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IMSTRUMENTOS VALIDADOS PARA A POPULACAO PORTUGUESA Mario R. Simées, Carla Machado Miguel M. Goncalves e Leandro S. Almeida coordenacaio INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLOGICOS (BSI) Uma revisao critica dos estudos realizados em Portugal Maria Cristina Canavarro Introducao O presente texto retoma, descrevendo e actualizando, os princi- pais estudos psicométricos realizados em Portugal com o Inventario de Sintomas Psicopatolégicos (Canavarro, 1999) que constituem a adaptacao portuguesa do Brief Symptom Inventory (BSI) de L. Derogatis (1982). Através da referéncia a estudos recentes realizados em grupos particulares (clinicos e outros) é também objectivo deste texto revelar as possiveis utilizagGes deste instrumento de avaliagao. 1. Indicagdes 1.1. DimensGes avaliadas Este inventario avalia sintomas psicopatolégicos em termos de nove dimensdes de sintomatologia e trés Indices Globais, sendo, estes Ultimos, avaliagées sumArias de perturbacdo emocional. As nove dimensées primarias foram descritas por Derogatis (1993, pp- 7-10) da seguinte forma: Somatizagao: Dimensdo que reflecte o mal-estar resultante da per- cepgao do funcionamento somdtico, isto é, queixas centradas nos sistemas cardiovascular, gastrointestinal, respiratério ou outro qualquer sistema com clara mediagdo autondmica. Dores locali- zadas na musculatura e outros equivalentes somdticos da ansieda- de sao igualmente componentes da somatizagao (inclui sete itens: 2, 7, 23, 29, 30, 33 e 37). Obsess6es-Compuls6es: Inclui sintomas identificados com a sindro- ma clinica do mesmo nome. Esta dimensao inclui as cogniées, impulsos e comportamentos que sao percepcionados como persis- tentes e aos quais 0 individuo nao consegue resistir, embora sejam ego-dist6nicos e de natureza indesejada. Estao também incluidos nesta dimensdo comportamentos que indicam uma dificuldade cognitiva mais geral (inclui seis itens: 5, 15, 26, 27, 32 e 36). ‘$0219 TOLYdODISd SYHOANIS 30 OlNYLNZANI w & vorngioaisd OYS¥ITYAY. INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLOCICOS w 3 AVALIACAO PSICOLOGICA Sensibilidade Interpessoal: Esta dimensao centra-se nos sentimentos de inadequagao pessoal, inferioridade, particularmente na com- paragao com outras pessoas. A autodepreciagao, a hesitagao, 0 desconforto e a timidez, durante as interacg6es sociais sdo as ma- nifestagGes caractertsticas desta dimensdo (inclui quatro itens: 20, 21, 22 ¢ 42). Depresséo: Os itens que compGem esta dimensdo reflectem o grande ntimero de indicadores de depressdo clinica. Esto representados os sintomas de afecto e humor disf6rico, perda de energia vital, falta de motivagao e de interesse pela vida (inclui seis itens: 9, 16, 17, 18, 35 e 50). Ansiedade: Indicadores gerais tais como nervosismo e tensao foram incluidos nesta dimensdo. Sao igualmente contemplados sintomas de ansiedade generalizada e de ataques de panico. Componentes cognitivas que envolvem apreensao e alguns correlatos somdticos da ansiedade também foram considerados (inclui seis itens: 1, 12, 19, 38, 45 e 49). Hostilidade: A dimensao hostilidade inclui pensamentos, emogdes e comportamentos caracteristicos do estado afectivo negativo da cOlera (inclui cinco itens: 6, 13, 40, 41 e 46). Ansiedade Fébica: A ansiedade [bbica é definida como a resposta de medo persistente (em relagao a uma pessoa, local ou situagao especifica) que sendo irracional e desproporcionado em relacdo ao estimulo, conduz ao comportamento de evitamento. Os itens desta dimensado centram-se nas manifestagdes do comportamento fébico mais patognomonicas e disruptivas (inclui cinco