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É proibida a reprodução deste livro sem prévia autorização da editora, salvo em breve
citação.
Edição
Yuri Freire
Tradução
Maryssa de Oliveira Caetano
Revisão
Shirley Lima – Papiro Soluções Textuais
Capa
Luis Henrique de Paula
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477
CDD: 261.56
Em terceiro lugar, este livro não é anticelular; ele foi escrito para
pessoas que, como eu, se beneficiam do uso do celular e o usam
diariamente. Provavelmente vocês vão ouvir a respeito deste livro
nas redes sociais em seu celular, e alguns de vocês vão ler o
presente conteúdo em seus telefones, publicar citações no
Facebook — e isso não é oximoro, irônico ou paradoxal; é o
cumprimento da razão pela qual escrevi e de como pretendo passar
a mensagem.
Em quarto lugar, este livro também não é pró-celular. Eu quero
que este livro seja equilibrado, embora o equilíbrio não seja minha
principal preocupação. Pouco importa se alcançarei ou não o
equilíbrio completo entre pró-celular e anticelular (até mesmo na
divisão das seções), porque sei que, no final das contas, os leitores
estarão divididos. Ressalto esse ponto previamente com a intenção
de falar de forma mais direta aos meus leitores que pretendem rever
os padrões de suas vidas (e também para evitar que este livro fique
inchado com um milhão de condições, ressalvas e qualificações).
Prossigo sob a suposição de que todos nós precisamos parar e
refletir a respeito de nossos hábitos impulsivos no celular, pois, em
uma época em que nossos olhos e corações são capturados pelo
mais recente e brilhante dispositivo, precisamos de mais autocrítica,
e não de menos.
Em quinto lugar, já que você está lendo um livro intitulado 12
maneiras como seu celular está transformando você, presumo que
provavelmente seja o tipo de leitor que acolhe, corajosamente,
essas autocríticas. Por isso, eu o parabenizo. O antigo filósofo
Sêneca estava completamente certo quando disse: “Algumas vezes,
seja duro consigo mesmo”.14 Algumas vezes. Nem sempre. Em
certos momentos importantes da vida, observe-se no espelho do
banheiro, aperte bem os olhos e projete pessimismo na pessoa que
você vê. Todos nós precisamos de crítica saudável. Mas, se tudo o
que você faz é ser duro consigo mesmo, deixe-me dar um alerta.
Este livro terá falhado se, ao lê-lo, você apenas passar a se odiar
ainda mais, e terá sido bem-sucedido caso o tenha conduzido a
desfrutar mais de Cristo. Então, se você se pega facilmente
sobrecarregado com culpa e insegurança, eu oro para que este livro
ensine e prepare você a desfrutar liberdade na vida, de modo que
você prove mais profundamente a infinita alegria que temos em
Cristo, deixando as indulgências medíocres para trás ao avistar os
prazeres mais profundos e mais satisfatórios no porvir.
Em sexto lugar, eu citarei teólogos, filósofos, professores,
pastores, papas, não cristãos notáveis e ateístas conhecidos — e a
inclusão deles neste livro não é um completo endosso às suas
respectivas teologias ou um endosso por atacado às menções
adiante de links, aplicativos, livros ou filmes de mafiosos.
Por último, como sugere o título, este livro se concentra mais no
diagnóstico e na cosmovisão do que na aplicação. Não vamos
ignorar aplicações importantes, mas elas serão implícitas
genericamente em todo o texto e abordadas especificamente no
final.
UM CHAMADO À HUMILDADE
A insegurança é marca registrada das criaturas sábias.15 E
conversas autocríticas sobre nossos comportamentos individuais
requerem uma grande dose de humildade. Com frequência,
conversas acerca de nossos celulares não levantam novos
questionamentos; ao contrário, reconduzem-nos às eternas
perguntas que todas as gerações são forçadas a fazer.
Veja, por exemplo, o Snapchat, o fenômeno mais recente sobre a
“forma de expressão instantânea”. Em uma de minhas entrevistas,
um teólogo sugeriu que é difícil que seu “sim” seja sim quando suas
palavras desaparecem em poucos segundos.16 Mas os defensivos
especialistas de TI vão imediatamente combater esse argumento
com um fato simples: enquanto palavras efêmeras compartilhadas
no Snapchat desaparecem em segundos, nossas palavras
vocalizadas desaparecem no ar em centésimos de segundo. A
tecnologia não torna nossas palavras mais temporárias — se é que
faz algo, a tecnologia as torna mais duráveis. Se tivermos de
contabilizar toda palavra vã, somos provavelmente a primeira
geração que pode verdadeiramente vislumbrar o volume de palavras
vãs, já que as publicamos mais do que qualquer grupo da história
humana.
Portanto, embora possamos examinar nossa autenticidade
quando falamos por meio de mensagens que se autodestroem
(como o Snapchat), nossos telefones não tornam nossas palavras
mais transitórias ou vazias; eles simplesmente levantam questões
que são feitas em todas as gerações. E somente quando
reconhecemos essas questões, podemos voltar a examinar o
Snapchat.
É assim que as conversas nos meios digitais geralmente ocorrem.
Dessa forma, começo o livro pedindo uma trégua. Podemos
concordar que algumas das questões mais importantes acerca do
celular também se aplicam às conversas travadas em meios não
virtuais? Só porque uma luta que enfrentamos em nossa vida virtual
também se relaciona com contextos não virtuais, isso não significa
que a conversa em meio digital tenha de ser evitada —
simplesmente significa que a Escritura se prova atual e relevante na
era digital.
QUEM SOU EU?
Como você pode ver, essa jornada para desembaraçar o
relacionamento com meu telefone é muito pessoal (ou seja,
autocrítica a mim), razão pela qual você precisa saber quem eu sou
desde o início.
Eu sou um “pioneiro na adoção”17 — uma maneira sutil de dizer
“um viciado convicto em iPhone e tecnologia”. Também sou um
cristão que entende a Bíblia como autoridade irrevogável e definitiva
sobre a minha vida há quase duas décadas. Tenho educação em
negócios, jornalismo e artes liberais, e atualmente trabalho como
repórter investigativo da complexa dinâmica da vida cristã em
confronto com as atuais pressões da conformidade cultural.
Pesquiso e escrevo em conjunto com muitas outras vozes da igreja,
tanto de pessoas vivas como mortas.
Sou casado há quase duas décadas. Minha esposa e eu temos
três filhos, e estamos tentando criá-los para que sejam competentes
no uso de tecnologia e, ao mesmo tempo, autocontrolados.18 Em
nossa casa, atualmente temos um desktop, três notebooks, três
tablets, três celulares e um iPod.
No momento em que este livro foi publicado, compilei 32,6 anos
de experiência em quatro plataformas: blog, Twiter, Facebook e
Instagram.19 Eu trabalhei online para ministérios sem fins lucrativos
por uma década e nunca sem possuir um iPhone. E esses trabalhos
não me isolaram das questões prementes da era digital — na
verdade, amplificaram-nas. Ao mesmo tempo, meu trabalho me
colocou em contato com vários dos mais ponderados filósofos,
teólogos, pastores e artistas cristãos que estão cuidadosamente
pensando sobre como ajudar a igreja a responder com sabedoria à
era digital, e eu vou compartilhar alguns dos melhores insights de
minhas conversas com eles.
