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C A D

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O D I D
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C O

DE LÍNGUA PORTUGUESA

P A R
A A E D U
C A Ç
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B Á S
I C A

unidades didáticas elaboradas pela turma de

PRODUÇÃO E ANÁLISE DE
MATERIAL DIDÁTICO

ORGANIZAÇÃO
Francieli Matzenbacher Pinton
Jeniffer Streb da Silva
Reitor da Universidade Federal de Santa Maria
Professor Dr. Paulo Afonso Burmann

Pró-reitora de Graduação
Professora Dra. Martha Boher Adaime

Diretor do Centro de Artes e Letras


Professor Dr. Cláudio Esteves

Coordenadora dos cursos de Letras - Licenciaturas


Professora Dra. Evellyne Costa

Organizadoras
Professora Francieli Matzenbacher Pinton
Professora Jeniffer Streb da Silva

Autores dos capítulos


Aline Marafiga de Oliveira
Aylon de Oliveira Dutra
Evandro Dinat e Silva
Frederico Medina Fidler
Gabriella Cassol Altíssimo
Gustavo Afonso Müller
Gustavo Rafael Hein
Laura Severo da Silveira
Leara da Silva Soares
Lucas Sauzem Cruz
Maiara Barcelos Pereira
Miguel Morais Bartolás
Roberta Morgana Petry
Rúbia Keller Vieira
Vanessa Meireles Barboza
Verônica Lorenset Padoin

Revisão de linguagem
Caroline Teixeira Bordim

Capa
Gabriela Eckert Pereira
Rosana Maria Schmitt

Diagramação
Gabriela Eckert Pereira
Rosana Maria Schmitt

1
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................ 3

CAPÍTULO 1: PRODUZINDO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS... ......................................... 4


Aylon de Oliveira Dutra

CAPÍTULO 2: GÊNEROS JORNALÍSTICOS: DA NOTÍCIA À CRÔNICA ............................ 40


Leara da Silva Soares & Verônica Lorenset Padoin

CAPÍTULO 3: O VÍDEO-ENSAIO ............................................................................................... 68


Frederico Medina Fidler & Miguel Morais Bartolás

CAPÍTULO 4: POESIA, LETRA E MÚSICA .............................................................................. 88


Vanessa Meireles Barboza

CAPÍTULO 5: HISTÓRIA EM QUADRINHOS: CONSTRUINDO UM LEITOR CRÍTICO ...... 97


Aline Marafiga de Oliveira & Evandro Dinat e Silva

CAPÍTULO 6: O QUE SÃO GÊNEROS TEXTUAIS? ............................................................. 115


Gustavo Rafael Hein & Roberta Morgana Petry

CAPÍTULO 7: DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO: ENSINAR É PRECISO! ......................... 133


Maiara Barcelos Pereira & Gabriella Cassol Altíssimo

CAPÍTULO 8: A LINGUAGEM DA POESIA .......................................................................... 147


Lucas Sauzem Cruz

CAPÍTULO 9: JORNAL VIRTUAL: NAVEGANDO PELAS NOTÍCIAS DA WEB ............ 157


Gustavo Afonso Müller

CAPÍTULO 10: RESSIGNIFICANDO A ESCRITA: CONTOS BASEADOS EM FANFICS .... 163


Rúbia Keller Vieira & Laura Severo da Silveira

CAPÍTULO 11: PRODUZINDO VERBETE DE ENCICLOPÉDIA ...................................... 175


Fernanda De Oliveira & Clea Castro

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 185

2
APRESENTAÇÃO

Caro leitor,

este caderno didático é resultado das atividades desenvolvidas na disciplina de


Produção e Análise de Material Didático, ofertada no 7° semestre do curso de
Licenciatura em Letras - Português. A disciplina tem por objetivo promover a análise e
a produção de materiais didáticos de língua portuguesa destinados à educação básica.
Nesse sentido, são realizadas leituras de textos teórico-metodológicos e documentos
oficiais que orientam o processo de ensino e aprendizagem da língua materna na escola.
Além disso são analisados materiais didáticos com vistas à identificação das concepções
de linguagem e de ensino e aprendizagem a eles subjacentes. Por fim, os alunos são
convidados a produzirem uma unidade didática para o ensino de língua portuguesa,
preferencialmente para o ensino fundamental – anos finais.
Dessa forma, este caderno contempla as unidades didáticas produzidas pelos
licenciandos e representa, em grande medida, o empoderamento desses professores
que assumiram uma perspectiva crítico-reflexiva e se posicionaram como autores de
materiais didáticos. Acreditamos que o resultado é representativo do momento teórico-
metodológico dos autores e indicativo do processo de constituição do ser professor de
língua portuguesa.

Boa leitura!

Professoras Francieli e Jeniffer.

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CAPÍTULO 1 – PRODUZINDO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Aylon de Oliveira Dutra

Caro aluno,
a partir das atividades a seguir, esta unidade didática objetiva produzir um exemplar de
curta extensão do gênero história em quadrinhos (campo de atuação artístico-literário)
destinado a alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. O foco deste material será
sobretudo seu planejamento, a criação de seu roteiro e o desenvolvimento das
personagens. Além disso, também abordaremos os aspectos sociocomunicativos do
gênero, ou seja, aspectos que estão para além da obra, como seu meio de circulação, seu
surgimento histórico, seu público-alvo e seu propósito comunicativo.

Boa produção!

O QUE JÁ SABEMOS SOBRE O GÊNERO HISTÓRIA EM QUADRINHOS?

Para começarmos a produzir uma história em quadrinhos, temos que pensar sobre
nossa experiência com esse gênero. Por isso, responda às seguintes perguntas e
compartilhe as respostas com a turma.

a) Você já leu história(s) em quadrinhos? Qual(is)?


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b) O que você acha que as histórias em quadrinhos possuem de diferente em relação a


outros gêneros narrativos, como um conto ou um romance?
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Para aprofundar a discussão criada pela pergunta “b”, vamos observar a seguir os
elementos que compõem as histórias em quadrinhos.

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1) Os quadros

Os quadros são os elementos responsáveis por nomear esse gênero. Eles dividem
o enredo em pequenas partes, registrando a movimentação das personagens e criando
a impressão de continuidade. Dentro deles estão os desenhos das personagens e do
cenário e, o nosso próximo elemento, os balões.

2) Os balões

Os balões são a parte que se sobrepõe à imagem para demonstrar que uma
personagem está falando ou pensando. Dentro deles está o texto verbal. Dependendo da
forma como são desenhados, podem indicar diferentes entonações, sentimentos ou
sensações das personagens, conforme podemos observar a seguir.

5
Disponível em: encurtador.com.br/qyC03

Atividades

Recorra a um livro de ficção (romance, contos, crônicas, qualquer um que


pertença ao gênero narrativo) que você esteja lendo e selecione a fala de uma
personagem. Lembre-se de que a fala das personagens, em gêneros narrativos que não
se apoiam em recursos imagéticos, normalmente é representada através do travessão.
Transponha a fala a seguir, criando o balão conforme a entonação ou o sentimento
desta personagem em seu livro.

6
A partir da atividade anterior, você pôde relacionar um elemento das histórias em
quadrinhos, o balão, com outros gêneros narrativos. Dessa forma, que outros elementos
que estão nesses gêneros também aparecem nas histórias em quadrinhos?
Diferentemente da pergunta anterior, agora iremos pensar o que as histórias em
quadrinhos têm que outros tipos de textos também possuem. Escreva nas linhas a seguir
os elementos que você lembrar:
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HQs ao redor do mundo

No site da editora de quadrinhos JBC (Japan Brazil Communication), você pode


encontrar uma lista sobre como esse gênero é chamado ao redor do mundo. Apesar de
terem surgido nos Estados Unidos, em cada país em que os quadrinhos foram
difundidos, o gênero ganhou uma história e um contorno próprio. Confira a seguir.

Mangá (Japão): primeiramente, publicados em revistas com mais de 500


páginas com inúmeras histórias de vários autores. Posteriormente, os
títulos de sucesso têm seus capítulos reunidos em compilações de 200
páginas por volume conhecidas como tankobon ou tankohon. Há mangás
para todos os gêneros e idades. Normalmente são publicados em preto e
branco.

Comics (EUA e Canadá): são os famosos gibis de super-heróis – embora os


comics sejam bem mais abrangentes (há quadrinhos sem seres cheios de
poder, como por exemplo, Archie, que é voltada para adolescentes). Os
quadrinhos americanos são coloridos e suas revistas tem em torno de 32
páginas. As tiras (ou “comic strips”) são uma variedade dos comics. Elas são
publicadas em jornais diários em preto e branco. Peanuts (Snoopy e Charlie
Brown), O Fantasma, Calvin, Harold, Flash Gordon e Tarzan são
personagens famosos desse tipo de publicação.

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Banda Desenhada/Bande Dessinée (França e Bélgica): é como são
conhecidos os quadrinhos franco-belgas. São geralmente publicados
inteiramente coloridos e em formato grande como Asterix e As Aventuras de
Tintim.

Fumetti (Itália): sempre em preto e branco e em um formato pequeno. Foi


assim que as aventuras de Zagor e Tex, exemplos de HQs italianas famosas,
foram publicadas

Manhwa (Coreia do Sul): são os quadrinhos coreanos que bebem da


mesma fonte dos mangás japoneses. Ragnarok e Tarô Café são exemplos de
sucesso das HQs oriundas da Coreia.

Manhua (China): assim como os mahwas, os quadrinhos chineses seguem


o estilo japonês dos mangás, no entanto, são pouco conhecidos
mundialmente.

Gibi, HQ, Revistinha em quadrinhos (Brasil): são algumas


denominações usadas no Brasil para a arte sequencial. Porém, diferente de
outros países, não são, necessariamente, o nome dos quadrinhos
produzidos no País.

Tebeos (Espanha): a comédia pastelão Mortadelo e Salaminho é uma das


mais famosas do País.

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Outros países
▪ Muñequitos (Cuba)
▪ Histórias aos quadradinhos (Angola)
▪ Banda Desenhada ou BD (Portugal).

Disponível em: <https://editorajbc.com.br/mangas/inf/hqs-ao-redor-do-mundo/> Acesso em: jun.2020.

Voltando à atividade anterior, você deve ter conseguido elencar muitos elementos
com a ajuda do seu professor, sendo eles:

▪ PERSONAGEM: termo derivado do latim persona que significa máscara, a


personagem constitui o elemento sobre o qual se desenrola toda a ação.
▪ ENREDO: conjunto de ações que formam a trama principal de uma obra de ficção.
▪ ESPAÇO E TEMPO: elementos que oferecem a ancoragem de personagens e ações
num universo dado.
▪ NARRADOR: é a instância da narrativa que transmite um conhecimento, narrando-o.
Qualquer pessoa que conta uma história é um narrador.

Atividades

Assim, a partir de suas leituras, cite:

1. uma personagem de quadrinhos:


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2. um enredo de uma história em quadrinhos que você tenha lido:
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3. um lugar e uma época em que a história tenha se passado:
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Agora que já pensamos nos elementos que compõem as histórias em quadrinhos


(balões, quadros, personagens, enredo, espaço e tempo), vamos pensar em seus
aspectos sociocomunicativos, ou seja, aquilo que possui uma influência sobre o gênero
e que está para além do texto. Leia a tirinha a seguir:

Disponível em: http://blog.estantevirtual.com.br/wpcontent/uploads/mafalda_tirinha.jpg

4. Discuta com seus colegas e com seu professor e aponte qual foi o equívoco cometido
pela personagem Mafalda na última tira.
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Como foi discutido pela turma, o equívoco de Mafalda está relacionado com o
propósito com que se lê um dicionário. Dificilmente poderíamos pensar que alguém o
leria do início ao fim, pois, quando o utilizamos, é comum querermos saber o significado
de uma palavra em específico.
Dessa maneira, para não cometermos o mesmo erro, antes de produzirmos a
nossa história, temos que refletir sobre os motivos que levam alguém a ler esse gênero,
não é mesmo?!
Para aprofundarmos nossa reflexão, observe a capa do quadrinho a seguir.

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Disponível em: https://apublica.org/2016/06/hq-o-haiti-e-aqui/

Sobre ela, responda:

5. No que diz respeito à capa, o que podemos observar como atípico do gênero História
em quadrinhos, pensando nos exemplares que você conhece e costuma ler?

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Essa história em quadrinhos, chamada O Haiti é aqui, foi criada pelo jornalista
Enio Lourenço e pelo ilustrador Adriano Kitani, publicada no site da agência de
jornalismo investigativo A Pública, em junho de 2016.
Ela conta a história de alguns imigrantes haitianos no Brasil, e, como você discutiu
com a sua turma, possui informações reais sobre a história dessas pessoas no Brasil.

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Se a história dos haitianos no Brasil está documentada em livros específicos sobre
o assunto e em notícias e reportagens em diferentes portais informativos na internet ou
na televisão, por que alguém escolheria receber essas informações através de uma
história em quadrinhos?
Dessa forma, qual seria o propósito de um leitor em consumir esse tipo de
quadrinhos? Discuta com sua turma e, caso tenha interesse, leia essa história através do
QR Code a seguir:

Abaixo, anote suas conclusões.


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Com base na discussão com a turma, você deve ter chegado a muitas possíveis
respostas para a pergunta anterior.
Um elemento que deve ter perpassado essa discussão é o recurso expressivo
que a ilustração permite às histórias em quadrinho. Na reportagem cotidiana, a
objetividade das informações pode impedir que tenhamos empatia pelos imigrantes ou
que sejamos entretidos pela sua história. Através da imagem, visualizamos as
personagens, identificamo-nos com elas e apreciamos os traços do ilustrador.
Todos esses elementos corroboram para que um leitor escolha se informar
através do Jornalismo em História em Quadrinhos (JHQ), uma mistura benéfica de dois
gêneros.
Inclusive, o próprio leitor é um elemento importante para refletirmos sobre as
histórias em quadrinhos, assim como o meio de circulação pelo qual ele tem acesso a
esse gênero: gibis, livros, revistinhas etc. Dessa forma, devemos nos perguntar quem são
os leitores de histórias em quadrinhos e onde eles podem ter acesso ao seu meio de
circulação.

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6. Quem você acredita que seja o público alvo das histórias em quadrinho?
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7. Onde você acredita que sejam comercializadas essas histórias?


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Se você respondeu que crianças são o público-alvo, e se você respondeu que


bancas de revistas é onde esse gênero é comercializado, você está certo, mas podemos
aprofundar essa reflexão a partir de trechos de duas notícias disponíveis a seguir.

Quadrinhos se diversificam e investem em novo público

Distribuição em livrarias, diversificações e presença em eventos não necessariamente ligado a quadrinhos


explicam a expansão do público consumidor

O mercado de história em quadrinhos, ou HQs, já deixou de ser segmentado há


muito tempo. Hoje, o perfil de seus consumidores são homens e mulheres entre 10 e 40
anos, com os mais variados gostos e preferências. Devido ao envelhecimento de velhos
leitores de quadrinhos, a demanda por títulos de temática mais adulta foi crescendo.
Isso explica a recente ida das histórias em quadrinhos para as livrarias, que aproveitam
para fisgar novos consumidores com um maior poder aquisitivo do que os adolescentes,
consumindo e tratando essa arte como literatura, sem que necessariamente sejam
habituais leitores desse tipo de publicação. [...]

Publicado no site Mundo do Marketing, em janeiro de 2008. Disponível em:


https://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/planejamento-estrategico/3479/quadrinhos-se-
diversificam-e-investem-em-novo-publico.html

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Livros digitais ampliam o acesso à leitura do brasileiro e movimentam setor

Os livros digitais aos poucos têm se tornado mais presentes nas mãos dos
brasileiros, pois são possíveis de se ler em aparelhos próprios para isso como Kindle,
tablets e até pela tela do celular. Por conta de não envolver custos com impressão, lucro
das livrarias e outros acréscimos no valor final do produto, o e-book sai mais em conta
com uma diferença de 20% a 30% sobre o preço de capa nas lojas. [...]
Publicado no Portal de notícias Terra, em março de 2020. Disponível em:
https://www.terra.com.br/noticias/dino/livros-digitais-ampliam-o-acesso-a-leitura-do-
brasileiro-e-movimentam-setor,c9c8bf9b3a1a295c4f3ab416dfd3474bz4crjbmy.html

1. De acordo com o que você leu, assinale verdadeiro (V) ou falso (F) para cada uma das
afirmações a seguir.

( ) A notícia 1 traz informações a respeito da mudança de público das histórias em


quadrinho, sendo lidas por homens e mulheres entre 10 e 40 anos.

( ) A notícia 2 apresenta uma nova forma de leitura, cujo acesso foi possibilitado pela
tecnologia.

( ) A notícia 1 mostra que o público-alvo das histórias em quadrinhos tem se


transformado; enquanto as crianças estão deixando de ler quadrinhos, os adultos estão
tomando gosto por esse hábito.

( ) Embora a notícia 2 não traga informações específicas sobre as histórias em


quadrinhos, podemos pensar que um novo meio de circulação do gênero, para além de
bancas de revista e livrarias, são os ebooks.

A partir da atividade anterior, podemos refletir sobre três elementos


relacionados às histórias em quadrinhos: propósito comunicativo, público-alvo e meio
de circulação. Dessa forma, complete a tabela a seguir.

Propósito comunicativo

Meios de circulação:

Público-alvo

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Na seção SAIBA MAIS, em que apresentamos como as histórias em quadrinhos
são chamadas em outros países, você pôde observar que nos Estados Unidos há uma
outra forma de quadrinhos chamada “comic strips” Esse gênero, em português, é
chamado de tirinha, como a que você leu da Mafalda e, apesar dos quadros, possui
algumas diferenças em relação às histórias em quadrinho, assim como outros gêneros
semelhantes também o possuem.
Para compreendermos essa diferença, consulte em livros e materiais, indicados
pelo seu professor, a diferença entre História em quadrinhos e outros gêneros que
também se utilizam de quadros e ilustrações. A turma pode ser dividida de acordo com
os seguintes gêneros: tirinha, charge, cartum e caricatura.
Após a pesquisa, volte ao quadro anterior e discuta com sua turma, comparando
propósito, meio de circulação e público-alvo dos quadrinhos com os gêneros
pesquisados.

DO LIXO AO LUXO: O SURGIMENTO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHO

Antes de produzir nossos próprios exemplares, vamos conhecer um pouco mais


sobre a história desse gênero?
Para isso, leia o fragmento da coluna do psicanalista Fredric Wertham, publicado
no semanário Saturday Review of Literature, na edição de 29 de maio de 1947, e
traduzido em um artigo da revista Seleções Reader’s Digest, em 1954, no Brasil:

"Alguns adultos acham que os crimes descritos nas revistas em quadrinhos estão longe da
realidade que, para as crianças, não passam de pura fantasia. Mas despejar essas histórias
sórdidas nas mentes das crianças não é a mesma coisa que despejar água nas costas de um
pato. A delinquência juvenil cresceu em 20% desde 1947, período que corresponde com o
aumento da circulação de histórias em quadrinhos.”

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Sobre o fragmento, discuta com seus colegas:

1. Segundo Wertham, existe uma relação entre o aumento da “delinquência juvenil” e o


aumento da circulação das histórias em quadrinhos? Por quê?
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2. Quantos anos se passaram entre a publicação de sua coluna e o ano em que você está
lendo esse fragmento? Você imagina que psicanalistas possuam a mesma opinião hoje
em dia? Por quê?
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3. Para começarmos a compreender o motivo que levou o psicanalista americano a ter


uma opinião tão negativa a respeito dos quadrinhos, observe os infográficos a seguir.

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Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/ciencia/2015/05/1626815-quando-nicolas-cage-faz-filmes-mortes-
sao-evitadas-veja-outras-correlacoes-estatisticas-que-mentem.shtml

Sobre os infográficos, responda:

▪ É possível estabelecermos uma relação causal lógica entre os fatores apresentados


anteriormente? Ou você acredita que seriam apenas fruto de uma coincidência?
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Essas correlações foram publicadas pelo site tylervigen.com, um portal que reúne
uma série de dados que coincidentemente possuem uma relação numérica, sem que essa
relação seja explicada de maneira lógica.
Dessa maneira, podemos perceber que, ainda que exista uma coincidência entre
o aumento da delinquência juvenil e o consumo de histórias em quadrinhos nos Estados
Unidos, em um determinado período de tempo, essa relação é infundada do ponto de
vista lógico, assim como as que você viu nos infográficos anteriores.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A popularização dos quadrinhos coincidiu com uma série de fatores históricos,


como o fortalecimento da imprensa e das grandes cidades. O fato de os quadrinhos
serem muito populares fez com que intelectuais, como Fredric Wertham, tivessem uma
avaliação negativa de seu conteúdo e de suas possibilidades enquanto arte. Havia uma
divisão feita por esses intelectuais entre o que era considerada alta cultura e baixa
cultura, que tentava invalidar o que era apreciado pelas massas. Com o passar do tempo,
a opinião geral mudou a respeito dos quadrinhos, graças ao trabalho de pedagogos, que
conseguiram demonstrar que os quadrinhos podem muito bem serem ensinados em
sala de aula, e de grandes artistas, que demonstraram que os quadrinhos podem ser
considerados como arte.
Hoje em dia, podemos citar como exemplo de grandes artistas dos quadrinhos o
sueco Art Spiegelman, a iraniana Marjane Satrapi, a costa marfinense Marguerite
Abouet e o brasileiro Marcelo D’Salete.

Maus, de Art Spigelman

Maus tornou-se o primeiro graphic novel (como são chamadas as histórias em quadrinho
publicadas em formato de livro) a receber um prêmio Pulitzer, um importante prêmio literário
e jornalístico, em 1992. Maus, rato em alemão, é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês
que sobreviveu aos campos de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art
Spiegelman. O livro é considerado um clássico moderno das histórias em quadrinhos. Foi
publicado em 2 partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. A obra é um sucesso
estrondoso de crítica e público. Desde que foi lançada, tem sido objeto de análises e estudos de
especialistas em diversas áreas, como artes, história, literatura e psicologia. Em nova tradução,
o livro é agora relançado com as 2 partes reunidas num só volume. Nos quadrinhos, os judeus
são desenhados como ratos e os nazistas como gatos, e, americanos como cachorros e poloneses
como porcos. Esse recurso, aliado à ausência de cor nos quadrinhos, reflete o espírito do livro:
trata-se de um relato incisivo e perturbador que evidencia a brutalidade da catástrofe do

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Holocausto. Art, porém, evita o sentimentalismo e
interrompe algumas vezes a narrativa para
espaçar a dúvidas e inquietações. É implacável
com o personagem principal, seu próprio pai,
retratado como destemido e valoroso, mas
também como mesquinho e racista. De vários
pontos de vista, uma obra sem equivalente no
universo dos quadrinhos e um relato histórico de
valor inestimável.

Disponível em:
https://www.skoob.com.br/livro/2259ED2994

Persépolis, de Marjane Satrapi

Marjane Satrapi tinha apenas 10 anos quando viu-se


obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de
meninas. Nascida numa família moderna e politizada,
em 1979, ela assistiu ao início da revolução que lançou
o Irã nas trevas do regime xiita, apenas mais um
capítulo nos muitos séculos de opressão dos persas. 25
anos depois, com os olhos da menina que foi e a
consciência política à flor da pele da adulta em que se
transformou, Marjane, emocionou leitores de todo o
mundo com sua autobiografia nos quadrinhos, que só
na França vendeu mais de 400 mil exemplares. Em
Persépolis, o popular encontra o épico, o oriente toca o
ocidente, o humor infiltra-se no drama, e o Irã parece
muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.

Disponível em: https://www.skoob.com.br/persepolis-182ed267.html

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Aya de Yopougon, de Marguerite Abouet

Esqueça tudo o que você já ouviu sobre a África, pois este é


um livro que vai mostrar uma outra visão das pessoas que
vivem por lá. Em Yop City (é assim que o pessoal chama o
bairro de Yopougon), na Costa do Marfim, não se ouve falar
de guerra civil, aids ou fome. O que se ouve são as confusões
de três amigas, Aya, Bintou e Adjoua, que vivem os mesmos
dilemas de tantas outras jovens de sua geração: garotos,
festas e dúvidas sobre o futuro.Esta crônica do cotidiano na
costa-marfinense no fim dos anos 70 é um pouco do que a
própria autora Marguerite Abouet vivenciou, contado de
uma maneira sensível e cheia de humor, retratado com
incrível vivacidade pelos desenhos de Clément Oubrerie. A beleza de Aya está na sonoridade,
nas cores africanas e nos sabores que saltam das páginas, como o aroma da sopa de amendoim
(cuja receita, aliás, pode ser lida no "bônus marfinense" ao final do livro). Uma África
desprovida de clichês, um retrato social sensível, uma história de amor e amizade.
Disponível em: https://www.skoob.com.br/aya-de-yopougon-64668ed71390.html

Angola Janga, de Marcelo D’ Salete

Angola Janga, “pequena Angola” ou, como dizem os


livros de história, Palmares. Por mais de cem anos, foi
como um reino africano dentro da América do Sul. E,
apesar do nome, não tão pequeno: Macaco, a capital
de Angola Janga, tinha população equivalente às das
maiores cidades brasileiras da época.
Formada no fim do século XVI, em Pernambuco, a
partir dos mocambos criados por fugitivos da
escravidão, Angola Janga cresceu, organizou-se e
resistiu aos ataques dos militares holandeses e das
forças coloniais portuguesas. Tornou-se o grande alvo
do ódio dos colonizadores e um símbolo de liberdade
para os escravizados. Seu maior líder, Zumbi, virou

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lenda e inspirou a criação do Dia da Consciência Negra.
Durante onze anos, Marcelo D’Salete, autor de Encruzilhada e do sucesso internacional Cumbe,
pesquisou e preparou-se para contar a história dessa rebelião que tornou-se nação, referência
maior da luta contra a opressão e o racismo no Brasil. O resultado é Angola Janga – Uma história
de Palmares, um épico com batalhas sangrentas, mas que demonstra a delicada flexibilidade da
resistência às derrotas.
Um grandioso romance histórico em quadrinhos que fala de Zumbi e de vários outros
personagens complexos, como Ganga Zumba, Domingos Jorge Velho, Ganga Zona e diversos
homens e mulheres que compõe o retrato de um momento definidor do Brasil.

Disponível em: https://www.skoob.com.br/livro/727769ED729873

Com base nas sinopses lidas, responda:

1. Em quais países acontecem as histórias? Por volta de que ano?


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2. Todas as histórias se passam em um evento histórico? Se sim, quais são eles?


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3. Se você fosse o quadrinista, gostaria de ambientar sua história em um evento


histórico marcante? Se sim, qual seria ele?
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Discuta com a turma:

4. Qual das histórias em quadrinhos você sentiu mais vontade de ler? Por quê?
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Por que quadrinho é a nona arte?
por SERGIO BARRETTO postado em mar 28, 2011 • 0:37

No começo eram as artes, como a dança, escultura, literatura, música, pintura e teatro. E
as artes eram boas e todas eram iguais aos olhos dos criadores. As artes existiam e faziam com
que os apreciadores se sentissem um pouco mais humanos e com que os criadores se sentissem
plenos. E isso era bom. E isso bastava.
Mas o homem, em sua infinita insatisfação e busca por expressão, inventou o cinema. E o
cinema maravilhou apreciadores e encantou criadores. E Ricciotto Canudo o considerou a mais
completa das artes, pois englobava todas as outras artes. E em 1923 publicou o "Manifesto das
Sete artes" organizando-as da seguinte forma:

1ª Arte – Música (som);


2ª Arte – Dança/Coreografia (movimento);
3ª Arte – Pintura (cor);
4ª Arte – Escultura (volume);
5ª Arte – Teatro (representação);
6ª Arte – Literatura (palavra);
7ª Arte – Cinema (integra os elementos das artes anteriores).

A partir daí as artes passaram a ter classificação e a serem vistas tanto por apreciadores
quanto por criadores com olhos cartesianos. E quando Canudo chegou à clareira no final da
estrada, outros homens continuaram seu trabalho de sistematização das artes:

8ª Arte – Fotografia (imagem);


9ª Arte – Quadrinhos (cor, palavra, imagem);
10ª Arte – Jogos de Computador e de Vídeo (no mínimo integra as 1ª, 3ª, 4ª, 6ª, 9ª arte);
11ª Arte – Arte digital (integra artes gráficas computadorizadas 2D, 3D e programação).

Mas com a classificação também veio a divergência: alguns acharam que o teatro deveria
ser colocado antes da literatura. Outros acham que a televisão poderia ser a oitava arte, ou até
mesmo a nona arte. Mas os quadrinhos, que começaram como entretenimento simples, barato
e de massa, evoluíram e se estabeleceram definitivamente como arte. E como arte se
apresentam ao mundo, como a nona arte!

Disponível em: http://quadro-a-quadro.blog.br/por-que-quadrinho-e-a-nona-arte/ (Adaptado)

22
ENTRANDO NOS QUADROS

Nesta seção, iremos ler trechos de quadrinhos, observando os recursos


empregados pelos seus criadores para criar significado.
A seguir, você irá encontrar a sinopse (Texto 1) da graphic novel Turma da
Mônica: Laços, publicada em 2013, e, logo após, uma de suas páginas (Texto 2). Leia e
responda:

Sinopse: O Floquinho desapareceu. Para encontrar seu


cachorro de estimação, Cebolinha conta com os amigos
Cascão, Magali e Mônica e, claro, um plano “infalível". Em
Laços, os irmãos Lu e Vitor Cafaggi levam os clássicos
personagens de Mauricio de Sousa a uma aventura repleta de
emoção, lembrança e perigos.

