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RESENHA DO ARTIGO

Competências em Educação: conceito e significado pedagógico


Isabel Simões Dias

O conceito de competência e a reflexão sobre o seu significado pedagógico


assumem um papel de destaque na investigação em Educação a nível nacional e
internacional (Comellas, 2000; Cruz, 2001; Gouveia, 2007; Perrenoud, 1999).
No âmbito escolar, a competência enfatiza a mobilização de recursos,
conhecimentos ou saberes vivenciados. Manifesta-se na acção ajustada diante de
situações complexas, imprevisíveis, mutáveis e sempre singulares (Boterf, 2003;
Perrenoud, 2000, 2001, 2005).
Segundo Costa (2004), ensinar por uma abordagem de competências é enaltecer
o que o aluno aprende sozinho, o aprender a aprender e a construção pessoal do
saber através da interação. Sendo assim, o conhecimento é um instrumento de
aquisição de competências e os conteúdos são vistos como meios que possibilitam
o desenvolvimento dessas, valorizando assim, o método pedagógico e a
aprendizagem, indo além da teoria-prática e enraizando valores educativos da
escola do século XXI.
O termo competência significa aptidão para apreciar ou resolver um assunto
através do conhecimento e da experiência, podendo significar também a
compreensão e a fala de uma língua, para a psicologia. Já para Chomsky, são as
realizações que um sujeito consegue fazer a partir do seu potencial biológico, não
podendo ser confundido com o desempenho, pois este é apenas o comportamento
observável.
Na Educação, o conceito vem sendo usado como alternativa para capacidade,
habilidade, potencialidade, conhecimento ou savoir-faire, ou seja, a competência
permite ao aluno enfrentar e regular tarefas e situações educativas. Sendo assim, a
competência é um constructo teórico de construção pessoal, específica de cada um,
única e reveladora de cada ser. (Rey, Carette, Defrance, & Kahn, 2005).
Para Roldão (2003), a competência surge quando o sujeito é capaz de mobilizar
seus conhecimentos prévios, selecioná-los e integrá-los em uma situação, ou seja, é
preciso uma apropriação sólida e ampla dos saberes, que permite com que o sujeito
convoque e ajuste diante das diferentes situações e contextos. Em suma,
competência são as noções, conhecimentos, informações, procedimentos, métodos
e técnicas utilizados na resolução de problemas.
Para Cruz (2001), competência é um conceito que acolhe saberes, atitudes e
valores, abrangendo o “saber-ser”, o domínio cognitivo (saber formalizado) e o
domínio comportamental (saber-fazer), ou seja, é um conjunto de ações articuladas
organicamente. Junto com Alves (2005), pensam a competência como a capacidade
de desenvolver articulação, relacionar diferentes saberes, conhecimentos, atitudes e
valores; como uma ação cognitiva, afetiva e social que aparece na prática e em
ações que se exercem sobre o conhecimento, o outro e a realidade. Ou seja, é um
conjunto de saberes, de saber fazer e de atitudes mobilizadoras e performáticas. “A
competência é agir com eficiência, utilizando propriedade, conhecimentos e valores
na acção que desenvolve e agindo com a mesma propriedade em situações
diversas” (Cruz, 2001, p. 31).
Para Perrenoud (1999), a competência é a capacidade de uma ação eficaz, diante
situações, apoiada em conhecimentos mas, sem se limitar a eles. É um saber que
exige integração e mobilização de conhecimentos, processos e predisposições que,
ao se incorporarem, permitem ao sujeito fazer, pensar e apreciar (Roldão, 2002). É
a mobilização de recursos cognitivos para resolução de problemas com eficiência
em diversas situações. (Gentille & Bencini, 2000).
Percebe-se aqui que competência possui diversos componentes como:
saber-saber, saber-fazer e saber-ser, porém estar únicas definições podem ser
perigosas, pois os saberes fazem parte da competência, mas não são sua
totalidade; as competências são descritas como ações, mas não é a descrição da
ação que possibilita a ação ou o êxito e; as competências estão relacionadas com o
contexto e o saber ser não se implica a esse contexto.
Não se pode comparar competências a recursos, a adição de saberes (fazer-ser),
pois ela não é um estado, é um constructo que possui perspectivas de construção
pessoal adjacentes, pois um indivíduo sábio não é necessariamente competente e
esta não é uma somatória, mas sim um combinado de elementos que se modificam
em função de características daqueles em que se juntam. Por isso, juntar esses três
componentes, numa adição de partes, é um problema conceitual. (Beaufils, 2006).
A competência integra e coordena percepções, pensamentos, avaliações e ações
que sustentam interferências, antecipações, transposições analógicas,
generalizações, probabilidades, recolha de informação pertinente, tomada de
decisão, integrando assim raciocínios, decisões conscientes, interferências,
hesitações, ensaios e erros que automatizam e constituem um esquema complexo
(Pereira, 2005). Para Perrenoud, Thurler, Macedo, Machado e Allessandrini (2002),
competência é a aptidão de enfrentar situações análogas, mobilizando uma forma
correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes,
capacidades, micro competências, informações, valores, atitudes, esquemas de
percepção, de avaliação e de raciocínio.
A noção de competência remete para situações nas quais é preciso
tomar decisões e resolver problemas, associa-se à compreensão e
avaliação de uma situação, uma mobilização de saberes, de modo a
agir/reagir adequadamente. Desta forma, a tomada de decisão
(expressar conflitos, oposições), a mobilização de recursos
(afectivos e cognitivos) e o saber agir (saber dizer, saber fazer, saber
explicar, saber compreender) são as características principiais da
competência. Estas características permitem entender este conceito
como uma forma de controlar (simbolicamente) as situações da vida.
(...) Em síntese, a competência é uma combinação de
conhecimentos, motivações, valores e ética, atitudes, emoções, bem
como outras componentes de carácter social e comportamental que,
em conjunto, podem ser mobilizadas para gerar uma acção eficaz
num determinado contexto particular. Permite gerir situações
complexas e instáveis que exigem recorrer ao distanciamento, à
metacognição, à tomada de decisão, à resolução de problemas.
Podemos, pois, afirmar que a competência se caracteriza por ser
complexa, projectada no futuro (numa aposta nos poderes do
tornar-se). Exerce-se em situação, é completa, consciente e
transferível para outros contextos. No âmbito educativo, solicita-se
aos diferentes intervenientes (docentes e discentes) que mobilizem
as suas aquisições (pessoais, sociais, académicas, …) perante
situações diversas, complexas e imprevisíveis. (p5)

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