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- PAULO

UNIVERSIDADE DE SAO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇAO

ANA MARIA DA SILVA BRANDÃO


LffiÂNIO MIRANDA PINHEIRO

Julho de 1997
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1
1.1 ESTADOS Lll\1ITES .......................................................................................... .
1.2 VALORES DE CÁLCULO DAS AÇÕES .......................................................... 1
1.3 SITUAÇÕES A CONSIDERAR .......................................................................... 2

2 FISSURAÇÃO ............................................................................................................ 3
2.1 FORMAÇÃO DE FISSURAS ............................................................................. 4
2.1.1 Momento de fissuração .. ..... ........................... ... .... .. ... .... ........ ... ............... 5
2.1.2 Combinação rara de utilização ....................... ............. ......... .... .. ....... ....... 5
2.1.3 Armadura mínima .................................................................................... 6
2.2 ABERTURA DE FISSURAS .............................................................................. 6
2.2.1 Problemas a evitar ................................................ ... .. ... .... ..... .... ... ............ 6
2.2.2 Combinação freqüente de utilização ... ..... ... ..... .... ........... ......................... 7
2.2.3 Critérios de verificação ........... ... ........ ... ...... .. ... ... ..... ........ ... .. .................. . 8
2.2.4 Bases teóricas ...................................................... ................................... 1O
2.2.5 Critérios de aceitação ... ..... ..... .. ..... .. ....... ........ ... ... ... ... .... ...... .... ......... ... .. 1O
2.2.6 Providências possíveis ........................................................................... 11

3 DEFORMA.ÇÕES .................................................................................................... 11
3.1 DANOS PROVOCADOS .................................................................................. 11
3.2 FATORESQUEINFLUEM .............................................................................. 12
3.3 COMBINAÇÃO QUASE-PERMANENTE DE UTillZAÇÃO ....................... 14
3.4 TIPOS DE DEFORMAÇÕES ............................................................................ 14
3.5 SITUAÇÕES A CONSIDERAR ........................................................................ 15
3.5.1 Estádio I ................................................................................................. 15
3.5.2 Concreto fissurado ................................................................................. 16
3.6 CÁLCULO DAS FLECHAS ............................................................................. 17
3.6.1 Flecha imediata para ações de longa duração ........................................ 18
3.6.2 Flecha total para ações de longa duração ............................................... 20
3.6.3 Flecha imediata para ações de curta duração ......................................... 23
3.7 CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO ......................................................................... 23
3.8 PROVIDÊNCIAS POSSÍVEIS .......................................................................... 24
4 EXEJ\1PLOS ............................................................................. ....................... ......... 25
4.1 CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DA SEÇÃO ..................................... 26
4.2 MOMENTO DE FISSURAÇÃO ....................................................................... 27
4.3 ABERTURA DE FISSURAS ............................................................................ 28
4.4 DEFORMAÇÕES .............................................................................................. 29

BffiLIOGRAF'IA ............................................................................................................ 31

OBSERVAÇÃO

Este trabalho constituiu parte das atividades do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino-


P AE, desenvolvido pelos autores no primeiro semestre de 1997.
1 INTRODUÇÃO

As estruturas de concreto armado devem ser projetadas não só para atender aos critérios de
segurança contra a ruína mas também para satisfazer às condições de utihzação. O cálculo na
ruina é fundamental para conferir às estruturas um nível adequado de segurança com relação à
sua capacidade portante, ou seja, à sua capacidade de resistir satisfatoriamente a todas as
solicitações possíveis de ocorrer durante o tempo previsto para a sua existência. Por outro lado. o
cálculo em serviço é imprescindível para garantir um desempenho satisfatório das estruturas
quando em uso normal, ou seja, nas condições de utilização para as qurus foram projetadas.

1.1 ESTADOS LIMITES


Admite-se que uma estrutura, ou parte dela. atinge um estado limite quando. de modo
efetivo ou convencional, torna-se inutilizável ou deixa de satisfazer às condições previstas para a
sua utilização. Podem-se distinguir estados limites últimos e estados limites de utilização
Enquanto os primeiros se referem ao esgotamento da capacidade portante da estrutura, os demats
são referidos ao seu comportamento em serviço, ou seja. os estados limites de utilização
consideram a aparência, o conforto. a funcionalidade e a durabilidade das estruturas.
O procedimento usualmente empregado consiste no dimensionamento das estruturas.
considerando os estados limites últimos, seguido de posterior verificação dos estados limites de
utilização. Muitas vezes, entretanto, não é dada a devida importância a esta verificação ou.
quando é feita, são adotadas simplificações grosseiras que acabam conduzindo a resultados
pouco compatíveis com a situação real.
Para as estruturas usuais, há que se considerar os seguintes estados limites de utilização:
a) Estado limite de formação de fissuras (momento de fissuração): estado em que há uma
grande probabilidade de se iniciar a formação de fissuras de flexão:
b) Estado limite de fissuração inaceitável (abertura de fissuras): estado em que as fissuras
se apresentam com abertura prejudicial ao uso ou à durabilidade da peça:
c) Estado limite de deformações excessivas (flechas): estado em que as deformações
ultrapassam os limites aceitáveis para a utilização da estrutura.

1.2 VALORES DE CÁLCULO DAS AÇÕES


Na verificação da segurança em relação aos estados limites últimos, devem ser
considerados os valores de cálculo das variáveis fundamentais do problema, ou seja, as
solicitações características devem ser majoradas pelo coeficiente de ponderação y f e as

resistências características, minoradas pelos respectivos coeficientes de segurança. sendo y c para

o concreto e y s para o aço.

Com relação aos estados limites de utilização. a verificação da segurança dos elementos
estruturais é feita com a consideração das situações de serviço. atribuindo-se às ações seus
valores característicos usuais. sem majoração. ou seja, o coeficiente de ponderação das ações
vale y f = 1,0.

Antigamente, segundo LEONHARDT [ 1979], a verificação da capacidade de utilização era


feita, na maioria dos casos, considerando uma situação em que atuassem todas as ações -
permanentes, variáveis e excepcionais - com seus valores característicos máximos. No caso de
edifícios, ocasionalmente, considerava-se uma redução de 30% no valor da ação variável e
desprezava-se a ação excepcional.
O conhecimento tem indicado, entretanto, que, no cálculo de abertura de fissuras. avaliação
de flechas etc., o carregamento decisivo para o bom desempenho das estruturas é dado pela ação
permanente acrescida de uma parcela da ação variável, que ocorre com freqüência ou atua por
um longo período de tempo. A redução no valor das ações variáveis, muitas vezes. assume
proporções consideravelmente maiores do que 30%.
O valor da parcela das ações variáveis a ser considerado difere para cada estado limite de
utilização. Assim, consideram-se diferentes combinações das ações, conforme será visto
posteriormente. O anexo da NBR 7197 ( 1989) indica o tipo de combinação a ser utilizado na
verificação de cada estado limite de utilização.