Simultaneamente, escrevi este livro em um diálogo com uma
variedade de cristãos: estudantes, solteiros, casais casados, pais,
construtores, profissionais de negócios e líderes de ministérios.
Cada um de nós enfrenta questões similares sobre como viver de
forma saudável e equilibrada na era digital.
DESEJOS FUTUROS
O teórico de mídia Marshall McLuhan (1911-1980) lembrou à sua
geração que tecnologia é sempre uma extensão do próprio
indivíduo. Uma faca é simplesmente uma extensão da minha mão.
Meu carro é uma extensão dos meus braços e pés, basicamente
nada mais do que o carro do Fred Flintstone.
Da mesma forma, meu smartphone amplia as minhas funções
cognitivas.20 Os neurônios ativos do meu cérebro são um
emaranhado crepitante de impulsos elétricos dentro do crânio, e
meus pensamentos vívidos são como uma tempestade no
Kansas.21 Essa pequena tempestade elétrica no espaço
microscópico do meu sistema nervoso estende-se naturalmente aos
meus polegares para criar minúsculas fagulhas digitais de
eletricidade dentro do meu telefone, que são emitidas por ondas de
rádio para o mundo inteiro.
Isso tudo significa que meu telefone ocupa um lugar no tempo e
no espaço — fora do meu corpo —, espaço no qual posso projetar
meus relacionamentos, meus anseios e o escopo completo da
consciência de minha existência. Na verdade, segure a palavra
“desejo” em frente a um espelho, e você poderá ler “ojesed”, que é o
nome do espelho mágico nos livros do Harry Potter.22 No antigo
Espelho de Ojesed, você verá os mais profundos desejos de seu
coração revelados em imagens vívidas. As telas brilhantes de
nossos celulares fazem o mesmo.
Por demasiadas vezes, meu telefone não expõe os santos
desejos do que eu sei que deveria querer, nem o que eu acho que
quero, muito menos o que eu quero que você pense que eu quero.
A tela do meu telefone divulga em pixels precisos como uma
navalha o que meu coração realmente quer.23 A tela brilhante do
meu telefone projeta aos meus próprios olhos os desejos e as
afeições que habitam nos recantos mais abstratos do meu coração
e da minha alma, os quais encontram expressão visível em pixels de
imagens, vídeo e texto, para que eu veja, consuma, digite e
compartilhe. Isso significa que tudo que acontece no meu celular,
especialmente sob o disfarce de anonimato, é o que
verdadeiramente habita em meu coração, refletido aos meus olhos
em pixels coloridos.
Honestamente, isso pode explicar até mesmo as senhas. Acessar
um telefone é dar uma espiada no interior da alma de outra pessoa.
Temos muita vergonha de que outras pessoas vejam o que
clicamos, olhamos e procuramos online.
O que poderia ser mais inquietante?
Se formos honestos o suficiente para enfrentar nossos hábitos no
smartphone, e se usarmos as páginas a seguir como um convite à
comunhão com Deus, podemos esperar encontrar graça para
nossos fracassos virtuais e para nosso futuro digital. Deus nos ama
profundamente, e ele está ansioso para nos dar tudo aquilo de que
precisamos na era digital. O sangue derramado por seu Filho é
prova disso.24 Precisamos de sua graça quando avaliamos o lugar
que os celulares devem ocupar — os prós e os contras — na
trajetória de nossas vidas eternas. Se formos complacentes, não só
sofreremos agora, como também as gerações futuras pagarão o
preço.
1. Gênesis 2.10-14.
2. Apocalipse 21.18-21.
3. Essa inevitabilidade explica o que os historiadores chamam de fenômeno
das “descobertas múltiplas” ou “invenções simultâneas”. Veja Clive
Thompson, Smarter Than You Think: How Technology Is Changing Our Minds
for the Better (New York: Penguin, 2013), pp. 58-66.
4. Gênesis 3.1–24.
5. Gênesis 49.5; Juízes 1.19; 4.3.
6. 1Crônicas 15.16; 23.5.
7. 1Pedro 3.3-4; 1Timóteo 2.9; Apocalipse 17.4-5.
8. Gênesis 11.1-9.
9. Gênesis 11.5.
10. Atos 2.1-13.
11. Martin Hengle, Crucifixion (Mineapolis: Fortress Press, 1977).
12. Atos 3.15; 2.23.
13. Colossenses 2.15.
14. Martin M. Olmos, “God, the Hacker: Technology, Mockery, and the Cross”,
Second Nature, www.secondnaturejournal.com (29 jul. 2013).
15. Isaías 1.22-25; Jeremias 6.27-30; Salmos 119.119. Veja também Paula
McNutt, The Forging of Israel: Iron Technology, Symbolism and Tradition in
Ancient Society (Sheffield, England: Bloomsbury T&T Clark: 2009). Podemos
dizer que Deus cunhou novas metáforas sobre tecnologia para si mesmo até
o fechamento do cânon.
16. João 14.1-7; Atos 7.49-50; Hebreus 9.11-28.
17. Monica Anderson, “Technology Device Ownership: 2015”, Pew Research
Center, www.pew internet.org (29 out. 2015).
18. Jacques Ellul, The Technological Bluff (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1990), pp. 384-400.
19. Andrew Perrin, “One-Fifth of Americans Report Going online ‘Almost
Constantly’”, Pew Research Center, www.pewinternet.org (8 dez. 2015).
1 ESTAMOS VICIADOS EM DISTRAÇÃO
1. Jacob Weisberg, “We Are Hopelessly Hooked”, The New York Review of
Books (25 fev. 2016).
2. Essa foi uma pesquisa não científica feita online com os leitores de
desiringGod.org, através de canais de mídia social (abril de 2015). Voltaremos
a essas descobertas mais adiante neste livro.
3. James Stewart, “Facebook Has 50 Minutes of Your Time Each Day. It
Wants More”, The New York Times (5 maio 2016).
4. Rebecca Strong, “Brain Scans Show How Facebook and Cocaine
Addictions Are the Same”. BostInno, www.bostinno.streetwise.co (3 fev. 2015).
5. Leslie Reed, “Digital Distraction in Class Is on the Rise”, Nebraska Today,
www.news.unl.edu (15 jan. 2016).
6. Oliver O’Donovan, Ethics as Theology, v. 2, Finding and Seeking (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 2014), p. 4.
7. Romanos 12.16.
8. Blaise Pascal, Thoughts, Letters, and Minor Works. Ed. Charles W. Eliot.
Tradução de W. F. Trotter, M. L. Booth e O. W. Wight (New York: P. F. Collier &
Son, 1910), p. 63.
9. Ibid., p. 52.
10. Ibid., p. 53.
11. Ibid., p. 55.
12. Peter Kreeft, Christianity for Modern Pagans: Pascal’s Pensées Edited,
Outlined, and Explained (São Francisco: Ignatius, 1993), p. 168-69.
