintou uma mensagem de aviso macabro sobre ela,
seus olhos escuros e tempestuosos. ISTO É APENAS O COMEÇO.
"Perfeito," eu disse. Estava tão orgulhoso dela.
Ela jogou a vara no chão e limpou as mãos na jaqueta. "E agora?"
Sorri. “Agora? Encontraremos o resto dos bastardos.”
8
Celeste

O som da água pingando me acordou. Eu estava sonhando, algo


sombrio e caótico e levei um momento para desvendar meus pensamentos
enlameados e descobrir onde eu estava. Alex não estava na cama ao meu
lado. Comecei a entrar em pânico, quando, finalmente, lembrei-me.
Estávamos em um motel, e ele estava em uma cama diferente. O único
lugar que aceitava dinheiro e estava vago, quando procuramos a noite
passada, em uma área diferente de onde estava o motel anterior, só tinha
camas de solteiro, no único quarto disponível, então essa foi a nossa única
opção. Não havia como nós dois nos encaixarmos em uma cama pequena
e frágil, então dormimos separadamente, para meu desgosto.
Eu sentia falta de dormir com ele.
Nós poderíamos esperar, no entanto. Valeria a pena, aguardando nosso
tempo, enquanto descobrimos como nos livrar do resto do Círculo, para
que um dia pudéssemos estar seguros novamente e livres, para passar
todas as noites juntos, em nossa própria casa. Na nossa própria cama
grande.
Entrei no banheiro, tomando cuidado para não acordar Alex. Ele
precisava descansar. Depois que me caçou ontem, matou Dwyer, limpou-
se e nos encontrou um novo lugar seguro para ficar, passou a noite
fazendo compras em meu nome. Eu não podia ser vista, por razões óbvias,
então, ele precisava me comprar roupas e coisas novas, para me disfarçar
do jeito que ele se disfarçava, quando precisava. Uma peruca, maquiagem,
lentes de contato coloridas, óculos falsos, todas essas coisas.
Ele também teve que nos conseguir comida e outros suprimentos e
quando terminou, eu sabia que estava esgotado. Sabia que ele não tinha
dormido até me encontrar fazer tudo que fez.
Alex estava sempre trabalhando tão duro, fazendo todo o possível para
me ajudar e me apoiar. Tudo o que me pediu foi ouvi-lo e seguir todas as
regras, que me manteriam em segurança. Até agora, falhei com ele
miseravelmente.
Ainda me sentia enjoada, a cada segundo que passava, duvidando dele
no passado. Lutei com ele a cada momento, mas ele era um homem
paciente e esteve lá, para limpar todas as minhas bagunças e me salvar de
novo e de novo.
Agora, estava recebendo exatamente o que esperava, por todo esse
tempo. Rendi-me totalmente a ele, renunciei a todo controle, finalmente o
deixei cuidar de mim e de tudo na minha vida. Eu era dele para sempre e
o seguiria na escuridão, não importa quando e onde possa estar.
Tomei banho, depois me envolvi em uma toalha e comecei a
experimentar meu novo disfarce. A peruca loira-mel era chata de fixar na
cabeça, no começo, mas depois que me acostumei, tive que admitir que
parecia bastante decente. A cor contrastava muito bem com as lentes de
contato avelã e depois que terminei de passar rímel, delineador preto, base
e batom rosa, fiquei muito diferente.
Tentei não pensar na minha situação atual, enquanto fazia um giro na
frente do espelho. Por alguns segundos, eu era outra pessoa,
completamente. Eu não era a garota que, apenas catorze horas antes, viu
seu homem abrir o peito de outro e arrancar o coração, antes de deixá-lo
ao lado de seu cadáver, como um aviso. Eu não era a garota que estava
desesperada para fazer isso sozinha, forçando a luz a desaparecer dos
olhos de todos que a ameaçaram. Eu não era a garota que tinha uma
cabala sombria inteira atrás dela.
Não, agora eu era apenas uma garota brincando de se vestir.
"Você parece uma boneca."
Virei-me para ver Alex me observando da porta do banheiro. Ele,
finalmente, acordou e a julgar pela protuberância em suas calças, não foi
apenas sua mente que despertou.
"Gosta de mim como loira?" Eu disse, paquerando-o, provocando-o. Dei
um passo para trás, para que ele pudesse ter uma visão melhor do meu
novo visual.
"Gosto de você como qualquer coisa," ele rosnou, aproximando-se de
mim e me puxando para mais perto dele, em um movimento duro.
Arrancou minha toalha ao mesmo tempo. "Especialmente assim,"
acrescentou ele, mãos grandes deslizando sobre o meu corpo nu. “Entre
no chuveiro, bonequinha. Mostre-me quem é seu dono.”
Arrepios apimentaram minha pele nua. O motel tinha aquecimento
central, mas ainda estava frio. “Já tomei banho e não quero estragar a
maquiagem.”
Enquanto falava, afastei-me de Alex e tentei pegar a toalha para me
cobrir, mas ele me parou, prendendo meu braço em seu forte aperto.
"Gostou de ter poder e controle, recentemente. Eu sei disso.” falou, seus
olhos escuros e brilhando de luxúria. Ele se aproximou novamente,
apoiando-me contra a porta de vidro do chuveiro. "Mas também te
conheço e sei que você gosta mais quando você me dá tudo."
Tremi, enquanto ele falava. Estava certo. Por mais que eu gostasse de
provocá-lo, exibindo o poder que meu corpo tinha sobre o dele, gostava
mais quando me agarrava e tirava tudo de mim sem perguntar. Como se
fosse meu dono.
Suponho que ele me possuiu, de certa forma. Eu me entreguei a ele, não
foi?
Ele se entregou a mim, da mesma forma.
"Entre no chuveiro," ele continuou, em tom de aviso. "Não me faça falar
novamente."
"Sim, senhor," respondi sem fôlego, minhas mãos tremendo.
Fiz como ele ordenou, entrando no cubículo e ligando a água quente
novamente. A respiração de Alex parou, quando ele tirou a roupa e se
juntou a mim, os olhos nunca deixando a curva dos meus seios, enquanto
a água caía em cascata sobre minha pele, deixando-me rosa e quente.
Ele me apoiou contra a parede de azulejos e afastou minhas pernas,
moendo sua ereção contra mim. Então sua boca esmagou a minha e mais
uma vez eu estava perdida no poder de seu abraço. Ele me beijou, como se
fosse a última vez, mesmo que nossa vida juntos apenas tivesse começado.
Ele se afastou um momento depois, deixando-me ofegante contra a
parede, meus lábios e língua formigando. "A quem você pertence,
boneca?" Ele grunhiu contra a concha da minha orelha. "Quem pode fazer
o que quiser com esse corpo?"
Ele girou os quadris contra a minha boceta, enquanto falava. Eu gemia,
minhas unhas cavando suas costas, enquanto me agarrava a ele. Meu
corpo estava todo tenso, e se Alex continuasse gritando contra mim desse
jeito, eu poderia sair daquele atrito sozinha. Mas eu sabia que não seria
suficiente para me satisfazer. Não seria suficiente para Alex também. Nós
dois queimamos desesperadamente por mais, mais, mais...
"Você," eu sussurrei. "Pode fazer o que quiser comigo."
"E o que devo fazer?" Ele disse com voz rouca.
"Foda-me." Engoli em seco. “Use-me, para agradar a si mesmo. Sou
apenas um brinquedo. "
Não era como se ele fosse o único a obter algum prazer com isso. Deixá-
lo me pegar e me usar, como se eu não fosse nada além de um objeto, que
existia apenas para o seu pau, sempre me fazia gozar rápido e com força.
Adorei, quando ele assumiu, adorei, quando me dominou.
Eu nunca iria querer isso de outra maneira.
Alex beliscou um dos meus mamilos duros. "Isso é meu."
"Sim."
Ele beliscou o outro. "Isso também." Sua mão vagou até a minha boceta
em seguida, dedos acariciando meu clitóris latejante, em círculos rápidos.
"E isto. Tudo meu."
Assenti freneticamente. Senti muita falta disso. "Sim. Por favor, senhor,
dê...”
Ele me calou, passando a mão em meus lábios. "Eu não disse para você
implorar, pedi?" Ele disse severamente. "Fique de joelhos."
Segui a ordem, caindo de joelhos nos ladrilhos. A água escorreu pelo
meu rosto, molhando a peruca e fazendo meu rímel escorrer pelas
bochechas. Eu parecia uma bagunça, uma bonequinha suja.
Olhei para Alex, enquanto ele punha seu pau perto do meu rosto. De
joelhos, ele parecia ainda maior do que o habitual. Tão puramente
masculino e poderoso.
"Abra bem," ele rosnou, antes de se forçar entre os meus lábios. Ele não
me deu tempo para me ajustar. Pegou a peruca loira e enfiou os dedos
através dela, usando-a para manter minha cabeça imóvel, enquanto fodeu
minha boca em impulsos fortes e urgentes. Tudo o que eu pude fazer foi
levá-lo.
E Deus, eu adorava pegá-lo.
Respirei profundamente pelo nariz, enquanto o levava profundamente
na minha boca e garganta, chupando e lambendo, como se minha vida
dependesse disso. Os sons ásperas de prazer de Alex fizeram meu coração
palpitar, com antecipação quente. Simplesmente agradá-lo do jeito que ele
queria, era suficiente para me aproximar da beira, apenas um toque leve
no meu clitóris, provavelmente, poderia me fazer explodir.
Pensei que ele terminaria na minha boca, mas em vez disso, retirou seu
pau e me puxou em pé, antes de me girar para, que eu estivesse de frente
para a parede de azulejos. "Arqueie as costas," ele ordenou, dando-me um
tapa forte na bunda.
Gritei e fiz o que ele disse, pressionando minhas mãos contra a parede,
em busca de estabilidade. As mãos de Alex pousaram sobre mim, dois
dedos deslizando facilmente na minha boceta encharcada e outro na
minha bunda.
Segundos depois, senti a cabeça do seu pau contra a minha entrada, em
vez dos dedos. Então ele empurrou dentro de mim, em um impulso
áspero e duro. Gritei, quando ele afundou em mim uma e outra vez,
esticando-me e enchendo minha boceta com seu pau grosso.
Um dedo voltou para minha bunda, quando ele fodeu minha boceta,
bombeando dentro e fora no mesmo ritmo. Meus gemidos se
transformaram em gemidos ásperos, quando ele acrescentou outro dedo.
Eu estava tão deliciosamente cheia, esticada além do limite.
"Cada. Buraco. É. Meu.” Alex resmungou, lentamente desenhando cada
palavra. "Diga."
"Sim," ofeguei. "São. Todos. Seus.”
"Você precisa disso." Ele empurrou mais e mais rápido.
"Sim!" Eu gemia. "Preciso de você..."
"Agora você precisa vir," ele ordenou.
A tensão, dentro de mim, desenrolou-se, com suas palavras e vim com
tanta força, que minhas pernas quase desabaram. Meus músculos
apertaram-se ao redor do pau e dedos de Alex, pulsando loucamente. Ele
me segurou firme, com a mão livre, um gemido profundo de animal
saindo de sua boca, quando gozou também, jatos quentes me marcando
como dele, novamente.
Ele continuou me segurando contra a parede, enquanto nos
recuperávamos, o hálito quente persistindo perto da minha orelha direita.
"Cristo, senti falta disso," ele rosnou quando, finalmente saiu, dizendo
exatamente o que eu já estava pensando.
"Eu também." Trêmula, virei-me para encará-lo. "Não vou esquecer
desta vez," acrescentei em um murmúrio.
Sua testa enrugou, quando me olhou. "Esquecer o que?"
"Que sou sua," respondi suavemente, o rosto corando, com as
lembranças do meu desafio e rebelião. "Prometo, nunca esquecerei."
"Eu sei." Ele me empurrou contra a parede novamente, os lábios
pairando logo acima dos meus. "Você não vai. Nunca mais."
9
Celeste

Sequei a peruca, arrumei a maquiagem e saí do banheiro, uma toalha


branca enrolada em volta de mim. Alex estava sentado em uma poltrona
de couro falso no canto, segurando uma escova esfoliante de cerdas duras.
Ele deve tê-la comprado junto com todas as outras coisas que recebeu na
noite passada.
Quando me viu chegando, informou-me. "Para suas costas," disse ele.
Balancei a cabeça. "Na verdade, não está doendo agora. Mas obrigada,”
eu disse, com um sorriso agradecido, enquanto vasculhava as sacolas
novas, procurando uma roupa quente.
Ele olhou para mim intrigado. "Mesmo? Pensei que poderia estar te
incomodando, considerando o que passou nos últimos dias.”
“Acho que assistir Dwyer morrer e até mesmo querer fazer isso
sozinha, fez a dor desaparecer por um tempo. Assim como com os
outros.”
Alex assentiu. "Eu vejo." Ele se levantou e veio até mim, sua mão sobre
minha parte superior das costas. “Um dia ela terá ido para sempre. Não
haverá mais dor.”
"Eu sei." sorri. "Assim que nos livrarmos do Círculo."
Ele assentiu e voltou para a cadeira, pegando um laptop de sua cama
no caminho. Enquanto digitava, vesti jeans e um top preto. Então, desabei
na cama mais próxima da poltrona. "Quando vamos começar?" perguntei.
Alex olhou para cima da tela e se virou. "Já estou nisso. Estou usando o
Google Maps, para criar uma zona para analisarmos. Com a visão da rua,
podemos ver muitos lugares, mesmo longe da cidade. Tenho um tablet
para que possamos trabalhar nisso juntos. ”
"Boa ideia."
Ele gesticulou em direção a um círculo vermelho, que desenhou em
parte do mapa. “Acho que para estar seguro, devemos nos concentrar em
um raio de quarenta milhas da periferia da cidade. Então, qualquer coisa
dentro deste círculo. Também estou vasculhando em todos os registros de
terra disponíveis para o público, procurando por lugares que possam se
encaixar na descrição.”
Suspirei. "É uma pena que haja tantas casas antigas por aí."
A cidade e seus arredores tinham muitas propriedades e mansões
históricas, desde os tempos em que o aço era rei e muitos industriais
fizeram fortuna na região. Depois, havia também aqueles construídos a
partir de dinheiro novo. Nós, realmente, teremos muito trabalho.
"Não vai demorar tanto tempo, se você lembrar de alguma coisa," disse
Alex suavemente, olhando para mim com as sobrancelhas juntas.
Contorci-me desconfortavelmente, envergonhada com minha falta de
ajuda. Alex me contou tudo o que a terapeuta passou para ele sobre a
mansão, mas não tinha refrescado minha memória, ainda não conseguia
lembrar como era o lado de fora ou onde poderia estar.
"Desculpe," eu disse, olhando para o colo. "Lembrei-me do salão de
baile, mas isso é tudo."
Alex sacudiu a cabeça. "Não se desculpe, não quis dizer isso assim, não
se sinta mal. Como eu te disse há um tempo atrás... as memórias são
complicadas. Pode voltar a qualquer momento. Até então, este é o nosso
backup.” Ele acenou para o laptop novamente. "Temos duas semanas. Não
precisa se estressar ainda.”
"Ok."
Desejei que eu pudesse bater na cabeça para agitar as memórias soltas.
Era como se a informação estivesse na ponta do cérebro, em vez da ponta
da língua. Eu sabia que estava tudo lá em algum lugar, podia sentir isso
escondido lá dentro, mas toda vez que eu tentava entender diretamente,
enganava-me inteligentemente.
Encontrei o tablet na outra cama e trabalhei em silêncio, ampliando as
imagens das propriedades das ruas, dentro do círculo vermelho. Encontrei
algumas casas que combinavam com a descrição da dra. Fitzgibbon, três
andares com tijolos vermelhos, em vastas propriedades verdes fora da
cidade, mas nenhuma tinha fontes de mármore nos jardins e a visão delas
não provocou nenhum tipo de reação visceral em mim.
Eu saberia, quando a casa certa aparecesse. Simplesmente veria e as
memórias voltariam, caindo em sequência, mudando de um borrão
bagunçado para algo claro e gerenciável.
Infelizmente, por enquanto, a mansão parecia estar evadindo, assim
como minhas lembranças.
"Qualquer coisa?" Olhei para Alex, esperando que ele tivesse mais sorte
do que eu.
"Nada ainda." Ele esfregou o queixo. "Uma grande parte dos registros
de propriedade não está disponível para o público, a menos que se tenha
um nome exato para colocar na função de pesquisa. Estou tentando
superar isso, mas eles não facilitam. A maioria dos sites do governo é
assim, basicamente inacessível, a menos que você seja algum gênio da
informática. Estou bem, mas não estou tão bem.”
"Droga," eu disse suavemente. Então me animei. “Ei, tenho uma ideia.
Não posso acreditar que não pensei nisso antes.”
"O que?"
Inclinei a cabeça ligeiramente para o lado, descansando o queixo em
uma mão. “E se formos para a casa dos meus pais? Há alguns álbuns de
fotos antigas lá, poderíamos olhá-las. Há uma chance de que meu pai
tenha tirado algumas fotos do lado de fora da mansão, ou perto dela. Isso
pode movimentar minha memória. Quer dizer, é um tiro muito longo, mas
ainda assim... poderia ser alguma coisa.”
Alex franziu as sobrancelhas. "Isso pode valer a pena uma tentativa,"
ele meditou. "Mas não podemos ir lá durante o dia, o Círculo ainda está
me procurando. Estou apostando que eles têm alguém de olho em todas as
suas assombrações, de vez em quando, esperando que alguém possa
tentar entrar de novo, se ficar desesperado o suficiente para se abrigar.”
Caí de volta. "Verdade. E se formos de noite, verão as luzes das nossas
lanternas através das janelas. Não podemos olhar, exatamente, para fotos
no escuro.”
"Sim."
Meu rosto se iluminou novamente. "Espere, não! Acabei de me lembrar.
A última vez que estive lá, Samara e eu empacotamos tudo e levamos para
o porão. Está tudo lá embaixo, incluindo as fotos. Assim, se conseguirmos
entrar na casa no escuro, tudo ficará bem. Ninguém nos verá usando luzes
no porão.”
"Verdade." Alex olhou para o relógio. "Vamos continuar fazendo isso,
por enquanto e iremos para Fox Chapel por volta das onze."
"Tenho um bom pressentimento sobre isso," eu disse animadamente.
"Não quero aumentar minhas esperanças, mas, realmente, acho que
poderia funcionar."
Alex sorriu fracamente. "Bom."
"Mal posso esperar para me livrar de cada um deles," eu disse, meu
coração acelerando, ao pensar no Círculo morrendo em agonia.
“Paciência, meu anjinho da morte. Nós nem encontramos o lugar
ainda.”
"Eu sei. Mas você estava certo mais cedo, nós iremos. E então vamos
fazê-los sofrer. Eles tiveram décadas para administrar o show e foder com
todos… mas agora é hora de irem para baixo. Já estão desmoronando, de
qualquer maneira.” Eu estava mais do que pronta, as bochechas coradas e
o pulso acelerado.
Alex franziu a testa. "O que quer dizer, eles estão desmoronando?"
"Quero dizer que você já matou muitos deles e estão perdendo poder
como resultado. Não acho que são tão fortes e influentes quanto eram a
dez ou vinte anos atrás. ”
"Possivelmente."
Inclinei-me mais perto. “Sério, Alex. Eles estão nervosos, pelo que
Dwyer disse. Eles não têm mais ninguém dentro da polícia. Ele me disse
que você matou o último deles anos atrás. E agora ele também foi, então
eles também não têm uma conexão do FBI.”
“Hum. Não sabia que matei todos os policiais envolvidos. Isso é bom,
no entanto.”
"Sim. Eles não vão ganhar.”
Alex riu. "Gosto da sua nova atitude."
Sorri. “Eu também.” Pela primeira vez em semanas, senti uma
esperança real.
Passamos o resto do dia pesquisando, infrutiferamente, no Google
Earth. Quando chegou às onze, colocamos jaquetas escuras e cachecóis e
saímos para o ar livre coberto de neve.
Dirigimo-nos a Fox Chapel em silêncio, nossas mandíbulas fixadas,
com determinação. Quando chegamos na área, estacionamos,
aproximadamente uma milha do lugar velho dos meus pais e caminhamos
dentro da reserva. Estava congelando aqui fora, mas eu estava quente,
com a adrenalina correndo ao redor do meu corpo.
"Estamos quase lá," sussurrei. Ao longe, através das árvores, pude ter
vislumbres do meu antigo quintal e jardim, iluminado pelo luar.
Quando chegamos na linha das árvores, Alex colocou a mão no meu
ombro. "Você fica aqui, checarei o lugar primeiro, preciso me certificarde
que ninguém está aqui.”
Esperei com apreensão, quando ele entrou no quintal e silenciosamente
se aproximou da casa escura. Meu coração nunca bateu tão rápido, a
respiração nunca chegou tão rápida. E no entanto, o tempo nunca pareceu
se mover mais devagar. Meu estômago estava uma bagunça de torcer, e os
cabelos no meu pescoço ficaram em pé, dizendo-me que eu deveria ficar
longe deste lugar.
E se alguém estivesse na casa, esperando por nós? E se Alex fosse
emboscado? E se ele não voltasse?
Mas, como sempre, ele voltou para mim. Respirei todo o meu medo e
inalei um doce alívio.
"Está limpo," ele disse, pegando minha mão. "Mas devemos ficar o mais
quietos possíveis, de qualquer maneira."
"Sim."
Rastejamos para dentro da escuridão. A porta dos fundos já deve ter
sido desbloqueada, porque Alex não precisou quebrar nada, quando deu
uma olhada há alguns minutos atrás. Isso causou um arrepio em mim,
ainda estava desbloqueada desde a última vez que aqui cheguei, pouco
antes de Alex me levar, ou alguém conseguiu pegar as chaves para ficar
de olho nas coisas, caso eu tentasse voltar?
Empurrei o pensamento fora, tenho que parar de me preocupar com
tudo. Quanto menos estresse sentir, minhas memórias voltarão a se
manifestar.
Respirando fundo, levei Alex para o porão na ponta dos pés. Então,
enfiei a mão no bolso e peguei uma pequena lanterna, que ele me deu
mais cedo.
"Por aqui," sussurrei, indo em direção a uma grande pilha de caixas.
Alex abriu todas elas e, lenta e metodicamente, passamos por tudo o
que continham. Velhos álbuns de fotos, documentos, recortes de jornal,
que meus pais tinham guardado por qualquer motivo... tudo.
Minha esperança diminuiu, com cada foto que não oferecia nenhuma
resposta. Havia muitas, mas nenhuma foi tirada na frente da casa de outra
pessoa, exceto a nossa, salvo algumas tomadas na França, quando meus
pais alugaram um castelo por algumas semanas, durante o verão. Eu era
apenas um bebê na época.
"Eu estava errada," murmurei, jogando outro álbum de lado. "Não há
nada."
Senti-me idiota, por ser tão ambiciosa sobre esse plano. Anteriormente,
tinha tanta certeza de que encontraria algo nesta casa, mas agora percebi
que estava me iludindo com falsas esperanças. Se fosse uma boa ideia,
provavelmente teria pensado nisso muito antes.
"Não desista ainda," Alex disse gentilmente, entregando-me outro
álbum. “Sabe que acredito em você. Qualquer coisa aqui poderia acionar
uma memória.”
Eu, desanimadamente, folheei o álbum. Este continha várias fotos de
família e algumas tiradas em uma festa de aniversário, que mamãe fez
para mim, quando tinha cinco anos. Eu mal me lembrava do evento, mas
agora que via as fotos, lembrei do grande bolo cor-de-rosa que ela assou
para mim. Também lembrei como ela convidou todos os nossos vizinhos e
seus filhos, bem como meus amigos do jardim de infância.
Olhei para uma das fotos, vendo-me soprar as velas do bolo e uma
pontada aguda de tristeza beliscou minhas entranhas. Pobre mamãe. Sua
vida estava mergulhada em desastre e desgosto, desde o dia em que se
casou com meu pai, sem saber que tipo de monstro ele era até ser tarde
demais.
Sem ele, ela teria sido feliz, nunca teria começado a beber. Ela ainda
estaria viva hoje.
Mas eu posso não estar.
Engoli o nó na garganta e coloquei a foto no chão. Peguei outra, que
mostrou alguns de nossos vizinhos na festa, colocando bolo em suas bocas
e posando para a câmera.
Uma lâmpada acendeu na minha cabeça.
"Alex," eu disse.
Ele olhou para cima. "Hum?"
“Da última vez que estive aqui, um dos nossos vizinhos veio me dizer
que tinha algumas fotos antigas dos meus pais em festas. Talvez ele tenha
algumas fotos que nos ajudem.”
“Onde, exatamente, ele mora? Nós teríamos que nos esgueirar e
invadir. Não podemos ser vistos.”
"Sim, eu sei. Ele tem muitas casas, mas geralmente está aqui, na estrada
em...”
Parei no meio da frase. As coisas, em minha mente, estavam
subitamente girando, meus pensamentos se rearranjando e se encaixando
com cliques sólidos.
"Celeste?" Duas linhas preocupadas apareceram entre as sobrancelhas
de Alex.
"Oh Meu Deus," sussurrei. "Bill."
"O que?"
"O nome dele é Bill Francis," eu disse, meu coração acelerado a uma
milha por minuto. "Acabei de perceber... acho que ele poderia ser
William."
“William do Círculo?” Alex disse, arregalando os olhos.
"Sim." Poderia ter me chutado, por não fazer essa conexão mais cedo.
“Ele era muito amigo do meu pai e depois que ele morreu, estava sempre
checando a gente, vindo para ajudar no jardim e coisas assim. Pensei que
ele tinha uma queda por minha mãe e é por isso que queria ficar de olho
em nós e ter certeza de que estávamos bem. Sempre me perguntei por que
ela nunca gostou de Bill de volta, porque ele era tão legal. Mas talvez
mamãe soubesse o que ele, realmente, era. Talvez soubesse que ele estava
apenas nos observando.”
“Hum. Bill é um apelido para William. Não acho que esse era o
verdadeiro nome dele, quando o pegamos, mas não sabemos ao certo.
Poderia ser."
"Uh-huh." balancei a cabeça enfaticamente. “E o cachorro dele… ele tem
um labrador dourado chamado Luna. Quando comecei a lembrar do salão
de baile da mansão na outra noite, recordei que havia um cachorrinho
Labrador dourado, que todo mundo chamava de Lulu. Algumas das
crianças brincavam com ela. E quando Bill esteve aqui há alguns meses,
disse que ela tem dezesseis anos agora. Isso se alinha com o tempo. Eu
estava naquele salão, há quinze ou dezesseis anos. Luna teria sido um
cachorrinho.”
Alex esfregou o queixo. "Merda. Então, realmente, acha que poderia ser
ele?”
"Acho que sim. Ele é super rico e dono de muitas casas diferentes. E é,
definitivamente, rico o suficiente para ter uma mansão, em uma
propriedade rural e pagar pessoas para trabalhar lá como guardas e
motoristas o suficiente, para manter suas bocas fechadas.” Meu lábio
superior se curvou com desgosto.
"Mas você não se lembra de vê-lo na mansão?"
Balancei a cabeça. "Não. Mas mal me lembro de qualquer um dos rostos
lá. E se ele é um dos caras da cabeça, poderia estar muito ocupado para vir
e falar comigo, nas noites em que eu estava lá com meu pai. Ou talvez ele
tenha e simplesmente não me lembro.”
Torturei meu cérebro, mas estava vazio. Tudo o que eu lembrava de Bill
era que ficou de olho em mim e minha mãe ao longo dos anos, após a
morte do meu pai.
Alex pegou seu telefone. “Como eu estava dizendo anteriormente, é
muito mais fácil visualizar os registros de propriedade com nomes exatos.
Qual era o sobrenome, novamente? Francis?”
Balancei a cabeça e esperei ansiosamente, enquanto ele digitava várias
coisas em seu telefone, franzindo a testa em concentração.
"Merda. Só dá endereços, sem fotos.”
"Os endereços do Google," eu disse apressadamente. "Normalmente, se
você colocar isso, mostrará como é o lugar."
"Porra." Ele bateu a mão contra a testa. "Não sei porque já não pensei
nisso, considerando toda a minha ideia de 'street view' mais cedo."
Ele digitou alguma coisa, depois me mostrou seu telefone. "Parece
familiar?"
Havia uma foto na tela de uma grande mansão em estilo de rainha
Anne, de tijolos vermelhos, com hera subindo pela fachada. Balancei a
cabeça. "Nunca vi isso."
Ele assentiu e digitou outra coisa, antes de descartá-la, depois de um
rápido olhar. "Isso não. Branco Colonial e é muito pequeno, " ele
murmurou.
Mostrou-me a tela novamente, um momento depois. "E sobre isso?"
Era uma enorme mansão georgiana de três andares, feita de tijolo
vermelho pálido.
Os cabelos na parte de trás do meu pescoço subiram, um formigamento
rápido. Uma sensação de déjà vu rolou em mim e um flash de sinal
vermelho explodiu em minha mente. A foto não estava bem clara, mas o
efeito que teve em mim foi como pratos batendo juntos.
Continuei olhando para a foto, a boca aberta. Cores, imagens e vozes
estavam girando na frente da minha mente, torcendo e girando juntos, até
que se fundiram em uma memória gritante.
Lembrei-me de estar do lado de fora desta mansão, olhando para cima
e maravilhada, quando meu pai fumou um charuto ao meu lado. Eu sabia
que ele estava bem, dado seu trabalho, mas não estávamos nem perto
desse nível de riqueza. Este lugar parecia um palácio, para minha mente
jovem.
Na época, senti-me como Cinderela, depois que foi convidada para o
baile. Apenas uma menininha e de repente, permitiram-me assistir a uma
festa de adultos, em um palácio luxuoso. Tive muita sorte. Qualquer coisa
poderia acontecer lá dentro, todos os tipos de coisas surpreendentes, além
dos meus sonhos mais loucos.
Como se viu, coisas surpreendentes aconteceram dentro daquelas
paredes de tijolo vermelho, só que estavam além dos meus pesadelos mais
selvagens.
"Alex," finalmente sussurrei. "É isso!"
10
Celeste

