You are on page 1of 20
Decifrar textos para compreender a politica: subsidios tedrico 1netodologicos para andlise de documentos Eneida Oto Shiroma* Rosclane Fatima Campos** Rosalba Maria Cardoso Garcia**™* Resumo: amigo ape:s ata os subsidios ¢ dros uriizados por no.so ,e.po de p.sq.isa paraanaita apoliica com bass: nos con « tox jo eontedide nox discuss pres tes nos documentos de politica cducacional, 9s & tos sio apenas ponto de partca, ‘nossa meta nio € tazer andlise de discurso, mas compreender a politica Discurimos ahe,emonia discursiva, a colonizacio do vocabulitio da refor «a, bricolgess cconceitos visindo construit novas lentes para interpretaros textos da rotor pata lero que dizcen, mas tambem para captaro que “nao dizem” "Tomamos os textos como proclutos ¢ produtores de oricaragies poiticas. Os sentidos nao sio dados nos documentos, suo produzidos esto aquém e além das palavras que os eompoem. Por isso, focamos nao apenas um documenta isoladamente, mas suas verses preliminares, teafos complementares, assim como 0 contexto de influéncia € da produgao dos textos, atticulando niveis macro e micro de anlise. Nessa perspectiva, tum documento aio & restrito a'uma dnica © harmoniosa lias aberto a re leitutns, io um objeto para consumo passivo, mas um objeto a ser ‘tabalhado pelo pesquisador para produzie sentido. Palavras-chave: de Politica Analise. Politica educacional (Documento/Trabalho sob anilise). Discurso politico, = Professora do Deparamento de Psnudos Bspodilizados em iidueagio de Cetra (tecias da Pducae da Inivenidade “eer de Santa Catarina - LSC. Doutora e ade poia Universi satadual de Cammpsas — UNICAMP. * Profess.ra do Mestrado em Fuducagso da Uaiemsidade do Oeste de Santa Catarina (UNGESC), Doutor em Educaeao pela Universidade Federal de Santa Catrina ~ UPSC. ‘rofexsona do Mest em ue da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL. outora em Eaucagio pela Univesdace Fskeral de Santa Catarina — UIC. PERSPECTIVA, Fosipoly «25, 1.02, 42.146, julie, 2005, hups//www.eedufsede/nu.leos/aup/perspectivadil 428 Facile Ot Shins, Rasa Vitine Campo» Rosas Mana Cares Curia Introducio A prolieragao de documentos referentes a reforma edneacional ‘implementada pelo Ministerio da Edueacio na wtima década do século XX mobilizou pesquisadores das diferentes sub-arcas da Educagio a se debrugacem sobre o fema, com o innuito de compreender tanto o contetido da reforma quanvo os mecanismos envolvidos na difustio da mesma. O objetivo deste artigo é apresentar os subsidios teérico-metodolégicos utiliaados por nosso grupo de pesquisa’ para realizar uma anilise da politica tendo por base os conccitos, © contetido os discursos presentes nos, documentos de organismos nacionais ¢ internacionais, © acompanhamento sistematico das publicagdes nacionais & internacionais sobre politica educacional dos iltimos quinze anos permitiu- ‘nos constatar uma transformacio no discurso utilizado por tas instituigdes. No inicio dos anos de 1990, predominaram os argumentos em prol da qualidade, competitividade, produtividade, eficiéncia, ¢ eficicia; a0 final da década percebe-se uma guinada do viés explicitamente cconomicista para uma face mais humanitaria na politica cducacional, sugerida pela crescente énfase nos conceitos de ustiga, eqiiddade, coesao social, inclusio, cenpovernent, oportunidade e seguranca (WORLD BANK, 2000). Jalavras importam, fazem diferenga, era alerta feito por umn importante selatério, caborado,em 1995, pela Comision on Wealth Creation and Sai Cabeson da Uniio Kuropéia presidida por Datrendorf (1995). Dedicou um capitulo inteiro a0 tratamento do * vocabulirio para mudanga”, Iniciava dizendo: swords matter. Vsse rclatério propos que rompésscmos a prisio do vocabulaio «que ignora importantes elementos do “bem-cstar” ¢, para fazé lo, sugeriu 0 uso de alguns termos especialmente importantes, como: rigueza (wea), desenvolvimento sustentive, inclusio, flexibilidade, seguranca e liberdade, comprometimento, beneficiérios (stakeholder), eidacania, dominio ptblico, redes de cooperagio ¢ voluntarismo, indicaci s dessa natureza resultam fandamentais na producio do. que Jameson (1997) denomina de “hegemonia discursiva”. De fit, a literatura derivada das pesquisas comparativas aponta uma tendéncia cerescente i homogencizacio das politieas educacion: Podemos constatar, por exemplo, que entre os pesquisadores brasileiros sdio cada vez mais comuns mengées de trechos de documentos ¢ relatirios, nnacionais¢ internacionais, sso nao significa mera transposigo ou negligéncia PERSPECTIVA, Florundpol © 2.9.02, p.A2I-Ahy, fle. 2005, hup://www.ceduftebe/aueleos/aup/perspeetiva bl Dison kxes pare eneprende a patie ude rir merdaigies 429 dos pesquisadores com relagao aos elementos de contexto que propiciam ‘ou estimulam determinado tipo de politica em eadla formagio social. Pelo contritio, acompanhar 9 movimento das reformas nos paises como, Estados Unidos ¢ Inglaterra, citados como modelo de reforma educacional exitosa pelos organismos internacionais, nos permite compreender, guardadas as particularidades, a natureza das medidas que recomendam aos chamados “paises emergentes”, Colabora para a construcio dessa “hegemonia discursiva” a disseminagio massiva de documentos oficiais, Considerados uma “mina » relevantes tanto porque de ouro’ por pesqpisadores, estes documentos fornecem pistas sobre como as instituigies explicam a realidade ¢ buscam dos para sua legitimar suas atividades, quanto pelos mecanismos util publicizacio, uma vez que muitos dos documentos oficiais, nacionais © internacionais sao, hoje, facilmente obtidos via internet. Talver. resida af uma, das principais explicagdes para a disseminacio massiva de documentos digitais eimpressos: popularizar um conjunto de