13. Andrew Sullivan, “I Used to Be a Human Being”, revista New York (18 set.
2016).
14. Derek Rishmawy, “Forget Me Not (Twitter and the Fear of Death)”,
Reformedish, www.derekzrishmawy.com (6 abr. 2016).
15. René Descartes, The Philosophical Works of Descarte. Tradução de E.S.
Haldane e G.R.T. Ross (New York: Cambridge University Press, 1970), p. 101.
16. Kevin Vanhoozer, entrevista com o autor por email (26 fev. 2016).
17. Donna Freitas, The Happiness Effect: How Social Media Is Driving a
Generation to Appear Perfect at Any Cost (New York: Oxford University Press,
2017), p. 33.
18. Salmos 39.4-5.
19. Salmos 90.12.
20. Douglas Groothuis, entrevista com o autor por telefone (3 jul. 2014).
21. Bruce Hindmarsh, entrevista com o autor por telefone (12 mar. 2015).
22. Horst Robert Balz e Gerhard Schneider, Exegetical Dictionary of the New
Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990), v. 2, p. 409.
23. Mateus 13.22; Marcos 4.19; Lucas 8.14.
24. Lucas 10.38-42
25. Lucas 21.34-36.
26. 1Coríntios 7.32-35.
27. 1Coríntios 7.1-5.
28. Mateus 19.4-6; 1Timóteo 4.1-5.
29. Efésios 5.22-33.
30. Apocalipse 19.6-10.
31. Marcos 12.25; 1Coríntios 7.29. Nas perguntas complexas sobre
casamento, divórcio e celibato em 1Coríntios 7, as respostas precisam ser
“elaboradas no contexto das prioridades do evangelho e da visão
transformada provocada pelo alvorecer da era escatológica e pela
antecipação do fim”. D. A. Carson, sermão, “The Gospel of Jesus Christ; 1Co
15.1-19”, The Gospel Coalition. Disponível em thegospelcoalition.org (23 maio
2007).
32. Mateus 24.36-25.13; 1Tessalonicenses 5.1-11.
33. 1Coríntios 7.29.
34. Mateus 24.42; 1Coríntios 16.13; Colossenses 4.2.
35. Romanos 13.11-14.
36. Veja John Owen, Meditations and Discourses on the Glory of Christ, em
The Works of John Owen, ed. William H. Goold (Edinburgh: Banner of Truth
Trust, 1965), v. 1, pp. 277-279, 402-403. Nesta vida, em que frequentemente
lutamos contra o amor-próprio, o mundanismo, os cuidados e os medos sem-
fim, e também lutamos contra “uma avaliação excessiva das relações” —
pense aqui nas mídias sociais —, em contraste, nossas almas devem ser
alimentadas com “meditações tranquilas em Cristo e sua glória” (v. 1, p. 403).
37. Tracy Fruehauf, “Airing My Dirty Laundry”, One Frue Over the Cuckoo’s
Nest. Disponível em onefrueoverthecuckoosnest.com (18 ago. 2015).
38. Mateus 12.43-45; Lucas 11.24-26.
39. Trip Lee, entrevista com o autor via Skype, explicando sua faixa “iLove”
(25 mar. 2015). A mesma metáfora aparece em Freitas, The Happiness Effect,
p. 224.
40. Tim Keller (@timkellernyc), Twitter, twitter.com (21 dez. 2013).
2 IGNORAMOS NOSSA CARNE E NOSSO SANGUE
1. Alguns críticos dizem que foi uma jogada publicitária para chamar a
atenção. Neste projeto, eu confio nas intenções declaradas por ela.
2. Megan McCluskey, “Instagram Star Essena O’Neill Breaks Her Silence on
Quitting Social Media”, revista Time (5 jan. 2016).
3. Essena O’Neill, “Dear 12 Year Old Self (re-upload)”, YouTube. Disponível
em youtube.com (8 nov. 2015).
4. Ibid.
5. Essena O’Neill, “Social Media Addiction and Celebrity Culture”. Disponível
em letsbegamechangers.com (30 out. 2015). Essa e as citações seguintes de
Essena O’Neill apareceram em materiais de seu site,
letsbegamechangers.com, enquanto eu escrevia este livro. Antes da
publicação, o site foi tirado do ar. Os leitores interessados podem encontrar as
citações pesquisando letsbegamechangers.com através do web.archive.org.
6. Essena O’Neill, “Liked”, Disponível em letsbegamechangers.com (sem
data).
7. “Os alunos que entrevistei que sofrem de insegurança, que se mostram
ansiosos quanto à sua posição social e que se preocupam com a maneira
como são vistos pelos outros são os únicos que estão se afogando em mídia
social.” Donna Freitas, The Happiness Effect: How Social Media Is Driving a
Generation to Appear Perfect at Any Cost (New York: Oxford University Press,
2017), p. 20.
8. Jasmine, “The Financial Confessions: ‘My “Perfect” Life on Social Media Is
Putting Me in Debt’”, The Financial Diet. Disponível em thefinancialdiet.com
(12 abr. 2015). Este é o problema: aumentar a fama online pode não aliviar o
problema, mas simplesmente tornar as finanças ainda mais difíceis. Nas
palavras de um escritor: “Muitas famosas estrelas de mídia social estão em
evidência demais para ter empregos ‘reais’, mas também estão falidas demais
para não ter”. Gaby Dunn, “Get Rich or Die Vlogging: The Sad Economics of
Internet Fame”, Fusion. Disponível em fusion.net (14 dez. 2015).
9. Daniel J. Boorstin, The Image: A Guide to Pseudo-Events in America
(1961; repr., New York: Vintage, 1992), pp. 45-76.
10. Ibid.
11. Olivia Laing, The Lonely City: Adventures in the Art of Being Alone (New
York: Picador, 2016) [edição em português: A cidade solitária: Aventuras na
arte de estar sozinho (Rio de Janeiro: Anfiteatro / Rocco, 2017)], p. 245.
12. Veja Tony Reinke, “Selfies and Polaroids of Intimacy: Andy Warhol and My
Smartphone”, Desiring God. Disponível em desiringGod.org (7 abr. 2016).
13. Laing, The Lonely City, pp. 243-244.
14. Alastair Roberts, entrevista com o autor por email (23 jan. 2016).
15. Alastair Roberts (@zugzwanged), Twitter. Disponível em twitter.com (18
jan. 2016).
16. Roberts, entrevista com o autor por email (23 jan. 2016).
17. Alastair Roberts, “Twitter Is Like Elizabeth Bennet’s Meryton”, Mere
Orthodoxy. Disponível em mereorthodoxy.com (18 ago. 2015).
18. Roberts, entrevista com o autor por email (23 jan. 2016).
19. O treinador da NFL Sean Payton, quando indagado acerca de seus
maiores desafios no treinamento, apontou para as mídias sociais e o futebol
fantasia: as primeiras isolam performances individuais dos jogadores; o
segundo gera publicidade infindável para os jogadores de alto e baixo
desempenho. Em reuniões de equipe, os jogadores ficam se coçando para
olhar seus telefones. Consulte “Sean Payton: That’s the Biggest Challenge as
a Coach in Today’s Game...”, Coaching Search. Disponível em
coachingsearch.com (21 fev. 2016).