Levantando um par de binóculos, que Alex comprou para mim na


semana passada, observei o horizonte e depois os abaixei até o terreno da
mansão do Círculo, à distância.
Estava escondida em um pequeno recanto, que Alex me ajudara a fazer
em uma árvore caída, morta há muito tempo, coberta por arbustos
grossos, salpicados de flocos de neve. Minha bunda se encaixava
perfeitamente em um galho pesado, que ficava preso nos arbustos do
tronco e, se colocasse minhas pernas para cima, desaparecia de volta para
as folhas.
Eu estava vestida com jeans stretch escuro, uma jaqueta verde-oliva
espessa com capuz, gorro combinando e um lenço enrolado na parte
inferior do meu rosto. Alex disse que era o que geralmente usavam as
pessoas que tentavam se esconder, o clarão de pele não cobria seus rosto,
o que imediatamente chamou a atenção. Mas assim, eu era essencialmente
invisível, mesmo que alguém viesse até aqui na cerca dos fundos.
Do meu lugar, eu tinha uma visão clara da parte de trás da mansão,
desde que usasse o binóculo, que me permitia ver as coisas claramente a
meia milha de distância. Eu estava atrás da cerca dos fundos da
propriedade, elétrica, é claro, bem longe da casa e de seus arredores
nevados, mas o terreno caía um pouco para cá. Não em um ângulo
drástico, apenas uma pequena queda, mas foi o suficiente para eu poder
sentar aqui no meu canto, com uma visão perfeita dos jardins e da casa,
espiando como um agente secreto.
Foi assim que me mantive calma, durante as nossas sessões de vigia
diárias. Fingi que era apenas uma aventura emocionante, tudo parte de
um thriller exagerado, que eu estava estrelando, sem consequências reais.
Mas então eu notaria alguém chegando na mansão e a emoção
desapareceria. Mesmo que eu não pudesse ver a frente da casa daqui,
podia ver a entrada de carros à distância e, portanto, quaisquer carros
vagando por ela, trazendo vários caras, por algumas horas de cada vez.
Quando isso acontecesse, eu me arrastaria de volta à realidade, o coração
batendo dolorosamente e aquele doloroso formigamento de dor no nervo
retornaria aos meus ombros e espinha.
Este não era um filme de suspense fictício, era real.
Crianças e adolescentes estavam sendo abusadas naquela casa agora
mesmo, enquanto eu me sentava aqui, todo aquecida, segura e
aconchegante. A injustiça e a crueldade disso deixaram-me nauseada. Os
adultos também estavam sendo abusados, já que ex-escravos sexuais eram
forçados a trabalhar como criados, quando estavam "muito velhos".
Eu queria correr lá embaixo, com armas em chamas, literalmente, para
que Alex e eu pudéssemos nos livrar de todos os guardas, junto com
qualquer membro do Círculo que estivesse visitando na época. Mas sabia
que não poderíamos. Além do risco, precisávamos esperar, até que cada
membro e guarda estivesse presente na mansão.
Se matássemos apenas alguns deles agora, o resto ficaria assustado e
nunca mais voltaria aqui. Eles explodiriam este lugar e encontrariam um
novo covil de iniquidade e estaríamos de volta à estaca zero, tentando
caçá-los, sem nada para continuar.
E assim, por mais que me doesse, tínhamos que esperar até a hora certa.
Abaixei os binóculos e anotei o turno da guarda da manhã, mudando o
tempo no pequeno bloco, que mantinha comigo. Um vento frio soprava
pela área, tremi e puxei o capuz sobre a cabeça. Embora estivéssemos nos
aproximando do final de novembro e quase tudo estivesse envolto em
neve, na verdade, estava bem quente mais cedo. O sol tinha saído,
brilhando no tapete branco sem graça e fiquei confortável no pequeno
recanto.
Agora, só queria ir para casa e tomar um banho quente. Não que eu
pudesse ir para casa, Alex e eu ainda estávamos em uma série de motéis
de baixa qualidade, escondidos do mundo real.
Os cabelos, na parte de trás do pescoço, levantaram-se, um segundo
depois. Atrás de mim, na reserva natural da propriedade, alguém se
aproximava. Eu sabia, porque tinha colocado vários paus ao redor da área
atrás de mim, para que eu ouvisse o barulho de passos próximos.
Alex me deu uma arma para usar em proteção, quando ele estava fora,
vigiando outras áreas. Isso devia me fazer sentir mais segura, mas o
pensamento de alguém me encontrar aqui ainda me enchia de pavor.
Haveria perguntas, muitas delas e não estava preparada para respondê-
las.
"Celeste? Você está bem?"
Coloquei a cabeça para fora, para ver Alex em pé, na frente do denso
bosque atrás de mim. Soltei um profundo suspiro de alívio. "Deus, quase
me deu um ataque cardíaco," eu disse. “Pensei que ficaríamos aqui fora
por mais tempo, então, imaginei que você fosse apenas um caminhante
aleatório ou algo assim. Eu estava tentando pensar em uma maneira de
explicar, exatamente, por que estou me escondendo em um arbusto, com
todo esse equipamento de espionagem.” Lancei-lhe um sorriso triste.
Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar, então me beijou na testa.
Seus lábios eram quentes e macios.
"Desculpe bonita. Não pretendia te assustar. Mas está ficando mais frio
e acho que temos tudo que conseguimos, de qualquer maneira. Imaginei
que deveríamos voltar para a cidade e começar a pegar o restante do que
precisamos.”
"Você derrubou as câmeras?"
Ele assentiu. “Tenho todos elas. Não se preocupe, ninguém me viu.”
Nós estávamos vigiando o lugar por uma semana. Além de espionar e
fazer anotações de nossos esconderijos à distância, Alex instalou pequenas
câmeras de alta resolução em volta do perímetro, que podiam ampliar e
registrar toda a atividade da mansão. Obviamente, isso só nos mostrou o
que acontecia do lado de fora, assim como nossos binóculos, mas nos
permitiu descobrir detalhes importantes, que de outra forma não
saberíamos.
Por exemplo, as filmagens de quatro dias atrás mostraram-nos como o
local estava fortemente equipado com alarmes. Um pássaro tinha,
acidentalmente, voado para uma janela do andar superior ao amanhecer e
um alarme foi, imediatamente, acionado, enviando os guardas em pânico,
enquanto avaliavam freneticamente a situação. O pássaro estava bem,
apenas aturdido, mas nós achamos, a partir dessa gravação, que cada
janela tinha algum tipo de sensor neles. Se algo a tocasse, acionaria o
alarme e, portanto, os guardas. Provavelmente não saberíamos isso sem as
câmeras.
"Está pronta para ir?" Alex perguntou, escovando algumas folhas do
ombro esquerdo do meu casaco. "Ou quer ficar e vigiar por mais tempo?"
Balancei a cabeça. "Não, acho que você está certo. Nós temos as coisas
resolvidas, tanto quanto podemos, de qualquer maneira.”
Em nosso período de treinamento, acumulamos muitas informações
sobre a mansão e seus arredores amplos. O antiquado edifício de tijolos
vermelhos tinha, provavelmente, cerca de cinquenta mil metros
quadrados, e a propriedade parecia ter cerca de cem acres.
Além da cerca elétrica em torno do perímetro, era delimitada por uma
densa floresta de uma reserva natural, proporcionando ao local muita
privacidade. Havia também grandes aglomerados de árvores em toda a
terra. Eles poderiam ser úteis como esconderijos, quando finalmente
entrarmos.
Na parte da frente da mansão havia um longo caminho alinhado com
ciprestes. A entrada de carros se alargava perto da mansão, circulando ao
redor da grande fonte e havia um lugar para estacionar, logo depois da
direita da casa, com espaço suficiente para acomodar pelo menos
cinquenta carros.
Na parte de trás da mansão havia uma estufa anexada a parte dela,
confirmando a informação da Dra. Fitzgibbons, mas ainda era útil saber,
exatamente, onde estava. A estufa tinha uma porta do lado de fora e atrás
dela havia um grande jardim murado. Após esse muro havia um declive,
encabeçando a parte de trás da propriedade e assumi que as partes sem
árvores estavam cobertas com grama luxuriante, quando não estava
nevando.
Quanto à mansão em si, o estilo arquitetônico georgiano era lindo. O
lugar inteiro parecia algo saído de uma revista de casa e jardim, mesmo
quando os jardins e outros arredores estavam envoltos em cobertores de
neve fresca. Ninguém jamais suspeitaria para que este lugar era usado
mas, uma vez que soubesse, aquela beleza bucólica, imediatamente,
desaparecia. Para mim, a casa parecia fria, hostil e sinistra, lembrando
muitas coisas distorcidas e vergonhosas, que haviam acontecido dentro de
suas paredes, desde a sua criação, como uma colmeia de maldade.
Tinha três andares, com quatorze grandes janelas de guilhotina com
acabamento branco em cada andar, tanto na frente como na parte de trás.
O andar térreo contava com menos janelas, para abrir espaço para a
entrada principal e as portas dos fundos e os lados eram mais estreitos,
com apenas seis janelas nos andares superiores e grandes portas no térreo.
De tudo isso, achamos que há cinco entradas para o local. Há a entrada
principal na frente, as duas portas do terraço, em ambos os lados da casa,
uma grande porta no meio do lado de trás e uma menor, ao lado da que é,
presumivelmente, a entrada de empregados. Além dessas entradas, há
também a porta da estufa.
Há uma dependência menor do lado direito, perto do estacionamento.
Parece ser usado como garagem e um lugar para os guardas viverem, se
não tivessem seus próprios lugares próximos, ou na cidade. Foi feito com
a mesma arquitetura de estilo georgiano da casa, com janelas de tijolos
vermelhos e caixilhos brancos.
Nós não terminamos de verificar a aparência do lugar, obviamente.
Anotamos todas as rotinas diárias também. De certos ângulos, pudemos
ver, através de algumas das janelas, com binóculos de alta potência. Isso
nos permitiu ter uma ideia de quantas pessoas estaríamos lidando, tanto
do lado de dentro, quanto do lado de fora.
Pudemos perceber que há cerca de trinta crianças e adolescentes presos
na mansão. Usavam roupas diversas, mas todos tinham colares pretos,
com luzes âmbar piscando perto da garganta. Alex disse que esses colares,
provavelmente, rastreavam e alertavam os guardas, se as crianças
conseguissem sair e fugir.
Eles tomam café da manhã, almoço e jantar, todos os dias, em uma
grande sala perto da cozinha. Depois disso, parecem ter permissão para
passear pela casa, mas nunca para fora. Voltam para seus quartos às oito
da noite em ponto. A única vez que se desviaram dessa programação, era
quando um "visitante" vinha para um deles, obviamente um membro do
Círculo.
Há também doze empregadas domésticas trabalhando na mansão e, até
onde sabemos, também eram prisioneiras. Certamente não pareciam
felizes e usavam coleiras também e uniformes, calças pretas e camisas de
seda branca.
Isso soma quarenta e duas pessoas para salvar.
Quanto aos outros, deduzimos que há oito guardas na propriedade, em
todos os momentos, trabalhando em turnos de oito horas. Isso significa
que há vinte e quatro guardas no total. Cada um deles tem contato de
rádio bidirecional entre si, durante os turnos.
Há sempre dois guardas na frente, dois nas costas, um no lado
esquerdo da casa, um no direito e um circulando pela casa. O último
patrulhou lentamente o perímetro da propriedade em um carro preto,
presumivelmente verificando se ninguém estava na área, como
caminhantes, observadores de pássaros, adolescentes aventureiros e assim
por diante. O guarda, atualmente em serviço de patrulha, passou pelo
meu posto de vigia atrás da cerca quatro vezes hoje, o que significa que
cada volta da propriedade leva cerca de uma hora.
Um dos guardas de trás também parece funcionar como motorista,
quando necessário, o mesmo trabalho que pertencia a Dan Vallone. Todos
os dias ele sai em uma van e volta com caixas de comida, levando tudo
para dentro da casa. O Círculo é um bando de psicopatas, mas parecem
manter seus prisioneiros e funcionários bem alimentados.
Não foi um favor, simplesmente precisavam deles saudáveis, para que
pudessem mantê-los o maior tempo possível. Torturar e espancar uma
criança é divertido para eles, mas a mesma criança morrendo de causas
naturais, por causa da desnutrição, quando não estavam por perto,
obviamente, não era tão divertido, daí as refeições regulares.
Presumimos que todos os guardas estarão presentes na noite da festa,
em 1º de dezembro, já que será um evento muito grande. Isso significa que
não precisamos nos preocupar com o fato de nenhum deles fugir, por pura
sorte de mudança de horário, uma vez que resgatarmos as crianças e
destruirmos o resto do Círculo.
Também sabemos, pelo telefonema de Dwyer para William, que há
quarenta e nove membros restantes do Círculo. Dwyer se foi, então são
quarenta e oito agora. Somando aos guardas, serão setenta e duas pessoas
de que precisamos nos livrar.
Antes de chegarmos a um número exato, não me ocorreu, exatamente,
quanto sangue estaria em nossas mãos, quando terminássemos. Agora,
finalmente, tive. Sei que deveria me incomodar, setenta e dois é muito,
mas não. O Círculo semeou uma semente escura, anos atrás e depois de
germinar e crescer por um longo tempo, finalmente florescerá com fogo,
sangue e ossos quebrados.
Então, suas mortes não me preocupam. A única coisa que realmente me
incomoda agora, é a preocupação de que não consigamos tirar todas as
crianças e criadas em segurança.
Temos um plano, no entanto, formulado sobre xícaras fumegantes de
café e noites sem dormir no nosso motel. Todo círculo tinha um começo e
um fim e estávamos fechando este Círculo para o bem.
Arrumamos as coisas do meu recanto de espionagem e marcamos a
reserva natural até o carro de Alex, que estacionamos a mais de um
quilômetro de distância, do outro lado, só para estarmos a salvo. Então
voltamos para a cidade, uma viagem de quarenta minutos de onde
estávamos.
É tempo de compras.
Temos muitas coisas para comprar, por nosso plano, mas não tudo na
mesma loja, senão levantaríamos suspeitas, dada a natureza de algumas
das compras que precisávamos fazer. Estamos disfarçados, então,
ninguém saberia quem somos, mas ainda assim, não queremos que
ninguém se arrepie por qualquer motivo. Até onde sabem, somos apenas
um casal feliz, comprando coisas que precisaremos em nossa nova casa.
A maioria das coisas que precisamos pode ser comprada em lojas de
ferragens ou de melhoramento de casas. Não fomos ao que eu costumava
comprar, mesmo sendo uma das maiores e melhores lojas da cidade. Por
melhor que fosse meu disfarce, tenho certeza de que meus antigos colegas
de trabalho ainda me reconheceriam, se olhassem o suficiente.
A peruca deixou-me loira e os olhos são de cor diferente, com lentes,
mas nenhuma quantidade de maquiagem poderia alterar minhas feições, a
ponto de ser uma pessoa completamente diferente. Contorno meu nariz e
me dou maçãs do rosto mais altas, mas ainda é meu rosto. Aqueles que me
conheceram, se olhassem o suficiente, saberiam disso.
Sinto muita falta dos meus amigos e colegas de trabalho, mas não
retornarei até que Alex e eu eliminássemos o Círculo. Até então, ninguém
pode saber que estou viva. O Círculo acha que morri, graças a Dwyer e
precisamos manter essa mentira, por enquanto. Tenho que permanecer
nas sombras, permitindo que todos que me conheciam pensem que fui
embora para sempre.
Alex despejou três sacos de fertilizante de nitrato de amônia perto do
caixa da loja final, que visitamos. Já tínhamos rolos de algodão, pilhas de
jornais, um pacote de manjericão e galões de óleo diesel no porta-malas do
carro, entre outras coisas menores de uma loja de tecnologia.
"Estou feliz que você costumava trabalhar em um lugar como este," ele
murmurou, com olhos brilhantes, enquanto esperávamos que um membro
da equipe nos servisse. “Você conhece todos os bons truques.” ele
gesticulou para o fertilizante, então continuou. "E como envenenar as
pessoas com iscas de baratas, quando te irritam."
Meu coração pulou e o estômago deu um nó, de horror e
arrependimento. "Sinto muito," sussurrei, não encontrando seus olhos.
"Gostaria de nunca ter machucado você assim."
A lembrança de Alex se contorcendo em agonia no chão do abrigo,
enquanto tentava falar, atingiu-me como um maremoto e algo, de repente,
ocorreu-me. As palavras que ele estava tentando dizer, naquela noite,
devem ter sido “Mate-me se for preciso, mas por favor fique aqui, não é seguro
lá fora.” E estava certo, pois só se importava com a minha segurança,
mesmo quando eu não queria nada, além de dor e morte sobre ele. Alex
teria voluntariamente se sacrificado, se isso significasse que eu viveria.
As sobrancelhas de Alex franziram. "Oh, anjo," ele disse suavemente.
“Essa foi uma tentativa pobre de piada. Eu já deveria saber, não sou muito
engraçado, não é?”
Dei-lhe um leve sorriso. "Talvez seja engraçado, daqui a alguns anos, de
uma maneira realmente mórbida."
Ele estendeu a mão e gentilmente, empurrou uma mecha de cabelo
falso para longe dos meus olhos.
"Eu não queria te chatear, honestamente, está tudo no passado. Sei por
que fez isso e está cem por cento perdoada. Sinto muito por ter
mencionado isso.”
Engoli em seco. "Obrigada," murmurei. “Por me perdoar, não mereço
isso.”
"Claro que sim," disse ele, entrelaçando a mão direita com a esquerda.
“Você me perdoou, não é? Pelas coisas que fiz, quando te levei.”
Balancei a cabeça. "Sim, fez o que sentiu no momento.”
“Bem, aí está, você fez, exatamente, a mesma coisa.’’
Meus ombros relaxaram. "Você está certo. Desculpe-me, só estou
nervosa sobre tudo e isso me faz sentir estranha.” eu disse, meu sorriso se
alargando um pouco, enquanto o olhava nos olhos.
"Sim, entendo." Ele sorriu de volta, então balançou a cabeça. “Não há
mais tentativas de piadas, não é, claramente, meu estilo,” acrescentou ele.
Então pressionou seus lábios nos meus, em um breve beijo. "Eu te adoro,
Celeste," ele murmurou rispidamente. "Nunca se esqueça disso."
O operador do caixa chegou, antes que eu pudesse responder e ele nos
lançou um olhar hesitante, ao ver o que estávamos comprando. "Vocês
dois trabalham em uma fazenda, ou algo assim?" Ele disse, uma
sobrancelha arqueada. "Isso é material de qualidade agrícola."
Alex e eu colamos em nossas expressões um ar inocente amigável.
"Acabamos de construir uma estufa gigante, em nossa propriedade," eu
disse. “Queremos cultivar todas nossas frutas e legumes, a partir de agora.
Salvar o meio ambiente, produzindo nossa própria comida.”
"Nós também queremos ficar com todos os CEOs idiotas de
supermercados," Alex acrescentou com um sorriso irônico.
O cara assentiu e finalmente sorriu de volta. "Isso é legal. Então, com a
estufa, pode cultivar coisas durante todo o inverno, hein?”
"Sim."
"Legal." Ele estava relaxado agora, sem suspeitar.
“Ei, dependendo de onde estão, há um mercado de fazendeiros em East
Liberty, onde vou, às vezes. É ótimo. Se crescerem demais, talvez possam
vender algumas coisas lá. Não haverá desperdício.”
"Ótima ideia,” Alex disse afavelmente.
"Dinheiro ou cartão?"
"Dinheiro." Claro, Nenhuma trilha eletrônica para nós.
"Boa sorte, vocês dois," disse o cara do caixa, quando nossa transação
foi concluída.
Se ao menos ele soubesse do tanto que, realmente, precisamos de
sorte... Isso apagaria o sorriso do seu rosto.
Ajudei Alex a levar o fertilizante para o carro. Ele me entregou a chave,
quando tudo estava no porta-malas.
“Entre e se mantenha quente com o aquecedor. Volto em um segundo.”
Ele voltou para a loja de ferragens e retornou cinco minutos depois,
com um grande saco plástico. Quando largou no banco de trás, virei-me e,
curiosamente, passei por ele. Estava cheio de cordas e grossas braçadeiras
pretas.
"Precisamos disso para o que vamos fazer?" perguntei, as sobrancelhas
arqueando, quando encarei Alex. Muito do plano principal baseava-se nas
minhas ideias e não conseguia lembrar nada sobre amarrar alguém ou
algo.
Ele riu. "Não, são para você.”
"Mas eu... oh." Finalmente me dei conta do que ele queria dizer.
"Precisamos nos divertir, enquanto fazemos toda essa merda," disse ele,
apertando minha mão com um brilho vigoroso em seus olhos. "Ou então
ficaremos loucos."
"Talvez já estejamos loucos," eu disse suavemente. Tinha que admitir,
isso passou pela minha cabeça uma ou duas vezes, na última semana,
especialmente, quando me ocorreu quão pouco me importava com toda a
morte e destruição, que iríamos causar em breve.
Alex franziu a testa. "Você acha que estamos?"
Hesitei, mordendo o lábio inferior.
O que nós estávamos planejando era contra a lei, obviamente.
Assassinato nunca seria considerado bom no sentido legal. Mas em um
sentido ético, realmente, senti que estava tudo bem. As pessoas que
alvejaríamos eram a escória absoluta da sociedade. Na verdade, nem
pertenciam a nenhum tipo de sociedade funcional.
Eu não achava que todos, no mundo, deveriam ter liberdade para se
tornarem vigilantes, mas no nosso caso, parecia certo, não louco.
Finalmente balancei a cabeça. "A única coisa que sou louca, é por você."
11
Celeste