informagies ¢justificativas «que tornem as reformas legitimas almejadas, ‘A vulgarizacio do “vocabubirio da reforma” pode ser considerada uma estratégia de legitimagao cficaz na medida em que consegue “colonizar” 6 discurso, © pensamento educacional se espalhar no cotidiano como demanda imprescindivel da “modernidade”. ‘Alguns twéricos se referem a este fendmeno como “globalizagio das politicas sociais”, uma vez que evidenciam certa similitude nos passos das reformas implementadas por diferentes Estados nacionais, ou como, “epidemia politica” (LEVIN, 1998) ou, ainda, migracio ou internacionalizacio da politica. Para compreendé-lo de forma apropriada € necessirio dar atengio & linguagem. Poder-se-ia argumentar que nio hi ‘ada de novo em relacionas linguagem ¢ politica nem em sugerir que a relagio entre elas nao é 56 de teflexio ou de mistificagao ideoligica, mas de constituigo miitua. De fato, conecitos tais como coesio soci inclusio, aprender a aprender, cidadania ¢ profissionalizagio no so novos; alguns foram buscadlos em autores de sGeulos passados. Nova parece ser a brie’, a forma com que sio apresentados, como vim sendo utilizados nos documentos que oticntam as politicas piblicas contemporsineas, ademais das condigies histéricas que Ihe conferem este ou aquele sentido, Tal fenémeno pode ser observado em diferentes setores, como na satide © servico social, mas no escopo deste trabalho vamos nos ater ao educacional PERSPECTIVA, Fosinnipol, w 25, 02, pp 427-446, julie. 2005, hup://www.ced fic nuleos/aup/perpectiva.iall 430 Hace Ot Shins, Resa Vatine Campar ¢ Resalhe Maris Care Caria Pardimetros internactonais para Educagio [As reformas educacionais desencadeadas nos Hstados Unidos Inglaterra com a publicagio dos relatirios The Paideia Pripasal (ADLER, 1982) eA Nation at Risk (1983) forneccram as bases para a avalanche de seformas verificadas em viios paises nas tltimas décadas (APPLE, 1995). Nessa emprcitada, tiveram marcada influgneia 0s orgunismos mullateras como Banco Mundial (BM), Organizagio das Nacies Unidas para a Educagio, a Ciéncia ¢ a Culeura (UNESCO), Organizagio pata a Cooperagio ¢ Desenvolvimento Eeondmico (OCDE), Programa das Nagées Unidas para © Descavolvimento (PNUD), entre outros, que por meio de seus documentos nio apenas prescreviam as orientagSes a serem adotadas, mas também produriam o discurso “justificador” das reformas. que, preparadas em outros contextos, necessitavam crigic conscnsos locais para sua implementagio, Tais agncias produviram a reforma e exportaram também a tecnologia de fazer reformas. De acordo com os priprios documentos, a década de 1990 foi a de formulagao da primeira geracio de reformas, agora é tempo de implementi-las. Para pensarmos formas de compreender e intervir crticamente neste processo & fundamental investigar como a ideologia, a logica e a racionalidade que dio sustentagio a esta reforma se articulam com os interesses, valores, perspectivas dos sujeitos que, a0 fim © a0 cabo, so os «que realizam as mudancas. Quais os caminhos trilhados na busca de legitimagio das reformas? Se entendermos discurso como expressio ¢ dirctriz de priticas sociais, indagamos: como seriam eles capares de transformar as priticas que ovorrem nas instituigdes educacionais? Como chegam a alterar a cultura das escolares, as priticas e relagBes socials que s como poderemos construir novas lentes para interpretar os textos da reforma, comproender ¢ intervir crticamente nos ramos desta politica? ‘As recomendagies presentes nos documentos de politica educacional amplamente divulgados por meios impressos ¢ dgitais nao so prontamente assimilaveis ou aplicavcis. Sua implementagio cxige que sejam traduridas, interpretadas, adaptadas de acordo com as vicissitudes € 0s jogos politicos que configuram o campo da educagio em cada pais regio, Localidad; tal processo implica, de certo modo, uma reescritura das prescribes, o que coloca para os estudiosos a tarefa de compreender a racionalidade que os PERSPECTIVA, Forno» 25, n. 02, p.A2T-446, uber, 2005, hups//www.ced uf be/auleos/aup/perspectiva bal Daan kes pare comprcnder a pale ies bri mtadeligces 34 informa © que, muitas vezes, parece contraditéria, fomentando medidas «que aparentam ir em direcio contraria a0 que propoem. Apesar do acesso facilitado aos documentos proporcionado pela internt,sinda carecemos de ferramentas diversificadas de conceitos ¢ worias para analisar os textos que propdem mudanga nas politieas, Para Ball (1994), 6s sigaificados que atribuimos 20 conccito de politica afetam 0 como ppesquisamos € 0 como interpretamos 0 que encontramos. O autor discorda da concepcio de politica como “coisa”. [im sua opiniio, politicas si, 20 mesmo tempo, processos € resultados. Quando focamos analiticamente ‘uma politica ou um texto no devemos esquecer de outras politicas & textos que estio em circulagio coetancamente ¢ que a implementacio de ‘uma pode inibir ou contrariar a de outra, pois a politica edueacional interage com as politicas de outros campos. (BALL, 19%; TAYLOR, 1997). Aléen disso, ¢ preciso considerar que os textos sao freqiientemente coniradit6rios, Por isso, devem ser lidos em relagio a0 tempo e particular contexto em que foram produzidos e também devem ser confrontados a outros do, mesmo period ¢ local (BOWE; BALL, 1992)'. ‘Como ja assinalamos, embora caracterizados por um tom prescritivo, € recorrendo a argumento de autoridade, os textos da politica dio margem a interpretagdes € reinterpretacoes, gerando, como conseqiiencia,attibuicao de significados ede sentidos diversos a um mesmo termo. Esses significadlos € sentidos apresentam-se, niio raro, em competigio com outros veiculados, [or outros textos € outros discursos. Fairclough (2001, p. 105) alerta: FE preciso lembrar todavia