20. Veja Suzanne Franks, “Life Before and After Facebook”, The Guardian (3
jan. 2015).
21. Hebreus 10.24-25.
22. Oliver O’Donovan, entrevista com o autor por email (10 fev. 2016).
23. Hebreus 1.2; 9.26.
24. João 5.41-45.
25. John Piper, entrevista com o autor via Skype, publicada como “Gospel
Wisdom for Approval Junkies”, Desiring God. Disponível em desiringGod.org
(15 mar. 2016).
26. Romanos 2.29.
27. 2Coríntios 10.18.
28. 1Tessalonicenses 2.3-5.
29. Roberts, entrevista com o autor via email (23 jan. 2016).
30. John Piper, entrevista com o autor via Skype, publicada como “Incentives
to Kill My Love of Human Praise”, Desiring God. Disponível em
desiringGod.org (25 ago. 2014).
31. Alastair Roberts, email para o autor (22 fev. 2016). Usado com permissão.
32. Romanos 2.28-29.
33. Romanos 2.6-11.
4 PERDEMOS NOSSO LETRAMENTO
1. Neste capítulo, sustento o valor da leitura na vida cristã, mas o faço muito
rapidamente. Indicações bibliográficas mais completas podem ser
encontradas no meu livro Lit: um guia cristão para leitura de livros (Niterói, RJ:
Concílio, 2019).
2. Pesquisa não científica online, realizada com os leitores de
desiringGod.org, através de canais de mídia social (abr. 2015).
3. David Brooks, “Building Attention Span”, The New York Times (10 jul.
2015), ênfase acrescentada.
4. Matthew Crawford, The World beyond Your Head: On Becoming an
Individual in an Age of Distraction (New York: Farrar, Straus and Giroux,
2015), pp. 16-17.
5. Maria Konnikova, “Being a Better Online Reader”, The New Yorker (16 jul.
2014), resumindo o trabalho de Rakefet Ackerman e Morris Goldsmith,
“Metacognitive Regulation of Text Learning: On Screen versus on Paper”,
Journal of Experimental Psychology: Applied (17 mar. 2011), pp. 18-32.
6. Clive Thompson, Smarter Than You Think: How Technology Is Changing
Our Minds for the Better. (New York: Penguin, 2013), p. 135.
7. Oliver O’Donovan, entrevista com o autor por email (10 fev. 2016).
8. Nicholas Carr, The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains
(New York: W. W. Norton, 2011) [edição em português: A geração superficial:
o que a internet está fazendo com os nossos cérebros (Rio de Janeiro: Editora
Agir, 2011)], p. 7.
9. Condição de quem é iletrado. Do inglês “illiteracy”. (N. do E.)
10. Condição de quem é letrado mas não tem o hábito de ler. Do inglês
“aliteracy”. (N. do E.)
11. Trip Lee, entrevista com o autor através do Skype (25 mar. 2015).
12. John Dyer, “Print Bibles Vs. Digital Bibles: Comparing Engagement,
Comprehension, and Behavior”, projeto inédito (mar. 2016). Seu estudo
também confirma as descobertas de Ackerman e Goldsmith.
13. Scott R. Swain, Trinity, Revelation, and Reading: A Theological
Introduction to the Bible and Its Interpretation (London; New York: T&T Clark,
2011), p. 95.
14. Brad Littlejohn, “The Seven Deadly Sins in a Digital Age: 4. Sloth”,
Reformation 21. Disponível em reformation21.org (nov. 2014).
15. Ibid.
16. John Piper, em uma conversa pessoal (18 mar. 2016). Usado com
permissão.
17. Exemplos incluem 2Pedro 3.15-16 e as declarações de Jesus “Vocês não
leram?” (Mt 12.3-7; 19.4-5; 22.31).
18. Daniel M. Doriani, “Take, Read”, em The Enduring Authority of the
Christian Scriptures, ed. D. A. Carson (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2016),
pp. 1.123-1.124.
19. Oliver O’Donovan, Ethics as Theology, v. 2, Finding and Seeking (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 2014), p. 133.
20. C. S. Lewis, Deus no banco dos réus (Rio de Janeiro: Thomas Nelson
Brasil, 2018), p. 250.
21. C. Christopher Smith, Reading for the Common Good: How Books Help
Our Churches and Neighborhoods Flourish (Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 2016), pp. 27-28
22. O Salmo 119 é um capítulo longo e prolífico sobre obediência, sendo
carregado com a linguagem de plenitude de coração, deleite, alegria, temor,
louvor e cântico. A chave para a obediência não é simplesmente ler a lei de
Deus, mas ter um coração cheio de alegria no legislador e em suas palavras
para nós. Nossa defesa contra o pecado é um coração cheio de afeição
centrada em Deus.
5 ALIMENTAMO-NOS DO QUE É PRODUZIDO
1. Sherry Turkle, The Second Self: Computers and the Human Spirit
(Cambridge, MA: MIT Press, 2005).
2. Timothy Keller, sermão, “Built Together; Redeemer’s Organization Service”,
Gospel in Life. Disponível em gospelinlife.com (2 jun. 1991).
3. O nome da campanha em inglês é “Be like Mike”, e o vídeo está
amplamente disponível online na data de publicação deste livro. (N. da T.)
4. Richard Lints, entrevista com o autor, “Why We Never Find Our Identity
Inside of Ourselves”, Desiring God. Disponível em desiringGod.org (31 ago.
2015).
5. Romanos 1.18-27.
6. Salmos 115.4-8; 135.15-18.
7. Jacques Ellul, The Technological Bluff (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1990), p. 382.
8. Romanos 12.1-2; 2Coríntios 3.18; Colossenses 3.10.
9. 2Coríntios 4.4.
10. Romanos 5.8.
11. 2Coríntios 3.18; 1João 3.2–3; 1Coríntios 15.42-49.
12. Katie Couric: “Acho que gastamos muito tempo, nos dias de hoje,
procurando por validação externa — com nossos Instagrams cuidadosamente
construídos, postagens inteligentes, fotos perfeitas, contabilizando nossas
curtidas, os favoritos, seguidores e amigos —, tudo isso é fácil para que
evitemos as seguintes perguntas: quem sou eu? Estou fazendo a coisa certa?
Sou o tipo de pessoa que quero ser? ”, em “Katie Couric to Grads: Get
Yourself Noticed”, revista Time (18 maio 2015).
13. Gênesis 1.26-27; 5.1; 9.6; Tiago 3.9.
14. John Piper, entrevista com o autor via Skype, publicada como “What Does
It Mean to Be Made in God’s Image?”, Desiring God. Disponível em
desiringGod.org (19 ago. 2013).
15. John Piper, sermão, “The Story of His Glory”, Desiring God. Disponível
em desiringGod.org (10 set. 2008), ênfase acrescentada.
