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Paulo Rosenblatt – Direito Tributário I Thays Fragoso – 2020.

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Larissa Vila Nova

INTRODUÇÃO AO DIREITO TRIBUTÁRIO

 NORMA JURÍDICA E SUAS RELAÇÕES

A nossa introdução ao direito tributário se inicia pelo estudo do sistema constitucional


tributário. Toda a nossa forma de educação jurídica é estruturada em um pensamento sistêmico, no
qual consideramos que a norma jurídica se relaciona com outras normas do mesmo e de outros
diplomas. Por isso, chama-se de ordenamento jurídico, por entender que ao interpretar uma norma,
está sendo, na verdade, aplicado todo o conjunto de normas desse ordenamento. Difere, portanto, do
pensamento tópico, em que se parte de um caso concreto para a solução daquele caso e de casos
semelhantes. Diferentemente, no pensamento sistêmico de normas gerais que se presumem aplicáveis
a todos os casos que a ela se submete.

Estamos habituados a pensar no nosso ordenamento de modo piramidal, de modo que as


normas são postas de acordo com hierarquias diferentes, cujo ápice se tem a Constituição Federal.

 PENSAMENTO SISTÊMICO

Qual seria o grande problema desse pensamento sistêmico?

Primeiramente, dificilmente conhecemos a totalidade da norma; é impossível conhecer todo o


ordenamento jurídico. Somo capazes de pensar apenas em uma parcela das normas, ao buscar uma
solução para os casos concretos. Significa que, em uma decisão, algumas normas são explícitas e
outras serão implícitas. Quando se tem, por exemplo, uma sentença, o juiz não inicia o seu texto
decisório informando as normas que estruturam o PoderJudiciário ouque deram a ele o poder de
decidir, etc. Apenas estabelecem quais são as normas essenciais para solucionar determinado conflito.
Essa é a primeira presunção de aplicação em conjunto das normas que compõem o ordenamento
jurídico.

 CONFLITO DE NORMAS

Ademais, não raro, temos o problema de conflito de normas. O ordenamento busca solucionar
esses conflitos de regras que vão a sentido contrário da outra. Em geral, temos os brocardos latinos
(máximas colhidas na prática do direito) que foram positivados na lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro – LINDB. Esse diploma traz algumas regras como: lei posterior revoga lei anterior,
lei superior prevalece sobre a inferior, norma geral não revoga norma especial e assim por diante.
Então, a ideia é de que não deve haver conflitos normativos ou que esses conflitos possam ser
resolvidos pelo próprio ordenamento jurídico.
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 LACUNAS

Não obstante, as lacunas também são um problema, quando o ordenamento jurídico não prevê
uma solução para o caso concreto. Nesse caso, o nosso ordenamento não admite o non liquet, isto é, a
possibilidade de o juiz não decidir, pois é obrigatório, no nosso pensamento jurídico, que se dê uma
solução para cada caso. Aqui, o próprio ordenamento jurídico determinará, na hipótese de uma
lacuna, como resolver, seja por meio de uma analogia (tratar de forma semelhante ou idêntica
situações parecidas umas com as outras) ou um juízo de equidade (justiça no caso concreto) ou
aplicação de princípios.

Portanto, para que isso possa ser feito, esse pensamento sistêmico tem que partir da ideia da
noção de fonte do direito, no sentido de delinear sobre como se dá o processo de produção normativa,
bem como a legitimidade e fundamento de validade dessas normas, além de como elas se colocam
hierarquicamente dentro do ordenamento jurídico. É por essa questão que o direito tributário precisa
ser compreendido dentro da ideia de sistema.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Como norma primária sobre a produção jurídica, temos a Constituição Federal;por isso que se
fala em sistema constitucional. Segundo J.J. Gomes Canotilho, a CF tem três funções primordiais:

1. Identificar as fontes do direito no ordenamento jurídico (quais são essas normas);


2. Estabelecer os critérios de validade e eficácia de cada uma dessas fontes (quais são os
critérios);
3. Determinar a competência das entidades produtoras das normas de direito (quem pode
editar).

