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Parasitoses Intestinais

 Introdução
Segundo dados da OMS, as parasitoses intestinais representam o conjunto de doenças mais
comuns do globo terrestre. Além disso, na atualidade, há um incremento das parasitoses intestinais à
custa das protozooses, com o surgimento do HIV (protozoários emergentes como o
Cryptosporidium parvum).
Apesar de existir a muitos anos a infecção por parasitas intestinais representa um grave
problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento, pois além de sintomas
digestivos, podem contribuir para desnutrição, baixa estatura, anemia e atraso no desenvolvimento
dessas crianças.
A maior importância se relaciona ao efeito nocivo sobre a nutrição das crianças, no
crescimento e desenvolvimento cognitivo, reduzindo a escolarização, causando um impacto
negativo sobre a produtividade no futuro, geração de barreira econômica, piora os níveis de
pobreza. Assim, mais do que um problema pra saúde, representam um entrave no desenvolvimento
humano e econômico das nações, fazendo com que percebamos o tanto que essa patologia é
negligenciada.

 Epidemiologia
Apesar da grande relevância das parasitoses dentro do contexto de saúde pública, poucos
estudos epidemiológicos são realizados, principalmente pelo fato de estarem mais ligados à países
em desenvolvimento: pobreza; condições precárias de saúde; falta de recursos em pesquisas;
dificuldades na realização dos exames coproparasitológicos, com poucos dados epidemiológicos.
A infecção por parasitoses intestinais atinge:
- Cerca de 3,5 bilhões de indivíduos no mundo;
- Responsáveis por complicações como diarreia severa e desnutrição em aproximadamente
450 milhões de pessoas;
- Estima-se que 438,9 milhões de pessoas foram infectadas por ancilostoma em 2010, 819
milhões por A. lumbricoides e 464,6 milhões por T.trichiura;
- Cerca de 280 milhões de casos registrados por ano por Giardia lamblia, e uma prevalência
superior a 50% em países em via de desenvolvimento (em países desenvolvidos, afeta 2% de
adultos e 6 a 8% em crianças e nos em desenvolvimento de 20 a 60%).

 Prevalência no Brasil
Geral: 15 a 80% Escolares: 23,3 a 66,3%
Lactentes: 15% Poliparasitismo: 15 a 37%

 Variação de taxas das enteroparasitoses no Brasil:

Ascaridíase: 16% - 41% Ancilostomíase: 2% - 17%


Tricuríase: 11% - 40% Estrogiloidíase: 1% - 9%
Giardíase: 6% - 44% Enterobiose: 2% - 4%
Amebíase: 4% - 23% Teníase: 0,04% - 1,2%

Em relação aos helmintos, a ascaridíase é a principal. Entre os protozoários, a giardíase é a


mais recorrente. Essas taxas são também encontradas no mundo, sendo os mesmos os mais
prevalentes.
No Brasil, há uma tendência para o declínio na prevalência de helmintíase transmitidas pelo
solo (HTS), compreendendo o A.lumbricoides, T.trichiura, N.americanos e A.duodenale, com
número atual de 9,3 milhões de pré-escolares e escolares que seriam candidatos a receberem a
quimioterapia profilática. Estes números significariam quase 11% da população.
O Brasil, a partir de 2016, saiu da situação endêmica de HTS, não necessitando mais de
administração em massa de medicações anti-helmínticas. Atualmente, nosso país e se encontra em
vigilância.

Apesar de existir tratamento, eficaz e seguro, as taxas de reinfecção ainda são elevadas. A
prevalência no país é alta devido às más condições de habitação, residências sem agua encanada e
redes de esgoto e baixo nível educacional.
Esses fatores epidemiológicos relacionam-se diretamente aos modos de transmissão das
parasitoses, onde a maioria se faz pela ingestão de alimentos e água contaminada pelos cistos dos
protozoários e ovos dos helmintos.
A falta de um saneamento básico e condições socioeconômicas e ambientais ruins dão
condições para que continuemos tendo altas taxas de parasitoses intestinais.
Também há transmissão através da penetração de larvas do solo, ingestão de cisticercos em
carnes e a penetração de cercaria na pele.