itens: 8, 28, 31, 43 e 47). Ideagao Parandide: Esta dimensao representa 0 comportamento pa- randide fundamentalmente como um modo perturbado de funcio- namento cognitivo. O pensamento projectivo, hostilidade, suspei- ¢ao, grandiosidade, egocentrismo, medo da perda de autonomia e delirios séo vistos primariamente como os reflexos desta per- turbagao. A seleccao dos itens foi orientada de acordo com esta conceptualizagao (inclui cinco itens: 4, 10, 24, 48 e 51). Psicoticismo: Esta escala foi desenvolvida de modo a representar este constructo como uma dimensao continua da experiéncia humana. Abrange itens indicadores de isolamento e de estilo de vida esqui- 20ide, e sintomas primdrios de esquizofrenia como alucinagoes e controlo de pensamento., A escala fornece um continuo graduado desde 0 isolamento interpessoal ligeiro a evidéncia dramdtica de psicose (inclui cinco itens: 3, 14, 34, 44 e 53). Quatro dos itens do BSI (itens 11, 25, 39 e 52) embora contribu- am com algum peso para as dimensGes descritas nao pertencem uni- vocamente a nenhuma delas. Assim, por critérios estatisticos nao de- veriam ser incluidos no inventario mas, dada a sua relevancia clinica, sio apenas considerados nas pontuagées dos trés indices Globais. Estas trés pontuagées gerais foram descritas por Derogatis (1993) do seguinte modo: Indice Geral de Sintomas (IGS): Este indice representa uma pontua- ¢ao combinada que pondera a intensidade do mal-estar experien- ciado com o numero de sintomas assinalados. Indice de Sintomas Positivos (ISP): O ISP oferece a média da inten- sidade de todos os sintomas que foram assinalados. Total de Sintomas Positivos (TSP): Enquanto que o ISP é uma me- dida de intensidade dos sintomas, 0 TSP representa o mimero de queixas sintomdticas apresentadas. Teoricamente, um individuo pode apresentar um ISP baixo, indicando que os sintomas que tem nao sdo particularmente intensos e perturbadores, mas pos- suir um TSP elevado, apontando para uma constelagao complexa de sintomatologia. 1.2. Populagoes-alvo O BSI pode ser administrado a doentes do foro psiquiatrico, indi- viduos perturbados emocionalmente, a quaisquer outros doentes ¢ a pessoas da populagao em geral. Pode ser utilizado com adolescentes (a idade minima recomenda- da é de 13 anos), com a condigao de um técnico se encontrar disponi- vel para esclarecer eventuais diividas em relacao a alguns itens. 2. Historia ‘Tém sido feitas diversas tentativas de quantificacao das dimensdes da psicopatologia (p. ex., Crown & Crisp, 1966; Derogatis, 1977, Goldberg & Williams, 1981; Kellner & Sheffield, 1973), seguindo a ‘S09109101vdODISd SVHIOLNIS 30 OlNYLN3ANI $ g yo1091001Sd oyS¥rIvAY INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLOGICOS w $ & AVALIACAO PSICOLOGICA ideia de Woodworth (1918) de «cada homem se poder entrevistar a si proprio». Um dos questiondrios de autoresposta mais utilizados foi elabo- rado por L. Derogatis (1977) ¢ é conhecido na literatura por SCL-90 (Symptom Check-List). O SCL-90-R, como a designagao sugere, é composto por 90 descrigées de sintomas psicopatolégicos, corres- pondentes a 90 itens. A construgao deste questiondrio teve por base o Hopkins Symptom Checklist (HSCH, Derogatis, Lipman, Rickels, Uhblenhuth & Covi, 1974) que, de acordo com os autores, por sua vez encontra as suas rafzes no Disconfort Scale (Parloff, Kelman & Frank, 1954) e no Cornell Medical Index (Wider, 1948). O SCL- 90-R, em relagdo a outros questionarios construidos com a mesma finalidade, possui a vantagem de ayaliar um maior ntimero de di- mens6es psicopatolégicas. No entanto, o facto de ser constituido por 90 itens, implica a necessidade de um