4 A importancia da leitura
Avpesar de todo o avango tecnolégico observado na érea de comunicagGes, prin-
cipalmente audiovisuais, nos tltimos tempos, ainda é, fundamentalmente, atra-
vés da leitura que se realiza o proceso de transmiss40/aquisigéo da cultura. Daf
a importancia capital que se atribui ao ato de ler, enquanto habilidade indispen-
sdvel, nos cursos de graduacao.
Entre os professores universitdrios é generalizada a queixa: os alunos nao sa-
bem ler! O que pode parecer um exagero tem sua explicacdo. Os alunos, de modo
geral, confundem leitura com a simples decodificacio de sinais grAficos, isto é,
no estdo habituados a encarar a leitura como processo mais abrangente, que
envolve 0 leitor com 0 autor, nfo se empenham em prestar atencdo, em enten-
der e analisar 0 que leem. Tal afirmativa comprova-se com um exemplo simples:
€ muito comum, em provas e avaliacées, os alunos responderem uma questio,
com acerto, mas sem correspondéncia com o que foi solicitado. Pergunta-se, por
exemplo, - quais as influéncias observadas... - esperando-se, obviamente, a enti-
meragao das influéncias; a resposta, muitas vezes, aponta a que se referem essas
influéncias e nao ~ quais so -. Ora, por mais correta que seja a resposta, nao
responde ao que foi solicitado.
Aprender a ler nao é uma tarefa téo simples, pois exige uma postura critica,
sistematica, uma disciplina intelectual por parte do leitor, e esses requisitos basi-
cos s6 podem ser adquiridos através da pratica.
Os livros, de modo geral, expressam a forma pela qual seus autores veem o
mundo; para entendé-los é indispensdvel ndo sé penetrar em seu contetido bé-
sico, mas também ter sensibilidade, espirito de busca, para identificar, em cada|
4 Introdugio a Metodologia do Trabalho Cientifico + Andrade
texto lido, varios niveis de significagdo, varias interpretacGes das ideias €xPostas
Por seus autores.
JA se tornou antoldgica e obrigatéria, quando se trata de leitura, a Citaggy
de Paulo Freire, para quem “a leitura do mundo precede a leitura da palavra,.»,
contudo, torna-se necessario ir mais além: :
Refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da pala
vra ea leitura desta implica a continuidade da leitura daquele,
De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que ,
leitura da palavra ndo é apenas precedida pela leitura do mundo,
‘mas por uma certa forma de “escrevé-lo” ou de “reescrevé-o”, que,
dizer, de transformé-lo através de nossa prética consciente (FREIRE
1984, p. 22). :
O processo de ler implica vencer as etapas da decodificagéo, da inteleccio,
para se chegar & interpretagdo e, posteriormente, a aplicacao. A decodificacao
é uma necessidade ébvia, tarefa que qualquer pessoa alfabetizada pode em.
preender, pois consiste apenas na “tradugao” dos sinais gréficos em palavras. A
inteleccdo remete a percepcdo do assunto, ao significado do que foi lido. A inter-
pretacdo baseia-se na continuidade da “leitura do mundo”, isto é, na apreensio e
interpretagio das ideias, nas relacdes entre o texto e 0 contexto. Vencidas as eta-
pas anteriores, pode o leitor passar & aplicacdo do contetido da leitura, de acordo
com os objetivos que se propés.
Para penetrar no contetido, apreender as ideias expostas e a intencionalidade
subjacente ao texto, é fundamental que o leitor estabeleca um “didlogo” com o
autor, que se transforme, de certa forma, em coautor, a fim de reelaborar 0 texto,
ou seja, “reescrever o mundo”, como sugere Paulo Freire.
Aleitura do texto, quando o leitor se transforma em sujeito ativo, é um manan-
cial de significagées e implicagées que vao sendo descobertas a cada releitura.
A esse respeito, diz Koch (1993, p. 162):
Importante é 0 aprendiz notar que cada nova leitura de um texto Ihe
permitird desvelar novas significagées, nao detectadas nas leituras
anteriores. (.