 Etiologia
 Protozoários (patogênicos e comensais)

Patogênicos: E. histolytica, G. lamblia, Cryptosporidium parcum, Cystoisospora belli,


Microsporídia, Dientameba fragilis, dentre outros.
Comensais: Entamoeba coli, Endolimax nana (protozoáris que quando encontrados não
necessitam de tratamento).
G. lambia e complexo Entamoeba histolitica e díspar são os que apresentam maior interesse na
assistência à saúde
 Helmintos (Nematelmintos e Platelmintos)

Nemaltemintos (cilíndricos, geo-helmintos: o ciclo de vida deles e a contagiosidade é através do


solo, no ambiente): Enterobius vermiculares (oxiúros), Trichuris trichiurus, Necator americanos,
Ancylostoma duodenale, Strongyloides stercoralis, Ascaris lumbricoides.
Platelmintos (achatados, bio-helmintos): Cestodeos (Taenia solium – Hosp. Intermediário =
porco/ e T. saginata - Hosp. Intermediário = boi), Hymenolepis nana (artrópodes), Diphylobothrium
laturn (peixes), Trematodeos, como S. mansoni (caramujo).

 Ciclo de Vida
O ciclo de vida dos agentes é variável de acordo com cada parasita, bem como a localização
no trato gastrointestinal e também a forma de contágio.
- Ovo, larva e adulto nos helmintos.
- Cisto, oocisto, trofozoitas nos protozoários.
 Quadro Clínico
Intensidade das manifestações depende de fatores individuais (desnutrição,
comprometimento imunológico), parasitários (carga parasitária e virulência) e ambientais
(habitação sem saneamento básico, hábitos higiênicos inadequados).
Há fatores associados a quadro clínicos mais graves como desnutrição e imunossupressão.
Na sua grande maioria oligossintomáticos ou assintomáticos;
Os sintomas são geralmente inespecíficos: diarreia, náusea, vômito, dor abdominal
inespecífica, flatulência, distensão abdominal, má absorção, irritabilidade, desnutrição…
A desnutrição (surgimento ou agravamento de quadro pré-existente) é desencadeada de
várias maneiras, dependendo do agente:

Giardia lamblia: lesão de mucosa, alteração de sais biliares, atrofia vilositária em vários
graus no intestino delgado -> infiltrado inflamatório e hipertrofia das criptas, lesões nas estruturas
dos enterócitos, invasão da mucosa, desconjugação dos ácidos biliares -> má absorção de açúcar,
gorduras, vitaminas A, D, ácido fólico, zinco e ferro.
Cada parasita pode se apresentar com uma clínica mais específica, principalmente em
virtude de sua localização no intestino e algumas manifestações podem auxiliar na diferenciação
das doenças.
Dentre as manifestações principais que sugerem o agente, temos:
- Infestação com tendência a suboclusão e até obstrução intestinal na ascaridíase;
- Prurido anal na oxiuríase (quando a fêmea vai para a região anal, coloca os ovos e depois
morre no local -> causa um prurido intenso – mães param no PS de madrugada com as crianças).
Em meninas -> oxiuríase pode migrar para genitália, causando vaginite secundária;
- Prolapso retal na tricuríase, assim como enterorragia.
- Anemia importante por expoliação na ancilostomíase e necatoríase (O verme adulto –
ancilóstomo – se fixa na mucosa do duodeno e jejuno, acarretando perda de sangue, o verme suga o
sangue e vai mudando de lugar ao longo do intestino, deixando superfície afetada que continua
sangrando, levando a esses quadros de anemia amis importantes).
- Disseminação séptica na estrongiloidíase em imunodeprimidos (grave, alta taxa de
mortalidade).
- Convulsões na neurocisticercose por T. solium.
- Tenesmo na teníase em geral.
- Hepatoesplenomegalia na esquistossomose.
- Síndrome de Loeffler (migração errática para via respiratória de alguns parasitas) NASA:
Necator, Ascaris, Strongyloides e Ancilóstomo -> parasitas com ciclo pulmonar -> Sintomas
respiratórios leves, ou ausência destes, sendo a tosse o mais frequente, podem estar presentes
opacidades pulmonares migratórias e efêmeras, eosinofilia sanguínea periférica.
Nas Protozooses:
- Sind. Disabsortiva na giardíase.
- Disenteria sanguinolenta e abscesso hepático na amebíase.
- Diarreia do imunossuprimido na criptosporidíase.
O mais comuns no dia a dia são a Giardia lamblia e a Entamoeba histolytica.

