Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete do Des. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO
ACÓRDÃO
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0026397-09.2006.815.2002 – 6ª Vara
Criminal da Comarca de João Pessoa
RELATOR : Exmo. Des. Arnóbio Alves Teodósio
APELANTE : José Ricardo de Souza Silva ADVOGADO : Eduardo Henrique Nogueira Luna APELADA : Justiça Pública Estadual
APELAÇÃO CRIMINAL. Roubo duplamente
majorado. Art. 157, § 2°, I e II, na forma do art. 70, c/c o art. 65, I, e art. 61, I, todos do Código Penal. Condenação. Irresignação da defesa. Ausência de provas suficiente da participação delitiva. Inocorrência. Manutenção integral da sentença. Desprovimento do apelo.
– Não há que se questionar a prova coletada,
porquanto firme, coesa e estreme de dúvidas, tendo uma das vítimas confirmado, na esfera judicial, importante dado colhido na fase policial, inerente, de forma exclusiva, ao réu/apelante, o mais jovem entre todos os três réus presos, em razão do delito aqui apurado. Portanto, mantêm-se a condenação, uma vez que encontra total amparo na prova amealhada no curso das investigações e na instrução criminal, sedimentadas, especialmente, nas palavras da vítima.
Vistos, relatados e discutidos estes autos acima
identificados.
Acorda a Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça
2 do Estado da Paraíba, à unanimidade, CONHECER E NEGAR PROVIMENTO AO APELO, em harmonia com o parecer ministerial.
RELATÓRIO
Cuida-se de apelação criminal, do réu José Ricardo de
Souza Silva (fl. 600), em face da sentença de fls. 590/599, que julgou procedente, em parte, a denúncia e o condenou como incurso nas sanções do art. 157, § 2°, I e II, na forma do art. 70, c/c o art. 65, I, e art. 61, I, todos do Código Penal, a uma pena de 10 (dez) anos e 03 (três) meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicial fechado, e 116 (cento e dezesseis) dias-multa, no valor unitário de um trigésimo (1/30), do salário- mínimo vigente à época do crime.
Denegado ao réu o direito de apelar em liberdade.
Na mesma sentença, absolveu o corréu Hélio Bento da
Silva, do delito que lhe pesava, com espeque no art. 386, inciso V, do Código de Processo Penal.
Razões do recurso, às fls. 618/627, pede absolvição, com
fulcro no art. 386, inciso V, do CPP, uma vez que não há testemunhas que o reconheçam como um dos assaltantes do crime apurado nos autos, inclusive, as vítimas Djacir Darei e José Valério Barbosa, bem como porque, em Juízo, o réu se retratou da confissão obtida na esfera policial, fase na qual nenhuma das provas foi ratificada na instrução criminal, que culminou com sua sentença condenatória.
Contrarrazões ao apelo, apresentadas pelo Ministério
Público, às fls. 640/642, pugna pelo desprovimento do recurso.
Instada a se manifestar, o parquet deste 2º Grau, através
de parecer do Exmo 1º Procurador de Justiça, Joaci Juvino da Costa Silva, às fls. 644/646, opinou pelo desprovimento do recurso apelatório do réu.
É o relatório.
VOTO: O Exmo. Des. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO
(Relator)
Conheço do recurso apelatório, porquanto tempestivo,
cabível e adequado. Sem prejudiciais e/ou preliminares, passo ao exame do mérito.
Em suma, o réu, pede sua absolvição, com espeque no
art. 386, inciso V, do CPP, afirmando que não existem provas de sua participação no crime apurado nestes autos. 3 Segundo aduz o apelante, inexistem testemunhas ou declarações das vítimas, reconhecendo-o como autor do delito, bem com ressalta que sua confissão extrajudicial, não foi confirmada em Juízo.
Vejamos, antes de tudo, os termos da denúncia (fls.