 ESTADO SOCIAL E DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Tem-se o problema da complexidade e da profusão normativa, aos quais os norte-americanos


chamam de (hyperlexis). Com a grande produção de norma, cada vez mais é difícil tratar de um ramo
do direito de forma completa, pois, diariamente, são editadas novas normas, o que exige uma
atualização com o restante do ordenamento jurídico.
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 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL PREVISTO NA CF/88

Inicialmente, trata da competência tributária (atribuições). A CF/88 realiza a repartição dessas


competências, onde a doutrina mais antiga chama de repartição de rendas. Nesse sentido, entre os
entes da federação, quais tributos podem ser estabelecidos/instituídos? O que podem fazer a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios?

A CF também fundamenta o poder de tributar, no modo, na forma e intensidade.Como uma


das parcelas da soberania estatal, o poder de tributar tem que ser realizado com limites e a CF
estabelece toda uma seção denominada: das limitações constitucionais ao poder de tributar.

Segundo Aliomar Baleeiro, as limitações constitucionais ao poder de tributar consistem


emprincípios constitucionais tributários ou imunidades tributárias e figuras afins. Ademais, há
a possibilidade de outras limitações constitucionais estabelecidas pelo legislador. É importante
explanar o que pontua o autor em comento, que assim dispõe:

“Só há que se falar em limitações ao poder de tributar, no Brasil, porque temos uma Constituição rígida e
porque há a previsão de controle judicial das leis e dos atos administrativos.”

Dessa forma, deve-se limitar o poder de tributar a partir do próprio texto constitucional, e a CF,
dado o seu caráter rígido e a possibilidade de revisão judicial, explana a grande preocupação em
preservar os valores e objetivos constitucionais.

O sistema tributário nacional também prevê as fontes do direito tributário (há uma profusão
de fontes normativas no direito tributário). Também, a CF se preocupa com o conceito e
classificações dos tributos, que são o conjunto dos pontos fundamentais daquilo que se
convencionou chamar de sistema constitucional tributário.

LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR

É célebre a frase do Chief Justice John Marshall, da Suprema Corte Americana: “The
powertotaxisthepowertodestroy.” Em tradução, significa dizer que o poder de tributar é o poder de
destruir. Por isso, é preciso limitar esses poderes de acordo com a constituição. Essa mesma frase
depois foi reformulada e ganhou mais repercussão a partir do que dispôs o juiz da Suprema Corte
Americana Oliver Wendell Holmes Jr: “The powertotaxisnotthe Power do destroywhilethiscourtsits.”
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Em tradução, significa dizer que o poder detributar não será o poder de destruir, enquanto existir essa
Suprema Corte.

Essas ideias já ficaram muito atrás, pois o tributo ganhou outras conotações, como
solidariedade e manutenção das funções do Estado. É sempre importante entender que, no Estado de
Direito, é preciso haver claras limitações ao exercício do poder de tributar.

 TIPOS DE LIMITES AO PODER DE TRIBUTAR

Formal: se refere ao tipo de norma que vai estabelecer os limites. Pode-se ter limite constitucional,
legal, infra-legal. Então a forma dará os verdadeiros limites. Há questões que poderão ser tratadas
pela constituição, por EC, Decreto...

Material:Ao conteúdo da norma, o que cada uma pode veicular e qual a sua compatibilidade com o
texto constitucional.

Positivo: É a própria atribuição de competência, por meio de palavras uma construção semântica que
se atribui competência. Quando se diz “compete a União federal instituir o imposto sobre a renda”,
entende-se que é um limite positivo. Pois estar dentro desse conceito de renda. Por isso, que o Direito
Tributário é um ramo do direito conceptualista, já que procura o tempo todo o operador para
estabelecer todos os contornos de cada um dos conceitos. Exemplo é preciso conceituar renda e ao
conceituar renda, entende-se que se está dando um limite positivo, e fora de renda à união não pode
tributar.

