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Aula 5 - Introdução Ao Direito Tributário
Aula 5 - Introdução Ao Direito Tributário
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Larissa Vila Nova
PENSAMENTO SISTÊMICO
CONFLITO DE NORMAS
Ademais, não raro, temos o problema de conflito de normas. O ordenamento busca solucionar
esses conflitos de regras que vão a sentido contrário da outra. Em geral, temos os brocardos latinos
(máximas colhidas na prática do direito) que foram positivados na lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro – LINDB. Esse diploma traz algumas regras como: lei posterior revoga lei anterior,
lei superior prevalece sobre a inferior, norma geral não revoga norma especial e assim por diante.
Então, a ideia é de que não deve haver conflitos normativos ou que esses conflitos possam ser
resolvidos pelo próprio ordenamento jurídico.
Paulo Rosenblatt – Direito Tributário I Thays Fragoso – 2020.2
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LACUNAS
Não obstante, as lacunas também são um problema, quando o ordenamento jurídico não prevê
uma solução para o caso concreto. Nesse caso, o nosso ordenamento não admite o non liquet, isto é, a
possibilidade de o juiz não decidir, pois é obrigatório, no nosso pensamento jurídico, que se dê uma
solução para cada caso. Aqui, o próprio ordenamento jurídico determinará, na hipótese de uma
lacuna, como resolver, seja por meio de uma analogia (tratar de forma semelhante ou idêntica
situações parecidas umas com as outras) ou um juízo de equidade (justiça no caso concreto) ou
aplicação de princípios.
Portanto, para que isso possa ser feito, esse pensamento sistêmico tem que partir da ideia da
noção de fonte do direito, no sentido de delinear sobre como se dá o processo de produção normativa,
bem como a legitimidade e fundamento de validade dessas normas, além de como elas se colocam
hierarquicamente dentro do ordenamento jurídico. É por essa questão que o direito tributário precisa
ser compreendido dentro da ideia de sistema.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Como norma primária sobre a produção jurídica, temos a Constituição Federal;por isso que se
fala em sistema constitucional. Segundo J.J. Gomes Canotilho, a CF tem três funções primordiais:
“Só há que se falar em limitações ao poder de tributar, no Brasil, porque temos uma Constituição rígida e
porque há a previsão de controle judicial das leis e dos atos administrativos.”
Dessa forma, deve-se limitar o poder de tributar a partir do próprio texto constitucional, e a CF,
dado o seu caráter rígido e a possibilidade de revisão judicial, explana a grande preocupação em
preservar os valores e objetivos constitucionais.
O sistema tributário nacional também prevê as fontes do direito tributário (há uma profusão
de fontes normativas no direito tributário). Também, a CF se preocupa com o conceito e
classificações dos tributos, que são o conjunto dos pontos fundamentais daquilo que se
convencionou chamar de sistema constitucional tributário.
É célebre a frase do Chief Justice John Marshall, da Suprema Corte Americana: “The
powertotaxisthepowertodestroy.” Em tradução, significa dizer que o poder de tributar é o poder de
destruir. Por isso, é preciso limitar esses poderes de acordo com a constituição. Essa mesma frase
depois foi reformulada e ganhou mais repercussão a partir do que dispôs o juiz da Suprema Corte
Americana Oliver Wendell Holmes Jr: “The powertotaxisnotthe Power do destroywhilethiscourtsits.”
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Em tradução, significa dizer que o poder detributar não será o poder de destruir, enquanto existir essa
Suprema Corte.
Essas ideias já ficaram muito atrás, pois o tributo ganhou outras conotações, como
solidariedade e manutenção das funções do Estado. É sempre importante entender que, no Estado de
Direito, é preciso haver claras limitações ao exercício do poder de tributar.
Formal: se refere ao tipo de norma que vai estabelecer os limites. Pode-se ter limite constitucional,
legal, infra-legal. Então a forma dará os verdadeiros limites. Há questões que poderão ser tratadas
pela constituição, por EC, Decreto...
Material:Ao conteúdo da norma, o que cada uma pode veicular e qual a sua compatibilidade com o
texto constitucional.
Positivo: É a própria atribuição de competência, por meio de palavras uma construção semântica que
se atribui competência. Quando se diz “compete a União federal instituir o imposto sobre a renda”,
entende-se que é um limite positivo. Pois estar dentro desse conceito de renda. Por isso, que o Direito
Tributário é um ramo do direito conceptualista, já que procura o tempo todo o operador para
estabelecer todos os contornos de cada um dos conceitos. Exemplo é preciso conceituar renda e ao
conceituar renda, entende-se que se está dando um limite positivo, e fora de renda à união não pode
tributar.
Negativo: No desenho do quadrado – dentro dele tudo é renda, mas pode ocorrer o limite negativo,
em que a CF ou outras normas podem dizer, pode se tributar toda renda, exceto partidos políticos,
organizações religiosas, unidade de educação (parte preta do quadrado)... É como se tirasse daquela
competência inicial uma parcela que não pode ser tributada.
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IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade (...).
1. Liberdade: O Direito Tributário tem que ser estabelecido preservando um dos mais caros
valores constitucionais que é a liberdade individual. Portanto, não posso utilizar o Direito
Tributário como forma de restringir/ limitar a liberdade. Salvo nas hipóteses que a própria
constituição os faz. Em um Estado de Direito, essas restrições a liberdade tem que vir apenas
com a legalidade. Afinal, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer nada, se não em virtude
de lei.