 Diagnóstico
Além do aspecto clínico e dados epidemiológicos, o diagnóstico pode ser complementado
pelos exames laboratoriais.
- Acometimento de várias pessoas da família: pensar em oxiuríase (clínica de prurido anal) –
exames parasitológicos com baixa sensibilidade - ou giardíase, pela facilidade de disseminação
desses parasitas.
- Habitantes de áreas rurais: alta prevalência de parasitas com ciclo larvário
(Estrongiloidíase, Necator, Ancilóstomo)
- Imunossuprimidos: mais susceptíveis a infecção por protozoários (Cryptosporidium).
- Não podemos contar só com o exame laboratorial, temos que ver a clínica e os dados
epidemiológicos.
O método do exame: direto das fezes a fresco pode determinar qualquer parasitose, mas com
baixos níveis de sensibilidade.
Ideal no pedido parasitológico de fezes sugerir o parasita, especificar o método, coletas
seriadas das fezes, isso porque esses métodos tem pouca sensibilidade, e sugestão do verme pode
aumentar a sensibilidade do método.
Ex: suspeita clínica e epidemiológica de esquistossomose -> colocar essa suspeita no pedido,
ou solicitar método mais específico que é o Kato-Katz.
Suspeita de oxiúros: sugerir fita gomada (mais específica).
Para contemplar todas as formas dos helmintos e protozoários e melhorar a sensibilidade dos
exames, realizar a coleta das fezes, pelo menos 3 amostras durante o período de 10 dias.
A chance do diagnóstico é maior.
Exames Inespecíficos (direcionam para as hipóteses diagnósticas):
- Hemograma: Eosinofilia (muito intensa na Esquistossomose. Presente na tricuríase,
estrongiloidiase – suspeitar de uma helmintíase), Anemia ferropriva (Necator, Ancylostoma)
- Sorologias: detecção de antígeno e ensaios de detecção de anticorpos (ELISA,
imunofluorscência direta), importante no diagnóstico do S. stercoralis. Técnica de detecção de
coproantígeos (Strongyloides e ancilostomídeos). São mais invasivos e estar positivo, presença de
anticorpos, não é indicativo de uma infecção ativa.
- Testes de biologia molecular: PCR (detecção rápida e quantificação de ovos de helmintos).
- Escarro: presença de larvas em casos de ascaridíase, ancilostomose ou S. stercoralis.
(vermes que fazem o ciclo de loffer)
- Rx de tórax (Síndrome de Loeffler), Rx de abdome (Semioclusões e obstruções por
Ascaris), USG de abdome (Abcesso hepático da Amebíase),
- Retossigmoidoscopia (Ex: Esquistossomose)

 Diagnóstico das infecções intestinais por protozoários


 Recomendações de estratégias coletivas de combate e tratamento
- A OMS propõe intervenções de controle baseadas na administração periódica de anti-
helmínticos para pré-escolar e escolar.
- A estratégia de tratamento comunitário requer o levantamento da prevalência e intensidade
da infecção na comunidade, para determinar a carga parasitária da população e o planejamento.
- A OMS não recomenda rastreamento individual (devido ao encarecimento).
- Recomenda tratamento empírico anual somente em áreas onde a prevalência da HST esteja
entre 20 a 50% da população, e duas vezes por ano em áreas com mais de 50%.
- Os medicamentos recomendados pela OMS – albendazol (400mg dose única), e
mebendazol (500mg dose única).
- A OMS recomenda a disponibilização aos ministérios da saúde nacionais em todos os
países endêmicos o tratamento com estas doses para crianças com idade entre 24 e 60 meses e em
idade escolar. E meia dose de albendazol (200mg/dose) para crianças com 12 a 24 meses de idade.
 Tratamento:
 Aspectos gerais do tratamento:

- Em caso de poli-infestação, quando não houver possibilidade de tratar com uma única
droga, devem-se tratar inicialmente, aqueles vermes que mais facilmente migram do trato
gastrointestinal, como o áscaris e o strongyloides.
- Avaliar a melhor escolha da medicação (faixa etária), condição socioeconômica (valor da
medicação), taxa de eficácia e efeitos colaterais.