Negativo: No desenho do quadrado – dentro dele tudo é renda, mas pode ocorrer o limite negativo,
em que a CF ou outras normas podem dizer, pode se tributar toda renda, exceto partidos políticos,
organizações religiosas, unidade de educação (parte preta do quadrado)... É como se tirasse daquela
competência inicial uma parcela que não pode ser tributada.
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VALORES CONSTITUCIONAIS E DIREITOS FUNDAMENTAIS

 VALORES CONSTITUCIONAIS / OBJETIVOS FUNDAMENTAIS / DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Os primeiros limites ao poder de tributar estão nos Valores Constitucionais e direitos


fundamentais, é preciso recordar que o sistema tributário nacional não estar isolado na constituição,
mas devemos de acordo com aquele entendimento sistêmico, é que devemos interpretar a
constituição em conjunto com a totalidade de suas normas. Então, é preciso observar quais são os
valores que estão na constituição, quais são os objetivos fundamentais da República Federativa, quais
são os Direitos Fundamentais:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade (...).

1. Liberdade: O Direito Tributário tem que ser estabelecido preservando um dos mais caros
valores constitucionais que é a liberdade individual. Portanto, não posso utilizar o Direito
Tributário como forma de restringir/ limitar a liberdade. Salvo nas hipóteses que a própria
constituição os faz. Em um Estado de Direito, essas restrições a liberdade tem que vir apenas
com a legalidade. Afinal, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer nada, se não em virtude
de lei.
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2. Justiça Fiscal: Como repartir adequadamente os ônus tributários, como deve recair os pesos
dos tributos para cada um. Temos um dos sistemas tributários mais injustos do mundo, um
sistema que se diz regressivo, pois tributa mais quem tem menos. Pois o nosso sistema
tributário é calcado principalmente no consumo, não na renda, da propriedade e das heranças.
De forma que aquele que tem menos e que consome toda a sua renda durante o mês está
pagando mais do que os outros que conseguem poupar, tem propriedade e deixam heranças
que acabam por perpetuar e aprofundar o nosso foço social. Ao interpretamos o sistema
tributário nacional, temos que ter em vista o ideal de justiça, como estabelecer normas
tributárias justas, como repartir o ônus tributário.
3. Solidariedade: Todos nós temos a obrigação de ser solidários.
4. Igualdade: Igualdade perante a lei, ninguém pode estar em um patamar maior que a lei. A
tributação é o preço a se pagar para viver em sociedade e esse preço deve ser pago por todos.
5. Segurança Jurídica: Aplicado para que todos tenham segurança, pois isso traz paz social, traz
desenvolvimento. Porque existe uma estabilidade das relações jurídicas. Ao contrário do
sistema que temos hoje com sobreposições de normas com contencioso, administrativo e
judicial imensos, com uma profusão normativa em que cada dia sai uma nova norma, com
milhares de horas gastas com obrigações acessórias, com registros...
6. Propriedade: Garante o direito de propriedade, que só pode ser limitado pela própria
Constituição, e direito esse de tributário que é formado pela própria ideia de tributação. O
Direito de propriedade é construído juntamente com o Direito de tributação.

PRINCÍPIOS

 REGRAS X PRINCÍPIOS

A distinção entre princípios e regras, em geral, é uma disposição doutrinária. Quando se tem um
dispositivo, ele não diz se é um princípio ou se é uma regra. Uma construção doutrinária em cima da
Constituição ou em cima das leis é que nos faz reconhecer a existência de princípios. Além disso, as
decisões judiciais e os precedentes também desenvolvem a ideia de princípios. No caso do direito
tributário, os princípios, em geral, têm uma característica de concretude muito grande, pois não são
meros objetivos, mas impõem verdadeiros limites ao poder de tributar.
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 SUPREMARIA DOS PRINCÍPIOS – CONSTITUIÇÃO PRINCIPIOLÓGICA

Os nossos autores de direito tributário costumam falar na supremacia dos princípios, dada a gama
de princípios estabelecidos no texto constitucional. Desse modo, a supremacia dos princípios
demanda que os eles estejam sobrepostos às regras. Aqui, surge outro problema: conflito ente
princípio e regra, como compatibilizá-los, de modo a serem aplicados em conjunto, já que não há
hierarquia dentro da própria Constituição. A própria Constituição prevê a hipótese de intervenção
para assegurar a observância dos princípios constitucionais.