16. Romanos 12.2.
17. Peter J. Leithart, “Techno-god”, First Things. Disponível em firstthings.com
(27 set. 2012). “Ao abraçar continuamente as tecnologias, nós nos
relacionamos com elas como mecanismos-servos. É por isso que devemos
servir a esses objetos, essas extensões de nós mesmos, como deuses ou
religiões menores, para que possamos usá-los”. Marshall McLuhan, Os meios
de comunicação como extensões do homem (São Paulo: Cultrix, s.d.).
18. Langdon Winner, Autonomous Technology: Technics-out-of-Control as a
Theme in Political Thought (Cambridge, MA: MIT Press: 1977), p. 229.
19. Douglas Groothuis, entrevista com o autor por telefone (3 jul. 2014).
20. Alan Jacobs, “My Year in Tech”, Snakes and Ladders. Disponível em
blog.ayjay.org (23 dez. 2015).
21. Andrew Sherwood, “The Sweet Freedom of Ditching My Smartphone”, All
Things for Good. Disponível em garrettkell.com (21 jan. 2016).
7 TORNAMO-NOS SOLITÁRIOS
O que devo fazer com os podres que sei a respeito de você? Essa
é uma pergunta que todos nós temos de encarar em algum
momento.
Embora existam muitos “uns com os outros” na Bíblia, o dito
“comparar uns com os outros” não é nenhum deles e, ainda assim,
essa é a direção à qual estamos inclinados no meio online.
Louvamos as celebridades. Desdenhamos de quem não é ninguém.
Com aqueles mais parecidos conosco, tornamo-nos invejosos e
duros. Vivemos entre fachadas de confiança online que se
assemelham a cenários frágeis de teatro. “A mídia social — como o
atual sistema de números e dinheiro determina — não é a vida real”,
escreve Essena O’Neill, a ex-modelo de Instagram que conhecemos
anteriormente. “Nada mais são do que imagens inventadas e clipes
editados competindo uns com os outros. É um sistema baseado em
aprovação social, em curtidas e não curtidas, na validação pelo
número de visualizações e no sucesso com base no número de
seguidores. É um julgamento perfeitamente orquestrado.”1
Ficamos online para nos comparar uns aos outros.
Repreendemos uns aos outros. Passamos a ter inveja uns dos
outros. E, quando sabemos os podres uns dos outros, caímos em
um julgamento perfeitamente orquestrado, uns contra os outros.
E sempre há um aplicativo para isso.
PEEPLE
O aplicativo Peeple, cujo nome é medonho, foi originalmente
projetado para oferecer aos usuários a chance de avaliar as
pessoas conhecidas com classificações de uma a cinco estrelas —
amigos, colegas de trabalho e ex-parceiros românticos. Não se trata
de comentários críticos de restaurantes ruins ou de produtos
defeituosos; estamos falando de avaliações públicas de indivíduos
privados. O que poderia dar errado? Bom, muita coisa. O
Washington Post chamou Peeple de algo “inerentemente invasivo”,
“objetificador”, “simplista”, e uma fonte de estresse e ansiedade “até
mesmo para uma pessoa pouco consciente de si”. Além disso, o
aplicativo Peeple produziu uma plataforma que incentiva invasão de
privacidade e até mesmo assédio. No mínimo, criou a sensação de
“estarmos sendo observados e julgados, em todos os momentos,
por um olhar objetificado que você não consentiu”.2
Assim, os desenvolvedores do Peeple voltaram às suas
pranchetas e repensaram suas políticas e procedimentos para
garantir que o site funcionasse mais para promover boas pessoas
do que para denegrir vilões. As avaliações em plataformas abertas
sempre tendem à destruição, como sabemos de maneira instintiva.
Além de aplicativos como Peeple, nossos telefones oferecem
muitas janelas para essa dura realidade. Vemos comentários
condescendentes em artigos. Vemos observações julgadoras e
sarcásticas no Facebook. Vemos tanques de guerra solavancando
no Twitter. Vemos acusações sobre líderes evangélicos em
publicações de blogs. Não importa onde as batalhas começam,
sempre evidenciam uma guerra infinita (e desprovida de amor).
Quer nos encontremos à margem ou na linha de frente desses
debates, enfrentamos uma questão vital: como lidar com os pecados
e as fraquezas das pessoas ao nosso redor?
Felizmente, nosso roteiro está escrito em Mateus 18.15-20, e é
bem claro: se um irmão ou irmã em Cristo pecar contra ti de maneira
séria, vai e repreende-o em privado. Se ele se arrepender, uma
restauração incrível se terá desdobrado aos olhos de Deus, e a
reconciliação acontece. Se ele não se arrepender, contudo, você
deverá levar consigo uma ou duas testemunhas para confrontar o
transgressor. Se, ainda assim, isso não funcionar, você deve
compartilhar o erro com os líderes da igreja e, em seguida, em
último caso, com toda a igreja local. Se o transgressor se recusa a
se arrepender, não deve mais ser tratado como um irmão em Cristo.
Há um processo para essa disciplina, fundamentado no amor
fraternal, e não em táticas de guerrilha. De forma semelhante, há
um processo para confrontar os líderes da igreja que pecaram — e
esse processo tem início com um método para autenticar as
acusações e, em seguida, apelar para que os pecados sejam
abordados em conformidade com os julgamentos e os processos
denominacionais.3 Em todos os casos, as Escrituras — e não as
ferramentas de mídias sociais — orientam o processo.
O CHAMADO
Quando se trata de confrontar o pecado de qualquer crente ou
pastor, o processo privado e escritural deve ser respeitado, mesmo
quando se desdobra lentamente. A chave para o processo inteiro
está relacionada ao chamado — poucas pessoas próximas são
chamadas para tratar de determinado caso.4 No tocante a pecados
e falhas, deve-se lidar face a face com o transgressor e o
injustiçado, com o acompanhamento de testemunhas, e tudo sob a
discrição da igreja local.
Para aqueles que não são “chamados” a uma situação (a maioria
de nós), o roteiro nos chama a assumir uma postura contracultural
de autodomínio, de não falar sobre os pecados em questão.5 Nós
acobertamos pecados, não para que eles apodreçam em silêncio,
mas para que aqueles que são chamados à situação possam lidar
com esses pecados à luz do roteiro de Deus. E, de fato, como o
roteiro esclarece, as conclusões de dois ou três crentes que são
chamados a uma situação particular carregam muito mais peso aos
olhos de Deus do que aquelas de duas ou três centenas de pessoas
espumando de raiva em comentários no Facebook.
Nossa prioridade em honrar o desígnio de Deus aqui nos impede
de mandar mensagens aos nossos amigos para compartilhar os
podres que sabemos dos outros. Esse autocontrole não é intuitivo,
mas, sim, imperativo — e é como protegemos a honra de nosso
próximo e de nossos irmãos e irmãs em Cristo.
