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ANOTAÇÕES DE AULA
4º PERÍODO DE CONTÁBEIS – 2022
DISCIPLINA: CONTABILIDADE PÚBLICA- PARTE II
1 RECEITA PÚBLICA
Kohama (2010, p.60) concorda com Araújo et al (2009) e define a receita pública como
Entende-se genericamente por Receita Pública todo e qualquer recolhimento feito aos cofres
públicos, quer seja efetivado através de numerário ou outros bens representativos de valores
– que o Governo tem o direito de arrecadar em virtude de leis, contratos ou quaisquer outros
títulos de que derivem direitos a favor do Estado-, quer seja oriundo de alguma finalidade
específica, cuja arrecadação lhe pertença ou caso figure como depositário dos valores que
não lhe pertencem. (KOHAMA, 2010, p. 60 )
Diferente do que ocorre em entidades privadas, nas entidades públicas são consideradas
receitas todos os valores que sejam recolhidos aos cofres públicos, ou seja, são receitas os valores
que de fato pertencem à entidade como os que estão sendo recolhidos na condição de depositários
transitórios. (KOHAMA, 2010)
Conforme ensina Slomski (2009) a receita pública pode ser distinguida em receita
orçamentária e receita extraorçamentária.
Ingressos extraorçamentários são recursos financeiros de caráter temporário, do qual o Estado
é mero agente depositário. Sua devolução não se sujeita a autorização legislativa, portanto, não
integram a Lei Orçamentária Anual (LOA). Por serem constituídos por ativos e passivos exigíveis, os
ingressos extraorçamentários, em geral, não têm reflexos no Patrimônio Líquido da Entidade. São
exemplos de ingressos extraorçamentários: os depósitos em caução, as fianças, as operações de
crédito por antecipação de receita orçamentária (ARO)3, a emissão de moeda, e outras entradas
compensatórias no ativo e passivo financeiros4. (MCASP, 2021)
Já em relação à receita orçamentária, o MCASP (2021) determina que “São disponibilidades
de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e que aumentam o saldo financeiro da
instituição. Instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, as receitas
orçamentárias são fontes de recursos utilizadas pelo Estado em programas e ações cuja finalidade
precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade. Essas receitas pertencem ao
Estado, transitam pelo patrimônio do Poder Público e, via de regra, por força do princípio
orçamentário da universalidade, estão previstas na Lei Orçamentária Anual – LOA.”
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A receita orçamentária pertence de fato à entidade, ou seja, são receitas que constam do
orçamento, tais como tributos, rendas, transferências e se classificam em Receitas Correntes e
Receitas de Capital.
Segundo o Manual de contabilidade aplicado ao setor público: parte I as principais
características das duas categorias econômicas de receita pública são:
RECEITAS CORRENTES - Receitas Orçamentárias Correntes são arrecadadas dentro do
exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras do Estado e constituem instrumento
para financiar os objetivos definidos nos programas e ações orçamentários, com vistas a satisfazer
finalidades públicas. Classificam-se como correntes as receitas provenientes de tributos; de
contribuições; da exploração do patrimônio estatal (Patrimonial); da exploração de atividades
econômicas (Agropecuária, Industrial e de Serviços); de recursos financeiros recebidos de outras
pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em
Despesas Correntes (Transferências Correntes); por fim, demais receitas que não se enquadram nos
itens anteriores, nem no conceito de receita de capital (Outras Receitas Correntes).
RECEITAS DE CAPITAL - Receitas Orçamentárias de Capital são arrecadadas dentro do
exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras do Estado e são instrumentos de
financiamento dos programas e ações orçamentários, a fim de se atingirem as finalidades públicas.
Porém, de forma diversa das receitas correntes, as receitas de capital em geral não provocam efeito
sobre o patrimônio líquido. Receitas de Capital são as provenientes tanto da realização de recursos
financeiros oriundos da constituição de dívidas e da conversão, em espécie, de bens e direitos,
quanto de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e destinados a atender
despesas classificáveis em Despesas de Capital.