Disponível em: https://www.skoob.com.br/livro/315493ED353322

Disponível em: https://www.culturaprojetada.com.br/turma-da-monica-lembrancas/#.XvewYShKjIU

23
1. Quais das personagens que apareceram no fragmento do quadrinho anterior você já
conhecia? De onde?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

2. Que diferenças essas personagens possuem em relação a como eram nos gibis ou em
outras mídias pelas quais você as tenha conhecido? Que semelhanças você encontra?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

3. Qual característica de Magali é explicitada no quadrinho?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

4. Que recursos textuais nos permitem reconhecer essa característica?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

5. Que recursos gráficos nos permitem reconhecer essa característica?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

Aos poucos, vamos percebendo como os quadrinistas se utilizam dos aspectos


visuais e textuais para criar significado. Para continuarmos aperfeiçoando nossos
conhecimentos, leia o quadrinho a seguir, que também pertence à graphic novel Turma
da Mônica: Laços.

24
25
Disponível em: https://www.culturaprojetada.com.br/turma-da-monica-lacos/#.Xve0HihKjIU

1. Que evento na vida da personagem Cebolinha o quadrinho está apresentando?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

2. Você acredita que o fato apresentado se refere a um evento presente ou passado na


narrativa? Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

26
3. Você pode observar que esse fragmento se utiliza de tons pastel para compor os
quadros. O que você acredita que justifique essa escolha?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

4. Releia a sinopse da graphic novel e responda: qual é a importância de apresentar esse


fato ao leitor?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

Nas duas atividades anteriores, podemos observar a importância de aspectos


relacionados à união entre o texto e o desenho. As expressões das personagens, os
cenários, as cores utilizadas, todos esses elementos corroboram para criar significado.
Na atividade a seguir, iremos prestar atenção em um aspecto em específico: a
forma de apresentar o enredo nos quadrinhos. Para isso, leia um trecho do quadrinho
Turma da Mônica: lembranças, publicada em 2017.

Disponível em: https://www.culturaprojetada.com.br/turma-da-monica-lembrancas/#.XvewYShKjIU

27
1. De acordo com o que foi lido, relate o que aconteceu nos quadrinhos anteriores.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

2. Quais elementos visuais nos ajudam chegar à conclusão?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

3. Observamos uma conversa entre Cebolinha e Cascão. Como as falas dessas


personagens são apresentadas?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

4. No capítulo 1, aprendemos que uma história em quadrinhos pode ter um narrador. É


o caso, pelo que você leu até então, dessa história em quadrinhos? É comum que o
narrador apareça nas histórias em quadrinhos? Por que você acha que isso acontece ou
que não acontece?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

Os balões nas histórias em quadrinhos apresentam o discurso direto das


personagens, ou seja, a fala exatamente como foi enunciada por eles. Enquanto isso, o
discurso indireto, muito comum em narrativas mais longas, ou em narrativas que não
contam com o recurso da imagem, como nas Histórias em quadrinho, é apresentado
através da intervenção de um narrador. Ele é responsável por contar o que foi dito pelas
personagens.
Sendo assim, que recursos empregados para indicar a presença de um narrador
nas Histórias em quadrinhos? Há uma diversidade de usos para esse recurso, como um
narrador em primeira pessoa ou uma apresentação inicial das personagens ou do
espaço. Observe o exemplo a seguir.

28
Disponível em: https://mangatom.files.wordpress.com/2015/07/a-galinha-sc3a1bia.png

Neste texto, observamos que o narrador apresenta o cenário e as personagens.


Que recurso gráfico nos ajuda a identificar a existência de um narrador?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

29
Agora que exploramos os recursos de trechos das histórias em quadrinho, chegou
a hora de lermos, na íntegra, exemplares desse gênero. Para isso, consulte a biblioteca
da sua escola e faça o registro das HQs que você leu no quadro a seguir:

Nome da HQs Personagens Enredo O que eu achei?

MÃO NO LÁPIS: PRODUZINDO QUADRINHOS

Depois de um percurso pela história e pelos elementos das histórias em


quadrinhos, chegou a hora da produção! Um elemento essencial de sua história será a
personagem principal, é por ela que iremos começar.
Os escritores, ao longo das épocas, se utilizaram de diversos recursos para
criação. Um deles é buscar elementos do real para compor seus personagens. Nas
histórias em quadrinhos não foi diferente, se pensarmos, por exemplo, na obra de
Mauricio de Sousa, pois a personagem Mônica foi criada tendo como inspiração sua filha,
Mônica Spada e Sousa.

30
Disponível em: encurtador.com.br/mtyQT

Dessa maneira, podemos elencar diferentes formas de se construir uma personagem.

▪ Personagens que se tem um modelo real (podendo ser de si mesmo ou de outras


pessoas);
▪ Personagens que tem um modelo real dominante e outros modelos reais secundários;
▪ Personagens com diversos modelos sem dominância;
▪ Personagem sem modelo definido conscientemente.

Somente ao conversar com os escritores que podemos estabelecer qual é o


modelo de composição de personagem escolhido, mas o que podemos afirmar com
certeza é que, no trabalho criador, elementos essenciais são a memória, a observação
e a imaginação, que devem se combinar em diferentes graus, de maneira inconsciente
ou não.
Por isso, olhe ao redor e pense nas características das pessoas que você conhece.
Essa é uma boa forma para começar a compor sua personagem. Mesmo que sua história
se passe em um mundo fantástico, você pode se inspirar no real.
Para colaborar com esta tarefa, você irá observar uma série de características
que se antepõem, como no exemplo a seguir. A partir delas, você poderá construir a
sua personagem, refletindo sobre como ela será.

Baixo ↔ Alto

31
Para ficar mais claro, observe o infográfico a seguir:

Disponível em: encurtador.com.br/ceuFI

Observando o infográfico, podemos dizer que o Homem-Aranha é mais alto que o


Wolverine? Então poderíamos dizer que o Homem-Aranha é alto e o Wolverine é baixo?
Por quê?

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

Após ter discutido com sua turma, você deve ter chegado à conclusão de que essa
oposição entre baixo e alto se dá através de uma escala de valores. Dizer que alguém não
é alto não significa dizer que alguém é baixo. Isso é o que chamamos de uma relação de
antonímia gradativa.
A seguir, nos dois extremos das linhas, teremos mais exemplos de características
que possuem essa relação. Para compor seu personagem, você deve riscar em que
medida ele se encontra nessa escala. Dessa maneira, você poderá refletir sobre suas
características antes de efetuar o desenho.

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Baixo Alto

Novo Velho

Medroso Corajoso

Lento Veloz

Obediente Desobediente

Avarento Generoso

Fraco Forte

Burro Inteligente

Maldoso Bondoso

Sua vez, crie suas escalas.

Hora de criar

Você já jogou o jogo Super trunfo? Super trunfo é um jogo de cartas da Grow, e
nosso objetivo será criar nosso próprio super trunfo com as personagens da turma! Se
você nunca jogou, leia as regras do jogo a seguir:

SUPER TRUNFO
Participantes: 2 ou mais
Idade: a partir de 7 anos

Objetivo:
Ficar com todas as cartas do baralho.

33
Preparação:
- As cartas são distribuídas em número igual para cada um dos jogadores.
- Cada jogador forma seu monte e só vê a primeira carta da pilha.
- As cartas possuem informações sobre carros como: potência, velocidade, cilindros,
peso e comprimento. É com estas informações que cada um vai jogar.

Como jogar:
Se você é o primeiro a jogar, escolha, entre as informações contidas em sua
primeira carta, aquela que você julga ter o valor capaz de superar o valor da mesma
informação que se encontra na carta que seus adversários têm em mãos. Por exemplo:
você escolhe a informação velocidade, menciona-a em voz alta e abaixa a carta na
mesa. Imediatamente todos os outros jogadores abaixam a primeira carta de suas
pilhas e conferem o valor da informação. Quem tiver o valor mais alto ganha as cartas
da mesa e as coloca embaixo de sua pilha.
O próximo jogador será o que venceu a rodada anterior. Assim prossegue o jogo
até que um dos participantes fique com todas as cartas do baralho, vencendo a partida.
Se dois ou mais jogadores abaixam cartas com o mesmo valor máximo, os demais
participantes deixam suas cartas na mesa e a vitória é decidida entre os que
empataram. Para isso, quem escolheu inicialmente diz um novo item de sua próxima
carta, ganhando as cartas da rodada quem tiver o valor mais alto.
O participante cuja carta da rodada for a marcada como "Super Trunfo"
automaticamente ganha a rodada, a não ser que a carta de um dos participantes seja
número 1, ex: A1, B1, C1, etc., quando este ganha a rodada e, consequentemente, a
carta "Super Trunfo".

Disponível em: https://docs.google.com/document/d/


18CkS7rS9JrRdxTYo33Ao3xUjYASJNG412ACeF2Sep3c/preview

34
Conforme você leu nas regras, cada carta possui suas características numeradas, como
no exemplo a seguir.

Disponível em: https://cinemacomrapadura.com.br/imagens/2012/05/a1-super-trunfo-vingadores.jpg

Eleja, com sua turma, as características que irão compor o seu jogo. A seguir, você
irá desenhar o seu personagem. O professor irá escanear os desenhos e acrescentar as
características com os seus devidos números, assim formando o jogo da turma.

Nome da personagem

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Agora que você já tem a sua primeira personagem, temos que pensar em outros
personagens e em outros elementos que compõem uma narrativa. Para isso, responda:

▪ Qual é o conflito da sua história?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

▪ Como ele irá ser resolvido?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

▪ Que outros personagens irão participar?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

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▪ Onde e quando se passa a sua história?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

Depois de você ter todos esses elementos de sua história de forma clara e de ter
recebido as orientações do seu professor, você deverá estabelecer a divisão de o que irá
acontecer em cada quadrinho a seguir.

Quadro 1

Quadro 2

Quadro 3

Quadro 4

Quadro 5

Quadro 6

Quadro 7

Quadro 8

Quadro 9

Quadro 10

37
A seguir, escolha quais quadros terão balões e o que estará escrito neles. Registre a
seguir.

Quadro ____

Quadro ____

Quadro ____

Quadro ____

Quadro ____

Após, utilize uma régua para fazer a divisão dos quadros, lembrando-se de que o
tamanho deve ser o suficiente para aquilo que você irá inserir nele. Depois, é hora de
começar a desenhar as personagens.
Bom trabalho!

O que já sabemos sobre o gênero História em quadrinhos?

(EF69LP49) Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e


por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu
universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades
atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em
seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor.
(EF69LP51) Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização,
revisão/edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e
estilísticas dos textos pretendidos e as configurações da situação de produção – o leitor
pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etc. – e
considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário.

38
Do lixo ao luxo: o surgimento dos quadrinhos

(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes


visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de
estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e
considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.

Entrando nos quadros


(EF89LP32) Analisar os efeitos de sentido decorrentes do uso de mecanismos de
intertextualidade (referências, alusões, retomadas) entre os textos literários, entre
esses textos literários e outras manifestações artísticas (cinema, teatro, artes visuais e
midiáticas, música), quanto aos temas, personagens, estilos, autores etc., e entre o texto
original e paródias, paráfrases, pastiches, trailer honesto, vídeos-minuto, vidding, dentre
outros.
(EF89LP33) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e
estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos elevando em conta
características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos,
fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas
visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de forma livre e
fixa (como haicai), poema concreto, ciberpoema, dentre outros, expressando avaliação
sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

Mão no lápis: produzindo quadrinhos

(EF89LP35) Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos,
narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao
gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos
expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em
grupo, ferramentas de escrita colaborativa.
(EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de
suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em
quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia,
observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais
como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais
adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes
modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto.

39
CAPÍTULO 2 – GÊNEROS JORNALÍSTICOS: DA NOTÍCIA À CRÔNICA
Leara da Silva Soares e Verônica Loresent Padoin

Caro estudante,
as informações, cada vez mais, ocupam importante espaço no cotidiano das pessoas. Os
leitores querem, de maneira mais fácil e rápida, entender os fatos que acontecem no
mundo, por isso se ocupam dos meios de comunicação em massa.
Em razão disso, organizamos esta unidade didática a fim de que você experiencie
as práticas de leitura, análise linguística e escrita da língua portuguesa a partir de dois
gêneros textuais que circulam na esfera jornalística-midiática.
Ao mobilizar as práticas relativas ao trato com a informação e opinião no contexto
escolar, o que se pretende é “propiciar experiências que permitam desenvolver nos
adolescentes e jovens a sensibilidade para que se interessem pelos fatos que acontecem
na sua comunidade, na sua cidade e no mundo e afetam as vidas das pessoas” (BNCC,
2017, p. 140-141).
A presente unidade didática tem por propósito mobilizar conhecimentos sobre
dois gêneros textuais do campo de atuação jornalístico-midiático, sendo eles a notícia e
a crônica jornalística, que apresentam como tema o incêndio no Museu Nacional, no Rio
de Janeiro, em 2018. Com a seleção desses dois gêneros, pretendemos que os alunos do
9º ano do Ensino Fundamental sejam capazes de relacioná-los dentro da esfera
jornalística, além de construir conhecimento sobre as diferentes formas possíveis de se
manifestar a respeito de um mesmo assunto.

40
POR DENTRO DO ASSUNTO

Museus: um registro da história da humanidade

Você sabe o que é um museu?


Segundo o Conselho Internacional de Museus
(ICOM), museu é “uma instituição permanente, sem fins
lucrativos, a serviço da sociedade e do seu
desenvolvimento, aberta ao público e que adquire,
conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos
materiais do homem e de seu entorno, para educação e
deleite da sociedade”.
Os museus nasceram do hábito humano de
colecionar, o qual existe desde o início da humanidade. Objetos sempre foram
guardados, seja por valor afetivo, cultural ou material. Passando de templos das musas
a gabinetes de curiosidades, os museus como conhecemos hoje – espaços que guardam
registros físicos da história e do desenvolvimento da humanidade – surgiram
apenas no século XVII. Em 1671, foi criado, na Basileia, um museu universitário. Já em
1683, na Inglaterra, surge aquele que é considerado o primeiro museu moderno com o
objetivo de educar o público: o Museu Ashmolean. Criado pela Universidade de Oxford,
seu acervo procede de várias partes do mundo e foi reunido pela família Tradescant.
Atualmente, alguns dos museus mais famosos do mundo encontram-se na França
– Museu do Louvre, nos Estados Unidos – Museu Nacional de História Natural e na
Itália – Museu do Vaticano. Devido ao período de isolamento social provocado pela
pandemia de Covid-19 no ano de 2020, alguns dos grandes museus disponibilizam
visitas online ao seu acervo e/ou ao interior do seu prédio. Vale a pena conhecer,
gratuitamente, as lindas obras de arte e as ricas e importantes peças históricas
guardadas nesses e em outros locais. Que tal fazer uma visitinha? Para isso, acesse os
QR Codes a seguir:

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Museu do Louvre
(Paris, França)

Museu Metropolitano de Arte


(Nova York, Estados Unidos)

Museu do Vaticano
(Roma, Itália)

A casa de Anne Frank


(Amsterdã, Holanda)

Museu de Arte de São Paulo


(São Paulo, Brasil)

Museu Frida Kahlo


(Cidade do México, México)

42
O Brasil também tem alguns museus que se destacam no cenário internacional,
como o MASP – citado no mapa acima – e o Museu Nacional.
O Museu Nacional foi criado por Dom João VI, em 1818, sendo a “mais antiga
instituição científica do Brasil e o maior museu de história natural e antropológica da
América Latina” (informações fornecidas pelo site do Museu Nacional). Sua sede ocupa
o Palácio de São Cristóvão, que foi residência da Família Imperial Brasileira até 1889 e
está localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Em 1946, o Museu foi
incorporado à Universidade do Brasil e, atualmente, faz parte da estrutura acadêmica
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

Acesse o site do Museu Nacional para saber mais sobre sua


história e acervo: http://www.museunacional.ufrj.br/

No dia 02 de setembro de 2018, o Museu Nacional foi consumido por um incêndio


de amplas proporções e teve grande parte do seu acervo queimado. Em 2019, a perícia
realizada pela Polícia Federal concluiu que a causa do incêndio foi um curto-circuito em
um aparelho de ar condicionado.
Leia a notícia a seguir, que foi publicada no dia 04 de setembro de 2018 e expõe
a reação do então ministro da Secretaria de Governo sobre o ocorrido.

43
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse nesta segunda-feira (3)
avaliar que, agora que um incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, "tem
muita viúva aparecendo" para lamentar o que foi perdido.
O incêndio começou na noite deste domingo (2) e destruiu a área interna do museu.
O prédio completou 200 anos neste ano e o acervo tinha cerca de 20 milhões de itens.
Ao conceder uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, nesta segunda-feira,
Marun foi indagado sobre o incêndio e avaliou que "está aparecendo muita viúva
apaixonada".
"Agora que aconteceu, tem muita viúva chorando. Na televisão não vi ultimamente
alguém destacando a história do museu, valorizando o museu para que ele se tornasse
mais amado pela nossa população. Está aparecendo muita viúva apaixonada, mas, na
verdade, essas viúvas não amavam tanto assim o museu em referência", disse Marun.

Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído após incêndio — Foto: Thiago Ribeiro

Ao se referir ao incêndio, Marun disse ainda que a destruição do museu foi uma
"fatalidade". Questionado sobre uso deste termo, já que há relatos de dificuldades
financeiras do museu, Marun afirmou que não viu reportagens sobre o museu para
destacar a importância da instituição e do acervo.
O ministro aproveitou a entrevista para afirmar que o Museu Nacional é
administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Indagado sobre se a
universidade deveria ter gerido melhor os recursos, Marun afirmou que não iria colocar
a "culpa" em ninguém.
"Não vou culpar ninguém, não conheço o que a UFRJ priorizou. Só estou fazendo
afirmações que condizem com a realidade, a UFRJ tem autonomia financeira e o
orçamento do museu sai do orçamento da UFRJ", disse.

44
Museu Nacional, no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução Roberto da Silva

O museu

Criado por D. João VI em 1818, o museu completou 200 anos em junho deste ano.
Logo que foi criado, serviu para atender aos interesses de promoção do progresso
cultural e econômico do país.
Desde 1892, o museu ocupa um prédio histórico, o palácio de São Cristóvão, que
foi doado por um comerciante ao príncipe regente D. João em 1808 e que depois tornou-
se a residência oficial da família real no Brasil entre 1816 e 1821.
Segundo o Bom Dia Brasil, o Museu Nacional estava há pelo menos três anos
funcionando com orçamento reduzido e a situação chegou ao ponto de o museu anunciar
uma "vaquinha virtual" para arrecadar recursos. [...]

Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/09/03/agora-que-aconteceu-tem-muita-viuva-


chorando-diz-marun-sobre-incendio-no-museu-nacional.ghtml (Adaptado)

A LÍNGUA EM USO: TRABALHANDO O GÊNERO NOTÍCIA


1. O objetivo de uma notícia é relatar determinado acontecimento aos seus leitores.
Para isso, algumas informações são imprescindíveis para que o fato seja noticiado de
forma clara e correta. Com base nisso, preencha a tabela a seguir com informações
retiradas da notícia “'Agora que aconteceu, tem muita viúva chorando', diz Marun sobre
incêndio no Museu Nacional”.

45
O que aconteceu?

Onde aconteceu?

Quando aconteceu?

Quem estava envolvido?

▪ Na tabela da questão 1, a informação preenchida no campo “O que aconteceu?”


corresponde ao tema central da notícia. Ou seja, o objetivo dos jornalistas é noticiar
aquele acontecimento. Tomando por base essa informação, responda: em quais
circunstâncias esse fato ocorreu? Quais foram as suas causas?

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

1. A partir da leitura da notícia e da observação da sua estrutura, responda:


a) Qual é o meio de circulação em que está inserida essa notícia?

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
b) Você acredita que esse seria o único meio de circulação possível para uma notícia
como essa? Por quê? Quais outros seriam possíveis?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
c) Considerando o meio de circulação que você citou na pergunta “a”, quem seriam os
possíveis leitores do texto?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

46
2. Com base na leitura do texto, por que o fato ocorrido vale a pena ser noticiado?
Assinale a alternativa correta.
a) Porque é uma questão de utilidade pública saber o que os representantes do
governo pensam sobre acontecimentos nacionais.
b) Porque aconteceu em Brasília, capital do país.
c) Porque o fato envolve a opinião de um ministro, uma figura pública, sobre um fato
considerado uma tragédia por grande parte da população.
d) Porque envolve o Museu Nacional, o maior da América Latina.

Glossário:
Utilidade pública: declaração que pode servir para uma grande maioria de pessoas.
Figura pública: uma pessoa que tem uma certa posição social dentro de um certo escopo
e uma influência significativa, além de estar intimamente relacionado aos interesses
públicos da sociedade.
Fonte: https://www.dicionarioinformal.com.br/

3. Em jornais impressos, normalmente, não é citada a autoria da notícia, afinal, os


jornalistas e repórteres representam o veículo de comunicação para o qual foram
contratados. No caso da notícia apresentada anteriormente, a autoria é atribuída a
Guilherme Mazui e Roniara Castilhos, cujos nomes são seguidos de “G1 e TV Globo”. Essa
última informação é importante por quê? Assinale a alternativa correta.

a) sinaliza a emissora de comunicação representada pelos jornalistas.


b) sinaliza os veículos de comunicação em que a notícia foi divulgada.
c) é um meio dos leitores conhecerem os autores da publicação.
d) é um meio de divulgar a emissora de comunicação.

4. No corpo da notícia, há duas imagens que são seguidas por legendas:


a) Qual a diferença entre as duas imagens?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Qual a importância do conteúdo imagético para a notícia?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

47
5. Ao acessar a notícia no seu meio de circulação original, temos acesso, além das duas
imagens, a um vídeo e a hiperlinks.
Leia o QR Code para assistir ao vídeo:

a) Qual a informação apresentada no vídeo?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Por que os jornalistas adicionaram o vídeo à notícia?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) Seu entendimento sobre a notícia sofreu alguma mudança após você assistir ao vídeo?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

d) Qual a sua função dos hiperlinks na notícia?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

6. Analise o segundo parágrafo da notícia:

O incêndio começou na noite deste domingo (2) e destruiu a área interna do museu. O
prédio completou 200 anos neste ano e o acervo tinha cerca de 20 milhões de itens.

a) Quais informações são apresentadas neste parágrafo?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
b) Qual é a função dessas informações no início do texto?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

48
7. Na notícia em questão, alguns trechos estão entre aspas.
a) Por que esses trechos estão entre aspas?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) A quem são atribuídas essas sentenças?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) As sentenças entre aspas dizem respeito à opinião do veículo de comunicação? Por


quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

8. Na notícia, é dado destaque ao seguinte trecho da entrevista de Marun:

“Agora que aconteceu, tem muita viúva chorando”

Com base nesse enunciado, responda:


a) Qual o sentido usual da palavra “viúva”?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) A quem Marun se refere quando usa o termo “viúva”?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) No contexto noticiado, esse termo possui um sentido apreciativo ou depreciativo?


Explique.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

49
9. Ao final da notícia, há uma seção intitulada “O museu”. Qual a função dessa seção?
Assinale a alternativa correta.

a) Contextualizar historicamente o museu e sua atual situação financeira.


b) Contar sobre a história do fundador do museu.
c) Destacar as datas históricas mais importantes para o museu.
d) Divulgar uma “vaquinha virtual” para auxílio financeiro ao museu.

10. O gênero notícia, além de outros aspectos, é caracterizado por apresentar um título
e uma linha fina. Compare as informações apresentadas nesses dois locais do texto e no
primeiro parágrafo. Após, relacione as colunas de acordo com as informações
apresentadas em cada uma delas:

Informações:
Partes da notícia: ( ) Contextualização um pouco mais detalhada do
1. Título acontecido, com maiores informações sobre o fato.
2. Linha fina ( ) Breve contextualização do acontecido, com os
3. Primeiro parágrafo participantes e parte do fato.
( ) Contextualização completa do acontecido, com os
participantes, o fato, a data e local.

11. Na atividade número 10, você relacionou partes do texto com as informações que
elas apresentam. Na organização estrutural de uma notícia, por que é importante o uso
desse recurso de apresentação crescente das informações?

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

50
12. Analise o trecho a seguir e responda o que se pede:

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse nesta segunda-feira


(3) avaliar que, agora que um incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro,
"tem muita viúva aparecendo" para lamentar o que foi perdido (veja no vídeo acima).
O incêndio começou na noite deste domingo (2) e destruiu a área interna do
museu. O prédio completou 200 anos neste ano e o acervo tinha cerca de 20 milhões
de itens.
Ao conceder uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, nesta segunda-
feira, Marun foi indagado sobre o incêndio e avaliou que "está aparecendo muita
viúva apaixonada".

a) Quais informações são fornecidas pelos trechos em destaque?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Por que essas informações são importantes no gênero notícia?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

13. Qual a função sintática dos trechos em destaque? Assinale a alternativa correta.
a) Adjunto adnominal que retoma características espaciais e temporais.
b) Adjunto adverbial que destaca aspectos espaciais e temporais.
c) Complemento verbal que destaca um local.
d) Complemento nominal que retoma uma data.

14. Na frase “O prédio completou 200 anos neste ano e o acervo tinha cerca de 20
milhões de itens.”, a palavra destacada refere-se a que ano?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

15. A palavra “neste” pertence a qual classe gramatical?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

51
16. Analise o seguinte trecho e responda:

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse nesta segunda-feira (3)


avaliar que, agora que um incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro,
"tem muita viúva aparecendo" para lamentar o que foi perdido.

a) Em qual tempo verbal estão os verbos em destaque?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) O tempo verbal citado na questão “a” é predominante no gênero notícia. Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) Apesar de haver predominância do tempo verbal citado na questão “a”, há a


presença de outros, como o presente. Por que isso acontece?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

17. Analise os trechos a seguir para responder às questões:

Trecho 1:
Ao conceder uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, nesta segunda-feira, Marun
foi indagado sobre o incêndio e avaliou que "está aparecendo muita viúva apaixonada".

Trecho 2:
Ao se referir ao incêndio, Marun disse ainda que a destruição do museu foi uma
“fatalidade”. Questionado sobre uso deste termo, já que há relatos de dificuldades
financeiras do museu, Marun afirmou que não viu reportagens sobre o museu para
destacar a importância da instituição e do acervo.

a) Em ambos os trechos, os verbos destacados dão voz ao ministro da Secretaria de


Governo, Carlos Marun. Nos dois exemplos citados acima, os verbos destacados têm o
mesmo efeito de sentido? Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

52
18. Analise o trecho a seguir e assinale a alternativa correta:

Segundo o Bom Dia Brasil, o Museu Nacional estava há pelo menos três anos
funcionando com orçamento reduzido e a situação chegou ao ponto de o museu
anunciar uma “vaquinha virtual” para arrecadar recursos.

A expressão em destaque pode ser substituída, sem alteração de sentido, por:


a) menos de
b) mais ou menos
c) no mínimo
d) no máximo

RESUMINDO...
As perguntas que você respondeu anteriormente auxiliam na compreensão do
funcionamento e das características do gênero textual jornalístico notícia.
O objetivo de uma notícia é relatar um fato relevante, seja para a população local,
regional, nacional ou mundial – isso vai depender do alcance do jornal em questão. Para
isso, o texto deve responder às perguntas: O quê? Quando? Onde? Quem? Por quê? Ao
explicar o acontecido, o jornalista deve ser impessoal e imparcial. Ou seja, o texto deve
ser escrito em 3ª pessoa e não deve conter opiniões pessoais de quem escreve.
Além disso, o episódio relatado pode ou não vir acompanhado de imagens –
quando presentes, elas têm o objetivo de ilustrar o acontecido ou, então, apresentar uma
pessoa ou um local.
Os autores de uma notícia raramente são nomeados, já que eles representam o
jornal para o qual escrevem. Além disso, os meios em que circulam as notícias são
variados, podendo ser o jornal impresso ou on-line ou, ainda, o jornal apresentado pelas
redes de rádio e/ou televisão.
A notícia pode ser dividida em, pelo menos, três partes: título, linha fina e corpo
do texto. Alguns textos, ainda, apresentam o flashback, que é como um “anexo” ao final
do texto que tem o objetivo de dar alguma informação adicional sobre o que está sendo
tratado.

53
Se você quiser entender melhor as características e o funcionamento do gênero notícia,
acesse o canal no YouTube do Brasil Escola:

Agora que você conhece um pouco mais o gênero textual notícia, é válido ressaltar
que o conhecimento sobre os acontecimentos do mundo nos auxilia a formar nossa
opinião enquanto cidadãos. A partir da leitura da notícia Agora que aconteceu, tem
muita viúva chorando, diz Marun sobre incêndio no Museu Nacional e das respostas
dadas às questões, o que você pensa sobre o incêndio no Museu Nacional e a fala do
ministro Marun?

O MUSEU NACIONAL NA CRÔNICA JORNALÍSTICA

Além de você, outras pessoas também formaram opiniões sobre o acontecido, que
podem ser favoráveis ou contrárias às suas. O gênero textual que você vai ler a seguir
trata-se de uma crônica jornalística, um texto curto que tem por objetivo emitir um
parecer, uma opinião ou uma reflexão pessoal do autor sobre determinado
acontecimento.
Escrita pelo escritor Fabrício Carpinejar, a crônica foi publicada apenas um dia
após a fala do Ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, conforme lemos
anteriormente.

Luzia é o fóssil humano mais antigo encontrado na América do Sul, com cerca
de 12.500 a 13.000 anos, e reacendeu questionamentos acerca das teorias da origem
do homem americano. O fóssil pertenceu a uma mulher que morreu entre seus 20 a
24 anos de idade e foi considerado como parte da primeira população humana que
entrou no continente americano.
O esqueleto foi descoberto nos anos 1970 em escavações na Lapa Vermelha,
uma gruta no município de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Em 2018, o fóssil foi queimado e quase destruído no incêndio do Museu
Nacional. Em 19 de outubro de 2018, o museu anunciou que conseguiu recuperar até
80% dos fragmentos e poderá reconstruir o esqueleto.
Disponível em: Wikipédia. Acesso em 25 jun. 2020.