O mundo ficou escuro.


Meus olhos estavam cobertos por uma venda preta improvisada.
As mãos estavam amarradas atrás da minha cabeça, com corda em
nós resistentes, à cabeceira do quarto do motel.
Contorci-me, gemendo. Meu peito subiu e caiu, em respirações
ásperas e necessitadas, querendo que Alex diminuísse a dor e a
queimação profundas. Com minha visão coberta, meus outros
sentidos aumentaram e pude sentir sua respiração em algum lugar,
perto da minha coxa direita, como um sussurro contra minha pele.
Ele estava me provocando assim, pelo que parecia ser uma
eternidade e eu podia me sentir pingando por toda a cama, em
desespero. Precisava tanto soltar-me, mas isso nunca aconteceria. Foi
uma doce tortura.
Então suas mãos estavam, finalmente, em mim, abrindo minhas
pernas e sua boca estava em minhas dobras, pequenas carícias,
enquanto sua língua me explorava, do meu clitóris para a entrada,
para cima e para baixo, lento e rápido, duro e macio. Mordi meu
lábio inferior, para abafar os gemidos, quando Alex chupou meu
clitóris, antes de circundá-lo com a língua, em movimentos lentos e
pressionados.
Um raio de puro prazer subiu por minha espinha e pulei na cama,
gritando. "Por favor!"
"O que você quer?" Alex murmurou contra minha boceta carente.
"Você," consegui ofegar, quando ele lambeu meu clitóris
novamente, mais vigorosamente desta vez. Eu já estava uma bagunça
tremendo. Adorei, quando ele caiu em mim, mas não era suficiente
agora, não depois de toda essa provocação. Havia um profundo
anseio em mim e só poderia ser satisfeito com o corpo duro de Alex
contra o meu, enchendo-me, como só ele podia.
"Que parte de mim?"
"Seu pau," respirei.
Ele recuou, e eu, imediatamente, sofri por seu toque, novamente.
“Então me mostre o quanto precisa disso. Implore.’’
Gemi e lutei contra as cordas, desejando que eu pudesse alcançar e
agarrar seu pênis. “Por favor, senhor, foda-me! Foda-me com força,
quero agora mesmo, preciso disso,” gemi. Com as mãos e boca não
mais em mim, eu poderia mover minhas pernas como quisesse.
Enquanto implorava, abri minhas pernas o máximo que pude,
colocando-me em plena exibição para ele. "Viu?" choraminguei. “Veja
como estou molhada. Olhe que prostituta sou para você, por seu
pau.’’
"Isso mesmo," disse ele, sua voz suave, mas perigosa. "Minha
putinha."
Ele deve ter tirado seu pênis, porque eu podia sentir pingando pré-
gozo em meu estômago nu, gotinhas quentes e pegajosas, que
pareciam uma marca contra a minha pele, quando me batiam. Então
a cabeça estava contra a minha entrada e deixei escapar um longo
gemido de alívio e felicidade, quando pressionou dentro de mim.
Minha boceta apertou, quando ele me encheu até a borda e Alex
rosnou contra meu ouvido, fodendo-me forte e furiosamente. "Tão.
Fodidamente. Apertada,” ele disse, beliscando meus mamilos em
picos rígidos e dolorosos.
Uma mão veio à minha garganta, fechando em torno dela,
silenciando meus gemidos. Ele puxou para fora da minha boceta, em
seguida empurrou-a para trás, com tanta rudeza, que meus pulsos
começaram a picar, com a fricção da corda, quando meu corpo saltou
para trás e para frente, debaixo dele.
"Você quer isso?" Ele rosnou.
Balancei a cabeça, mal conseguindo fazer um som. "Sim," consegui
dizer. "Eu amo isso."
É verdade. Amo a mistura de dor e prazer, correndo por mim, amo
me sentir tão fora de controle, enquanto deixo Alex assumir o
controle. Quando estamos assim, eu não preciso me preocupar com
nada, porque tudo depende dele. Toda escolha, todo movimento. De
alguma forma, isso era mais libertador, do que estar lá sozinha,
defendendo-me e nunca sabendo, exatamente, se estava fazendo a
coisa certa. Confiei em Alex e sabia que ele nunca me machucaria mal
ou levaria isso longe demais. Tudo o que eu tinha que fazer era me
submeter e prazeres infinitos seriam meus.
Choraminguei, quando ele me beijou com força, sugando meu
lábio inferior em sua boca quente. Bateu em mim cru e urgente, um
homem possuído. Usou meu corpo, abusou dele e eu queria mais e
mais.
Mais cedo, eu estava desesperada para tê-lo dentro de mim.
Desesperada por vir. Agora, estou me esforçando para manter-me
equilibrada, no limite do meu orgasmo, querendo prolongar o
máximo de tempo possível. Mas Alex tinha outros planos.
"Goze para mim," ele murmurou no meu ouvido, sua voz dura e
exigente. "Agora."
Tive que fazer o que ele me disse. Então, deixei ir e o prazer
assumir. Meu cérebro ficou confuso e as pernas tremeram, quando o
clímax me atingiu e uma lágrima escorregou pelo meu rosto,
enquanto minhas emoções levavam a melhor sobre mim.
"Eu te amo," eu soluçava.
"Eu também te amo," ele murmurou de volta, bombeando em mim
no mesmo ritmo. "Você é minha para sempre."
"Sim. Sua,” murmurei, a mente deslizando em uma névoa bêbada
de sexo. Senti-me leve como o ar, quando me separei novamente,
outro orgasmo ondulando e espalhando prazer como fogo.
"O que quer agora?" Alex rosnou, através da névoa.
“Seu gozo. Quero isso.” Mal registrei as palavras saindo dos meus
lábios, estava tão alta com ele.
Alex diminuiu seus movimentos e então veio, empurrando dentro
de mim, enchendo-me com listras quentes de porra.
Nós nos deitamos depois, corpos entrelaçados na cama estreita.
Agora que o prazer estava desaparecendo, meus ombros doíam. A
dor no nervo voltou com força total.
"Você ainda parece tensa, mesmo depois de tudo isso," Alex disse,
enquanto me contorcia, tentando encontrar uma posição mais
confortável. “Tem estado assim a semana toda. Celeste, você está
bem?"
"São minha costas," eu disse, sentando-me e esfregando em vão.
Ele franziu a testa e se sentou também. "Está machucando de
novo?"
Balancei a cabeça, miseravelmente. "Voltou há alguns dias atrás."
Ele se levantou e remexeu em uma de suas malas, pegando alguns
analgésicos. "Aqui," disse ele, entregando-me dois. "Deveria ter-me
contado."
"Eu sei, só pensei que iria embora logo.” engoli as pílulas.
Alex assentiu devagar e pegou o pincel esfoliante. Então, acariciou
minhas costas e ombros e fechei meus olhos, exalando
profundamente, no alívio imediato das cerdas ásperas. Foi quase tão
bom quanto os orgasmos. "Obrigada," murmurei.
"Não precisa me agradecer," disse ele. "Diga-me o que está
pensando. Algo deve estar, realmente te estressando.’’
"É só..." abri meus olhos. "Estamos a apenas quatro dias da festa
agora. Quanto mais nos aproximamos, mais me incomoda. Há tantas
coisas que podem dar errado. Muito do nosso plano é baseado em "e”
e “se", porque há muitas coisas que não podemos contabilizar, até
estarmos realmente lá."
"Isso explica." Alex me esfregou com mais força. "Você está
assustada."
"Sim. Petrificada,” murmurei. Eu estava com vergonha de admitir
isso e minhas bochechas coraram.
"Compreendo. Eu ficaria mais preocupado, se você não estivesse,
para ser honesto.’’ Ele parou por um momento, depois continuou.
"Sabe que nunca gostei da ideia de você ser a primeira na casa. Então,
estou aberto para alterar os detalhes, se quiser.’’
Balancei a cabeça e me virei para olhá-lo. “Mas tem que ser eu
quem chega primeiro. Posso me misturar, por um tempo, você não
pode.’’
Está dizendo que pareço velho?" Ele arqueou uma sobrancelha
brincalhona para mim.
"Você não pode, exatamente, passar por uma empregada
doméstica jovem, não é?" Eu disse, com um leve sorriso por seu
gracejo de quebrar a tensão. Já estava começando a me sentir mais
relaxada. Por mais áspero e dominante que fosse, Alex também tinha
um lado suave. Sempre sabia como me fazer sorrir, quando
precisava, como se ele pudesse ver dentro da minha mente e saber,
exatamente, o que eu queria.
"Faz sentido para mim ser a única a entrar. Além disso, precisamos
de você fora, para lidar com os guardas, antes de entrar. Você é muito
melhor nisso do que eu."
"Tem certeza? Se quiser que eu cuide de tudo sozinho, posso tentar
pensar em outra ideia. Você poderia ficar aqui e isso seria ótimo. Não
quero que faça qualquer coisa que não queira fazer.’’ Houve uma
pequena torção na borda da boca, enquanto ele aguardava minha
resposta. Ele estava preocupado comigo.
Olhei para o edredom, enquanto pensava. Nosso plano para
destruir o Círculo e salvar as crianças e as empregadas presas,
provavelmente não funcionaria, se fosse apenas Alex lá na noite da
festa. Teríamos muito mais sucesso, se eu estivesse lá e entrasse na
casa primeiro.
Quero ser corajosa como ele e dizer que estou bem em ir fundo, na
barriga da besta sozinha mas, ao invés disso, estou cheia de terror
frio, com o pensamento de fazer qualquer coisa, sem ele ao meu lado.
Tomei uma respiração profunda e estremecida e pensei em todas
as vezes que me ajudou e me resgatou. Todas as coisas que sacrificou,
só para me manter segura. Ele deixou uma coisa bem clara, morreria
por mim.
A quantidade de amor e paixão que ele teve que ter, para colocar
minha vida na frente dele sem meias medidas, atingiu-me com força,
reverberando através de mim. A intensidade de sua coragem deu-me
forças para querer fazer o mesmo, juntar todos os meus dias e
respirações restantes e colocá-las em suas mãos, confiando que
sempre estaria lá para me pegar, se e quando eu caísse.
Eu lhe devia essa confiança.
"Não, quero ajudá-lo.” fixei minha mandíbula, resolutamente e
olhei em seus olhos. “E teremos melhor chance de sucesso, se eu for
primeiro. Sozinha."
O orgulho brilhou nos olhos de Alex e acariciou minha bochecha.
"Você, realmente, não vai ficar sozinha. Sempre estarei com você, de
uma forma ou de outra. Saberemos onde está o tempo todo, a partir
da pequena câmera que temos em voce e poderemos falar um com o
outro, quando usarmos o Bluetooth. Qualquer indício de problema e
estarei lá, não deixarei nada te acontecer, prometo."
"Eu sei."
Ele apertou minha mão e franziu a testa. "em certeza de que quer
fazer isso?" perguntou ele. "Não ficarei com raiva, se você não puder
continuar com tudo isso. A maioria das pessoas não conseguiria lidar
com isso.’’
"Eu posso."
"OK. Estou orgulhoso de você, anjo.’’
"Por quê?" perguntei suavemente.
A intensidade do olhar que ele me deu, quase me enviou de volta
contra a cabeceira da cama. Havia pura paixão, em seus olhos
brilhantes e rugindo como um incêndio na floresta, durante a noite.
"Por que eu não estaria?" Ele perguntou, inclinando a cabeça para
o lado. “Você já passou por tanta coisa em sua vida. O tipo de coisa
que passou, pode destruir algumas pessoas. Pode despedaçá-las em
um bilhão de pedaços e embaralhá-las, até que estejam
irreconhecíveis. Fazer delas uma pessoa totalmente diferente. Mas
você... você acabou de se tornar mais forte, em vez disso. Você dobra,
mas não quebra, é incrível e deveria saber disso.’’
Olhei-o, com meus lábios entreabertos, quando pronunciou seu
terno discurso. Nunca pensei em mim mesma assim.
"Não acho que seria capaz de fazer tudo sem você," eu disse
baixinho.
Ele balançou sua cabeça. “Acho que poderia. Não, sei que poderia.
Já era muito forte, antes de eu entrar em sua vida e é por isso que
estou tão orgulhoso.’’
Ele me puxou para perto e alisou meu cabelo. "Mas você não terá
mais que fazer tudo por conta própria. Não, enquanto eu estiver
aqui.’’
Fechei meus olhos e me inclinei para o brilho quente de seu
abraço. "Obrigada," eu disse, com a respiração ofegante. A dor nas
minhas costas estava começando a desvanecer. ele sempre soube
como fazer ir embora.
"Pelo quê?" Ele perguntou, passando as mãos por meus cabelos.
"Por fazer o que fez." Mordi o lábio por um segundo. “Por me
levar, estar aqui por mim.’’
“Sempre estarei, nunca vou te deixar ir.’’
"Bom," sussurrei. "Não quero que deixe."
12
Celeste