que, embora sociais 0s significados, os sensidos com que as palavras so cmpregadas “entram em disputas dentro de lutas mais amplas”, uma vez que, “as estruurages purticulares das relugdes entre as pulavras e das relagbes entre os sentidos de uma palavra sto formas de hegemonia Partindo do suposto da politica como proceso, uma contribuicao interessante para a anilise desses documentos parece decorrer da exploragio das conteadigées internas as formulagées, posto que os textos evidenciam vores discordantes, em disputa. I nesse campo de disputas que a “hegemonia discursiva” se produ. Para Bowe ¢ Ball (1992, p. 26), ‘achave para ganar hegemonia é geralmente daquele grupo que consegue estabelecer os parimetros dos termos do debate, lo grupo que consegue incomporar PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 432, Facile Ou Shins, Rasa Vitine Campar ¢ Resalhe Maris Care Caria as demandas de outros grupos que estiio em competigio no interior de seu proprio discurso sobre ealucagio e metas soci isse terreno de disputas nfo é apenas conccitual; de fato, as disputas, impregnam os textos das condiglics ¢ intengSes politicas que marearam sua produgio, expressando interesses ltigantes. Vale observa, contudo, que inteng6es politicas podem conter ambigiidades, contradicdes © omissGes que fomecem oportunidades particulares para screm debatidas no processo de sua implementagio. O controle sobre a representacio da politica, logo, sobre a hegemonia discursiva, nao é problema de ficil solucio; uma das armadilhas das quais tems que nos desvencilhar é0 uso eonstante da retirica caatribuigio de diferentes sign BALL, 1992). Por isso, textos devem ser lidos cam © comin outros, ou seja, dos ¢ sentidos aos termos chave. (BOWES compreendidos em sua articulagao ou confronto com outros textos. Tal movimento, que fecunda © campo da educacio com discursos produzidlos em outros campos discussivos, demarea um novo terreno de analise — a intertextualidade como uma dimensio constituinte dos textos da reforma. Scgundo Faisclough (2001, p. 135), “o coneeito de intertextualidade aponta para a produtividade dos textos, para como os textos podem transformar textos anteriores ¢ reestruturar as convengdes cxistentes”; esse movimento, que atesta a historicidade intrinseea dos textos, pois implica uma dupla relagao ~ dos textos na histétia © da historia nos textos — permite compreender também os processos intestextuai como processos de lata hegemd cliseurso, que tim eins sobre a ita heeminica, assim jca na esfera do etados por cla no sentido mais amplo, Intertestualidade é basicamente a propriedade que tem. 1s textos de serem cheios de fragmentos de outros textos, que podem ser delimitados expliciamente ow mesclados ¢ que 0 texto pode assimila, contradizer, ecoar ironicamente, © assim por diante. (PNIRCLOUGH, 2001, p. 114) (© autor comenta a dimensio textual do discurso sobre mudanca social: A muclanga deixa tragos nos textos na forma de co- ocorréncia de elementos contraditorios ow Jnconscientes - meselas de esilos formaise informa, ‘vocabulirios técnicos e nio-téenicos, marcadores de PERSPECTIVA, Forno» 25, n. 02, p.A2T-446, uber, 2005, hups//www.ced uf be/auleos/aup/perspectiva bal far kes pare cmeprender poli abies rir metdaligies 433 tutoridade e familiasidade, formas sintiticas mais ‘ipicamenteeseritase mais tpicamente falas, assem pordiante, A medida que uma tendéncia particular de smudanga discursiva se esebelecee xe rornasobiiticada cmuma nova convengioemergente,oqueé pereebido pelos intérpretes, num primeito momento, como textos esilsticamente contraditrios pente o efeito de “coleha de retalhos”, passando a ser eonsicerado “intiro Tl processo de narunizagio Gessenciel para estabelecer nowvas hegemonias na esfera do discurs. (@PAIRCLOUGH, 2001, p. 128) Os textos também sio consumidos diferentemente em contextos os (FAIRCLOUGH, 2001). Eles tém clara relagio com os contextos particulares em que sio produzidos usados, Os textos das reformas educativas de muitos paises tansformaram-se numa bricolagem. de pecas sobre ensino formando um novo discurso pedagdgieo*. Como texto, podem ser descontextualizados do local de origem recontextualizados numa nova montage, (BERNSTEIN apud BOWE; BALL, 1992). Nesse sentido, a “desconsteucio” dos textos visando a compreensio de seu proceso de producio torna-se um importante mecanismo de anilise discursiva, na medida em que permite localizar as inconsisténcia dos textos, os pontos em que transgride os limites dentro uum texto nao é sociais divers dos quais foi consteuido. Composto por contradicies, restrito a uma tinica, harmoniosa leitura, Pelo contrario, torna-se plural, aberto a re-leituras, nio mais um objeto para consumo passivo, mas um objeto a ser teabalhado pelo leitor para produzir sentido (BELSEY, 1980). Se os textos sio, a0 mesmo tempo, produto © produtores de oricntagdes politicas no campo da educagio, sua difusio © promulgacio ‘geram também situagdes de mudangas ou inovagdes, experienciadas no contexto das priticas educativas, Relembrando que os textos de polit no so simplesmente recebidos ¢ implementados, mas, a0 contrario, dentro da arena da pritica esto sujeitos a interpretagio e recriacio. Podemos abordar, por exemplo, a legislacio como dimensio de um processo continuo, cujo dbaur de poder esté constantemente mudando. Da mesma mancira, podemos observar como os virios recursos implictos e explicitos ros textos so recontextualizados e empregados na luta por mantcr ou mudar certas visdes sobre escolarizagao (BOWE; BALL, 1992) PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 434. Facile Ot Shins, Rasa Vitine Campat ¢ Resalhe Maris Car Caria Anilise de contextos para compreensio da politica Bowe ¢ Ball (1992) propdem um modelo de ani