HA, porém, que se considerar os tipos, as modalidades e finalidades da lei-
tura.
1.1 Tipos de leitura
Quanto aos tipos ou natureza da leitura, vale lembrar aqui que existem, além
da leitura verbal, outros tipos de leitura que sao utilizados habitualmente, em
diversas situacdes.Almportancia da Leitura 5
Quando alguém para num sinal de transito, por exemplo, est4 executando
uma ordem recebida através da leitura de um simbolo, que pode indicar tanto a
necessidade de parar, como a mao de direcdo, a proibigao de estacionar etc. Esta
leitura, através de imagens ou simbolos, recebe o nome de icdnica, palavra deri-
vada de {cone — que vem do grego, com o significado de “imagem”. Mas nem sé
60s sinais de transito séo passiveis de uma “leitura icénica”, Hoje, as imagens, que
constituem uma linguagem universal, so referéncias obrigatérias nos aeropor-
tos, grandes restaurantes, shopping centers e areas de turismo e lazer.
+10
PRONTO-SOCORRO- ‘SILENCIO
OE
Oo
PROIBIDO ESTACIONAR AREA DE DESCANSOfer ire ON
6 Introdugto A Metodologin do Trabulho Glentifico + Andrade
i i i ja, através dos
Outro tipo de linguagem universal é a gestual, ou seja, al 08 gestos,
codificados ou nao. Séo exemplos de linguagem gestual codificada a linguagen,
dos surdos-mudos, a linguagem dos jogadores de vélei e outras.
O CODIGO DOS LEVANTADORES
Chutada ‘Tempo Atrés Dois Tempos
Com 0 sinal de dedo Essa jogada é utilzada
minimo, 0 levantador para evitar a formaga
Usada nas trés posi-
com pouca altura. O ges, mas com malor
la de tr4s, de bloqueio. O atacant
atacante salta ao mes-_frequéncia na entrada puxa uma bo te
motempo que olevan- e meio de rede. uma também répida. O ata- deve saltar antes que
tador toca nabola, que _levantada longa, mas ante salta, no meio daa bola saia da mao do
é batida na ascenden- _rente a rede. O ata- rede, atrds do levanta- _levantador, para poder
ante bate a bola, na dore batea bola. Alm dar uma “paradinha”
te. Se o sinal é para chegar no tempo de
cima, 0 atacante bate ascendente, acercade do passe, essa jogada
- um metro de distancia também exige muita bola. Essa “paradinha’
tentadoc Bes ogee dolermdor Um dos snonia ene levan~_dfcula nano doo
também pode ser feita _requisitos para se fazer _tador eo atacante. queio adversario.
na entrada ou saida de essa jogada ¢ um passe
rede. perteito.
Desmico ‘Mio Aberta Vai e Volta
Oatacante de meio sal Ojogador de meiocorre _O atacante de safda ou
ta como se fosse bater paraaredecomosefos- entrada de rede corre
uma bola répida. O jo- se bater uma “chutada”. como se fosse bater uma
gador, que esténa sida atacante, da entrada “desmico”, ou seja, sal-
de rede, vem por trése de rede, vem por trés e tar por trds do jogador
bate por cima da cabe- bate na bola entre o le- do meio. No meio do
sadoatacante do meio. _vantador eo jogador do _caminho, ele muda sua
Nessa jogada, 0 deslo- meio. Essa jogada tam- _trajet6ria, para confun-
camento dos atacantes _bém exige deslocamen- _ dir o bloqueio adversd-
tem que ser répido para tos répidos e sintonia _rio, e volta para a ponta
dificultar 0 bloqueio, ‘entre 0s jogadores. da rede, onde recebe a
bola e ataca,Almportincia da Leitura 7
Pode-se também estabelecer um tipo de comunicagao sonora, utilizando-se
os sons de apitos, assobios, buzinas ete. No trdnsito, ha um tipo de sinalizagao
através de apitos; motoristas de caminhao também costumam usar o som da bu-
zina como um cédigo de comunicagio nas estradas,
Todos esses cddigos de comunicacio, ay
cunscritos a situagdes especificas; jd 0 cédi
muito maior de situacdes, é 0 mais utilizad
ipesar da sua universalidade, sao cir-
ligo verbal, que abrange um mimero
‘0 No processo ensino/aprendizagem.