É 1º de dezembro.
A noite crítica está, finalmente, em cima de nós.
Tremo, apesar do meu casaco, esfregando os braços para evitar
congelar no ar frio do campo. Está chovendo de novo e agulhas finas e
picantes atingem meu rosto, enquanto espero atrás de uma árvore, com
Alex ao meu lado. Há uma enorme mochila preta de caminhada, colocada
no chão nevado ao lado dele, cheia das coisas que precisaremos para esta
noite, junto com uma escada de metal, que ele carregou ao mesmo tempo.
Alex se abaixou e puxou meu capuz mais sobre o rosto. "Não quero
estragar sua maquiagem," ele disse, suavemente, antes de verificar o
relógio. "São quase dez."
De nossas ações anteriores, descobrimos que o guarda de segurança,
que patrulha a cerca em um carro preto, faz de hora em hora. Presumimos
que a festa do Círculo começará em algum lugar entre as sete e meia e as
oito, então, essa será a melhor hora para entrar. Nem tão cedo, nem tão
tarde.
"Pronto para colocá-lo?" perguntei.
Alex assentiu e pegou um grande galho molhado, que pegamos, em
nossa caminhada pela reserva até a parte de trás da propriedade Círculo.
Vestiu uma luva de borracha na mão livre, para aliviar o choque da cerca
elétrica, depois saiu de trás da árvore e colocou o galho nos fios revestidos
de branco, para que ficasse pendurado.
A cerca zumbiu e gemeu e Alex deu um passo para trás, com um
solavanco. "Jesus. Voltagem mais alta do que pensávamos.”
"Você está bem?" perguntei ansiosamente.
“Sim, apenas um pequeno choque. Agora esperamos.”
Faróis apareceram na escuridão distante, um momento depois. Um
carro vagou, lentamente, em nossa direção, parando completamente,
quando chegou ao galho. Um homem saiu, vestindo o uniforme de guarda
de jaqueta preta, calças e gorro. Em torno de sua cintura havia um cinto
grosso, que continha o rádio e a arma.
Do nosso esconderijo atrás da árvore, ouvimos o rádio emitir um som
estático, antes que uma voz masculina falasse. “O que é isso, Blaine?
Alguém aí?"
Como previsto, o peso do galho na cerca acionou um alarme em algum
lugar.
O guarda, aparentemente chamado Blaine, balançou a cabeça e apertou
um botão para responder. “Apenas um grande ramo. Deve ter caído de
uma das árvores aqui. Vou embora agora.”
Alex apertou minha mão e assentiu. Tínhamos que nos mover
rapidamente.
Quando Blaine chutou o galho, para derrubá-lo da cerca sem levar
choque, saímos do nosso lugar e nos aproximamos dele, ambos
carregando uma arma. Em sua mão livre, Alex carregou a escada.
"Mova-se e vou explodir seu cérebro," ele disse secamente.
Blaine olhou para nós, os olhos arregalados. Uma das mãos voou para o
rádio, presumivelmente para pedir ajuda e Alex manteve a arma no nível
do rosto. “Você me ouviu, não ache que não vou fazer o que disse.”
O guarda assentiu e lentamente levantou as mãos, olhando para nós em
silêncio, enquanto eu arrastava a escada até a cerca. Cuidadosamente subi,
depois pulei para o outro lado, dando um passo atrás dele.
“Jogue seu rádio, chaves e arma para ele, então ajoelhe-se lentamente.”
eu disse, plantando o cano da minha arma na parte de trás da sua cabeça,
enquanto gesticulava para Alex.
"Quem são vocês?" Blaine perguntou, mexendo no cinto, antes de fazer
o que eu disse.
"Acho que sabe," disse Alex.
Eu não conseguia ver o rosto do guarda, de onde estava, mas imaginei
a compreensão surgindo em seus olhos, quando respondeu. "É você, não
é?" Ele murmurou, seu corpo inteiro parecendo amassar. Não precisou
elaborar, sabíamos que ele estava se referindo ao Heartbreaker.
"Sim. Agora, Blaine, você vai nos ajudar.”
"Como o inferno."
Ouvi o guarda engolir em seco, depois cerrei os dentes.
"Apenas acabe com isso, mate-me."
"Mas nós não queremos te matar," eu disse, dando um passo para a
frente, minha arma ainda apontada nele.
Blaine olhou para mim de onde se ajoelhou, a confusão gravada em
suas feições sombrias. "O que?"
“Você não é como os outros, é apenas um guarda de patrulha, certo?
Não há como matar alguém assim. ”
"Não acredito," ele murmurou. "Sabem que sou um deles e sei que vão
me matar. Então faça já.”
"Não, é sério, você não é como eles," eu disse, arregalando os olhos em
uma expressão simpática. "Quero dizer, claro, ajuda seus chefes no
Círculo, mantendo os segredos deles, mas não machuca as crianças, não é
mesmo?"
Era uma desculpa diretamente do livro de exercícios de Dan Vallone.
Blaine viu o cartão dele saindo da prisão bem ali e engoliu em seco,
assentindo, de repente ansioso para brincar. "Está certo. Eu nunca as
machucaria.”
E ainda assim aceitou, alegremente, dinheiro, em troca de ajudar o Círculo a
continuar com todos os seus atos hediondos, eu queria gritar.
Em vez disso, mantive a calma e sorri docemente. "Penso assim." Virei-me
para Alex, por um segundo. "Viu? Eu te disse."
Alex jogou junto. "Sim, sim," ele grunhiu, em um tom falso irritado.
Inclinei minha cabeça para o lado, então continuei, olhando de volta
para Blaine. "Sabe, alguém como você, realmente, não precisa ter o mesmo
nível de lealdade que o resto. Todos eles fizeram suas camas, anos atrás,
com a merda que fazem, então, têm que ser leais, porque se ousassem
atacar os outros, iriam morrer eles. Mas você não cruzou essa linha, não é?
Se os outros morrerem, você não irá. Portanto, não há necessidade de ter
lealdade, como eles insistem em fazer.”
"Sim, eu acho."
“Então, aqui está o acordo. Você nos diz o que precisamos saber sobre a
casa e nós vamos te deixar ir. ”Apontei atrás de nós, na reserva natural, do
outro lado da cerca. "Vamos deixá-lo correr para longe de todos os outros.
Eles não te verão daqui, não irão te pegar. E uma vez que derrubarmos
este lugar, ninguém jamais saberá que você trabalhou aqui.”
O guarda lambeu os lábios, nervosamente. “E se eu decidir que quero
ser leal? E se eu não te contar nada?” Ele perguntou baixinho.
Alex sorriu e estendeu a arma. "Então teremos que te matar. Mas como
ela disse, nós não queremos.” Ele fez uma pausa. "Bem... ela não quer. Eu
faria isso em um piscar de olhos.”
Suprimi um sorriso. Essa rotina de "bom policial, mal policial" é
divertida.
"Eu..." Blaine olhou para baixo, suas mãos tremendo. Então olhou para
trás novamente, passando por nós e além da cerca. Ele estava pensando na
rota que tomaria pela reserva, uma vez que o deixássemos ir. "OK. Farei
isso, ” ele murmurou.
"Foi fácil, não foi?" Eu disse suavemente. "Agora nos conte sobre a festa
de hoje à noite. Queremos saber o esquema do guarda de segurança. Não
minta para nós, sabemos seu rosto e nome agora. Se mentir, vamos
descobrir e te caçaremos.”
Ele assentiu e olhou para o chão, antes de responder com voz baixa e
culpada. "Há vinte e três outros guardas."
"Onde eles estão?"
“Um está na sala de segurança, de olho nos feeds de CCTV. Dois estão
no salão de baile, onde a festa está acontecendo. Outro patrulha o interior
da casa, só por precaução. O resto está em todo o exterior da casa, ou no
estacionamento.”
Eu me aproximei de Alex e falei em voz baixa. “Isso significa que tem
dezenove lá fora. Você pode lidar com isso?”
Ele assentiu. “É, basicamente, o que eu esperava. William ainda acha
que o Heartbreaker é um membro do Círculo, lembra? Quer prendê-lo lá
dentro. Então, tem a maioria dos guardas do lado de fora, para impedir
que alguém saia, quando descobrirem.”
"Oh, certo. Sim."
"Torna sua vida muito mais fácil, tendo apenas alguns poucos por
dentro."
Balancei a cabeça e soltei um suspiro de alívio, então falei com Blaine,
novamente. "Como alguém chega à sala de segurança, se estivessem vindo
da entrada da estufa?"
“Você viraria à esquerda e desceria aquele corredor. Passará pela
biblioteca, à direita e verá uma escadaria de canto no final. À direita dessa
escadaria há uma portinha. A sala de segurança está lá.”
"E a estufa em si... estamos certos, quando percebemos que não há
câmeras ao redor dela?"
O guarda assentiu. “Nenhuma nela também. As câmeras estão apenas
dentro da casa e fora das partes externas principais dela. Nada atrás da
estufa, porque está fechada.”
"Pelo jardim murado," murmurei, com um aceno de cabeça. "E há
algum guardas atrás daquele muro?"
Ele encolheu os ombros. “Nenhum ponto. Se alguém conseguisse
escalar a parede e entrar na estufa do jardim, iria direto para dentro, para
que as câmeras e o guarda de patrulha ali os identificassem. A mesma
coisa se alguém tentasse sair pela estufa. Câmeras veriam.”
As coisas estavam melhorando, isso tornou nosso plano um pouco mais
fácil.
"Ótimo. Você tem uma chave para a porta da estufa exterior?”
Outro aceno de cabeça trêmulo. "Está no cinto que joguei para você,
bem no meio."
"Mais alguma coisa que devemos saber?"
“A festa começa às oito, mas as pessoas já estão chegando. Todo
membro do Círculo estará lá. Não sei por que, mas é um grande evento.”
"Não se preocupe, já sabemos disso," Alex disse.
"Se planejam retirá-los, vai ser difícil para os dois."
"Aprecio a preocupação, mas temos um plano," Alex disse suavemente.
"Você, realmente, foi muito útil, Blaine. Obrigado por, finalmente, fazer a
coisa certa. Em troca, tornarei isso relativamente rápido e indolor.”
"O que..."
Alex enviou uma bala em seu peito. Blaine caiu no chão gelado, sangue
saindo da ferida. Seus olhos surpresos pararam de piscar segundos
depois.
Um para baixo. Setenta e um faltando.
13
Celeste

Olhei para o sangue escorrendo sobre a neve, iluminado pela lua, que
espreitava por trás de uma nuvem de tempestade. Não senti nada por
Blaine. Ele teve o que mereceu.
Alex pegou o cinto grosso e o gorro, antes de vestir-se pegou as chaves,
o rádio e a arma do cinto. Já estava usando calças pretas, sapatos e jaqueta,
então, de longe e com o gorro puxado para baixo, qualquer um pensaria
que era apenas outro guarda, quando chegasse à casa.
"Entre," disse ele, apontando para o carro.
Fiz o que ele ordenou, sentando no lado do passageiro. Eu o vi atirar a
escada de volta, por cima da cerca e jogar sua mochila no banco de trás.
Então se juntou a mim na frente.
Saí do meu longo casaco, revelando a camisa de seda branca de mangas
compridas e calças pretas, que eu usava por baixo. Em volta do meu
pescoço havia um colar de plástico preto grosso. Compramos este, porque
parecia semelhante aos que as empregadas e as crianças da mansão usam.
No mesmo lugar onde a luz piscante está, nos outros colares, Alex
colocou uma minúscula câmera GoPro e a ativou, para que estivesse
conectada à internet que tinha em seu telefone. Dessa forma, estaria
transmitindo imagens de vídeo constantes.
Quando a pequena câmera estava funcionando, brilhou com uma luz
amarela no fundo, então, à primeira vista, pareceria que eu estava usando
o mesmo colar de rastreamento que qualquer outra pessoa.
Alex olhou para o telefone. "Parece estar funcionando," ele disse
suavemente. "Vamos pegar o fone de ouvido."
Ele me colocou a peruca loira e introduziu um pequeno botão preto
sem fio no meu ouvido. Com o cabelo para baixo, ninguém iria vê-lo. "Isso
deve ficar bem firme," disse ele. "E já sabemos que funciona."
Ele gesticulou para o interior do colarinho, atrás da câmera. Havia um
minúsculo microfone ali, menor que a minha unha. Testamos no motel
outro dia. Eu teria que ter cuidado, quando e onde fizesse isso, mas se
falasse alto o suficiente, Alex seria capaz de pegar tudo o que eu dissesse
em seu próprio fone de ouvido, que se comunicava com o meu dispositivo
via Bluetooth. A única coisa que o impediria de funcionar seria se nos
afastássemos demais um do outro.
"Minha maquiagem está bem?" perguntei.
Ele assentiu. “Parece uma garota diferente. A sombra roxa deu um bom
toque.”
"Obrigada."
Para me parecer mais com uma empregada doméstica desbotada,
escovei algumas sombras sob meus olhos, depois de aprender a técnica em
um tutorial online de maquiagem de palco. Uma lição doente, mas
necessária.
O rádio de repente tocou. “Ei, Blaine. Arrumou a cerca?”
Alex pigarreou. "Sim, acabei de derrubar o galho," disse ele, afetando
um tom ligeiramente mais alto, para soar como o guarda agora morto.
"Estou prestes a voltar à rota agora."
"Bom. Poderia ter pegado fogo e danificado a cerca em algum
momento, depois da chuva.”
"Isso é o que eu... imaginei que aconteceria... então eu..." Alex soltou
uma frase quebrada, pressionando o botão de rádio e desligando várias
vezes, enquanto falava.
"Você está truncando, cara."
"São esses malditos rádios," disse Alex. "Pode me ouvir agora?"
"Sim."
“Tenho tido problemas em todos os canais. E não só eu. Alguns dos
outros caras não conseguiam entrar em contato uns com os outros, antes.
Acho que é esse maldito tempo bagunçando o sinal.”
"Provavelmente. Você parece um pouco estranho, mesmo quando não
está truncando.”
"Deixe todo mundo saber sobre os problemas, para que não entrem em
pânico, caso não consigam alcançar alguém, imediatamente. Eu iria, mas
tenho que voltar para a minha patrulha.”
"Claro, cara, farei isso. Falo contigo depois.”
Alex colocou o rádio de volta no cinto e enfiou a chave na ignição.
"Boa ideia," eu disse, com admiração. "Agora, quando não puderem
alcançar os outros, quando você os eliminar, não irão perceber,
imediatamente, que algo está acontecendo. Pensarão que é apenas o
tempo ruim.”
Ele piscou. "Exatamente. Não deveria chover hoje à noite, mas está,
então podemos usá-lo para nossa vantagem. ”
Balancei a cabeça. Ele estava certo. Dependíamos da sorte em nosso
caminho e qualquer uma que viesse, tínhamos que agarrar e usar o
máximo possível. Poderia ser a única sorte que teremos a noite toda.
Alex ligou o carro e começou a cruzar a linha da cerca, mantendo os
faróis altos. "Você vai ter que descer logo," ele murmurou, enquanto nos
aproximamos do lado da casa.
Eu podia ver convidados bem vestidos chegando na entrada principal,
principalmente homens, mas algumas mulheres estavam dentro de suas
fileiras. Havia guardas em todos os lugares também, mas ninguém deu
uma segunda olhada para o carro, assumindo que fosse Blaine em
patrulha. Eu me abaixei, por via das dúvidas.
Alex cruzou o final da entrada, alguns minutos depois, lentamente
dirigindo ao longo da trilha, que corria paralela à cerca da frente, então
começou no lado direito. Dez minutos depois, parou o carro cerca de um
terço do caminho até a linha da cerca e diminuiu as luzes, antes de
levantar o rádio para a boca novamente.
“Outros poucos galhos caíram aqui na cerca leste. Não acho que
prejudicaram nada, mas vou derrubá-los, por precaução,” ele disse, para
explicar por que o carro parou novamente, no caso de alguém notar e se
perguntar.
"Entendi," veio a voz fraca do outro lado. "Cristo, este tempo."
Alex e eu saímos do carro. Ele pegou a mochila de caminhada e a
pendurou nas costas e nos arrastamos para os jardins da parte de trás da
mansão. Havia uma abundância de árvores, ao longo do caminho, para
nos abaixarmos, na chance de que algum dos guardas se movesse e saísse
por aqui, mas nenhum deles apareceu.
Dez minutos depois estávamos nos aproximando da parte de trás do
jardim murado. Do outro lado ficava a estufa.
"Merda," Alex de repente murmurou, segurando o braço em meu peito.
Gentilmente me empurrou para trás de um arbusto espesso, depois se
abaixou ao meu lado. “Parece que Blaine estava errado, ou mentindo, há
um guarda andando ao redor do muro.”
Olhei para fora do arbusto, ele estava certo. Um guarda deve ter sido
orientado para vir e guardar este muro. Ele andou até a área e agora
estava parado, parecendo entediado, enquanto olhava ao redor. Não nos
viu ou ouviu nossos movimentos, graças a Deus.
"O que fazemos?" Sussurrei.
Alex largou a bolsa. "Calma, nós nos livraremos dele, não há câmeras
nessa parte, lembra?”
Ele pegou algumas coisas da sacola, principalmente armas e então nos
arrastamos o mais perto que podíamos da parede dos fundos do jardim,
sem alertar o guarda. "Fique aqui," Alex murmurou, quando chegamos à
uma sebe de Tuia e se agachou atrás dela. Estávamos a apenas alguns
metros de distância.
Alex pegou uma pedra e jogou em direção à parede, apontando para
uma área a poucos metros da direita do guarda. Aterrissou na neve com
um som pesado. O guarda virou, reflexivamente, para a esquerda, para
ver qual era o som e Alex se aproximou da outra direção.
Antes que o guarda tivesse chance de registrar o que estava
acontecendo e pedir ajuda, Alex mergulhou uma lâmina afiada na lateral
do seu pescoço e cobriu a boca e o nariz com a mão livre. Ele caiu contra a
parede, deslizando lentamente até o chão. O único som foi um gorgolejo,
quando sangrou na neve.
Alex fez sinal para eu me aproximar. Corri em direção a ele. Os olhos
do guarda estavam vidrados, já estava morto.
"Você está pronta?" Alex perguntou, puxando uma pequena agulha
hipodérmica do bolso da jaqueta.
Balancei a cabeça e a peguei, guardando em um dos bolsos da minha
calça.
"Dê-me um impulso?"
"Claro."
Alex me ajudou a ultrapassar o muro e subiu em seguida. Brigando
com as chaves de Blaine, finalmente localizou o da porta dos fundos da
estufa. Antes de abri-lo, virou-se. "Você se lembra para onde ir?"
Balancei a cabeça. "A sala de segurança fica ao lado da escadaria, muito
à esquerda, depois da biblioteca."
"Boa menina." Ele apertou minha mão com força. "Você pode fazer
isso?"
"Sim."
“Essa é minha garota. Se alguma coisa acontecer ou achar que está com
problemas, entrarei e vamos improvisar alguma coisa.”
"Ficarei bem," sussurrei. Alisei meu cabelo, então balancei a cabeça em
direção à porta. "Estou pronta, prometo."
Alex me deu um longo olhar. Olhei-o de volta e então nos inclinamos
para frente, ao mesmo tempo, derretendo um no outro, enquanto nos
beijávamos. Nenhum de nós disse isso, mas nos perguntamos se era a
última vez. Qualquer coisa poderia dar errado, especialmente para Alex.
"Eu te amo." Minha voz em um sussurro rouco, quando me afastei.
"Também te amo." Alex empurrou a porta e antes que eu entrasse na
estufa, dei a ele uma última olhada.
Então a porta se fechou atrás de mim e hesitantemente, caminhei pelo
edifício escuro, indo em direção à porta que me levaria à mansão
propriamente dita.
"Você pode me ouvir?" Alex perguntou através do meu fone de ouvido.
"Sim,” eu disse. "E você?"
"Alto e claro. Lembre-se do manjericão.”
Enfiei a mão no bolso e peguei o punhado de folhas de manjericão, que
compramos na semana passada. Se algum dos guardas internos me visse
vindo da estufa, provavelmente queria saber por que, e eu não tinha
tempo para vasculhar as plantas aqui. O manjericão era minha pequena
linha verde.
Cheguei à porta e tentei a maçaneta. "Merda. Está trancada.” murmurei
no microfone do colarinho.
"Bata. Diga que você ficou trancada, quando o guarda aparecer.”
Engoli em seco. "OK. Aqui vai.”
Bati na porta. Cinco minutos depois, o guarda da patrulha interna
apareceu. Era alto e magro, com sobrancelhas grossas, nariz aquilino e
expressão mesquinha e astuta.
Ele abriu a porta e me mediu. “Que porra está fazendo? Como entrou
aí?”
Parecia que meu disfarce falso de empregada passou por agora. Ele
estava se dirigindo a mim como se eu pertencesse aqui, em vez de pedir
apoio e dizer que havia um intruso.
Dei a ele um olhar vazio. “Você me deixou sair meia hora atrás. Pelo
menos acho que foi você,” murmurei, segurando o manjericão. “Eu
deveria pegar isso para a cozinha, mas alguém, acidentalmente, trancou a
porta atrás de mim. Estou batendo por muito tempo.”
Ele estreitou os olhos, avaliando-me friamente. Então pegou uma das
folhas de manjericão e a cheirou, antes de colocá-la de volta na minha
mão. Meu coração parecia que ia explodir.
"Não me lembro disso," ele finalmente disse. "E não me lembro de te
ver antes também."
Lambi meus lábios nervosamente. "Não sei o que quer dizer, te vejo o
tempo todo,” digo suavemente, abaixando meus olhos para seus sapatos.
"Estou aqui há oito anos."
“Hm. Certo. Acho que lembro de você agora.” Ele inclinou a cabeça
para o lado. “Anna, certo? Você tinha cabelo ruivo antes?”
Abri a boca para uma resposta rápida - Sim, sou eu, sou uma ruiva
natural, mas eles me fizeram tingir recentemente - mas algo, na expressão do
guarda, fez-me endurecer e hesitar. Ele me olhava com um brilho em seus
olhos calmos e sem piscar. Algo estava errado, o guarda ainda não tinha
certeza que eu pertencia aqui. As perguntas tinham que ser armadilhas.
Balancei a cabeça. “Não, é Jessica e meu cabelo costumava ser marrom.
Eles me fizeram mudar, alguns meses atrás. William disse que estava farto
de todas as morenas e queria mais loiras por todo o lugar.”
O guarda riu. Aparentemente, passei no seu pequeno teste. "Soa como o
velho Bill, tudo bem," disse ele. Finalmente se afastou para me deixar
passar.
"Obrigada," murmurei.
Antes que eu pudesse dar um passo à frente, ele me parou. "Espere,
mostre-me sua marca,” ele disse, olhando-me com suspeita novamente.
Sua mão esquerda pairava logo acima de seu rádio de duas vias.
Engoli em seco, terror passando através de mim como uma pedra negra
e fria. O piso de madeira parecia se transformar em água, embaixo de
mim.
Eu sabia que poderia encontrar um guarda excessivamente zeloso,
enquanto tentava me infiltrar na mansão e então me preparei para pensar
em uma saída, mas eu não esperava que nenhum deles fosse tão fanático
que exigissem ver minha escultura em círculo.
Eu não tinha uma, obviamente. No segundo em que levantasse minha
camisa, para mostrar a ele o abdômen liso e sem cicatriz, tudo terminaria.
Merda, merda, merda. Eu mal estava em casa e já tinha me queimado.
"Porra, estou entrando,” Alex murmurou suavemente o suficiente, para
que o guarda não ouvisse a voz vindo do meu fone de ouvido.
Silenciosamente, desejei que ele esperasse apenas mais cinco segundos,
quando algo me ocorreu. Uma saída possível.
"Eu..." abaixei meu olhar vergonhosamente e mordi o lábio. "Meu
círculo não está no estômago."
"Huh?" As sobrancelhas do guarda franziram.
“Eu estava mal, quando cheguei. Eles não conseguiam me controlar.
Então... então decidiram me ensinar uma lição extra, esculpindo-a em
algum lugar... mais.”
Coloquei o manjericão no bolso da calça, então, delicadamente toquei o
zíper. "Se você tem que ver, vou te mostrar."
Desfiz o botão preto acima do zíper e fiz um show, lentamente abrindo
as calças.
O guarda felizmente se apaixonou pelo meu blefe, levantando o nariz
em uma expressão enojada e batendo meu braço para longe da virilha.
"Jesus Cristo" ele murmurou. "Não quero ver isso, pelo amor de Deus.
Esqueça. Basta voltar para a cozinha, ok?”
"Sim senhor."
Ele se afastou e, finalmente, senti que podia respirar de novo. Fechei as
calças e Alex murmurou no meu ouvido. “Bom, salva. Eu estava prestes a
entrar e atirar no idiota, mas acho que isso arruinaria todos os nossos
planos, não é?”
"Sim. Desculpe-me por ter usado a história de Lina,” sussurrei,
enquanto corria pelo corredor.
"Não se desculpe. Você tem que fazer o que for preciso. Respire fundo
algumas vezes, ok? Estou bem aqui."
Cheguei à escada, no final do corredor. Como Blaine nos contou, havia
uma porta logo à direita, com uma pequena placa preta. Segurança.
Bati, me sentindo-me muito mais corajosa, agora que enganei um
guarda.
"Está destrancada," uma voz masculina profunda chamou-me.
Entrei, deixando a porta de madeira entreaberta. Havia um homem
loiro, sentado em uma cadeira giratória preta, os pés em cima de uma
mesa, enquanto observava uma série de telas de CCTV. Ele lançou um
olhar vagamente desconfiado em minha direção, mas felizmente, não
parecia nem de perto tão ruim quanto o guarda de patrulha. “O que é
isso?” Ele perguntou.
"Disseram-me para vir e oferecer um lanche, enquanto trabalha."
Ele acenou com a mão com desdém. "Já jantei."
Fechei a porta intencionalmente atrás de mim e dei um passo à frente.
As sobrancelhas finas do guarda se ergueram e um lento sorriso se
espalhou pelo seu rosto. "Oh, entendi. Você é o lanche.”
Balancei a cabeça e abri um botão da blusa, deixando uma sugestão de
clivagem chamar sua atenção. Ele olhou para as telas, depois deu de
ombros. “Nada acontecendo, de qualquer maneira. Venha aqui,
prostituta.”
Lentamente, andei em sua direção. Ele sorriu e pegou o rádio, a arma e
as chaves do cinto grosso, colocando-as na mesa. Então soltou o cinto e
abaixou a calça.
"Não tive você antes, mas parece que gosta de engasgar com um pau,"
disse ele em voz baixa, os olhos brilhando com luxúria.
"Pensei que poderia gostar de um lap dance primeiro," u murmurei.
"Eles me disseram para fazer isso valer a pena, como um agradecimento
por todo o seu trabalho duro."
"Ei, não direi não a isso." Seu sorriso cresceu mais amplo. "Tudo o que
quiser, garotinha."
Bile e ácido arranharam minha garganta e engoli em seco. Abaixei-me
em seu colo e comecei a me mexer, na minha melhor performance de uma
dança no colo, desfazendo mais botões da blusa, enquanto eu girava para
frente e para trás. O pau rosado do guarda estava para fora, roçando
minha coxa esquerda e sorri, para mascarar o fato de que queria vomitar
nele.
Inclinei-me para trás, equilibrando-me de joelhos no colo dele. Então
comecei a fingir desfazer as calças, como fizera há pouco tempo com o
guarda de patrulha. O homem gemeu.
“Sim, mostre-me sua boceta. Pare de me provocar."
"Mas eu gosto de provocar," sussurrei brincando, passando a mão em
seus olhos. "Não espie ainda."
Ele não moveu minha mão, tomando tudo como parte da provocação.
"Deus, eles te ensinam melhor, vadia pequena, a cada ano," ele grunhiu,
seu pênis ficando mais duro a cada segundo.
Com a mão livre enfiei a mão no bolso direito e peguei a pequena
agulha hipodérmica, que Alex me deu mais cedo. Inclinei-me para a
frente, fingindo que ia beijar ou mordiscar o lóbulo da orelha do guarda e
então, rapidamente, destapei a agulha e a enfiei em seu pescoço,
pressionando com força no final.
Era o mesmo tranquilizante animal, que Alex usava em todas as suas
vítimas. O mesmo que usou em mim, quando me levou pela primeira vez.
Eu sabia exatamente o quão eficaz poderia ser.
Apertei a mão sobre a boca do guarda, enquanto ele tentava soltar um
grito. Uma mão disparou e se debateu sobre a mesa, procurando pelo
rádio, mas a droga funcionou quase imediatamente e ele caiu de volta em
seu assento apenas alguns segundos depois, completamente inconsciente.
"Boa menina," Alex me disse. "Você é natural. Tranque a porta, olhe
para as telas e me diga o que vê. mal posso vê-los no meu telefone.”
fiz como ele disse e escaneei as imagens de CCTV. As crianças estavam
todas em quartos, no segundo e terceiro andar. Algumas estavam lendo,
mas a maioria estava deitada na cama, indiferente.
Seis empregadas levavam bandejas de comida e champanhe para fora
da cozinha, indo para o salão de baile. Uma permaneceu na cozinha,
parecia fazer coquetéis. Mais três estavam, no que parecia ser um
vestiário, organizando casacos e cachecóis dos convidados da festa. As
restantes estavam fazendo outras tarefas mundanas, como limpar
banheiros e rodapés.
Concentrei minha atenção nos guardas ao lado.
"Parece que Blaine estava certo sobre tudo, exceto aquele guarda atrás
do muro," eu disse. “Há dois no salão de baile, observando os convidados,
um patrulhando o resto da casa, é o mais desagradável que encontrei e os
outros estão do lado de fora, sem contar esse cara.”
Olhei para o guarda inconsciente ao meu lado. Eu poderia matá-lo, mas
não fazia sentido. Ele estaria morto de outros fatores, no momento em que
as drogas saíssem do seu corpo, então seria uma perda de tempo.
"Onde, exatamente, estão os de fora?" Alex perguntou.
Apertei os olhos. “Parece que há seis, espalhados pelo estacionamento,
acho que para impedir que alguém vá embora. Depois, há quatro ao longo
da frente da casa, dois de cada lado e outros quatro ao longo da traseira.”
"OK. Aguente firme, anjo. Vou estacionar primeiro.”
Agora que não havia ninguém por perto para observar atividades
suspeitas nas telas de CCTV e alertar os outros, Alex poderia se esgueirar
e se livrar dos guardas de fora. Não seria exatamente fácil, para a
definição da maioria das pessoas, mas enquanto ele estivesse quieto, era
possível. O estacionamento e o exterior da casa eram grandes o suficiente
para que um guarda, provavelmente, não visse ou ouvisse o mais próximo
a ele caindo no chão, já que ainda estavam a metros de distância.
Ainda assim, eu estava com medo por Alex. Bastava um guarda extra
vigilante percebendo algo, para afastar todo mundo. Então, os membros
do Círculo seriam avisado e conseguiriam escapar, antes que tivéssemos a
chance de fazer alguma coisa.
O medo passou por mim, enquanto assistia Alex, finalmente, aparecer
em uma tela. Ele estava no estacionamento, esgueirando-se atrás do
guarda bem no final, entre dois carros. Meu coração estava na garganta,
quando ele estalou o pescoço e arrastou seu corpo para trás dos carros,
jogando-o na neve. Eu podia ouvir sua respiração através do meu fone de
ouvido, dura e pesada.
"Qualquer coisa?" Ele perguntou, em um murmúrio baixo, alguns
segundos depois.
Olhei para os outros guardas nas várias telas. "Não," eu disse, meu
pulso ainda acelerado. "Parece que nenhum deles viu ou ouviu nada."
Assisti, com nós torcendo meu estômago, enquanto ele tirava o resto
dos guardas do estacionamento, um por um. O último guarda, na frente
do estacionamento, pareceu ficar desconfiado, quando deu alguns passos
para frente e enfiou a cabeça para fora, obviamente se perguntando para
onde diabos todos os seus colegas tinham ido. Ele pegou o rádio, mas Alex
foi mais rápido, cortou-lhe a garganta e o derrubou, deixando-o sangrar
nas pedras frias.
“Todos os seis mortos, começarei do lado direito da casa agora.”
Dez minutos depois, ambos os guardas do lado direito estavam caídos
pelas portas do terraço, mortos como pedra. Alex ficou perto da parede e
se aproximou da frente.
"Cuidado," eu disse, olhando para as telas, com um olhar agonizante.
“Esses caras da frente parecem muito mais alertas do que os do
estacionamento.”
"Não se preocupe, tenho isso.”
Ele estava certo. Pegou todos os guardas da frente, sem que nenhum
deles percebesse, que fosse tarde demais. Então, repetiu o mesmo no lado
esquerdo da mansão.
"Falta apenas os quatro da parte de trás," disse ele. “Vai ser fácil daqui.
Saia, ok? Encontre a cozinha. Pode falar com a empregada do coquetel
para nos ajudar. Precisamos de quem e o que pudermos, para o próximo
passo.”
Exalei em voz alta. "Sim, tentarei."
Essa fase do plano era mais precária, a que mais envolvia usar nossos
instintos e "voar". Ele não poderia ser planejado, adequadamente, até que
soubéssemos exatamente com o que estávamos lidando, o que significava
que só poderíamos pensar nisso, depois que nós ou pelo menos um de nós
entrássemos na mansão. Mesmo assim, estaria no ar e propenso a mudar a
qualquer momento.
Assisti Alex na tela, por mais alguns segundos e então, voltei minha
atenção para o guarda de patrulha interno. Ele estava no segundo andar
agora, presumivelmente verificando se as crianças ainda estavam em seus
quartos.
Saí da sala de segurança, fechando a porta atrás de mim com um clique
suave. Então, voltei pelo corredor, na direção oposta. Da filmagem da
CCTV, eu sabia que a cozinha estava do outro lado do andar térreo.
"Ei! Espere!"
Congelei com o som. Foi a voz do guarda de patrulha imbecil, em
algum lugar atrás de mim. Tentando o meu melhor para não tremer de
medo, virei-me. Ele estava caminhando em minha direção, seu rosto
severo.
"O que está acontecendo?" Alex perguntou, sua voz se enchendo de
preocupação. "Preciso entrar?"
Abaixei a cabeça ligeiramente e cobri minha boca com a mão, enquanto
fingia coçar minha cabeça. "não sei," murmurei. "Pode ser nada."
O guarda finalmente me alcançou, seus olhos escuros estreitando.
"Sei, exatamente, o que tem feito, sua cadela idiota," ele rosnou.
Isso não parece ser "nada". O medo estava de volta, de repente.
"Desculpe?" gritei, fingindo confusão.
“Todas as vadias pensam que nasci ontem, não é? Você disse que
voltaria para a cozinha mais cedo, mas acabei de vê-la indo para lá,
obviamente da biblioteca. Acha que está tudo bem em deixar todo mundo
trabalhar, enquanto você relaxa?”
Eu não conseguia mentir e dizer que já tinha ido à cozinha. Tudo o que
ele tinha que fazer era virar os bolsos e encontrar o manjericão ainda lá
dentro, para saber que isso não era verdade. Era melhor que eu,
simplesmente, aceitasse a culpa e tentasse passar por ela.
“Eu… desculpe-me. Pensei que poderia ter uma pequena pausa, tenho
feito canapés o dia todo e comecei a ficar cansada,” eu disse.
Ele me deu um tapa no rosto, fazendo-me cambalear. "Você faz pausas
quando recebe permissão."
"Sim senhor. Desculpe-me,” eu disse, tocando meus dedos frios na
bochecha ferida. Por um segundo, fiquei aterrorizada com o impacto da
sua mão que poderia ter removido o fone de ouvido para fora mas, com
um exame superficial do chão ao meu redor, percebi que ainda estava
intacto.
"Vou levá-la para a porra da cozinha eu mesmo, então sei que estará lá,"
disse ele, agarrando meu braço. “E William vai ouvir sobre essa atitude
mais tarde, acredite em mim. Eu me lembro de você agora, Jessica.”
Bem, pelo menos ele acreditou no meu ato.
"Vou me divertir muito, matando esse bastardo," Alex murmurou
baixinho no meu ouvido, enquanto o guarda me arrastava pelo corredor,
para o lado oposto do andar térreo. Não pude responder, mas sorri por
um segundo.
No caminho pelo corredor, virei a cabeça para a esquerda e meu
coração quase parou, quando percebi onde estávamos. Um corredor
menor ficava perpendicular a este e se nós nos virássemos para a esquerda
e se subíssemos cerca de cinquenta degraus, estaríamos bem do lado de
fora das enormes portas de madeira esculpida dos meus sonhos e
memórias antigas.
Até agora, não tinha registrado corretamente que estava, realmente
aqui, no mesmo lugar. Mas ao ver aquele corredor, finalmente me atingiu
e o déjà vu espesso tomou conta de todos os meus sentidos. O Círculo
estava tão perto, através daquelas mesmas portas e eu, praticamente,
podia ouvir sua tagarelice e cheirar a mesma fumaça de charuto de quinze
anos atrás.
Eu sabia que ainda deveria estar com medo, com os dedos brancos
petrificados, mas não estava mais. A adrenalina explodiu através de mim
como um incêndio e nunca tive menos medo na minha vida.
Espreitei o relógio do guarda, quando ele me empurrou pelas largas
portas da cozinha, um momento depois. Eram oito e quinze.
Sorri de novo.
Mais uma hora e o Círculo, finalmente, seria fechado.
14
Celeste