54
“Agora que aconteceu tem muita viúva chorando”
Por Fabrício Carpinejar

Somos viúvos da Luzia mesmo, querido ministro. Nossas lágrimas são pântanos
onde nadam os crocodilos políticos.
O crânio mais antigo do país, com 11 mil anos, teve que falecer duas vezes para ser
descoberto pelos brasileiros.
Os museus no país não são museus, são depósitos.
As autoridades fazem questão de esconder as nossas instituições artísticas, de
tratá-las como secundárias, como irrelevantes, como desperdício de dinheiro público.
Não são mantidas com orgulho, não são alardeadas em projetos de recuperação, não são
reconhecidas como vitrines da nossa ciência, não têm brigadas de incêndio, muito
menos os sensores mínimos de fumaça, não estimulamos a iniciação científica e a visita
das escolas. O último presidente que pôs os pés no Museu Nacional, na Quinta da Boa
Vista, foi Juscelino Kubitschek. Faz tempo, né?
Ministro, agora que aconteceu é que as pessoas estão descobrindo o valor do
Museu Nacional. Antes do incêndio, quem passava por São Cristóvão devia pensar que
era a residência abandonada do imperador. E só.
Em dois séculos, não houve a decência de formar um público admirador e ensinar
aos outros a potência histórica daquele patrimônio inestimável.
Antes das chamas destruírem noventa por cento do acervo, grande parte da
população nem sabia que desfrutava de um museu com 20 milhões de itens, entre
dinossauros, esculturas, objetos indígenas, meteoritos, documentos históricos e a maior
coleção egípcia da América Latina.
A desinformação é a nossa primeira morte. Dentro do governo e fora do governo.
As outras mortes são meras consequências.
Luzia significa aquela que irradia luz. É um nome que corresponde a protetora dos
olhos. Mas a justiça vem sendo cega para a cultura. Unicamente enxergamos as cinzas,
tarde demais.

Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/fabricio-carpinejar/

Fabrício Carpi Nejar, nascido em Caxias do Sul – RS em


1972, é poeta, cronista e jornalista. Em 1998, com o
lançamento de As solas do Sol, passa a assinar como
Fabrício Carpinejar. Sua notoriedade nacional foi
alcançada em 2003, com a antologia Caixa de Sapatos.
Carpinejar é detentor de mais de 20 prêmios literários e,
atualmente, é colunista nos jornais Zero Hora e O Globo.

55
Se você ficou curioso e quer saber um pouco mais das obras de Carpinejar, pode
acessar a página do autor no Facebook ou visitar seu blog.

Facebook Blog:
:

A LÍNGUA EM USO: TRABALHANDO O GÊNERO CRÔNICA JORNALÍSTICA

1. A crônica de Carpinejar foi publicada em uma página online de um jornal. No


entanto, esse não é o único meio de circulação desse gênero. Na atividade a seguir, você
deve relacionar os diferentes meios de circulação possíveis para uma crônica, listados
na coluna 1 com os diferentes objetivos de cada publicações, citados na coluna 2:

Coluna 1 Coluna 2
1. Entreter os leitores.
( ) Jornais e revistas
2. Expressar e divulgar os sentimentos do autor.
( ) Livros de literatura
3. Refletir a partir de acontecimentos públicos.
( ) Livros didáticos
4. Refletir sobre aspectos linguísticos e literários a fim
( ) Blogs
de didatizá-los.

2. Analise a expressão destacada no trecho a seguir e responda:

O crânio mais antigo do país, com 11 mil anos, teve que falecer duas vezes para ser
descoberto pelos brasileiros.

a) Considerando o contexto histórico brasileiro e a situação ocorrida na época em que


foi escrita a crônica, como pode ser explicada tal expressão?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

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3. Na frase a seguir: “Os museus no país não são museus, são depósitos.”, qual é o
sentido atribuído à palavra destacada? Ele é apreciativo ou depreciativo? Explique.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

4. O autor usa a Luzia como argumento para iniciar e finalizar o seu texto. Como isso se
relaciona com o incêndio no Museu Nacional e a fala do ministro Marun?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

A fim de construir o significado desejado, o autor de uma crônica jornalística usa


de diferentes recursos linguísticos e discursivos para atingir seu objetivo. Por meio das
atividades de análise linguística a seguir, somadas aos aprendizados das questões
anteriores, você poderá compreender melhor como funciona o processo de construção
de sentidos na crônica jornalística “Agora que aconteceu tem muita viúva chorando”.

1. Metáfora é uma figura de linguagem que constrói sentidos figurados a partir de uma
comparação. A frase “Nossas lágrimas são pântanos onde nadam os crocodilos
políticos.” configura uma metáfora. Responda:

a) Qual sentido figurado é construído na metáfora apresentada?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Qual comparação é apresentada na frase?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) Por que figuras de linguagem são mais recorrentes no gênero crônica do que no
gênero notícia?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

57
2. Releia o segundo parágrafo do texto:

As autoridades fazem questão de esconder as nossas instituições artísticas, de tratá-


las como secundárias, como irrelevantes, como desperdício de dinheiro público. Não
são mantidas com orgulho, não são alardeadas em projetos de recuperação, não são
reconhecidas como vitrines da nossa ciência, não têm brigadas de incêndio, muito
menos os sensores mínimos de fumaça, não estimulamos a iniciação científica e a
visita das escolas. O último presidente que pôs os pés no Museu Nacional, na Quinta
da Boa Vista, foi Juscelino Kubitschek. Faz tempo, né?

a) Nesse trecho, o autor usa o recurso da reiteração para dar significado ao seu texto.
Qual é o termo repetido pelo autor?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Qual é o efeito da repetição de tal termo para a construção de sentido do texto?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) O trecho acima é finalizado com a expressão “Faz tempo, né?”. O termo em destaque
pode ser usado em qualquer produção textual? Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

3. Por que esse termo pode aparecer na crônica jornalística, mas não na notícia?
Assinale a alternativa correta.
a) Porque é uma marca de oralidade que mantém a sequência da crônica jornalística.
b) Porque é uma marca de oralidade típica do gênero crônica jornalística.
c) Porque é uma marca de oralidade que agrega imparcialidade à argumentação do
autor.
d) Porque na crônica jornalística essa marca de oralidade serve para estabelecer uma
relação com o leitor.

58
4. Leia o trecho a seguir:

Em dois séculos, não houve a decência de formar um público admirador e ensinar


aos outros a potência histórica daquele patrimônio inestimável.

Em uma crônica jornalística, o autor emite juízos de valor sobre o assunto em


questão ou sobre os envolvidos. No caso da crônica “Agora que aconteceu tem muita
viúva chorando”, o autor emite avaliações em relação ao patrimônio histórico nacional
e àqueles que seriam responsáveis pela sua preservação. Tendo por base essa
informação, assinale as afirmativas a seguir com V (verdadeiro) ou F (falso):

( ) As expressões “potência histórica” e “inestimável” se referem ao termo “patrimônio”,


emitindo um significado negativo ao seu referente.
( ) Tais expressões têm a função sintática de adjunto adnominal
( ) Em “não houve a decência”, o autor está construindo um significado negativo em
relação ao descaso com o Museu Nacional.
( ) Com base nas escolhas lexicais do autor, é correto afirmar que ele se posiciona contra
a fala proferida pelo ministro Marun, mas defende o não investimento no Museu
Nacional.

5. Em sua opinião, de quem é a responsabilidade de formar um público admirador da


história e ensinar sobre sua importância? Como isso poderia ser feito?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

6. Analise o trecho a seguir:

Luzia significa aquela que irradia luz. É um nome que corresponde a protetora dos
olhos. Mas a justiça vem sendo cega para a cultura.

Qual o sentido que a conjunção em destaque dá à sentença?


a) aditivo
b) adversativo
c) alternativo
d) conclusivo

59
7. O trecho 1 foi retirado da notícia ‘Agora que aconteceu, tem muita viúva
chorando’, diz Marun sobre incêndio no Museu Nacional e o trecho II da crônica
“Agora que aconteceu tem muita viúva chorando”:

Trecho 1:
O incêndio começou na noite deste domingo (2) e destruiu a área interna do museu. O
prédio completou 200 anos neste ano e o acervo tinha cerca de 20 milhões de itens.

Trecho 2:
Antes das chamas destruírem noventa por cento do acervo, grande parte da população
nem sabia que desfrutava de um museu com 20 milhões de itens, entre dinossauros,
esculturas, objetos indígenas, meteoritos, documentos históricos e a maior coleção
egípcia da América Latina.

Observe que ambos os trechos apresentam a informação: o museu possuía um


acervo de (aproximadamente) 20 milhões de itens. Sobre essa informação, são
verdadeiras as seguintes sentenças:

I. A informação apresentada no trecho II é mais detalhada, visto que apresenta


destaque explicativo, especificando alguns itens que compunham o acervo do Museu
Nacional.

II. O destaque explicativo dos itens que compunham o acervo do Museu Nacional, no
trecho II, auxilia na argumentação do autor sobre a importância da preservação desse
patrimônio.

III. A informação sobre a idade do Museu Nacional e o destaque quantitativo dado ao


seu acervo, no trecho I, auxilia na argumentação da equipe de jornalistas em favor da
preservação do patrimônio histórico.

Assinale a opção correta:


1. Apenas I está correta.
2. Apenas II está correta.
3. Apenas III está correta.
4. Apenas I e II estão corretas.
5. Apenas II e III estão corretas.

60
A crônica jornalística pode ser caracterizada como um gênero
que mistura fragmentos narrativos – em geral, acontecimentos atuais são contados
para, em seguida, promover-se uma reflexão sobre eles – e trechos mais longos de
reflexão e argumentação sobre o fato relatado. Por ser publicada em jornais, é esperado
que o tema da crônica jornalística seja de interesse de um grupo social e não apenas do
próprio cronista. Normalmente, os principais acontecimentos do dia ou da semana
anterior são os assuntos redigidos nas crônicas jornalísticas.
Disponível em: https://www.portugues.com.br/literatura/a-cronica-.html

Ficou curioso e quer ler mais algumas crônicas jornalísticas? Você


pode dar uma olhada no site da Brasileira de Letras, em especial,
na crônica O rádio apaixonado, de Moacyr Scliar.

Para saber um pouco mais sobre a história geral do gênero crônica e


os seus diferentes tipos, você pode acessar o canal do Brasil Escola,
no Youtube.

NOTÍCIA X CRÔNICA JORNALÍSTICA

Você deve ter notado que a crônica de Carpinejar, “Agora que aconteceu tem
muita viúva chorando”, foi escrita com o propósito de refletir sobre a postura do então
ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, a respeito do incêndio no Museu
Nacional em 2018. O comportamento do ministro foi noticiado por um jornal por meio
da notícia ‘Agora que aconteceu, tem muita viúva chorando’, diz Marun sobre
incêndio no Museu Nacional.
Ambos os textos tratam do mesmo assunto – a fala do ministro Marun sobre o
incêndio no Museu Nacional em 2018 – mas de perspectivas distintas. A notícia tenta
ser imparcial, apenas relatando o acontecido. Enquanto que na crônica não há essa
preocupação, visto que sua intenção é justamente apresentar reflexões críticas sobre o
ocorrido. Tendo esclarecido os aspectos que aproximam os dois textos, iremos, agora,
esquematizá-los. A partir das respostas dadas às respectivas atividades de cada texto,
preencha a tabela com as informações solicitadas.
Nas colunas “Notícia” e “Crônica Jornalística”, você deve preencher com as
informações de cada texto, conforme solicitado na coluna “Aspecto”. Já na coluna
“Explicação”, você deve redigir uma breve explicação sobre a diferença ou semelhança
entre os dois textos naquele determinado aspecto. Observe o exemplo:

61
Crônica
“Aspecto” Notícia Explicação
Jornalística

O meio de circulação de ambos os textos


Jornal
Meio de circulação Jornal online. é condizente com sua classificação como
online.
gêneros jornalísticos.

Autoria

Marcas de
oralidade

Presença de
discurso direto

Presença de
adjuntos
adverbiais

Marcas de
opinião/juízo de
valor

62
Nesta unidade didática, aprendemos as características dos gêneros textuais
notícia – texto informativo que apresenta fatos reais de algum acontecimento atual – e
crônica jornalística – texto que promove uma reflexão crítica sobre acontecimentos
atuais –, além dos possíveis meios de circulação de cada um desses textos.
Agora é a sua vez de pôr em prática o que aprendeu! Pesquise em jornais e
revistas da sua cidade, estado ou país uma notícia que lhe chame atenção e tenha sido
publicada nos últimos dias. Com base na sua escolha, elabore uma crônica jornalística,
apresentando sua reflexão sobre o fato relatado.
As produções textuais da turma, após revisadas e reescritas, serão organizadas
no “Jornal do 9º Ano”, o qual será distribuído na escola (jornal impresso) e publicado
nas redes sociais (jornal online). Assim, ele poderá ser lido pelos alunos de outras
turmas, professores, funcionários e familiares. Sucesso na escrita! Capriche!
Para melhor encaminhar sua escrita, você pode se basear nos seguintes critérios
de avaliação:

Em
Critérios Sim Não
parte
1. Atendimento à proposta: seleção de notícia e escrita
reflexiva e crítica sobre ela.
2. Construção textual compatível com o gênero textual
solicitado.
3. Construção de argumentos relevantes e convincentes
para sustentar a posição crítico-reflexiva do autor em
relação ao tema abordado.
4. Desenvolvimento do tema com criticidade e
utilização de referências pertinentes, com presença
de articulação das ideias presentes na notícia.
5. Emprego adequado da linguagem em relação ao grau
de formalidade exigido pelo contexto de produção.

6. Linguagem usada está de acordo com as convenções


da escrita: ortografia, pontuação, construção de
frases e parágrafos, concordância e regência.
Adaptado de PASSARELLI, L. M. G. Ensino e correção na produção de textos escolares. São Paulo: Cortez, 2012.

Para procurar a notícia que embasará sua crônica, deixemos algumas sugestões
de páginas online de jornais nacionais e internacionais. Se preferir, você também pode
optar por outras fontes.

63
The New York Times

O Globo

Gaúcha ZH

PRIMEIRA VERSÃO DA CRÔNICA

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REESCRITA DA CRÔNICA

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65
Atividades de leitura

(EF89LP01) Analisar os interesses que movem o campo jornalístico, os efeitos das


novas tecnologias no campo e as condições que fazem da informação uma mercadoria,
de forma a poder desenvolver uma atitude crítica frente aos textos jornalísticos.
(EF89LP05) Analisar o efeito de sentido produzido pelo uso, em textos, de recurso a
formas de apropriação textual (paráfrases, citações, discurso direto, indireto ou indireto
livre).
(EF69LP03) Identificar, em notícias, o fato central, suas principais circunstâncias e
eventuais decorrências; em reportagens e fotorreportagens o fato ou a temática
retratada e a perspectiva de abordagem, em entrevistas os principais temas/subtemas
abordados, explicações dadas ou teses defendidas em relação a esses subtemas; em
tirinhas, memes, charge, a crítica, ironia ou humor presente.

Atividades de análise linguística

(EF89LP16) Analisar a modalização realizada em textos noticiosos e argumentativos,


por meio das modalidades apreciativas, viabilizadas por classes e estruturas gramaticais
como adjetivos, locuções adjetivas, advérbios, locuções adverbiais, orações adjetivas e
adverbiais, orações relativas restritivas e explicativas etc., de maneira a perceber a
apreciação ideológica sobre os fatos noticiados ou as posições implícitas ou assumidas.

(EF69LP16) Analisar e utilizar as formas de composição dos gêneros jornalísticos da


ordem do relatar, tais como notícias (pirâmide invertida no impresso X blocos
noticiosos hipertextuais e hipermidiáticos no digital, que também pode contar com
imagens de vários tipos, vídeos, gravações de áudio etc.), da ordem do argumentar, tais
como artigos de opinião e editorial (contextualização, defesa de tese/opinião e uso de
argumentos) e das entrevistas: apresentação e contextualização do entrevistado e do
tema, estrutura pergunta e resposta etc.

(EF69LP17) Perceber e analisar os recursos estilísticos e semióticos dos gêneros


jornalísticos e publicitários, os aspectos relativos ao tratamento da informação em
notícias, como a ordenação dos eventos, as escolhas lexicais, o efeito de imparcialidade
do relato, a morfologia do verbo, em textos noticiosos e argumentativos, reconhecendo
marcas de pessoa, número, tempo, modo, a distribuição dos verbos nos gêneros textuais
(por exemplo, as formas de pretérito em relatos; as formas de presente e futuro em
gêneros argumentativos; as formas de imperativo em gêneros publicitários), o uso de
recursos persuasivos em textos argumentativos diversos (como a elaboração do título,
escolhas lexicais, construções metafóricas, a explicitação ou a ocultação de fontes de
informação) e as estratégias de persuasão e apelo ao consumo com os recursos
linguístico-discursivos utilizados (tempo verbal, jogos de palavras, metáforas, imagens).

66
Atividades de produção textual

(EF69LP06) Produzir e publicar notícias, fotodenúncias, fotorreportagens,


reportagens, reportagens multimidiáticas, infográficos, podcasts noticiosos, entrevistas,
cartas de leitor, comentários, artigos de opinião de interesse local ou global, textos de
apresentação e apreciação de produção cultural – resenhas e outros próprios das formas
de expressão das culturas juvenis, tais como vlogs e podcasts culturais, gameplay,
detonado etc.– e cartazes, anúncios, propagandas, spots, jingles de campanhas sociais,
dentre outros em várias mídias, vivenciando de forma significativa o papel de repórter,
de comentador, de analista, de crítico, de editor ou articulista, de booktuber, de vlogger
(vlogueiro) etc., como forma de compreender as condições de produção que envolvem
a circulação desses textos e poder participar e vislumbrar possibilidades de participação
nas práticas de linguagem do campo jornalístico e do campo midiático de forma ética e
responsável, levando-se em consideração o contexto da Web 2.0, que amplia a
possibilidade de circulação desses textos e “funde” os papéis de leitor e autor, de
consumidor e produtor.

67
CAPÍTULO 3 – O VÍDEO ENSAIO
Frederico Medina Fidler e Miguel Morais Bartolás

Caro aluno,
o surgimento das mídias digitais expandiu os horizontes da comunicação e incorporou
novos e atraentes elementos aos gêneros escritos, por vezes, transformando-os
completamente em matéria de narrativa. Neste capítulo, vamos explorar uma categoria
de textos multissemióticos, de teor expositivo e argumentativo. Difundido em
plataformas audiovisuais de livre acesso na internet, como YouTube e Vimeo, esse
gênero textual é orientado à divulgação e à popularização de conhecimentos pertinentes
a campos variados do saber humano em meio ao público altamente diversificado, os
consumidores de conteúdos digitais. Trata-se do vídeo-ensaio.
Este gênero pertence ao campo das práticas de estudo e pesquisa, que
compreende as habilidades necessárias à inserção do aluno no mundo da pesquisa e
divulgação científica. Os conhecimentos encaminhados nesta unidade didática visam ao
desenvolvimento da capacidade do aluno de reconhecer a importância do domínio
dessas práticas para a compreensão do mundo físico e da realidade social, para que seja
capaz de empregá-las em serviço de seu crescimento intelectual e profissional. Este
material é voltado para o público do Ensino Médio, tendo em vista a formação de um
cidadão autônomo, curioso e de espírito investigativo!

ANTES DO VÍDEO, O ENSAIO

“Quero que me vejam aqui em meu modo simples, natural e corrente, sem pose nem
artifício: pois é a mim que retrato”. Assim o pensador francês Michel de Montaigne (1533
- 1592) define suas intenções ao registrar pensamentos e impressões, acerca dos mais
variados temas, que compõem os famosos Ensaios. Com essa afirmação, Montaigne torna
explícita sua opção por uma escrita mais pessoal e menos presa às regras de um
determinado gênero. É justamente a maneira leve e quase descompromissada de
transmitir conhecimentos que caracteriza o ensaio, uma modalidade de texto surgida a
partir da obra de Montaigne.

68
Da esquerda para a direita: retrato de Michel de Montaigne; capa de uma edição
francesa dos Ensaios, publicada em 1595; capa da edição brasileira dos Ensaios, de 1961,
publicada pela Editora Globo.

Diferente de outros gêneros voltados à difusão de informações, o ensaio dispensa


a necessidade de trazer dados e evidências científicas a todo momento - dessa forma,
permite que o autor expresse opiniões e teça avaliações subjetivas a respeito do tema
abordado. Essa liberdade natural do ensaio, porém, não indica desatenção à lógica e aos
argumentos desenvolvidos no texto.
Muito pelo contrário: defender posicionamentos sobre quaisquer assuntos
requer sustentação em argumentos coerentes e no domínio de conhecimentos
aprofundados relativos ao tema discutido.

69
Leia abaixo um ensaio de Montaigne, publicado
originalmente em 1580:

Sobre o medo
Obstupui, steteruntque comae, et vox faucibus haesit.
Fiquei estupefato, meus cabelos se arrepiaram e minha voz parou em minha garganta.

Não sou bom especialista na natureza (como se diz) e não sei por quais
mecanismos o medo age em nós, mas seja como for é uma estranha emoção, e dizem os
médicos que não há nenhuma que deixe mais depressa nosso julgamento fora de seu
estado normal. Na verdade, vi muitas pessoas que ficaram enlouquecidas de medo, e até
no mais sensato ele engendra terríveis miragens enquanto dura seu acesso. Deixo à parte
o vulgo, para quem o medo representa ora os bisavós saídos do túmulo, envoltos em seu
sudário, ora os lobisomens, os duendes e as quimeras. Mas entre os próprios soldados,
em quem deveria encontrar menos espaço, quantas vezes transformou um rebanho de
ovelhas em esquadrão de couraceiros? Juncos e caniços em homens de armas e
lanceiros? Nossos amigos em nossos inimigos? E a cruz branca na vermelha? Quando o
senhor de Bourbon tomou Roma, um porta-estandarte que estava de guarda no burgo
São Pedro foi invadido por tamanho pavor ao primeiro alarme que, pelo buraco de uma
ruína, de estandarte em punho, se lançou para fora da cidade, direto sobre os inimigos,
pensando dirigir-se para dentro da cidade; e foi só quando viu a tropa do senhor de
Bourbon enfileirar-se para detê-lo, considerando que era uma investida que os da cidade
estivessem fazendo, a muito custo reconheceu o erro e, dando meia-volta, entrou por
aquele mesmo buraco do qual havia se afastado mais de trezentos passos no campo. Mas
o estandarte do capitão Julles não foi tão feliz quando Saint-Pol foi tomada de nós pelo
conde de Bures e o senhor du Reu. Pois, estando tão desvairado de pavor a ponto de
lançar-se com o estandarte para fora da cidade, por uma seteira, ele foi estraçalhado
pelos atacantes. E no mesmo cerco foi memorável o medo que apertou, invadiu e
paralisou com tanta força o coração de um fidalgo que ele caiu duro, morto, no chão,
numa brecha, sem nenhum ferimento. Fúria semelhante por vezes impele toda uma
multidão. Num dos combates de Germânico contra os alemães, duas grandes tropas
tomaram, de tanto pavor, dois caminhos opostos, uma fugindo de onde a outra partia.
Ora ele nos dá asas aos pés, como aos dois primeiros; ora nos prega os pés e os entrava,
como se lê a respeito do imperador Teófilo, que, numa batalha que perdeu contra os
agarenos, ficou tão perturbado e tão transido que não conseguiu decidir-se a fugir:

70
adeo pavor etiam auxilia formidat
de tal modo receia o pavor, mesmo nos socorros

até que Manuel, um dos principais chefes de seu exército, tendo o agarrado e
sacudido como para despertá-lo de um sono profundo, lhe disse: “Se não me seguirdes
hei de matar-vos, pois mais vale perderdes a vida do que, estando prisioneiro, virdes a
perder o Império”. E então ele exprime sua última força quando, para seu próprio
serviço, nos devolve a valentia que subtraiu de nosso dever e de nossa honra. Na
primeira batalha campal que os romanos perderam contra Aníbal, na época do cônsul
Semprônio, uma tropa de bem 10 mil homens de pé tomados de pavor, não vendo outro
lugar por onde dar passagem à covardia, foi jogar-se no meio do grosso dos inimigos,
atravessando entre eles num esforço maravilhoso e provocando grande matança dos
cartagineses, pagando por sua vergonhosa fuga o mesmo preço que pagaria por uma
gloriosa vitória.
É disso que tenho mais medo que do medo. É que ele supera em violência todos
os outros infortúnios. Que emoção pode ser mais dura e mais justa que a dos amigos de
Pompeu que estavam em seu navio, espectadores daquele horrível massacre? E no
entanto, o medo das velas egípcias que começavam a se aproximar a sufocou, de maneira
que se observou que eles só se preocuparam em exortar os marinheiros a se apressarem
e se salvarem com a força dos remos; até que, chegando a Tiro, livres do medo,
conseguiram voltar o pensamento para a perda que acabavam de sofrer e dar rédea solta
às lamentações e às lágrimas que aquela outra emoção mais forte suspendera.

Tum pavor sapientiam omnem mihi ex animo expectorat.


Então o medo arranca toda a razão de meu coração.

Os que foram bem maltratados em alguma batalha de guerra são levados no dia
seguinte ao ataque, todos ainda feridos e ensanguentados. Mas os que sentiram um
grande medo dos inimigos, não os faríeis nem sequer olhá-los de frente. Os que estão
com o opressivo medo de perder seus bens, de ser exilados, de ser subjugados, vivem em
contínua angústia, perdendo a vontade de beber, comer, descansar, enquanto os pobres,
os banidos, os servos vivem amiúde tão alegremente como qualquer outro. E tantas
pessoas, não conseguindo suportar as estocadas do medo, se enforcaram, se afogaram,
se precipitaram, nos ensinaram que o medo é ainda mais importuno e mais insuportável
que a morte!
Os gregos reconhecem uma outra espécie de medo, que não se explica nem mesmo
por um extravagante raciocínio nosso: vindo, dizem eles, de um impulso celeste, e sem
causa aparente. Volta e meia povos inteiros e exércitos inteiros veem-se atingidos por
ele. Assim foi o que levou a Cartago uma terrível desolação. Ali só se ouviam gritos e
vozes apavoradas; viam-se os habitantes saírem de suas casas, como se tivesse soado o
alarme; atacarem-se, ferirem e matarem uns aos outros, como se fossem inimigos que
tivessem vindo ocupar sua cidade. Tudo ficou em desordem e tumulto, até que, por
orações e sacrifícios, aplacaram a ira dos deuses. A isso chamam de terrores pânicos.

Os Ensaios, Michel de Montaigne.

71
Você deve saber que o canibalismo era praticado
religiosamente pelos índios Tupi, certo? Montaigne, mais do
que um ávido leitor dos clássicos, estava por dentro das notícias do
Novo Mundo e das tendências de sua época. Use o QR Code e veja o que
o ensaísta tinha a dizer sobre essa prática.

Ritual antropofágico Tupinambá. Xilogravura de Hans Staden, 1557.

O VÍDEO-ENSAIO

O vídeo-ensaio (em inglês, video essay) é um gênero multimídia que se


popularizou em meados dos anos 2010 no YouTube. Com um público falante de inglês
em seu princípio, essa prática comunicativa vem ganhando cada vez mais popularidade
no Brasil. Apesar de valer-se dos mesmos recursos argumentativos de um ensaio, como
o próprio nome sugere, o vídeo-ensaio tem à sua disposição muitas alternativas
sensoriais para colaborar com a exposição de um tema.
O estilo do texto, cabe salientar, é diferente de um ensaio comum, uma vez que
pode combinar harmonicamente efeitos distintos do puramente textual - imagens,
vídeos, sons, cores, etc. - a fim de contribuir com a narração e insinuar outros
significados e conexões. Por conta disso, as ferramentas audiovisuais das quais o vídeo-
ensaio faz uso, muito em decorrência das plataformas nas quais essa modalidade circula,
são aliadas no desenvolvimento da técnica de narrar, foco do roteiro de um vídeo-ensaio.

72
A arte de contar histórias (em inglês,
storytelling) constitui aspecto relevante na
comunicação de ideias e informações - eventualmente
até mais que as próprias! - e deve ser, portanto, o fio
condutor na progressão do tema.

Vamos assistir?

Confira as recomendações de vídeo-ensaio


abaixo e assista àquele cujo título mais chama sua
atenção. Não esqueça de tomar notas enquanto assiste.

▪ “Tomates, ou como não definir ‘Arte’” (Tomatoes, or How Not To Define "Art"):

Disponível no

73
Imagine que vamos fazer uma salada de frutas: banana, maçã, laranja, tomate,
morango… espera aí, tomate?! Você já deve ter ouvido falar que tomate é uma fruta, e
não um legume, certo? Mas você nunca colocaria um tomate na salada de frutas… eu
acho. E o que tomates têm a ver com a forma como definimos “Arte”? Assista ao vídeo
para descobrir.

▪ “Universo sinfônico da Marvel” (Marvel symphonic universe):

Disponível no

Você reconhece a música tema de Star Wars? Você pode cantarolar a melodia de
Harry Potter? Se você é fã de cinema, provavelmente sim. Agora vem o desafio: você
consegue lembrar da música tema do Hulk, do Capitão América ou do Homem de Ferro?
Por que a Marvel não faz trilhas sonoras inesquecíveis? A resposta para essa pergunta
está neste vídeo.

74
▪ “A beleza dos meios deteriorados” (The beauty of degraded media):

Disponível no

Dificilmente você compraria uma caneca quebrada. Quando um utensílio quebra,


jogamos fora. Agora pense na Vênus de Milo. Por que o mesmo não aconteceu com a
estátua depois de quebrada? Uma obra precisa estar completa para ser apreciada? Essas
e outras questões são discutidas a fundo neste brilhante vídeo.

Vamos conversar?

Qual você mais gostou? Compartilhe com a turma sua preferência e discuta as
seguintes questões:
▪ Qual a relação entre tomates e a definição de "arte"?
▪ Por que as trilhas sonoras dos filmes da Marvel são tão esquecíveis?
▪ Uma obra de arte precisa estar completa para ser apreciada?
▪ Qual a intenção comunicativa de cada vídeo?
▪ Qual é o ponto de vista que cada vídeo está defendendo? Que argumentos (verbais
e não-verbais) são empregados para convencer o telespectador?
▪ Como os vídeos integram a linguagem verbal com os recursos audiovisuais?
▪ Seria possível manter a mensagem dos vídeos integralmente mantendo apenas a
narração ou em formato de texto?