1.3 SITUAÇÕES A CONSIDERAR


No texto que segue, serão apresentados os procedimentos adotados na verificação de cada
um dos estados limites de utilização mencionados, apontando-se as respectivas combinações de
ações a ser utilizada. As verificações serão referidas a edifícios em geral, para os quais a única
ação variável atuante é representada pelas ações de uso (peso de pessoas, mobiliário etc.).
No equacionamento do problema de verificação dos estados limites de utilização, um
importante aspecto a ser analisado é a identificação do estádio de comportamento em que se
encontra a peça em serviço. Estes estádios traduzem as diversas fases, pelas quais passa uma
peça de concreto armado quando submetida a um carregamento crescente. Normalmente, para as
ações de serviço, as seções encontram-se nos estádios I ou li. Convém lembrar que o estádio li é

2
caracterizado pela presença de fissuras nas zonas de tração e, portanto, o concreto situado nessas
regiões é desprezado. Portanto, neste caso, a inércia da barra fletida não pode ser calculada como
se ela fosse constituída de material homogêneo. É preciso conhecer a posição da linha neutra, em
serviço, para que se possa efetuar o cálculo do momento de inércia e das tensões na seção
transversal.

2 FISSURAÇÃO

O concreto apresenta como principal característica mecânica uma elevada resistência à


compressão. Em contrapartida, sua resistência à tração é extremamente reduzida, em geral
inferior a 10% da resistência à compressão. Por este motivo, mesmo sob solicitações baixas, o
concreto pode romper nas zonas tracionadas, provocando o surgimento de fissuras.
Pode-se dizer que, para o concreto simples ou armado, a fissuração é um fenômeno
inevitável, visto que, para impedi-lo, seria necessário adotar seções transversais de dimensões
exageradas, o que se torna economicamente inviável.
As fissuras, entretanto, não devem se apresentar com aberturas muito grandes, que possam
comprometer a estética, a funcionalidade ou a durabilidade das estruturas. Além disso, deve-se
ter em conta o desconforto psicológico que fissuras com aberturas excessivas causam aos
usuários.
Convém lembrar que a fissuração é altamente influenciada pela retração e pela
compacidade do concreto. Desta forma, é importante o controle da execução do concreto, com
relação, principalmente, à utilização do menor fator água/cimento possível, à vibração adequada
e à cura cuidadosa.
Diversas são as circunstâncias que podem acarretar a formação de fissuras, podendo-se
distinguir:
~ Fissuras produzidas por solicitações devidas ao carregamento: são causadas por ações
diretas de tração, flexão ou cisalhamento e ocorrem, evidentemente, nas regiões
tracionadas. A Figura 2.1 ilustra estes tipos de fissuras.
~ Fissuras não produzidas por carregamento: são causadas por deformações impostas
(ações indiretas), tais corno: retração, variação de temperatura e recalques diferenciais.
Apresentam-se, de forma sucinta, na Tabela 2.1, as causas, características e respectivas
precauções a serem tornadas para estes tipos de fissuras.

3
a)

b)

Figura 2.1 - Tipos de fissuras provocadas pela ação do carregamento


(adaptação do LEONHARDT. vol.4).

Tabela 2.1 - Fissuras não produzidas por carregamento.


FASE CAUSAS CARACTERÍSTICAS PRECAUÇÕES
Exposição ao sol Aleatoriamente disper- Proteger a superfí-
sas cie
Período de cura Variação de tem- Aparecem logo após a Usar menor relação
do concreto peratura concretagem água /cimento
Deslocamento das Escoramento con-
formas veniente
Retração Normais ao eixo, apa- Junta, cura ade-
recem depois de sema- quada, <l> menores,
nas, com abertura armadura dispersa
constante
Em serviço Dilatação térmica Junta
Corrosão das ar- Aparecem paralelas às Adensamento. co-
maduras armaduras brimentos adequa-
dos

2.1 FORMAÇÃO DE FISSURAS


Já foi visto anteriormente que a fissuração é um fenômeno inevitável em peças de concreto
simples ou armado. Assim, poder-se-ia pensar que a verificação do estado limite de formação de
fissuras é desnecessária Entretanto, a partir desta verificação, torna-se possível identificar o
estádio de comportamento da peça.

4
2.1.1 Momento de fissu:ração
Define-se momento de jissuração ( Mr ) como sendo o momento fletor capaz de provocar a

primeira fissura na peça. O momento de fissuração, portanto, representa o nível de solicitação em


que ocorre a passagem do estádio I para o II. Segundo o anexo da NBR 7197 (1989), seu cálculo
é feito no estádio I, considerando diagrama triangular de tensões no concreto:

M M crt. I
cr 1 =-·y=-·(h-x) M=--
I I h-x
fctm ·I
M = --"-'="-- (2.1)
r h-x

fctm """'* resistência média do concreto à tração na flexão

para seção T ou duplo T


para seção retangular

fctk """'* resistência característica do concreto à tração

fck
para fck $ 18 MPa
fctk = 10
{
0,06-fck +0,7 MPa para fck > 18 MPa

I, x """'* momento de inércia e posição da linha neutra da peça não-fissurada (estádio D,


considerando seção homogeneizada e razão entre os módulos de elasticidade do aço e
do concreto ( ae) igual a 10 (combinação rara)

h """'* altura da seção

Se o momento fletor atuante numa dada seção da peça for menor do que o momento de
fissuração, isto significa que esta seção não está fissurada e, portanto, encontra-se no estádio I.
Caso contrário, se o momento atuante for maior do que o de fissuração, a seção encontra-se
fissurada e, portanto, no estádio II. Neste caso, diz-se que foi ultrapassado o estado limite de
formação de fissuras.