O guarda me empurrou para dentro da cozinha, deu-me um olhar


mordaz e se afastou.
Andei até a empregada, no final de uma enorme bancada de mármore.
Eu precisava explicar o que estava acontecendo e tentar pedir sua ajuda.
Como Alex me disse antes, precisávamos de tudo que pudéssemos
conseguir. Mesmo com a grande maioria dos guardas mortos, temos que
tirar todas as empregadas domésticas e crianças de casa, antes de lidarmos
com os membros do Círculo e isso não seria fácil de fazer, sem que eles
percebessem.
A empregada ainda estava preparando coquetéis, mas olhou para cima,
quando me ouviu entrar.
Percebi, com uma pontada, como um choque elétrico, que conhecia seu
rosto. Ela era a garota, em um dos vídeos que Alex roubou de uma de suas
vítima... a menina que meu pai torturou e estuprou por diversão. Mais de
quinze anos se passaram, desde que o vídeo foi filmado, mas ela ainda
estava aqui, presa em âmbar, trabalhando para o Círculo. Parecia estar em
seus vinte e tantos anos agora.
Seus olhos cansados se estreitaram e as sobrancelhas franziram. "Quem
é você?" perguntou ela. "É nova?"
"Mais ou menos, sou Celeste,” eu disse, aproximando-me dela.
"Sou Emily," ela respondeu, indiferente, quando esmagou alguns cubos
de açúcar em uma tigela pequena. “Como te conseguiram aqui? Você não
parece tão jovem.”
Sabia que não era um insulto. Eu era jovem, pela definição da maioria
das pessoas, mas em termos de novas vítimas de sequestro do Círculo, eu
era, praticamente, antiga.
"Sou filha de John Riley," eu disse suavemente.
Ela, obviamente, reconheceu o nome, mesmo depois de todos esses
anos, porque seu rosto empalideceu e se afastou de mim, mandando o
pequeno açucareiro voando do balcão para o chão. Grãos de açúcar
espalhados por toda parte, misturando-se com os cacos negros quebrados
da tigela de cerâmica.
"Afaste-se de mim," ela sussurrou, as mãos tremendo, quando me
ajoelhei para ajudá-la. Percebi por que ela estava tão apavorada, achava
que eu estava aqui para atormentá-la. Ela pensou que eu era,
verdadeiramente, filha do meu pai.
"Não, por favor, estou aqui para ajudar", sussurrei de volta. “Sei o que
meu pai fez com você e quero tirá-la e os outros daqui.”
Seus olhos se arregalaram, por uma fração de segundo, enquanto
olhava profundamente para mim, avaliando, ostensivamente, se eu era
confiável ou não. Então falou de novo, em voz alta. "Não, eu te disse, está
na terceira gaveta, não na quarta."
Eu estava confusa, mas depois percebi que ela estava falando em voz
alta, para o benefício de outra pessoa. O patrulheiro deve ter ouvido a taça
se quebrar e voltado, para ver o que estava acontecendo.
Endireitei-me e fui para um conjunto de gavetas largas, usando minha
visão periférica para verificar a entrada. Eu tinha razão, o guarda retornou
e estava olhando para nós com desconfiança.
"Oh, esqueci de te dizer, eu te dei o manjericão que queria para as
guarnições," disse despreocupadamente, enquanto vasculhei a terceira
gaveta. Peguei um coador, imaginando que seria útil para coquetéis e
portanto, não levantaria suspeitas.
Emily estava varrendo o açúcar e restos quebrados da tigela. “Bem, é
um pouco tarde agora. A comida já saiu,” ela disse.
O guarda pareceu satisfeito com nossa troca e saiu da cozinha pouco
depois.
Voltei para Emily e comecei a ajudá-la com as bebidas. Ela terminou
uma bandeja e estava colocando os copos em cima de um carrinho de
serviço prateado. Recusou-se a encontrar meus olhos e eu poderia dizer
que não confiava inteiramente em mim ou nas minhas motivações. Ainda.
"Emily, por favor, escute-me," comecei em voz baixa. "Realmente,
preciso da sua ajuda. Preciso tirar todas as crianças e empregadas da casa
o mais rápido possível e não acho que posso fazer isso sem alguém como
você, Alguém que eles conhecem.”
Alex tinha chaves para os quartos do andar de cima, cortesia de Blaine,
mas não podia, realisticamente, deixar as crianças sozinhas.
Provavelmente estariam desconfiadas, ou simplesmente aterrorizadas com
quaisquer novos homens, mesmo aqueles que dissessem que iriam ajudar,
então tínhamos que convencer alguém a deixar seus quartos.
Eu não pude fazer isso também. Além do fato de que as crianças não
me conheciam, eu tinha que ficar aqui e tentar tirar as empregadas,
porque era muito mais capaz de me encaixar na superfície, no caso dos
membros do Círculo me virem, do que Alex.
Emily ficou em silêncio por um longo momento. Então me olhou e
suspirou, seus olhos vazios, aparentemente, tentando ver minha alma.
Algo doloroso atravessou sua expressão e ela baixou o olhar novamente.
"Não sou tão estúpida quanto pareço," ela murmurou.
Fiz uma careta. "O que? não entendo.”
“Este é um jogo, sei disso."
"Não é."
Ela jogou as mãos para cima, a cabeça tremendo lentamente, com
desdém. “Você sabe quantas vezes eles falaram isso? Às vezes são os
guardas, às vezes são os membros do Círculo. Eles nos dizem que nos
ajudarão a escapar. Realmente, só querem sexo ou nos machucar. É
engraçado nos verem tão esperançosos, só para poderem nos destruir de
novo, quando descobrimos que foi tudo uma piada de mau gosto.”
Claro que eles fariam algo cruel e distorcido. Eu deveria saber.
"Compreendo. Mas juro, eles não me enviaram aqui como parte de
algum jogo. Eu sou real e estou aqui para ajudar.”
"Como?" Ela perguntou, os olhos brilhando com suspeita, novamente.
"Não sou só eu. Estou aqui com outra pessoa e ele já matou todos os
guardas lá fora. Estará a qualquer momento para nos ajudar. Também
nocauteei o da sala de segurança, que assiste as câmeras e verifica seus
colares de rastreamento. Juro que é verdade. Você tem uma chance real de
deixar este lugar agora.”
"Quem está aqui com você?"
Eu não respondi a ela, imediatamente. “Conheceu uma menina aqui,
chamada Evangeline? Ou Lina para encurtar? ” perguntei.
Ela me encarou por um longo tempo. Então, finalmente assentiu, seus
olhos brilhando com uma expressão distante. "Sim. Ela esteve aqui há
muito tempo. Mais ou menos na mesma época em que me trouxeram.” ela
murmurou. "Ela não ficou na fila, então eles..."
“Eles a levaram embora, eu sei.” disse suavemente. Estou aqui com o
irmão dela. Ele está mirando no Círculo há anos e matando-os um por um.
Agora o estou ajudando. Queremos exterminar todos, hoje à noite.”
Suas sobrancelhas se ergueram. "Você quer dizer... o Heartbreaker?" Ela
sussurrou, cor retornando para suas bochechas.
Balancei a cabeça. "Sim. Ele está aqui. Eu juro."
“Ouvi falar dele. Não podemos assistir ou ler as notícias, mas eu os
ouvi falando sobre ele, " disse Emily. "Estão com medo dele."
"Bom, deveriam estar."
Ela abriu a boca para dizer algo mais, depois bateu a mão sobre ela, por
um segundo e concentrou sua atenção nas bebidas novamente. Ela estava
preparando outra bandeja. "Não," ela finalmente disse. "É apenas um
jogo."
"Não é."
"Desisti de sair daqui há muito tempo," ela murmurou, em um tom
desanimado. "Eu só... simplesmente, não consigo acreditar em você."
"Acredita nela agora?"
Nós duas viramos para ver Alex parado na porta. E não estava sozinho,
arrastou o guarda de patrulha interna com ele e sangue estava
derramando do que parecia ser uma ferida aberta no abdômen do homem,
escorrendo por suas mãos, enquanto tentava conter o fluxo. Tinha algo
enfiado em sua boca, então, não podia pedir ajuda.
Ele balbuciou e gorgolejou, através da mordaça, enquanto Alex
arrancava uma faca longa e estreita de suas costas. Enfiou profundamente
no guarda, então ele caiu no chão, olhos escuros arregalados de choque.
O rosto de Emily ficou branco de novo. "Oh Meu Deus," disse ela.
"Você... fez... você é o..."
Ela não parecia capaz de falar coerentemente, por um momento.
Coloquei minha mão perto dela, pairando delicadamente por cima do seu
ombro. Eu não sabia como ela reagiria, ao ser tocada. "Este é o irmão de
Evangeline," eu disse gentilmente. “O nome dele é Alex. Realmente,
estamos aqui para ajudá-los.”
Emily respirou fundo e engoliu em seco, tentando se recompor. Ela
tinha passado por muita merda, na década e meia em que estava presa
aqui, então, ver um guarda destruído na sua frente não a quebraria, Pelo
menos eu esperava que não.
Com passos trêmulos, ela se dirigiu para o guarda morto. Inclinando-
se, checou o pulso dele, como se não pudesse acreditar que ele, realmente
tinha ido, a menos que ela mesma confirmasse. Sua confiança nos outros
tinha sido corroída há muito tempo, mesmo em relação àqueles que
alegavam estar ajudando-a e não podia culpá-la por isso.
Quando teve certeza de que Alex, realmente, havia matado o guarda e
não era parte de algum jogo doentio para enganá-la a ter esperança,
endireitou-se e chutou o cadáver com força, diretamente no rosto. Eu sabia
que ele não sentiria nada mas, obviamente, significava muito para Emily
fazer algo assim, com um dos homens que a machucaram e a mantiveram
presa aqui, por tantos anos.
“Como posso ajudar?” Ela perguntou, finalmente, olhando de volta
para mim. Seus olhos ainda estavam com medo, mas havia um vislumbre
de determinação neles agora.
“Precisamos que conte às crianças e outras empregadas o que está
acontecendo. Diga-lhes que estamos tentando ajudar e que precisam sair
de casa. Precisamos que todos saiam mais rápido possível.”
"Por que não podemos, simplesmente, esperar em nossos quartos, até
que você tenha matado todos eles? Deve estar congelando lá fora,” ela
perguntou, em uma voz pequena, em pânico.
Desde que ela tinha doze ou treze anos, todo o seu mundo existia
dentro dessas paredes. Depois de tantos anos, o pensamento de finalmente
sair, provavelmente a assustou, mesmo que isso significasse liberdade do
cativeiro.
"Há cinquenta pessoas naquele salão e apenas uma maneira viável de
matar tantas pessoas em um espaço fechado," disse Alex. “Qualquer outra
coisa é muito arriscada. Então você precisa estar do lado de fora, quando
isso acontecer.”
A compreensão surgiu no rosto de Emily. “Oh. Eu vejo.” Ela ficou em
silêncio, por um momento, depois sacudiu a cabeça. "Não, não vai
funcionar."
"Por quê?"
“Sem os guardas do lado de fora, provavelmente poderíamos tirar
todas as crianças, sem que o Círculo percebesse, contanto que fôssemos
quietos e evitássemos os corredores próximos ao salão de baile. Mas as
empregadas... isso não será tão fácil.”
Eu temia que ela pudesse dizer algo assim.
A preocupação vaga estava coçando a parte de trás da minha mente,
por um tempo agora. E se uma, ou mais empregadas, fossem como minha
antiga terapeuta, Ângela Fitzgibbons e realmente, ficassem do lado do
Círculo? Elas não nos ajudariam. Na verdade, marchariam até o salão e
diriam a todos, exatamente, o que estávamos fazendo, assim que Emily as
informasse sobre o nosso plano. Então, todos nós estaríamos feridos.
Expressei essa preocupação para Emily, antes que ela pudesse dizer
qualquer outra coisa. Ela balançou a cabeça, enfaticamente. "Não, não é
bem assim. Todos nós os odiamos. Odiamos estar aqui. Eu me lembro de
Ângela, ela ainda morava aqui e ia para a faculdade, quando cheguei. Ela
saiu logo depois e eles pareciam deixá-la livre, mas não era uma liberdade
real, de jeito nenhum.” Ela franziu os lábios e balançou a cabeça
novamente. “Ela era uma aberração, você sabe. Acreditava neles. O resto
de nós... preferimos morrer, a nos entregar assim. E eles sabiam disso
sobre nós, então, nunca nos permitiram sair como ela. A única maneira
que alguém mais deixou aqui foi...” Ela parou e fez um gesto cortante em
sua garganta.
Uma pontada de náusea atingiu-me. "Qual é o problema em convencer
todo mundo a sair, então?" perguntei.
“Bem, você quer nos tirar daqui sem que eles percebam, mas não acho
que isso será possível. A comida já saiu, então tudo bem, mas sempre
precisa haver pelo menos uma empregada circulando em volta do salão de
baile, com bebidas, quando têm eventos como este. Geralmente dois ou
três. Então, se de repente não houver empregadas domésticas para serem
vistas, ficarão desconfiados e um deles começará a olhar em volta, para
ver o que está acontecendo. E levará pelo menos meia hora para levar todo
mundo para fora, sem barulho. Isso é tempo suficiente para perceberem
que algo está acontecendo. Então... pelo menos uma das empregadas tem
que ficar para trás, no salão de baile e não ser resgatada, ou não vai
funcionar.” ela soltou um longo suspiro.
"Oh." passei a mão sobre minha roupa. “Nós já imaginávamos que
poderia ser o caso. Essa é uma das razões pelas quais estou vestida assim.
Sou a empregada servindo esta noite, enquanto o resto de vocês sai. Alex
pode falar comigo através deste dispositivo no meu ouvido, então saberei
quando fazer uma saída tranquila.”
Alex olhou para mim com orgulho e os olhos de Emily se arregalaram.
"Você vai entrar lá sozinha? Eles saberão que você não pertence,
certamente.”
“É um risco que temos que correr. Como você disse, eles perceberão, se
não houver pelo menos uma empregada andando pela sala, oferecendo
bebidas e assim por diante. E tenho a sensação de que eles estão muito
preocupados com seus próprios problemas, até mesmo para perceber que
não sou, realmente, uma das empregadas aqui.”
"William acha que o Heartbreaker é um deles," Alex acrescentou, a
título de explicação. “É por isso que ele deu a festa hoje à noite e fez com
que todos participassem. Ele ficará nervoso demais para perceber que
Celeste não pertence, esperamos e os outros, provavelmente, vão pensar
que ela é uma garota nova aqui.”
Os olhos de Emily se arregalaram e ela apertou minhas mãos nas dela.
"Se pegarem você e seu plano der errado, eles vão..." Sua respiração
pareceu pegar em sua garganta, por um segundo. "Por que está fazendo
isso? Você nem nos conhece e está arriscando muito.
Endureci meu queixo. “Como eu disse, sei o que meu pai fez. Ele quase
me vendeu para este lugar. Tive sorte de escapar dessa vida, você e os
outros não tiveram tanta sorte. Sinto que devo isso a você, para ajudar de
qualquer maneira que puder,” completei. “E devo isso àquelas crianças
que morreram, por causa deste lugar, como Lina.”
"Eu vejo." Os olhos de Emily se misturaram e ela engoliu em seco.
Então entrou em ação.
"Ok. As outras criadas voltarão a servir a comida a qualquer momento.
Podemos conversar com elas primeiro e levá-las a bordo.” disse ela
apressadamente, olhando para Alex. "E Celeste," ela continuou, voltando-
se para mim. Ela apontou para o carrinho de serviço. “Os coquetéis Old
Fashioned no topo são para quem quiser. Não pergunte, basta andar
devagar com o carrinho e esperar que as pessoas os levem. Há também
uma garrafa de Lagavulin, no segundo nível e isso é para William. Há
outros spirits e licores no mesmo nível também, para qualquer outra
pessoa que pedir. Os copos limpos estão no terceiro nível.”
Balancei a cabeça. "O que mais preciso saber?"
"Se você vir alguém com um copo vazio, pegue-o e o coloque no nível
mais baixo," disse ela, apontando para o fundo do carrinho. "Não
pergunte, eles ficam bravos, quando você fala com eles. Se querem algo de
você, não se preocupe, irão te perguntar.” Ela inclinou a cabeça para o
lado. “Bem, nós somos seus escravos, essencialmente. Mas não lhes dê
nenhuma atitude Isso vai te dar mais do que qualquer outra coisa. Apenas
mantenha um rosto totalmente vazio e não encontre os olhos de
ninguém.”
"OK. E se um deles quiser...” desviei os olhos e esperei que ela me
entendesse.
Ela me deu um sorriso apertado. "Não se preocupe. As empregadas
domésticas são muito "velhas" para eles, na maior parte. Somente os
guardas estão interessados em nós e não tentarão te convencer ou te forçar
a fazer algo em uma festa. Eles apenas ficarão em pé, olhando
maliciosamente.”
"Bom," Alex disse, com um toque sombrio em seus lábios. "Se alguém
tentar te tocar, eu vou..."
Coloquei um dedo em seus lábios. "Ficarei bem."
Ele me levou de lado, por um segundo. "Tem certeza de que pode dar
conta de entrar no salão de baile?" perguntou, uma mão acariciando meu
rosto com ternura.
Respirei fundo. "Nunca fiquei mais segura de nada na minha vida."
A adrenalina ainda estava voando através de mim como um incêndio e
eu, praticamente, podia sentir aquelas portas de salão ornamentadas me
chamando, atraindo-me para elas como um ímã.
Eu estava tão pronta.
15
Celeste