75
Explorando as temáticas

O que os vídeos da atividade anterior têm em comum? Além de serem exemplos


de vídeo-ensaio, os três vídeos abordam temas no âmbito artístico, tratando desde a
trilha à própria linha que divide o que é arte do que não é. Os vídeos-ensaio começaram
a se popularizar principalmente no meio do cinema e das artes plásticas, revelando os
pequenos detalhes que fazem os clássicos tão memoráveis. No entanto, com a
popularização do gênero, o meio se tornou uma ótima ferramenta para chamar atenção
de assuntos tão “banais” que nos passam despercebidos, como o formato de um carro
ou de uma cadeira. O que todos eles possuem em comum é que o tema parte da
observação de algo trivial, pouco notado, mas que tem uma explicação muito mais
complexa do que poderíamos imaginar… Veja nos vídeos abaixo quão abrangentes são
as temáticas exploradas no vídeo-ensaio:
Vídeo 1: “Como os carros passaram de quadrados para arredondados” (How cars went
from boxy to curvy)1

Disponível no

1Como a língua empregada nos vídeos é a inglesa, sugerimos que esta unidade seja desenvolvida 76
em diálogo com o professor de língua inglesa.
Sobre o conteúdo, responda:

1. Qual é a tese defendida pelo vídeo e quais são os argumentos apresentados para
defender essa tese? Cite no mínimo três.
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

2. Qual afirmativa abaixo não é um argumento apresentado no vídeo para os carros


terem se tornado mais arredondados?

▪ Com o aumento do preço da gasolina nos Estados Unidos, nos anos 60, fabricantes
passaram a considerar a aerodinâmica dos modelos visando à maior economia de
combustível.

▪ Os fabricantes norte americanos passaram a copiar o design europeu na tentativa de


atrair consumidores de alto padrão.

▪ A popularidade alcançada pelo lançamento do Taurus fixou o design arredondado


como o carro do futuro no imaginário das pessoas, estrelando inclusive no filme Robocop
como representante do carro futurista.

▪ Leis de consumo de combustível nos Estados Unidos determinaram que os


fabricantes considerassem o design mais economicamente viável para o consumidor.

▪ O avanço tecnológico permitiu que os modelos passassem a ser feitos em


computador, facilitando o design com curvas.

3. Há indicação de fontes para as informações apresentadas no vídeo? Se sim, onde


as fontes aparecem? Seriam fontes confiáveis?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

4. Observe a descrição do vídeo. Que elementos podemos encontrar nesse espaço?

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

77
Observe os componentes visuais e reflita:
a) Que tipos de imagens são incorporadas ao vídeo? São utilizadas apenas figuras e fotos,
apenas vídeos, ou há combinação dos dois? Há animações?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Muitas das imagens utilizadas possuem um aspecto antigo, observado pela


coloração e qualidade das fotos. De onde você acha que as imagens são retiradas? Há
indicação de fontes?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

5. Assista ao vídeo novamente atentando para a trilha sonora e para as seguintes


questões:
a) O vídeo contém uma música de fundo? Se sim, ela permanece a mesma ao longo de
toda sua duração?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Em que momentos a música é alterada para passar uma determinada ideia ou


emoção? Há relação com o que está sendo narrado?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) Que vozes, além da voz do narrador, podem ser encontradas no vídeo?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

d) Há indicação das fontes para a trilha sonora? Em que local isso é indicado?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

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Em vários momentos, são apresentadas fotos de manchetes e recortes de reportagens
de jornais da época. Também é muito comum encontrar em vídeo-ensaios imagens de
artigos científicos ou pesquisas acadêmicas. Veja os exemplos abaixo.

Imagem 1: Frame do vídeo Como os carros passaram de quadrados para arredondados

Imagem 2: Frame do vídeo Para Qual Lado Ele Foi? Movimento Lateral de Personagem
nos Filmes

Note que o texto só aparece por poucos segundos e geralmente não é lido pelo
narrador. Será que a intenção do autor ao inserir as imagens é de que esses trechos
sejam lidos ou eles servem outro propósito comunicativo? De que forma essas imagens
são empregadas como estratégia argumentativa?

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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

79
Vídeo 2 - “Como essa cadeira conquistou o mundo” (How this chair conquered the world)

Disponível no

Agora é sua vez: reúna-se em grupos e discuta sobre o vídeo 2. Depois, compartilhe
suas observações com o resto da sala. Considere os seguintes elementos:

▪ tese e estratégias argumentativas;


▪ relação entre audiovisual e texto;
▪ componentes visuais: que tipos de imagens são utilizadas, argumentação por meio
de elementos visuais;
▪ trilha sonora: relação entre trilha sonora e conteúdo, mudanças na música, efeitos
sonoros;
▪ fontes (dos dados apresentados, das imagens e da trilha sonora);
▪ formato: descrição do vídeo e créditos finais.

CARACTERÍSTICAS DO VÍDEO-ENSAIO

A partir do contato com esse gênero multissemiótico, reflita sobre o que o


diferencia de outros tipos de vídeo. Leia os tópicos abaixo e destaque aqueles que
correspondem a características do vídeo-ensaio. Você também pode adicionar
características que observou nos vídeos que não foram listadas.

80
▪ A intenção comunicativa é ensinar a usar ou produzir algo, geralmente por meio de
um passo-a-passo.

▪ A intenção comunicativa é avaliar a qualidade de um produto ou serviço, geralmente


apresentando pontos negativos e positivos, ficha técnica e custo-benefício.

▪ A intenção comunicativa é informar sobre um acontecimento, procurando manter


imparcialidade em relação aos fatos.

▪ É um gênero dissertativo-argumentativo, sua intenção comunicativa é de convencer


o telespectador por meio do uso de argumentos.

▪ A fala presente no vídeo é espontânea e improvisada, mais próxima de uma


conversa, não segue um roteiro.

▪ O texto é baseado em um roteiro, mas pode ser flexível, com bastante espaço para
improviso.

▪ A narração segue a leitura dinâmica de um roteiro, com pouco ou nenhum espaço


para improviso.

▪ Oferece apenas dados concretos com fontes, não é expressa a opinião do autor.

▪ O conteúdo é completamente baseado em opiniões ou impressões do autor, não há


nenhuma pesquisa envolvida, há muito espaço para “achismos” e opiniões
infundadas.

▪ O conteúdo é baseado na opinião do autor, mas é desenvolvido de forma lógica e


envolve muita pesquisa.

▪ A maioria das imagens são retiradas de filmes, comerciais ou bancos de imagem,


mas também podem ser de autoria própria.

▪ As imagens são meramente ilustrativas do que está sendo dito, sem contribuir muito
ao propósito comunicativo do vídeo.

▪ Há uma forte relação entre texto e imagem, as imagens são uma das ferramentas
para se alcançar a intenção comunicativa.

▪ A temática é variada, mas geralmente consiste em explorar causas ou relações que


passam despercebidas, como: “Por que panquecas são redondas?” ou “Qual a relação
entre um personagem e as roupas que ele usa?”

▪ Outras:

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

81
Brainstorm
Algumas das características citadas na atividade anterior correspondem melhor
a outros gêneros de vídeo como o tutorial e a review. Que outros gêneros de vídeo do
YouTube você conhece e qual a diferença entre eles?

Leia um trecho do “Sobre a origem do vídeo-ensaio” (On the Origin of the Video Essay):

“Hoje artistas têm acesso a ferramentas de edição


de vídeo gratuitas na maioria dos computadores. Uma
geração atrás, não havia essa possibilidade a nenhum
custo. Agora tudo que um jovem artista precisa para
produzir um documentário é um Mac pronto para o uso,
uma câmera e a vontade de ver uma ideia se concretizar.
O ato de escrever sempre tem sido uma busca pessoal,
uma forma de pensamento concentrada. E agora
também a produção cinematográfica divide esse status
meditativo. As ferramentas cabem na palma da mão, são
baratas e tão acessíveis quanto uma máquina de
escrever. Você pode gravar e editar vídeos - vídeos
convincentes! - com um celular. Admirável mundo novo, não é? Mas como o chamamos?
Estamos chamando de vídeo-ensaio. Porque a maioria de nós conhecemos a
imagem em movimento por vídeo, e não filme. Filme é analógico. Filme requer um telão
para transmitir movimento. Esse telão, disse Chris Marker ao Libération em 2003, é o
que diferencia filme de vídeo: das duas horas que você passa em um cinema, metade do
tempo é no escuro. É a porção noturna que fica com a gente, que fixa nossa memória de
um filme de um jeito diferente de quando vemos o mesmo filme na televisão ou em um
monitor.
82
O vídeo, por outro lado, da forma como é captado (em câmeras digitais leves, de
pequeno porte e surpreendente qualidade de imagem) à forma com que é consumido
(em dispositivos móveis, em vôos, como links que atravessam o éter) está sendo
carregado em toda parte, da maneira que livros e revistas um dia foram.
O vídeo-ensaio. Vídeo, do verbo latino vidēre, ver. Ensaio, no sentido grego,
indagar. No sentido japonês, acelerar o coração. No francês, tentar. Não cogito, neste
momento, outra postura diante do problema de estar vivo que escrever deste modo: em
uma mão a caneta, em outra a objetiva”.

Agora que você já assistiu e analisou alguns exemplares do gênero,


é hora de pensar no seu próprio vídeo-ensaio. Seja individual ou em
grupo, é necessário que as partes sejam planejadas com atenção,
desde a pesquisa sobre o tema até a escolha do editor de vídeo. Ao
final da leitura, você encontrará uma série de perguntas que
auxiliarão na síntese e na delimitação da sua ideia. Como a
realização da atividade depende essencialmente de seus interesses
e de sua pesquisa, leia esta seção como uma série de sugestões e parâmetros para
encaminhar seu trabalho da melhor maneira possível.
Você deve ter percebido que o vídeo-ensaio busca informações em áreas distintas
para investigar e indagar a respeito da questão proposta. Isso faz com que o gênero seja
propício ao trabalho interdisciplinar. Não deixe de procurar a orientação dos demais
professores sempre que necessário. Seu trabalho pode unir áreas que tipicamente não
vemos associadas, como arte e matemática, história e mecânica celeste, etc. Afinal, por
que temos 7 notas musicais? Ou 7 dias na semana?

PENSANDO SOBRE O VÍDEO-ENSAIO


Sobre o que você gostaria de dissertar? Como vimos,
pode ser sobre qualquer temática, o mais importante é a
combinação das informações em uma estrutura coesa. Pode
ser sobre o significado mais profundo de um episódio especial
de seu desenho favorito, sobre como a letra de uma música está
adequada com o instrumental que a acompanha, sobre eventos
históricos e a seus impactos na política, sobre a natureza dos
Deuses, sobre a relação entre as pinturas rupestres e a viagem
espacial… É você quem estabelece o sentido em sua proposta.
Para isso, esteja atento às seguintes condições:

83
▪ Para sua proposta fazer sentido, você precisa pesquisar em fontes confiáveis.
Familiarize-se com ferramentas e plataformas de pesquisa acessíveis na internet. Sua
pesquisa pode partir da leitura da Wikipédia, por exemplo, mas não deixe de investigar
as fontes e o que há escrito sobre o assunto. Confira a lista de links (anexo)
▪ Somos pessoas diferentes quando conversamos com nossos pais, nossos amigos,
nossos colegas, figuras de autoridade etc. O modo que encaminhamos uma informação
é diferente se estivermos a tratar com alguém que conhecemos ou não, e mesmo as
palavras que escolhemos estão sujeitas a mudanças relativas ao contexto. Não poderia
ser diferente na criação do roteiro e na edição do vídeo-ensaio. Por isso, leve em
consideração seu público-alvo.
▪ Lembre-se que o modo de apresentação das informações, seja no âmbito textual do
roteiro ou na escolha de imagens e sons, serve a um propósito comunicativo. Um vídeo
cujo objetivo é informar será bastante diferente de outro que adota uma postura
argumentativa. Assim, será preciso criar estratégias para encaminhar o seu raciocínio.
▪ O conhecimento é inesgotável, mas o vídeo-ensaio possui só alguns minutos. Defina
as partes do argumento de modo a expressar sua ideia com início, meio e fim. Seu
objetivo não será esgotar o assunto em foco, então pense na organização mais adequada
dadas as limitações do gênero.
▪ Regra de ouro: Nada é tão mundano que não possa ser bonito. Estética é tudo e muito
mais.

CONSTRUINDO ARGUMENTOS
Quais componentes não podem faltar na elaboração de uma argumentação
coerente? Leia a seguir o esquema de uma típica estrutura argumentativa:
1. Proposição
A proposição, que também pode ser chamada de tese, não é senão a ideia central que
você pretende expor em seu vídeo-ensaio. Tenha em mente que a proposição deve ser
elaborada de modo que fique claro seu posicionamento a respeito do tema. Por isso, dê
preferência por teses afirmativas e específicas (porque a obra de Van Gogh pode ser
classificada como expressionista), ao invés de temáticas amplas (a obra de Van Gogh).
2. Análise da proposição
Esta é hora de apresentar e definir sua posição a respeito do tema, à maneira de uma
breve introdução no universo das suas ideias. Busque sempre elucidar o sentido das
palavras contidas na proposição para evitar ser mal compreendido pelos espectadores
do vídeo-ensaio e explicite, de início, o que você pretende provar com sua tese.

84
3. Formulação dos argumentos
Nesta etapa reside a argumentação em si. Dessa forma, você deve trazer fatos que
comprovem sua tese. Esses fatos, cabe mencionar, consistem em: dados estatísticos,
exemplos, ilustrações, comparações, opiniões autorizadas (isto é, emitidas por
especialistas no assunto), alusões históricas, entre outros recursos.

4. Conclusão
Todo processo argumentativo precisa de uma conclusão. Esta, podemos afirmar, é o
desfecho natural de seu empenho em demonstrar suas ideias. Ainda que proporcione
um "retorno" aos elementos iniciais da proposição, uma vez que consiste em uma
reafirmação de sua tese. A conclusão não deve funcionar simplesmente como resumo,
mas como confirmação do seu posicionamento.

PARA FAZER O VÍDEO

Além de uma ideia, você precisará de um editor de vídeos… Explore as


possibilidades criativas que temos à nossa disposição graças à internet, seja para editar
o seu vídeo ou criar efeitos. Você pode usar, por exemplo, bancos de efeitos sonoros,
animações, clipes de outros vídeos, fragmentos de áudio etc. Confira a lista algumas
recomendações:

Base de dados bibliográficos, compartilhamento de arquivos e informações:


▪ Google Scholar
▪ Internet Archive
▪ Academia
▪ Sci-Hub
▪ Library Genesis

Repositórios colaborativos:
▪ Imagem: Wikimedia Commons.
▪ Vídeo: Pexels.
▪ Arquivo: Prelinger.
▪ Áudio: Freesound e SoundBible.

Ferramentas para criação e edição:


▪ Lightworks (ferramenta para edição e masterização de vídeo).
▪ Vocaroo, Audacity (ferramenta para gravação e o envio de mensagens de voz).
▪ Google Docs (ferramenta para criar e editar documentos de texto).

85
CRITÉRIOS

A tabela abaixo, sem pretensões de ser definitiva, propõe uma série de


parâmetros úteis para composição e avaliação dos trabalhos produzidos pelos alunos.

Não Em parte Sim

Adequação da linguagem

Adequação ao gênero

Uso de estratégias argumentativas

Relação entre texto e audiovisual

Presença e confiabilidade das fontes

Outros vídeos-ensaio para você assistir, separados por temas:

Em inglês, com legendas.

Arte
▪ A morte de Sócrates: como ler uma pintura (The death of Socrates: how to read a
painting).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rKhfFBbVtFg

Cinema
▪ Cenas de abertura nos dizem tudo (Opening shots tell us everything).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CZhFtd1QZWc

▪ Martin Scorsese - A arte do silêncio (Martin Scorsese - The art of silence).


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NUrTRjEXjSM

Música
▪ A arte do rap desconstruída: as melhores rimas de todos os tempos (Rapping,
deconstructed: the best rhymers of all time).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QWveXdj6oZU&t=38s

▪ "O que fez John Bonham ser um baterista tão bom?" (What makes John Bonham such
a good drummer?).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UvOm2oZRQIk

86
Arte Em português.
▪ A obsessão utópica de Van Gogh.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MFcWwU4Ye5E

Cinema
▪ Por que este curta é um clássico do cinema brasileiro.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SF6L3ukz9sI

▪ O Auto da Compadecida te ensina a falar "morena" em francês.


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-rVUXJG8S78

Bônus: Leia o QR Code para acessar uma lista com mais de 100 canais.

(EM13LP29) Resumir e resenhar textos, por meio do uso de paráfrases, de marcas do


discurso reportado e de citações, para uso em textos de divulgação de estudos e
pesquisas.
(EM13LP30) Realizar pesquisas de diferentes tipos (bibliográfica, de campo,
experimento científico, levantamento de dados etc.), usando fontes abertas e confiáveis,
registrando o processo e comunicando os resultados, tendo em vista os objetivos
pretendidos e demais elementos do contexto de produção, como forma de compreender
como o conhecimento científico é produzido e apropriar-se dos procedimentos e dos
gêneros textuais envolvidos na realização de pesquisas.
(EM13LP31) Compreender criticamente textos de divulgação científica orais, escritos
e multissemióticos de diferentes áreas do conhecimento, identificando sua organização
tópica e a hierarquização das informações, identificando e descartando fontes não
confiáveis e problematizando enfoques tendenciosos ou superficiais.
(EM13LP34) Produzir textos para a divulgação do conhecimento e de resultados de
levantamentos e pesquisas – texto monográfico, ensaio, artigo de divulgação científica,
verbete de enciclopédia (colaborativa ou não), infográfico (estático ou animado), relato
de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, reportagem científica,
podcast ou vlog científico, apresentações orais, seminários, comunicações em mesas
redondas, mapas dinâmicos etc. –, considerando o contexto de produção e utilizando os
conhecimentos sobre os gêneros de divulgação científica, de forma a engajar-se em
processos significativos de socialização e divulgação do conhecimento.

87
CAPÍTULO 4 – POESIA, LETRA E MÚSICA
Vanessa Meireles Barboza

Caro aluno,
antigamente, a poesia e a música estavam fortemente relacionadas. Durante a Idade
Média, os então chamados “trovadores” utilizavam a arte poética para se manifestar
musicalmente, por meio das “trovas”, composições poéticas que fazem alusão à arte
musical. Com o advento da imprensa, a poesia e a música seguiram diferentes caminhos,
e a poesia passou a existir para ser lida. Apesar disso, ainda pode-se perceber rastros
dessa união hoje em dia, pois muitas músicas presentes no repertório popular brasileiro
são originárias de poemas, e muitas letras de canções podem ser material de análise
literária nesse sentido.
Nesta unidade, serão abordados aspectos da análise da poesia em paralelo a letras
de músicas brasileiras. Para iniciar o estudo, pesquise e discuta com seus colegas e
professor(a) sobre quais fatores diferenciam propriamente a poesia da música.

MÚSICA QUE VIRA POESIA

Leia a seguir as três primeiras estrofes da música “Jesus Chorou”, do grupo de rap
Racionais MC’s:

(KL Jay, Mano Brown, Ice Blue e Edi Rock do Racionais MC — Foto: Klaus Mitteldorf / Divulgação)

88
Jesus Chorou

O que é, o que é? E eu que me senti


Serei um fraco quando outras delas vir
Clara e salgada Se o barato é louco e o processo é lento
Cabe em um olho e pesa uma tonelada No momento
Tem sabor de mar Deixa eu caminhar contra o vento
Pode ser discreta
Inquilina da dor Do que adianta eu ser durão e o coração
Morada predileta ser vulnerável?
Na calada ela vem O vento não, ele é suave, mas é frio e
Refém da vingança implacável
Irmã do desespero (É quente) Borrou a letra triste do poeta
Rival da esperança (Só) Correu no rosto pardo do profeta
Pode ser causada por vermes e Verme, sai da reta
mundanas A lágrima de um homem vai cair
E o espinho da flor Esse é o seu B.O. pra eternidade
Diz que homem não chora
Cruel que você ama Tá bom, falou
Amante do drama Não vai pra grupo irmão, aí
Vem pra minha cama Jesus chorou!
Por querer, sem me perguntar me fez (...)
sofrer
E eu que me julguei forte
Artista: Racionais MC's
Álbum: Nada como um Dia após o Outro Dia
Data de lançamento: 2002

Ouça no

89
Atividades

1. Após ler e ouvir a letra da canção “Jesus Chorou”, reflita e discuta com seus colegas
sobre o conteúdo.

a) O conteúdo da canção é, em parte, construído pelo campo semântico. Quais palavras


criam o campo semântico dessa canção?
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b) Qual pode ser o objeto do qual o autor fala na primeira estrofe: Que é Clara e
salgada/ Cabe em um olho e pesa uma tonelada/ Tem sabor de mar/ Pode ser
discreta/ Inquilina da dor/ Morada predileta?
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c) Considerando o contexto de produção do grupo Racionais MC’S, conhecido por tratar


de problemas sociais referentes à marginalização das favelas, qual seria uma das
possíveis interpretações da canção?
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2. Agora, preste atenção à forma escrita da canção.


a) O verso Cabe em um olho e pesa uma tonelada apresenta ideias conflituosas, e isso
também é recorrente nos demais trechos. Qual o nome dessa figura de linguagem?
Assinale a alternativa correta.
▪ Anáfora.
▪ Metáfora.
▪ Pleonasmo.
▪ Catacrese.
▪ Elipse.
▪ Paradoxo.

Qual a função dessa figura de linguagem?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
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90
b) A utilização de uma linguagem coloquial, que foge à norma padrão é intencional.
Quais são as marcas de coloquialidade encontradas no texto? Por que o autor as
escolheu?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

3) A ideia apresentada na música de que “homem não chora” é presente no nosso


imaginário social do que é “masculino” e “feminino”. De onde essa ideia pode ser
proveniente? O que você acha sobre isso?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

4) Agora, em duplas, separem as estrofes analisadas e criem uma breve paráfrase para
cada uma. Após, procurem manifestações visuais que dialoguem com o conteúdo de
cada trecho, podendo ser imagens de revistas, jornais ou desenhos, tentando criar uma
breve narrativa sobre a ideia apresentada na música. Em seguida, apresentem as
produções para a turma.
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POESIA QUE VIRA MÚSICA

Carlos Drummond de Andrade foi um poeta modernista


muito aclamado no Brasil, uma de suas publicações foi a
coletânea Poesias, em 1942. Leia, a seguir, um poema de sua
autoria:

91
José

E agora, José? sua lavra de ouro,


A festa acabou, seu terno de vidro,
a luz apagou, sua incoerência,
o povo sumiu, seu ódio — e agora?
a noite esfriou,
e agora, José? Com a chave na mão
e agora, você? quer abrir a porta,
você que é sem nome, não existe porta;
que zomba dos outros, quer morrer no mar,
você que faz versos, mas o mar secou;
que ama, protesta? quer ir para Minas,
e agora, José? Minas não há mais.
José, e agora?
Está sem mulher,
está sem discurso, Se você gritasse,
está sem carinho, se você gemesse,
já não pode beber, se você tocasse
já não pode fumar, a valsa vienense,
cuspir já não pode, se você dormisse,
a noite esfriou, se você cansasse,
o dia não veio, se você morresse...
o bonde não veio, Mas você não morre,
o riso não veio, você é duro, José!
não veio a utopia
e tudo acabou Sozinho no escuro
e tudo fugiu qual bicho-do-mato,
e tudo mofou, sem teogonia,
e agora, José? sem parede nua
para se encostar,
E agora, José? sem cavalo preto
Sua doce palavra, que fuja a galope,
seu instante de febre, você marcha, José!
sua gula e jejum, José, para onde?
sua biblioteca,
Carlos Drummond de Andrade, 1942.

Ouça o poema no

92
Atividades

1. Após ler e ouvir ao poema “José”, discuta com seus colegas de turma sobre o conteúdo
do poema.
a) Há um verso reiterado ao longo do poema. De qual se trata? Qual o possível motivo
para ser repetido?
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b) Qual parece ser a maior intempérie do personagem “José”, no poema? Comprove sua
resposta com marcas linguísticas retiradas do poema.
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____________________________________________________________________________________________________

2. Após analisar o conteúdo proposto no poema, preste atenção ao registro empregado


pelo autor.
a) O poema transmuta entre quais tempos verbais? Como isso contribui para a
produção de sentido do poema?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) O poema apresenta inúmeras hipóteses através da reiteração do “se você”. Qual o


nome dessa figura de linguagem? Assinale a alternativa correta.
▪ Pleonasmo.
▪ Anáfora.
▪ Metáfora.
▪ Antítese.
▪ Ironia.

3. A passagem do tempo é um dos temas do texto. Como você interpretaria a maneira


que o personagem “José” lida com o tempo? Você lida da mesma forma? Explique.
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

93
LETRA DE MÚSICA

Como mencionado antes, a letra de música também pode ser objeto para análise
linguística e literária. Leia a seguir a letra da música “O Mundo tá Sempre Girando”, do
músico carioca Rogério Skylab.

(Capa do CD: Carlos Mancuso)

O mundo ‘tá’ sempre girando É que o mundo tá sempre girando,


Não é difícil entender,
Às vezes eu fico pensando Quem sabe um dia eu te encontro
Como é que se pode ficar No Baixo, no Harley ou talvez
Parado no meio do mundo
Se o mundo tá sempre a girar. Pulando de um edifício,
Girando em pleno ar.
Por mais que eu fique calado, É que o mundo tá sempre girando
Parado no mesmo lugar, E eu fico girando também,
Eu fico girando no mundo As coisas que eu falo agora
E o mundo comigo a girar. Eu não consigo entender.

Meu amor, meu amor, meu amor. Artista: Rogério Skylab


Álbum: Skylab VII
As coisas que eu falo agora Data de lançamento: 2007
Nem mesmo consigo entender,
Quem sabe um dia eu traduza
O que pra mim foi você.

Os automóveis passando,
As ondas do rádio, a TV,
Um monte de gente falando,
O Homem Bomba !!!
Ouça no

94
Atividades

1. Após ler e ouvir a canção, discuta com seus colegas sobre o conteúdo da canção.

a) O cenário apresentado pela canção é predominantemente urbano ou rural?


Identifique na letra palavras/expressões que comprovem sua reposta.
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____________________________________________________________________________________________________
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b) A passagem do tempo e a modernidade são temas abordados na canção, como o autor


apresenta e relaciona esses fatos?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

2. Qual linguagem é empregada recorrentemente na canção? Coloquial ou padrão?


Exemplifique.

3. Como a linguagem (coloquial ou padrão), utilizada na canção, auxilia na criação de


sentido presente no texto?
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4. Você acha que a modernidade e seus aspectos (os meios de comunicação, por
exemplo) atrapalham ou auxiliam a nossa percepção quanto à passagem do tempo?
Discuta com seus colegas e, após, apresente sua posição.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

95
5. Em um texto, a passagem do tempo pode ser demonstrada através da escolha pelo
tempo verbal. Cada tempo verbal tem um propósito. Volte à letra da música e analise os
versos marcados: qual a forma verbal presente nesses versos? Qual poderia ser o
possível motivo para essa escolha? Assinale a alternativa correta.
▪ Particípio. Dá ao texto a ideia de ação finalizada.
▪ Infinitivo. Sendo a forma natural do verbo, apresenta uma ação não realizada.
▪ Gerúndio. Essa forma, presente na letra da música, dá ideia de continuidade da
ação presente no verso.

6. Voltando ao poema “José”, que, também, menciona aspectos da passagem do tempo,


que semelhanças e diferenças existem entre os conteúdos dos textos de Rogério Skylab
e de Carlos Drummond de Andrade?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
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(EF89LP37) Analisar os efeitos de sentido do uso de figuras de linguagem como ironia,


eufemismo, antítese, aliteração, assonância, dentre outras.

(EF69LP48) Interpretar, em poemas, efeitos produzidos pelo uso de recursos


expressivos sonoros (estrofação, rimas, aliterações etc.), semânticos (figuras de
linguagem, por exemplo), gráfico-espacial (distribuição da mancha gráfica no papel),
imagens e sua relação com o texto verbal.

96
CAPÍTULO 5 – HISTÓRIA EM QUADRINHOS: CONSTRUINDO UM
LEITOR CRÍTICO
Aline Marafiga de Oliveira & Evandro Dinat e Silva

Querido aluno,
sabendo da importância e impacto que o ensino tem na vida dos alunos, esta unidade
didática foi pensada para despertar o seu senso crítico. Em se tratando de um 8° ano do
ensino fundamental e considerando o valor pedagógico das Histórias em Quadrinhos
(HQs) e sua contínua inserção no contexto escolar, esta unidade, além de apresentar a
importância desse gênero em sala de aula, poderá ajudar na formação dos estudantes
ativos na sociedade. Além disso, a unidade parte de uma proposta lúdica ao trabalhar
com um gênero que anteriormente era visto como menor. Segundo Waldomiro e Paulo
no livro “Quadrinhos na educação evidenciam tal situação”, “houve um tempo, não tão
distante assim, em que levar revistas em quadrinhos para sala de aula era motivo de
repreensão por parte dos professores. Tais publicações eram interpretadas como leitura
de lazer e, por isso, superficiais e com conteúdo aquém do esperado para realidade do
aluno’’. Nessa mesma linha, surgiam argumentos de que os quadrinhos geravam
“preguiça mental” nos estudantes e impossibilitavam a chamada “boa leitura’’.
Nosso intuito é mostrar que esse conceito está equivocado. Pesquisas posteriores,
como a de Valéria Bari (2008), comprovam que os quadrinhos não afastam os jovens da
boa leitura. Pelo contrário, muitos adultos que hoje tem o hábito da leitura, seja de livros,
jornais, revistas, costumavam ler histórias em quadrinhos quando pequenos ou no
período da adolescência. Segundo a autora, “crianças que têm acesso às histórias em
quadrinhos podem ser letradas mais facilmente e apresentar rendimento superior nos
estudos se comparadas às que não possuem contato com esse material’’.
Assim, considerando essa perspectiva, o objetivo geral desta unidade é que os
alunos reflitam sobre problemas sociais e que, assim, despertem a empatia com o
próximo. Para isso, as HQs apresentarão desde a estrutura desse gênero até a sua
produção.

