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ESPAÇO PARA DEUS

Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

NOSSAS
VIDAS
Aula 6

A pós termos estudado sobre a vida de Jesus, estudaremos agora


como as nossas vidas podem ser introduzidas na nova reali-
dade que ele veio trazer.
O alvo do ministério de Jesus é nos introduzir na mesma realidade
na qual ele sempre viveu, ou seja, na comunidade de amor do Pai.
Seu maior propósito é nos levar de volta para a casa do Pai, para
o nosso verdadeiro endereço, para o lugar onde menos somos en-
contrados. Ele deseja nos levar à intimidade com o Pai.
Nós não devemos olhar para a vida de Jesus vendo a distância im-
possível que há entre nós e ele, pensando que a sua vida é inal-
cançável. Por ele ser Deus a nossa tendência é achar que nunca
poderemos ser parecidos com ele, por isso, essa distância enorme
que colocamos entre o Filho de Deus e nós, meros pecadores fra-
gilizados pela queda.
Vendo a vida de Jesus nessa perspectiva nós nos esquecemos do
seu real objetivo de dar-nos a sua vida. Temos, portanto, que ex-
pulsar de nossas mentes tais pensamentos e acreditar que somos
destinados a viver uma vida igual à dele. Jesus não veio para nos

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dar coisas, mas para que pudéssemos fazer as mesmas coisas que
ele fez.

“Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê


em mim também fará as obras que eu faço, e as fará
maiores, pois estou indo para o Pai.” (Jo 14.12)

O desejo de Jesus é que estejamos onde ele está e, por isso, não
retém nada de nós. Pelo contrário, ele nos deu tudo para que
pudéssemos fazer obras ainda maiores do que as suas. Ele mostrou
isso de forma bem clara em sua oração sacerdotal:

“E rogo não somente por estes, mas também por aque-


les que virão a crer em mim pela palavra deles, para
que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim,
e eu em ti, que também eles estejam em nós, para
que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a
glória que me deste, para que sejam um, assim como
nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles
sejam levados à plena unidade, a fim de que o mundo
reconheça que me enviaste e os amaste, assim como
me amaste. Pai, meu desejo é que aqueles que me
deste estejam comigo onde eu estiver, para que ve-
jam a minha glória, a qual me deste, pois me amaste
antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não
te conheceu, mas eu te conheço; e estes reconhece-
ram que tu me enviaste. E fiz que conhecessem o teu
nome e continuarei a fazê-lo conhecido; para que o
amor com que me amaste esteja neles, e eu também
neles esteja.” (Jo 17.20-26)

RECONCILIANDO-NOS COM O PAI


Vimos na aula anterior que a salvação se deu através da obediência
sacrificial de Jesus. Sua obediência foi além de “apenas” nos tirar
do inferno e da morte eterna. Ela nos permitiu, novamente, viver
em relacionamento íntimo com o Pai, trazendo-nos à reconciliação
com ele.

“Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos re-


conciliados com Deus pela morte de seu Filho, mui-
to mais, estando já reconciliados, seremos salvos

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pela sua vida. E não somente isso, mas também nos


gloriamos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo qual recebemos agora a reconciliação.”
(Rm 5.10,11)

Deus se tornou homem e habitou entre nós. O Criador se tornou


criatura e derramou a sua vida. Não havia como Jesus se humilhar
mais! Ele desceu ao mais baixo nível, o inferno, para que pudésse-
mos subir ao mais alto nível – assentados com Cristo nos lugares
celestiais. Jesus se esvaziou de sua glória e se tornou como um de
nós para que pudéssemos nos tornar como ele.
Portanto, olhar para a vida de Jesus como algo apenas a ser obser-
vado, admirado e não vivido, é fazer do seu ministério um fracasso.
Creia! Ele não fracassou e, com certeza, atrairá o nosso coração
para a sua realidade.

ENTENDENDO A REALIDADE
DA RECONCILIAÇÃO
Precisamos entender o que é a realidade da reconciliação. Nossa
confusão de mente e nossa arrogância nos leva a pensar errada-
mente sobre o propósito de entrarmos nessa vida íntima com Deus.
O fato de sempre nos colocarmos no centro de todas as coisas é o
que nos leva a conclusões erradas e perigosas.
Imaginamos, por exemplo, que essa realidade é viver de forma que
Deus sempre realize todos os nossos sonhos. Por mais que isso pos-
sa parecer ridículo, fica em nosso interior o anseio de que ele venha
turbinar nossas vidas e nos dar poder para resolvermos todos os
nossos problemas. Remetendo-nos ao que já estudamos, essa é a
maior tentação do homem, ou seja, ter os olhos voltados somente
para o visível, para as coisas deste mundo, ao invés de olhar para o
invisível, para aquilo que não perece.
Outra forma errada de percebermos esta realidade é pensar que
esse lugar para o qual Jesus quer nos levar é um lugar de projeção
pessoal, para mostrar ao mundo o nosso valor. Todos, certamente,
verão quão bons nós somos para pregar, curar, pastorear, aconsel-
har, etc. Achamos que quando estamos perto de Deus nossos dons
serão ressaltados e assim receberemos o reconhecimento pelo nos-
so trabalho tão efetivo.