2.1.2 Combinação rara de utilização


Segundo o anexo da NBR 7197 ( 1989), que complementa e altera a NBR 6118 ( 1978), para
a verificação da segurança com relação ao estado limite de formação de fissuras, deve ser

5
considerada a combinação rara de utilização, na qual a ação variável é tomada com seu valor
característico, sendo:
Fd,rara = Fg,k + Fq,k

Fd,rara ~ valor raro das ações em serviço

Fg,k ~ valor característico das ações permanentes

Fq,k ~ valor característico das ações variáveis

Observa-se que a atuação de toda a ação variável sobre a estrutura não é usual e tem baixa
probabilidade de ocorrer. Esta probabilidade, no entanto, não é desprezível. A combinação rara
atua, no máximo, algumas horas durante a vida da estrutura e pode provocar a formação de
fissuras. Estas vão continuar existindo mesmo quando deixarem de agir as solicitações que as
provocaram. Por este motivo é que se considera a combinação rara na verificação do estado
limite de formação de fissuras.

2.1.3 Armadura mínima


Além de permitir a identificação do estádio em que se encontra a peça, o momento de
fissuração é também importante para determinar a armadura mínima. Quando a tensão de tração
atinge o valor da respectiva resistência do concreto, ocorre a ruptura por tração, caracterizada
pelo aparecimento de fissuras. Neste instante, as tensões de tração são transferidas do concreto
para a armadura. A armadura mínima, portanto, é determinada de modo que seja capaz de
absorver, com adequada segurança, as tensões causadas por um momento fletor de mesma
magnitude do momento de fissuração. Na ausência ·dessa armadura, a ruptura pode se dar de
forma bastante brusca, sem aviso (ruptura frágil).

2.2 ABERTURA DE FISSURAS


Nas peças estruturais em que for ultrapassado o estado limite de formação de fissuras, isto
é, Md,rara > Mr , deve-se proceder a verificação do estado limite de fi.ssuração inaceitável.

2.2.1 Problemas a evitar


As fissuras não devem se apresentar com aberturas muito grandes, para evitar que smjam
problemas relativos, principalmente, à funcionalidade e à durabilidade das estruturas. As

6
características de estanqueidade exigidas para os reservatórios, por exemplo, podem ser
gravemente afetadas pela formação de fissuras de grandes aberturas. Este inconveniente pode ser
contornado por meio de impermeabilização das paredes e da laje de fundo dos reservatórios. A
água que percola através das fissuras carreia os hidróxidos de cálcio presentes nos poros do
concreto, resultando em eflorescências esbranquiçadas nas superfícies externas dos elementos.
Outro grave problema que pode ser evitado através da limitação da abertura das fissuras é a
corrosão das armaduras. De fato, aberturas excessivas facilitam a penetração, do meio externo
para o interior da massa de concreto, de agentes agressivos capazes de provocar a degradação do
próprio concreto e, também, das armaduras, podendo conduzir ao colapso da estrutura
Além disso, vale salientar que fissuras demasiadamente abertas geram um certo
desconforto psicológico aos usuários, além de prejudicarem a aparência.
Com vistas à garantia da durabilidade das estruturas, segundo a literatura técnica, deve-se
limitar a abertura das fissuras em 0,4 mm. A corrosão das armaduras praticamente independe da
abertura de fissuras abaixo deste valor.
Com relação à estética e ao efeito psicológico causado nos usuários, a fixação de um valor
limite para a abertura das fissuras depende de diversos fatores, dentre os quais: distância do
observador, tipo e finalidade da estrutura e posição e condições de iluminação das peças. Sob
esse aspecto, observou-se que, em geral, aberturas de fissuras até 0,3 mm não causam
inquietação nas pessoas e não prejudicam a aparência das estruturas.

2.2.2 Combinação freqüente de utilização


Na verificação do estado limite de fissuração inaceitável, deve ser considerada a
combinação freqüente de utilização, na qual a ação variável é tomada com seu valor freqüente,
sendo:
Fd,freq = Fg,k +'I' 1 · Fq,k

Fd,freq ~ valor freqüente das ações em serviço

O fator de combinação 'V 1 para valores freqüentes das ações é fornecido pela norma
NBR 8681 (1984) e vale 0,3 para edifícios em geral. Os valores freqüentes das ações
caracterizam-se por se repetirem muitas vezes ou atuarem por mais de 5% da vida útil da
construção.

7
2.2.3 Critérios de verificação
Os critérios de verificação a seguir apresentados são baseados nas prescrições das normas
NBR 6118 (1978) e no anexo da norma NBR 7197 (1989). Segundo estas normas, a abertura
nominal das fissuras (w) é dada pelo menor valor obtido através das seguintes expressões:

(2.2l

!2.3l

<1> ~ diâmetro das barras da armadura (em mm)

Tlb ~ coeficiente de conformação superficial das barras da armadura


cr s ~ tensão na armadura calculada para combinação freqüente das ações

~ para tirantes

~ para vigas e lajes

N d,freq ~ força normal calculada para combinação freqüente das ações

Mct,freq ~ momento fletor calculado para combinação freqüente das ações

z ~ braço de alavanca calculado no estádio II


As ~ área da armadura tracionada
Es ~ módulo de elasticidade do aço (21 0.000 MPa)
Pr ~ taxa geométrica da armadura em relação à área Acr

As
Pr =--
Acr
Acr ~ área do concreto de envolvimento das barras da armadura (ver Figura 2.2)
fctk ~ resistência característica do concreto à tração (ver item 2.1.1)

Na aplicação das expressões (2.2) e (2.3), valem as seguintes observações:


a) Se a armadura for constituída de barras de diâmetros diferentes, o valor de <1> pode ser
dado pela média ponderada dos diversos diâmetros ou pelo maior valor.

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b) O coeficiente de conformação superficial ( 1lb) das barras da armadura depende do tipo

de aço empregado, -sendo igual a 1,0 para barras lisas. Para efeito das expressões (2.2) e
(2.3), não se tomará 1lb > 1,8. Na Tabela 2.2, são indicados os valores deste coeficiente

para diferentes tipos de aço.

Tabela 2.2- Coeficiente de conformação superficial


das barras. Referência NBR 7480 (1985).
Categoria 1lb
CA25 1,0
CA32 1,0
CA40 1,2
CASO 1,5
CA60 *
1,0 para barras lisas
* 1lb = 1,2 para barras com ranhuras
{
1,5 para barras com saliências ou mossas

c) O cálculo de cr s deve ser feito no estádio ll, admitindo razão entre os módulos de

elasticidade do aço e do concreto ( <le) igual a 15. O braço de alavanca (z) pode.

simplificadamente, ser admitido igual a 0,85.d, sendo da altura útil da peça.


d) As expressões (2.2) e (2.3) foram deduzidas a partir de considerações e ensaios em
tirantes, que são peças solicitadas predominantemente à tração. Para adaptar as
formulações para vigas e lajes (elementos sob flexão), deve-se considerar apenas a área
de concreto que realmente influencia a fissuração, ou seja, a área de concreto que
envolve mais de perto as armaduras tracionadas, chamada de área do tirante equivalente
( Acr ). A área do concreto de envolvimento de cada barra equivale à área de um

retângulo cujos lados não distam mais de 7,5 · <1> do eixo da barra, conforme indicado na

Figura2.2.