OLHANDO PARA O GÊNERO HQ


As HQs são narrativas gráficas, ou seja, histórias narradas compostas por imagem
e texto, ou seja, constituem a arte de narrar uma história através da sequência de
desenhos ou figuras e textos que utilizam o discurso direto, característica da língua
falada. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas
em revistas ou jornais.

97
Partindo dessa perspectiva, será apresentado o gênero HQ nesta unidade didática
para realização das atividades propostas, com foco na produção criativa e crítica do
aluno.

CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO HQ
1. Utiliza quadrinhos com desenhos para construir os sentidos;
2. Registra diálogos nos balões de fala;
3. Objetiva entreter, informar e, em algumas circunstâncias, criticar;
4. Articula linguagem verbal e não verbal (escrita e imagens na composição de histórias);
5. Usa frequentemente as onomatopeias.

ORIGEM DAS HQs: CURIOSIDADES


A primeira HQ:
A primeira HQ com as características que conhecemos atualmente foi publicada
nos EUA, em 1894, em uma revista chamada Truth, pelo americano Richard Outcault.
Após meses, o jornal New York World começou a publicá-la oficialmente. Essa HQ
intitulada “The Yellow Kid” narrava as peripécias de uma criança que vivia nos guetos
de Nova Iorque, sempre vestida com uma grande camisola amarela. A personagem
comunicava-se por meio de gírias, numa linguagem bastante coloquial, e trazia reflexões
acerca da sociedade de consumo e de questões raciais e urbanas.
"The Yellow Kid" - personagem criada pelo artista Richard Outcault em 1894.

Disponível em: https://static.todamateria.com.br/upload/or/ig/origemdashistoriasemquadrinhos-cke.jpg

HQs no Brasil:
No Brasil, a primeira revista em quadrinhos chamou-se O Tico-Tico e foi
publicada em 1905 pelo periódico “O Malho”. Idealizada pelo artista Renato de Castro,
foi influenciada pela HQ francesa La Semaine de Suzette e teve como personagem mais
popular o garoto Chiquinho.

98
Mas foi apenas em 1960 que o público brasileiro teve um gibi inteiramente
colorido com a publicação de “A Turma do Pererê”, do cartunista Ziraldo. O gibi foi
apresentado pela Editora O Cruzeiro e trazia personagens inspirados na cultura
nacional.
Em 1964, o gibi foi retirado de circulação por conta da censura instaurada
durante a ditadura militar e só voltou a ser publicado novamente em 1975.

Personagens de A turma do Pererê, do cartunista Ziraldo.

Disponível em: <https://cbtij.org.br/wp-content/uploads/2014/05/cbtij-


acervo-stella-miranda-a-turma-do-perere-programa02-2004.jpeg>

Turma da Mônica:
Foi também na década de 60 que surgiu a HQ mais conhecida do Brasil, a Turma
da Mônica, criada pelo paulistano Maurício de Souza. A revistinha fez tanto sucesso que
hoje é publicada em mais 40 países e traduzida em 14 idiomas.
Evolução da personagem Mônica, de Maurício de Souza.

Disponível em: <https://www.guiadasemana.com.br/contentFiles/system/


pictures/2013/3/68391/cropped/monica-evolucao.png>.

HQs pelo mundo:


As HQs estão presentes em todo o mundo e existem várias personagens
emblemáticas. Uma delas é Mafalda, criação do cartunista argentino Quino no ano de
1964. Nessa tirinha, a garota de aproximadamente 6 anos de idade possui um
pensamento reflexivo e questionador acerca da realidade mundial, sempre trazendo um
ponto de vista humanista sobre as situações. Mafalda é muito conhecida em toda a
América Latina e na Europa, tornando-se um símbolo argentino.

99
Mafalda, do argentino Quino.

Disponível em: https://segredosdomundo.r7.com/wp-content/uploads/2020/03/mafalda-


a-personagem-da-hq-argentina-que-ganhou-o-mundo-17.jpg

ELEMENTOS BÁSICOS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS


No universo dos quadrinhos, há uma infinidade de personagens que são
reconhecidos por suas características físicas, por seu comportamento e por suas
atitudes. As personagens de quadrinhos quase sempre são desenhadas com traços
simples e estilizados. O desenho do rosto pode expressar a personalidade de uma
personagem e também seus sentimentos e suas emoções.

.
Disponível: https://pt-static.z-dn.net/files/d76/d827e3cefa97c636503a1032fed1eaf8.jpg

1) Observe as expressões do Pato Donald, personagem criada por Walt Disney. Quais
sentimentos ou emoções podemos perceber em suas expressões?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

100
As histórias em quadrinhos são narrativas sequenciais. Embora, cada quadrinho
seja estático, a sequência deles cria um efeito temporal, como se conseguíssemos ver a
passagem do tempo e a movimentação das personagens de uma cena para a outra.
Os balões são recursos gráficos que servem para indicar ao leitor falas,
pensamentos e sentimentos das personagens. De acordo com a situação, os balões
podem ter vários formatos.
Outro recurso usado para tornar mais expressiva a fala das personagens é o
destaque de palavras. Podem-se usar o negrito, diversos tamanhos, formatos e cores das
letras para expressar emoções, atitudes, entonação e outras características da fala.

Disponível em: https://1.bp.blogspot.com/-pXJ7NoqCLls/TywnTG4jUYI/AAAAAAAAMbY/


5K9TgqY6Mj4/s400/filho+chama+seu+pai+pra+jantar+tirinha.jpg

2) Que palavras estão em destaque na fala das personagens?


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3) Como elas foram destacadas?


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4) Que sentidos essas palavras destacadas trazem para a história em quadrinhos?
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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

Outra característica importante para as HQs é a utilização das imagens como único
recurso, sem recorrer às palavras.

Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/-mJ7KVxqHJJs/Tf6otoHB7LI/


AAAAAAAAAOQ/rbi9qJfJnZg/s400/tirachicobento.jpg

Quando as HQs utilizam somente imagens, os traços, setas, linhas variadas são
recursos gráficos que podem indicar os movimentos corporais das personagens (como
vimos na tirinha acima). Os autores também utilizam símbolos, como bolinhas para
indicar alguém está com sono, gotas para indicar lágrimas ou suor, coração para indicar
que a personagem está apaixonada, entre outros recursos.
Recebem o nome de interjeições (ou locuções interjetivas) as palavras ou as
pequenas frases que são usadas para expressar emoções ou sentimentos em
determinadas situações. Exemplos: Oba!, Ah!, Oh!, Ufa!, Puxa vida! Oh, não!

Disponível em: http://esconderijos.com.br/o-mundo-segundo-mafalda/

102
O ponto de exclamação (!) é associado a frases que indicam emoções como surpresa,
alegria, entusiasmo, dor e nervosismo.
O ponto de interrogação (?) expressa geralmente dúvida, suspense e indecisão.
Muitas vezes, o ponto de exclamação é combinado com o ponto de interrogação,
indicando dúvida e surpresa ao mesmo tempo.
As reticências (...) podem indicar interrupção do pensamento, hesitação, surpresa,
dúvida ou timidez.

Muitas palavras são usadas em quadrinhos para representar diversos tipos de


sons: o latido de um cachorro, o toque do telefone, alguma coisa que se quebra, água
pingando, etc. Esse recurso linguístico é chamado onomatopeia.

Disponível em: https://http2.mlstatic.com/papel-de-parede-quadrinhos-onomatopeia-explosoes-


infantil-D_NQ_NP_756675-MLB28135144571_092018-F.jpg

ANÁLISE LINGUÍSTICA - A GRAMÁTICA NA


CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS DO TEXTO

A classe de palavras que serve para expressar sensações, sentimentos, apelos e


emoções é chamada de interjeição. As interjeições são muito usadas em histórias em
quadrinhos para indicar o “estado de espírito” das personagens.
Os sinais de pontuação são sinais gráficos que contribuem para articular trechos
do texto escrito. Nos quadrinhos, é muito comum o uso de ponto de exclamação, de
ponto de interrogação e de reticências.

103
As atividades a seguir vão ajuda-lo a organizar o que aprendeu.
1) Leia a tira.

Mauricio de Souza. Saiba sobre histórias em quadrinhos com a Turma da Mônica, n.8, p.34, abr. 2008.

a) Identifique as interjeições presentes na tira e indique que emoções elas expressam.


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b) Por que o formato dos balões do primeiro quadrinho é diferente do formato do balão
do terceiro?
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c) O que esses balões representam dentro das histórias em quadrinhos?


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d) Indique os sinais de pontuação presentes na tira e explique com que finalidade eles
são usados.
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2) Assinale as proposições verdadeiras e reescreva as falsas, corrigindo-as.
a) O ponto de exclamação é muito usado nas HQs e costuma acompanhar interjeições.
b) As reticências são usadas quando o autor não tem mais nada a dizer.
c) O ponto de interrogação é utilizado para mostrar que a personagem aumentou o
volume da voz.
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3) Explique a função dos seguintes elementos nas HQs.

a) Interjeições

b) Onomatopeias

c) Formato dos balões

d) Formato e disposição dos quadros

4) Leia a tira.

Disponível em: Google imagens.

a) Como você interpreta a expressão “AHA!”, que aparece em letras maiúsculas no


primeiro quadrinho? E a expressão facial de Garfield?
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b) Como você interpreta a expressão facial de Garfield no segundo e no terceiro


quadrinho?
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c) O que a expressão “DING-A-LING” significa?
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VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA LEITURA CRÍTICA


Nesta seção, será abordado o tema violência contra a mulher a partir da relação
do gênero HQs que se destaca na introdução da leitura crítica. As HQs têm por objetivo
contar uma história, ficcional ou não, que representa feitos da humanidade em sua
época. Além disso, podemos ressaltar a transmissão de informação pelo viés
jornalístico-midiático que se destaca nesta seção.

A HQ tem um papel fundamental na história da humanidade, que têm por objetivo de


contar uma história, ficcional ou não.
O objetivo desta seção é:
a. valorizar os conhecimentos prévios dos alunos;
b. estimular o emprego da língua em situações típicas de oralidade;
c. exercitar a leitura crítica dos alunos;
d. promover o exercício da intertextualidade e da interdisciplinaridade;
e. estimular leituras comparativas.

Você sabe o que é violência contra a mulher?

A violência contra a mulher vem sendo um ato


Quem é Maria da Penha?
constante na sociedade, dos tempos mais antigos aos
https://pt.wikipedia.org/wiki/
maria_da_penha atuais. Além disso, existe uma lei chamada “Lei Maria
da Penha” que cria mecanismos para coibir e prevenir
a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Existem 5 tipos de violência contra a mulher e qualquer um deles constitui ato de


violação dos direitos humanos e deve ser denunciado, são eles:

106
Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da
mulher. Espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os braços, estrangulamento ou
sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes, ferimentos causados por
queimaduras ou armas de fogo tortura.

É considerada qualquer conduta que: cause danos emocionais e diminuição da


autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Ameaças,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento (proibir de estudar e viajar ou
de falar com amigos e parentes), vigilância constante, perseguição contumaz, insultos,
chantagem, exploração, limitação do direito de ir e vir, ridicularização, tirar a liberdade
de crença, distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a sua memória
e sanidade (gaslighting).

Trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de


relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
Estupro, obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa,
impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar, forçar
matrimônio, gravidez ou prostituição por meio de coação, chantagem, suborno ou
manipulação, limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da
mulher.

Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial
ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores
e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades. Controlar o dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia, destruição de
documentos pessoais, furto, extorsão ou dano estelionato, privar de bens, valores ou
recursos econômicos, causar danos propositais a objetos da mulher ou dos quais ela
goste.

107
É considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Acusar a
mulher de traição, emitir juízos morais sobre a conduta, fazer críticas mentirosas, expor
a vida íntima, rebaixar a mulher por meio de xingamentos que incidem sobre a sua
índole, desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.

Se uma mulher sofre agressão, o que fazer?


1º passo: denúncia
Na delegacia você pode registrar um boletim de ocorrência por violência
doméstica em qualquer delegacia de polícia do País. Neste caso, a agressão vai ser
configurada como Lei Maria da Penha. Em casos de emergência, é possível telefonar 190
e acionar uma viatura até o local da agressão.

Delegacia da mulher
A delegacia da mulher é especializada em violência contra a mulher. Para deixar
a vítima mais confortável, a equipe costuma ser formada só por mulheres. A indicação é
que nestes espaços também seja oferecido apoio psicológico e de Justiça. Procure a
unidade da sua cidade ou estado e faça um boletim de ocorrência. Peça uma medida
protetiva de urgência.
Ligue 180
O Ligue 180 é o canal do governo federal, o qual funciona 24 horas – incluindo
sábados, domingos e feriados –, do governo federal para denúncias de violência contra
a mulher. A ligação é anônima, funciona em todo Brasil e em mais 16 países. O número
pode ser acionado em casos de emergência ou em situações em que a violência é
contínua. A central dá orientações jurídicas, psicológicas e encaminha pedido de
investigação a órgãos de defesa à mulher, como o Ministério Público. Não é preciso ser
a vítima para fazer a denúncia.

Reflita: mudar essa mentalidade e combater os estereótipos de gênero é uma


maneira de enfrentar e não tolerar mais esse tipo de agressão.

108
Compreendendo e discutindo:
1) Forme grupos de 4 pessoas e discuta as perguntas em sala de aula, a partir das
reflexões feitas sobre a atividade de leitura.
a) Você já conhecia o gênero textual HQ? Quais outros gêneros textuais você conhece?
b) Qual é o objetivo do gênero HQ?
c) Qual a sua percepção após ler o texto “violência contra a mulher: uma leitura crítica”?
d) Quais são os tipos de agressão que a mulher sofre?
e) O que você faria se abordasse uma situação de violência contra a mulher?
f) Na sua visão, podemos relacionar o tema “violência contra a mulher” com o gênero HQ?
Por quê?

Proposta de produção textual - produção criativa por meio de um olhar crítico


Agora, você vai produzir uma HQ que aborde um dos cinco tipos de violência
previstas na lei Maria da Penha, contendo ao final da história uma proposta para
combater essa problemática. Quando a sua HQ estiver finalizada, revisada e editada, será
realizado um “livreto”. Ele poderá ficar na biblioteca da escola ou no bairro para ser lido
por outras pessoas. Capriche na produção desse material! Lembrando sempre de
colocar um olhar crítico e cuidadoso em relação ao assunto “violência contra a mulher”.
Planejamento e elaboração do texto:
1. Utilize a tabela e planeje os seguintes elementos do texto.
Personagens principais

Nome e características físicas

Características principais do agressor

Violência cometida

Reação da vítima

109
Onde a personagem está?
Sequência narrativa

Com quem mantém relação?

Que conflito terá de enfrentar?

Como o conflito será resolvido?

2. Escreva um resumo da história.


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110
3. Divida a história em partes. Cada uma será desenhada em um quadrinho.
4. Continue a desenhar sua história em quadrinhos, criando as falas e os balões.
5. Lembre-se de usar onomatopeias, destacar palavras e variar os balões.

111
Avaliação e reescrita do texto:
1) Leia com atenção a HQ que você criou. Use o roteiro abaixo para avaliar sua produção.

a) Características de personagem:
• a personagem principal é uma mulher?
• é possível observar um dos cinco tipos de violência sofrido pela mulher?
• as características do(s) agressor(es) estão destacadas?

b) Sequência narrativa:
• os quadrinhos obedecem a uma sequência temporal?
• há um conflito a ser resolvido?

c) Recursos:
• as falas dos balões estão adequadas às atitudes das personagens?
• foram usados adequadamente recursos visuais (onomatopeias, palavras destacadas e
balões com diferentes formas) para representar os sons e expressar os sentimentos das
personagens?

Critérios de avaliação:

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - HQs SIM NÃO EM PARTE

1. Contemplou o tema proposto “violência contra a


mulher’’?
2. Contém uma proposta de combate à violência
contra a mulher?

3. Seguiu ao planejamento de produção sugerido?

4. Realizou as três versões como proposto?

5. Utilizou os elementos do gênero HQ (balões,


recursos gráficos etc.)?
6. A HQ possui os elementos da narrativa
(personagens, tempo, espaço, clímax, desfecho)?

7. Contemplou as regras gramaticais?

112
Reescrita do texto:

113
(EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de
suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em
quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia,
observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais
como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais
adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes
modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto.

(EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem,


da escolha de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação e
contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção
de sentidos e de uso crítico da língua.

(EM13LP14) Analisar, a partir de referências contextuais, estéticas e culturais, efeitos


de sentido decorrentes de escolhas e composição das imagens (enquadramento,
ângulo/vetor, foco/profundidade de campo, iluminação, cor, linhas, formas etc.) e de sua
sequenciação (disposição e transição, movimentos de câmera, remix, entre outros), das
performances (movimentos do corpo, gestos, ocupação do espaço cênico), dos
elementos sonoros (entonação, trilha sonora, sampleamento etc.) e das relações desses
elementos com o verbal, levando em conta esses efeitos nas produções de imagens e
vídeos, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de apreciação.

(EF08LP16) Explicar os efeitos de sentido do uso, em textos, de estratégias de


modalização e argumentatividade (sinais de pontuação, adjetivos, substantivos,
expressões de grau, verbos e perífrases verbais, advérbios etc.).

(EF07LP10) Utilizar, ao produzir texto, conhecimentos linguísticos e gramaticais:


modos e tempos verbais, concordância nominal e verbal, pontuação etc.

114
CAPÍTULO 6 – O QUE SÃO GÊNEROS TEXTUAIS?
Gustavo Rafael Hein & Roberta Morgana Petry

Caro aluno do 1° ano,

você já parou para pensar em como a vida do ser humano é permeada pela linguagem?
Tudo o que fazemos e pensamos, todas as nossas relações sociais, são possíveis apenas
através da linguagem. Do diálogo com um amigo a uma defesa de doutorado; de uma
lista de compras a uma reportagem; de uma telenovela a uma mensagem de áudio no
WhatsApp… todas essas interações só são possíveis porque somos seres capazes de
produzir linguagem. Porém, como você acabou de perceber, as interações humanas não
são todas iguais. Embora todas elas se materializem na e pela linguagem, não falamos
com um amigo da mesma maneira que apresentamos um trabalho acadêmico; não
escrevemos uma lista de compras da mesma forma que escrevemos uma reportagem;
não encontramos o mesmo conteúdo de uma telenovela em uma mensagem de áudio do
Whatsapp… Você já parou para pensar por quê?
Podemos adiantar um pouquinho a resposta para essa pergunta: porque cada
interação acontece por motivos ou por necessidades distintas, tem atores sociais
distintos e acontece em uma situação específica. Todos esses fatores geram, então, textos
distintos, sejam escritos, sejam orais ou multissemióticos. A pergunta é: como distinguir
um texto de outro? Como sabemos que uma telenovela é uma telenovela? Que uma
reportagem é uma reportagem? Ora, poderíamos apenas avaliar os fatores recém
mencionados, no entanto, para tornar essa distinção mais fácil nomeamos, etiquetamos
os textos, de forma que cada texto produzido, em cada ato comunicativo, corresponde a
um gênero textual. O diálogo com um amigo é um gênero, uma reportagem é um gênero,
uma telenovela é outro gênero.
Sendo assim, esta unidade tem por objetivo refletir sobre os diversos fatores que
fazem um texto pertencer a um gênero textual e não a outro. Ao longo da unidade,
portanto, você terá contato com diversos gêneros textuais e, ao final, estará mais
familiarizado com esse conceito.

115
PARA INTRODUZIR
ATIVIDADE 1
Imagine a seguinte situação:

Isidoro realizou a compra de um televisor através do site da empresa TecTV. Quando


recebeu o seu produto, verificou que o aparelho não funcionava adequadamente.
Isidoro, portanto, deseja entrar em contato com a loja virtual, de modo a solicitar a
troca do aparelho.

a) Pensando na situação descrita, qual, entre as opções de texto abaixo, Isidoro deve
escolher para solicitar a troca do produto?
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Fonte: arquivo pessoal dos autores.

116
TV liga, mas não aparece imagem? Veja possíveis causas e como resolver
Problema no sistema de LED da TV pode impedir que a tela funcione corretamente

Por Lucas Mendes, para o TechTudo


04/10/2018 08h00 Atualizado há um ano

Se a sua TV liga, mas permanece com a tela preta em vez de mostrar a imagem,
saiba que existem algumas maneiras de diagnosticar o problema e tentar resolvê-lo.
Mau contato nos cabos e entradas e erros de configuração são algumas das causas
mais comuns para essa situação. Porém, o caso também pode ser mais grave, como
defeitos no sistema de LED, por exemplo.
Para ajudar a solucionar esse tipo de problema, o TechTudo separou abaixo
algumas dicas. Ainda assim, é importante destacar que, caso nenhuma delas funcione,
o mais aconselhável é que o usuário procure por uma assistência técnica da fabricante.

Mau contato nos cabos ou problemas com adaptadores


Um dos problemas mais comuns está no mau funcionamento dos cabos e de
possíveis adaptadores utilizados na televisão. Caso algum deles esteja apresentando
defeito, é bastante possível que isso esteja impedindo que a sua televisão funcione
corretamente – nesse caso, deixando-a com a tela completamente preta.
Por isso, vale a pena testar esses mesmos cabos em outra TV – ou fazer o
contrário: mudar os cabos da televisão. Feito isso, será possível descobrir se o
problema é mesmo nesses gadgets ou não.

Problema no sistema de LED


Outro defeito que impede que a tela da TV exiba o conteúdo da maneira correta
está no sistema de LED. Como todas as "luzinhas" estão interligadas, se apenas uma
delas estiver com problema, já é suficiente para que todas as outras apresentem erros
de reprodução. Em alguns casos, elas podem parar de funcionar completamente.
Para essa situação, a dificuldade é um pouco maior: se, ao diagnosticar o
problema, a conclusão for que o defeito realmente está em um dos LEDs, o usuário
precisa levar o televisor para o suporte. Dependendo do preço do conserto, pode ser
mais válido até comprar outra televisão. Se essa for a sua situação, vale a pena checar
os melhores preços no Compare TechTudo.

117
Erros de configuração
Muitas televisões costumam vir de fábrica com um recurso chamado "Energy
Saving". Como o próprio nome sugere, sua função é diminuir o consumo de energia da
TV. Uma das maneiras desse recurso economizar a luz é desligando o modo de vídeo
da TV. Assim, quando essa função está ativada, a televisão passa a reproduzir apenas
o áudio.
Como o recurso não é tão conhecido pelos usuários – e nem sempre é tão fácil
de achar nas configurações da TV – a função acaba, na verdade, atrapalhando algumas
pessoas. Portanto, caso você esteja passando por essa situação, procure nos "Ajustes"
do seu aparelho a opção "Energy Saving" e desative.

Entradas e saídas da TV com defeito


Esse problema pode parecer óbvio, mas também é possível que passe
despercebido por alguns usuários. Com o tempo de uso, as entradas e saídas da
televisão podem começar a apresentar defeitos. Isso pode ocorrer por conta de sujeira
acumulada ou pedaços de cabos que ficam presos, por exemplo.
Por esse motivo, como os aparelhos costumam ter mais de uma entrada e saída
de vídeo, vale a pena testar o mesmo cabo em outras entradas. Dessa forma, o usuário
pode ter certeza se o problema está ou não nas portas HDMI do dispositivo.

Procurar uma assistência técnica


Por fim, caso nenhuma das dicas acima solucionem o seu problema, o ideal é
procurar por uma assistência técnica especializada – e, de preferência, da própria
fabricante da televisão. Dessa forma, poderá ser feita uma análise mais correta de qual
é o real defeito da TV.
De modo geral, esse contato com a assistência pode ser feito via telefone, e-mail,
chat ou até mesmo nas redes sociais das fabricantes. Caso não consiga se comunicar
com a empresa, fazer um cadastro e escrever no Reclame Aqui é uma boa opção –
geralmente, as companhias retornam com uma resposta em alguns dias.

Fonte: MENDES, L. TV liga, mas não aparece imagem? Veja possíveis causas e como resolver.
IN: TechTudo. 2018. Disponível em: <https://www.techtudo.com.br/>.

118
Televisão
Titãs
A televisão me deixou burro, muito burro demais
Agora todas coisas que eu penso me parecem iguais
O sorvete me deixou gripado pelo resto da vida
E agora toda noite quando deito é boa noite, querida

Oh Cride, fala pra mãe


Que eu nunca li num livro que o espirro fosse um vírus sem cura
Vê se me entende pelo menos uma vez criatura
Oh Cride, fala pra mãe

A mãe diz pra eu fazer alguma coisa, mas eu não faço nada
A luz do sol me incomoda, então deixa a cortina fechada
É que a televisão me deixou burro, muito burro demais
E agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais

Oh Cride, fala pra mãe


Que tudo que a antena captar meu coração captura
Vê se me entende pelo menos uma vez criatura
Oh Cride, fala pra mãe
A mãe diz pra eu fazer alguma coisa, mas eu não faço nada
A luz do sol me incomoda, então deixa a cortina fechada
É que a televisão me deixou burro, muito burro demais
E agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais

E eu digo: Oh Cride, fala pra mãe


Que tudo que a antena captar meu coração captura
Vê se me entende pelo menos uma vez criatura
Oh Cride, fala pra mãe
Fonte: TITÃS. Televisão. IN: LETRAS. 1985. Disponível em:
<https://www.letras.mus.br/titas/49002/>.

▪ Conclusão: Você, provavelmente, escolheu o Texto 1, pois é um texto em que o autor


declara e descreve a situação de sua compra e solicita a troca do aparelho. Por que os
Textos 2 e 3 não são adequados a essa situação?
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119
Agora, leia o Texto 4, em que o autor Rafael solicita a resolução de um problema para a
empresa PhoneCell.

Fonte: arquivo pessoal dos autores.

ATIVIDADE 2
Agora, compare o Texto 4 ao Texto 1 (lido anteriormente) e responda às questões que
seguem:

1. Qual é a situação comunicativa que origina cada um dos textos?


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2. Quais as credenciais de quem escreve cada um dos textos?


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3. A quem cada um dos textos se dirige?


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120
4. A relação entre os participantes (quem escreve e quem recebe o texto) é de
proximidade/intimidade ou de distanciamento/desconhecimento? Justifique sua
resposta, apontando marcas linguísticas de ambos os textos.
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5. Qual é propósito comunicativo (objetivo) de cada um dos textos?


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6. Analise as palavras e expressões linguísticas escolhidas por Isidoro e Rafael. Quais


são as principais diferenças que os textos apresentam em termos de
formalidade/informalidade?
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7. Indique possíveis motivos para essa diferença. Justifique sua resposta com, no
mínimo, dois argumentos.
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8. Qual dos textos você considera mais adequado para alcançar o objetivo dos
consumidores (a troca do aparelho)? Por quê?
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9. Apesar das diferenças entre os textos, você acredita que ambos compradores podem
atingir seus objetivos? Justifique.
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10. Observe novamente os Textos 1 e 4, que nome você daria a cada um deles?
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121
Após a realização das atividades anteriores, é possível chegar a algumas conclusões:

1 – Todo texto parte de um evento deflagrador, uma situação que dá origem a algum
tipo de interação e, por consequência, a um texto.
2 – Todo texto tem um autor, aquele que o escreve, enuncia, sinaliza.
3 – Todo texto tem um interlocutor, para o qual ele se dirige.
4 – Todo texto funciona dentro de convenções específicas, determinadas socialmente, as
quais também determinarão o nível de linguagem (formal/informal) que será utilizado
na elaboração do texto.
5 – Todo texto tem um propósito comunicativo, ou seja, um objetivo que o autor almeja
atingir por meio do texto.

▪ Conclusão: conforme apresentado na introdução deste capítulo, toda interação


humana acontece por meio de textos (1), que, de acordo com suas características,
correspondem a um gênero textual (2). O gênero textual (2) é composto, dentre
outros elementos, por: um evento deflagrador, atores sociais envolvidos (o autor e o
interlocutor) e uma função específica. Tais fatores determinarão, normalmente, o nível
de linguagem empregada. Acompanhe, na sequência, um comentário sobre cada um
desses itens, apresentados nas atividades 1 e 2.

Observemos os Textos 1 e 2:

O evento deflagrador (3) do Texto 1 é o mau funcionamento do produto


adquirido. Para solicitar a troca do produto, Isidoro decide escrever um e-mail,
colocando-se, portanto, como o autor. Pelo fato de o texto se destinar à empresa TecTV,
ela se apresenta, automaticamente, no papel de interlocutor. A partir disso, Isidoro
descreve a situação em que está inserido e impele a empresa a enviar uma nova
mercadoria, em funcionamento, sendo esse o objetivo do seu texto (solicitar a troca do
produto). Isidoro, ao produzir o texto, optou por um registro mais formal de linguagem,
uma vez que a relação cliente-empresa admite um distanciamento entre os atores
sociais. Em situações como tal, convencionou-se socialmente o emprego desse nível
linguístico.
Já o evento deflagrador do Texto 2 é o funcionamento inadequado do suporte,
neste caso o celular. Visando à troca do aparelho, Rafael decide enviar uma mensagem
à empresa através do aplicativo Whatsapp, posicionando-se como o autor do texto.
Sendo a mensagem direcionada à PhoneCell, a empresa coloca-se, automaticamente, no
papel de interlocutor (4). Por meio da mensagem, Rafael revela o mau funcionamento
do produto adquirido, desejando a resolução do problema. O autor, possivelmente,
utiliza um registro mais informal da linguagem, uma vez que está habituado a escrever
dessa forma pelo aplicativo. Observa-se que, apesar das diferenças entre os textos,
ambos têm potencial para atingir o objetivo de requisitar a substituição dos aparelhos,
solucionando os problemas de seus autores.