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Podemos, ainda, imaginar que o objetivo de Jesus em nos inserir no


relacionamento com o Pai é, simplesmente, para sermos usados por
ele nos seus propósitos, uma vez que nos consideramos muito san-
tos. De livre e espontânea vontade desejamos entregar nossa vida
para ser usada por Deus como ele quiser. Muitas vezes estamos
quebrantados ou emocionados e disponibilizamos nossas vidas para
serem usadas nos campos missionários ou em qualquer outro lugar
e achamos que essa nossa atitude é nobre para com Deus. Porém,
o alvo de Deus, por mais chocante que seja para nós, não é sermos
usados por ele.
Um dos fatos mais impactantes da vida de Jesus é ter vivido apenas
trinta e três anos. Ele poderia ter tido muito mais tempo na terra, ter
morrido em idade avançada e feito muito mais coisas do que fez.
Por que ele viveu tão pouco entre os homens? Mais intrigante ainda
é o fato dele ter iniciado seu ministério somente aos trinta anos, ou
seja, seu ministério ter durado apenas três anos e meio. Para nós,
isso é um absurdo, um desperdício do maior potencial que já existiu
em todos os tempos.
Se o objetivo de Deus para nós é contribuir para a sua obra, por
que ele não usou muito mais a vida de Jesus? Se nós, que somos
pecadores, somos tão necessários assim para Deus, por que ele não
permitiu que seu Filho passasse mais tempo fazendo muito mais
coisas aqui na terra? Sim, nossa maneira de avaliar a vida espiritual
é, de fato, muito errada. A nossa expectativa e busca por essa vida
tem sido deveras enganosa.
Muitas vezes nos decepcionamos conosco mesmo por não conse-
guirmos alcançar os reais objetivos de Deus para as nossas vidas.
Vale a pena, mais uma vez, ressaltar que a vida espiritual não é
algo mensurável. Mesmo que lutemos com os mesmos pecados
ou problemas desde nossa conversão, não podemos afirmar que
estamos estagnados na vida natural, pois em nossa relação de in-
timidade com Deus existe um desenvolvimento. Estamos sendo
construídos, estamos nas mãos de um Deus que sabe o que faz e
todas as coisas cooperam para isso. Precisamos, então, ligar o sinal
vermelho de alerta para as nossas aspirações espirituais.
Analisemos o texto abaixo que é muito forte e esclarecedor sobre
a nossa introdução nessa realidade:

“Nem todo o que me diz Senhor, Senhor! entrará no


reino do céu, mas aquele que faz a vontade de meu

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Pai, que está no céu. Naquele dia, muitos me dirão:


Senhor, Senhor, nós não profetizamos em teu nome?
Em teu nome não expulsamos demônios? Em teu
nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi
claramente: Nunca vos conheci; afastai-vos de mim,
vós que praticais o mal.” (Mt 7.21-23)

Destacaremos duas frases marcantes dessa passagem:

“Nunca vos conheci”

Ouvir tal declaração no último dia deverá ser a pior sensação de to-
dos os tempos. Ser rejeitado por um amigo ou conhecido ou por al-
guém famoso ou ainda, se alguém que não víamos há muito tempo
se esquecer de nós, já é uma experiência desconfortável. Imagine
sermos rejeitados pelo Rei do Universo! Aquele que tanto ansiamos
ver e estar perto volta-se para nós e diz que não sabe quem nós
somos e que nunca nos conheceu. Não! Certamente nada seria
pior do que ouvi-lo dizer isso, e nada poderia curar essa nossa dor.

“[Entrará no reino do céu] aquele que faz a vontade de meu Pai,


que está no céu.”

A vida cristã é simples. Porém, nós é que somos confusos e com-


plexos. A resposta ao evangelho não é complicada. Ela é obediên-
cia. Como vimos, a vida espiritual tem a ver com obediência e não
com a nossa capacidade de ser disciplinado, com o quanto conse-
guimos nos mover no sobrenatural, com quantos dons nós temos e
muito menos tem a ver com o nosso próprio esforço em agradar a
Deus. Não! A resposta ao evangelho (de termos uma vida de inti-
midade com Deus) é a obediência. Os obedientes são “aqueles que
fazem a vontade do meu Pai” – disse Jesus.
Deus não precisa da nossa vida, tampouco do nosso ministério. Ele
não precisa de nós, pois é suficiente em si mesmo.
O que Jesus está interessado é
o quanto nós estamos desen-
volvendo em nosso relacio-
namento com o Pai. Qual é a
nossa história com ele?

