You are on page 1of 32
CARTILHA ANTIPROIBICIONISTA DOS DIREITOS DO USUARIO Andrew Costa Lissandro Garrido secrecy Denis Mello iT) Pre Lod SCAU CHIU Le aM SUE UMC CULT atc CCC ORT Om CORI Ca U PLCC URLCU un Cec R Ue Us coe Renato Cinco, Rodrigo Mattei, Ronald Braga, Thiago Vieira. 6 f =) PACU reek facebook.com/renatocinco Url re Te Cyr eeu LL CeCe ec CLC U CUD MS AMMO UEC Cel Se BCR i i CP. t LE ate HISTORICO DE UMA PROIBICAO 07 GUERRA AS DROGAS OU AOS POBRES? 08 SEQUELAS DA PROIBICAO E MOTIVOS PARA LEGALIZAR 13 PSICODELICOS: LIVRES E CONSCIENTES! 15 CONHEGA SEUS DIREITOS 16 MACONHA TAMBEM E REMEDIO 21 REDUCAO DE DANOS 22 LEGALIZE JA! VEM PRA LUTA 25 CONSTRUA A MARCHA DA MACONHA 31 03 i “ | | 2) | -— ps A ps | om ] O objetivo desta cartilha é informar a populagao em geral, e os usuarios de drogas em especial, sobre a legislacao, as politicas puiblicas, a historia e o contexto atual da proibicdo das drogas no Brasil. Além de abordar questées relativas a satide e ao bem-estar dos usuarios. Primeiramente, é preciso lembrar que tanto o porte quanto o cultivo de maconha (assim como de outras substancias ilicitas) ainda é considerado crime pela legislagao em vigor. Entretanto, a critica dirigida @ atual legislagéo penal eadefesadasua modificagao estao amparadas pelo direito de liberdade de expressdo. Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal ja se posicionou reconhecendo a legalidade das manifestagdes publicas em defesa da legalizagéo das drogas, especialmente da Marcha da Maconha, na ADPF 187. 05 ya SU a te UT aT ea OM LVS Ok ILC A primeira lei sobre drogas da qual se possui registro é uma postura da Camara Municipal do Rio de Janeiro, de 1830, que proibia a venda e uso do “pito de pango”, comoeraconhecido um cachimboe também a propria erva. A lei previa multa ao vendedor e trés dias de cadeia aos que usarem, mencionando expressamente “escravos e demais pessoas”. Nao éatoa que entre os primeiros nomes da erva no Brasil estavam os de origem africana: Fumo d’ Angola, Diamba, Pango... Por muito tempo, fumar maconha (ou markafia) foi visto como um habito tipico dos “pretos africanos” ou “crioulos’, especialmente em suas festas religiosas, os candomblés. Nacionalmente, a maconha sé foi posta na ilegalidade em 1932, quando foi incluida na lista de plantas proibidas. Nessa época uma mesma delegacia combatia a maconha e os candomblés: a “Inspetoria de Entorpecentes e MistificagSes”. Habitos e praticas religiosas tipicos da populacdo negra eram criminalizados e perseguidos, enquanto outras drogas e outros habitos (da popu- lagao branca) permaneciam tole- rados. O racismo e o preconceito estao na origem da proibigao no Brasil. Durante a Ditadura Empresa- rial-Militar, ativistas de esquerda (chamados de “subversivos”), usu- rios (“maconheiros”) e trafican- tes, eram vistos pelos militares como grandes perigos a nacao e chegaram a dividir os mesmos pre- sidios. Assim, no periodo mais au- toritdrio da ditadura - entre 1968 e 1976 - nao havia diferenga entre as penas dos usudrios e dos trafican- tes, conforme estabeleciao Decre- to-Lei 385/1968. Hoje a pena para o trafico de drogas esta entre as mais altas da nossa legislagéo, revelando um pouco da irracionalidade que cercaeste debate. O crime de estu- pro prevé uma pena maxima de 10 anos de reclusdo, o delesao corpo- ral seguida de morte 12 anos. Jaa atual Lei de Drogas estabelece até 15 anos de prisdo para o crime de trafico, que na maioria das vezes n&o envolve qualquer tipo de vio- léncia. 07 Os anos 60 foram uma década de grande agitacao politica. Em todo o mundo ajuventude foi as ruas reivindi- cando direitos, lutando por igualdade e liberdade. Nos EUA aconteciam os fes- tivais de musica e as manifestagdes contra a segregacao racial, crescia o movimento hippie e os protestos contraa Guerra do Vietnam. O conservador Richard Nixon foi eleito presidente dos EUA em 1968, com a promessa de restaurar a leie a ordem. Para ele, a juventude rebelde que usava drogas e escutava rock era 08 == ao ERRA AOS POBRES? uma grande ameaca para a na¢ao. De fato, em 1971 ele declarou que as drogas eram o “inimigo publico numero um dos EUA”, e prometeu uma “ofensiva global”. A partir daf a repressdo contra as drogas, seus