educacional que abrange ¢ de politica 4) contexte de influénce onde a elaboragio da politica pablica normalmente tem inicio c onde os discursos politicos sio construidos. FS aqui que as partes interessadas disputam a definicZo e propdstos sociais da educacio. Envolvem grupos que influenciam © governo, mas nao so cles gue determinam dirctamente a politica, (BOWE; BALL 1992, p. 19-20); }) cantexto da produrao de textos: inclucm documentos oficiais que “epresentam” a politica, a narrativa que Ihe da suporte; textos politicos, so normalmente articulados 4 linguagem do piiblieo em geral, ua narrativa catacteriza-se pelo populismo, senso comum € apelo a raza0 politica. Cumpre lembrar que os textos repsescntam a politica, mas, iio so a politica. Essa representagio pode adquirie virias formas: textos oficiais ¢ documentos politicos. Listes textos serio lidos, jntcrpretados, por vezes mal intexprctados, compreendidos ou nio, ¢ reinterpretados, “Fimbora desejem, os autores no podem ter controle sobre 0s significados que serio atribuides aos seus textos. Paste dos, textos pode ser rejeitada, exelutda, ignorada, deliberadamente mal catendida.” (BOWE; BALL, 1992, p. 22). Por esta razao, buscando assegurar uma compreensio uniforme, acorde com as intengdes do(s) antor(es) do(3) documento(s), muitos outros textos que fizem a apologia ds idéias mestras presentes nos documentos oficiais sto difandidos, procurando dar sentido a0s textos oficiais. Aqui a midia e 0 mereado ccitorial exercem um papel extratégicos 4) eontecto da pritice vefere-se 4 esfera da implementagio. Ball (1994) observa que quanto mais ideokjgica ¢ abstrata for uma politica, mais, distante da concepeio da pritica, menor seri a possibilidade de ser incosporada no contexto da pritica. De acordo com 0 autor, os textos produzidos a partir de idealizagdes sobre © mundo real, n30 so exaustivos, sendo portanto incapazes de cobrie as eventualidadles. No contexto das priticas, os educadores sao influenciados pelos discursos da politica, contudo, a leitura diferenciada dos mesmos pode conduzir a consegjigncias nao previstas pelos reformadores ¢ levar a implicagdes priticas diferentes® PERSPECTIVA, Forno» 25, n. 02, p.A2T-446, uber, 2005, hups//www.ced uf be/auleos/aup/perspectiva bal Dasfar kes pare emeprcnder a police tbe wri metdeligins 438 Fm trabalho posterior, Ball (1994) propde dois outros contextos «que merecem scr investigados: 0 context des resutades, dos efeitos da politica, © 0 contexto das estatégiaspoltcas que podetiam mais, dos problemas diagnosticados Autores como Ozga (2000), Bowe e Ball (1992) alegam que ja contamos com uma extensa produgao de analises de documentos politicos etivamente dar conta bascadas em tcorias ¢ abordagens de nivel maceo-social. Ressaltam, contudo, que earecemos de literatura que trate da articulagio entre niveis, macto ¢ micto de anilise, que considere, por exemplo, a percepeio © a experiéncia dos sujeitos, o poder potencial de professores ou estudantes em subverter as pesadas méos da economia ou do Estado — as vores de dirctores, professores ¢ estudantes, na maioria das vezes, permanece silenciada —; que considere como as intengdes embutidas nos textos politicos sio disseminadas na escola © como aspectos das situagies escolares nao apenas refletem desenvolvimentos na arena politica © econémica (BOWE; BALL, 1992) Segundo Bowe ¢ Ball (1992), a geragio ¢ implementagio da politica sio momentos distintos. A despeito do discurso da descentralizacio, crescem as politicas centralizadoras de administragio. A politica educacional recente tem se caractetizado pela falta de consulta popular ¢ anterior & claboracio da legislagio. Politicos e buroceatas esto cada vex mais distantes € desconeciados dos destinatirios, dos que “reccherao” a politica, O elemento de controle revela um forte desejo de excluir professores, servidores, sindicatos, os sujeitos que serio afetados pela politica Para os propositos desse artigo, nos deteremos na analise do segundo contexto assinalado por Bowe e Ball (1992) ~ o contexto da producto dos textos. Interessa-nos analisar os subs ios que diferentes teorias, fornecem para a anilise dos documentos que informam ao mesmo tempo que conformam 0 contexto das reformas educacionais, Referenciados nos. autores acima citados © nas contribuiges de Fairclough (2001), interessa- ‘nos a anilise dos contetidos dos discursos, mas sobretudo os sentidos que produzem © as condighes em que sio produzidos, pois “ainda que as representagdes da realidade venham sendo problematizadas nas anzlises do discurso, as priticas pelas quais essas representacdes sio produzidas ainda nio foram perseguidas com profundidade.” (EDWARDS; NICOLIs TAIT, 1999, p. 618). PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 436 Hace Ot Shins, Raslae Vatine Campar ¢ Reualhe Maris Care Caria Dinamicas interativas na producio ¢ reprodugio do: textos De acordo com Ball (1994), textos de politica nao esto enclausurados: em seus significado; estes nem sempre esto fixadlos ou So elaros. Ademai, a tentativa de “transportar” os significados de uma arena politica © de um contexto edueacional para outro esti sujita a equivocos de interpretagao & contestagio (BOWE; BALL, 1992). Esses equivocos sio, muitas ve7es, intrinsecos ao proprio processo de leitura ¢ interpretagio dos textos, uma ver. quea rehcio entre o letore o texto situa-se num contimam entre interpretagio ativa © rocepeio passiva; os textos tm ainda propriedades que permitem a interpretagio criativa, em maior ou menor extensio SCOTT, 2000, p. 80). As miltiplas Icruras pelos textos admitidas, as diferentes intempretagoes © re- intexpretagées de que sio objeto podem provocar a contestacio de seus significados ¢ resultados. Esta possibilidade autoriza