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2. Justiça Fiscal: Como repartir adequadamente os ônus tributários, como deve recair os pesos
dos tributos para cada um. Temos um dos sistemas tributários mais injustos do mundo, um
sistema que se diz regressivo, pois tributa mais quem tem menos. Pois o nosso sistema
tributário é calcado principalmente no consumo, não na renda, da propriedade e das heranças.
De forma que aquele que tem menos e que consome toda a sua renda durante o mês está
pagando mais do que os outros que conseguem poupar, tem propriedade e deixam heranças
que acabam por perpetuar e aprofundar o nosso foço social. Ao interpretamos o sistema
tributário nacional, temos que ter em vista o ideal de justiça, como estabelecer normas
tributárias justas, como repartir o ônus tributário.
3. Solidariedade: Todos nós temos a obrigação de ser solidários.
4. Igualdade: Igualdade perante a lei, ninguém pode estar em um patamar maior que a lei. A
tributação é o preço a se pagar para viver em sociedade e esse preço deve ser pago por todos.
5. Segurança Jurídica: Aplicado para que todos tenham segurança, pois isso traz paz social, traz
desenvolvimento. Porque existe uma estabilidade das relações jurídicas. Ao contrário do
sistema que temos hoje com sobreposições de normas com contencioso, administrativo e
judicial imensos, com uma profusão normativa em que cada dia sai uma nova norma, com
milhares de horas gastas com obrigações acessórias, com registros...
6. Propriedade: Garante o direito de propriedade, que só pode ser limitado pela própria
Constituição, e direito esse de tributário que é formado pela própria ideia de tributação. O
Direito de propriedade é construído juntamente com o Direito de tributação.
PRINCÍPIOS
REGRAS X PRINCÍPIOS
A distinção entre princípios e regras, em geral, é uma disposição doutrinária. Quando se tem um
dispositivo, ele não diz se é um princípio ou se é uma regra. Uma construção doutrinária em cima da
Constituição ou em cima das leis é que nos faz reconhecer a existência de princípios. Além disso, as
decisões judiciais e os precedentes também desenvolvem a ideia de princípios. No caso do direito
tributário, os princípios, em geral, têm uma característica de concretude muito grande, pois não são
meros objetivos, mas impõem verdadeiros limites ao poder de tributar.
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Os nossos autores de direito tributário costumam falar na supremacia dos princípios, dada a gama
de princípios estabelecidos no texto constitucional. Desse modo, a supremacia dos princípios
demanda que os eles estejam sobrepostos às regras. Aqui, surge outro problema: conflito ente
princípio e regra, como compatibilizá-los, de modo a serem aplicados em conjunto, já que não há
hierarquia dentro da própria Constituição. A própria Constituição prevê a hipótese de intervenção
para assegurar a observância dos princípios constitucionais.
Ampliação por meio dos tratados e convenções internacionais, o que faz com que a relação
disposta não seja taxativa.
CLASSIFICAÇÃO
Quanto à abrangência
1. GERAIS: aqueles que se aplicam a todo o ordenamento jurídico, tal como os princípios da
isonomia e da legalidade.
2. SETORIAIS: se aplicam a um ramo do direito e não a outro, como é o caso dos princípios de
direito penal. Um adendo deve ser feito: comumente e erroneamente utiliza-se a expressão
“princípios gerais do direito tributário”. Esses princípios são de cunho setorial, e somente
gerais para o direito tributário, mas não gerais no sentido de serem aplicados a todo o
ordenamento jurídico.
3. ESPECÍFICOS: se aplicam a uns institutos e não a outros, dentro de um mesmo setor/ramo do
direito, como a progressividade que se aplica ao imposto de renda, mas não a outros impostos.
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1. CONEXOS: serão aqueles que se relacionam ou que decorrem, são corolários, de outros
princípios. Por exemplo, quando se fala do princípio da legalidade tributária, resta claro que
decorre do princípio da legalidade.
2. ESTRUTURAIS: são aqueles fundantes ou organizatórios do Estado Democrático de Direito e
essenciais para que possa ser compreendido como está estruturado/fundado/organizado o
sistema tributário nacional.
2.1 Princípios estruturais/organizatórios
a) Princípio Republicano;
b) Princípio Federativo;
c) Separação dos Poderes.
Assim, a CF/88 explicita ser a República Federativa formada pela união indissolúvel dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Portanto, iremos falar sobre o federalismo fiscal, como
se dá repartição de atribuições e poderes entre os entes da federação, segundo o princípio federativo e
de acordo com o princípio republicano e, ainda, como se dá a distribuição de poderes da União entre o
Legislativo, Executivo e Judiciário, na ideia de pesos e contrapesos, pois eles são independentes e
harmônicos entre si.
FEDERALISMO FISCAL
PRINCÍPIO REPUBLICANO
Significa dizer que o direito tributário é posto com o objetivo de obter a maior parte das receitas
públicas em prol da sociedade, dos cidadãos. Portanto, não se pode criar um Estado que não siga esse
sistema republicano, afastando-se desse ideal, privilegiando uns em detrimento de outros.
Federalismo fiscal nada mais é do que a repartição de poderes. Desde a CF/88, se agigantou o
poder da União Federal que hoje concentra mais de 67% da tributação, sendo apenas 1/3 repartido
entre os estados e municípios, o que cria um desnível da federação.
DIREITO DE SECESSÃO
SOBERANIA
INDELEGABILIDADE DE PODERES
Entre os entes da federação, bem como entre os poderes executivo, legislativo e judiciário.