RECEITAS CORRENTES
Agropecuária- São receitas correntes, constituindo, também, uma origem de receita específica
na classificação orçamentária. Quanto à procedência, trata-se de uma receita originária, com o
Estado atuando como empresário, em pé de igualdade como o particular. Decorrem da
exploração econômica, por parte do ente público, de atividades agropecuárias, tais como a
venda de produtos: agrícolas (grãos, tecnologias, insumos etc.); pecuários (sêmens, técnicas
em inseminação, matrizes etc.); para reflorestamentos etc.
Industrial – Trata-se de receitas correntes, constituindo outra origem específica na
classificação orçamentária da receita. São receitas originárias, provenientes das atividades
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Alienação de Bens – captadas através da venda de bens patrimoniais móveis ou imóveis. Nos termos
do artigo 44 da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, é vedada a aplicação da receita de capital
decorrente da alienação de bens e direitos que integrem o patrimônio público, para financiar despesas
correntes, salvo as destinadas por lei aos regimes previdenciários geral e próprio dos servidores
públicos.
Outras Receitas de Capital – classificação genérica de receitas não classificáveis nas modalidades
acima.
EXERCÍCIO (III)
2- Assinale a alternativa que apresenta o ciclo orçamentário completo de acordo com Kohama e Slomski
A ( ) Estudo e aprovação, execução, avaliação; elaboração.
B ( ) Elaboração, execução, avaliação, apresentação.
C ( ) Elaboração, estudo e aprovação, execução, apresentação.
D ( ) Elaboração, aprovação, execução, avaliação.
3- Assinale Verdadeiro ou Falso nas afirmativas abaixo a respeito da Elaboração do orçamento público.
A ( ) Esta fase é de competência do Poder legislativo.
B ( ) Devem-se levar em conta somente as despesas a serem criadas.
C ( ) O orçamento deverá ser elaborado de acordo com a LDO;
D ( ) Esta fase é de competência do Poder Executivo;
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4- Assinale Verdadeiro ou Falso nas afirmativas abaixo a respeito do Estudo e aprovação do orçamento público.
A ( ) Esta fase é de competência do Poder Legislativo;
B ( ) Deve seguir a LDO.
C ( ) Ocorre a aprovação e/ou acréscimo de emendas;
D ( ) Esta fase é de competência do Poder Executivo.
5- Assinale Verdadeiro ou Falso nas afirmativas abaixo a respeito da Execução do orçamento público.
A ( ) Realiza-se o que foi previsto na Lei do Orçamento;
B ( ) Implica na efetiva mobilização dos recursos humanos, materiais e financeiros programados;
C ( ) Constitui a concretização dos objetivos e metas anuais;
D ( ) É de competência do poder legislativo.
6- Assinale Verdadeiro ou Falso nas afirmativas abaixo a respeito da Avaliação do orçamento público.
A ( ) É de competência do Poder legislativo.
B ( ) A avaliação impõe a necessidade de um sistema estatístico cuja informação básica se obtém em cada
uma das repartições ou órgãos;
C ( ) Esta fase deve ser simultânea à execução;
D ( ) Se constatado que a previsão de receitas não se realizará, o poder público poderá promover nos trinta
dias subsequentes limitações de empenho e movimentação financeira;
8- A receita pública prevista em orçamento e denominada de Receita Pública Orçamentária e a receita pública não
prevista em orçamento é denominada de Receita Pública extraorçamentária.
A ( ) Verdadeiro
B ( ) Falso
9- Assinale abaixo as alternativas que apresentam as principais características da Receita Corrente e da Receia de Capital
respectivamente.
A ( ) Aumentam as disponibilidades financeiras do Estado- destinados a atender despesas classificáveis em
Despesas de Capital;
B ( ) De recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a
atender despesas classificáveis em Despesas Correntes- conversão, em espécie, de bens e direitos;
C ( ) Destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital-Aumentam as disponibilidades
financeiras do Estado.
10 Assinale Verdadeiro ou Falso
A ( ) Impostos são receitas correntes
B ( ) O valor da venda de um imobilizado é receita corrente
C ( ) As contribuições são receitas de capital
D ( ) A venda de um prédio público é receita de capital
E ( ) Os aluguéis recebidos pela locação de um prédio público é receita corrente;
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11- Em relação às receitas correntes provenientes da atividade agropecuária do governo, assinale Verdadeiro ou Falso.