 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS E EXPLÍCITOS

Os explícitos são os constantes no próprio texto constitucional, como a isonomia ou legalidade,


ainda que a Constituição não os denomine como princípio. Por outro lado, os implícitos são os que
surgem de uma interpretação ou construção doutrinária e jurisprudencial.

 ART. 5º, §§ 1º E 2º DA CF/88 – POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO DOS PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS

Ampliação por meio dos tratados e convenções internacionais, o que faz com que a relação
disposta não seja taxativa.

 CLASSIFICAÇÃO

Quanto à abrangência

1. GERAIS: aqueles que se aplicam a todo o ordenamento jurídico, tal como os princípios da
isonomia e da legalidade.
2. SETORIAIS: se aplicam a um ramo do direito e não a outro, como é o caso dos princípios de
direito penal. Um adendo deve ser feito: comumente e erroneamente utiliza-se a expressão
“princípios gerais do direito tributário”. Esses princípios são de cunho setorial, e somente
gerais para o direito tributário, mas não gerais no sentido de serem aplicados a todo o
ordenamento jurídico.
3. ESPECÍFICOS: se aplicam a uns institutos e não a outros, dentro de um mesmo setor/ramo do
direito, como a progressividade que se aplica ao imposto de renda, mas não a outros impostos.
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Quanto a sua relação com outros princípios e regras

1. CONEXOS: serão aqueles que se relacionam ou que decorrem, são corolários, de outros
princípios. Por exemplo, quando se fala do princípio da legalidade tributária, resta claro que
decorre do princípio da legalidade.
2. ESTRUTURAIS: são aqueles fundantes ou organizatórios do Estado Democrático de Direito e
essenciais para que possa ser compreendido como está estruturado/fundado/organizado o
sistema tributário nacional.
2.1 Princípios estruturais/organizatórios
a) Princípio Republicano;
b) Princípio Federativo;
c) Separação dos Poderes.

Assim, a CF/88 explicita ser a República Federativa formada pela união indissolúvel dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Portanto, iremos falar sobre o federalismo fiscal, como
se dá repartição de atribuições e poderes entre os entes da federação, segundo o princípio federativo e
de acordo com o princípio republicano e, ainda, como se dá a distribuição de poderes da União entre o
Legislativo, Executivo e Judiciário, na ideia de pesos e contrapesos, pois eles são independentes e
harmônicos entre si.

FEDERALISMO FISCAL

 PRINCÍPIO REPUBLICANO

Significa dizer que o direito tributário é posto com o objetivo de obter a maior parte das receitas
públicas em prol da sociedade, dos cidadãos. Portanto, não se pode criar um Estado que não siga esse
sistema republicano, afastando-se desse ideal, privilegiando uns em detrimento de outros.

 CARACTERÍSTICAS DO ESTADO FEDERATIVO

É preciso entender o federalismo fiscal diante do princípio federativo. Quando da independência


dos EUA, houve a formação de uma confederação e, a seguir, se criou um estado federativo, onde
vários estados se uniram como o poder de união central. Aqui no Brasil, o federalismo tem base na
Constituição Federal.
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Federalismo fiscal nada mais é do que a repartição de poderes. Desde a CF/88, se agigantou o
poder da União Federal que hoje concentra mais de 67% da tributação, sendo apenas 1/3 repartido
entre os estados e municípios, o que cria um desnível da federação.

 DIREITO DE SECESSÃO

É vedado, com base no estado federativo.

 SOBERANIA

É dada, somente, à União, portanto, estados e municípios não são soberanos.

 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ATRIBUIÇÃO DE RECEITAS

A CF/88 se ocupa da repartição de competências. Faz a atribuição de receitas, em princípio, de acordo


com as despesas.

 INDELEGABILIDADE DE PODERES

Entre os entes da federação, bem como entre os poderes executivo, legislativo e judiciário.

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