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Distintas formas de

exploração do
trabalho no
continente africano
Livro Trabalho, Ciência e Tecnologia –
Páginas 67 a 71
Estudamos as modalidades de exploração de trabalho
que predominaram em partes do continente africano e
asiático no período tradicionalmente conhecido como
Antiguidade.
Na Mesopotâmia e no Egito antigo, por exemplo, o
trabalho na agricultura ou na construção dos templos
das divindades e tumbas dos faraós podia ser feito tanto
por homens livres quanto por escravizados, condição
que variava de acordo com a origem e a situação jurídica
do indivíduo.
• A partir do século VII, regiões do
norte da África, fortemente
impactadas pela expansão islâmica,
experimentaram novas formas de
exploração nas relações de trabalho
que resultaram em diferentes
configurações sociais e econômicas.
• Deve-se compreender, no entanto,
que nesse continente tão extenso e
antigo os indivíduos das sociedades
não se entendiam como africanos,
mas como membros de uma aldeia,
ou comunidade, que falava a mesma
língua e compartilhava de tradições e
de práticas de divisão de trabalho.
Relações de trabalho antes da chegada dos árabes

• Nas sociedades africanas tradicionais, a família era a


instância mais importante da socialização do indivíduo.
Entretanto, a ideia de família não estava restrita a um
pequeno núcleo de pai, mãe e filhos, mas se tratava de
uma família extensa, que podia agregar um homem com
uma ou mais esposas, filhas e filhos, sobrinhos com
cônjuges e filhos, pais e avós.
• As unidades sociais e políticas de base da África eram
os clãs, que consistiam em grupos controlados pelo
chefe de determinada linhagem.
• A divisão do trabalho e o poder político estavam
assentados em diferenças de gênero e de idade: os
mais velhos controlavam o trabalho dos jovens e das
mulheres.
• Nos clãs, as pessoas unidas por laços de parentesco
tinham uma relação funcional com a terra na qual
moravam e trabalhavam.
“As pessoas de cada unidade familiar cultivam a terra de forma coletiva. A terra, até muito
recentemente, nunca foi vista como propriedade, muito menos como propriedade privada
na África. Os homens é que pertencem à terra, e não o contrário. A riqueza, desta forma,
é ligada ao controle do trabalho dos membros da família, e não à posse de terras. Quanto
maior o número de dependentes que tenha o chefe de uma linhagem, tanto maior será
sua riqueza e seu prestígio [...]. Podemos dizer então que a unidade sociopolítica de base
não é definida por um determinado território, mas pela existência de um grupo familiar,
controlado por um chefe, que é em geral o homem mais velho da linhagem. [...] Quando
uma parcela da terra se esgota pelo cultivo, o grupo muda-se em busca de novas terras
férteis.”

MUSEU AFRO-BRASILEIRO (Mafro). Centro de Estudos Afro-Orientais. Projeto de atuação


pedagógica e capacitação de jovens monitores. Salvador: EDUFBA. Disponível em: . Acesso
em: 2 abr. 2020
Representação de uma família com trajes tradicionais de Botsawna, sul do
O trabalho dos escravizados continente africano, gravura de Antonio Sasso, 1843

• Embora a escravização de pessoas já


fosse praticada no continente africano
desde os tempos mais remotos, os
cativos eram, na maioria dos casos,
indivíduos pertencentes a outros povos
que, por serem inimigos, podiam ser
escravizados.
• Além de prisioneiros de guerra, os
acusados de crimes como assassinato,
roubo, bruxaria e adultério também
poderiam ser escravizados.
• Uma pessoa também podia ser oferecida
como garantia de pagamento de uma
dívida e, caso a dívida não fosse quitada, a
pessoa podia ser escravizada.
• Existiram, portanto, diversos tipos de
escravização, mas também outras formas
de exploração do trabalho fora da
escravidão.
• No norte da África, em Meroé, capital do Reino de Cuxe, e no Reino de Axum, por exemplo,
os escravizados tinham várias ocupações, da produção à política, como soldados,
funcionários de governo e trabalhadores.
• No interior da África, a escravização de pessoas não era uma atividade econômica central, na
medida em que as pessoas nessas condições não produziam bens para o mercado e
poderiam ser incorporadas gradualmente à comunidade.
• Embora a condição de escravizado fosse hereditária, os descendentes de escravizados tinham
direito à propriedade da terra ou à liberdade após o casamento.

Mercado de escravizados em
Zanzibar (atual Tanzânia),
representado no detalhe de
uma gravura britânica de
1872. Neste local, os
escravizados oriundos de
regiões que atualmente
correspondem à Tanzânia, ao
Malawi e à Zâmbia eram
vendidos para mercadores
árabes, que os levavam para
Omã, o Iémen, entre outros.
Nos Estados africanos ao longo do Vale do Nilo, em partes
da África Ocidental e nas terras altas da atual Etiópia, a
consolidação política foi determinada pela expansão de
redes de comércio e pelo incremento da produção agrícola.