tempo de preenchimento de 12 a 20 minutos 0 que em determinados contextos constitui uma limitagao a sua utilizagdo. A anotar que em Portugal, o SCL-90-R foi estudado por Baptista (1993). O Brief Symptom Inventory (BSI; Derogatis, 1982) foi desenvol- vido numa tentativa de resposta a esta desvantagem apontada ao SCL-90-R. A analise das correlagdes dos itens com as escalas a que pertencem, no SCL-90-R (Derogatis & Cleary, 1977), sugeriu que itens de cada escala teriam suficiente peso, para supor- tar sozinhos a definigdo operacional de cada dimensao psicopatolé- gica (Derogatis, 1993). Os itens com maior peso em cada dimensao foram seleccionados para formar o BSI. Numa amostra de 565 doen- tes psiquiatricos, as correlagdes encontradas para as nove dimensGes psicopatolégicas entre o BSI e o SCL-90-R, variam entre .92 e .99, permitindo concluir que “para a populagao clinica, estes dois instru- mentos medem o mesmo constructo” (Derogatis, 1993, p. 19). cinco ou se 3. Fundamentacao tedrica Qs itens que formam as nove dimensées de psicossintomatologia avaliadas pelo instrumento constituem, no seu conjunto, importan- tes elementos da psicopatologia. Sao considerados pelos Manuais de Classificagao Diagnéstica mais utilizados, CID-10 e DSM-IV, como aspectos importantes para a elaboragao de diagndsticos das primeiras cinco categorias (FOO a F49) segundo o CID-I0 e para as perturba- Ges do Eixo I, segundo o DSM-IV. Também os niveis de consisténcia interna para as nove escalas, com valores de alfa entre .71 (Psicoticismo) e .85 (Depressao) e a sua estrutura factorial, avaliada na populagao em geral e em popu- lado clinica (que confirmaram a estrutura dimensional subjacente 4 versio longa do SCL-90-R) sao indicadores da unidade e solidez, do ponto de vista conceptual. 4. Estudos realizados em Portugal 4.1. Data e objectivos Qs primeiros estudos de adaptagao do BSI a populacao portu- guesa (Canavarro, 1999) tiveram o objectivo de permitir o estudo cientifico de varidveis psicopatolégicas, medidas através de um ques- tiondrio adequado a contextos em que a brevidade de tempo de pre- enchimento fosse um requisito importante. Posteriormente, outros estudos realizados por diversos autores com o BSI, aos quais nos re- feriremos mais adiante no presente texto, tém oferecido importantes contributos para a validagao deste instrumento. 4.2. Amostra e metodologia Tendo em conta a especificidade das variaveis avaliadas, os estu- dos preliminares do BSI realizaram-se na populacdo em geral e em populagao clinica. ‘Numa primeira fase, a tradugdo do inventario! foi administrada a pessoas individualmente contactadas, a quem era pedida a colabo- racao voluntaria. Posteriormente, a recolha da amostra processou-se de forma individual (para a amostra 2 e, em alguns casos, para a amostra 1), ou em pequenos grupos (para a maioria dos casos da amostra 1) e obedecendo sempre as mesmas normas?. 1 A traducdo do inventario foi feita de acordo com o sugerido por De Figueiredo Lemkau (1980) nomeadamente: traducio, seguida de retroversio e posterior administracdo a pequenos grupos com o objectivo de verificar a acessibilidade do vocabulério e a compreensao univoca dos itens. ® _Asnormas referem-se aos sequintes procedimentos: explicagao sobre a natureza do estudoe da tipo de tratamento dos dados; informacao sobre a confidencialidade das respostas; fornecimento de instrugdes gerais e apoio da autora do estudo ou de duas psicélogas que colaboraram na calheita dos dados, para o esclarecimento de davidas, sempre que necessério, SOQID9TOLYdODISd SYHOINIS 30 OISYLNSAMI & ‘vorng1001Sd OyS¥NVAY INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLOCICOS 3 5 AVALIACAO PSICOLOCICA. Na aplicagao deste inventario 4 populagao portuguesa foram uti- lizadas duas amostras distintas. A amostra 1, constituida por elemen- tos da populagao em geral que, subjectivamente, responderam que «nao sofriam dos nervos»? ea amostra 2, constituida por individuos perturbados emocionalmente. A amostra 1 ficou constituida por 404 individuos (114 homens e 290 mulheres), sendo na sua maioria pessoas casadas, com um grau de instrugao correspondente ao ensino secundario ou a um curso médio e pertencentes as categorias socioeconémicas 5 e 9*. Na amostra 1 os grupos de homens ¢ mulheres revelaram-se equi- valentes na sua distribuigdo em relagdo a Idade (t=-0.064, gl =188.4, .949), Estado Civil (x?=1.406, gl=3, p=.704) e Grau de Instrugao -613, gl=4, p=.107). Apresentaram diferengas significativas em relagao a distribuig&o por categoria socioecondémica (y?=12.518, gl=4, p=.014) existindo uma maior prevaléncia de mulheres perten- centes as categorias socioeconémicas 7 ¢ 9, duadro 1, Caracteristicas diagnésticas do Grupo Clinico Diagnéstico™ (DSM-IV) (=147) Perturbagdes Depressivas 55. Perturba¢ao Obsessivo-Compulsiva 15. Fobia Social iL Fobias Especificas. 7 Perturbagao de Panico 18 Outras Perturbacées da Ansiedade i Perturbagées Alimentares 3 Perturbacdes da Personalidade Perturbacées Psicéticas 16 Perturbacdes Bipolares t 3° Perguntémos aos individuos se “sofriam, ou tinham sofrido, dos nervos", expressao do senso comum que traduz a presenca de emocées negativas fortes ¢ persistentes que perturbam o individuo, aspecto cuja existéncia se pretendia avaliar. 4 Recorremos & classificagdo, em nove categorias distintas, da organizacao das Nagées Unidas (1989), também utilizada pelo Instituto Nacional de Estatistica (1991), definida partir da profissdo e situacSo na profissao, condicao perante 0 trabalho, ramode actividade e principal meio de vida do representante do agregado: 1. Empresérios Agricolas, 2- Trabalhadores por conta de outrem na agricultura, 3- Trabalhadores de profissées liberais e similares e trabalhadores familiares nao remunerados, 4- Empresérios nao agricolas, 5- Quadros de direccdo, técnicos e cientificos, artisticos e similares, 6- Outros trabalhadores por conta de outrem na industria, 7- outros trabalhadores por conta de outrem no comércio, nos servi¢os na administracdo publica, 8- Outros activos, 9- Ndo activos. © diagnéstico utilizado na classificagao dos doentes 6 0 diagnéstice hospitalar, elaborado pelo psiquiatra ou pelo psicéloge que acompanhou o doente, e confirma: do no final do tratamento isto 6, na altura em que foi dada alta ao individuo. A amostra 2 ficou constituida por pessoas que recorreram aos servigos da Clinica Psiquidtrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra entre Janeiro de 1995 e Maio de 1996. Formada por 56 homens e 91 mulheres, num total de 147 individuos, nesta amostra a maioria das pessoas era solteira ou casada, tinha escolaridade obriga- toria e pertencia as categorias socioeconémicas 7 e 9 (de acordo com a classificagao referida anteriormente). A classificagao diagndstica utilizada na caracterizacao da amostra 2 baseou-se no diagndstico definido em contexto hospitalar (Quadro 1), 4.3. Resultados no ambito da precisao Os estudos da fiabilidade do instrumento foram feitos através da analise da consisténcia interna do BSI, nomeadamente do comporta- mento dos itens na escala (dimensao) a que pertencem e dos indices globais das escalas (Quadro 2). Dadas as caracteristicas do instru- mento, optamos por calcular os indices mencionados em relagao a escala a que pertenciam e nao a totalidade do inyentario. Ao