Analisando as expressões (2.2) e (2.3), conclui-se que a abertura nominal das fissuras é
função da armadura longitudinal, sendo proporcional ao diâmetro das barras ( <1> ) e à tensão de

tração ( cr s) e inversamente proporcional à taxa geométrica ( p r ) .

9
Figura 2.2 - Área do concreto que influencia a fissuração.

2.2.4 Bases teóricas


A expressão (2.2) considera a Teoria Básica da Fissuração, que analisa a formação
sistemática de fissuras. Essa teoria é válida para peças com taxas de armadura iguais ou maiores
do que a relação entre a resistência do concreto à tração e a tensão atuante em serviço
(p;;::: fctk/crs ), ou seja, para peças com alta taxa de armadura, ou com armadura, pelo menos.

igual à armadura mínima.


A expressão (2.3) baseia-se na Teoria da Dupla Ancoragem. que corresponde à formação
assistemática de fissuras. Essa teoria é válida para pequenas taxas de armadura ( p < f ctk f cr 5 ).

Para efeito de raciocínio, pode-se admitir que tudo se passa como se a barra que atravessa a
primeira fissura estivesse duplamente ancorada no concreto adjacente. Sendo pequena a taxa de
armadura, a tensão de tração na seção fissurada é totalmente transferida para o concreto através
de aderência, impedindo a formação da segunda fissura.

2.2.5 Critérios de aceitação


O estado limite de fissuração inaceitável é atendido quando a abertura das fissuras (w) não
ultrapassa determinados valores máximos admissíveis pré-estabelecidos.
A NBR 6118 (1978) considera que a fissuração é nociva quando a abertura das fissuras na
superfície do concreto ultrapassa os seguintes valores:
c:> w lim = 0,1 mm ~ para peças não protegidas em meio agressivo

<::> w 1im = 0,2 mm ~ para peças não protegidas em meio não agressivo

<::>. w 1im = 0,3 mm ~ para peças protegidas

10
Quando o cobrimento (c) da armadura longitudinal de tração que compõe a taxa Pr for

superior ao mínimo exigido ( cmin ), o anexo da NBR 7197 (1989) permite aumentar o valor

limite da abertura das fissuras proporcionalmente à razão c/cmin , não devendo este aumento ser

maior do que 50%:


c
Wiim = wlim .--$1,5-wlim
Cmin

2.2.6 Providências possíveis


Dentre as providências que podem ser tomadas nos casos em que as aberturas nominais das
fissuras ultrapassam os respectivos valores limites, citam-se:
~ adotar barras com diâmetros ( <1>) menores, mantendo a área total; isto implica em

aumentar o número de barras e diminuir o espaçamento entre elas;


~ aumentar a área total de armadura ( A 5 );
~ aumentar a seção transversal da peça.

3 DEFORMAÇÕES

A verificação do estado limite de deformações excessivas tem por objetivo garantir a


manutenção das boas condições de uso da estrutura. Além do aspecto visual, a ocorrência de
flechas com valores que ultrapassem determinados limites pode gerar desconforto aos usuários e
causar danos a elementos estruturais e não-estruturais, interferindo desfavoravelmente no
funcionamento e na durabilidade das estruturas.

3.1 DANOS PROVOCADOS


Dentre os diversos danos provocados por deformações excessivas, citam-se:
~ Necessidade de nivelamento de superfícies que deveriam ser horizontais, através de
revestimento adicional que, além de representar aumento do custo total da obra, tendem
a provocar um aumento nas flechas, devido ao acréscimo de carga nas lajes;
~ Em lajes de cobertura ou varandas em balanço, flechas excessivas podem causar urna
inversão da inclinação prevista, interferindo na drenagem das águas pluviais;
~-Paredes não-estruturais de alvenaria podem apresentar fissuras se ocorrerem flechas

11
excessivas nas lajes ou vigas, nas quais se apoiam. Devido à grande rigidez dessas
paredes, elas não conseguem acompanhar a deformação dos elementos flexíveis de
apoio e, assim, surgem fissuras inclinadas de cisalhamento (ver Figura 3.la);
~ Deformações de lajes e de vigas podem afetar o bom funcionamento de esquadrias de
portas e de janelas e, em particular, os grandes painéis de vitrinas;
~ Perigo de flambagem de paredes ou pilares esbeltos, devido à rotação provocada pela
deformação da laje ou de vigas esbeltas do piso, que estejam ligadas rigidamente à
flexão com os respectivos apoios (ver Figura 3.lb);
~ O ângulo de rotação do apoio de lajes que apresentam flechas pode pôr em risco a
estabilidade de paredes de alvenaria ou causar fissuras horizontais nas paredes externas.
ao longo do bordo inferior da laje, e nas paredes internas, ao longo do bordo superior da
laje, conforme indicado na Figura 3.lc. Nas paredes internas, esta fissuração representa
apenas um problema de caráter estético. As fissuras das paredes externas, ao contrário.
podem permitir a penetração de umidade, o que não é desejável do ponto de vista da
durabilidade;
~ Vibrações em pisos causam sensações desagradáveis aos usuários. Essas vibrações
decorrem de deformações excessivas associadas a pequena rigidez;
~ Em regiões de juntas de dilatação, deformações diferenciais entre os elementos
estruturais adjacentes podem influenciar desfavoravelmente na qualidade das estruturas.
No caso de pontes, essas deformações podem, inclusive, gerar conseqüências bastante
negativas para a segurança do tráfego;
~ Flechas excessivas podem provocar o aparecimento de fissuras na peça, afetando a
estética e a durabilidade.

3.2 FATORES QUE INFLUEM


O cálculo das flechas é dificultado pelo fato de que devem ser consideradas várias
influências, muitas vezes de difícil avaliação. Dentre essas muitas influências, as principais são a
fissuração, a fluência e a retração, que, em geral, tendem a produzir um aumento no valor das
deformações finais.
O cálculo da flecha total baseado apenas na flecha imediata leva a uma estimativa pouco
fiel com a situação real. Uma análise mais adequada deve levar em conta as citadas influências,
cujos efeitos aumentam substancialmente as flechas finais, muitas vezes, se~do responsáveis por
cerca de metade destas flechas.