02/04):
"Emerge da peça informativa, que os acusados JOSÉ
RICARDO DE SOUZA SILVA, JOÃO EUDO DE SOUZA e HELIO BENTO DA SILVA, acompanhados de outra pessoa não identificada, em data de 14 de abril de 2006, por volta da 00:00 hora, no "Fique Peixe" – Lavajato e Restaurante, localizado no Jardim Luna, nesta Capital, fazendo uso de armas de fogo, adentraram no estabelecimento comercial já mencionado, renderem todas as pessoas que ali estavam e praticaram um assalto, subtraindo a importância aproximada de R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais) em espécie, R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais) em cheques, além de 10 (dez) aparelhos celulares, uma máquina digital e um aparelho de som Micro Sistem. Em seguida, fugiram do local. Narra ainda o inquérito policial que naquela noite, os acusados chegaram ao local do assalto e o segundo denunciado permaneceu no carro em que seguiam dando cobertura, enquanto os primeiro e terceiro denunciados, além do outro companheiro não identificado, adentraram ao estabelecimento comercial e proferindo ameças com dois revólveres anunciaram o assalto, quando levaram todo o apurado do bar, além de aparelhos celulares de pessoas que estavam no local. Em seguida fugiram no veículo conduzido pelo segundo denunciada. Dois após o assalto, quando seguiam em um veículo com destino à cidade de Recife/PE, no Posto da Operação Manzuá, em uma abordagem policial, eis que foram presos os acusados, quando portavam armas de fogo no interior de veículo em que seguiam, ocasião em que foram encontrados cheques com eles subtraídos do bar. Procedidas diligências policiais, todos os três acusados foram reconhecidos por vítimas do assalto ao Bar "Fique Peixe". Interrogados pela autoridade policial, somente o primeiro denunciado José Ricardo de Souza Silva confessou a prática delituosa que lhe é imputada, enquanto os outros dois denunciados negaram qualquer participação no crime. As testemunhas e declarantes ouvidos confirmaram conhecimento dos fatos, sendo inclusive os acusados reconhecidos pelas vitimas. Por todo o apurado, existem indícios suficientes da autoria e materialidade do delito. Ao que se constata, os 4 acusados, agindo conscientes e voluntariamente, com anitnus necandi, em concurso de pessoas e mediante ameaças e uso de armas de fogo, praticaram a subtração já mencionada. Pelo exposto, estão os acusados JOSE RICARDO DE SOUZA SILVA, JOÃO EUDO DE SOUZA e HELIO BENTO DA SILVA, denunciados como incursos nas sanções do Art. 157, § 2°, Incisos I e II, do Código Penal Brasileiro,…"
Das provas que constituem o inquérito policial, destaco:
"Que na madrugada do dia 14, por volta das 00:00h, três
elementos armados renderam a vitima e demais clientes que estavam no local e anunciaram um assalto; Que levaram aproximadamente R$1.500,00 (hum mil e quinhentos) em cheques e R$5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais) em espécie, bem como uma máquina digital, em tomo de 10 aparelhos celulares e um aparelho de som Micro System; Que hoje, por volta das 12:00h, um cliente ligou para vítima, informando-lhe que policiais prenderam os suspeitos do assalto, pois um cheque que o cliente havia passado para a vítima, estava em posse dos referidos suspeitos; Que na Delegacia, a vítima reconheceu como um dos assaltantes o autuado JOSÉ RICARDO DE SOUSA SILVA, o qual no dia do fato apontou um dos revólveres que foi apreendido; Que também na Delegacia presenciou quando o motorista JOÃO EUDES DE SOUZA confessou que havia participado do referido crime" (Declarações de José Valério Barbosa da Silva, à fl. 08)
"QUE ratifica as declarações prestadas na página 04
do IPL; QUE acrescenta que no dia 14/04/2006, por volta das 00:30 horas, encontrava-se dormindo em seu estabelecimento comercial, quando foi abordado por um indivíduo armado com revólver o qual acordando o declarante "É UM ASSALTO!"; QUE e declarante acordou e ao olhar para o local onde os clientes estavam observou que outros dois assaltantes estavam colocando os clientes e alguns garçons para dentro da cozinha do estabelecimento comercia; QUE os assaltantes saíram recolhendo todos os objetos pessoais dos clientes, dos garçons e do declarante; QUE: a todo momento os três acusados ameaçavam de morte o declarante e todas as vítimas; QUE após recolherem todos os objetos pessoais, mandou todo mundo deitar no chão e só levantam-se após 10 (dez) minutos; QUE após os três assaltantes fugirem do local as vítimas saíram da cozinha e foram para as suas residências; QUE nunca tinha visto os três acusados antes no seu estabelecimento comercial, e nem também os funcionários tinham visto-nos: QUE os três assaltantes fugiram em um veiculo que estava dando fuga aos três assaltantes e ficou estacionado na esquina da 5 rua; QUE informa que no veículo FIAT/UNO (apreendido com os acusados) havia um outro indivíduo que ficou esperando a feitura do assalto por parte dos tas assaltantes; QUE 8ª Delegacia Distrital reconheceu apenas dois assaltantes porque não teve contato com o terceiro indivíduo, porém esse terceiro não reconhecido pelo declarante foi reconhecido sem sombra de dúvida por uma das outras vitimas que foi chamada na 8ª Delegacia Distrital.” (Declarações de José Valério Barbosa, às fls. 31/32)