Desde o segundo em que empurrei o carrinho de serviço prateado pelas


portas do salão de baile, senti como se estivesse em um sonho. Não é bom
ou ruim, é apenas a vibração estranha e etérea que recebi, por estar de
volta nesta sala, o lugar que, simultaneamente, assombrou-me e me iludiu
por tantos anos. Minha cabeça estava girando e me senti distante e tonta,
como se nada disso estivesse, realmente, acontecendo, mas outra parte do
meu cérebro está fria e focada, ciente de que eu estou na cova dos leões.
Dificilmente alguma coisa mudou. A mesma arte clássica adornava as
paredes e prateleiras, ao longo do salão e jurei que a música jazz,
flutuando por todo o quarto, era exatamente a mesma música que tocava
há quinze anos atrás, quando entrei neste lugar com meu pai.
Olhando para o mar de rostos, banhados pela luz suave e quente dos
candelabros, lâmpadas barrocas e luz bruxuleante das velas, era difícil
acreditar que todos, naquela sala, fossem pura maldade. Pareciam
amigáveis, amáveis e foi só quando me concentrei nas sombras em seus
rostos, que detectei uma corrente de escuridão.
Não admira que eu estivesse tão confusa, por estar aqui muitas vezes,
quando era muito nova. Alguma parte profunda de mim sabia que algo
estava errado, mas a maioria da minha mente estava focada nas pessoas,
aparentemente agradáveis e no ambiente opulento, fascinante e
impressionada em acreditar que era algo mais do que parecia na
superfície, uma festa do homem rico.
Lentamente me movi pela sala, como se estivesse em transe, respirando
o ar perfumado com colônia e fumaça de charuto. Taças vazias de
champanhe e pratos de canapé enchiam as mesas de madeira escura, que
ficavam ao longo das paredes e as recolhi em silêncio e coloquei no quarto
andar do carrinho, enquanto inspecionava discretamente os convidados.
Muitos deles me eram familiares, agora que estava vendo todos eles
novamente. Envelheceram um pouco, com cabelos grisalhos e algumas
rugas extras aqui e ali, mas os rostos ainda eram os mesmos. Havia alguns
membros mais novos por aí, alguns homens bem-vestidos e de aparência
pretensiosa, que pareciam ter trinta e tantos ou quarenta e poucos anos.
Não havia como estarem aqui há quinze anos, então o Círculo estava,
obviamente, aberto ao recrutamento.
Agora que eu era mais velha e mais sábia, reconheci vários dos
membros por quem eram do lado de fora. Vi um banqueiro respeitado,
alguns membros do Conselho da Cidade, CEOs conhecidos e até mesmo
alguns políticos populares. Em sua vida pública, um desses homens,
frequentemente, defendia punições mais severas para os abusadores de
crianças... e ainda assim, ele passava seu tempo livre cometendo atos
hediondos contra elas. A pura hipocrisia era incrível.
Empurrei o carrinho mais para dentro do salão de baile, parando para
deixar os convidados tomarem coquetéis ou pedirem outras bebidas.
Estiquei o pescoço e vi que Bill Francis, ou William, como quase todo
mundo o chamava, estava do outro lado, fumando um charuto, enquanto
se inclinava sobre uma bengala, junto à lareira. Ele estava com os dois
guardas de plantão. Todos os três estavam franzindo a testa e olhando
friamente para os outros convidados, ocasionalmente abaixando a cabeça
e conversando com o que, provavelmente, eram murmúrios baixos e
secretos.
A partir disso, percebi que Bill havia confiado neles sobre o verdadeiro
propósito desta noite. Devem ter sido seus guardas de segurança mais
confiáveis e ele estava permitindo que o ajudassem a analisar cada
membro do Círculo, a fim de tentar descobrir quem era seu convidado
problemático. Parecia haver um membro em particular, eles continuavam
retornando seus olhares, então achavam que ele era o principal suspeito.
Pena que nunca descobrirão o problema real nesta sala, pelo menos
não, até que fosse tarde demais.
Olhei para o relógio, só estava aqui há dez minutos. Não houve tempo
suficiente para Alex e Emily tirarem todos os inocentes da casa. Eles,
provavelmente, ainda estavam explicando o que aconteceria com todos.
"Como está indo?" Sussurrei no microfone, inclinando-me para colocar
alguns copos mais sujos no fundo do carrinho. Não tinha certeza se Alex
iria pegar minhas palavras fracas, mas ele respondeu um momento
depois.
"Começamos a evacuar as crianças do segundo andar. Vai demorar,
elas estão com medo e não confiam em mim, mesmo que Emily tenha
explicando tudo. As outras empregadas estão quase todas bem. Você está
bem aí?”
"Sim," murmurei, cobrindo minha boca com a mão e esperando que a
música afogasse minha voz para qualquer um que estivesse por perto.
"Bom. Nós tentaremos fazer isso o mais rápido possível. Você está
ótima, anjo, lembre-se de respirar."
Com o canto do olho, vi Bill olhar para o outro lado da sala e mirar em
minha direção, por um momento. Anéis preguiçosos de fumaça branca
saíam de seu charuto, enquanto me observava.
Pontadas ansiosas me atingiram e um poço de medo se formou dentro
de mim, enquanto eu respirava fundo, desejando que meu pulso se
estabilizasse. E se ele descobrisse quem eu era, apesar da peruca loira, das
lentes de contato cor de avelã e da maquiagem pesada? O que ele faria?
Era incrível como um homem que já vi como um velho vizinho
simpático, poderia inspirar um terror tão frio em mim agora. Por sorte,
ainda havia adrenalina suficiente bombeando meu sistema, da minha
bravura anterior, para me manter, aparentemente, estável, enquanto fingia
que não percebia seu olhar e andava devagar, deixando as pessoas
tomarem bebidas da bandeja superior do carrinho.
Percebi, segundos depois, que Bill não me reconheceu. Na verdade, ele
nem me viu, estava olhando para um homem careca, perto de mim e
agora estava indo até ele para uma conversa. Eu estava apenas sendo
paranoica.
Com um rápido suspiro de alívio, continuei trabalhando na festa.
Nenhum dos outros convidados me reconheceu, então, meu disfarce,
obviamente, estava funcionando bem. Ninguém me perguntou se eu era
nova ou parecia registrar que eu não pertencia a esse lugar. Alguns
homens olharam para mim, quando eu não enchi seus copos de uísque ou
taças de vinho com rapidez suficiente, mas desdém foi o mais longe que
foram e não suspeitaram de nada.
Continuei trabalhando no que parecia uma eternidade, circulando
lentamente ao redor da sala com o carrinho e servindo bebidas. Minha voz
nunca foi acima de um murmúrio deferente e não encontrei os olhos de
ninguém. Os membros do Círculo pareciam satisfeitos com isso e eu sabia,
exatamente, por quê. Eles não gostavam de pensar nas empregadas
domésticas e crianças na mansão como seres humanos reais, então, agir
como se fôssemos simplesmente autômatos sem alma era um
comportamento típico. Se eu encontrasse seus olhos por um segundo
sequer, isso os lembrariam de que eu era uma pessoa e os deixariam com
raiva.
Meu rápido batimento cardíaco acelerou como tambores de guerra altos
e pulsantes. Quanto mais eu passava andando e desempenhando esse
papel, melhor me sentia e logo, minha coragem anterior retornou com
força total.
Encarar esta sala e confrontar todos os meus medos foi a escolha certa,
porque agora eu sabia com certeza, que poderia fazê-lo. Isso me fez sentir
infalível, mais forte do que nunca, como se pudesse lidar, absolutamente,
com qualquer coisa sozinha.
Alex estava certo sobre mim, no outro dia, eu tinha mais força interior
do que já sabia.
"Celeste." Sua voz veio através do meu fone de ouvido, pouco antes das
nove horas. "Colocamos todo mundo na calçada e montei as coisas aqui,
pode sair agora."
O plano era que eu saísse do salão, assim que as crianças e as
empregadas estivessem em segurança fora de casa. Alguns membros do
Círculo notariam, após alguns minutos, que sua empregada desapareceu,
mas, a essa altura, já seria tarde demais para eles. Um par de minutos foi
tudo que precisei.
Obviamente, eu não poderia sair de uma maneira que chamasse a
atenção, porque então alguém poderia suspeitar de algo e vir atrás de mim
e nós não queríamos que ninguém saísse de casa, ou entendessem o que
estávamos fazendo, antes de realizarmos a fase final do nosso plano.
Precisávamos que ficassem dentro, tão ignorantes e inconscientes quanto
ovelhas.
Não seria tão difícil para mim escapar, sem ser notada. A bandeja
superior dos coquetéis antiquados estava vazia, então, tudo que eu tinha
que fazer era dirigir o carrinho em direção às portas e sair com ele. Se
alguém perguntasse para onde estava indo, eu, educadamente, diria que
estava indo à cozinha pegar outra bandeja de bebidas, já que elas foram
tão bem recebidas. A maioria deles, provavelmente, apenas olharia para
mim e assumiria que era o que eu estava fazendo, assim que avistaram a
bandeja vazia.
"Ok, saindo agora,” murmurei no microfone, enquanto me inclinei,
fingindo reorganizar alguns copos no terceiro nível.
Levantei-me em linha reta e fui em direção ao outro lado da sala,
certificando-me de que não estava empurrando o carrinho muito
rapidamente, já que isso poderia atrair alguns olhares estranhos. Como eu
esperava, algumas pessoas me olharam com um interesse vago, enquanto
eu passava, mas então, viram a bandeja vazia em cima do carrinho e
olharam para longe, suas suspeitas apaziguadas.
As portas de madeira esculpidas estavam perto, rapidamente. Só mais
alguns passos e estaria fora, sã e salva.
Quando estava a apenas 30 centímetros de distância das portas, senti
uma mão pesada no meu ombro e a voz de Bill ecoou em meus ouvidos.
"Pare."
16
Celeste

Meu coração caiu, quando o terror negro e irregular rasgou através de


mim.
Virei-me lentamente para olhá-lo, rezando para que não fosse nada e
que ele tirasse a mão enrugada do meu ombro a qualquer momento,
rezando para que ele não notasse o horror gritante nos meus olhos.
Ele puxou a mão para trás e me olhou, apoiando-se na bengala de
madeira polida com o outro braço. Ele nunca precisou de um no passado,
mas notei, anteriormente, que sua perna esquerda parecia bastante dura
agora. Acho que a velhice estava, finalmente, começando a alcançá-lo e
não podia andar ou correr, como costumava fazer. Infelizmente, esse
pequeno fato não me ajudaria nenhum pouco, se descobrisse quem eu
realmente era. Ele não precisaria me perseguir, já estava de pé bem aqui, a
poucos centímetros de distância.
"Mais uísque," ele exigiu secamente, apontando para o carrinho de
serviço.
Graças a Deus…
Meu pulso ainda acelerava, inclinei-me para recuperar o Lagavulin da
segunda camada do carrinho. Enchi um copo limpo para Bill, minha mão
tremendo o tempo todo.
Seus frios olhos azuis não vacilaram em meu rosto, por um segundo.
"Então, aonde pensa que está indo?, Ele perguntou, depois que lhe
entreguei a bebida.
Naquele momento senti puro perigo, frio e claro como gelo. Ele
conhecia minha voz, então, eu não deveria falar com ele, mas, ao mesmo
tempo, mal podia ignorá-lo e me afastar sem responder.
Tentei deixar minha voz mais leve que o normal, para que ele não a
reconhecesse. "Vou pegar outra bandeja de bebidas," eu disse. “E para ver
se consigo mais ajuda aqui. Uma criada não parece suficiente para todas
essas pessoas.”
Meu truque para tentar mudar a voz não funcionou. Algo,
imediatamente, cintilou no rosto de Bill, uma contração cautelosa
apertando seus lábios e nariz. Ele me olhou atentamente, vendo além da
maquiagem, do cabelo e das lentes, finalmente me vendo pela primeira
vez. "Você," disse ele, seu tom calmo, mas mortal. Ele se moveu ao redor
do carrinho, bloqueando a porta. "Você deveria estar morta."
Minha sorte finalmente se esgotou.
"Porra. Você tem que sair!” Alex gritou, através do meu fone de ouvido.
“Tente trancá-los da melhor maneira que puder, não pode soltá-los!”
Ele estava certo. Agora que eu tinha sido descoberta, Bill e os outros,
obviamente, viriam atrás de mim. Tinha que sair e bloquear as portas,
antes que pudessem fazer isso, ou então escapariam da casa e d o destino
que decidimos para eles. Eu não podia deixar isso acontecer, não, quando
já chegamos tão longe.
Sangue bateu em meus ouvidos e meu corpo entrou em modo de piloto
automático estranho e antes mesmo que percebesse, estava me movendo.
Chutei a perna de Bill para fora da bengala, derrubando-o no chão e então
peguei a bengala e a segurei com força.
Os guardas, junto à lareira, entraram em ação, correndo em nossa
direção. Os outros membros do Círculo também haviam notado que algo
estava acontecendo, a essa altura e estavam olhando para nós com olhares
sombrios e inquietos, presumivelmente, imaginando por que diabos uma
criada acabara de ousar atacar seu querido líder.
Olhei para Bill. Eu sabia que poderia usar a bengala para esmagar seu
rosto, se quisesse, mesmo que não fosse a razão pela qual eu a peguei.
Uma névoa vermelha parecia descer sobre minha visão, com o
pensamento e me imaginei espetando-a nos seus olhos, observando e
sorrindo sombriamente, enquanto o sangue jorrava. Então vi o rosto
jovem de Evangeline brilhando em minha mente, fechado e atormentado e
quis machucar Bill ainda mais. Eu queria sentir seus ossos lascando sob a
bengala, queria sentir sua carne explodir em polpa.
A voz de Alex me tirou da minha névoa, uma fração de segundo
depois, puxando-me de volta à realidade. "Celeste, saia!" Ele gritou no fone
de ouvido, seu tom cheio de medo pela minha vida. "Agora!"
Bill ainda estava deitado de bruços no chão polido, gritando ordens aos
guardas, que se aproximavam rapidamente. Pulei sobre ele e abri caminho
pelas portas, antes de fechá-las o mais rápido que pude. Depois usei a
bengala para o propósito que pretendia, inicialmente, empurrando-a
horizontalmente pelas duas maçanetas das portas. Agora, ninguém do
outro lado seria capaz de abri-las. Eventualmente, serão capazes de abrir
caminho com pura força bruta, mas levaria um tempo.
Olhei para as portas bonitas e aterradoras, por mais alguns segundos.
Com eles selados assim na vida real, estavam, lentamente, selando em
minha mente também. De alguma forma, a partir deste momento, eu sabia
que iria parar de ter esses sonhos sombrios e flashbacks sobre a abertura
deles. Minha mente jamais voltaria a entrar naquele opulento salão de
baile além, com todas as suas prodigiosas maravilhas e horrores
arrepiantes.
Respirando fundo, virei-me e corri como o inferno.
Enquanto corria pelos longos corredores e me dirigia para a entrada da
frente, ocorreu-me que era a primeira vez que eu corria sem dores nas
costas e ombros, em mais de um ano. A dor do nervo dolorido e ardente
havia desaparecido e tudo que senti foi a adrenalina voando através de
mim, em grandes explosões incandescentes, exatamente como acontecia,
quando eu costumava fazer exercício em Frick Park.
Finalmente voei pela entrada principal e corri direto para os braços de
Alex. Mas não havia tempo para abraços aliviados ou palavras doces. Ele
se afastou, pegou minha mão e me puxou em direção à fonte de mármore,
que ficava a vinte metros da porta no meio da entrada.
Ele me entregou um isqueiro e apontou para um longo rolo de algodão,
que estava no chão. Estava encharcado de combustível diesel e esticado
por todo o comprimento, envolvendo a parte superior de uma enorme
bolsa de jornal, que ficava perto da entrada da frente, de onde acabei de
fugir. Não pude ver dentro, mas sabia que a bolsa estava cheia de
fertilizante com nitrato de amônio mais do que suficiente para arrasar
vários milhares de metros quadrados.
Liguei o isqueiro, vendo a pequena chama laranja dançar na escuridão.
Alex assentiu e colocou uma mão no meu ombro. "Faça."
17
Celeste