12
Parede
interna
Fissuras
a)

b)

c)

Fissura externa

Parede de maciça
alvenaria

Figura 3.1 -Alguns danos causados por deformações em peças de concreto armado.

13
A consideração da fissuração é feita através de uma redução no momento de inércia
adotado nos cálculos. Já a parcela da fluência é levada em conta majorando-se as flechas
imediatas por um coeficiente ~ , conforme será visto oportunamente. Por último, tem-se a

retração, cuja influência é considerada através da adoção de valores relativamente altos para a
relação entre o módulo de elasticidade do aço e do concreto ( a.e ), o que se traduz numa redução
do módulo de elasticidade do concreto.
A NBR 6118 ( 1978) permite dispensar a verificação de flechas em alguns casos.
dependendo da esbeltez dada pela relação 1!/h, sendo R o vão teórico (da laje ou da viga) e h a

altura do elemento. O critério apresentado para esta dispensa, entretanto, é pouco confiável e
tende a ser abandonado. Por este motivo, não será apresentado neste texto.

3.3 COMBINAÇÃO QUASE-PERMANENTE DE UTILIZAÇÃO


Na verificação do estado limite de deformações excessivas, deve ser considerada a
combinação quase-permanente de utilização, na qual a ação variável é tomada com seu valor
quase-permanente, sendo:
Fct,qp = Fg,k + '112. Fq,k

Fd,qp ~ valor quase-permanente das ações em serviço

O fator de combinação '!f 2 para valores quase-permanente das ações é fornecido pela

norma NBR 8681 (1984) e vale 0,2 para edifícios em geral. A combinação quase-permanente
pode atuar durante grande parte da vida útil da estrutura, num período da ordem de 50% desta
vida útil.

3.4 TIPOS DE DEFORMAÇÕES


As deformações do concreto podem ser classificadas como:
~ deformações que dependem do carregamento, destacando-se a deformação elástica
imediata e a deformação lenta (fluência);
c:> deformações independentes do carregamento, ou seJa, dependentes da variação de
volume causada por retração e por variação de temperatura.

14
As deformações que dependem do carregamento têm direção definida. A deformação
elástica imediata, aqui simplesmente referida por flecha imediata, ocorre por ocasião da
aplicação do carregamento e é reversível, isto é, removido o carregamento que a produziu, a peça
retoma à sua configuração original. A deformação lenta ou fluência é definida como o aumento
de deformação sob tensão constante. Esta parcela, conforme será visto, exerce importante
influência no valor da flecha total.
As deformações independentes do carregamento, por outro lado, não têm direção definida.
A retração é o fenômeno caracterizado pela redução do volume da massa de concreto causada
principalmente pela evaporação da água contida nos poros do concreto. A presença dessa água
livre se deve ao fato de que, em geral, a quantidade de água utilizada na mistura do concreto é
maior do que a necessária para as reações de hidratação do cimento.
O efeito da retração numa peça de concreto armado sob flexão caracteriza-se pela
contração diferencial das faces do elemento, resultando em flechas. Esta contração diferencial é
devida ao fato de que nas regiões onde há armadura, a contração é parcialmente impedida.
provocando o abaulamento da peça. O mesmo abaulamento pode ser causado por variações de
temperatura Neste caso, uma face do elemento expande mais do que a outra, por apresentar
maior temperatura.

3.5 SITUAÇÕES A CONSIDERAR


A NBR 6118 (1978) permite o cálculo das flechas em lajes, considerando a rigidez do
concreto no estádio I (não-fissurado) e, em vigas, admitindo a rigidez do concreto no estádio TI
(fissurado). Considera-se, entretanto, este procedimento inadequado, sendo preferível identificar,
através do momento de fissuração, em que situação se encontra o elemento analisado.

3.5.1 Estádio I
Assim, se o momento atuante (para combinação rara das ações) for menor do que o
momento de fissuração, pode-se calcular a rigidez no estádio I, considerando a seção
homogeneizada e a contribuição do concreto na resistência à tração. Além disso, pode-se tomar o
módulo de elasticidade do concreto tangente na origem, em função do baixo nível de solicitação.
Caso contrário, admite-se o concreto fissurado.

15
3.5.2 Concreto fissurado
Neste caso, há que se considerar a significativa influência da fissuração sobre a ngidez do
elemento. Esta influência é de difícil avaliação pois depende do grau de fissuração. que é um
fenômeno progressivo e dependente dos momentos fletores. os qua1s sofrem red1stnbmção a
medida que as fissuras se desenvolvem.
Considerar a rigidez no estádio II não constitui medida apropnada. vtsto que não condtz
com a realidade, pois nem toda a peça está fissurada. e sun. apenas algumas seções. De fato. na..,
seções mais solicitadas onde há fissuração. a peça apresenta um comportamento de estádio Il
Porém. à medida que se afastam destas regiões, as seções não-fissuradas encontram-se no estádío
I. Assim, um procedimento mais coerente consiste em considerar um grau de fissuração
mtermediário entre o de peça não-fissurada e o de peça completamente fissurada. Deve-se
utilizar uma rigidez equivalente, situada entre a do estádio I e a do estádio ll, pois a peça
estrutural apresenta regiões fissuradas e regiões entre fissuras. configurando uma situação
intermediária entre os dois estádios. A NBR 6118 ( 1978) é omissa neste aspecto.
Desta forma, tem-se urna situação em que o momento de inércia assume um valor
intermediário entre os momentos de inércia dos estádios I e II. Nesta Situação mtermed1ána
equivalente. valem as fórmulas de Branson. propostas pelo ACI 318 ( 1989). dadas por

Xe =( Mr
Md.rara
]
2.5
Xl
"
+ iI I -
iL
l
1

Mr
\2.5l
i'
Mct.rara ·
I X2 ~ X I i3 I 1

t3.2'!