122
Refletindo...
E, se para resolver o seu problema, Isidoro tivesse optado pelo Texto 2 (tutorial),
ou pelo Texto 3 (letra de canção), ele teria o seu problema solucionado? Sua resposta
deve ser “NÃO” (5), pois a situação comunicativa não comporta o tipo de interação
previsto nesses textos. Se Isidoro tem o objetivo de solicitar a troca do televisor, seu
texto deve deixar claro esse propósito. Sendo assim, cada evento deflagrador originará
uma necessidade de interação, gerando diferentes textos, com características
específicas e socialmente convencionadas, de modo a garantir que o objetivo seja
alcançado.

TRABALHANDO COM OS ELEMENTOS CONSTITUINTES DO GÊNERO TEXTUAL

ATIVIDADE 3 - Trabalhando com o evento deflagrador


Observe os textos abaixo:

Fonte: arquivo pessoal dos autores.

123
Reunião de pais e Mestres
Senhores pais ou responsáveis,
O departamento de ensino da Escola Nossa Senhora de Fátima tem a honra de
convidá-los para a reunião de pais mestres a ser realizada no dia 29 de abril
de 2018, às 19h, no auditório do colégio.
Na reunião também serão apresentados os resultados do ano letivo e
informações sobre o desempenho individual dos alunos.
Contamos com sua presença.
Atenciosamente
A direção

Três rodovias ainda têm bloqueio total no Rio Grande do Sul


Duas estradas ficam nas margens do Rio Taquari e outra na Serra
13/07/2020 - 12h09min
Acesso da BR-386 para a Rua Bento Rosa está bloqueado em Lajeado
Lauro Alves / Agencia RBS
Três rodovias seguem totalmente bloqueadas no Rio Grande do Sul na manhã desta
segunda-feira (13). Todas são estaduais e foram afetadas pela chuva intensa da última
semana. Outras duas têm bloqueios parciais.
Três trechos com água sobre a pista ficam na RS-129, nos km 47 e 50, no município
de Colinas, e no km 12, em Bom Retiro do Sul, todos no Vale do Taquari. Em Venâncio
Aires, na RS-130, no km 30, também há interrupção do tráfego.
Na Serra, o asfalto cedeu no km 36 da RS-448, entre Farroupilha e Nova Roma do
Sul. Agora pela manhã, foi liberada a RS-431, que liga Bento Gonçalves a Guaporé,
onde havia água sobre a pista no km 18.
Além disso, há duas rodovias com bloqueio parcial na serra gaúcha. A RS-122, entre
Flores da Cunha e Antônio Prado, está parcialmente bloqueada no km 107 devido à
queda de barreira. Na BR-470, o Dnit realiza obras com pare/siga no km 155, em Nova
Prata, e no km 195, em Bento Gonçalves. Os dois locais tem problemas decorrentes da
chuva da última semana.
Em Lajeado, o acesso da BR-386 para a Rua Bento Rosa está bloqueado devido ao
acúmulo de água causado pela cheia do Rio Taquari.

Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/transito/noticia/2020/07/tres-rodovias-


ainda-tem-bloqueio-total-no-rio-grande-do-sul-ckckn5nqa003k013g1zcub0yh.html

124
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles

▪ Após a leitura dos textos, reflita sobre a situação comunicativa envolvida em cada um
deles. Para facilitar a sua reflexão, utilize o quadro a seguir:

Qual o evento
Quem (possivelmente) Quem (possivelmente)
deflagrador que deu
escreveu o texto? lerá o texto?
origem a esse texto?

TEXTO 5

TEXTO 6

TEXTO 7

TEXTO 8

125
▪ Conclusão: Nesta atividade você foi capaz de observar que cada texto parte sempre
de um evento deflagrador ou necessidade comunicativa. No caso do Texto 5, temos uma
lista de compras que pode ter como autor e interlocutor uma única (mesma) pessoa, a
qual escreve a lista partindo de uma necessidade específica: lembrar-se do que deve
comprar quando for ao supermercado. No Texto 6, temos um convite escrito pela
direção de uma escola e endereçado aos pais dos alunos. Provavelmente, a situação
comunicativa envolve a necessidade de a escola receber os pais para conversar sobre o
andamento do ano letivo. No Texto 7, temos uma notícia, possivelmente escrita por um
jornalista do jornal Gaúcha ZH. Nesse caso, o evento que deu origem ao texto é o mau
tempo, que provocou estragos nas rodovias gaúchas. Surge então a necessidade de
alertar a população sobre tais acontecimentos. No Texto 8, temos um gênero do campo-
artístico literário (poema), em que a autora, Cecília Meireles, escrevendo em primeira
pessoa, cria um “eu-lírico” que divide com o leitor (todos aqueles que se interessam por
poesia) traços da sua interioridade.

ATIVIDADE 4 - Trabalhando com o autor: como estudamos nas atividades anteriores,


um dos elementos que contribuem para a classificação de um texto como pertencente a
determinado gênero textual é a existência de um autor. O autor é aquele que escreve,
pronuncia ou sinaliza aquilo que deseja comunicar. Observe o texto abaixo, retirado de
uma página de rede social.

Disponível em: https://www.instagram.com/p/CBVggHen2BZ/

126
a) Qual é o possível evento deflagrador do texto, levando-se em conta que ele foi
publicado no dia 12 de junho de 2020?
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b) Quem é o autor desse texto? Como você chegou a essa conclusão?


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c) A quem esse texto é dirigido?


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____________________________________________________________________________________________________

d) Qual é o propósito comunicativo do texto?


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e) Que nome você daria a esse texto? Quais elementos contribuem para a sua escolha
(estrutura do texto? imagens? marcas linguísticas…)?
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f) Imagine que a interlocutora desse texto descubra que o autor original não é Pedro
Scooby (foto), mas que outra pessoa tenha escrito por ele, já que ele não é “bom com as
palavras”. Você acha que o texto teria o mesmo impacto na namorada? Justifique.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

▪ Conclusão: por meio desta atividade, você foi capaz de perceber a importância que
carrega o autor (6) do texto. A alteração do autor, possivelmente, ocasionará mudanças
na compreensão da mensagem pelo interlocutor, fazendo com que o propósito
comunicativo do texto não seja atingido integralmente, (gerando até mesmo reações não
esperadas no destinatário). No texto apresentado, Pedro Scooby deseja impressionar e

127
ratificar o seu amor pela namorada. No entanto, se descobrisse que o texto não foi
originalmente escrito pelo amado, ela poderia questionar a validade do afeto
demonstrado pelas palavras, de forma que a função da postagem não seria alcançada.

ATIVIDADE 5 - Trabalhando com o interlocutor


▪ Outro elemento indispensável na delimitação de um gênero textual é o interlocutor,
isto é, aquele a quem o texto será direcionado. Normalmente o interlocutor do texto é a
resposta para a pergunta: “para quem esse texto foi escrito?” Para compreender melhor,
observe o texto abaixo:

Disponível em: https://www.convitedigitali.com.br/convite-aniversario-surpresa-lousa-arte-digital

a) Qual é o evento deflagrador que originou o texto?


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____________________________________________________________________________________________________

b) Indique possibilidades de autoria para o texto. Justifique sua resposta, considerando


a situação comunicativa.
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c) Quem é(são) o(s) possível(is) interlocutor(es) desse texto? Justifique sua resposta.
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d) Qual é o propósito comunicativo (objetivo) do texto?


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e) Existem informações que podem ser omitidas do texto sem prejudicar o propósito
comunicativo? Exemplifique a partir das marcas linguísticas do texto.
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f) Que nome você daria a esse texto? Que marcas linguísticas ou semióticas contribuem
para a sua conclusão?
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g) Tendo em vista o propósito comunicativo do texto, qual seria a única pessoa que não
poderia ser o interlocutor desse texto? Justifique sua resposta.
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▪ Conclusão: com essa atividade, você foi capaz de perceber o quão importante é o
interlocutor (7) de um texto. Quanto o texto não alcança o interlocutor pretendido, o
propósito comunicativo (8) não se efetiva. Por outro lado, se atinge um interlocutor
não pretendido, pode provocar situações indesejadas. No texto em questão, não se
conhece os autores, mas é possível inferir que sejam amigos ou familiares de Maitê, os
quais pretendem organizar uma festa de aniversário surpresa para ela. Os
interlocutores do texto são, provavelmente, outras pessoas do convívio da
aniversariante, das quais os autores desejam a presença na celebração. Como exemplo
de interlocutor indesejado, pode-se citar a própria Maitê, pois, se recebesse o convite,
ela descobriria a surpresa, inviabilizando o alcance do objetivo do texto.

129
ATIVIDADE 6 - Trabalhando com o nível linguístico
▪ Como toda a interação humana é mediada pela linguagem, todo o texto se estruturará
a partir de determinadas escolhas linguísticas realizadas pelo seu autor. Tais escolhas
são fortemente influenciadas pelas relações entre autor e interlocutor na interação e
pelas convenções sociais que regulam o grau de formalidade da situação comunicativa.
Sendo assim, as escolhas linguísticas deverão adequar-se à natureza da interação. Em
situações solenes (posse, evento, palestra, formatura, etc.) e em ambientes que se
pretendem sérios (empresas, escolas, instituições governamentais, etc.), verifica-se,
normalmente, a ocorrência de gêneros textuais que utilizarão um registro formal da
linguagem, pois subentende-se uma relação de afastamento entre autor e interlocutor.
Por outro lado, em situações recreativas (encontro de amigos, festa de aniversário,
intervalo de aula/trabalho, etc.) e em ambientes mais descontraídos (familiar, festivo,
etc.), observa-se a produção de gêneros textuais que utilizarão um registro informal da
linguagem, porque subentende-se uma relação de proximidade entre autor e
interlocutor.

Agora reflita sobre as seguintes situações:


1. Um aluno deseja tirar uma dúvida com o professor de língua portuguesa.
2. Murilo pergunta a seus amigos como foi a semana de cada um.
3. Joana preenche um currículo para solicitar uma vaga de emprego.
4. A diretora da escola emite um discurso na formatura dos alunos.
5. Márcia pergunta ao namorado se ele quer uma carona.

Em qual delas seria necessário manter um nível de linguagem mais formal


(emprego da norma-padrão da língua; não uso de gírias e palavras de baixo calão etc.) e
em qual delas seria possível utilizar um grau maior de informalidade (expressões
coloquiais; expressões que denotam intimidade/familiaridade)?

Utilize a tabela abaixo para registrar suas respostas:

NÍVEL DA LINGUAGEM
SITUAÇÃO JUSTIFICATIVA
<FORMAL / INFORMAL>

130
▪ Conclusão: ao analisarmos as situações apresentadas na tarefa, observamos que a
segunda e a quinta permitem a utilização de linguagem informal (9), uma vez que as
relações autor-interlocutor são de proximidade/intimidade e que os ambientes não se
pretendem formais ou solenes. Já a primeira, a terceira e a quarta situações evocam a
necessidade de uso de linguagem formal (10). A primeira se estabelece no ambiente
escolar, espaço que se pretende formal. A terceira diz respeito à busca por emprego e
convencionou-se que um currículo deve ser redigido em registro formal, pois o
ambiente empresarial costuma ser mais sério. A quarta, por fim, concerne à solenidade
de formatura de uma turma, ocasião especial no ambiente escolar, precisando manter
um certo grau de formalidade. Com isso, concluímos, portanto, que é natureza da
situação que a torna mais ou menos formal. Tal natureza está ligada estritamente com
as convenções sociais de uma determinada comunidade, pois são elas que regulam as
relações autor-interlocutor, o grau de seriedade dos ambientes e o status dos
participantes da interação.

ATIVIDADE 7 - Trabalhando com o propósito comunicativo do texto


Nas atividades anteriores você trabalhou com evento deflagrador, autor, interlocutor e
registro (nível linguístico). Agora, queremos chamar a sua atenção para como todos
esses elementos articulam-se na construção do propósito comunicativo, ou seja, como
todos esses elementos organizam-se no texto para alcançar um determinado objetivo
(exemplo: conseguir a troca de televisores na atividade 1). Com base nisso, pense sobre
os gêneros enumerados abaixo e responda: qual o propósito de cada um deles?

Gênero textual Propósito comunicativo


bula de remédio

cardápio

receita

notícia

novela

conto

e-mail

mensagem de Whatsapp

Após preencher a tabela acima, reflita sobre a seguinte questão:


a) Para quais gêneros foi mais difícil estabelecer o propósito comunicativo? Para quais
gêneros foi mais fácil? Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

131
▪ Conclusão: quando refletimos sobre os diversos gêneros textuais, é possível
percebermos que alguns são mais “estáveis” do que outros. É o caso da bula de remédio,
do cardápio, da receita, da notícia, ou seja, funções mais delimitadas. A bula de remédio
tem por objetivo orientar quanto ao uso de determinado medicamento; o cardápio
expor os pratos disponíveis em determinado restaurante; a receita ensinar a preparar
determinado prato; a notícia informar sobre um fato que aconteceu recentemente. Já a
novela e o conto, enquanto gêneros do campo artístico-literário, objetivam, num
primeiro plano, a fruição estética, o entretenimento do leitor/espectador, porém, além
disso podem apresentar tantos outros objetivos quanto a própria criatividade humana
(criticar, refletir sobre, satirizar, exaltar, etc), o que só será atingido a partir do contato
com cada texto em sua singularidade. Assim também acontece com outros gêneros, dos
quais a função pode variar amplamente. No caso da mensagem de Whatsapp e do e-mail,
sabemos que o objetivo de quem os envia é o de se comunicar com outra pessoa, seja
para contar algo que aconteceu, solicitar uma informação, pedir um favor, etc 2. Dessa
maneira, fica evidente que existem gêneros que são mais “estáticos” quanto a sua função,
e gêneros que são mais “fluidos”. De qualquer maneira, em última instância, para que a
comunicação seja satisfatória, cada texto deve ser visualizado na sua unidade e nas suas
particularidades, ditadas por todos os elementos que estudamos ao longo desta unidade
(evento deflagrador, autor, interlocutor, nível de linguagem e função do texto).

(EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/ escuta, com suas
condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência
previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero
do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de
análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.
(EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem,
da escolha de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação e
contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção
de sentidos e de uso crítico da língua.
(EM13LP07) Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a
posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes modalidades
(epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam
como modalizadores (verbos modais, tempos e modos verbais, expressões modais,
adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais,
entonação etc.), uso de estratégias de impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz
passiva etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo
adequado desses elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de
produção.

2 Nesta atividade consideramos Whatsapp e e-mail como gêneros e não como suporte. 132
CAPÍTULO 7 – DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO: ENSINAR É PRECISO!

Maiara Barcelos Pereira & Gabriella Cassol Altíssimo

Caro aluno,

a unidade didática intitulada “Diversidade na educação: Ensinar é preciso!” tem por


objetivo principal promover a leitura de um exemplar do gênero textual conto,
pertencente ao campo artístico-literário. Nesse sentido, as atividades são dirigidas para
estudantes do 8° e 9° ano, com o objetivo de desenvolver habilidades referentes às
práticas de leitura, análise linguística e produção textual.
Acreditamos que a sala de aula é um espaço em que devemos refletir sobre os
preconceitos que existem em nossa sociedade, por exemplo, o racismo, representado no
conto “Negrinha” que iremos explorar nesta unidade.
Para você compreender melhor o que é um conto, nada melhor do que aprender
na prática, certo? Selecionamos para você um conto muito legal a fim de familiarizá-lo
com o gênero.
Boa leitura!

Rapunzel
Era uma vez um casal que há muito tempo desejava inutilmente ter um filho. Os
anos se passavam, e seu sonho não se realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu
que Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança!
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa deles, era possível ver,
no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas
hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia
a escalar. Afinal, era a propriedade de uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou ao ver um canteiro cheio
dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e
fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os
rabanetes.

133
A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia que não havia jeito de
conseguir o que queria e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio,
até que um dia o marido se assustou e perguntou:
- O que está acontecendo contigo, querida?
- Ah! - respondeu ela. - Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, vou
morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: "Não posso deixar minha mulher
morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!"
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho,
arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que
depressa, ela preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o
sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer
rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria
buscar mais um pouco.
Quando a noite chegou, pulou novamente o muro, mas, mal pisou no chão do
outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira.
- Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar meus
rabanetes? - perguntou ela com os olhos chispando de raiva. - Vai ver só o que te
espera!
- Oh! Tenha piedade! - implorou o homem. - Só fiz isso porque fui obrigado!
Minha mulher viu seus rabanetes pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-
los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira se acalmou e disse:
- Se é assim como diz, deixo você levar quantos rabanetes quiser, mas com uma
condição: irá me dar a criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua
própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê
nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome
de Rapunzel e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze
anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta.
A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar
mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava embaixo da janela e gritava:
- Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando
ouvia o chamado da velha, abria a janela, desenrolava as tranças e jogava-as para fora.
As tranças caíam vinte metros abaixo, e por elas a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando pela floresta e passou perto
da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado. Rapunzel, para espantar a
solidão, cantava para si mesma com sua doce voz. Imediatamente o príncipe quis
subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou

134
para casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira que ele começou
a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez.
Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu
a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: "Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas
tranças!" E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças.
"É essa a escada pela qual se sobe?," pensou o príncipe. "Pois eu vou tentar a
sorte…."
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo
da janelinha, gritou:
- Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu. Rapunzel ficou muito
assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem. Mas o príncipe falou-lhe
com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira
cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse. Rapunzel foi se
acalmando, e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou
que ele era jovem e belo, e pensou: "Ele é mil vezes preferível à velha senhora…." E,
pondo a mão dela sobre a dele, respondeu:
- Sim! Eu quero ir com você! Mas não sei como descer… Sempre que vier me ver,
traga uma meada de seda. Com ela vou trançar uma escada e, quando ficar pronta, eu
desço, e você me leva no seu cavalo.
Combinaram que ele sempre viria ao cair da noite, porque a velha costumava
vir durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel,
sem querer, perguntou a ela:
- Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir, enquanto o jovem filho do
rei chega aqui num instantinho?
- Ah, menina ruim! - gritou a feiticeira. - Pensei que tinha isolado você do
mundo, e você me engana!
Na sua fúria, agarrou Rapunzel pelos cabelos e esbofeteou-a. Depois, com a
outra mão, pegou uma tesoura e tec, tec! cortou as belas tranças, largando-as no chão.
Não contente, a malvada levou a pobre menina para um deserto e abandonou-a ali,
para que sofresse e passasse todo tipo de privação. Na tarde do mesmo dia em que
Rapunzel foi expulsa, a feiticeira prendeu as longas tranças num gancho da janela e
ficou esperando. Quando o príncipe veio e chamou: "Rapunzel! Rapunzel! Joga abaixo
tuas tranças!," ela deixou as tranças caírem para fora e ficou esperando. Ao entrar, o
pobre rapaz não encontrou sua querida Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com
um olhar chamejante de ódio, ela gritou zombeteira:
- Ah, ah! Você veio buscar sua amada? Pois a linda avezinha não está mais no
ninho, nem canta mais! O gato apanhou-a, levou-a, e agora vai arranhar os seus olhos!
Nunca mais você verá Rapunzel! Ela está perdida para você!
Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela
janela. O jovem não morreu, mas caiu sobre espinhos que furaram seus olhos e ele

135
ficou cego. Desesperado, ficou perambulando pela floresta, alimentando-se apenas de
frutos e raízes, sem fazer outra coisa que se lamentar e chorar a perda da amada.
Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe chegou ao deserto no qual
Rapunzel vivia, na maior tristeza, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina,
que haviam nascido ali.
Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe caminhou na direção de
Rapunzel. Assim que chegou perto, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços,
a chorar. Duas das lágrimas da moça caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o
príncipe recuperou a visão e ficou enxergando tão bem quanto antes. Então, levou
Rapunzel e as crianças para seu reino, onde foram recebidos com grande alegria. Ali
viveram felizes e contentes.
Disponível em: https://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/rapunzel

ATIVIDADES SOBRE O CONTO RAPUNZEL

1) Por que o marido da mulher grávida arrancou um punhado de rabanetes do quintal


vizinho?
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2) O que aconteceu à mulher assim que deu à luz?


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3) O que a bruxa fez com Rapunzel para impedi-la de reencontrar o príncipe?


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4) O príncipe conseguiu encontrar a sua amada Rapunzel? Como ele voltou a enxergar?
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Agora que você já conhece um pouco mais do gênero que iremos trabalhar, vamos dar
início à leitura do conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato.

Negrinha
Monteiro Lobato
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta?? Não. Fusca, mulatinha escura,
de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos de vida, vivera-os pelos
cantos escuros da cozinha, sobre farrapos de esteira e panos imundos. Sempre
escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada pelos padres,
com lugar certo na igreja e camarote de luxo no céu. Entaladas as banhas no trono uma
cadeira de balanço na sala de jantar, — ali bordava, recebendo as amigas e o vigário,
dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora, em suma — “dama de
grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o padre.
Ótima, a D. Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva
sem filhos, não a calejara o choro da sua carne, e por isso não suportava o choro da
carne escrava. Assim, mal vagia, longe na cozinha, a triste criança, gritava logo,
nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos?? O pilão?? A mãe da criminosa abafava
a boquinha da filha e corria com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em
caminho beliscões desesperados:
— Cale a boca, peste do diabo!!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio,
desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com olhos eternamente assustados.
Órfã aos quatro anos, ficou por ali, feita gato sem dono, levada a pontapés. Não
compreendia a ideiados grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma
coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a
andar, mas não andava, quase. Com pretexto de que, às soltas, reinaria no quintal,
estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão de porta.
— Sentadinha aí, e bico!! Hem??
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas. — Braços cruzados, já, diabo!!
Cruzava os bracinhos, a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria.
O relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era
seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha,
arrufando as asas. Sorria-se, então, feliz um momento.

137
Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem
fim.
Que ideia faria de si essa criança, que nunca ouvira uma palavra de carinho?
Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca
morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa ruim, lixo — não tinha conta o número
de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi — bubônica. A epidemia
andava à berra, como novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal,
achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não
teria um gostinho só na vida, nem esse de personalizar a peste...
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais roxos, cicatrizes, vergões. Batiam nele
os da casa, todos os dias, houvesse ou não motivo. A sua pobre carne exercia para os
cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço.
Mão em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria
dos fluidos em sua cabeça, de passagem. Coisa de rir, e ver a careta...
A excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão,
fora senhora de escravos e daquelas ferozes, amigas de ouvir contar o bolo e estalar o
bacalhau. Nunca se N 2 afizera ao regímen novo — essa indecência de negro igual a
branco; e qualquer coisinha, a polícia!! “Qualquer coisinha”; uma mucama assada ao
forno, porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho, porque disse: — “Como
é ruim, a sinhá!”....
O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana.
Conservava, pois, Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Simples derivativo.
—Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...
Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade: cocres,
mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de
orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar!) e o a duas
mãos, o sacudido. A gama dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, a torcida
do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos,
pontapés e safanões à uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante:
para doer fino, nada melhor.
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo
maior para desobstruir o fígado e matar saudades do bom tempo. Foi assim com aquela
história do ovo quente.
Não sabem?? Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir —
um pedacinho de carne que ela guardava para o fim. A criança não sofreou a revolta e
atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam, todos os dias.
— “Peste”?? Espere aí!! Você vai ver quem é peste. E foi contar o caso à patroa.
D. Inácia estava azeda, e necessitadíssima de derivativo. Sua cara iluminou-se.
— Eu curo ela! disse, desentalando as banhas do trono e indo para a cozinha, qual
uma perua choca, a rufar as saias. — Traga um ovo!!
Veio o ovo. D. Inácia mesma pô-lo na chaleira de água a ferver e, de mãos à cinta,
gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos
contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, trêmula, olhar
esgazeado, aguardava alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a
boa senhora exclamou:

138
— Venha cá!! Negrinha aproximou-se. — Abra a boca!!
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa então, com uma
colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de
dor saísse, prática que era D. Inácia nesse castigo, suas mãos amordaçaram-na até que
o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os
vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez!! Ouviu, peste??
E voltou contente da vida para o trono, a virtuosa dama, a fim de receber o vigário
que chegava.
— Ah! Monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre
órfã, filha de Cesária; mas que trabalheira me dá!
— A caridade é a mais bela das virtudes! exclamou o padre.
— Sim, mas cansa...
— Quem dá aos pobres, empresta a Deus! A virtuosa senhora suspirou
piedosamente: — Inda é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as férias com “Santa” Inácia duas sobrinhas suas,
pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Negrinha, do seu canto, na sala do trono, viu-as irromperem pela casa adentro
como dois anjos do céu, alegres, pulando e rindo numa vivacidade de cachorrinhos
novos. Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para
desferir sobre os anjos invasores o raio dum castigo tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era um crime brincar??
Estaria tudo mudado e findo o seu inferno — e aberto o céu??!
No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil,
fascinada pela alegria dos anjos.
Mas logo a dura lição da desigualdade humana chicoteou sua alma. Beliscão no
umbigo e nos ouvidos o som cruel de todos os dias:
— Já, para o seu lugar, pestinha!! Não se enxerga?? Com lágrimas dolorosas, menos
de dor física que de angústia moral — sofrimento novo que se vinha somar aos já
conhecidos, a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.
— Quem é, titia? perguntou uma das meninas, curiosa. — Quem há de ser?! disse
a tia num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas
pobres de Deus... Uma órfã... Mas, brinquem, filhinhas!! A casa é grande.
Brinquem por aí a fora!! “Brinquem!!” Brincar! Como seria bom brincar! refletiu
com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em
imaginação com o cuco!
Chegaram as malas; e logo:
— Meus brinquedos!! reclamaram as duas meninas. Uma criada abriu-as e tirou-
os fora.
Que maravilha! Um cavalo de rodas!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca
imaginara coisa assim, tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma
criancinha de cabelos amarelos... que fala “papá”... que dorme...
Era de êxtase, o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o
nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
- É feita??... perguntou extasiada.

139
E, dominada pelo enlevo, um momento em que a senhora saiu da sala a
providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo
quente, tudo, e aproximou-se da criaturinha de louça. Olhou-a com assombro e
encanto, sem jeito sem ânimo de pegá-la.
As meninas admiraram-se daquilo. — Nunca viu boneca??
— Boneca?? repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?? Riram-se as fidalgas de
tanta ingenuidade.
— Como é boba! disseram. — E você, como se chama?
— Negrinha.
As meninas, novamente, torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha
perdurava, disseram, estendendo-lhe a boneca:
— Pegue!!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, com o coração aos pinotes. Que
aventura, santo Deus! Seria possível?? Depois, pegou a boneca. E muito sem jeito, como
quem pega o Senhor Menino, sorria para ela e para as meninas, com relances de olhos
assustados para a porta. Fora de si, literalmente... Era como se penetrara o céu e os
anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe viesse adormecer ao colo. Tamanho foi o
enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. D. Inácia entreparou, feroz, e esteve uns
instantes assim, imóvel, presenciando a cena.
Mas era tal a alegria das sobrinhas ante a surpresa estática de Negrinha, e tão
grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou.
E pela primeira vez na vida soube ser mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala, Negrinha tremera, passando-lhe num relance pela cabeça a
imagem do ovo quente, e hipóteses de castigos piores ainda. E incoercíveis lágrimas de
pavor assomaram-lhe aos olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo:
estas palavras, as primeiras que ouviu, doces, na vida:
— Vão todas brincar no jardim!! e vá você também!! mas veja lá!! Hem??
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não
viu nela a fera antiga. Compreendeu e sorriu-se.
Se a gratidão sorriu na vida, alguma vez, foi naquela surrada carinha...
Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na
mendiga. E para ambas é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos
divinos à vida da mulher: o 4 momento da boneca — preparatório, e momento dos
filhos, — definitivo. Depois disso está extinta a mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha alma.
Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que ela trazia em si, e que
desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ser
humano. Cessara de ser coisa e de ora avante lhe seria impossível viver a vida de coisa.
Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!...
Assim foi, e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa
reentrou no ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra,
inteiramente transformada.
D. Inácia, pensativa, já a não atenazava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa
de coração, amenizava-lhe a vida. Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita.

140
Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora
nostálgicos, cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro de seu doloroso
inferno, envenenara-a. Brincara ao sol, no jardim. Brincara!...
Acalentara dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer papá e
a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-
se de alma.
A repentina retirada de tudo isso fora forte demais para a débil resistência de uma
alma, com um mês de vida apenas. Enfraqueceu, definhou, como roída de invisível
doença consuntora. E uma febre veio e a levou.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono.
Ninguém, entretanto, morreu jamais com maior beleza. O delírio rodeou-se de bonecas,
todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos rodamoinhavam em torno
dela, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça,
abraçada, rodopiada.
Veio a tontura, e uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida,
confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e o cuco pela última vez
lhe apareceu, de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou... E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença sua carnezinha de terceira —
uma miséria, quinze quilos mal pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na
memória das meninas ricas:
— Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca??
Outra de saudade, no nó dos dedos de D. Inácia: — Como era boa para um cocre!...

ATIVIDADES DE LEITURA E COMPREENSÃO

1) Quem foi Monteiro Lobato? Faça uma pesquisa sobre o autor. Em sua pesquisa,
observe em qual época o autor viveu, quando escreveu sua obra e qual o impacto disso
para a literatura. As informações disponíveis nos Códigos QR a seguir podem ajudar na
sua pesquisa!

1. https://pt.wikipedia.org/ 2. https://www.ebiografia.c 3. https://www.youtube.com/


wiki/Monteiro_Lobato om/monteiro_lobato/ watch?v=qP03kfjcrMY

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2) Em que ano acabou a escravidão no Brasil? Em que ano o texto “Negrinha” foi escrito?
O que isso nos mostra?
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3) Se você não tivesse feito a pesquisa sobre o ano em que a obra foi escrita, que outros
elementos do texto te ajudariam a perceber o período de publicação do texto?
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FALANDO SOBRE RACISMO


Racismo é o preconceito e a discriminação direcionados a quem possui uma raça
ou etnia diferente.

