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Mallu Magalhães adoça o samba – talvez de mais – e afirma uma linguagem própria: Vem.
Vem
«Eu convido todo o mundo para minha festam Só não convido você porque você não presta», canta
uma voz de menina em cima de guitarras e ritmos que noutras paragens, noutros discos, noutras canções
poriam o diabo no corpo. «Você não presta», a canção que abre Vem, é samba, é rock, é samba rock – ou
talvez samba pop. Ao quarto disco, a paulista Mallu Magalhães encontrou uma linguagem que extrai do
5 samba e da bossa nova as suas doçuras, rejeitando os seus saborosos pecados.
Pitanga (2011), o antecessor de Vem, era um disco de transição: estava a meio caminho entre as fixa-
ções anglo-saxónicas da adolescência (vertidas para canções folk) e uma linguagem autoral, alcançada
com a ajuda de Marcelo Camelo, músico brasileiro e companheiro de Mallu. Com Camelo e o português
Fred Ferreira, Mallu, que entretanto se fixara em Lisboa, fez a Banda do Mar, cujo disco homónimo é todo
10 cantado em português.
Gravado entre outubro de 2016 e maio de 2017 em Lisboa, Rio de Janeiro e São Paulo, Vem é a se-
quência lógica deste percurso. «Você não presta» dá o tom a boa parte do álbum, que tem no samba rock
um farol (a canção conta com o baixista Dadi Carvalho, que tocou com Jorge Ben, referência do género).
Confirmamo-lo em «Casa Pronta», um regresso de Mallu aos temas da vida doméstica que domina-
15 ram Banda do Mar. Aqui estão os ritmos quebrados do samba, mas apresentados sem força física, só deli-
cadeza e fofura – são cama onde se deitam lustros (cordas, metais, uma flauta) e abraços («Eu vou torcer
pra ser você e eu»).
O samba torna-se acompanhamento de tardes de preguiça em «Gigi», «São Paulo» amotina percussão
e sopros numa festa que luta com a voz de garota de Mallu e «Culpa do amor» junta à nova fórmula de Ma-
20 galhães uma guitarra em modo brisa marítima, à maneira da Banda do Mar, tudo servido com contenção.
Aqui e ali, torna-se claro que Mallu quis pintar a sua música de arranjos soul, uma opção particularmen-
te evidente em «Será que um dia», que exprime dúvidas sobre o futuro do amor com um roço de baixo e
metais exuberantes. Mais retro ainda é «Navegador», que parece produto de uma estadia de Phil Spector
no Rio.
25 As vestes e os arranjos podem mudar (em «Linha Verde» há mesmo uma guitarra portuguesa), mas a
voz de menina – eterna menina – de Mallu impõe-se, tornando tudo necessariamente macio e bonito. Na
sua versão light da música popular brasileira, Mallu Magalhães garante um espaço próprio, uma assinatura
e uma música bela, mas também abdica de qualquer perigo, fuga ou devaneio. Entre o dever e o haver, ga-
nhamos um disco feliz.
1. Seleciona a única opção que, em cada um dos itens, permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.
1.3. No terceiro parágrafo, a sequência «tem no samba rock um farol» (ll. 12-13)
(A) compara o álbum de Mallu Magalhães a algo que ilumina quem o ouve.
(B) explora metaforicamente a imagem do farol para mostrar que o samba rock é o género que domina
a sonoridade do álbum.
(C) pretende reforçar a ideia de que o samba domina a sonoridade rock.
(D) visa evidenciar que o rock é a sonoridade dominante.
1.7. No segmento «com um roço de baixo e metais exuberantes» (l. 22), a expressão sublinhada significa
(A) força.
(B) toque.
(C) corte.
(D) contacto.