Mr ....., momento de fissuração

Mct.rara ....., momento calculado para combinação rara das ações

xe, Ie ....., posição efetiva da linha neutra e momento de inércia efetivo

x 1• I 1 -? posição da linha neutra e momento de inércia no estádio I

x 2 , 12 -? posição da linha neutra e momento de inércia no estádio II

A expressão (3.2) representa o momento de inércia efetivo ao longo do vão de urna v1ga
biapoiada ou entre pontos de momento nulo de vigas contínuas. Para avaliação da inércia de
elemenros contínuos, são propostas as seguintes expressões (MacGREGOR, 1992):

16
~ para elementos contínuos nas
duas extremidades

~ para elementos contínuos em


apena~ urna da~ extremidade"

lei. Ie 2 ~ momentos de mérc1a efetivos nas "eçõe" de momento~ neganvo~ 1no~ apow"

contínuos)
lem ~ momento de mérc1a efet1vo na "eção de momento positivo máximo

Após fissuração. recomenda-se adotar o módulo de elasticidade "ecante do concreto. que


corresponde a 90% do módulo tangente na ongem (NBR 6118. 19781
Se a taxa de armadura for menor do que 0.5%. pode-"e desprezar a presença da armadura
no cálculo de x 1 e 11 • ou seja, o cálculo destes parâmetro~ pode ser feito como se a seção fosse

de concreto simples. O erro cometido com esta simplificação é multo pequeno Assim. para
seções retangulares, tem-se.

bh~
I---
1- 12

3.6 CÁLCULO DAS FLECHAS


Para o cálculo das flechas. as ações podem ser divididas em dms grupos: ações de lonRa
duração e ações de curta duração. Apenas as ações de longa duração- correspondentes às açõe"
permanentes mais as ações variáveis com seus valores quase-permanentes - sofrem os efenos da
fluência. As ações de curta duração são constituídas pela parcela restante das ações vanáve1s. que
não está inserida na combinação quase-permanente de utilização.
O cálculo das flechas finais será subdividido nas seguintes parcelas
~ flecha imediata para ações de longa duração:
~ flecha total para ações de longa duração:
~ flecha imediata para ações de curta duração ou. simplesmente. ação suplementar

No texto que segue. foram adotadas a seguintes notações·


ail ~ flecha imediata para ações de longa duração

ac1 ~ flecha devida à fluência (creep) para ações de longa duração

17
atl ~ flecha total para ações de longa duração

ais ~ flecha imediata para ação suplementar


at ~ flecha total, considerando todas as ações

a0 ~ contraflecha

3.6.1 Flecha imediata para ações de longa duração


A flecha imediata ocorre por ocasião da aplicação do carregamento e pode ser obtida a
partir da equação da linha elástica do elemento.

a) Vigas
Considere uma barra solicitada por um momento fletor positivo M (flexão pura). Na Figura
3.2a, mostra-se a viga antes do carregamento e na sua posição deformada.

~~f
A
I\
I\
I \
I \
r I
I
\
\/]
lt l{ êc ·dx
r - raio de curvatura ! I
i \_ I
I
I I
I
I D\

~~
\
L.N
- -\C- - -
/; I \
"' ...... ...... /'

X
-- /' I E \F
dx
y

a) b)

Figura 3.2 - Deformação de uma viga fietida.

Da Resistência dos Materiais, tem-se a equação da elástica:

(3.3)

18
r ~ raio de curvatura da linha elástica
y ~ ordenadas da linha elástica

Integrando-se a equação diferencial (3.3 ). obtém-se as flechas (y) da viga fletida. Todavia.
o cálculo por esta equação é muito trabalhoso e. por esse motivo. foram construídas tabelas
Algumas tabelas, como por exemplo as de PINHEIRO (1993), fornecem coeficientes a que
podem ser utilizados no cálculo das flechas imediatas. dadas por expressões do tipo:

p·R4
a=a·--
E c ·I

a ~ flecha elástica imediata


a ~ coeficiente que depende do tipo de carregamento e das condições de vinculação
p ~ carga linear uniforme aplicada

.e ~ vão teórico da viga


Ec ~ módulo de elasticidade do concreto

I ~ momento de inércia da seção transversal da viga

b) Lajes
Da mesma forma que para vigas, podem-se obter as flechas elásticas em lajes. a partir da
integração da equação diferencial:
4 4 4
a w a w a w p
--+2· + - - = - (3.4)
ax4 ax 2 · ()y 2 ()y 4 D

w ~ deslocamentos da laje
p ~ carga uniformemente distribuída na laje

D ~ rigidez à flexão da laje


E ·I
D= c 2
1-v
v ~ coeficiente de Poisson (varia entre 1/5 e 1/6, sendo, em geral, igual a 0,2 para lajes)

A flecha elástica pode ser calculada considerando a placa em regime elástico, com base na
equação (3.4). Porém, sendo este um processo trabalhoso, foram construídas tabelas que

19
consideram a vinculação e a relação entre as dimensões da laje. Estas tabelas foram elaboradas
através de processos numéricos e fornecem o coeficiente o: para o cálculo das flechas através das
expressões:

a---.
0: p·é o:·b p·f 4
3
ou a=--·--
-100E·h
c 1200 Ec ·I

o: ~ coeficiente determinado pela teoria elástica das placas, que depende do tipo de
vinculação, da relação entre os comprimentos dos lados da laje e do coeficiente de
Poisson do material
f ~ menorvão

As tabelas de Czemy foram adaptadas por PINHEIRO (1993) para coeficiente de Poisson
(v) igual a 0,2 (já que foram originalmente elaboradas para v = O).
Para lajes armadas em uma direção, simplificadamente, podem-se utilizar as tabelas de
flechas elásticas em vigas.

3.6.2 Flecha total para ações de longa duração


A flecha total para ações de longa duração é dada pela soma da respectiva flecha imediata
com a parcela decorrente da fluência Para tensões com valores compreendidos entre 40% e 60%
da resistência do concreto à compressão ( fck) - que são valores usualmente verificados em

serviço -, admite-se que o efeito da fluência é proporcional à deformação elástica imediata.


Assim:

O coeficiente ~ deve corrigir apenas a flecha causada pelo carregamento quase-

permanente, já que o restante do carregamento, por ser de curta duração, não causa fluência
Para levar em conta o efeito da deformação lenta, a NBR 6118 (1978) permite avaliar a
flecha fmal devida às ações de longa duração, como o produto do valor da flecha imediata
respectiva, pela relação das curvaturas final e inicial da seção de maior momento em valor
absoluto. Sendo assim, define-se o coeficiente ~ :

20
(3.5)

(/rV) f ~ curvatura final

1/)
(7r ~ curvatura inicial
1

O raio de curvatura da elástica de uma peça fletida de concreto armado. dado pela
expressão (3.3), pode ser expresso em termos de deformações específicas. considerando
semelhança dos triângulos ABC e DEF na Figura 3.2b. Assim. tem-se:

(3.6)

Ec, Es ~ deformações específicas do concreto e do aço. respectivamente

d ~ altura útil

A relação entre as deformações final e inicial no concreto assume valor 3, para cargas
aplicadas após a execução da peça, e vale 2, no caso da aplicação da carga se dar, pelo menos.
seis meses após a concretagem. Sendo o primeiro o caso mais usual e admitindo a deformação no
aço constante, tem-se:

(Ec)f = 3·(Ec)i = 3·Ec

(Es)f =(Es)i = Es

mf
(Ec)f +(Es)f 3·Ec +Es
d d

m (Ec)·1 +(Es)·1
d
=
Ec +Es
d

21
(X)f 3·ecd+es

~=(X). = Ec +Es
1 d

~ = 3·Ec +Es
(3.7)
Ec +Es

Pelo diagrama de defonnações mostrado na Figura 3.3, tem-se a seguinte condição de


compatibilidade:

~-~ X
Ec =Es .-d- (3.8)
x d-x -x

X,
I
h d -i- L.N.