Agachando-me com o isqueiro, toquei no final do rolo de algodão


encharcado. Chamas rapidamente o lamberam e Alex me levantou e
murmurou, urgentemente, em meu ouvido. "Corra."
Eu fiz, corri como o inferno.
Quando estávamos a cerca de cem metros, um estrondo ecoou como
um trovão, atrás de nós. Um flash intenso de calor aqueceu minhas costas,
apenas alguns segundos depois. Corri mais alguns metros, depois me virei
para assistir nosso trabalho, com os olhos arregalados.
A bomba de fertilizantes acabara de inflamar a mansão em uma bola de
fogo ardente, ondulando para fora e explodindo-a em fragmentos, com
calor radiante. Janelas e paredes quebradas. Milhões de pedaços de vidro
e tijolo caíram, em uma chuva calamitosa. Fumaça espessa e fogo
escaldante surgiram e uma série de flashes eclodiram, provocando novas
explosões. Parecia que um deus vingativo havia descido dos céus e
chutado um buraco na casa, com um enorme pé laranja ardente.
A explosão lançou um brilho intenso na noite e o cheiro ácido e
sufocante dominou cada respiração que tomei. As chamas rugiram mais
alto do que pensei, queimando com cores intensas, mudando de laranja
para vermelho, para roxo e de volta para laranja, novamente. Pilares de
fumaça flutuaram para cima, torcendo, contorcendo e estalando.
Foi bonito.
As criadas e as crianças estavam se aproximando lentamente de nós,
para assistir à morte do Círculo, do nosso ponto de vista mais próximo. Eu
só sabia, por que podia ouvir os passos deles esmagando a neve e quando
finalmente me virei, Alex e eu estávamos cercados por eles.
"Posso ir para casa agora?" Uma das crianças perguntou timidamente,
com os olhos arregalados como discos, enquanto observava as chamas
ardentes além de nós.
Uma das empregadas apertou o casaco da menina e a abraçou. "Sim,"
ela murmurou. "Nós podemos ir para casa em breve." Ela olhou para mim
e assentiu, um gesto silencioso, que transmitiu sua gratidão.
Sorri para ela, depois me virei para assistir ao inferno. A temperatura lá
fora havia baixado bastante na última hora e a neve caía em flocos lentos e
preguiçosos. Se eu apertasse os olhos, quase parecia um cartão de Natal,
um país das maravilhas do inverno, em torno de uma lareira de
crepúsculo.
Alex agarrou minha mão e soltou um suspiro pesado. "Estava
preocupado que você não saísse," ele murmurou, acariciando minha pele.
Havia um lampejo de vulnerabilidade em seus olhos.
"Eu também," sussurrei.
Ele me puxou para mais perto e se inclinou, os lábios roçando minha
testa. Fechei os olhos e levantei o rosto, para que beijasse meus lábios
também. Ele nunca teve um gosto tão doce.
Quando estava naquele salão, parte de mim, realmente, pensava que
não conseguiria sair viva, depois que Bill descobriu quem eu era. Mas com
a voz de Alex lá para me guiar, consegui passar pelos piores momentos da
minha vida e, finalmente, estava segura e quente, em seus braços
novamente.
Agora sabia que tinha toda essa força, profundamente, dentro de mim e
tinha isso o tempo todo. Mas sem ele, não tinha certeza de que alguma vez
descobriria quanto havia lá. Não saberia se conseguiria. Não saberia o
quão inteligente e poderosa eu poderia ser, quando o perigo estivesse
surgindo nos meus calcanhares.
Eu precisava dele na minha vida, agora e sempre. Precisava dele para
me ajudar, mostrar-me, ensinar-me e me amar. Ele também precisava de
mim para entendê-lo e amá-lo de volta.
E Meu Deus, eu fiz. Eu o amava tanto, que me doía.
"Você acha que conseguimos todos eles?" perguntei baixinho, virando
meu rosto de volta para o fogo. Os últimos remanescentes da mansão
estavam desmoronando agora.
Os lábios de Alex se apertaram. "Espero que sim."
Havia uma pequena chance de alguém não ter aparecido para a festa,
hoje à noite, apesar de todo o Círculo ter sido ordenado a vir.
“Poderemos descobrir.” Emily tinha acabado de se aproximar de nós, e
viramos, para olhá-la com interesse.
"Como?" perguntei.
Ela levantou um livro preto. "Roubei isso do escritório de William,
quando estávamos tirando as crianças. É um livro contendo todos os
nomes dos membros e funcionários do Círculo. Vou entregá-lo à polícia,
quando eles aparecerem e eles poderão saber se alguém não apareceu hoje
à noite, com base no fato de ainda estarem vivos.” Ela ergueu as
sobrancelhas e torceu os lábios, como se não soubesse dizer se podia
encontrar diversão, ou satisfação, na morte de seus captores. "Mas acho
que vocês conseguiram todos eles."
Assenti lentamente. "Não poderíamos ter feito isso sem você," eu disse.
De repente, lágrimas encheram seus olhos e ela respirou fundo,
trêmula. “Realmente, duvidei de você no começo, mas estou tão feliz por
acreditar." Ela fez uma pausa e balançou a cabeça levemente. "Só não sei o
que fazer agora, este lugar é tudo que conheço há tanto tempo."
"Vai ficar tudo bem. Ajudaremos você e todos os outros o máximo que
pudermos.” disse Alex com firmeza. "Sei que será um ajuste, mas
chegaremos lá."
Ela sorriu, através das lágrimas. "Nem sei o que fazer para agradecer,"
ela sussurrou.
Ele bateu levemente no ombro dela. "Apenas continue sobrevivendo."
Emily assentiu e enxugou as bochechas. "Há uma coisa que todos nós
podemos fazer, na verdade," disse ela. "Enquanto estávamos todos lá
esperando vocês dois..." Ela parou e gesticulou para o fogo. "Todos
concordamos em contar à polícia o que você quiser, quando chegarem.
Sabemos quantos problemas terá, se ficar por aqui e admitir o que fez.
Não importa o quão ruim esses caras eram, s ainda o tratam como um
assassino em série e o acusam de acordo. Portanto, se precisar sair agora,
todos ficaremos felizes em seguir uma certa história, quando nos
perguntarem o que aconteceu. Até as crianças mais novas entendem.”
Olhei para Alex. Nenhum de nós tinha certeza de que nosso plano de
destruir a mansão funcionaria, então, não discutimos o que aconteceria
depois. Tínhamos uma ideia geral, íamos correr e nos esconder, esperar
que as coisas explodissem. Depois, voltaria à minha vida antiga, talvez
afirmasse que bati a cabeça e sofri amnésia por alguns meses, antes de,
finalmente, lembrar quem eu era e voltar para casa. Alex ainda estaria na
minha vida, é claro. Eventualmente, eu o apresentaria aos meus amigos e
diria que estávamos, secretamente nos vendo por um tempo, antes de eu
desaparecer, depois de nos encontrarmos no hospital, quando ele tratou
minha mãe. Seria difícil de conseguir, mas factível.
Agora tivemos a chance de enquadrar as coisas de maneira diferente.
"O que você acha?" perguntei.
Alex apertou minha mão. "Acho que depende de você."
Imediatamente percebi o que ele estava fazendo. Estava colocando sua
vida em minhas mãos, para me mostrar o quanto ele confiava em mim
agora.
Se quisesse, poderia ficar aqui e contar à polícia tudo, quando
chegassem. Toda a verdade. No final, eu, provavelmente, não teria muitos
problemas, mesmo depois de ajudar com toda a carnificina e matança hoje
à noite, porque as pessoas tendem a pensar que fui coagida.
Mas é claro, eu não faria isso com Alex, agora não. Nunca. Ele sabia
disso. Sabia, com certeza, que eu não o trairia e tinha certeza de que podia
confiar em mim para tomar a melhor decisão por nós dois.
Mordi meu lábio inferior, enquanto pensava. Havia uma narrativa que
eu poderia contar, que não apenas serviria bem a nós dois, mas também
serviria para honrar a memória dos corajosos inocentes de nossa história,
que não o fizeram.
Sussurrei minha ideia no ouvido esquerdo de Alex e ele assentiu. "Acho
isso perfeito," disse rispidamente.
Emily olhou para mim ansiosamente e delineamos o novo plano. Ela
concordou que funcionaria e então, reuniu todas as outras criadas e
crianças para contar a elas também. Cada um deles prometeu contar a
mesma história.
Cinco minutos depois, voltamos a assistir o fogo em silêncio. Sirenes
fracas ecoavam à distância agora.
Olhei para Alex novamente. "O que vai acontecer, quando tudo
acabar?" perguntei suavemente.
Havia um sorriso fantasma em seu rosto e ele apertou minha mão. "O
que você quiser que aconteça."
"Quero você." apertei de volta ainda mais. "Vou ficar com você."
Seu sorriso aumentou e ele me puxou para mais perto. "Eu sei."
18
Celeste

Bocejando, protegi meus olhos das luzes fluorescentes, acima da minha


cama de hospital. Acabei de acordar, depois de catorze horas de sono e
não consegui me lembrar da última vez em que me senti tão bem
descansada.
Alex está em uma cadeira, ao meu lado e se inclinou para frente. "Como
está se sentindo?"
Sorri. "Sinto-me bem."
Depois que os funcionários da polícia e do corpo de bombeiros
apareceram na propriedade rural, onde ficava a mansão Circulo, fui
levada ao hospital, com todas as crianças e empregadas. Eu não estava
ferida, não como os outros, pelo menos. Tudo o que tinha eram alguns
arranhões e contusões desbotados, de quando Dwyer me prendeu em
cativeiro, há algumas semanas, mas as equipes de resgate insistiram que
eu fosse mantida por um tempo, para monitorar minha saúde física e
mental, após minha provação.
A polícia me interrogou e contei a eles a mesma história que os outros
contaram, quando perguntaram, o Círculo me sequestrou alguns meses
atrás, após descobrirem que eu estava começando a lembrar de coisas
sobre o envolvimento do meu pai com eles. Mantiveram-me cativa na
mansão, com a intenção de me torturar e me matar um dia. Não interagi
muito com as crianças, ou as empregadas domésticas, pois fiquei presa em
uma pequena sala, sozinha a maior parte do tempo, isso explicaria por que
não sabia a maioria dos nomes deles, se alguém perguntasse.
Na noite do inferno, estava sentada, na minha janela quando vi um
homem desconhecido chegar ao terreno da mansão. Ele me resgatou e
todos os outros inocentes e nos enviou para fora, antes de detonar uma
enorme bomba, explodindo a mansão. A explosão matou todos os
membros do Círculo e foi apenas por causa de seu sacrifício, que o resto
de nós estava vivo. Não sabíamos quem era esse homem, descrevemos
como loiro e um pouco acima do peso, com um nariz grande, o oposto
completo de Alex, mas esse homem nos disse que era o Heartbreaker e
veio para salvar todas nós.
Não haveria discrepâncias, em termos de número de corpos
encontrados, apesar da adição ficcional. Eu sabia que, quando ocorrem
explosões maciças, os corpos são, frequentemente fragmentados, a ponto
de as autoridades não terem certeza de quantas pessoas morreram na
explosão. Até onde os investigadores sabiam, o Heartbreaker morreu na
explosão e seus ossos foram quebrados em um milhão de pedaços
minúsculos como os outros. Seus restos mortais nunca seriam
encontrados, mas eles saberiam que ele estava lá, com base em nossas
histórias.
Alex não estava presente em nenhum dos interrogatórios, pois não
estava em cena, quando a polícia apareceu na outra noite. Para que a
história funcionasse, nós o mandamos embora e ele caminhou de volta
para o carro, do outro lado da reserva natural e simplesmente voltou para
casa. Agora estava aqui no hospital, desempenhando o papel de meu
namorado preocupado e a polícia não era a mais sábia.
“Celeste?”
Olhei para a porta e meu coração se levantou, quando vi quem estava
ali. "Samara!" gritei.
Ela correu e passou os braços em volta de mim, em um abraço de urso.
Calor irradiava através de mim ,quando ela me apertou com força.
"Não acredito. Você está realmente aqui.’’ ela murmurou, com voz
rouca e lágrimas de alegria.
Ficamos assim por alguns minutos, apenas nos abraçando e tocando o
rosto uma da outra, tão felizes por, finalmente, reunirmo-nos. Então
Samara se afastou e me deu um olhar interrogativo, a cabeça inclinada
para Alex.
Meu estômago revirou. Eu odiava mentir para minha melhor amiga,
especialmente quando ela nunca desistiu de me encontrar, mas sabia que
mentiras eram, ocasionalmente necessárias, para manter as coisas
tranquilas. Eu não tinha vergonha de Alex ou do meu amor por ele, mas
não conseguia imaginar nenhum de meus amigos, realmente, entendendo
meus sentimentos, considerando como começamos, junto com o fato de
que ele era um serial killer. E assim, segurei a verdade e disse a Samara a
mesma coisa que planejei contar para todo mundo.
"Este é Alex," eu disse. "Sinto muito por não ter falado sobre ele antes.
Estávamos nos vendo por alguns meses, antes de eu ser levada e eu queria
ficar quieta, até saber exatamente como nos sentíamos. Veja, ele era
médico da minha mãe, quando ela estava doente e estávamos
preocupados com o que as pessoas poderiam pensar sobre a diferença de
idade e com ele namorando a filha de uma ex-paciente. Mas ainda assim,
eu deveria ter lhe contado."
Ela acenou com a mão. "Ficarei brava com isso depois. Estou tão feliz
que voltou.’’ Ela explodiu em lágrimas aliviadas. "É muito bom conhecê-
lo, Alex," ela acrescentou um momento depois, limpando as bochechas,
enquanto o olhava novamente. “Prometo que geralmente, não sou tão
emocional."
Ele sorriu gentilmente. "Ouvi muito sobre você, Samara, é ótimo,
finalmente, conhecê-la. "
Peguei a mão dela. “Sei que você nunca desistiu de mim, nem por um
segundo.’’ disse suavemente. Engoli em seco e contei a ela a outra metade
da história que contei à polícia, a parte que inventei, para homenagear a
memória de Jason West. Ele nunca desistiu de me procurar, depois que
Samara implorou para que me encontrasse e ele pagou, por essa
integridade, com sua vida. Culpei-me por sua morte. "Agente West me
disse."
As sobrancelhas de Samara franziram. "O que quer dizer?"
“Ele me encontrou na mansão, há algumas semanas. Descobriu que o
Círculo existia, localizou-me e disse que estava me procurando por sua
causa. Mas... o Círculo o pegou, antes que pudesse salvar a mim e aos
outros. Vi Dwyer, ele era um deles, atirar na sua cabeça e depois o enfiou
em um carro, para que pudesse despejar o corpo longe da mansão.’’
A mão de Samara voou para a boca. "Oh meu Deus! O agente West,
realmente, encontrou você?’’
"Sim. Ele foi um herói total, Samara.’’
Ela balançou a cabeça em descrença. "Ele ficará muito feliz em saber o
que fez."
Inclinei a cabeça. "Você quer dizer que a família dele ficará feliz em
saber?"
Ela franziu a testa e então seus olhos se arregalaram. “Oh. Claro... você
ainda não saberia disso. Ele está vivo!"
Um calafrio percorreu minha espinha e, de repente, fiquei
incrivelmente tonta. Por mais incrível que foi ouvir que West havia
sobrevivido de alguma forma à sua terrível lesão, toda minha história
dependia da crença de que ele estava morto. Eu queria fazê-lo parecer um
herói, de alguma forma, já que acredito que foi, sem envolver Alex em
nada. Mas se West estava vivo, todo mundo saberia que a história é uma
mentira. Ele nunca foi à mansão, sabia que Alex era o destruidor de
corações e que Alex me tinha o tempo todo, não o círculo.
Olhei para Alex. Ao contrário de mim, ele não parecia assustado. Sua
expressão era completamente tranquila, como se já tivesse aceitado que
poderia acabar se apaixonando pelas coisas que havia feito.
Engoli em seco e olhei para minha melhor amiga. "Ele sobreviveu?"
Samara assentiu com fervor. "É inacreditável, certo? Como você disse,
ele levou um tiro na cabeça à queima-roupa, ninguém sobrevive a isso!”
Ela franziu as sobrancelhas. “Geralmente, quero dizer. Mas,
aparentemente, cinco por cento das pessoas que levam um tiro na cabeça,
realmente, sobrevivem.”
"E ele foi um daqueles sortudos," sussurrei. Minhas mãos estavam
tremendo. Por que a polícia não disse nada, quando contei a história sobre
West? Não deram a impressão de que achavam que eu poderia estar
inventando as coisas.
Acho que as mentiras nem sempre suavizam tudo, não importa a
intenção.
Samara assentiu. “Uh-huh. Algum fazendeiro o encontrou, na beira de
uma estrada que saía da cidade e pensou que estava morto, mas então,
percebeu que tinha pulso. Para encurtar a história, West ficou em coma
por algumas semanas e acordou alguns dias atrás. Os médicos estão
dizendo que é um milagre absoluto. Ele ficará bem, além da cicatriz e da
perda de memória."
Meu coração pulou uma batida. "Perda de memória?"
Os lábios dela se apertaram. "Foi isso que eu quis dizer, quando disse
que ele ficaria feliz em saber o que fez por você, pois não tem ideia. É tão
triste. Aparentemente, o hipo alguma coisa estava danificado, quando foi
baleado.
"Hipocampo?" Alex interrompeu.
Samara assentiu novamente. "Isso. É horrível. Quero dizer, ele tem sorte
de estar vivo, é claro, mas aparentemente, perdeu todas as memórias dos
últimos dois ou três anos. Fui visitá-lo, porque ouvi o que aconteceu,
quando tentei ligar para saber como estava indo, na busca por voce.
Enfim, ele não tem ideia de quem eu sou. Sua esposa explicou o que
aconteceu. Poderá criar memórias, na maior parte, mas os últimos anos
sempre serão uma lousa em branco."
"Entendo," murmurei. "Pelo menos ele vai ficar bem, no entanto."
"Por mais horrível que pareça, estou tão feliz que você tenha visto o que
aconteceu. Agora todo mundo saberá que ele, realmente te encontrou e
que herói foi, por tentar tirar todos vocês daquele lugar horrível.”
Esse é o plano, pensei, meu pulso estabilizando, enquanto respirei fundo
várias vezes, calmamente.
"Ainda não consigo acreditar que você está, realmente, em casa," disse
Samara, ofegante, um momento depois, balançando a cabeça enquanto
olhava para mim. "Vai ficar bem, certo?"
Sorri e assenti. "Sim. Ficarei bem."

Samara não foi minha única visitante, naquele dia. Cora Rossi veio me
ver também, com uma sacola de biscoitos caseiros de chocolate. Algumas
horas depois que saiu, eu tinha outro hóspede no meu quarto, este,
decididamente, menos bem-vindo do que minha amiga e vizinha.
Houve uma batida forte na porta e lá estava o SAC Leonard Foley,
parado no limiar. Engoli em seco e assenti para que entrasse. Como
sempre, estava com uma expressão amarga e azeda. Ele ficou ao meu lado,
avaliando-me friamente. Um pé continuava balançando no chão e percebi
que estava um pouco nervoso.
"É bom te ver, Celeste," ele finalmente disse.
"O senhor também, senhor," respondi educadamente, ainda sem saber
por que ele estava aqui.
Foley esfregou o queixo. “Eu queria te dizer algumas coisas. Primeiro,
eu...” ele pigarreou. "Queria me desculpar."
"Por quê?" levantei minhas sobrancelhas. Um pedido de desculpas de
Foley era mais raro que dentes de galinha.
"Não te tratei bem, quando trabalhou no escritório de campo. Conheci
seu pai, quando estava vivo e para ser franco, não aguentava o homem.
Agora sei que eu estava certo em não gostar dele, considerando no que
estava envolvido, mas não deveria ter deixado meus sentimentos em
relação a ele afetarem a maneira como te tratei. Fui injusto. Pensei que o
escritório não era o lugar certo para você, mas fez um ótimo trabalho. Há
uma razão para ter sido a primeira escolha, por mais que eu não quisesse
admitir antes."
Balancei minha cabeça lentamente. “Dwyer disse que Bryce foi a
primeira escolha. Ele disse que fui escolhida para o estágio, porque ele
queria ficar de olho em mim.”
O nariz de Foley enrugou. “Suspeito que ele só lhe tenha dito isso, para
acabar com você, a maldita cobra. Você foi a primeira escolha para o
estágio, Bryce foi o segundo.”
"Oh."
"Sei que, provavelmente, não quer voltar, depois de tudo o que
aconteceu, mas se quiser, sempre haverá um lugar para você."
"Obrigada," murmurei.
Ele ficou em silêncio, por um momento. Então pigarreou e falou
novamente. "Entendo que você disse à polícia que Jason West a encontrou
há algumas semanas e é por isso que foi baleado".
Eu engoli. "Sim."
Ele assentiu. "Certo. Infelizmente, não temos ideia de como ele
encontrou você ou o Círculo, porque a memória dele se foi e não deixou
nenhum tipo de anotação ou trilha que nos ajude. Suponho que também
seja minha culpa."
Balancei a cabeça. “Não, eu entendi. Está bem."
Entendi por que Foley havia dito a West para parar de me procurar.
Não foi por frieza, simplesmente não era tarefa de West na época e Foley,
como a polícia e outros, supôs que eu fugi. Dada a dor que eu sentia na
época, não era de surpreender que as pessoas pensassem isso de mim.
Não os culpo e não estou com raiva.
Foley continuou. “O que ele fez para descobrir isso, fez um ótimo
trabalho. Encontrar uma garota desaparecida e descobrir a existência de
uma seita secreta de pedófilos, não é pouca coisa. Todos nós desejamos
que ele tenha contado a alguém, em vez de sair sozinho e levar um tiro,
mas acho que o passado é o passado. Conhecendo-o, tenho certeza que ele
tinha suas razões."
"Posso falar sobre isso, na verdade," eu disse suavemente. “Ele me
disse, quando me encontrou, nos poucos minutos que tivemos juntos.
West disse a Dwyer o que descobriu sobre o Círculo e Dwyer pediu que
ficasse quieto por um tempo e que o ajudaria a resolver o problema.
Quando chegou à mansão naquela noite, pensou que Dwyer estaria lá com
toda uma equipe de agentes, para ajudá-lo a tomar o lugar. Não tinha
ideia de que estava sendo enganado e preparado para ser morto, visto que
Dwyer era do Círculo. ”
Foi suficientemente próximo da verdade.
"Entendo. Isso faz sentido.” Foley suspirou. "Bem, agora que o
desgraçado Dwyer não está por perto, West será promovido à sua antiga
posição, assim que se recuperar o suficiente."
Sorri. "Bom. Ele merece."
Ele assentiu devagar e coçou o queixo novamente. "Ele faz. Realmente,
gostaria de saber como ele descobriu tudo, em primeiro lugar. Puramente
interesse. Ele tinha algumas teorias bastante loucas, no começo, pensou
que o Heartbreaker tinha você. Louco, certo?”
Sorri levemente. "Eu acho."
"Falando no Heartbreaker, é uma pena que esteja morto. Sabemos como
e por que ele escolheu suas vítimas mas, provavelmente, nunca saberemos
quem ele era ou como descobriu sobre o Círculo.”
"Alguns mistérios vivem para sempre," eu disse uniformemente.
"Suponho que ele é um deles."
"Sim. De qualquer forma, você, provavelmente, precisará descansar um
pouco mais.” Ele endireitou as costas. "Eu te verei mais tarde, Celeste."
"Obrigada por vir me ver, senhor."
Ele saiu e me virei para Alex, com as sobrancelhas levantadas. "Você
ouviu isso? Aparentemente, o Heartbreaker me pegou.”
Ele riu e inclinou a cabeça para o lado. "Pegou?"
Dei a ele um sorriso travesso e peguei uma das suas mãos. "Acho que
devo dizer 'tem'. O Heartbreaker me tem.”
E ele sempre teria.
19
Alex

1 ano depois

"Celeste? Você está aqui fora?”