A ( ) É o Estado atuando como empresário, em pé de igualdade como o particular;
B ( ) São impostos cobrados sobre a propriedade agrícola como o ITR
C ( ) Decorrem de atividades agropecuárias, tais como a venda de produtos agrícolas, sendo que o Estado atua
como empresário;
D ( ) Incluem as contribuições sociais pagas pelos fazendeiros inclusive as à seguridade social
12- Em relação às receitas correntes provenientes da atividade industrial do governo, assinale Verdadeiro ou Falso.
A ( ) Provenientes das atividades industriais exercidas pelo ente público
B ( ) São impostos cobrados sobre a atividade industrial, por exemplo, IPI
C ( ) Receitas provenientes de atividades econômicas, tais como: da indústria extrativa mineral; da indústria
de transformação; da indústria de construção; e outras receitas industriais de utilidade pública.
D ( ) Trata-se de receitas de capital
13- Em relação às receitas correntes provenientes da atividade de prestação de serviços do governo, assinale Verdadeiro
ou Falso.
A ( ) São atividades relacionadas com comércio, transporte, comunicação, serviços hospitalares,
armazenagem, serviços recreativos, culturais, etc.
B ( ) Tais serviços são remunerados mediante preço público, também chamado de tarifa.
C ( ) São classificáveis como receitas correntes
D ( ) São impostos cobrados sobre as vendas e prestação de serviços como ICMS e ISS
15- Os juros cobrados sobre a dívida ativa, bem como as multas são consideradas outras receitas correntes.
A ( ) Verdadeiro
B ( ) Falso
Kohama (2010, p.70) explana que as receitas extraorçamentárias não pertencem ao órgão
público que as recebe, sendo que ela é contabilizada na entidade transitoriamente e por consequência
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deverá ser devolvida ou paga a quem de direito, assim que forem cumpridas as formalidades
necessárias.
Caução e Fiança bancária- são valores que podem ser exigidos pela entidade pública
quando contrata uma obra, um serviço ou em compras. Neste caso, está estipulado que as
cauções devem corresponder a no máximo 5% do contrato;
A finalidade de o órgão público exigir uma garantia se deve a eventualidade de que a empresa
contratada cometa alguma irregularidade no cumprimento do contrato e que seja por isso
penalizada com uma multa, a cobrança será feita em primeira etapa à contratada, que, não
atendendo ao depósito ou respectivo pagamento, ensejará providências no sentido de que o
fiador faça a cobertura da multa. Caso tudo transcorra normalmente, e o contrato seja
cumprido sem problemas, o órgão público que detinha a fiança exigida na assinatura do
contrato deverá fazer a devolução dela.
Consignações – são valores retidos em nome de entidades para que depois de cumpridas as
formalidades sejam pagas a quem de direito.
Conceitua-se a despesa pública como sendo os gastos fixados na lei orçamentária ou por leis
especiais e que se destinam à execução dos serviços públicos, dos aumentos patrimoniais, satisfação
dos compromissos da dívida pública, ou ainda a restituição ou pagamento de importâncias recebidas
a título de cauções, depósitos, consignações etc. (KOHAMA, 2010)
É a Lei Orçamentária que fixa a despesa pública autorizada para um exercício financeiro. A
despesa pública é o conjunto de dispêndios realizados pelos entes públicos para o funcionamento e
manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade. (MCASP, 2021)
Segundo Kohama (2010) a despesa pública orçamentária precisa passar por quatro estágios,
sendo eles FIXAÇÃO, EMPENHO, LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO.
• EXECUÇÃO:
Araújo et al (2009, p. 106) esclarece “empenho” é o ato que cria para o Estado a obrigação de
pagamento por exemplo, a assinatura de um contrato, formalização de um pedido. Assim, nota-se que
“empenho” não corresponde um documento físico. O que materializa o empenho é um documento
chamado nota de empenho. Manual de contabilidade aplicado ao setor público: parte I informa que
em alguns casos a nota de empenho não precisa ser emitida, por exemplo, por ocasião do pagamento
dos salários, tendo em vista que a quantidade de credores é muito grande.