Que trabalha como garçom no Bar Fique Peixe, no Jardim
Luna; Que ratificar ticlão de Ocorrência Policial n° 1826, registrada na r DDC, o declarante afirma que no dia 14.04.2006, por volta das 00:30h, encontrava-se no Bar Fique Peixe, no Jardim Luna, quando 03 (três) elementos armados com revólveres, os quais abordaram o declarante e todos os que encontravam-se no bar, roubando do declarante dois aparelho celulares, sendo um Siemens MC60, n° (83) 9904.9367, Operadora TIM, pré- pago e um Samsung n° (83) 9911.0039; Que as características física dos assaltantes são as seguintes: um assaltante era moreno, magro, aparentava ter 1,70m, cabelos louros e oxigenados, aparentava ter 21 anos, um outro era moreno claro, magro aparentava ter 1,68m e 21 anos e o último era moreno claro, forte, aparentando ter 1,90m e 30 anos, todos sem sinais característicos; Que declarante tem conhecimento que os assaltantes levaram todo o apurado do supracitado bar; Que no momento do assalto, encontrava-se na cozinha; Que hoje, nesta Delegacia reconheceu o suspeito do referido crime, como sendo JOSÉ RICARDO DE SOUZA SILVA, com 19 anos" (Declarações de José Roberto de Santana, à fl. 09)
"Que ratificando a Certidão de Ocorrência Policial n° 1824,
registrada na 3a DDC, odeclarante afirma que no dia 14.04.2006, por volta das 00:3011, encontrava-se no Bar Fique Peixe, no Jardim Luna, quando 03 (três) elementos armados com revólveres, os quais abordaram o declarante e todos os que encontravam-se no bar, roubando do declarante o seu aparelho celular Gradiente Weba, n° (83) 9952.0362, - operadora TIM e um relógio Technos Piloto; Que as características física dos assaltantes são as seguintes: um assaltante era moreno, magro, aparentava ter 1,70m, cabelos louros e oxigenados, aparentava ter 21 anos, um outro era moreno claro, magro aparentava ter 1,68m e 21 anos e o último era moreno claro, forte, aparentando ter 1,90m e 30 anos, todos sem sinais característicos; Que o declarante tem conhecimento de que os assaltantes levara, todo o apurado do supracitado bar; Que hoje, 6 nesta Delegacia, o declarante reconheceu os suspeitos do referido crime como sendo JOSÉ RICARDO DE SOUZA SILVA, com 19 anos e HÉLIO BENTO DA SILVA, com 23 anos.” (Declarações de Djacir Darce Cardoso Júnior, à fl. 10)
Interrogatório do codenunciado Hélio Bento da Silva, à fl.
11, das investigações policiais:
"Que com relação ao assalto praticado na madrugada do
dia 14.04.2006, por volta das 00:30h, ao Bar Fique Peixe, localizado no Jardim Luna, o interrogado afirma que não tem nenhuma participação do mesmo; Que presenciou quando "EUDES" e "NOGUEIRA” confessaram aos policiais militares terem participado do delito em questão"
Interrogatório de João Eudo Di Souza, à fl. 12, do
inquérito:
“Que com relação ao assalto praticado na madrugada do
dia 14.04.2006, por volta das 00:30h, ao Bar Fique Peixe, localizado no Jardim Luna, o interrogado afirma que não tem nenhuma participação do mesmo; Que presenciou quando "NOGUEIRA" confessou aos policiais militares terem participado do delito em questão"
O ora apelante, José Ricardo de Souza Silva, vulgarmente
chamado de “Nogueira”, falou, ao ser interrogado na Delegacia, conforme fl. 13:
“Que hoje, por volta das 09:00h CARLOS conhecido com
"Doutor” convidou o autuado para ir ate Recife-PE para vender "um negócio", tendo de pronto aceitado o convite; Que o autuado também chamou o seu primo Hélio para ir acompanhá-los na viagem; Que Doutor ligou para "EUDES" o motorista, chamando para fazer um frete até Recife-PE e combinando o local de encontro próximo ao "Lava Jato do Rato"; Que ao chegar no local combinado, presenciou quando o motorista abriu o porta-malas do carro e colocou "um negócio" no interior do mesmo; Que ao serem presos na Operação Manzuá, descobriu que "o negócio" se trata de dois revolveres; Que na última quinta-feira, dia 13.04.2005, "EUDES" chamou o autuado para fazer um assalto e como pagamento ganharia R$400,00 (quatrocentos reais); Que EUDES, juntamente com o autuado e outros dois indivíduos, os quais o autuado não conhece, foram até o Jardim Luna para assaltar um bar; Que EUDES fez o apoio com o carro, o autuado e os outros dois realizam o assalto no referido Bar armados com revolveres; Que as armas utilizadas eram de 7 "Doutor”; Que cumprindo o acordo "EUDES" pagou os R$400,00, quatrocentos reais) pelo serviço; Que não sabe dizer quanto levaram no assalto, pois não participou da partilha "
O ora apelante foi interrogado, em Juízo, segundo contido
no DVD de fl. 200, negou participação no crime aqui apurado e não ratificou o que havia dito na delegacia.