DENÚNCIAS QUE DERAM ERRADO
Em uma sociedade de smartphones, a mídia social continuará a
servir como uma ferramenta poderosa para expor fraudes, derrubar
ditadores, denunciar crimes e gravar e expor injustiças raciais. Para
nós, cristãos, essas ferramentas nos oferecem meios de defesa e
justiça social,6 e, quando necessário, servem em momentos nos
quais é essencial expor o pecado contínuo e as doutrinas falsas,
que, de outra maneira, apodreceriam em silêncio nas igrejas e
denominações. Mas o que, a princípio, parece ser uma tentativa
nobre de expor o pecado passado pode ir muito longe e levar a uma
vingança online coletiva, até mesmo impetrada por cristãos.
Há uma tentação bem real para aqueles que não são chamados
para uma situação: a de tentar julgar os casos a distância, tirando
conclusões prematuras e, em seguida, atraindo uma onda de apoio
online. Mas buscar os veredictos da maioria e disseminar
conclusões infundadas online são atitudes que podem destruir a
reputação de um cristão. É aí que o roteiro passa a estar
satanicamente errado.
Numa época em que qualquer pessoa com um celular pode
publicar os podres de outra pessoa, devemos saber que espalhar
mensagens de antagonismo pela internet, com a intenção de
provocar hostilidade sem qualquer desejo de resolução, é o que o
mundo chama de “trollagem” e o que o Novo Testamento chama de
“calúnia”.7 A forma verbal da palavra grega usada no Novo
Testamento significa, literalmente, “falar contra”. A calúnia online
inclui espalhar informações falsas e rumores sobre os outros. Mas a
calúnia bíblica é difamatória por causa de seu resultado final:
reputações feridas.
TIAGO 4
Em um capítulo carregado de sabedoria sobre como os cristãos
devem lidar com os podres que sabem uns sobre os outros,
encontramos a calúnia como um pecado que “viola o mandamento
cristão primitivo mais por sua falta de bondade do que por sua
falsidade”.8 Esse é o ponto principal. Tim Keller e David Powlison
definem calúnia como “não necessariamente uma informação falsa,
pode ser apenas uma ‘desinformação’. A intenção é menosprezar o
outro. Despejar desprezo. Zombar. Machucar. Magoar. Destruir.
Alegrar-se no suposto mal”.9
A calúnia não é um debate público sobre ideias ou uma
repreensão pública de um ensino falso (mais adiante, abordaremos
isso). Podemos certamente debater ideias e doutrina em público,
desde que nos comportemos com justiça e imbuídos de princípios, e
desde que apresentemos as opiniões de nossos oponentes com
clareza e tolerância.10 Aquilo contra o qual Tiago 4.11-12 adverte é
“atacar os motivos e o caráter de uma pessoa, de modo que o
respeito e o amor dos ouvintes para com a pessoa sejam
prejudicados”.11
Em seus comentários sobre Tiago 4.11-12, escritos muito antes
do advento do iPhone, o pastor R. Kent Hughes disse:
“Pessoalmente, consigo pensar em alguns mandamentos que vão
mais contra as convenções comumente aceitas [calúnias] do que
este. A maioria das pessoas acha que não há problema em
transmitir informações negativas se elas forem verdadeiras.
Entendemos que a mentira é imoral. Mas passar adiante uma
verdade danosa é imoral? Parece quase uma responsabilidade
moral!”. É por isso que a definição bíblica de calúnia é contracultural
à geração smartphone. “Por esse raciocínio, a crítica feita pelas
costas de outra pessoa é entendida como algo que não está errado,
contanto que seja verdadeira. Da mesma forma, a fofoca que
denigre (é claro que nunca é chamada de fofoca!) não é errada se a
informação for verdadeira. Assim, muitos crentes usam a verdade
como uma licença para diminuir, de maneira justa, a reputação dos
outros.”12 O que é feito em nome de “expor a verdade” com o
objetivo único de minar o caráter de alguém é uma expressão da
calúnia.
A não ser que sejam confrontados, Tiago 4.11-12 adverte que
aqueles que apontam o dedo e disseminam culpas eventualmente
assumem seus lugares como juízes desonestos que estão acima da
lei. Em sua impaciência e em seu cinismo a respeito dos padrões e
processos, aqueles que apontam o dedo podem tornar-se a lei,
funcionando como juiz e júri, com o objetivo de pronunciar culpa e
administrar o castigo contra o transgressor. Tais impulsos atraem
mobilizações online e podem rapidamente escalonar para,
coletivamente, envergonhar alguém. O ato de expor os podres de
alguém raramente acaba com denúncia e exposição, mas
tipicamente se move, de maneira natural, para uma vingança
coletiva que aproveita a indignação online em massa para
testemunhar um dano documentável ao transgressor.
Mas Deus impede que os feridos se tornem os causadores de
feridas. Para fazer isso, seu roteiro muitas vezes vai na contramão
da sabedoria convencional e sempre vai contra os impulsos de
nossa carne. A humildade nos chama a seguir um roteiro de
contrarrevolução no meio de uma geração de Wikileaks. Numa
época de avaliações no Peeple, de denúncias e de exposições de
fatos ocultos, foi-nos dado um roteiro contracultural que devemos
seguir ao lidar com os podres que sabemos dos outros.
NONO MANDAMENTO
Tiago 4 realmente é apenas uma reafirmação do nono
mandamento,13 um mandamento necessário para combater o ato de
proferir mentiras sobre o nosso próximo em um tribunal, e um
mandamento ousado que nos chama a ser “mais dispostos a
encobrir a sujeira do próximo do que a divulgá-las”14, e isso fora do
tribunal. Como o Catecismo Maior de Westminster explica, é um
chamado para uma “estima tolerante de nosso próximo; uma que
ama, deseja e se alegra em sua boa fama; que se entristece e
encobre suas fraquezas; que livremente reconhece seus dons e
graças, que defende sua inocência; que imediatamente recebe um
bom testemunho e se recusa a admitir um mau testemunho a
respeito dele; desencorajando contadores de história, bajuladores e
caluniadores”.15 Mais uma vez, ele nos impede de esguichar por aí
meros palpites sobre os motivos e as intenções alheias.16 Há um
chamado para termos extremo cuidado e domínio próprio quando
lidamos com os podres de nosso próximo na internet.
Deus quer que pratiquemos a disciplina de encobrir os pecados
dos outros em amor,17 conforme lhes damos espaço para que
aconteçam a disciplina (quando necessário) e o arrependimento
pessoal.18 Reconhecemos o trabalho muitas vezes despercebido e
invisível do Espírito Santo no mundo para trazer a convicção do
pecado. E, assim, andamos pela fé, sabendo que Deus está
trabalhando em seus filhos.
Com essa finalidade, considero útil recordar a franca confissão de
Charles Spurgeon: “O trabalho mais fácil do mundo é encontrar
culpa”.19 Sim, e as ferramentas para espalhar nossas descobertas
nunca foram tão simples e poderosas. Um “homem briguento” que
deseja inflamar conflito e levá-lo a uma chama de contenda
certamente vai encontrar, na mídia social, uma forma de acendê-los.
“Com a mídia social, podemos agora prejudicar, constranger e
estigmatizar as pessoas com mais força do que em qualquer outro
momento da história da humanidade”, adverte o pastor Ray Ortlund.