Situações especiais envolvendo o empenho - Quando o valor empenhado for insuficiente para
atender à despesa a ser realizada, o empenho poderá ser reforçado. Caso o valor do empenho
exceda o montante da despesa realizada, o empenho deverá ser anulado parcialmente. Será
anulado totalmente quando o objeto do contrato não tiver sido cumprido, ou ainda, no caso de
ter sido emitido incorretamente. (MCASP, 2021)
Kohama (2010) e Araújo et al (2009) identificam três tipos de empenhos, sendo eles confirmados
no Manual de Contabilidade: Parte I:
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Ordinário ou normal- nessa modalidade de empenho é feita quase a totalidade dos gastos,
pois englobam as despesas normais, sem nenhuma característica especial;
Empenho por estimativa- Utilizado no caso em que não se possa determinar o montante da
despesa, por exemplo, gastos com consumo de água, energia elétrica e telefone. Esse tipo de
gasto exige que se faça uma estimativa de consumo, pois é impossível determinar com
exatidão seu consumo total em um exercício financeiro. Desta forma, quando se recebe a
conta e se tem o conhecimento do valor exato, outro documento deve ser emitido onde
constará o valor definitivo do gasto. Esse documento pode ser subempenho, ou a ordem de
pagamento.
Empenho global – utilizado para pagamento de obrigações contratuais onde ocorra a
necessidade de parcelamentos, por exemplo, o pagamento mensal de um imóvel alugado. Se
não fosse utilizado o empenho global, mensalmente a entidade pública precisaria emitir um
empenho da importância do aluguel, gerando entraves de processamento, multiplicidade de
trabalho e vários procedimentos que não agregariam valor ao processo. Ressalte-se que o
empenho global é utilizável para parcelamentos com valores conhecidos, caso contrário não
se deve utilizá-lo, mas sim o empenho por estimativa.
EXERCÍCIO (IV)
A ( ) A classificação é utilizada por todos os entes da federação e visa identificar a origem do recurso
segundo o fato gerador;
B ( ) A ordem para formação do código da receita é COERSSAA.
C ( ) As categorias econômicas, representadas na letra “C” correspondem a indicação se a receita é
corrente ou extraorçamentária.
D ( ) As receitas correntes são subdivididas nas categorias- tributária, contribuições, patrimonial,
agropecuária, industrial, serviços, transferências correntes, outras correntes;
E ( ) As receitas de capital são subdivididas nas categorias- operações de crédito, amortização de
empréstimos, transferências de capital, outras de capital;
4-É a lei orçamentária que fixa a despesa orçamentária para um exercício financeiro.
A ( ) Verdadeiro
B ( ) Falso
A ( ) O empenho por estimativa é usado para pagar valores que não constam originalmente
no orçamento público, por isso, não é possível ter certeza sobre o valor exato a ser
pago.
B ( ) O empenho normal é o geralmente utilizado para pagar as despesas orçamentárias e
extraorçamentárias do dia –a – dia. É o mais comum de todos.
C ( ) O empenho normal é feito para quase a totalidade dos gastos, pois englobam as
despesas normais, sem nenhuma característica especial;
D ( ) O Empenho global envolve todas as despesas previstas o orçamento público,
possibilitando ao órgão público visualizar o valor total a pagar no exercício financeiro.
E ( ) O empenho por estimativa é utilizado no caso em que não se possa determinar o
montante da despesa, por exemplo, gastos com consumo de água, energia elétrica e
telefone;
F ( ) O empenho global é utilizado para pagamento de obrigações contratuais onde ocorra a
necessidade de parcelamentos, por exemplo, o pagamento mensal de um imóvel
alugado;
estabelecidas. Além disso, somente com a recuperação das receitas ao longo do ano, o ente público
poderá realizar novos empenhos ou reativar aqueles que foram limitados ou mesmo cancelados.
Pelo disposto no art. 42, nenhuma despesa poderá ser contraída nos dois últimos
quadrimestres do mandato de qualquer titular de Poder ou órgão, sem adequada e suficiente
disponibilidade de recursos para o seu atendimento, dentro do exercício financeiro ou, em caso de
valores a serem pagos no exercício seguinte, sem que existam recursos em caixa para tal finalidade.