Declarações de José Valério Barbosa, foram colhidas na
esfera judicial, conforme DVD à fl. 442, o qual, em um primeiro momento, não reconheceu os réus José Ricardo de Souza Silva e Hélio Bento da Silva, mas descreveu toda ação delituosa, na qual, ele e seus funcionários, foram rendidos, usurpando-lhes dinheiro, pertences pessoais e cheques, do bar e de funcionários da distribuidora Coca-Cola, além de objetos e dinheiro de clientes, que se encontravam jantando no local. Recordava-se, contudo, de um indivíduo pequeno e muito franzino a lhe apontar o revólver.
Em outro instante, pediu para falar, novamente, com o
Juiz, reconhecendo que havia omitido fatos nas suas primeiras declarações, com relação ao reconhecimento do réu Hélio Bento da Silva, uma vez que ele estava presente, na sala de audiência, motivo pelo qual, por segurança, fingiu não reconhecê-lo.
A vítima disse que tentou, a todo custo, não comparecer
aos atos instrutórios, pois não se sentia seguro na presença do réu, o qual já havia visto pessoalmente, em audiência anterior, que não se realizou. Contudo, imbuído deste temor, furtava-se a comparecer em Juízo.
José Valério Barbosa falou que reconhecia Hélio Bento da
Silva, sem nenhuma sombra de dúvidas, que ele era um dos assaltantes presentes ao seu bar, mas que não tinha falado antes, por temer por sua vida, já que era um comerciante que andava muito, pelas cidades, de João Pessoa até Cabedelo, pra manter seu negócio em funcionamento.
Já a vítima Djacir Darce Cardoso Júnior, também
escutado no DVD à fl. 442, disse que fazia parte dos clientes assaltados no dia do crime, noite em que foi jantar com a mãe e oito primos vindos de Fortaleza/CE, quando foram surpreendidos pelos assaltantes, parte oriunda dos fundos do restaurante, onde haviam rendido a equipe da cozinha e outros dois larápios; que chegaram pela frente do bar, com arma em punho, rendendo garçons, tomando dele e dos parentes, relógios, carteiras, celulares e câmeras fotográficas. Ao todo, ele acredita que eram uns seis ou sete assaltantes.
Como já havia se passado 11 anos, desde o crime, ele
disse que Hélio Bento da Silva “parecia” com um dos criminosos, mas não podia dar essa certeza no reconhecimento, devido ao grande decurso de tempo, mas que confirmava a certeza de ter reconhecido um dos assaltantes 8 na esfera policial, sendo este o que tinha a pele mais branca e com cabelos claros, entre os três presos em flagrante presentes.
Ele disse não saber atribuir nome ao reconhecido, mas
que este era muito jovem, entre uns 19 a 22 anos, “meio branco” e cabelos claros, talvez loiros, mas não podia afirmar se eram naturais ou tingidos, fisionomia que lhe restou gravada na memória, pois portava uma arma e a colocou no peito de seu sobrinho, de apenas 04 anos de idade, à época do delito, criança que, após o crime, ficou em choque, sem falar por quatro dias, algo que lhe trouxe grande tristeza e revolta.