Figura 3.3- Diagrama de deformações.

Substituindo (3.8) em (3.7), obtém-se, finalmente, a expressão que detennina o


coeficiente ~ :

~= 2·x+d (3.9)
d

A expressão (3.9) pode ser reescrita em função do parâmetro ~x = xfd, o que resulta em:
(3.10)

22
Vale observar que o valor de x corresponde à situação em serviço que estiver sendo
considerada, ou seja, x 1 para peça não-fissurada (estádio Dou Xe para peça fissurada (situação
intermediária equivalente).

3.6.3 Flecha imediata para ações de curta duração


As ações de curta duração são constituídas pela parcela restante das ações variáveis, que
não está inserida na combinação quase-permanente de utilização. Assim, a ação suplementar
( Fct,sup) vale:

Fct,sup = Fq,k -'I' 2·Fq,k ~ Fct,sup = (1- 'I' 2) ·Fq,k

O cálculo da flecha imediata relativa a esta parcela segue procedimento análogo ao que foi
empregado para ações de longa duração, podendo ser obtida por proporcionalidade:

Fct,sup
ais = · ail
Fct,qp

3.7 CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO


A NBR 6118 (1978), para estruturas de edifícios, recomenda o atendimento das seguintes
limitações:
~ A flecha total não deve ultrapassar o limite de 1/300 do vão teórico, exceto no caso de
balanços, para os quais o limite é de 11150 do respectivo comprimento teórico:

ou
(3.11)
para balanços

~ A flecha causada pela ação de curta duração não deve ser superior a 1/500 do vão
teórico, exceto no caso de balanços, para os quais o limite é de 11250 do respectivo
comprimento teórico:

ais-
<{Ysoo
R./
ou
(3.12)
/250 para balanços

23
3.8 PROVIDÊNCIAS POSSÍVEIS
Dentre as diversas maneiras possíveis de limitar as deformações, citam-se:
a) Aumentar a rigidez do elemento, adotando valores baixos de esbeltez. dada pela
relação f./h .

b) Também o aumento da área da armadura contribui para aumentar a rigidez, porém em


proporções menores do que o aumento produzido pelo incremento da altura das peças.
c) Prever, sempre que possível, sistemas estáticos que impeçam a rotação nos apoios,
através, por exemplo, do engastamento proporcionado pela continuidade dos elementos.
d) Na execução da estrutura, tendo em vista a qualidade do concreto produzido, adotar
procedimentos adequados para o seu preparo (seleção de materiais, dosagem, mistura),
manuseio (transporte, lançamento e adensamento) e tratamento posterior à concretagem
(cura).
e) Promover uma cura cuidadosa, de modo a garantir um alto grau de hidratação do
cimento e, por conseguinte, maior resistência e módulo de elasticidade do concreto.
f) Evitar descimbramento prematuro de modo a permitir que o concreto adquira resistência
suficiente para que possa receber o carregamento, sem apresentar deformações iniciais
excessivas.

Se uma das condições (3.11) e (3.12) não for atendida, devem ser previstos dispositivos
adequados para evitar as conseqüências indesejáveis provenientes de deformações excessivas. Se
as providências citadas não forem suficientes para garantir a segurança das peças com relação ao
estado limite de deformações excessivas, pode-se lançar mão de contraflechas. Este é um
artifício que consiste em aplicar uma deformação inicial em sentido contrário ao do
carregamento, através do escoramento das fôrmas, antes da concretagem, conforme indicado na
Figura 3.4.

Contraflecha

Figura 3.4- Contraflecha em urna peça estrutural esbelta.

24
A contraflecha ( a 0 ) deve ser, pelo menos, igual à flecha imediata para ações de longa

duração ( ail ), porém não maior do que esta flecha acrescida da metade do valor correspondente à

fluência ( acl ), ou seja:

acl
ail ~ ao ~ ail + 2
acl = atl - ail = ~ · ail - an = (~- 1) · au

a·l+ acl =a·t+


I 2 1
(~-l)·ail
2
=a·l·(l+~)
1 2

Portanto:

(3.13)

V ale ressaltar que o uso de contraflechas em lajes é pouco eficiente. Isto se deve ao fato de
que, durante a execução, não é dada a devida atenção à manutenção da altura total prevista para a
laje. O que acontece é que os operários nivelam a face superior da laje, resultando numa redução
de altura no centro do painel, onde geralmente é aplicada a contraflecha. A conseqüência direta é
o comprometimento da segurança da laje, visto que esta apresentaria altura reduzida na região
onde atuam os maiores momentos fletores positivos.
A contraflecha, sendo aplicada em sentido contrário ao das ações, proporciona uma
redução no valor da flecha total. Assim, a limitação representada pela expressão (3.11) passa a
ser:

at -ao = a ti +ais - ao ~ {~00 ou (3.14)


/150 para balanços

O critério de aceitação dado pela expressão (3.12) não se altera.


O valor da contraflecha deve ser indicado, de forma clara, nos desenhos de forma
estrutural.

4 EXEMPLOS

Considere a viga biapoiada indicada na Figura 4.1, com os seguintes dados:

e materiais: concreto C25, aço CA-50A ( T1b = 1,5, E 5 = 21.000 kN I cm2 )

25
e vão teórico: f. = 4,1 o m

e seção transversal: bw = 22 em, h = 40 em


e ações: permanente: gk = 40 kN I m

variável: qk = 10 kN lm

e momentos fletores: permanente: Mg,k = 84,08 kN.m

variável: Mq,k = 21,02 kN.m

e armadura de flexão: A 5 = 12,60 cm2 (4$20)


e armadura de cisalhamento: <!> 6,3
e cobrimento: c= 2 em
• coeficientes de segurança: y c = 1,4, y s = 1,15

L--ll hl
i

I
I
I .. .. =td'
...