examinar as correlag6es obtidas entre cada item ea nota glo- bal da escala, quando esta contém o proprio item e quando este é excluido, verificamos que estas variam entre .29 e .79. O valor mais baixo encontrado para a correlagdo quando esta nao contém o item (indice de fiabilidade mais fidedigno, j4 que a nota nao é inflaciona- da) é de .29, para o item 43. De acordo com os critérios apontados por diversos autores (Nunally, 1978; Streiner & Norman, 1989) es- tas correlagGes devem ser superiores a .20, 0 que, no presente caso, nos permite referir a homogeneidade dos itens constituintes das di- versas escalas. Stevens (1996) considera que os valores de alfa, que mede a va- riancia devido a heterogeneidade, devem situar-se entre .7 € .8. No caso do BSI, os valores de alfa encontram-se dentro do intervalo refe- rido, 4 excep¢ao dos valores observados para as escalas de Ansiedade Fébica e de Psicoticismo, que apresentam valores ligeiramente infe- riores. (Quadro 2). Os cédigos do DSM-IV incluidos para os diagnésticos considerados so, respectiva- mente: Depressao: 296.3, 300.4 e 311.0; Perturbacao Obsessivo-compulsiva: 300.3; Fobia social: 300.23; Fobias Especificas: 300.29; Perturbacao de PAnico: 300.21 € 300.01; Outros disturbios mediados pela ansiedade: 300.02, 300.00 e 309.81; Perturbacdes Alimentares: 307.1, 307.51 ¢ 309.81; Perturbacées de Personalidade: 301.83, 301.50, 301.4, 301.6, 301.86 e 301.9; Disturbios Psicéticos: 295.5, 205.9, 297.10 e 298.9; Perturbacées Bipolares |: 298.4, 206.6 e 2065. SOD1091OLWdODISd SYHOLNIS 30 Ol#YLNSANI | 5 vo1ngioaisd oySvnwav INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLOCICOS 3 6cica AVALIAGAO PSICOL! Quadro 2, Consisténcia Interna: Valores globais para as nove escalas (alfa de Cronbach) Escala alfa Somatizagio 80 Obsessées-Compulsées a7 Sensibilidade interpessoal 76 Depressdo 73 Ansiedade om Hostilidade Ansiedade Fobica Ideacao Parandide Psicoticismo Num subgrupo de 108 individuos avaliamos a estabilidade tem- poral do inventario. O tempo entre as duas aplicagées corresponde a um intervalo minimo de trés semanas e maximo de seis. As corre- lagées de Pearson entre os valores obtidos em cada escala (.63 - 81), nas duas aplicagées do inventario (Quadro 3), so indicativos de que o BSI possui uma boa estabilidade temporal. Guadro 3. Estabilidade temporal dos resultados r Somatizagao 76 Obsessdes-Compulsoes 71 idade interpessoal 68 Depressiio 81 Ansiedade. 74 Hostilidade 85 Ansiedade Fébica 79 Ideagao Parandide 83 Psicoticismo. 78 Ics 79 TSP 84 ISP 45 4.5. Resultados relativos a validade A validade de constructo procura avaliar em que medida os re- sultados do teste séo indicativos dos constructos teéricos subjacen- tes isto é, das dimensdes que o instrumento procura medir. £ por alguns autores (Jaeger, 1983, cit por Vaz-Serra, 1994; Nunally, 1978, Stevens, 1996) considerado que este tipo de validagdo subordina todos os outros. Os contributos dos nossos estudos de validade de constructo incluiram a andlise de consisténcia interna, nomeadamen- te na andlise das correlagées entre os itens e a nota global (indices j4 mencionados a propdsito dos estudos de fiabilidade, mas cujo objec- tivo nos estudos de validade € avaliar a existéncia de uma dimensio global subjacente). Seguindo o caminho percorrido por investigagées na aferigao do SCL-90R as populagdes Holandesa ¢ Alema (Arrindell & Ettma, 1989; Franke, 1995, respectivamente) procuramos dar uma outra contribuigao para o estudo da validade do instrumento, a partir da matriz de correlagdes de Spearman entre as notas das nove dimen- sdes de sintomatologia e das trés notas globais. As correlagdes apresentadas