vislumbrar resistencia 208 objetivos on propésitos originais;o campo da politica eecacional é 20 mesmo, tempo processo e produto, o que the permite ser contestada e modificada, sempre num estado de viea ser] Autores no podem controlar 0 signifieado de scus textos, enti se esforgam para atingita “correcta” Jeinura, Mas € crucial reconhever que politicas sio produtos de compromissos nos vitios estigios, na icropolitica da formulagio da legislagio no debate entre purkamentares€ na micropolitiea da articulagio, dos grupos de imeresse. (BALL, 1994, p. 16) As extratégias de persuasio do leitor, presentes nas “narrativas” que constituem os textos, prccisam ser consideradas nas anilises. Como apontado no Relatirio Dahrendosf (1995), “palavras fazem diferenca”. Mesmo a investigagio qualitativa nfo deve prescindir da anilise de aspectos internos 20 texto Como o uso recorrente de determinadas palavras-chave. Apple (1995, p. 120) dedica especial atengio a0 uso da palavra “nosso” (au) presente nos documentos educacionais: |] no relariro escrito pela Comissio Nacional sobre Bsc cia na Fducacio, contiavamente encontramos referdncias a um conceito particular “nosso”, Teata se do “nosso pais”, “nosso sistema escolar”, “nossa sociedad democritia”, : exatamente nessa construgdo que esti 0 perigo. Porque o repetido uso do possessivo “nosso” ocala PERSPECTIVA, Forinpoly 25, n. 02, p.A2T-446, jul (ler, 2005, hup://wwwcedufsebe/aueleos/aup/perspeetiva bl Dafa keer pare cmepronder pole abies wri metdoligies ABT 1 realidade de relagdes que sio estruturalmente desis relagies que nao so devidhs Zedueacioe ino serio resolvidas por ela Em sua discussio sobre a mancira como os documentos oficiais ¢ 0s relat6rios utiliza a linguagem com a finalidade de mobilizar pessoas em diregio 20 consenso social, em especial quando esse consenso se acha ameagado por uma crise econdmica ¢ politica emergente, Apple (1995, p. 120) deseavolve © seguinte argumento: Enotivela veratilidade do possessivo “nosso” dent dese contexte. Heiuma sugestio na expresso “nosso” sistema educacional de que o estado social demoerition fomece edueagio para “eles”. Nosso pais sugere a tunidade de todos os “eidados”|.J Nosso pretende significar 0 vinculo imaginssio entre governantes € ovemados ¢, desse modo, silenciosamente confront ‘materialidade das relagies de classe de dominio & subordinagio, “Nosso” tra 0 cidadi vole seu hygarno processo de explorigio pelo capita istratégias discussivas desse tipo também podem ser encontradas, em relatérios do tipo de A Nation at Risk (1983), cuja linguagem, fazendo, alusio ao risco — busca oferecer protect, seguranca para todos de modo «que tantas pessoas quantas forem possiveis possam caber sob seu “guarda- chuva lingiistico” — pretende também mobilizar para a aco, fazendo um. cidadit de certo tipo de apelo que visa justificar a canalizagao de recursos © poder politicos, escassos, para determinados fins especificos. Em fungio de aspectos como estes, a linguagem utilizada nesses rclat6rios necessita scr analisada no s6 pelas informagSes — veridieas ou no — das quais possam ser portadoras, mas antes por seu aspecto retdrico, por sua forma de selegio, organizagio € apresentagao. Deacordo com Apple (1995, p. 137), esses textos utilizar a linguagem do “bem piiblico”, 20 mesmo tempo em que alinham mais estretamente 0 sistema educacional 4s necessidades do sctor empresatial. Assim, 0 que é considerado como bem pablico eaquilo que é considcrado coro conhecimento a ser ensinado em nossas escolas, para satistizer as necessidades do mercado, acabam seriamente distorcidos, Para o autor, esse discurso distorcido pode ajudar os grupos dominantes, mas é de se duuvidar se esses beneficios se compartlhados pelos que nao pertencem a estes grupos, PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 438 Facile Ot Shimane, Raslae Vitine Campat ¢ Reslhe Maris Care Caria (Oso recorrente da nogao de crise para justificaras mudangas pretendidas pelos governos & outro aspecto que podemos assinalar como expressio da ret6rica discursiva presente nas reformas educacionais. Para se enfrentara crise, -miram-se nas estratégias ¢ importam 0 voeabulirio de um setor acostumado a deparar-se com cla e a venei: 0 empresariado, Hexibilidade, beneficiitios, gestio, parceria ¢ © abuso na adogio de termos da economia, como investimento, recursos, inovagdes técnicas, constituem-se, atualmente, nas referencias do discurso reformador (RICHARDS, 1998). linguagem da seréncia educacional baseia-sc largamente nas palavras/wocabulirio do mundo dos negécios (FROWE, 1992). Paulatinamente, os problemas educacionais ‘ao sendo traduzidos como problemas de gestio da educagio, de ma administrgio, Somam-se 4 “lista das palavras mais usadas” voedbulos como monitoramento, gerenciar, avaliar, caracterizando a “linguagem da implementaga0” das medidas recomendadas. (BOWP; BALL, 1992) Tecmos como individualismo, escolha, diversidade, competicio, forgas de mercado, exceléncia, oportunicade, modemnizagio, eficiencia, autonomi responsivel, descentralizagio, apclo a participagio da socicdade civil, & solidaricdade dos voluntérios da comunidade (BOWE; BALL, 1992), cada ‘vex mais prescates nos documentos oficiais, evidenciam no apenas a penetracio da idcologia do gerencialismo na educacio, mas expressam. também a conformagio e produgio de um novo “léxico” educacional , um hibrido de pedagdgico e gerencial. ‘Tomando por base 0 estuclo de uma importante bibliografia dedicada 4 anilise das politicas educacionais, observamos que algumas caracteristicas, discursivas sio citadas pelos autores de forma freqiiente: a presenea da retérica utilitarista, a veiculagio das posigdes dos governos como inequivoeas, consolidando a idéia de “um pensamento nico”, a