 Objetivos do tratamento:

- Diminuição progressiva das parasitoses.


- Em parasitoses, ainda se atua de maneira ampla, devido a alta incidência de
poliparasitismo e pelo fato de coproparasitológicos com grandes quantidades de falso-negativos (os
positivos, realmente são, mas os negativos devemos ficar atentos, pois o exame apresenta baixa
sensibilidade).

 Mecanismo de ação dos antiparasitários (só mostrou a foto, nem falou nada):

 Tratamento Medicamentoso

Antiparasitários mias usados no dia a dia são o albendazol e mebendazol, medicamentos de


1ª linha, com preços acessíveis e ação muito boa (resultado bom), fácil (disponibilizado pela rede
pública – albendazol; ivermectina também é disponibilizado) e eficácia muito boa.
Ficar atento aos aspectos das medicações e faixas etárias.
Ivermectina em crianças acima de 2 anos e acima de 15kg, albendazol tem contraindicações
em doenças hepáticas.
Essas últimas não são frequente no dia a dia e possuem tratamento mais complexos,
demorados e mais longos.
*Lembrar que a Entamoeba coli não há indicação de tratamento pois ela é comensal
*É importante lembra que no tratamento baseado em EPF positivo deve se fazer o controle com
EPF após 15 dias, o que na rede publica é mais complicado.
 Tratamento empírico:

- Referente a idade, em menores de 1 ano, o tratamento deve ser mais específico e feito em
casos confirmados. Não se indica terapia empírica.
É comum a mãe dessas crianças trazerem a queixa de que queriam que passasse remédio sem
queixa de sintomas nenhum e é necessário orientar a mãe que não é necessário farmacologia, apenas
cuidados de higiene.
- Entre 1 e 2 anos, pode-se usar terapia empírica (no caso de sintomas característicos, sinais de
parasitas nas fezes) com mebendazol e metronidazol ou nitazoxanida isolada.
- Em maiores de 2 anos, pode ser usada a maioria das medicações empiricamente ou de acordo
com agente causal, como albendazol por 5 dias, ivermectina (acima de 4 anos, algumas literaturas >
5 e peso > 15kg) e nitazoxanida (medicação de amplo espectro).

Albendazol: Muito utilizado na pediatria, boa eficácia, poucos efeitos colaterais, cobre boa parte das
parasitoses, preço acessível, disponível nas farmácias dos postos de saúde. Contraindicado em
crianças < 2 anos.

 Profilaxia (individual e coletiva)


- Individual: educação sanitária, orientações quanto aos hábitos de higiene, lavagem das
mãos, lavagem dos alimentos, beber água filtrada, o uso de calçados, não consumir carnes cruas.
Evitar contato íntimo com solo possivelmente contaminado com fezes humanas ou de animais.
- Coletiva: Equilíbrio ecológico entre parasita, hospedeiro (sadio, bem nutrido) e ambiente
(eliminação adequada de esgotos e lixo, disponibilidade de água pura, o destino adequado das fezes,
o controle sanitários dos alimentos e melhoria do grau de instrução).
Saneamento básico e tratamento da água e esgoto. Educação e informação à população.
Controle e vigilância dos alimentos, lixo e esgoto. Atualização em parasitoses dos pediatras e
equipe de saúde e programas de tratamento empírico em massa em populações de maior risco.
O controle das parasitoses está intimamente relacionado à melhoria das condições de vida da
população e cabe aos profissionais da saúde centrarem seus esforços para isso.

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