“O domínio próprio nunca foi tão importante quanto é hoje”.20 Cada
um de nós tem um troll interior, um caluniador interior— e uma parte
de nós adoraria escrever sobre os podres de alguém, publicar esses
podres na internet e, anonimamente, consumir esses podres na
internet. “Se ‘as palavras do difamador são como deliciosos
bocados’, então os comentários na internet são como um bufê
livre”.21 E quem pode jejuar diante de um bufê?
Nosso fascínio glutão pelas falhas dos outros é bem anterior ao
advento da mídia social. Apontar o dedo para as falhas dos outros é
um hobby antigo, destinado a escorar uma fachada de
autoimportância, mesmo entre os cristãos. Apontar o dedo para as
falhas alheias destrói nosso amor por eles. Apontar o dedo para as
falhas alheias é o oposto do Calvário. Em Cristo, nossos pecados
perdoados são lançados em uma sepultura — o caluniador, porém,
continua visitando-a durante a noite para exumar os pecados do
próximo e arrastar à praça pública as ofensas que estão em
decomposição.22 É por isso que, quando o puritano Richard Baxter
disse acreditar que a calúnia havia atingido proporções epidêmicas
na igreja de seu próprio tempo, ele confrontou o pecado — e pagou
o preço. “Minha consciência, tendo me levado ao costume de
repreender os fofoqueiros [caluniadores], sou normalmente
censurado por fazê-lo, como se estivesse defendendo o pecado e a
iniquidade”.23 Ai-ai! Censure quem aponta o dedo para as falhas dos
outros por sua conta e risco.
Devemos ter coragem para nos afastar da difamação online ou
para enfrentá-la como calúnia. Devemos ter olhos para ver através
da acusação vazia, na qual nosso silêncio é uma passividade que
permite que o pecado não seja contido. Deus sabe que sabemos os
podres dos nossos próximos e de outros cristãos, e é por isso que
ele nos diz o que fazer em seu roteiro. Sua Palavra nos diz que é
errado caluniar, que é errado consumir conteúdo de calúnia e que é
correto confrontar o predomínio do pecado na internet (mesmo que
incitemos a calúnia ao agir assim!).
DEVEMOS CONFRONTAR O PECADO DE UM CRISTÃO NA INTERNET?
Ao lidar com pecado pessoal sério e ensinamento falso, vemos dois
cenários distintos nas Escrituras: pecados dentro de uma igreja local
e heresias fora de uma igreja local. Vou colocá-los juntos:
*. Mateus 18.15-20; 1Timóteo 5.19-20; Tito 1.9.
†. Gálatas 2.7-14.
‡ . D. A. Carson, “Editorial on Abusing Matthew 18”, Themelios.
Disponível em themelios.thegospelcoalition.org (maio 2011). Estas são as
três categorias que se qualificam para o confronto citadas em Mateus 18:
grande erro doutrinário (1Tm 1.20); grande falha moral (1Co 5); e
provocar divisões de maneira persistente (Tt 3.10-11).
A Escritura nos diz que, assim como Deus não é injusto para
esquecer nossas obras e demonstrações de amor ao servir aos
santos,20 em Cristo ele não se lembra mais de nossos pecados.21
O que é verdade no Antigo Testamento também é verdade no
Novo Testamento. Deus quer que nos lembremos do roteiro que ele
escreveu para nossas vidas, especialmente de seus atos de
redenção.22 Isso porque Cristo inaugurou o tempo,23 agora o está
sustentando24 e tem o poder soberano para desenrolar os
acontecimentos que darão fim ao tempo.25 Em cada momento da
história, Cristo fala de si mesmo: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o
Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22.13). É ele quem
guarda todo o tempo e a história, e somente ele sustenta com
segurança minha história eterna.26
JAMAIS ESQUECER
Seja o que mais estiver em jogo na era digital, os cristãos são cada
vez mais ordenados a lembrar. Não devemos perder nosso passado
e nosso futuro com textos e tuítes a toda hora em nossos telefones.
Mas nosso lembrar não é como folhear um álbum empoeirado de
memórias com recortes. A Bíblia penetra os nossos corações com
uma memória vívida e ativa da vida diária na era digital. A Palavra
nos chama para lembrar a fim de obedecermos, da maneira como o
apóstolo Pedro explicou quando disse que nosso objetivo é atingir a
maturidade cristã que cresce da fé à virtude, do conhecimento ao
domínio próprio, da perseverança à piedade, e, finalmente, da
fraternidade ao amor. “Pois aquele a quem estas coisas não estão
presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da
purificação dos seus pecados de outrora” (2Pe 1.9). Todo
crescimento espiritual está arraigado na lembrança do que Cristo fez
em mim.
Lembrar é o verbo-chave da vida cristã. Recordamos nosso
passado, corrigimos nossa miopia, comovemo-nos, recuperamos a
força mental, encontramos a paz na Palavra eterna. Lembrar é uma
das disciplinas espirituais fundamentais que devemos proteger com
vigilância em meio à fragmentação da mente e às tentações de
esquecer o passado, atitude típica da era digital.
1. 2Coríntios 6.10.
2. Papa Francisco, “Carta Encíclica, Laudato Si’ do Santo Padre Francisco
sobre Cuidados da Casa Comum”, A Santa Sé. Disponível em w2.vatican.va
(24 maio 2015).
3. Olivia Laing, The Lonely City: Adventures in the Art of Being Alone (New
York: Picador, 2016), p. 247.
4. 1Coríntios 6.19-20.
5. Trip Lee, entrevista com o autor via Skype (25 mar. 2015).
6. Craig M. Gay, The Way of the (Modern) World: Or, Why It’s Tempting to
Live as If God Doesn’t Exist (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998), p. 92,
ênfase original.
7. Êxodo 20.22-24; Salmos 135.13-15; Isaías 44.19-22; 46.6-9; 57.11-13;
Jeremias 14.21-22; Ezequiel 16.20-22; Jonas 2.7-8; 1Pedro 4.1-6.
8. Carl R. Trueman, “Sex Trumps History”, First Things (15 mar. 2016).
9. Gálatas 2.20.
10. Hebreus 12.1-2.
11. Efésios 3.7–4.16.
12. Conforme foi explicado pelo CEO do Snapchat Evan Spiegel, “What Is
Snapchat?”, YouTube. Disponível em youtube.com (16 jun. 2015).
13. Alastair Roberts, “Twitter Is Like Elizabeth Bennet’s Meryton”, Mere
Orthodoxy. Disponível em mereorthodoxy.com (18 ago. 2015, ênfase original).
14. Leon Morris, The Gospel according to Matthew, The Pillar New Testament
Commentary (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992), p. 322.
15. C. S. Lewis, O peso da glória, pp. 50-51.
16. David Powlison, email para o autor (13 maio 2016). Compartilhado com
permissão.