O LUGAR SECRETO

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Jesus, no sermão do Monte, nos exorta sobre diversas coisas que


devemos fazer em secreto: orar, dar esmolas e jejuar. Ele diz que se
fizermos essas coisas com o fim de sermos vistos pelas pessoas re-
ceberemos, ali mesmo, a nossa recompensa. Seu sábio conselho é
que as façamos sem que ninguém veja, pois é no lugar secreto que
desenvolvemos o relacionamento com Deus e não à vista de todos.
O que se torna visível deve ser resultado do que está se desenvol-
vendo internamente, caso contrário é algo vazio e sem valor. Tanto
que no último dia Jesus dirá que não nos conhece porque as coisas
que fizemos não estavam sendo construídas a partir do nosso rela-
cionamento com Deus. Isso é muito sério!
Ninguém pode intermediar nosso relacionamento com Deus –
nem marido, nem esposa, nem pais, nem pastor ou líder. Não deve
existir nada nem ninguém entre nós e Deus. Devemos sempre nos
perguntar: O que tem acontecido nesse meu relacionamento com
Deus? A obediência tem sido o resultado da minha relação com
ele? Estou, de fato, vivendo uma vida de obediência?
Jesus afirma que o que conta é o que ninguém vê. Isso nos confron-
ta porque, na verdade, gostamos de ser valorizados pelo que faze-
mos. Estamos sempre necessitando de aprovação. Porém, o que
está, de fato, sendo contabilizado é o que não está sendo exposto.
Existem alguns exercícios que nos ajudam a combater a necessi-
dade de reconhecimento. Por exemplo: fazer algo para alguém sem
que ele saiba; dar uma oferta específica sem revelar que fomos nós.
Isso em si não é a caminhada com Deus, mas é um início para ir
contra a nossa dependência de aprovação.
O que Jesus ensina é que não façamos nada para sermos reconhe-
cidos. Veja o que ele nos ordena:

“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechan-


do a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu
Pai, que vê o que é secreto, te recompensará.” (Mt 6.6)

Somos chamados a entrar no lugar secreto, onde não se encontra


mais ninguém. Jesus nos exorta a não darmos pérolas aos porcos,
isto é, não darmos o que é precioso a qualquer pessoa. Devemos
viver a partir do que está sendo desenvolvido na intimidade com
o Pai.
Precisamos entender, principalmente, que Deus não precisa de nós.

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Ele é soberano e nós é que precisamos desesperadamente dele.


Precisamos nos relacionar com ele para que o nosso coração seja
mudado e transformado.

CONCLUSÃO
Jesus não veio mudar as muitas coisas em que estamos envolvi-
dos, mas sim o nosso coração. Essa mudança só é possível através
do nosso relacionamento com Deus. Não há vida cristã sem essa
relação. Precisamos de tempo e atenção ininterruptos para com o
Pai, mas isso não significa dar-lhe tempo ou falar com ele em todo
o tempo enquanto nos envolvemos com todas as coisas. Isso é
bom, mas não substitui a nossa necessidade de termos tempo a
sós com Deus. Ter tempo a sós com o Senhor é vital para as nossas
vidas. Sem tempo a sós não existe relacionamento e sem relacio-
namento só encontramos isolamento, hostilidade e ilusão.
Precisamos de Deus! Nós fomos criados para vivermos uma vida
integral e espiritual, e também para buscarmos o seu Reino em
primeiro lugar. É importante entendermos que o que Jesus veio
fazer em nós não contraria a nossa natureza. Pelo contrário, ele
quer resgatar o motivo pelo qual fomos criados, ou seja, encontrar
nosso lugar e sermos inseridos na comunidade de amor da trin-
dade, através da nossa obediência.
Através de Cristo nós voltamos ao objetivo para o qual fomos
criados:

Buscar o Reino de Deus em primeiro lugar não é barganharmos


com ele para conseguir “todas essas coisas”, mas é sermos trans-
portados para uma vida, na qual experimentamos o seu amor,
cuidado e provisão; sabendo que ele nos tem em suas mãos.
Até aqui nós entendemos a importância do nosso relacionamen-
to com Deus. Nas próximas aulas veremos como entrar nessa
relação através de algumas disciplinas espirituais que nos intro-
duzem nessa prática.

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