presenea da representagio de um “mundo real” pré-ordenado (BOWE; BALL, 1992), entre outros. Hsses termos, difundidos macigamente, expressam também um certo modelo de controle pelo Fstado que tende a wifieas os textos politicos, ao tom-los de forma descontextualizada. Separados dos contextos politicos em que foram produviddos, os diseursos oficiais tendem 2 ocultar também a dimensio valorativa que os informa. Por exemplo, quando se afirma que é preciso melhorar a qualidade da educagio: melbor ou qualidade dizem respeito a que conjunto de valores? Melhor dentro de que concepgio de educagio? Segundo Richards (1998), esses termos, envolvem juizos de valores € niio sio generalizacbes factuais. PERSPECTIVA, Forno» 25, n. 02, p.A2T-446, uber, 2005, hups//www.ced uf be/auleos/aup/perspectiva bal Dafa keer pare cmeprender pote abies wri metdeligier 439 Outro mecanismo discursive largamente uiilizado nos textos oficais, 6 a metifora. Recorrendo aos discursos da mecinica, da medicina ou da biologia, os reformadores encontram af rico arsenal léxico para justificar as proposigdes apresentadas. Termos como treinar os professores, habilidades, caixa de ferramentas, equipar os professores, habilidade, ferramentas, linguagem de complexidade técnica, filiam-se a0 campo de conhecimento da meciinica (RICHARDS, 1998), a0 passo que outros, como, inputs, oxtputs, eccursos, unidades, materiais, produtos, expressam a forma reificada com que o discurso gerencial aborda processos, relagbes € sujitos, em contextos educativos. Documentos disseminam afirmagdes sobre o mundo em que vivemos que tanto pretendem oferecer representagies tinieas sobre 2 realidade como, trazer solugdes idealizadas para problemas diagnosticados. Com observar que qualquer discurso, ao enfatizar determinados objetos ¢ certos conccitos, omite outros (BALL, 1994) © estudo aprofandado sobre que conceitos © argumentos a0 privilegiados © quais os intencionalmente “desprezados” nos aproxima da lgica ou racionalidade que sustenta os documentos. Hssa tarefa exige um olhar investigativo sobre os textos oficiais —legislagao, clat6tio, documento — para ler o que dizem, mas também para captar © que “nto dizem””. Para Orlandi (1999, p. 59), 2 andlise dos discursos funciona como um dispositive de interpretacao pari colocar o dito em relago a0 nao dito, o que © sujcito diz em um lugar com 0 que é dito em outro lugar, que é dito de um modo, com que © que é dito de outro, procurando ouvir, naguilo que 0 sujeito diz, aquilo que cle nio diz-mas que constitu igualmente os sentido de suas palavras, A guisa de conclusio Para se compreender a “linguagem da reforma” compartilhamos alpuns pressupostos tedricos da analise do discurso. Iniciamos pela afirmacio da nfo-transparéncia da linguagem. Consideramos, como os tcéricos que estuclamos (ORLANDI, 199% FAIRCLOUGH, 2001), que a linguagem ‘fio se da como cvidéncia, nao é transparente, Por esta razo, nosso interesse 0 trabalhar com documentos niio est4 no texto em si como objeto final de explicagio, mas como unidade de anilise que nos permite ter acesso 20 dixcurso para compreender a politica, Nao tomamos o texto como pontor de partida absoluto, mas, sim, como objeto de interpretacio, PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 440. Hace Ot Shins, Resa Vitine Campar ¢ Reualhe Maris Care Caria A anilise de discurso visa compreender como um objeto simbélico produz. sentidos. De acordo com Orlandi (1999, p. 42), a imagem que temos das coisas se constitui no confronto do simbélieo como politico, em processos, que Tigam discurso e institugoes. [oo sentidos esto sendo produzidos,ju] Os sentidos no esto nas plavras elas mesmas, esto aquém e além dels Por esta razio, continua Orlandi (1999, p. 42) “aio hi anilise de discurso sem a mediagio tedrica permanente. I! mister que a tcoria injervenha a todo momento para ‘reger’ a relagao do analista com o seu objeto, com os sentidos, com cle mesmo, com a interpretagao”, Numa sintese brilhante, a autora afiema que o discurso problematiza a relacio do sujeito com o sentido, da lingua com a histéria (ORLANDI, 1999). Estas consideragdes podem ser combinadas a tese de Fairclough (2001, p. 22) para quem fs diseursos no apenas refletem ow representa centidades e relgies soci, eles as eonstrvem ou 35 “eonstniem’ diferentes discusos constinuem entidades have de diferentes moxdos e posicionam as pessoas de diversas manciras como sujctos soci a diferentes, dlseurss se combinam em condligies sociaispariculres para produzie um novo e complex diseurso, Assim, na acepgio de Fairclough (2001), os discursos so, a. um s6 tempo, texto, pritica discursiva e pritica social. 1 a partir dessa concepeio tridimensional de discurso que © autor aponta estudo das mudancas, discursivas como um meio para se apscender as mudaneas sociais. Discurso € estrutura social constituem-se dialeticamente: “a tltima é tanto uma condigio como um efeito da primeira.” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91). Alerta-nos, contudo, © autor para os ertos advindos da énfase indevida tem um desses aspectos, quer no discusso, quer na estrutura social — 0 que pode levar a um determinismo social, tratando, neste caso, 0 discurso como mero reflexo da realidade ou, contrariamente, a énfase na construgao social do discurso, tomando-0 como fonte idealizada do social. Eo discurso comprcendido como pritica social que nos possibilita aprender as dimensSes politicas ¢ ideoldgicas que também 0 constituem: ‘odiscurso como pritica politica estabelece, mantém e rmansfirma as relacies de poder eas entidades coletivas Jel O discurso como pritica ideolégica constitu, PERSPECTIVA, Forno» 25, n. 02, p.A2T-446, uber, 2005, hups//www.ced uf be/auleos/aup/perspectiva bal Diafar kes ae compen a palsies rie metadeigins AAA natualiza, mantém e transforma os sigifieados do mundo de posigies diversas nas relagbes de poder (PAIRCLOUGH, 2001, p. 94). A dimensio ideol6gica como constitutiva dos diseussos & também ressaltada por Orlandi (2001, p. 47): “a ideologia fax parte, ou melhor, & a condigio para a constituicio do sujeito ¢ dos sentido” Referenciando-se nas coniribuigdes de Pecheux, a autora da ideologia “é a de dissimular sua existéncia no interior de seu proprio funcionamento”, produzindo novas evidéncias subjetivas, fizendo aparecer como “transparente” aquilo que se “constitui pela remissio a um conjunto, de formagies discursivas que funcionam como uma dominante.” (ORLANDI, 2001, p. 46). Assim, podemos constatar, por exemplo, como caracteristca marcante nala que a caracteistica comum nos documentos de politicas piblicas dos organismos internacionais a presenga do discurso fundador que re-significa 0 que veio antes ¢ institui ai uma meméria outra, (ORLANDI, 1995, p. 13). Tal “esquecimento” no, dominio da cnunciacio di a impressto de que o supostamente “novo” poderia ser dito daquela mancira. Esse expediente tem caracterizado as publicagécs sobre politica educacional de organismos internacionais. interesse do presente texto é precisamente contribuir para a construgio de. ‘uma metodologia critica para a anilise de documentos, teabalhando n0 sentido de desfazer os efeitos dessa ilusio. Nesse campo de mudanga histérica nas formagées discursivas, Fairclough (2001) localiza as possibilidades de mudanca, pois se, por um lado, a dimensio ideol6gica & constitutiva das formagies discursivas, por outro, as articulagées entre diferentes ordens de discurso (interdiseursividade) nio sio harménicas ou homogéneas; a0 conteivio, slo relagdes tensas ¢ contraditérias, Conforme diz 0 autor, uma conseqiiéncia dessas lutas articulatérias constituidos mediante a redefini¢io de limites entre os clementos antigos.” (PAIRCLOUGHL, 2001, p. 97). Nosso empenho em mergulhar nos documentos a fim de compreender ‘é que novos clementos so a complexa teia conecitual em tomo da qual se estrutura a linguagem da reforma, pretende dar relevo aos processos intertextuais que constituem os discursos. Com Fairclough (2001), compreendemos que os processos de contestagio © reestruturagio de ordens de discurso sio processos de lta hegeménica na esfera do discurso, afetados pela Iuta hegemdnica no sentido PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 442 Hace Ot Shins, Reslae Valine Campat ¢ Resalhe Maris Car Caria ‘mais amplo, mas que também tém efeito sobre cht, Representa um esforgo para evidenciar o siléncio que sempre acompanha as palavras. Este silencio pode ser pensado como & respiracio da significacio. “Um lugar de recuo nocessitio para que se possa significar; para que o sentido faca sentidol.] Um siléncio fundador: siléncio que indica que o sentido pode sempre ser outro.” (ORLANDI, 1999, p. 83). Notas 1 Publicagées do Grupo de Estudos sobre Politics Fdueacional e Tra balho (GEPRTO) —estao—disponiveis no website - 2 Thinteressante observar que no mesmo period foi lancado, no Bra- sil, um programa do Ministério do Trabalho, © Plano Nacional de Educagio Profissional (PLANFOR), antecessor do Plano Nacional de Qualificagio do trabalhador (PNQ) que tinha como objetivos centrais promover a empregabilidade ¢ a geragio de renda, Bricolage é a atividade de aproveitar coisas usadas, quebradas ou apropriadas para uso, em um novo artanjo ou em uma nova fungio. Lévi-Steauss introduziu este termo na linguagem antropolégica para caracterizar a atividade mito-poética (DUTRA, 1988). 4 Consideramos importante incorporar no nosso Banco de Docu mentos também textos relacionados 4 politica educacional oriun- dos de outros ministésios € Grgios nao diretamente ligados & edu- cacio, como Ministério do Trabalho © Emprego, Ministério da Ciéncia ¢ Tecnologia, Organizacio Internacional do Trabalho (OIT, PNUD, Organizacio (OCDE), OEL, Camara das Amési- cas, Organizagao dos Estados Americanos (OBA), Banco Mun- dial, entre outros. 5 Podemos citar como exemplo dessa situagio em que um texto pro- duzido em outro contexto passa a scr assimilado como “cartlha pedagégica” sio os quatro pilares da educacio propostos no Relaté- rin Delors (1999) — aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver — que passaram a ser referenciais para muitos educadores no Brasil PERSPECTIVA, Forno» 25, n. 02, p.A2T-446, uber, 2005, hups//www.ced uf be/auleos/aup/perspectiva bal afar kee precede ple: nbs crises AAS 6 titulo de iustragio podemos mencionar as mudancas recentes no Reino Unido que trouxeram implicagies muito diferentes para professores em sala de anla ¢ dirctores. Os iltimos tiveram sua responsabilidad ¢ poder sobre os primcinos aumentados (BALL, 1994). Referéncias ADLER, M.The paideie proposal. New York: Macmillan, 1982, APPLE, M. W. Trububo docente ¢ texts: economia politica das relagies de classe e de género em educagao, Porto Alegre: Artes Médicas,1995. BALL, S. Fdwcation reform. A estical and post-structural approach, Buckingham: Open University Press,1994. BELSED ,C. Critical practice. New York: Methuen, 1980. BOWE, Rs BALL, S. Reforming education and changing schools, case: studies in policy sociology. London: Routledge, 1992. DAHRENDORE, R. etal Repor an mealh ovation aed scl cobeson ina foe me. London: The Comission on wealth creation and social cohesion, 1995. DELORS, J. Fduaazio. um tesouro a descobrit. 