Racismo no Brasil é crime


O racismo no Brasil é crime previsto na Lei n. 7.716/1989, é inafiançável e não
prescreve, ou seja, quem cometeu o ato racista pode ser condenado mesmo anos depois
do crime.

O que foi a escravidão no Brasil?


A escravidão no Brasil foi implantada no início do século XVI.
Em 1535 chegou a Salvador (BA), o primeiro navio com negros escravizados. Este
ano é o marco do início da escravidão no Brasil que só terminaria 353 anos depois em
13 de maio de 1888, com a Lei Áurea.
As primeiras pessoas a serem escravizadas na colônia foram os indígenas.
Posteriormente, negros africanos seriam capturados em possessões portuguesas como
Angola e Moçambique, e regiões como o Reino do Daomé, e trazidos à força ao Brasil
para serem escravizados.

Pesquise mais em:

1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil

2. http://www.brasilescola.com/historiab/escravidao-indigena.html

3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil

4. http://www.brasilescola.com/historiab/escravidao-indigena

142
4) Faça uma roda de leitura e dialogue com seus colegas sobre a temática do texto. Quem
sabe o colega percebeu algo que você não tenha observado e vice-versa.

5) Todos nós temos um nome, pelo qual somos chamados desde que nascemos. Por que
você acha que a menina não tem nome na história? Comprove sua resposta com
elementos linguísticos retirados do texto.
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6) Existem algumas palavras usadas no texto que não são do nosso cotidiano. Selecione
três, pesquise o significado no dicionário e analise o sentido no texto. É o mesmo que
está no dicionário? Organize um quadro e compartilhe com os colegas.

Palavras Significado no dicionário Sentido no texto

1.

2.

3.

7) Vamos pensar: por que será que algumas palavras são usadas com sentidos diferentes
dos seus significados reais?
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____________________________________________________________________________________________________

8) O texto inicia apresentando a personagem principal. Como ela é chamada?


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9) Quais adjetivos são usados para apresentar a personagem principal?


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143
10) Leia o trecho a seguir retirado do conto:

“— Vão todas brincar no jardim!! e vá você também!! mas veja lá!! Hem??
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não
viu nela a fera antiga. Compreendeu e sorriu-se.
Se a gratidão sorriu na vida, alguma vez, foi naquela surrada carinha...”

a) Qual personagem autorizou que “Negrinha” fosse brincar também?


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b) Qual o motivo da surpresa de “Negrinha” quando ouviu que poderia brincar?


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11) O que aconteceu com a personagem no final da narrativa? Comprove sua resposta
com fragmentos retirados do texto.
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12) Como as “meninas ricas” lembravam-se dela? E a D. Inácia?


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13) Lendo o texto, você acha que a personagem principal do conto, denominada
“Negrinha”, era tratada como as outras crianças? Para explicar, retire trechos do texto
que corroborem com sua resposta.
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14) Por qual razão a personagem era tratada diferente das outras meninas da casa?
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144
ATIVIDADES DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Tenho certeza que vocês conhecem muitos contos em que o personagem principal
é uma menina ou menino, por exemplo, Cinderela, Pinóquio, João e Maria e tantos
outros. Mas agora me digam, quantas dessas histórias tinham como personagem
principal uma garota ou garoto negro? Pois é, poucas, né?! Agora que você refletiu sobre
os textos trabalhados, é hora de produzir o seu próprio conto.

Comando da atividade:
Crie um conto, cuja narrativa seja um personagem principal negro. Ele poderá ser
completamente inventado por você ou ter características de pessoas do mundo real,
figuras públicas negras que ajudam no papel da representatividade. Caso escolha a
segunda opção, aí vão alguns exemplos que podem ajudá-lo: Lázaro Ramos, Taís Araújo,
Nelson Mandela. Lembre-se que seu texto tem por finalidade ajudar na mudança desse
estereótipo de personagem imposto pela sociedade. Seu conto será lido pelos colegas e
circulará na comunidade escolar.

Luís Lázaro Sacramento de Araújo Ramos é um ator, apresentador, dublador,


cineasta e escritor de literatura infantil brasileiro, que iniciou a carreira artística no
Bando de Teatro Olodum. Durante os anos de 1998 a 2002, foi âncora do Fantástico.
Taís Bianca Gama de Araújo Ramos é uma atriz brasileira de televisão e cinema.
Nascida em 25 de novembro de 1978, no Rio de Janeiro, fez a sua primeira participação
nas telinhas na novela "Tocaia grande", da extinta Rede Manchete.
Nelson Rolihlahla Mandela foi um advogado, líder rebelde e presidente da África
do Sul de 1994 a 1999, considerado como o mais importante líder da África Negra,
vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993, e pai da moderna nação sul-africana, onde é
normalmente referido como Madiba ou "Tata".

Confira se a sua produção atende aos critérios a seguir:


CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO Sim Não Em parte

1 - A produção atende ao gênero proposto?

2 - A produção apresenta a estrutura do gênero conto?


3 - A linguagem usada está de acordo com as
convenções da escrita: coesão e coerência, adequação
semântica, ortografia e pontuação?
4 - A produção foi entregue na data combinada?
5 - Apresentou m um personagem principal negro,
como foi solicitado no comando?

145
(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes
visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de
estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e
considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários,
percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de
apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.
(EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de
suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em
quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia,
observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais
como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais
adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes
modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto.

146
CAPÍTULO 8 – A LINGUAGEM DA POESIA
Lucas Sauzem Cruz

Caro aluno,
nesta unidade didática, vamos trabalhar um pouco com a linguagem poética e com um
gênero de texto pertencente ao campo artístico-literário: o poema. Tenho certeza de que
você já leu algum poema em sua vida, não é mesmo? Provavelmente até tenha
trabalhado alguma vez em sala de aula, aposto. Bom, preparei um percurso de atividades
que vão contribuir para a aprendizagem desse gênero e de seus elementos
característicos.
Esta unidade foi construída para estudantes do 8º e 9º anos e focaliza a construção
de sentidos na utilização de imagens do mundo cotidiano/concreto para expressarem
sentimentos do eu poético.
Para esse percurso de aprendizagem, escolhi um poeta muito querido por seu
trabalho mais lúdico com a poesia, o que facilita a compreensão de alguns de seus textos,
mas não diminui a magnitude e a profundidade poética da sua obra. No início, vamos
conhecê-lo e, após, realizaremos a leitura de um de seus poemas. Na sequência, você terá
mais autonomia para realizar a leitura de outros poemas e fazer a sua interpretação, e
eu fornecerei ferramentas para lhe ajudar. Ao fim, espero que você contribua ainda mais
realizando uma produção textual a partir das atividades realizadas e com os subsídios
fornecidos.
Assim, encare esta unidade de ensino não como um problema a ser resolvido ou
um desafio, mas como um percurso de agradáveis descobertas sobre o nosso universo
literário. Portanto, desejo-lhe uma boa caminhada.

MARIO QUINTANA, O POETA DOS PASSARINHOS

O poeta que vamos trabalhar nesta unidade é o gaúcho Mario Quintana, que nasceu
em uma cidade do interior do estado do Rio Grande do Sul, denominada Alegrete.
Entretanto, viveu grande parte da sua vida na capital Porto Alegre, onde desenvolveu
atividades como jornalista, tradutor e é claro, poeta.
Na capital gaúcha, o poeta é lembrado não somente como um ícone da literatura,
mas também como uma figura ácida e descontraída nos meios sociais em que conviveu.
O lugar onde viveu os últimos anos da sua vida, o Hotel Magestic, acabou se tornando
um espaço de memória e visitação na cidade de Porto Alegre, mantendo viva a arte do
poeta e de outros artistas de sua época.

Disponível em: https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=04648

147
Hoje, o hotel recebe o nome de Casa de Cultura Mario Quintana e tem como um
dos espaços mais conhecidos o antigo quarto do poeta, preservado exatamente como o
escritor deixou antes de partir.
De sua contribuição literária sabe-se que ele começou publicando poemas em
uma revista literária estudantil enquanto estudava no colégio militar de Porto Alegre.
Mas a sua primeira publicação editorial foi em 1940 com o livro de poemas A Rua dos
Cataventos, que já marcava seu gosto por uma linguagem prosaica e um tom um tanto
quanto irônico e/ou cômico.

Vida e obra do autor Casa de Cultura Mario Quintana

Vamos, enfim, conhecer um de seus poemas:

Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Esconderijos do Tempo, 1980.

148
Nesse poema, Mario Quintana vai trabalhar com um mecanismo que chamamos
de metapoema. Esse “palavrão” significa que o poema falará sobre si mesmo, ou sobre a
ideia de si, ou sobre a sua construção, ou sobre aquilo que o define, ou..., ou... Ou seja, o
sufixo meta- representa sempre uma reflexão sobre si, por exemplo, um dicionário dar
a definição de dicionário. No poema de Mario Quintana, denominado Os Poemas, a
reflexão recai sobre “o que é um poema?”.
Nesse primeiro poema, faremos uma leitura guiada para que você compreenda
alguns dos principais recursos utilizados. Alguns provavelmente você reconheceu
sozinho, o que é excelente, mas tentarei revelar aspectos que possam ter escapados a
sua leitura. É importante que você sempre retorne ao poema para compreender melhor
o que eu estou apresentando. Vamos lá!

Importante!
Verso: cada linha de um poema;
Estrofe: conjunto de versos, que tem seu limite definido em uma linha em branco;
Sujeito lírico: voz que expressa subjetividade no poema.

No primeiro verso do poema, o poeta vai criar uma ideia comparativa entre os
poemas e os pássaros, mas o que teria a ver os pássaros com os poemas?
Bom, essa ideia comparativa é realizada a fim de estabelecer sentidos comuns de
pássaros e poemas, em que um sentido seja compartilhado pelos dois, algo que na
literatura vamos chamar de metáfora, uma figura de linguagem.
Essa ideia compartilhada vai ser desenvolvida no verso: “Os poemas são (como)
pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam nos livros que lês.”
É claro que essa ideia comparativa não será tão concreta e perceptível, o que
exigirá do leitor uma contribuição interpretativa para o verso. Poderíamos dizer que os
poemas são livres no mundo e os encontramos nos livros, seu lugar de pouso, ou até
mesmo de que os poemas, assim como os pássaros, viajam num espaço que não
alcançamos, como o céu, e só poderemos ter contato com eles quando lermos um livro,
como quando um pássaro pousa no chão.
Na sequência, o sujeito lírico apresenta a ideia de que os poemas alçam voo do
livro, como se saíssem de um alçapão, e que eles não possuem um destino único, pois se
alimentam um instante em cada par de mãos que encontra.
Essa construção fica mais fácil de entender após compreendermos a ideia
comparativa do primeiro verso. Seguindo a mesma ideia, podemos dizer que os poemas
não estão presos nos livros, pois eles se libertam no momento da leitura, o instante em
que o leitor os lê. Mas ele também não é fixo a um leitor, ao contrário, ele é livre para se
alimentar em muitos leitores, assim como os pares de mãos que alimentam os pássaros.
No último verso, temos o fechamento da ideia comparativa, em que descobrimos
que o alimento do poema está em nossas mãos. Se podemos compreender que o

149
alimento do pássaro é dado por nossas mãos, como vamos compreender a ideia de que
somos nós leitores que alimentamos os poemas e de que esse alimento já está em nós?
Pense comigo: para que serve um poema que jamais será lido?
Um poema que jamais é lido não pode existir, não tem vida. Portanto, assim como
através do alimento nós damos vida ao pássaro, é através da leitura que damos vida ao
poema, ou seja, nós somos o alimento para a sobrevivência do poema.
Então, volte ao poema e faça uma nova leitura, alimente-o!

▪ Agora preste atenção! Nesse poema de Mario Quintana, você aprendeu o recurso e
o conceito de metapoema, e também salientei sobre a figura de linguagem que
representa uma ideia comparativa, a metáfora. Para compreendermos melhor essa ideia
comparativa, vamos antes conhecer o que é uma figura de linguagem e a figura de
linguagem denominada comparação.

Figuras de linguagem
As figuras de linguagem são mecanismos de expressão da linguagem a fim de criar
efeitos no discurso.

Definição Exemplo
A comparação é quando você quer
Comparação

compartilhar o sentido de algo com “Seu coração é frio como gelo”


alguma outra coisa. E há o uso de algum (A ideia de frieza é compartilhada ao
conectivo (“como”, “tanto quanto”, coração para expressar insensibilidade)
“parece”, entre outras).
Na metáfora, assim como na “Você tem uma pedra dentro do peito”
Metáfora

comparação, há um compartilhamento (A ideia de dureza é compartilhada ao


de sentidos. Entretanto, não há o uso coração dentro do peito, expressando
explícito de conectivos. também insensibilidade)

O SENTIMENTO EM IMAGEM
Neste momento, você deverá realizar a leitura do poema abaixo, e na sequência
encontrará ferramentas para explorar melhor o poema. A atividade servirá não como
um teste para ver a qualidade da sua leitura, mas encontrará ferramentas para melhor
explorá-lo.

150
Poeminha Sentimental
O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.
Preparativos de Viagem, 1987.

▪ Após a leitura do poema “Poeminha Sentimental”, realize as atividades a seguir:

1) No poema, o sujeito lírico estabelece várias relações entre seus sentimentos com
imagens do cotidiano. Em sua primeira leitura, como você descreveria a relação entre
os sentimentos amorosos do sujeito lírico com as imagens do fio telegráfico e com os
passarinhos?
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2) Para entendermos melhor, precisamos fazer conexões de sentido em todo o poema.


Por exemplo, no segundo verso ele fala sobre o “fio telegráfico”, e no 12º verso ele fala
“no meu pobre fio de vida”. Nesses dois momentos, podemos compreender um
compartilhamento de sentido: ele descreve seu sentimento a partir do fio telegráfico
para construir a ideia sobre o seu fio da vida. Neste caso, pensando que o fio telegráfico
é o seu fio da vida, o que podemos interpretar sobre as andorinhas?
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151
3) No quadro abaixo, mostre a relação das andorinhas e seus comportamentos no
poema. Estabeleça conexões de positividade e negatividade marcando um X na que
representa cada andorinha.

ANDORINHAS Positivo Indiferente Negativo


Aquela que cantou e partiu;
Aquela que foi embora antes de cantar;
A que fez apenas cocô.

4) Levando em consideração que o fio telegráfico é o fio da vida do sujeito lírico, e as


andorinhas são os amores que passaram por ele, como você definiria os seus casos
amorosos pelos seguintes versos: “Aonde vêm pousar as andorinhas... / De vez em
quando chega uma / E canta / Canta e vai-se embora / Outra, nem isso, / Mal chega, vai-
se embora. / A última que passou / Limitou-se a fazer cocô / No meu pobre fio de vida!”

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5) O poema, portanto, utiliza a imagem do fio telegráfico e das andorinhas para


representar seus casos amorosos. Ele constrói essa ideia e a compartilha com uma
interlocutora, Maria. Em sua opinião, qual a intenção do jeito lírico em expressar essa
ideia para Maria?
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CONSTRUÇÃO DE SENTIDO(S)

No próximo poema, um dos mais célebres de Mario Quintana, vamos encontrar


um número bem menor de versos em comparação aos poemas já trabalhados, o que não
significa que a sua construção seja menos elaborada. Com apenas 4 versos, Mario
Quintana cria uma variedade de sentidos utilizando categorias estruturais da palavra
para “brincar” com a linguagem. A seguir, faça a leitura do poema e das atividades para
melhor compreendê-lo.

152
Poeminha do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
Caderno H, 1973.

1) No Poeminha do Contra, o sujeito lírico estabelece uma relação de dualidade


(contraponto entre duas ideias), o que seria?

a) Entre os que estão no caminho correto e os que estão no caminho errado.


b) Entre os que o acompanham no caminho e os que não o acompanham.
c) Entre o “Eu” e os “Outros” que atravancam o caminho.
d) Entre “Eu” sozinho no caminho e “nós” juntos no caminho.

2) Retire do poema os versos que marcam a relação de “Eu” contra “Todos, eles, os
outros”, e destaque as palavras do trecho que representam esses dois lados.
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3) Observe o uso das palavras “Todos” e “Meu” no poema. A que classe de palavras
pertencem? Considerando que a primeira mostra uma relativização dos outros ao passo
que a segunda mostra uma definição pessoal, como podem ser subclassificadas? E por
que você acredita que o sujeito lírico indefine aqueles que o contrapõe?
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4) Na sequência, ele marca que os outros estão atravancando o seu caminho. Caminho
pode ser entendido como uma imagem utilizado pelo sujeito lírico para sugerir ideias
além de seu sentido mais comum, de estrada?
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153
5) Como podemos entender o sentido de atravancar?
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6) Leia este trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade: “No meio do caminho
tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / Tinha uma pedra / No meio
do caminho tinha uma pedra”. E então, se lermos a imagem da pedra e a expressão
“atravancando o meu caminho" em seus sentidos figurados, o que podem significar?
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7) Nos dois últimos versos, o sujeito lírico coloca duas resoluções: “Eles passarão... / Eu
passarinho!” Percebe-se que há um estranhamento na leitura. Para compreender
melhor, preencha o quadro com o que se pede:

Pássaro + sufixo ÃO = Passarão Qual o sentido?


+ Desinência Modo
Passar = Passarão Qual o sentido?
Temporal ÃO
Pássaro + O quê? = Passarinho Pássaro no diminutivo.
Verbo passar no futuro
Passar + O quê? = Passarei
do indicativo.

8) A o utilizar a terceira pessoa do plural no futuro do indicativo para criar a expectativa


de que na primeira pessoa será “passarei”, o poema surpreende ao jogar com o sentido
de passarão como aumentativo de pássaro, contrapondo com o diminutivo “passarinho”.
Nesses versos, o poeta brinca com a estrutura de palavras do português para criar
sentidos. Quais sentidos, portanto, podemos atribuir à palavra passarão e passarinho?
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9) Com a comparação subentendida entre passarinho e passarão, o que o sujeito lírico


quer dizer sobre os Outros e o Eu?
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154
Para saber mais sobre a estrutura das palavras...

VOCÊ É O POETA

Nas atividades anteriores, você trabalhou com três poemas do Mario Quintana.
Em Os Poemas, observamos um exemplo de metapoema, em que a reflexão recai sobre
si mesmo. Em Poeminha Sentimental, o sujeito lírico utiliza uma imagem bastante
comum do mundo concreto para expressar seu sentimento amoroso. Por último, em
Poeminha do Contra, o poeta utiliza da estrutura das palavras para criar um efeito que
surpreenda nossa expectativa de leitura. Há nesses poemas um elemento bastante
comum, uma das principais marcas do poeta. Leia os versos a seguir, retirados de cada
um dos três poemas.

Eles passarão
Eu passarinho
O meu amor é como um fio telegráfico
Aonde vêm pousar as andorinhas...

Os poemas são pássaros

1) O que há de comum nesses versos dos poemas de Mário Quintana?


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2) Com base nessa semelhança, como poderíamos explicar a linguagem da poesia, isto
é, o modo como o poeta usa a linguagem para expressar seus sentimentos sobre
diferentes assuntos?
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155
3) Nos poemas trabalhados, foi percebido que há diversos usos da imagem de pássaros
para expressar diferentes sentidos, especialmente no uso de comparações e/ou
metáforas. Usando sua criatividade, escreva um verso ou uma estrofe que relacione a
imagem de um pássaro com alguma temática de seu interesse (amizade, amor, paz,
natureza, escola...). Em cada par de pássaros, escolha um dos dois e escreva a sua
proposta poética.

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(EF89LP33) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e


estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta
características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos,
fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas
visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de forma livre e
fixa (como haicai), poema concreto, ciberpoema, dentre outros, expressando avaliação
sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

(EF69LP48) Interpretar, em poemas, efeitos produzidos pelo uso de recursos


expressivos sonoros (estrofação, rimas, aliterações etc), semânticos (figuras de
linguagem, por exemplo), gráficoespacial (distribuição da mancha gráfica no papel),
imagens e sua relação com o texto verbal.

156
CAPÍTULO 9 – JORNAL VIRTUAL: NAVEGANDO PELAS NOTÍCIAS DA WEB

Gustavo Afonso Müller

As notícias jornalísticas ainda se mantêm como um dos principais meios de


transmissão de informações e conteúdos de interesse social. Sua migração para o meio
virtual, nos últimos anos, comprova a sua importância na comunicação, atualmente. A
unidade Jornalístico-midiática tem como objetivo explorar o jornal virtual “Joca”, o
único site de notícias infanto-juvenis do Brasil, procurando revelar a composição do
gênero textual notícia e transformar o aluno em um leitor crítico, habilitado a agir no
mundo.

ACESSANDO O JORNAL DIGITAL


A NOTÍCIA DA WEB
As notícias que lemos na web costumam ser objetivas, com isso, as informações
que encontramos nelas são muito precisas. As informações mais importantes de uma
notícia virtual são introduzidas no primeiro parágrafo, para que o leitor adquira
interesse pelo seu conteúdo mais rapidamente. Essa característica particular das
notícias da web, tornam-nas mais breves que notícias impressas em jornais, por
exemplo.
O LEAD é o parágrafo que introduz a notícia da web. Neste parágrafo apresentam-
se as informações mais importantes da notícia. As informações do LEAD explicam, de
uma maneira breve, o que aconteceu, quem estava envolvido, onde aconteceu, por que
aconteceu e como aconteceu.
Nos parágrafos seguintes, surgem informações que ajudam a contextualizar a
notícia e que são essenciais para uma melhor compreensão dos fatos. Por último, são
adicionadas informações menos essenciais como curiosidades, informações gerais e
dados de menor importância.

CONHECENDO MELHOR A NOTÍCIA JORNALÍSTICA


1) A partir das imagens e de seu conhecimento de mundo, responda às questões que
seguem.

157
a) Para quais públicos os jornais costumam ser produzidos?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Quais são os suportes de circulação de um jornal?


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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

c) Quem é que produz as notícias de um jornal?


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

2) O jornal Joca é um jornal virtual. Acesse seu site para conhecê-lo um pouco mais!

Depois de conhecer o Jornal Joca, responda:

a) A qual público potencial o jornal se destina?


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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Quais temas o Jornal Joca costuma noticiar?


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____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

158
LENDO A NOTÍCIA

1) Leia, a seguir, uma notícia do Jornal Joca sobre a lição de casa.

a) Após a leitura, preencha o quadro a seguir de acordo com as informações


identificadas na notícia:

O que aconteceu?

Quem foram os envolvidos?

Onde aconteceu?

Por que aconteceu?


Qual foi a posição da Associação Nacional
de Professores Públicos (Anpe)?
Qual é a principal informação da notícia?

2) Releia o trecho a seguir, retirado da notícia, e observe o verbo em destaque:

“A confederação espanhola de associação de pais e mães de alunos, que representa


milhões de famílias na Espanha, organizou uma greve para convocar os alunos a não
fazer lição de casa em novembro”.

159
a) O verbo destacado está no pretérito perfeito. Por que esse tempo verbal é
recorrentemente utilizado nas notícias?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
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COMENTANDO A NOTÍCIA

O comentário online é uma ferramenta muito importante para as notícias virtuais.


Neste espaço, os leitores das notícias podem escrever suas impressões sobre o conteúdo
noticiado e até mesmo fazer críticas a partir de sua opinião sobre o assunto.
Nos comentários on-line é possível que você comente sobre outros comentários,
contrapondo ou concordando com o ponto de vista dos demais leitores. Essa forma de
interação constrói um espaço que promove relações sociais.

QUAL É A SUA OPINIÃO?

1) Leia os comentários a seguir:

160
a) Os comentários fazem referência ao conteúdo da notícia aos quais eles pertencem. De
acordo com os dois comentários, qual é o possível tema abordado pela notícia?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________

b) Os comentários costumam apresentar a opinião dos leitores sobre o assunto.


Recupere, nos comentários, uma marca linguística que sugere a opinião do leitor sobre
o assunto.
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c) Os comentários apresentam verbos empregados na primeira pessoa, uma vez que


referenciam o ponto de vista do próprio autor do comentário. Recupere, no segundo
comentário, verbos que referenciam o autor do comentário.
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2) Vamos produzir um comentário? Retorne à notícia, "Lição de casa é tema de debate".


Responda à questão: qual a sua opinião sobre substituir a lição de casa por outras
atividades que provoquem conhecimento e mantenham uma proximidade com os pais?
Deixe aqui o seu comentário!
Notícia "Lição de casa é tema de debate"
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Critérios de revisão
O seu comentário deve conter:
1. Uma síntese do assunto da notícia;
2. Um posicionamento diante do assunto (ser favorável ou contra);
3. Um parágrafo único.

161
(EF69LP03) Identificar, em notícias, o fato central, suas principais circunstâncias e
eventuais decorrências; em reportagens e fotorreportagens o fato ou a temática
retratada e a perspectiva de abordagem, em entrevistas os principais temas/subtemas
abordados, explicações dadas ou teses defendidas em relação a esses subtemas; em
tirinhas, memes, charge, a crítica, ironia ou humor presente.

162
CAPÍTULO 10 – RESSIGNIFICANDO A ESCRITA:
CONTOS BASEADOS EM FANFICS
Rúbia Keller Vieira & Laura Severo da Silveira

Caro estudante,
provavelmente você conhece alguém (ou seria você?) que resiste ao exercício da escrita,
mas que está sempre envolvido por uma história ou outra – seja ela musicada ou
televisionada, por exemplo. Já se perguntou quais os fatores que barram a iniciativa de
escrever, sua ou de seus colegas? Vivemos rodeados pelas mais diferentes narrativas,
assim como os pré-conceitos rondam as propostas de produção textual, como a
necessidade de um vocábulo rebuscado e de um enredo complexo e inédito.
Dessa forma, você está convidado a percorrer o caminho da literatura até chegar a
sua própria narrativa! Este material didático o ajudará simplificar as formas de ler e
escrever – e quem sabe despertará em você um talento reprimido! Vamos tecer sua
história pelas tramas de um gênero narrativo curto, mas muito envolvente: o conto.
Comecemos por Clarice Lispector, um dos grandes nomes da literatura brasileira e
mundial. Felicidade Clandestina, um conto de leitura fluida e fácil compreensão, ajudará
expandir seus limites e a identificar os componentes fundamentais desse gênero textual:

Felicidade Clandestina
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio
arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas.
Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas.
Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai
dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo
menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai.
Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes
mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data
natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando
balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos
imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu
com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as
humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros
que ela não lia.

163
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura
chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de
Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele,
comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu
passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não
vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num
sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus
olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia
seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo
me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo
estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do
livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o
amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí
nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era
tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso
e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu
poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da
vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido,
enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar
que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às
vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que
eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes
ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de
modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as
olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e
silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição
muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve
uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora
achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa
entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro
nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

164
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a
descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de
perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao
vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma
para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o
livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo
tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a
ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.
Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí
andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos,
comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco
importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o
susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo,
fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não
sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais
falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade
sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu
vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem
tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Fonte: LISPECTOR, Clarice. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro, Rocco, 1998.

▪ Nossa primeira atividade será encontrar, em Felicidade Clandestina, alguns dos


elementos básicos do gênero, fundamentais em toda produção literária:
personagem(ns), espaço, tempo e narrador.

1) Quantos são os personagens? Quem são eles? Existem personagens principais e


secundários? Por que você assim os define? Todos são fundamentais para a história?
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2) Em que lugar a trama se desenvolve? Como o espaço é descrito? Você acha que a
descrição detalhada de um determinado espaço é sempre necessária? Compartilhe sua
opinião!
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3) Quanto ao tempo, ele é definido? Quando a história acontece? A passagem do tempo
é linear? Tente identificar no texto as marcas textuais que comprovam sua resposta.
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4) Quem conta a história? Ela é narrada em primeira ou terceira pessoa? Escreva o que
caracteriza cada uma delas. O narrador tem características específicas? Explique os
possíveis efeitos que o detalhamento do narrador ou a falta de informações sobre ele,
dá ao texto e ao leitor.
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▪ Depois de Felicidade Clandestina, texto emocionante e de caráter autobiográfico, nada


melhor do que dar boas risadas com O Homem Nu, do escritor brasileiro Fernando
Sabino. Veja:

O Homem Nu
Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o
sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da
cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente
as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz
barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã
eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um
banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um
café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse
completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se
a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do
parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos,
porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo
vento.

166
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera,
olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro
interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já
era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro
subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador
passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos
nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares,
vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim
despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os
passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador,
apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava,
vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado,
enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em
pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava
sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um
verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e
desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-
o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que
sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam
a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora?
Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta,
enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem
nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-
se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

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— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou
como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos
minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
Fonte: SABINO, F. O homem nu. Rio de Janeiro: Recorde, 1975.

O Homem Nu fala do cotidiano com a linguagem coloquial e repleta de humor. Caso


você seja o engraçadinho da turma, Fernando Sabino mostra que até o aluno mais
espirituoso pode ter seu texto levado a sério – mesmo que com boas gargalhadas!
No conto, reconhecemos os componentes básicos já vistos – personagem, narrador,
tempo e espaço. A esses elementos, contudo, somam-se as partes que constituem a
estrutura de um texto do gênero: apresentação inicial, conflito, desenvolvimento, clímax
e desfecho.
Na apresentação inicial, o autor familiariza o leitor ao apresentar personagens e
indicar o tempo e o espaço em que a história acontece;
O conflito modifica a situação inicial dos personagens, exigindo ação;
No desenvolvimento se desenrolam as tentativas de solucionar o problema
enfrentado pelo(s) personagem(ns);
O clímax é o ponto máximo de tensão que exige a solução do problema/conflito;
O desfecho mostra a solução encontrada, encerrando a história.