17. Salmos 119.16.
18. Salmos 143.5-6.
19. Eclesiastes 12.1-8.
20. Hebreus 6.10.
21. Hebreus 8.12; 10.17.
22. Efésios 2.11-13.
23. Apocalipse 4.11.
24. Hebreus 1.3.
25. Apocalipse 5-6.
26. Judas 24-25.
CONCLUSÃO
USANDO O CELULAR COM INTELIGÊNCIA
TESTE A SI MESMO
Este livro não pode terminar sem considerar o impacto de nossos
celulares sobre a totalidade de nossos corpos. É imperdoável que
nos preocupemos mais com a carga de nossos telefones do que em
calcular as horas de sono de que nossos corpos precisam. Nós
somos criaturas encarnadas, e isso significa que a forma como
usamos a tecnologia digital muda a todos nós — mental, física e
espiritualmente. Salomão nos alertou para não divorciarmos nossas
mentes de nossos corpos como um todo, o que nada mais é do que
a própria tentação da era da tela sensível ao toque.19
Estudos após estudos têm mostrado que passar muito tempo em
nossos telefones tem efeitos profundos sobre nossa saúde física,
incluindo (mas não limitado a) sedentarismo, obesidade, estresse,
ansiedade, insônia, agitação, má postura, pescoços doloridos,
cansaço visual, dores de cabeça, hipertensão e padrões de
respiração pouco profunda induzidos por estresse. As
consequências físicas de nossos hábitos imprudentes no celular
muitas vezes passam despercebidas, porque, na matriz do mundo
digital, simplesmente perdemos a noção de nossos corpos, de
nossa postura, de nossa respiração e de nossos batimentos
cardíacos.
A sobrecarga de nosso foco em imagens projetadas provoca
negligência em relação aos nossos corpos. Vá ao YouTube e
procure por “acidentes com distraídos no celular”. Você encontrará
uma crescente coleção de vídeos de usuários de celular tão
absortos com seus telefones que, inconscientemente, caminham
para o meio do tráfego ou batem em paredes, caem em fontes de
água pública ou escorregam e ficam presos em grades no chão da
calçada. Nossos telefones nos tornaram tão fisicamente alheios a
outras pessoas nas áreas públicas que “passamos de segurar a
porta por cortesia a ficar de pé diante dela em esquecimento”.20
A falha em nos concentrar nas consequências físicas de nossos
hábitos virtuais desencarnados é um descuido que muitos estão
tentando corrigir.21 Uma de minhas esperanças relacionadas a este
livro é que as pessoas tenham uma consciência renovada de como
a tecnologia nos influencia — por completo. Quero que você seja
consciente de si mesmo. Mas, embora eu seja capaz de delinear
alguns dos seus possíveis sintomas, não posso diagnosticá-lo e
certamente não posso dizer para você se livrar de seu telefone por
completo.
Você precisa testar seu uso da tecnologia tal como faria com uma
dieta física. Se você não se sente bem depois de comer, pergunta a
si mesmo se foi porque comeu demais, se foi porque é alérgico ao
que você consumiu, ou porque você comeu besteira, comida
estragada ou contaminada. Faça perguntas semelhantes sobre seu
celular. O que acontece com seu corpo e com sua mente quando
você fica fora do Facebook por uma semana, quando você não
responde aos emails remotamente em seu telefone, quando você
não dorme perto do seu telefone, ou quando você limita o Twitter a
determinados momentos? E, quando usar seu telefone, observe sua
respiração, seus níveis de ansiedade e sua postura.
E faça a mesma coisa espiritualmente. Mude suas rotinas no
celular e veja o que acontece com sua vida devocional. Suas
manhãs são mais frutíferas e focadas? O que acontece na igreja
quando você deixa seu telefone no carro?
Ouça seu corpo e ouça sua alma, e use essas avaliações para
estabelecer princípios para seus hábitos no celular. Considere os
impactos negativos para avaliar suas práticas, e permita que os
impactos positivos estabeleçam princípios para estratégias futuras.
As perguntas que fazemos sobre nossos celulares são urgentes.
Muitos de nós gostariam de responder a essas perguntas com uma
lista de regras de uso de smartphones, mas não podemos
simplesmente copiar e colar uma mesma lista na vida de todo
mundo. Conforme você determina seus limites no celular, faça uma
dieta de rodízio, ore, use seu smartphone com a sabedoria de Deus
e, por todos os meios necessários, permaneça vigilante para evitar a
armadilha de Satanás, a estratégia do “Nada”.
1. Mateus 22.34-40.
2. C. S. Lewis, Cartas de um diabo a seu aprendiz (Rio de Janeiro: Thomas
Nelson Brasil, 2017), p. 72.
3. Ibid.
4. 1Tessalonicenses 4.11; 2Tessalonicenses 3.11; 1Timóteo 5.13; 1Pedro
4.15.
5. Esse mesmo princípio é bem explicado pelo puritano Richard Baxter em
The Practical Works of the Rev. Richard Baxter (London: James Duncan,
1830), v. 3, pp. 535-536.
6. C. S. Lewis, A abolição do homem (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil,
2017), pp. 73-74.
7. Alan Jacobs, A Visit to Vanity Fair: Moral Essays on the Present Age
(Grand Rapids, MI: Brazos, 2001), pp. 147-148.
8. Veja Craig M. Gay, The Way of the (Modern) World: Or, Why It’s Tempting
to Live as If God Doesn’t Exist (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998).
9. Timothy Keller, sermão, “Be Filled with the Spirit — Part 1”, Gospel in Life,
gospelinlife.com (16 de junho de 1991).
10. Jacques Ellul, The Technological Bluff (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1990), p. 411.
11. Paul Miller, “I’m Still Here: Back Online after a Year without the Internet”,
The Verge. Disponível em theverge.com (1o maio 2013).
12. Andrew Sherwood, “The Sweet Freedom of Ditching My Smartphone”, All
Things for Good. Disponível em garrettkell.com (21 jan. 2016).
13. Bruce Hindmarsh, entrevista com o autor por telefone (12 mar. 2015).
14. Alan Levinovitz, “I Don’t Have a Cellphone. You Probably Don’t Need One,
Either”, Vox. Disponível em vox.com (15 mar. 2016).
15. Francis A. Schaeffer, The Complete Works of Francis A. Schaeffer: A
Christian Worldview, v. 1, A Christian View of Philosophy and Culture
(Westchester, IL: Crossway, 1982), p. 369, ênfase original.
16. Donna Freitas, The Happiness Effect: How Social Media Is Driving a
Generation to Appear Perfect at Any Cost (New York: Oxford University Press,
2017), p. 218.
17. Veja as dicas de gerenciamento de aplicativos de Tristan Harris,
“Distracted in 2016? Reboot Your Phone with Mindfulness”. Disponível em
tristanharris.com (27 jan. 2016).
18. Veja em Tony Reinke, “Know When to Walk Away: A Twelve-Step Digital
Detox”, Desiring God. Disponível em desiringGod.org (30 maio 2016).
19. Eclesiastes 12.12.
20. John Dickerson, “Left to Our Own Devices”, Slate,. Disponível em
slate.com (24 jun. 2015).
21. Veja David M. Levy, Mindful Tech: How to Bring Balance to Our Digital
Lives (Nova Haven, CT: Yale University Press, 2016).
EPÍLOGO
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