Djacir Darce Cardoso Júnior fez, ademais, referência a
audiência realizada em 14/02/2012 (fls. 128/129), na qual procedia ao reconhecimento dos réus, ratificando as declarações prestadas na esfera policial. Todavia, devo ressaltar que estas declarações de 2012, não podem ser usadas em desfavor do ora apelante, pois o ato, no qual o aqui recorrente não se fazia presente, por revelia, também não teve representação, por advogado ou defensor habilitado, sendo, então, reconhecido como nulo, em seu favor, conforme decisão de fl. 239.
Pois bem.
O apelo vem calcado no fundamento da ausência de
provas da participação do réu no assalto aqui apurado, uma vez que as vítimas não declaram reconhecê-lo, na fase judicial, bem como porque ele se retrata da confissão que prestou na delegacia.
Não vislumbro essa possibilidade, em sua essência.
Apesar das vítimas, escutadas em Juízo, não procederem
ao seu seguro reconhecimento, dado o fato de que a instrução processual se procedeu, tão somente, 11 anos após o crime, a vítima Djacir Darce Cardoso Júnior, consubstanciou dados que valem a pena analisar.
Segundo ele, conforme vívida recordação, o réu que havia
reconhecido na polícia não seria Hélio Bento da Silva, o qual, apenas, parecia com um dos assaltantes, mas aquele ao que ele procedeu o seguro reconhecimento era o mais jovem entre todos os três presos, fato que ele falou com firmeza, segurança e propriedade, a teor das imagens de sua oitiva.
Vale lembrar que, João Eudo de Souza contava, à época
de sua prisão, com 43 anos de idade, Hélio Bento da Silva, tinha 23 anos, e o ora recorrente, estava com apenas 19 anos de vida, quando de seu interrogatório na polícia.
Importante recordar que, na polícia, à fl. 10, Djacir Darce
Cardoso Júnior, disse que “reconheceu os suspeitos do referido crime como 9 sendo JOSÉ RICARDO DE SOUZA SILVA, com 19 anos e HÉLIO BENTO DA SILVA, com 23 anos.”
Conclui-se, de tal forma e sem qualquer incerteza, que o
meliante relembrado pelo declarante era o ora recorrente, reconhecido na esfera policial e que, de fato, era o mais jovem entre os três flagranciados.
Assim, não há que se falar em falta de provas de que o
réu, ora apelante, cometera o crime aqui apurado, ressalte-se, no curso destes últimos 13 anos, sem um deslinde.
De tal maneira, mantêm-se a condenação, uma vez que
encontra total amparo na prova amealhada no curso das investigações e na instrução criminal, sedimentadas, especialmente, nas palavras de uma das vítimas.
Em delitos como o da espécie, roubos majorados, não
raras vezes cometidos sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima merece ser recepcionada com especial valor para a elucidação do fato, sob pena de não ser possível a responsabilização penal do autor desse tipo de ilícito patrimonial.
Nesse sentido, segue meu raciocínio:
"É pacífico na jurisprudência deste Tribunal de Justiça
que, nos crimes contra o patrimônio, a palavra da vitima ganha particular importância, ainda mais quando corroborada por outros elementos de prova, como na hipótese em exame." (TJDF, Acórdão n.1124568, 20160210015017APR, Relator: CARLOS PIRES SOARES NETO, Revisor: GEORGE LOPES, la TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento: 06/09/2018, Publicado no DJE: 20/09/2018. Pág.: 125/133)
"Sobretudo nos crimes contra o patrimônio, de prática
clandestina, a palavra da vitima, ajustada ao contexto probatório, prevalece sobre a negativa do agente." (TJMG, Apelação Criminal 1.0351.17.000555- 4/0011 Relator(a): Des.(a) Furtado de Mendonça, 6a CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 21/08/2018, publicação da súmula em 31/08/2018)
Assim, sem mais delongas, CONHEÇO E NEGO
PROVIMENTO AO APELO, em harmonia com o parecer ministerial.
Expeça-se documentação, nos termos de precedentes do
STF (repercussão geral, nos autos do ARE 964246-RG (Relator: Min. Teori 10 Zavascki, julgado em 10/11/2016, por exemplo
É como voto.
Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Ricardo Vital de Almeida, Presidente da Câmara Criminal. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Arnóbio Alves Teodósio, relator, Ricardo Vital de Almeida, revisor, e Joás de Brito Pereira Filho.
Presente à sessão de julgamento o Excelentíssimo
Senhor Luciano de Almeida Maracajá, Procurador de Justiça.
Sala de Sessões da Câmara Criminal "Des. Manoel
Taigy de Queiroz Mello Filho" do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, 15 de outubro de 2019.