Vista lateral Seção transversal


Figura4.1 -Viga biapoiada com seção transversal retangular.

4.1 CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DA SEÇÃO


Serão calculadas considerando ae = 10, ou seja, combinação rara das ações.

a) Altura útil
<j)p_ 2,0
d'=c+..t..~t +-=2+063+-
2 , 2 ~ d'=3,63cm

d =h- d' = 40-3,63 ~ d =36,5 em (valor adotado para o cálculo)

b) Posição da linha neutra e momento de inércia no estádio I (seção homogeneizada)

22·40 2
2 + 10 ·12,60. 36,5
= x1 = 22,07 em
22 ·40+ 10·12,60

26
3
I 1 = 22·40 +22-40··(22,07-- 40) 2
+10·12,60-(36,5-22,07) 2
12 2

c) Posição da linha neutra e momento de inércia no estádio TI (seção homogeneizada)


2 C:X.e ·As C:X.e ·As
x2 + 2. b · x 2 - 2. b . d =o

2 10-12,60 10-12,60
x 2 +2· -x 2 -2· -36,5 =o
22 22

X~+ 11,45· x2 -418,09 = 0 -M =42,47


-11,45±42,47
x2 = 2 x 2 = 15,51 em

b-x~ ( )2 22-15,51
3 ( )2
l2 = --+a.e ·As· d-x2 = +10·12,60· 36,5-15,51
3 3

12 = 82.874 cm4

4.2 MOMENTO DE FISSURAÇÃO


É calculado conforme indicado no item 2.1.1.

a) Cálculos preliminares

Resistência do concreto à tração na flexão:

fctk = 0,06-25+0,7 ~ fctk = 2,20 MPa = 0,22 kN I cm


2

Resistência média do concreto à tração:

fctm = 1,5 · fctk = 1,5 · 2,20 fctm = 3,30 MPa = 0,33 kN I em 2

27
b) Cálculo do momento de fissuração
fctm · l1 0,33·147.340
Mr= ------ ~ Mr = 2.711 kN.cm = 27,1 kN.m
h- X1 40- 22,07

c) Verificação do estado limite de formação de fissuras


Combinação rara das ações:
Mct,rara = Mg,k + Mq ,k = 84,08 + 21,02

Mct,rara = 105,10 kN.m > Mr = 27,1 kN.m (peça fissurada)

4.3 ABERTURA DE FISSURAS


Considera-se que a viga analisada enquadra-se na classificação de peça não-protegida em
meio não-agressivo. Assim, segundo a NBR 6118 ( 1978), ver item 2.2.5, o valor limite para a
abertura das fissuras é wlim = 0,2 mm. A verificação da abertura de fissuras é feita como se

indica no item 2.2.

a) Cálculos preliminares

Combinação freqüente das ações: 'I' 1 = 0,3

Momento fletor:
Mct,freq = Mg,k + '1'1 · Mq,k = 84,08 + 0,3· 21,02 ~ Mct,freq = 90,4 kN.m

Tensão na armadura:

Mct,freq 9040
~ cr 5 = 23,12 kN I cm2
<Ts = 0,85·d·A 5 = 0,85·36,5·12,60

Área do tirante equivalente:

Acr = bw · (d' + 7 ,5· <I> R)= 22 · (3,63+ 7 ,5· 2,0)

17,5·<Pe
=td'
l
'

28
Taxa de armadura:
As 12,60
~ Pr =3,07%
Pr = Acr = 409,86

Resistência do concreto à tração:


2
fctk = 2,20 MPa = 0,22 kN I em

b) Cálculo da abertura das fissuras

1 <1> f (j s ( 4 45 ) 1 20 23,12 ( 4 45 )
Wl=l0·2·T\b-0,75·~· p;+ =lo·2·1,5-0,75.21.000. 0,0307+ ~
~ w 1 =0,17 mm

1 <l>t crs 3·crs 1 20 23,12 3·23,12


w 2 = 10. 2 ·T\b -0,75. Es . fctk =lo. 2 ·1,5-0,75 21.000 0,22

~ w2 =0,31 mm

w =0,17 mm < wlim =0,2 mm (ok!)

4.4 DEFORMAÇÕES
Tendo sido ultrapassado o estado limite de formação de fissuras (ver item 4.1), a posição
da linha neutra e o momento de inércia serão calculados através das fórmulas de Branson.

a) Cálculos preliminares

Combinação quase-permanente das ações: \jf 2 = 0,2

Posição da linha neutra para situação equivalente:

2 2
X = -271)
'- ,5 · 22 07 + [1- (271)
- ' - ,5] ·15,51 < 22 07
e ( 105,1 ' 105,1 - '

Xe = 15,73 em

29
Momento de inércia para situação equivalente:

3 3
27 1 ) ·147.340+ [ 1- ( lO;,l
le = ( lO;,l 27 1 ) ] ·82.874::;; 147.340

Ie = 83.980 cm4

b) Estimativa das flechas

Ação quase-permanente:
Pd,qp = gk +'1'2 ·qk = 40+0,2·10 ~ Pd,qp = 42 kN I m = 0,42 kN I em

Ação suplementar:

Pd,sup = (1- '1'2)· qk = (1-0,2)·10 ~ Pd,sup = 8 kN I m = 0,08 kN I em

Módulo de elasticidade do concreto:

Ec =0,9·6.600·-Jfck +3,5 =0,9·6.600·.J25+3,5

Ec = 31.711 MPa = 3.171,1 kN I cm 2

Flecha imediata da ação de longa duração:


Tabela 3.2a (PINHEIRO, 1993):
4
5 Pd,qp ·i! 5 0,42·4104
ail = 384 · Ec ·le - ail = 0,58 em
384 3.171,1· 83.980

Flecha total para ação de longa duração:


Xe 15,73
P=2·Px+l=2·ct+l=2· , +1 ~ P=t,86
36 5

atl = P · ail = 1,86 · 0,58 ~ atl = 1,08 em

30
Flecha imediata para ação suplementar:

Pd,sup 0,08
ais = ·ai! = · 0,58 ~ ais = OJ 1 em
Pct,qp 0·42

Flecha total:
atot = atl +ais = 1,08 + 0,11 ~ atot = 1,19 em

c) Verificações
f_ 410
atot = 1,19 em < 300 = 300 = 1,37 em (ok!) (contraflecha desnecessária)

f_ 410
ais= 0,11 em < -=-=082cm (ok!)
500 500 '

BffiLIOGRAFIA

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32

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