1.2 Finalidades da leitura
As finalidades da leitura mantém estreita correlacao com as suas diversas mo-
dalidades. Nem sempre se utiliza a leitura com o objetivo especifico de adquirir
conhecimentos. Neste particular, deve-se observar que a leitura pode ser casual,
espontinea, quase um reflexo, como no caso dos antincios, cartazes, outdoors.
Pode-se buscar simplesmente o lazer ou o entretenimento, através da leitura de
livros e revistas. Geralmente, observa-se certa diferenca entre a maneira de se ler
jomnais, revistas e livros. Enquanto a leitura de jornais e revistas tende a ser mais
rapida e superficial, quando se trata de um livro, mesmo que se busque apenas 0
lazer, a leitura, em geral, é mais atenta.
Aleitura pode ter como finalidade a informacdo, sobre fatos ou noticias, com
ou sem o objetivo da aquisicéo de conhecimentos. Faz-se, neste caso, a distincao
entre leitura informativa, mais ligada a cultura geral e a formativa, relacionada
com a aquisic¢do ou ampliagdo de conhecimentos. Outra finalidade, nao menos
importante, é a distracao, o entretenimento.
1,3 Modalidades de leitura
A leitura pode ser oral ou silenciosa; técnica e de informacao; de estudo; de
higiene mental e prazer (SALOMON, 1977, p. 59).
Nos antigos cursos primérios, que correspondem & primeira etapa do pri-
meiro grau atualmente, a leitura oral era sempre precedida da leitura silenciosa.
Levando-se em conta que esta tiltima é a modalidade mais utilizada no mundo
moderno, justifica-se que deva ser treinada, desde os primeiros anos escolares.
Contudo, nao se pode relegar a leitura oral, que além de titil, é uma habilidade
que, como tal, nao dispensa o exercicio, a pratica. Tanto quanto é aborrecida uma
leitura oral malfeita, é agradavel a leitura feita com arte.
Aleitura técnica, de relatérios ou obras de cunho cientifico, implica, muitas
vezes, a habilidade de ler e interpretar tabelas e grdficos; a de informacao, como
ja foi referido, acha-se ligada As finalidades da cultura geral. A leitura de higiene
mental ou prazer tem por objetivo o lazer. A de estudo, que interessa mais de
Perto aos objetivos deste livro, visa & aquisicdo e ampliagdo de conhecimentos.Almportancia da Leitura. 9
1, procura-se saber o que realmente o autor afirma, quais os dados e in-
formagées que oferece;
2, correlacionam-se as afirmacdes do autor com os problemas para os
quais se est4 procurando uma soluco;
3, julga-se o material coletado, em fungio do critério de verdade.
Feita a andlise e o julgamento, procede-se a sintese, isto é, & integragao racio-
nal dos dados descobertos.
1.5 Tipos de andlise de textos
Nao se pretende aqui aprofundar o assunto, mas apenas indicar os diferentes
enfoques aplicdveis andlise de textos.
Deixando-se de lado as diferentes definicées de andlise ou sua conceituacao,
e adotando-se um ponto de vista mais pratico, podem-se apontar trés tipos prin-
cipais de andlise:
a) Andlise textual —leitura que tem por objetivo uma visio global, assinalan-
do: estilo, vocabulério, fatos, doutrinas, época, autor, ou seja, um levan-
tamento dos elementos importantes do texto.
b) Andlise temdtica — apreenséo do contetido ou tema, isto é, identificagéo
da ideia central e das secundarias, processos de raciocinio, tipos de argu-
mentagio, problemas, enfim, um esquema do pensamento do autor.
c) Andlise interpretativa - demonstracao dos tipos de relagées entre as ideias
do autor em razao do contexto cientifico e filosdfico de diferentes épocas;
andlise critica ou avaliacdo; discussao e julgamento do contetido do texto
(Gagliano, apud LAKATOS, 1992, p. 28).