3, ed. Sio Paulo: Cortez: Brasilia, DI:MEC/UNESCO, 1999. Relat6rio para a UNESCO da Comissio Internacional sobre Edueagio para 0 séeulo XX DUTRA, |. PA utopia da mudanga nas relagdes de poder na gestio de recursos huumanos. In: FLEURY, Maria T. L.; FISCHER, Rosa (Coord,) Culture pader nas organizes. Sa0 Paulo: Atlas, 1989. EDWARDS, R; NICOLL, K; TAIT, A. Migrating metaphors: the globalization of Aexibility in policy. Journal of Education Poly, London, 14, 6, p. 617-630, nov. 1999, FAIRCLOUGH, N. Discurso e amdanca socal. Brasilia: Universidade de Brasflia, 2001. FROWE, I. Persuasive forces: language, ideology and education. In: ANDREWS, R. (Hd). Rebirth of rethoric essays i laguage, culture and education. London: Routledge, 1992 PERSPECTIVA, Hosinnipol, w 25, 1.02, po 427-446, julie. 2005, hup://www.ced ufc nucleos/aup/perspectivastal 444 Hace Ot Shins, Rasa Vitis Campar ¢ Reualhe Maris Care Caria JAMESON, F. Pis-modernisme: a logica cultural do capitalismo tardio. 2. ed. Sie Paulo: Atica, 1997. LEVIN, B. An epidemic of education poliey: (what) can we learn from cach other? Comparative Fdwcation, Nbingdon, 34, n. 2, p. 131-141,1998, A NATION AT RISK. Report to the Nation and the Secretary of Education of the United States Department of Education by the National Commissions on Excelence in Education. Washington, Abril, 1983, ORLANDI, E. P. Andie de dscurso: principios © procedimentos. Campi- nas, SP: Pontes, 1999, Discurso fendador, Campinas, SP: Pontes, 1993. «Al linguagem ¢ se fincionamente as formas do discusso. 4. ed. spinas, SP: Pontes, 2001 on ‘A, J. Policy research in educational setinge constested tereain. Buckingham: Open University Press, 2008. RICHARDS, C. et al. Primary teaching high status? high standards? a personal response to recent initiatives. London: Falmer Press, 1998, SCOTT, D. Realism and educational research new perspectives and possibilities. London: Routledge Falmer, 2000. “TAYLOR, S. ot al. Fiducutional poly and the poltics of charge. London: Routledge, 1997. WORLD BANK. World Development Report 2000/2001. Disponivel em: . Acesso em: 10 maio 2001 = Educational change in Latin America and the Caribbean. World Bank: SHD. Disponivel em: < hup://wwwworldbankorg >. Acesso em: 23 set. 2000. PERSPECTIVA, Forinpoly 25, n. 02, p.A2T-446, jul (ler, 2005, hup://wwwcedufsebe/aueleos/aup/perspeetiva bl Dafa keer pare enepronder pole abies rir metdaligies AB To decipher texts in order to understand policies: theoretical- methodological support for document analysis Abstract: Thisanidedbomscsome temtcaleneepes used by our search group to develop a method! to analyze decuments related 1 Ealucational Policy based on concepts, contents and discourses found in houments Thetextsarconlyasttngpoint ‘we do not aim to condacta pare discourse analysis, but our goal sto understand the policies through document analysis, We consider the discursive hegemony, the colonization of vocabulary of reform, the bricnlyge oF concepts that sck to develop rnew lenses to interpret texts of the calucatonal eforny to read what they Ital to capt hatthey donot sy: We ‘undensand wxtsaspoducsand pincers ‘of poll orientations. The meanings re sot given in documents, they are prochice! Dyreadens theyan: found beyond the words thatcomposethem Porthisreaon, we focus upon the preliminary versions of documents, complementary tests and the ‘ontestin which offical texts werepreucel, thus articulating maczo and miso vels of analysis in this approach, 2 document is snot restricted to a single an harmonious acl, tis subject to madipe acing it is not an object of passive consumption, Dut an object to be investigated by searcher none toproduce meaning, Key words: Politics-analysis, Kducational policy. (Documents under analysis). Policy discourse. PERSPECTIVA, Howiantpe bap: //wewced fsb cle Descifrar los textos para comprender la politica: subsidios te6rico-metodoldgicos para el anilisis de documentos Resumen: En el presente articulo se diseuten algunos subsicios teiticosutizados por nuestro grupo de investigacin para analizar la politica. Fl desareoll de un métoxto de anilisis documental de la politica educativa esti basado en los coneeptos, los eonrenidos y los discur sos presentes en los documentos. Los textos son solamente un punto de par fia: nuestra meta no es realizar anlisis del discurso, sino entender a politica por medio del anilsis documental. Discut mos la hegemonia discursiva, la colonizacién del vocabulario, el “bricolje” de conceptos pars desarollar nuevas lentes para interpreta los textos dela reforma educativas para ler lo que «dicen, pero también para eapar lo que “no dicen”. Entendemos los textos como producto y productores de las brientaciones de a politica Ls significa dos no son dados en los documentos, son producidos, estin antes y mis alli de las palabras que los componen. Por esta razén, no focalizamos asladamente uun-cocumento, sino en sus versiones preliminares, textos complementation, asicomo el contextode influencia y dela produceiinde textos, artculando el nivel macro y mero delanliss. En esta pers Pectiva, un documento nose restinge a tun sentido nico y armonioso. Al con. tratio,esabiertoa las e-leturas,y no es tun objeto de a consumicidn pasiva, sno 1623, 0.02, pe ADT-M6, jer, 2005 /ap/perspecsiva el 445. Enid Ot Shire, Roslae Fine Campus ¢ Rosalba Maria Carin Garcia tun objeto para ser trabajadlo por losin vestigadores para producis sentido, Palabras-clave: [Eeida Oto Shicoma Universite Federal de Santa Catarina EED/CED/UFSC (Campus Universiti ~ "Trindade 88.04).600 Plriandpolis SC Femuiteneida Deed.ufsebr Roselane Pima Campos 181, casa 19 892 40260 Joinville, SC Famait rose # campos@termcom br Rosalba Masia Cardone Garcia Viversdade do Sel de Santa Catarina Curso de Mestrado em Tiducasio, ‘Aw. Marcolino Martins Cabral, $2, Centro 8701-000 “Tubatio, SC FRecebid em + 05/08/2005 Esmuit cosa_eampeche@uolcom.br Aprovada me 05/08/2005 [PERSPECTIVA, Hounds, © 28,0. 02, 427-446, jl/dex 2005 hhups//weww.ced.ufse be auleos/aup /perspectiva be

You might also like