no Quadro 4 sao todas estatistica- mente significativas (p<.001), embora se deva ter em conta o elevado ntimero de individuos que compdem a amostra (N=404) 0 que cer- tamente inflaciona as correlagGes encontradas. A variacao das corre- lagdes indica que o aumento numa das dimenses da psicopatologia se encontra associado a acréscimos em todas as outras dimens6« Como € obvio, todas as escalas apresentam correlages mais elevadas com as trés notas globais de psicopatologia do que entre si. Quadro 4. Matriz de correlacées entre as pontuacées do BS! som| oc | st | DEP] ans|Hos| AF | IP | Psi | 16s | Isp 1 Somatizagao 2 Obsessées-compulsées | .46 |_ 3 sensibitidade interpessoal | .40 | .se 64 61 | 58 61 | 54] 61 | 4 depressio 38 | 55 5 Ansiedade 54 | 62 6 Hostilidade 46 | 57 7 Ansiedade Fobica 46 | 42 | 4a | a0} 54 | 47 8 Ideagdo Parandide -49 | .45 | .61 | aa | 53 | .57 | a2 68 | .73| 62 | 61 | a8 | 55 9 Psicoticismo 46 | 58 10 16s 69 11 1sP ‘SO9199TOLYdODISd SVWOLNIS 30 ONYN3ANI w a vyorng 00184. oySvrivAY INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLGGICOS: 3 # 4 AVALIAGAO PSICOLOGICA Se analisarmos as correlagdes mais elevadas de cada escala com as outras dimensGes, constatamos que a Somatizacao se encontra prepon- derantemente ligada 4 Ansiedade (r=.54); as Obsessées-Compulsdes ao Psicoticismo (r=.58) e & Ansiedade (r=.61); a Sensibilidade Interpessoal correlaciona-se de modo elevado com o Psicoticismo (r=.68) e com a Depressao (r=.64); a Hostilidade encontra-se mais ligada A Sensibilidade Interpessoal (r=.61), ao Psicoticismo (r=.61) e & Ansiedade (r=.61); a Ansiedade Fébica correlaciona-se com a Ansiedade (r=.54); a Ideagdéo Parandide com a Sensibilidade Interpessoal (r=.61) e 0 Psicoticismo liga-se sobretudo, a Depressao (r=.73). Ayalidémos igualmente a validade discriminativa do BSI, isto é, a sua capacidade para distinguir os individuos perturbados emocio- nalmente daqueles que nao apresentam perturbagdes emocionais. No sentido de avaliar a forma como as variaveis discriminadoras (pontuagdes obtidas nas escalas do BSI ¢ os trés {ndices Gerais) se relacionam com a varidvel dependente (Satide mental) utilizamos 0 teste estatistico Andlise Discriminante (Quadro 5). Este, para além do poder explicativo referido, tem ainda poder preditivo, permitindo determinar as probabilidades de pertenga a um dado grupo, compa- rando-as posteriormente com a classificagao prévia, dado abonatério em relagao a validade preditiva dos resultados no instrumento. Quadro 5. Andlise de funcao discriminante: individuos perturbados emocional- mente versus individuos da populago em geral Varidvel F Pp Somatizagaio 615.910 000 Obsessées-Compulsdes 1283.151 000 Sensibilidade interpessoal 644.575 .000 Depresséo 1020.63 000 ‘Ansiedade 1104.643 000 Hostilidade 687.052 000 Ansiedade Fébica 384.383 Ideagao Paranéide 885.578 Psicoticismo 899.136 000 ics 125.629 000 TSP 81.592 000 ISP 160.376 000 Lambda de wilks=.271 F=216.654 GL=12.537 p=.000 Verificdmos que a fungao de forma global é estatisticamente sig- nificativa, dado que existem diferengas multivariadas significativas entre os dois grupos, o que é igualmente corroborado pelo valor do Lambda de Wilks (.17), que revela que as varidveis individuais em causa diferenciam os individuos perturbados emocionalmente dos in- dividuos da populacdo em geral, contribuindo para a explicacao de 83% da variancia relacionada com a pertenga ao grupo. Julgamos de interesse o facto de, embora sendo todos os F alta- mente significativos, aqueles que apresentam valores mais eleyados (Obsess6es-Compulsées, Depressao e Ansiedade) se relacionarem com sintomatologia caracteristica