LIMITES COM GASTOS COM PESSOAL
De acordo com a LRF, entende-se como despesas de pessoal: 1. Somatório dos gastos do ente
da Federação com os ativos; 2. Despesas com inativos e pensionistas; 3. Mandatos eletivos, cargos,
funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies
remuneratórias; 4. Vencimentos e vantagens, fixas e variáveis; 5. Subsídios, proventos de
aposentadoria; 6. Reformas e pensões; 7. Adicionais de qualquer natureza; 8. Gratificações, horas
extras e vantagens pessoais; 9. Encargos sociais e 10. Contribuições recolhidas pelo Ente às
entidades de previdência.
A LRF determina dois limites distintos para os gastos com pessoal no setor público:
➢ 50% da Receita Corrente Líquida (RCL) para a União; e
➢ 60% da RCL para Estados e Municípios.
Na esfera estadual o limite de 60% será repartido da seguinte forma:
2% para o Ministério Público;
3% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Estado;
6% para o Judiciário; e
49% para o Executivo.
Na esfera municipal o limite de 60% será assim repartido:
6% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Município, quando houver; e
54% para o Executivo.
Na esfera Federal o limite será de 50% da RCL, assim dividido:
40,9% para o Executivo;
6% para o Judiciário;
2,5% para o Legislativo; e
0,6% para o Ministério Público.
RESTOS A PAGAR
A rubrica Restos a Pagar, na sua origem, destinava-se a compatibilizar o término do exercício
financeiro com a continuidade da Administração Pública. Isto porque nem todos os pagamentos de
despesas coincidem com o término do exercício e é natural que algumas despesas que pertencem a
um exercício restem a pagar no exercício seguinte.
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Com o passar do tempo, os Restos a Pagar foram sendo mal utilizados como instrumento de rolagem
de dívidas. A má utilização decorria, em grande medida, de deficiências do processo orçamentário
como instrumento de planejamento. O orçamento, eivado por superestimava de receitas e/ou
subestimativa de despesas, embutia autorização para assunção de compromissos que não eram
acompanhados por efetiva arrecadação de receitas.
A falta de sincronia entre orçamento e execução financeira e a ausência de medidas corretivas
ocasionava uma sobra de pagamentos que não podiam ser atendidos no mesmo exercício e eram
transferidos para o exercício seguinte sob a forma de Restos a Pagar. O orçamento do exercício
seguinte, por sua vez, frequentemente não contemplava espaço para os Restos a Pagar que, para
serem atendidos, ocasionavam deslocamento de outras despesas. Estas, por sua vez, seriam também
transferidas sob a forma de Restos a Pagar para o terceiro exercício, configurando-se então a rolagem
extraorçamentária de dívidas.
Após a LRF, esse tipo de rolagem de dívidas fica vedado no último ano de mandato. O art. 42 foi
concebido com o espírito de, por um lado, evitar que, em último ano de mandato, sejam
irresponsavelmente contraídas novas despesas que não possam ser pagas no mesmo exercício, sob
pressão do próprio pleito. Por outro lado, o fim do mandato serviria também como ponto de corte
para equacionamento de todos os estoques. Em outras palavras, eventuais dívidas poderiam ser
roladas ao longo de um mesmo mandato, mas jamais transferidas para o sucessor. A regra obriga o
governante a “deixar a casa arrumada para o sucessor”.
Posteriormente, a Lei nº 10.028, de 19 de outubro de 2000, denominada Lei de Crimes Fiscais,
caracterizou como crime, punido com reclusão de um a quatro anos, ordenar ou autorizar a assunção
de obrigação em desacordo com a determinação do referido art. 42.
FIM DA SEGUNDA PARTE
Referências
ARAUJO, Inaldo; ARRUDA, Daniel. Contabilidade Pública: da teoria à prática. 2 ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
KOHAMA, Heilio. Contabilidade pública: teoria e prática. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
NASCIMENTO, Edson Renato; DEBUS, Ilvo. Lei Complementar nº 101/2000: Entendendo a Lei de
Responsabilidade Fiscal. 2 ed. Tesouro Nacional. Disponível em
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/pt_PT/lei-de-responsabilidade-fiscal. Acessado em 01/08/2017.