usuarios e todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente com elas, s6 aumentou no mundo inteiro. OINIMIGO POBLICO N21 DOS ESTADOS UNIDOS E 0 USO DE DROGAS (Richard Nixon) Apesar dos bilhGes de ddlares gastos na criacao de uma policia es- pecializada no combate as drogas, em armas e equipamentos, na inter- veng¢ao ou “ajuda” militar em outros paises, a guerra as drogas se mos- trou completamente ineficiente Para atingir seus objetivos de acabar comoconsumoeavenda. Entretan- to,se reveloucomouminstrumento eficiente utilizado por governos no controle social e na legitimacao da violéncia exercida sobre as parcelas mais pobres da sociedade. No Brasil, em meio a esta guerra, abusos das for¢as policiais sao legiti- mados e celebrados por grandes jornais como uma conduta aceita- vel. O proibicionismo e a guerra as drogas contribuem para criar a figura do inimigo que pode ser exe- cutado livremente. Assim, qualquer um que se aproxime do esteredtipo do traficante (pobre, preto e favela- do) perde seus direitos enquanto ci- dadao e pode até ser assassinado pelas forgas policiais, bastando que sobre ele paire a suspeita de ser “do trafico”. Por outro lado, j4 vimos como diante da impossibilidade de per- seguir aberta e sistematicamente certos grupos e pessoas,a crimina- lizagao de suas condutas é uma es- tratégia muito utilizada pelo poder. No Brasil, como nos EUA, a proibicao damaconhaeaguerraas drogas significou um duro golpe nos habitos dos negros e da juven- tude inconformada, funcionando como uma justificativa para a re- pressdo dessas e de outras parce- las dasociedade. AGUERRA AS DROGAS SE MOSTROU 7 7 COMPLETAMENTE INEFICIENTE PARA ATINGIR SEUS OBJETIVOS ts a < EL d Re MAIS DE 146 MIL PRESOS POR TRAFICO NAS CADEIAS BRASILEIRAS Em 2013 0 Brasil ja contava, segundo dados do Ministério da Justiga, com mais de 574 mil presos, sendo que 146 mil, ou 25% do total, estavam presos por trafico. Desde 2005, quando soma- vam 32 mil, numero de presos por tra- fico quadruplicou, agravando em muito o cadtico quadro de superlota- ao do sistema carcerario nacional. Muitos apontam a Lei de Drogas de 2006 como responsdvel por esse cres- cimento, ja que, se por um lado ela acabou coma pena de prisdo para usu- arios, por outro aumentou a pena minima parao crime de trafico. 10 DESDE 2005 0 NUMERO DE PRESOS POR TRAFICO QUADRUPLICOU Frequentemente pequenos trafican- tes sdo condenados a penas de 8 anos ou mais de reclusdéo em regime fecha- do. Além disso, muitos usuarios conti- nuam sendo condenados como trafi- cantes diante da falta de critérios claros para distingao entre as duas condutas, como explicaremos mais adiante. Ao contrario do.que muitos podem pensar, a maioria dos condenados por trafico no Brasil é de réus prima- rios, sem associagaéo com o “crime organizado”. Foram presos sozi- nhos, desarmados e com pouca quantidade de droga, que na maior parte das vezes era maconha. nu A pesquisa “Trafico e Constituicgao COORDENADA PELAS PROFESSORAS LUCIANA BoITEUx/UFRJ E Eta Wiecko/UNB, MOSTROU QUE ENTRE OS ACUSADOS POR TRAFICO NO RIO DE JANEIRO, ENTRE OUTUBRO DE 2006 E MAIO DE 2008: - 84% sao homens; + 66% sao réus primarios; - 91% foram presos em flagrante; - 60% estavam sozinhos quando foram presos; - 14% apenas portavam armas no momento do flagrante e da prisdo; 3 8% foram presos com cocaina; % foram presos com maconha; % portavam menos de 100 gramas de maconha; 58% estao condenadosa penas de 8 anos ou mais de reclusdo em regime fechado. 11 12 MULHERES E A + oes 68% DAS MULHERES ENCARCERADAS ESTAO PRESAS POR TRAFICO DE DROGAS, A MAIORIA DELAS POR SEREM UTILIZADAS COMO “MULAS”. a LE hale CRIMINALIZACAO DAS DROGAS O crime de trafico de drogas é, de longe, o que mais encarcera mulheres no Brasil. Em 2014 havia 37.380 mulhe- res encarceradas, sendo 68% presas poresse delito. Assim como em toda sociedade, o ma- chismo também se faz presente no contexto das drogas. O trafico que en- carcera tantas mulheres ocorre, em sua maioria, nos episddios em que elas sao utilizadas como “mulas” para o transporte de substancias ou quando tentam levar drogas aos seus compa- nheiros presos. Essas situacdes de- monstram que a posicao privilegiada dos homens nos espacos