1) Teste sua compreensão e organize a história abaixo, relacionando-a a seus elementos


estruturais:

( ) Apresentação inicial ( ) Conflito ( ) Desenvolvimento ( ) Clímax ( ) Desfecho


a) Ele precisa fugir da polícia e começa a investigar o desaparecimento por conta
própria, coletando provas de que houve uma armação.
b) Um rapaz e sua namorada estão apaixonados.
c) Consegue provar sua inocência, recuperando a namorada mantida em cativeiro.
d) Ao encontrar o verdadeiro culpado, ele o confronta em um encontro eletrizante.
e) Um dia, ela desaparece e todas as evidências apontam para ele.

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2) Parece moleza, mas será que você está apto a identificar a estrutura de O Homem Nu?
Destaque, no texto, apresentação inicial, conflito, desenvolvimento, clímax e desfecho e
comente a importância de cada um dos movimentos:
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▪ Agora que o conto parece bem mais familiar, por que não produzimos uma narrativa
alicerçada no que aprendemos até aqui?
Antes que você pense na atividade com possível tédio, nossa proposta terá um
adicional como incentivo: seu conto poderá ser baseado na história ou no personagem
que você mais curte! Pensou em fanfics? Prepare-se para fazer de seu texto sinônimo de
criatividade e diversão! Caso esse gênero não faça parte de suas leituras, desvende
agora...

O QUE SÃO AS FANFICS?


As fanfictions, fanfics, ou ainda apenas fics, são histórias produzidas por fãs,
baseadas em livros, filmes, seriados, quadrinhos, dentre outros. Geralmente envolvem
os cenários, os personagens e as tramas da obra original, ou ainda fazem o cruzamento
de duas ou mais obras, misturando de forma harmônica seus enredos e personagens,
para compor uma nova história. Sem intenção comercial, a criação das fanfictions é um
passatempo dos fanfiqueiros, que dedicam horas de seu tempo livre para ler e produzir
essas histórias.
Fonte: ALENCAR & ARRUDA. Fanfiction: uma escrita criativa na web.
Perspectivas em Ciência da Informação, v. 22, n. 2, p. 89-90, jul. 2020.

COMO ESCREVER UMA FANFIC?


Não há uma regra para criar fanfics além de não ter vergonha de escrever e liberar
a imaginação. Os textos podem ser inspirados por livros, seriados de TV/Internet ou até
mesmo por celebridades da “vida real”. Os fãs-escritores podem inserir os personagens
de títulos já existentes em outro universo, ou utilizar o mesmo “mundo” e introduzir
criaturas inéditas ou até mesmo redefinir o final do conteúdo original. Presume-se que
esses materiais sejam lidos, geralmente, por outros fãs que já têm conhecimento sobre
os personagens, lugares e elementos envolvidos.

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Algumas das principais categorias:

Angst: a angústia dos personagens centrais é o que rege as histórias desse gênero.
Em geral, os protagonistas sofrem por algum motivo, como perda de alguém,
término de relacionamento, problemas existenciais, entre outras questões.
Oneshot: fanfics com somente um capítulo, que não têm continuidade.
Drabble: contos com, no máximo, mil palavras. De acordo com o Urban Dictionary,
elas são normalmente escritas para destacar personagens, eventos ou determinado
ponto de vista.
Canon: seguem fielmente a história original, usando os mesmos personagens e
locações. Costumam manter os casais criados pelo criador do universo no qual se
inspiram.
Crossover: fanfics que misturam dois universos fictícios diferentes, unindo
personagens e itens de Harry Potter e Crepúsculo em uma mesma história, por
exemplo.
AU ou Alternate Universe (universo alternativo em livre tradução): quando os
personagens são inseridos em um universo diferente daquele de origem.
Lime: romance adulto, não necessariamente sexual. Indicado para maiores de 16
anos.
Mary Sue: fanfics consideradas mais água com açúcar, no estilo romance romântico.
Songfic: a história criada é baseada em uma canção.

Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/2018/11/o-


que-e-fanfic-veja-onde-encontrar-na-web-livros-escritos-por-fas.ghtml

Com base em suas preferências, escolha o objeto que inspirará seu conto. Lembre-
se que não só na TV, na literatura ou no cinema estarão as boas referências: tudo ao seu
redor é capaz de inspirar uma boa história, contanto que você considere seus prováveis
leitores enquanto público-alvo. Já pensou escrever sobre algo que só você conhece? Será
muito difícil conquistar fãs, não concorda?
Use a imaginação em sua primeira versão de sua fanfic, que será entregue e
devolvida com as observações necessárias. É fundamental que, em seu texto, conste a
estrutura e os elementos básicos do gênero estudados até agora – assim como todo seu
conhecimento em Língua Portuguesa!

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A primeira versão de sua fanfic está nas mãos da professora, que precisa extrapolar
as noções de Língua Portuguesa, pois provavelmente não conheça boa parte das
produções originais em que os contos da turma foram baseados – incluindo o seu.
Para ajudar a esclarecer não só as dúvidas da professora, mas de leitores que
poderão se interessar por sua escrita, é preciso que o conteúdo da obra original
escolhida por você seja apresentado em um texto que chamaremos de resenha
indicativa. A construção desse texto, que seguirá passos simples e objetivos, ajudará a
justificar sua escolha e a atrair outros fãs.
Comecemos por identificar elementos básicos: o título, o autor e o gênero literário
da produção em que sua fanfic foi inspirada. Caso não se trate de literatura, mas de uma
banda, por exemplo, tire todas as informações básicas possíveis, como sua origem, seu
estilo musical, os integrantes que a compõe, suas canções de sucesso, etc.
Em seguida, identifique qual o tema principal, mas levante, também, assuntos
discutidos e percebidos por você. Destacar o público-alvo também é importante, pois
sua fanfic poderá ser destinada a leitores de mesma faixa etária ou – por que não? –
pensada para um público totalmente diferente!
O que você teria a dizer sobre a produção escolhida por você? Identifique o gênero
e fale mais sobre a linguagem empregada, a fluidez do texto, as escolhas lexicais, o tom
humorístico ou dramático... Esses dados ajudarão você a visualizar sua escolha com mais
clareza e decidir sobre sua versão da história.
Seja livre para fazer suspense: nem todas as etapas precisam estar contidas em sua
resenha indicativa. Pense nos recursos que ajudarão você a chamar a atenção de seu
leitor. Seria interessante omitir o fim da história? Como seria se não revelasse seu
gênero? Como falar (sem dizer) quais as minhas alterações em relação ao texto original?
Por fim, justifique sua escolha e reforce seu posicionamento: hipoteticamente, por
que escolhi a produção X e o que ela traz de tão importante a ponto de fazer meus
leitores se interessarem? Seus argumentos funcionarão como um chamariz e, assim,
poderá atrair novos leitores.
Desenvolva e entregue à professora antes que ela desista de entender.

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Depois de reescrever seu conto, ter em mãos a versão final e de não restarem
dúvidas quanto à produção de origem em que seu texto foi baseado, como você
resumiria sua fanfic?
A esse resumo damos o nome de sinopse, e é a partir dele que você fará, com seu
público, o primeiro contrato de leitura – que significa manter o interesse do leitor por
sua produção.
Observe as sinopses de diferentes produções. Discuta com seus colegas e faça
registros sobre o que as diferenciam. Você pode usá-las como exemplo ou aprimorar os
modelos apresentados para construir a sua. Essa sinopse deverá anteceder a versão
final de seu conto e poderá ser desenvolvida com toda sua criatividade!

Livro O Pequeno Príncipe: “Um piloto cai com seu avião no deserto e ali encontra uma
criança loura e frágil. Ela diz ter vindo de um pequeno planeta distante. E ali, na
convivência com o piloto perdido, os dois repensam os seus valores e encontram o
sentido da vida”.
Disponível em: https://www.livrariadavila.com.br/pequeno-principe-o-pocket-395938/p

Livro IT, A Coisa: “O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles
enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou
terríveis marcas de sangue em Derry. Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se
encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade”.
Disponível em: https://www.livrariadavila.com.br/it-a-coisa-376204/p

Filme IT, A Coisa: “Um grupo de crianças se une para investigar o misterioso
desaparecimento de vários jovens em sua cidade. Eles descobrem que o culpado é
Pennywise, um palhaço cruel que se alimenta de seus medos e cuja violência teve
origem há vários séculos”.
Disponível em: https://www.famdvd.com.br/blu-ray-it-a-coisa.html

Série Gotham: “Antes de Batman, a cidade de Gotham já existia. James Gordon (Ben
McKenzie) é um detetive iniciante polícia. Corajoso, sincero e ansioso para mostrar
serviço, o recém-promovido tem como missão solucionar o caso do assassinato dos
bilionários Thomas e Martha Wayne, um dos casos mais complexos da cidade. Com seu
parceiro, o oficial Harvey Bullock (Donal Logue), Gordon conhece o único sobrevivente
do assassinato: Bruce (David Mazuouz), um garoto de 12 anos, filho do casal, por quem
ele imediatamente sente uma grande afeição”.
Disponível em: http://www.adorocinema.com/series/serie-16973/

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Fanfic Maktub (Luan Santana): “‘Estava escrito, ou melhor, tinha que acontecer’. O
destino jamais escreve errado, é como dizem naquele ditado: o destino escreve certo
por linhas tortas. Bianca Bittencourt, 25 anos, mora em SP com seu namorado
Andrews, professora de séries iniciais, ela vivia em harmonia com seu emprego e sua
vida pessoal, mas a pergunta que fica é: até quando?
Luan R. Santana, 27 anos e policial federal, vive em meio a adrenalina e entrar em
um relacionamento é seu último pensamento, mora em SP com sua irmã Bruna a qual
ele não vê quase nunca por causa do trabalho”.
Disponível em: https://www.spiritfanfiction.com/historia/maktub-15766665

Trecho Fanfic The Ocean’s Curse (mitologia grega):


“ – Alguém consegue me ouvir?
‘Alguém, quem?’ Foi a primeira coisa a passar pela mente de Shikamaru.
- É coisa da minha cabeça – Disse para si mesmo.
- Ei, você! – A mesma voz chamou, o fazendo dar meia volta. – Eu sei que me ouve!
- Onde você está!? – Gritou contra o vento, esperando alguns agonizantes segundos
até que obtivesse uma resposta.
- Eu preciso da sua ajuda!
Poucos metros à frente do navio, pode finalmente avistar a fonte da voz melodiosa
e, pela terceira vez, considerou estar tendo uma alucinação. Belamente emergindo das
águas, estava uma criatura de aparência indescritível. Sua pele era reluzente pela luz
da lua que batia nas gotas de água, olhos verdes que pareciam conter os mais diversos
segredos daquelas águas. O cabelo loiro escorria pelos ombros, e sua feição lhe
suplicava. Ficou imóvel, não sabia o que sentir, pensar, dizer ou fazer”.
Disponível em: https://www.spiritfanfiction.com/historia/the-oceans-curse-19997011

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(EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de
suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em
quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia,
observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais
como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais
adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes
modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto.

(EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de


composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem
do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a
caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos
tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades
linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco
narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos
de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos
espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes
no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de
pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do
uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.

174
CAPÍTULO 11 – PRODUZINDO VERBETE DE ENCICLOPÉDIA
Fernanda De Oliveira & Clea Castro

Esta unidade didática tem por objetivo propor a produção de um verbete de


enciclopédia, gênero textual pertencente ao campo de Prática de Estudos e Pesquisa
para alunos do oitavo ano do ensino fundamental. Os textos escolhidos para a
elaboração de atividades e produção textual apresentam temas que dialogam com o
conteúdo de ciências do 8º ano.

Sistema solar

Introdução
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e tudo o que orbita ao seu redor, como os
oito planetas e suas luas, os planetas anões e inúmeros cometas, asteroides e outros
pequenos corpos gelados. Entretanto, a maior parte do Sistema Solar é um espaço
vazio.

O Sistema Solar é constituído de planetas e corpos menores, como os planetas


anões, os cometas e os asteroides que giram ao redor do Sol. A Nuvem de Oort faz
parte do Sistema Solar; é formada de incontáveis pequenos blocos gelados. Muitos
cometas, outrora, foram parte da Nuvem de Oort.
Encyclopædia Britannica, Inc.

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O Sistema Solar é somente a pequena parte de um imenso sistema formado por
estrelas e outros corpos celestes e chamado Via Láctea. A Via Láctea é uma dos bilhões
de galáxias que existem no Universo.

O Sol
No centro do Sistema Solar existe uma estrela chamada Sol, que é o maior objeto
deste sistema. O Sol é uma bola incandescente, formada pelos gases hélio
e hidrogênio. No seu núcleo, ocorrem constantes transformações de hidrogênio em
hélio, processo que libera grandes quantidades de energia. A vida na Terra depende
da luz e do calor emitidos pelo Sol.

Vento solar
Os gases ao redor do Sol liberam jatos de pequenas partículas, conhecidos como
vento solar, que atingem o Sistema Solar inteiro. É o vento solar que provoca
as auroras, isto é, faz o céu brilhar à noite em alguns lugares da Terra.

Os planetas
Depois do Sol, os maiores objetos do Sistema Solar são os planetas. Em ordem do
mais próximo para o mais distante do Sol, os planetas são Mercúrio, Vênus,
Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Todos transitam ao redor do Sol em
movimentos circulares. A maioria deles possui pelo menos uma lua. No
passado, Plutão era considerado o nono planeta, mas em 2006 ele foi reclassificado
como planeta anão.

Asteroides
Milhões de pequenos blocos de metal e rocha, chamados asteroides, também
orbitam ao redor do Sol. A maioria deles se encontra em um anel de poeira cósmica
que existe entre Marte e Júpiter. Pequenos asteroides caem regularmente na Terra,
ou se incendeiam na atmosfera antes de cair. São os chamados meteoros.

Cometas
Os cometas são pequenos blocos formados por impurezas e gelo. Bilhões deles
transitam ao redor do Sol, descrevendo longas trajetórias elípticas. Geralmente eles
são tão pequenos em comparação com os outros objetos do Sistema Solar, que não é
possível observá-los da Terra. Os cometas vêm de duas regiões externas ao Sistema
Solar: o Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort.

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Regiões externas
Depois de Netuno, o planeta mais distante do Sol, encontra-se o Cinturão de
Kuiper, um anel achatado formado por milhões de pequenos corpos gelados, que
giram ao redor do Sol a uma grande distância. Eles estão cerca de trinta a cinquenta
vezes mais distantes do Sol do que a Terra.
Nos limites externos do Sistema Solar, fica a Nuvem de Oort, uma imensa nuvem
formada por incontáveis pequenos objetos gelados, circundando todo o Sistema Solar.

Como o Sistema Solar se formou


O Sistema Solar foi formado há cerca de 4,7 bilhões de anos, provavelmente
como uma nuvem de gases e poeira. Os cientistas acreditam que uma força,
chamada gravidade, tenha unido partes dessa nuvem em diversos aglomerados de gás
e poeira. O maior desses aglomerados foi tão comprimido que acabou gerando grande
quantidade de calor. Talvez essa tenha sido a origem do Sol. Passados milhões de anos,
os outros aglomerados transformaram-se em planetas. É possível que a forte
gravidade do Sol tenha atraído os planetas para as suas atuais órbitas. Com o tempo,
aglomerados menores transformaram-se em asteroides, em cometas e em outros
pequenos blocos gelados.
Fonte: https://escola.britannica.com.br/artigo/Sistema-Solar/482537

Você acabou de ler um verbete de enciclopédia. Mas, afinal, o que é isso?

Verbete enciclopédico é um gênero textual de natureza expositiva, encontrado,


como o nome já diz, em enciclopédias. Elas são organizadas em verbetes, cujo objetivo é
apresentar definições e informações sobre um determinado assunto, utilizando
linguagem objetiva e impessoal. Os verbetes podem conter gráficos, ilustrações e
subdivisões para complementar as informações. Atualmente, há mais uso das
enciclopédias virtuais, sendo a Wikipédia a mais conhecida. Ela é colaborativa, ou seja,
todos podem editar e fornecer conteúdo, criando ou modificando um verbete, tornando,
assim, o texto dinâmico. A leitura em um verbete enciclopédico em ambiente virtual é
diferente da leitura de verbete impresso. Virtualmente a leitura não é linear, já que os
hipertextos permitem que o leitor opte por diferentes caminhos e textos, aprofundando
o tema.
Fonte: https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3254/verbete-de-enciclopedia-
impressa-e-digital-semelhancas-e-diferencas-no-contexto-de-producao.

Em nosso dia a dia, no contato com outras pessoas e com as diversas informações
que recebemos, estamos expostos a várias situações comunicativas, cada uma situada
em seu devido contexto. Na escrita e na fala existem algumas estruturas padronizadas
que recebem o nome de gêneros textuais.

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Os gêneros textuais atendem às necessidades comunicativas dos usuários da língua
e podem ser variáveis, apresentando assim diversos estilos e conteúdos temáticos.
Sempre que escrevemos ou falamos, isto é, produzimos um determinado texto, oral
ou escrito, acionamos, até mesmo inconscientemente, determinadas representações
sobre o contexto de produção desse texto, representações essas que vão influenciar
muitas das características de nossos textos.

▪ Retorne ao texto 1 “Sistema Solar” e preencha o quadro a seguir para compreender


os aspectos sociocomunicativos do gênero verbete enciclopédico.

Autor

Público-alvo

Finalidade

Circulação

Linguagem

▪ Sublinhe, no texto 1, as informações centrais. Após, utilize-as para escrever um


resumo, fazendo paráfrases sempre que possível.

Paráfrase é um recurso de interpretação textual que consiste na reformulação de


um texto, trocando as palavras e expressões originais, mas mantendo a ideia central
da informação.

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▪ Classifique os mecanismos de progressão textual correspondentes aos termos
destacados a seguir como anáfora (que se refere a informação anterior no texto) ou
catáfora (que se refere a informação posterior no texto), indicando os referentes dos
termos no texto 1.
a) “O Sistema Solar é constituído pelo Sol e tudo o que orbita ao seu redor...”.

b) “Todos transitam ao redor do Sol em movimentos circulares”.

c) “Bilhões deles transitam ao redor do Sol, descrevendo longas trajetórias elípticas”.

d) “Eles estão cerca de trinta a cinquenta vezes mais distantes do Sol do que a Terra”.

▪ Relacione a primeira coluna (de acordo com as conjunções destacadas em trechos do


texto 1) com a segunda, referente ao tipo de conjunção coordenativa correspondente.

( ) Alternativa ( ) Adversativa ( ) Explicativa


(1) “Entretanto, a maior parte do Sistema Solar é um espaço vazio.”
(2) “É o vento solar que provoca as auroras, isto é, faz o céu brilhar à noite em alguns
lugares da Terra.”
(3) “Pequenos asteroides caem regularmente na Terra, ou se incendeiam na
atmosfera antes de cair.”

CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Em um verbete de enciclopédia, há título, definições e fotografias. Às vezes, as
fotografias possuem legendas. Geralmente, os verbetes enciclopédicos apresentam
subtítulos. Por se tratar de um texto expositivo, não aparece opinião do autor.
Com base nessas informações, analise se o texto 1 possui (ou não) os elementos
destacados no parágrafo anterior.
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MARCAS LINGUÍSTICAS
Em um verbete enciclopédico, você encontrará verbos estáticos e de ligação no
presente do indicativo e o emprego de um vocabulário técnico ajudando a caracterizá-
lo como um. No texto 1, encontre exemplos de cada um desses tipos de marcas
linguísticas.

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O contexto de produção, a construção composicional e as marcas linguísticas de
um verbete de enciclopédia contribuem para torná-lo um gênero textual de natureza
expositiva. Explique essa afirmação a partir do que você entendeu com as atividades
anteriores.
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Sistema Solar
O Sistema Solar é formado por um conjunto de oito planetas e uma grande
quantidade de outros corpos celestes orbitando ao redor do Sol
Um Sistema Solar é composto por um Sol e todos os planetas e corpos celestes
que orbitam ao redor dessa estrela. Há casos de sistemas solares formados por duas
estrelas (binários) ou até três estrelas (ternários). Mas no caso do sistema do qual o
nosso planeta, a Terra, faz parte, há apenas uma estrela, que é considerada de pequeno
porte.
Além do sol, existem no Sistema Solar um total de oito planetas, cinco planetas
anões, 179 luas e uma grande quantidade de corpos celestes, como asteroides,
cometas e outros, incluindo aqueles presentes no Cinturão de Kuiper. A idade
estimada para a formação desse Cinturão de Kuiper é de pouco mais que 4,6 bilhões
de anos.
Os oito planetas do Sistema Solar, em ordem de proximidade ao
sol,são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno Os planetas
anões são: Ceres, Plutão, Haumea, Makemake e Éris, com a possibilidade de inclusão
do objeto celeste Sedna e dezenas de outros nessa categoria nos próximos anos. Vale
lembrar que Plutão já foi considerado como um planeta, mas, a partir de 2006, foi
“rebaixado” à categoria de planeta anão.
Entre os planetas citados, os quatro primeiros são planetas rochosos, ou seja,
apresentam uma superfície composta por uma litosfera rochosa. Esses planetas, por
se encontrarem mais próximos ao sol, apresentam uma atmosfera gasosa com
diferentes composições. Os quatro últimos planetas são chamados de planetas
gasosos por não possuírem uma superfície rochosa e serem compostos por uma densa
atmosfera, sendo muito maiores em razão das baixas temperaturas e do afastamento
em relação ao sol.
A seguir é possível visualizar o tamanho comparativo dos planetas solares em
escala proporcional de tamanho.

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Esquema com o tamanho proporcional dos planetas

É possível, dessa forma, dividir o Sistema Solar em três partes ou etapas. A


primeira, mais quente, é composta pelos planetas rochosos, onde se encontra a Terra.
A segunda, mais fria, é formada pelos planetas gigantes gasosos. E a terceira, ainda
mais remota e congelada, é formada pelos objetos transnetunianos, ou seja, que estão
além da órbita do Netuno, o que inclui quase todos os planetas anões, o Cinturão de
Kuiper e alguns outros corpos celestes recentemente descobertos.
O maior planeta do Sistema Solar é Júpiter, sendo responsável por cerca de 70%
da massa que orbita ao redor do sol. No entanto, se considerarmos a massa solar, os
planetas somados correspondem a apenas 0,135%, contra 0,01% dos planetas anões
e outros corpos celestes e 99,85% do sol, o que demonstra a magnitude da nossa
estrela quando em comparação aos seus planetas.
Em nossa galáxia, existe uma grande quantidade de sistemas solares, alguns
muito semelhantes e outros muito diferentes do nosso. Além disso, vale lembrar que
existem muitas outras galáxias além da Via Láctea onde nos encontramos, todas elas
com vários sistemas solares, o que nos leva a concluir que há milhares e milhares de
planetas lá fora, alguns possivelmente muito semelhantes à Terra.

O nosso Sistema Solar

Publicado por: Rodolfo F. Alves Pena


Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/sistema-solar.html

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▪ Com base em sua leitura, o que caracteriza um verbete de enciclopédia? Justifique sua
resposta com fragmentos do texto.
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Chegou a hora de produzir verbete de enciclopédia!


Em duplas ou trios, pesquisem sobre os oito planetas do Sistema Solar. Após,
selecionem um deles para produzir um verbete que deverá circular em uma pequena
enciclopédia da turma em formato digital.

Para produzir seu verbete:


i) anotem as informações mais importantes encontradas em cada fonte de pesquisa.
Não se esqueça de registrar a fonte da qual as informações foram retiradas;
ii) organizem as informações coletadas, transformando-as em um verbete
enciclopédico, considerando os aspectos estudados nesta unidade;
iii) utilizem infográficos, esquemas, tabelas, gráficos, ilustrações, etc. que ilustrem o
conteúdo do texto verbal.

▪ A seguir, os critérios de avaliação, os quais devem ser levados em consideração na


produção textual.

EM
CRITÉRIOS SIM NÃO
PARTE
Contexto de produção adequado ao gênero.
Construção composicional adequado ao gênero.
Presença de marcas linguísticas correspondentes ao gênero.
Uso adequado de mecanismos de progressão temática.
Uso adequado de conjunções.
Uso da norma padrão da língua portuguesa.

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▪ A próxima etapa é a reescrita. Entregue seu texto para que as professoras possam
fazer uma primeira avaliação. Após, você receberá seu texto de volta, com um bilhete
orientador contendo comentários sobre o que está satisfatório e o que ainda precisa
melhorar. Esse bilhete auxiliará a reescrita do seu texto.

(EF69LP29) Refletir sobre a relação entre os contextos de produção dos gêneros de


divulgação científica – texto didático, artigo de divulgação científica, reportagem de
divulgação científica, verbete de enciclopédia (impressa e digital), esquema, infográfico
(estático e animado), relatório, relato multimidiático de campo, podcasts e vídeos
variados de divulgação científica etc. – e os aspectos relativos à construção
composicional e às marcas linguísticas características desses gêneros, de forma a
ampliar suas possibilidades de compreensão (e produção) de textos pertencentes a
esses gêneros.
(EF69LP42) Analisar a construção composicional dos textos pertencentes a gêneros
relacionados à divulgação de conhecimentos: título, (olho), introdução, divisão do texto
em subtítulos, imagens ilustrativas de conceitos, relações, ou resultados complexos
(fotos, ilustrações, esquemas, gráficos, infográficos, diagramas, figuras, tabelas, mapas)
etc., exposição, contendo definições, descrições, comparações, enumerações,
exemplificações e remissões a conceitos e relações por meio de notas de rodapé, boxes
ou links; ou título, contextualização do campo, ordenação temporal ou temática por tema
ou subtema, intercalação de trechos verbais com fotos, ilustrações, áudios, vídeos etc. e
reconhecer traços da linguagem dos textos de divulgação científica, fazendo uso
consciente das estratégias de impessoalização da linguagem (ou de pessoalização, se o
tipo de publicação e objetivos assim o demandarem, como em alguns podcasts e vídeos
de divulgação científica), 3ª pessoa, presente atemporal, recurso à citação, uso de
vocabulário técnico/especializado etc., como forma de ampliar suas capacidades de
compreensão e produção de textos nesses gêneros.
(EF69LP34) Grifar as partes essenciais do texto, tendo em vista os objetivos de leitura,
produzir marginálias (ou tomar notas em outro suporte), sínteses organizadas em itens,
quadro sinóptico, quadro comparativo, esquema, resumo ou resenha do texto lido (com
ou sem comentário/análise), mapa conceitual, dependendo do que for mais adequado,
como forma de possibilitar uma maior compreensão do texto, a sistematização de
conteúdos e informações e um posicionamento frente aos textos, se esse for o caso.
(EF89LP29) Utilizar e perceber mecanismos de progressão temática, tais como
retomadas anafóricas (“que, cujo, onde”, pronomes do caso reto e oblíquos, pronomes
demonstrativos, nomes correferentes etc.), catáforas (remetendo para adiante ao invés
de retomar o já dito), uso de organizadores textuais, de coesivos etc., e analisar os
mecanismos de reformulação e paráfrase utilizados nos textos de divulgação do
conhecimento.

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(EF69LP35) Planejar textos de divulgação científica, a partir da elaboração de esquema
que considere as pesquisas feitas anteriormente, de notas e sínteses de leituras ou de
registros de experimentos ou de estudo de campo, produzir, revisar e editar textos
voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais
como artigo de divulgação científica, artigo de opinião, reportagem científica, verbete de
enciclopédia, verbete de enciclopédia digital colaborativa, infográfico, relatório, relato
de experimento científico, relato (multimidiático) de campo, tendo em vista seus
contextos de produção, que podem envolver a disponibilização de informações e
conhecimentos em circulação em um formato mais acessível para um público específico
ou a divulgação de conhecimentos advindos de pesquisas bibliográficas, experimentos
científicos e estudos de campo realizados.
(EF69LP36) Produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do
conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigos de divulgação
científica, verbete de enciclopédia, infográfico, infográfico animado, podcast ou vlog
científico, relato de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, dentre
outros, considerando o contexto de produção e as regularidades dos gêneros em termos
de suas construções composicionais e estilos.
(EF69LP33) Articular o verbal com os esquemas, infográficos, imagens variadas etc. na
(re)construção dos sentidos dos textos de divulgação científica e retextualizar do
discursivo para o esquemático – infográfico, esquema, tabela, gráfico, ilustração etc. – e,
ao contrário, transformar o conteúdo das tabelas, esquemas, infográficos, ilustrações
etc. em texto discursivo, como forma de ampliar as possibilidades de compreensão
desses textos e analisar as características das multissemioses e dos gêneros em questão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDARI, S. Contexto de produção e seus elementos. Disponível em:


<http://sersibardari.com.br/contexto-de-producao-e-de-seus-elementos>. Acesso em:
31 de agosto de 2020.

BEZERRA, M. A.; REINALDO M. A. Análise linguística como eixo de ensino de Língua


Portuguesa. IN: BEZERRA, M. A.; REINALDO M. A. Análise linguística: afinal, a que se
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Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa / Programas: Ler e escrever


e Orientações curriculares. Livro do Professor. São Paulo: Fundação Padre Anchieta,
2010. Oitavo ano, il.

CASTRO. L. Gêneros textuais. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/


redacao/conceito-generos-textuais>. Acesso em: 31 de agosto de 2020.

Didier, L. R.; JUNIOR A. M. M. Verbetes enciclopédicos: autoria e


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KLEIMAN, A. A concepção escolar da leitura. In: KLEIMAN, A. Oficina de leitura:


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MENDONÇA, M. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto.


IN: BUNZEN, C; MENDONÇA, M. (Org.) Português no ensino médio e formação do
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PINTON, F. M. A produção textual nas aulas de língua portuguesa: múltiplos olhares no


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ROCHA, G. R. V. Plano de aula - Verbete de enciclopédia impressa e digital:


semelhanças e diferenças no contexto de produção. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3254/verbete-de-enciclopedia-impressa-e-
digital-semelhancas-e-diferencas-no-contexto-de-producao>. Acesso em: 31 de agosto
de 2020.

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