• A partir do século V, na floresta


da África Ocidental, eram os
escravizados que extraíam
ouro, trabalhavam nos palácios
e derrubavam florestas para
abrir campos agrícolas.
• Em outras partes da África, a
escravidão simplesmente não
existiu.
• O trabalho era mobilizado
pelas redes de parentesco
ou era organizado,
comunitariamente, por
pessoas livres.
Expansão islâmica na África
A partir do século VII, houve uma intensificação da escravidão e do tráfico de escravizados
na África à medida que o islã se expandiu pelo continente.
• A escravização de
pessoas praticada
pelos árabes era
diferente da ocorrida
no interior da África.
• Eles tinham interesse
em adquirir
escravizados
provenientes da
África e de outras
regiões (eslavos,
búlgaros, gregos,
turcos etc.) para
comercializá-los nos
mercados
muçulmanos.
localização
Expansão islâmica na África
• Um primeiro eixo do
comércio controlado por
árabes na África ligava o “país
dos Zandj”, no sul da
Abissínia, atual Etiópia, à
Península Arábica.
• Outras rotas seguidas por
comerciantes muçulmanos
foram: de Gana para
Marrocos; de Tombuctu a
Tuwat (Argélia); do Vale do
Níger para Gate e Gadamés;
do Lago Chade para Murzuk
(Líbia); de Darfur para o Vale
do Nilo e Assiout; do Nilo Azul
ao Egito.
Expansão islâmica na África
• O tráfico transaariano de pessoas começou
quando o rei do Egito, Abdallah Ben Said,
conquistou o Sudão e, em 652, impôs ao rei
sudanês Khalidurat um tratado conhecido
como Bakht.
• Uma das cláusulas do tratado era o
fornecimento anual de centenas de
escravizados africanos ao rei muçulmano do
Egito.
• O comércio transaariano possibilitou que
novos mercados surgissem e que ideias,
produtos e redes de crédito se difundissem e
se ampliassem.
• Os escravizados tornaram-se essenciais para
a militarização, para a produção agrícola e
para a expansão do poder real que os
governantes de Estados hierarquizados (Gana,
Mali, Songhai e Kanem) concorriam para
controlar.
Expansão islâmica na África
• A África Oriental foi integrada a
novas redes comerciais no Oceano
Índico, rotas controladas por
muçulmanos e indianos, levando à
expansão da escravidão e do
comércio de cativos.
• Na costa Suaíli, na porção oriental,
partes da região dos atuais países
Moçambique, Tanzânia e Quênia, o
comércio árabe e muçulmano
influenciou o estabelecimento de
cidades portuárias e rotas de
comércio junto aos povos africanos.
Expansão islâmica na África
• Os árabes e os reinos convertidos ao islã, do
Marrocos ao Irã, foram os primeiros a criar
uma demanda constante por um grande
número de escravizados estrangeiros,
sobretudo da África subsaariana.
• O comércio transaariano moldou a ascensão,
a queda e a consolidação de muitos Estados
da África Ocidental.
• Nas regiões conquistadas pelo islã ou onde
governantes e comerciantes converteram-se,
cada vez mais os escravizados passaram a
ser comercializados e trocados como
propriedade.
Expansão islâmica na África
• Apesar de aceitar a existência da
instituição da escravidão, o Alcorão,
livro sagrado dos muçulmanos,
raramente se refere a ela,
enfatizando principalmente os
Manumissão: alforria legal de pessoa escravizada
méritos da manumissão.
• Contudo, os muçulmanos poderiam
justificar a escravização de pagãos
como um meio de levá-los das
trevas da ignorância para a
iluminação da verdadeira fé.
• Os muçulmanos não podiam
escravizar seus irmãos de fé, mas a
conversão após a escravização não
levava à liberdade.
Expansão islâmica na África
• A associação entre procedência, cor da pele e
escravidão assumiu novos contornos sob o
olhar dos muçulmanos.
• Viajantes e pensadores árabes identificavam
as novas conquistas de acordo com climas e
civilizações.
• As pessoas foram classificadas segundo
características físicas: cor da pele, formato
dos olhos e do nariz, cabelo, presença ou
ausência de pelos, e, com isso, estereótipos
foram elaborados para diferentes povos.
• Os africanos, principalmente os negros, foram
inferiorizados e desumanizados, pois teriam
sido originários das zonas climáticas
associadas à barbárie, na África subsaariana.
• No século XIV, o historiador Ibn Khaldun
defendia preconceitos semelhantes ao afirmar
que os negros eram submissos à escravidão
Expansão islâmica na África
• Os árabes e os mundos islâmicos mais
amplos necessitavam de mão de obra
para diversos papéis econômicos e
sociais.
• Alguns regimes recrutavam exércitos, e
alguns escravizados se tornaram agentes
confiáveis de seus senhores. Entretanto,
a principal demanda por pessoas
escravizadas no mundo islâmico era de
mulheres e meninas como empregadas
domésticas, artistas ou concubinas.
• As estatísticas do tráfico árabe de
escravizados são imprecisas, mas estima-
se algo em torno de 5,4 milhões de
pessoas entre os séculos VII a XV.
• O tráfico perdurou até 1960, e cerca de
10 milhões de pessoas foram traficadas
pelo Saara.
Expansão islâmica na África
• A resistência à escravidão existiu de
diferentes formas, da fuga individual à
revolta coletiva.
• No Iraque, por exemplo, entre os
séculos VII e IX, inúmeras revoltas de
escravizados africanos foram
registradas.
• Constata-se também a presença de
religiões, rituais de cura e música
procedentes de várias regiões da
África entre os descendentes de
escravizados nos países árabes e
muçulmanos.
∏ Caaba, na cidade de Meca, em foto de 2009, durante a
peregrinação anual dos muçulmanos a esse local. Observe ao
centro a pedra negra, que teria sido oferecida por Alá a Ismael,
filho de Abraão, considerado aquele que deu origem ao povo
árabe. A peregrinação para Meca é um dos fundamentos do
islamismo.

Muitas são as formas de as mulheres encobrirem os seus


corpos e rostos. Em nome da chamada laicidade do Estado, ou
seja, a sua desvinculação de qualquer religião, alguns países
restringem o uso das vestimentas religiosas em espaços
públicos. Na França, proíbe-se o uso nas escolas e centros
públicos. Nas imagens de 2009, exemplos de véus usados pelas
mulheres islâmicas

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