dos quadros clinicos com maior incidéncia na nossa amostra (Quadro 1), o que parece ser mais um dado abonatério em favor da capacidade discriminativa do BSI. A andlise da fungao discriminante permite que sejam correcta- mente classificados no seu grupo de pertenca 92.51% dos individuos perturbados emocionalmente e 99.75% dos in em geral. O coeficiente de concordancia de Kappa Cohen (.943) revela que se obtém uma concordancia que corresponde a 94% da maxima que se poderia alcancar, independentemente do acaso. Combinando-a com o erro padrao (.016), podemos afirmar que a eficiéncia destas variaveis na classificagao dos individuos nos dois grupos referidos varia entre 92% a 95%, em relacio ao método clinico. A fungio discriminante revelou assim uma boa capacidade para classificar os individuos nos grupos. Apés constatar que todas as variaveis eram importantes para a diferenciagao dos grupos (Quadro 5), fomos confirmar, através das médias das varidveis discriminadoras, se o sentido da diferenga era © esperado (Quadro 6). Como seria de prever, podemos reconhe- cer que, para todas as escalas do BSI e para os trés indices gerais, os individuos perturbados emocionalmente apresentam valores mais elevados de sintomas psicopatolégicos, do que os individuos da po- pulagao em geral, tal como esta é avaliada pelo BSI. Verificado que todas as pontuagGes obtidas no BSI (nas nove escalas e nos trés indices gerais) permitem discriminar entre indivi- duos perturbados emocionalmente e individuos pertencentes 4 popu- lagdo em geral, tentamos estabelecer pontos de corte entre estes dois grupos. iduos da populagao SODIDGTOLYdOIISE SYHOINIS 30 O18YINSANI w a vologiooisd oysyivay INVENTARIO DE SINTOMAS PSICOPATOLOCICOS 33 AVALIACAO PSICOLOCICA ouadro 6. Estatistica descritiva para as pontuagdes do BS! Varidveis Popularo geral emocionais Média oP Média oP Somatizagao 0.573, 0916 1.355 1.004 Obsessées.compulsées 1z00 | o07e | 1924 | oes Sensibilidade interpessoal 0.958 0.727 1.597 1.033, Depressio 0.893, 0.722 1.628 1.051 Ansiedade 0.942 0.766 L753 0.940 | ___Hostitidade 0004 | ovea | aaa | 0.004 Ansiedade Fébica 0.418 0663 1,020 0.929 Wdeagho Parandide 106s_| 0709 | asse_| 0.80 Psicoticismo 0.668 oeia | 1403 | 082s | Ics 0.835, 0.480 1.430 0.705 TSP 26.993 37.349 12.166. SP 1.561. [air | oses | Neste procedimento ponderdmos a utilizag’o do IGS e do ISP. Apesar do IGS, pela sua formula de calculo, surgir como o melhor indicador tnico de sintomas psicopatolégicos, das trés pontuagdes globais, o ISP é aquele que, de acordo com o valor de F apresenta- do, melhor discrimina os dois grupos nos estudos que realizimos (cf. Quadro 5). Por este motivo optémos por utilizar o valor do ISP para determinar o ponto de corte entre os dois grupos considerados. Este ponto de corte foi obtido a partir das médias e desvios-padrio (Quadro 6) obedecendo 4 formula de Fisher para 0 ponto de corte (Angoff, 1971)’. Com base neste resultado pode referir-se que, com uma nota no ISP do BSI > 1.7, é provavel encontrar pessoas perturba- das emocionalmente; ¢ abaixo desse valor, individuos da populagio em geral. Dado que a validade é um conceito de natureza cumulativa, os re- sultados dos estudos de validade sao um processo permanentemente em aberto. Assim, algumas investigagdes em que o BSI foi posterior- mente utilizado tornam-se particularmente relevantes para a valida- ¢ao deste instrumento de medida de psicopatologia. De acordo com este critério, destacamos alguns estudos que passamos a referir. = Pontode corte = (M1+DP1)+ (M2-DP2)/2. Na utilizacao desta formula deve-se terem conta que M1

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