Fiz uma careta e olhei para o nosso amplo quintal. O céu estava lavado
em cinza, o chão era uma mistura lamacenta de neve e lama e as folhas
que não caíram das árvores, durante o outono, estavam alinhadas com
cristais de gelo. Celeste não estava em lugar algum.
Era o nosso segundo inverno juntos e o primeiro em nossa nova casa.
Vendi minha antiga propriedade e comprei este lugar, para que
pudéssemos começar de novo, uma decisão que chegamos juntos, após
nossas façanhas no ano passado. Novo lugar, novo capítulo em nossas
vidas.
Nossa casa ficava em um terreno considerável, em Point Breeze, muito
mais perto de tudo, do que a propriedade perto de Burgettstown e maior
do que meu condomínio de investimentos e minha casa em Shadyside.
Não foi fácil se despedir da casa antiga, mas precisávamos seguir em
frente, depois de tudo o que aconteceu no ano passado. O Círculo se foi,
minha irmã foi vingada, aos meus olhos e eu não sentia mais nenhum
desejo ardente de matar. Permanecer na propriedade, onde mantive e
matei tantas pessoas, não seria bom, o melhor é ficar no passado e eu sabia
que isso também trazia algumas lembranças ruins para Celeste, por mais
que ela adorasse certos aspectos do lugar.
Ela, finalmente, conseguiu vender também a antiga casa de seus pais
em Fox Chapel, então, esse era outro lugar do passado que não a
assombraria mais. Ela não escondeu o dinheiro da venda, tudo foi para
uma organização de caridade, que ela e Samara montaram para as
crianças e empregadas domésticas, que resgatamos da mansão no ano
passado. Eles precisavam de muita ajuda para se adaptar à vida na
sociedade comum, depois dos horrores que haviam sofrido, alguns por
anos a fio, mas com a ajuda de anjos como Celeste, eu sabia que eles
chegariam lá, eventualmente.
Voltei para dentro para procurá-la, perguntando-me se estava no
banheiro. Ela não estava, quando a procurei mais cedo, mas a casa é
grande, então, eu poderia sentir sua falta. Sabia que ela estava em casa,
porque o seu carro estava aqui e ela terminou a faculdade semanas atrás.
Uma lâmpada pareceu acender em minha mente, quando encontrei o
banheiro vazio mais uma vez e voltei para fora. Claro. A estufa. Foi a única
coisa que transportamos da propriedade antiga, porque eu sabia o quanto
ela adorava cultivar coisas nela, durante seu tempo lá.
Era no lado esquerdo da casa e, quando entrei, fiquei maravilhado com
o que ela havia conseguido. Ao contrário da brancura estéril e morta do
mundo exterior invernal, a estufa estava viva e florescendo com flores e
vegetais coloridos. Cachos de orquídeas brancas erguiam a cabeça de uma
caixa, à minha esquerda e havia uma mistura de arco-íris de lírios e rosas
amarelas, alaranjadqs, roxas, fúcsia e vermelhas e rosas que revestiam a
borda do pequeno prédio. Do outro lado, havia uma floreira de várias
camadas, cheio de ervas, e o restante do lugar era ocupado por grandes
hortaliças.
"Deveria saber que te encontraria aqui, eu disse, com um sorriso, ao me
aproximar de Celeste. Ela estava agachada no chão, com uma tesoura de
podar, aparando algumas folhas rebeldes. "Eu te procurei em todos os
lugares."
Ela olhou com um sorriso. "Desculpe. Quando estou aqui, estou sempre
no meu mundinho,” disse ela, baixando a tesoura e limpando as mãos na
calça jeans. "Está tudo bem?"
Bati no meu relógio. "Nós íamos correr, quando eu chegasse em casa,
lembra?"
Ela bateu na testa. “Oh, duh. Eu sabia que estava esquecendo alguma
coisa. Dê-me um minuto, vou me trocar. "
Ela pensou que estávamos apenas dando uma corrida casual, ao longo
de seu caminho favorito por Frick Park, mas era muito mais do que isso.
Daqui a algumas horas, partiríamos por um caminho totalmente novo.
Meia hora depois, começamos a trilha habitual de Celeste, embrulhados
em jaquetas grossas e gorros. A espessa neve do inverno se apossara de
nós, trazendo árvores cobertas de neve, ar frio e o ocasional turbilhão de
cores das folhas mortas, dançando nos ventos gelados.
A maioria das pessoas preferia ficar dentro de casa, em dias como esse,
mas Celeste adorava estar no parque com chuva, granizo ou brilho. Era o
jeito dela de escapar da areia da vida da cidade e quando fugia, conseguia
tirar qualquer preocupação da cabeça.
Ela teve muitas delas, nos últimos meses.
Depois que a história do Círculo foi divulgada, ela, junto com as
crianças que foram presas e torturadas lá, foi inundada com todos os tipos
de solicitações de entrevistas pela mídia. Não apenas isso, as pessoas,
simplesmente, paravam e olhavam para ela nas ruas, reconhecendo-a
como 'aquela garota' que o Círculo queria tanto matar e muitas delas,
rudemente, pediam para conversar com ela sobre isso, querendo ouvir
tudo sobre sua experiência, para satisfazer seus desejos por drama sórdido
e doentio.
Algumas pessoas até a acusaram de saber que a seita existia o tempo
todo, dado o envolvimento de seu pai com elas mas, felizmente, eram
poucas e distantes entre si. Se alguma vez ouvi alguém dizer isso a ela,
enquanto eu estava por perto, acabaram perdendo alguns dentes. Eles
também teriam sorte de não se encontrarem algemados e sangrando na
minha mesa, no antigo abrigo. Desisti dessa vida, é claro, mas idiotas
assim ainda faziam meu sangue ferver.
Celeste ficou estressada com tudo isso, mas aceitou o passo e fiquei
orgulhoso da maneira como lidou com isso. Ficou quieta, apesar do furor
da mídia e organizou a caridade com Samara, para ajudar as vítimas da
mansão e isso foi o mais longe. Ela não respondeu a nenhum pedido de
entrevista e a única coisa que já comentou publicamente, foi um livro
escrito por Emily, a empregada que nos ajudou a tirar todos da mansão,
naquela noite memorável.
Como se viu, nos quinze anos que Emily ficou na mansão, passou o
tempo lendo, quando não estava sendo torturada ou forçada a trabalhar e
isso a inspirara a escrever um livro sobre seu cativeiro, não para ganhar
dinheiro, mas porque achou catártico colocar tudo no papel.
No início, ficou preocupada que Celeste e os outros pensassem que
estava fazendo isso pela fama e explorando as terríveis experiências por
dinheiro, mas Celeste entendeu por que ela escreveu e a apoiou
totalmente. E a ajudou a encontrar um agente e uma editora e, quando o
livro chegou às listas de best-sellers há alguns meses, fez uma breve
declaração, em um site de notícias conceituado, dizendo a importância do
livro e como ela esperava que isso fizesse as pessoas se levantarem e
prestar mais atenção à situação das crianças em risco. Afinal, muitas das
crianças levadas pelo Círculo, incluindo Emily, eram rebeldes e não eram
das famílias "certas", do bairro "certo" ou do grupo socioeconômico
"certo". Mais da metade delas foram deixadas de lado como fugitivas,
quando desapareceram e seus sumiços nunca foram investigados a fundo.
"Você recebeu notícias de seus pais sobre o Natal?" Perguntou Celeste,
apoiando a mão no tronco de uma árvore, em busca de apoio, enquanto
fazia uma pausa rápida na corrida.
Assenti. "Eles virão nos visitar a semana que vem, mas apenas por
alguns dias."
Eu não tinha sido particularmente íntima com minha família, desde que
escolheram não acreditar em Lina, todos aqueles anos atrás, mas agora
que a verdade terrível, finalmente havia surgido, eles, praticamente se
ajoelharam, pedindo meu perdão, visto que fui o único que nunca parou
de acreditar nela. Eu disse a eles que não era comigo que precisavam se
desculpar e sim minha irmã, só que ela não estava mais por perto.
Eu não queria dizer nada além disso, mas Celeste me convenceu do
contrário. Ela me disse que a família era importante e, se eles, realmente,
sentissem arrependimento do que haviam feito, eu deveria tentar deixá-
los entrar na minha vida novamente, ou posso acabar me arrependendo
mais tarde. Eu já tinha sofrido tanta dor, ao longo dos anos e afastar as
pessoas que me queriam em suas vidas não ajudaria.
Ela estava certa. Meus pais e outra irmã estavam arrependidos e eu
sabia que se pudessem voltar no tempo, acreditariam em cada palavra que
Lina lhes disse. E então os deixei voltar para a minha vida. Conversamos
por telefone a cada duas semanas e até se encontraram com Celeste,
alguns meses atrás, quando fizemos uma curta viagem ao Maine para
visitá-los.
"Apenas alguns dias?" O rosto de Celeste caiu.
Levantei uma palma. "Não é porque não quero vê-los, só que não
estaremos por aqui, durante o Natal. "
Ela torceu o nariz. "Por quê? Pensei que ficaríamos aqui.”
Apontei a trilha. "Bata na porta das fadas e poderei lhe dizer porquê."
Com um sorriso, saí e ela seguiu na trilha atrás de mim. "Ei! Não é
justo!” ela gritou.
Quando chegamos à minúscula porta de fada, que alguém instalara no
oco de um grande carvalho morto e era um dos marcadores da trilha
favoritos de Celeste, ela se agachou no chão, por um momento, ofegando.
Então se levantou e jogou uma bola de neve no meu peito. "Isso é o que
ganha, por trapacear."
Tirei os flocos brancos da jaqueta. "Você pagará por isso mais tarde,
garota safada."
Ela arqueou uma sobrancelha. "Mesmo? Talvez seja isso que eu queria
o tempo todo."
Eu ri. "Oh, eu sei."
"Então, qual é o problema? Por que não vamos ficar na cidade durante
o Natal?"
Enfiei a mão no bolso e puxei um envelope. "Bem, você nem sempre é
uma garota má..." comecei lentamente, provocando-a. “É um presente
para celebrar o fato de se formar e receber o emprego dos seus sonhos."
Algumas semanas atrás, Celeste terminou seus estudos e seu antigo
chefe de estágio Leonard Foley lhe ofereceu uma posição de analista, no
escritório de campo local do FBI, a partir do próximo ano. Estou muito
orgulhoso da minha garota, por realizar seus sonhos.
Seus olhos se arregalaram e ela, cuidadosamente, abriu o envelope.
Gritou, quando pegou duas passagens de avião. "Oh Meu Deus,
Barbados?”
"Sim. Acho que podemos escapar do frio por algumas semanas. Samara
já se ofereceu para cuidar da casa e cuidar das plantas, quando formos.”
"Obrigada, mal posso esperar.” ela disse, passando os braços à minha
volta. "Tenho muita sorte de ter você," acrescentou, em um murmúrio
suave.
"Sou sortudo por ter você. É por isso que os bilhetes não são a única
surpresa.” Afastei-me e pisquei.
"Tem mais?"
"Sim, tem." Tirei uma caixinha de veludo preto do outro bolso.
A mão de Celeste voou para a boca, quando me ajoelhei e abri a caixa,
para revelar um anel de noivado de ouro branco e diamante com corte
redondo.
Eu podia esperar até estarmos em nossa ensolarada ilha paradisíaca,
mas esse parque é o lugar favorito de Celeste, então, para mim não havia
lugar melhor para pedir que fosse minha para sempre.
Sabia que, realmente, não precisava perguntar. Ela deixou claro há
muito tempo, que era minha, mas ainda assim, eu queria que esse
momento fosse especial.
"Celeste, nós dois sabemos que você é minha, mas desejo oficializar.
Quero que todos vejam que você também é minha para sempre. Então,
quer se casar comigo?”
Não era a proposta mais romântica do mundo, nunca fui um daqueles
caras idiotas e de olhos estrelados, que sabiam o que dizer para fazer as
mulheres desmaiarem e suspirarem. Mas as lágrimas de alegria de Celeste
diziam o contrário e ela assentiu com veemência, os olhos mais
arregalados do que nunca.
"Nem precisava perguntar," disse-me, com a voz embargada pela
emoção. "Você já sabia o que eu diria."
Enquanto falava, ela tirou a luva esquerda e me deixou colocar o anel
em seu dedo. Sorriu, quando beijei sua mão e coloquei a luva de volta,
para que não congelasse. O anel não podia ser visto sob o grosso tecido de
malha preta, mas a felicidade de Celeste era mais do que visível. A alegria
estava, praticamente, irradiando e seus lindos olhos verdes brilhavam com
mais lágrimas de felicidade, enquanto me olhava com adoração.
Inclinei-me e a envolvi em meus braços. "Você está certa, eu sabia. Você
pertence a mim,” rosnei ao lado de sua orelha.
"Sempre fui," ela sussurrou, sua voz ainda engasgada com paixão.
"Sempre será. Você me salvou, Alex e te amo muito.”
Ela pode nunca perceber completamente, mas me salvou também.
Salvou-me de me tornar um monstro total.
Antes de ela me amar e encher minha vida com seu calor e força quieta,
eu não era nada além de um assassino furioso, com uma alma quebrada,
separado da humanidade, em minha busca sombria por vingança contra
os homens que machucaram minha irmã. Não me arrependi de matá-los
nem um pouco, mas no final, essa existência seria amargamente fria e
solitária.
Celeste passou por isso, entendeu minhas necessidades, ajudou-me e
me perdoou por tudo, até o imperdoável. Ela compartilhou minha dor e
meu fardo, como se fossem dela. Viu a luz e a humanidade ainda deixadas
em mim e me trouxe todo o carinho e paixão ardente que eu precisava,
para derreter meu coração gelado e preto.
Ela me trouxe à vida.
Sem ela, eu ainda estaria sozinho e cheio de nada, além de fúria fria e
escura. Eu não deixaria o derramamento de sangue terminar, com a morte
do Círculo, encontraria outro alvo. Ou alvos, mais provavelmente.
Qualquer coisa para abafar o inferno, que se alastrou dentro de mim,
desde que era jovem, ficando mais selvagem e mais forte à cada morte.
Mas com Celeste, essa necessidade foi, finalmente, esmagada. Eu tinha
outras coisas para viver, por enquanto e só mataria novamente, se fosse
uma necessidade absoluta.
Tudo por causa dela.
Sorri, olhando para aqueles olhos brilhantes perfeitos. "Também te
amo, anjo," murmurei. "E não é apenas minha, você sabe. Sou seu."
Epilogue
Celeste

4 anos depois

"Por favor, senhor," choraminguei, lutando desesperadamente contra as


restrições. Meus pulsos estavam amarrados atrás de mim e estava curvada
na beira da cama. "Não é justo, não mereço isso."
A voz dominante de Alex estalou pela sala como um chicote. Seu
chicote bateu em minha bunda macia, ao mesmo tempo, agitando meu
desejo em um frenesi.
"Pare de mentir. Sabe que sempre posso dizer, você precisa de punição
e sabe o porquê, sabe o que fez."
"Sinto muito," gemi. Enquanto eu falava, Alex clicou em algo e a tanga
vibratória que ele me fez ligar, desligou, deixando-me desesperada e
implorando. Ele faz isso há meia hora agora, o suficiente para me levar até
o limite, mas nunca o suficiente para me empurrar. Tormento doce e
quente. "Oh, por favor, não é justo..." implorei.
"Se você, realmente, sentisse muito, não teria negado." Houve outra
chicotada na minha pele delicada. "Você merece isso e precisa admitir ou
não vou parar".
Eu gritei. Meu corpo inteiro estava em chamas, tremendo com a
intensidade do meu desejo. Ansiava por libertação, mas se continuasse
desafiando Alex, ele me roubaria isso. "Você está certo, preciso disso.”
chorei.
"Sim, você faz." A vibração ligou novamente.
Contorci-me e gemi, tão desesperada para gozar. Já estava desesperada
para vir mais cedo também e por isso, quebrei a regra de hoje, não me
tocar ou me culpar, quando Alex não estava por perto.
Ele suspeitou de algo, no segundo em que entrou pela porta. Minhas
bochechas coradas revelaram e quando ele me inclinou sobre o balcão da
cozinha e puxou minha calcinha encharcada, soube com certeza. Este foi o
meu castigo.
"Nunca farei isso de novo," eu disse sem fôlego. "Não quebrarei mais
regras."
Alex riu sombriamente. "Por que não acredito em você?"
Ele estava certo, eu desafiava suas regras o tempo todo, só para que ele
fosse forçado a me punir. Tudo fazia parte do nosso jogo, fazia parte da
nossa dança da paixão. Amei a mistura de dor e prazer e ele adorou me
dar.
Nem sempre foi assim, é claro. Fizemos amor tantas vezes, quanto
transamos como animais. Acontece que hoje, nós dois estávamos com
disposição para o lado sombrio do sexo. Amanhã, podemos querer nos
tocar com ternura e olhar nos olhos um do outro, enquanto fazemos amor
doce, lento e gentil junto à lareira.
Mas não hoje. Oh não... hoje eu queria isso duro, profundo e sujo como
o inferno.
"O que devo fazer com você, Celeste?" Alex disse, sua voz profunda
enviando um arrepio na minha espinha.
"Por favor, foda-me," eu disse trêmula, sabendo quanto o excitava,
quando implorava. “Por favor senhor, por favor! Preciso disso."
Ele arrancou a tira de cima de mim e seus dedos sondaram entre
minhas pernas, ficando molhadas. Finalmente, misericordiosamente,
empurrou seu pau grosso dentro de mim e fechei meus olhos, gemendo,
sentindo-me aberta como uma flor, ainda tão necessária para ele, depois
de todos esses anos.
Ele me fodeu duro, rápido, como eu queria. Um clímax estava
crescendo rapidamente, mas nunca quis que ele terminasse. Isso sempre
acontecia. Alex me deixava tão excitada, que eu implorava para vir, mas
assim que estava prestes a ir, eu não queria mais. Queria extrair prazer o
maior tempo possível, sentindo cada centímetro de seu pau perfeito por
horas.
Vim, de qualquer maneira, o corpo tremendo e minhas respirações
saindo em gemidos ásperos. Meus dedos do pé se curvaram e minha
boceta apertada fez Alex rosnar. Agarrei-o com mais força, apertando
meus músculos ao redor dele e ele soltou um gemido de puro prazer,
ainda bombeando dentro e fora de mim, como um homem possuído.
Finalmente gozei novamente, ofegando e gemendo, quando ele bateu
em mim e então ele tombou na borda também, batendo na minha bunda
com força, enquanto revestia meu interior com sua semente pegajosa.
Quando ele saiu, desamarrou meus pulsos e passou a mão suave pelas
minhas bochechas ardentes. "Não machuquei você, machuquei?"
Perguntou.
Sorri. "Apenas do jeito que gosto."
Eu sabia que Alex nunca iria longe demais, nunca me machucou muito,
apenas o quanto implorei. Ele não é um homem cruel e nunca foi. Quando
o conheci, ele estava em um lugar escuro por muitos anos, mas juntos,
passamos pelos maus momentos e agora estávamos felizes.
Ele não havia matado ninguém, desde aquela noite fatídica na mansão
Circulo, há cinco anos. Essa era outra vida para ele, outra história e as
únicas pessoas que ele cortava, hoje em dia, são pacientes na mesa de
operações.
Eu estava prestes a perguntar o que ele queria para o jantar, quando o
monitor, na mesa de cabeceira esquerda, começou a emitir sons
murmurantes, antes de encher a sala com um grito estridente.
"Ela finalmente está acordada," eu disse. "Estou surpresa que ela tenha
dormido tanto tempo."
Alex sorriu. "Ela deve saber que mamãe e papai precisavam de um
pouco de tempo privado." Ele se levantou. "Vou pegá-la, vista-se."
Ele piscou e saiu da sala, retornando cinco minutos depois com a nossa
linda garotinha, Harper Evangeline Magnusson. Tinha os olhos do pai,
um tom azul profundo cheio de curiosidade e inteligência. Assim que
tiver idade suficiente para andar e conversar, provavelmente, estaremos
com muitos problemas. O pensamento me fez rir.
Harper enrolou o punho em torno do dedo indicador de Alex, engoliu
em seco e voltou a dormir. Ele olhou para ela com carinho, balançando-a
suavemente. Eu não conseguia parar de encará-los.
Quando conheci Alex, nunca me imaginei se casando com ele e tendo
seu bebê. Mas agora, todos esses anos depois, eu não conseguia imaginar
minha vida de outra maneira.
Nunca o vi tão animado, do que quando lhe disse que estava grávida,
no ano passado. Inicialmente, planejávamos não ter filhos por mais alguns
anos, para que eu pudesse me concentrar na minha carreira, mas Harper,
de alguma forma escapou, de qualquer maneira. Agora, nenhum de nós
podia se imaginar voltando à vida sem um filho.
Não foi fácil equilibrar tudo no começo, mas ajustamos. Consegui uma
folga do trabalho, no escritório de campo e quando Harper tiver idade
suficiente para o jardim de infância, retornarei. Alex também fazia parte a
justa dos pais, tendo apenas algumas consultas e cirurgias por mês, o que
lhe dava tempo suficiente para se concentrar em nossa pequena família.
Assim como nossa linda filha e nossa maravilhosa casa em Point
Breeze, também tínhamos dois lindos gatos ruivos, que adotamos no meu
abrigo de animais favorito, o mesmo abrigo que Alex fez uma grande
doação, quando estava tentando me fazer ficar, muito antes de eu saber
toda a verdade sobre ele.
Eu sabia que nossa filha cresceria para tratar os gatos com gentileza e
respeito, como faria com qualquer outro animal ou humano. Às vezes,
Alex temia que ela pudesse herdar dele um traço sombrio, algo que a
fizesse querer machucar os outros, mas eu sabia que ela não iria. Suas
tendências sombrias não estavam com ele desde o nascimento. Ele foi
transformado no que era, todos aqueles anos atrás, moldado pela natureza
horrível de certos elementos da nossa sociedade. O mesmo que eu.
Harper nunca passaria por nada do que fizemos, teríamos certeza disso.
E se alguém tentasse machucá-la... bem, Deus os ajude.
As sobrancelhas de Alex se uniram, quando me olhou. "Você está
bem?" Ele perguntou, interpretando mal a expressão intensa no meu rosto.
"Seus ombros não estão doendo novamente, estão?"
Ri baixinho. "Não. Estou apenas olhando para minhas duas pessoas
favoritas e me perguntando como tive tanta sorte. Meus braços e costas
não doem há anos."
"Eu sei, mas ainda me preocupo, às vezes," disse ele, concentrando seu
olhar amoroso em mim agora. Harper estava roncando nos seus braços, a
cabecinha apoiada no seu ombro. "Eu te amo anjo."
Sorri. "Amo você também."
Alex não precisava se preocupar. Minha síndrome do nervo
desapareceu há muito tempo. O primeiro médico que vi estava certo sobre
minha condição, o estresse era a causa subjacente. Mas eu não precisava
de terapia para chegar ao fundo dos meus problemas, como ele sugeriu. O
que eu precisava era exorcizar meus demônios, que nem sabia que
existiam, até Alex abrir meus olhos.
Agora que o Círculo havia desaparecido há muito tempo e nunca mais
poderia machucar ninguém, não sentia pontadas nos braços ou na parte
superior das costas há anos. Nem conseguia mais lembrar como era a
condição, mesmo que tenha sido tão terrível, que tomou conta de toda a
minha existência, imbuindo cada momento de vigília com agonia.
Naquela época, eu pensava que toda dor era ruim, não sabia o que
queria, não sabia o que ansiava, mesmo que isso me encarasse por tanto
tempo e, certamente, não sabia que poderia amar.
Agora eu sabia a verdade, Alex me mostrou. Alguma dor era ruim,
como a dor nos nervos, que sofri por tanto tempo. Algumas eram boas, do
tipo que eu ansiava, as gratificantes sensações elétricas, que me enviavam
em espiral ao prazer e implorando por mais, mais, mais...
Antes de conhecer Alex, tudo que eu sabia era o tipo de dor ruim, que
me deixou esgotada, miserável e fraca.
Mas agora?
É tudo de bom.

Fim

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