sociais por vezes se reflete na_ estrutura hierarquica do trafico e nas relacées de poder dentro das famflias que per- manece apesar da auséncia do com- panheiro preso. Como se nao bastasse, a posicao dausuaria de drogas é bastante cruel. Amulher entorpecida fica ainda mais vulneravel, poisaquelaque exercesua liberdade ao corpo alterando sua consciéncia é tida como indigna, nao sendo merecedora de qualquer direi- to. Mesmo apds ser vitima de estu- pros etoda:’ sorte de agressGes, a usu- ariacontinuasendo vitimado machis- moaoser tratada como culpada pela violéncia sofrida ou tendo seus rela- tos ignorados sob o argumento de que estaria “doida”. APROIBICAO MATA. OMACHISMO TAMBEM. Sail! aut E MOTIVOS PARA LEGALIZAR... Muitas mentiras e mitos sobre as drogas sao disseminados por diversos motivos: ig- nordncia, preconceito e por interesses eco- némicos, jd que existemsetores quelucram coma proibicao. Legalizar significa ampliar oacesso a informagées verdadeiras e uma educagdo sobre drogas honesta e de qualidade. Essa medida ainda facilitaria a Pesquisa sobre usos e efeitos das drogas atualmentelicitas. Eclaroquetodasasdrogastrazemalgum danoa satide, algumas mais outras menos. Mas n&o é a preocupacdo com a satide dos cidadaos que move aqueles quede- fendemaproibigao. Alcooletabacoestao entre as drogas que causam mais danos e sdo mais viciantes. Por outro lado, a maco- nhaeoLSD,ambas ilegais no Brasil, sao con- sideradas menos danosas e pouco viciantes pelosespecialistas. As consequéncias € os efeitos colaterais da proibigéo trazem problemas muito maiores do que as drogas em si. A ilegalida- de das drogas alimenta uma série de prati- cas que trazem problemas paratodos: cor- rupgao nas policias e no judicidrio (e@xigéncia de arrego, propina, trafico de in- fluéncias), produgéo de provas ilicitas (flagrantesforjados) etc. Além do consumo de drogas de origem e composigao duvidosa, o que fazcom que ousuadrio nao saibao que esta ingerindo. Legalizar é preciso para reduzir a vio- léncia e 0 poder do trafico. Hoje, as drogas sao um mercado triliondrio posto na ilegalidade. A repressao e a criminaliza- ao nunca impediu o comércio de drogas, sdodeixou mais violento, gerando mortes de policiais, de traficantes e de outras pes- soas que sao vitimas de uma guerra perdi- da. A proibigao viola direitos e liberda- des fundamentais. A Constituicao Fede- ralestabelece o direitoaintimidadeeavida privada.|ssosignifica que cadapessoadeve ter a liberdade e a responsabilidade de fazer o que bem entender com seu corpo. O Estado nao tem nada a ver com isso, é inaceitével que uma norma estabeleca quais plantas ou substancias uma pessoa adultapodeoundoconsumir. A guerra as drogas é uma guerra aos pobres. A proibicao é seletiva:apesar do consumo e comércio de drogas ocor- rerem em todas as classes sociais, so os jovens, os pobres, os negros, os morado- res de favelas e periferias, aqueles que mais sofrem com essa guerra inutil. Sao eles os encarcerados por longosanos em PrisGes precdrias e superlotadas, ou Mortos nas ages policiais de “combate” aotrdfico. Sem o fim da “guerra as drogas” nao haverd desmilitarizag&o.Eaproibicioe a”guerraas drogas” que alimentamamili- tarizacao das atividades policiais. O pre- texto paraoperagées militares nas favelas, como se fossem territérios inimigos que nao merecem o mesmo tipo de policia- Mento que outros locais de moradia, é 0 combateaotréfico. PSICODELICOS: LIVRES E CONSCIENTES! Recentemente, houve um cresci- mento dos casos da adulteracao de substancias sintéticas e semissinté- ticas. O famoso doce (Acido ou LSD), tal como a bala (MDMA, ecs- tasy) nem sempre € o que parece ser. Em 2012 surgiram os 25x-NBOMe, um conjunto de substancias que cabem em um pequeno papel de LSD. Como os NBOMe sao mais es- taveis e mais baratos, vende-se gato por lebre-emum mercado desregu- lado. Para o usuario, isso faz muita diferenga, pois ja houveram diversas hospitalizagGes e mesmo usos fatais de NBOMes. Por outro lado, o LSD tem uma margem de seguranca muito supe- rior. Uma das formas de identifica- Gao é o gosto: enquanto o LSD tem gosto levemente metalizado (ou sem gosto), os NBOMe sao bastante amargos e podem deixar a lingua dormente. Em 2014 a ANVISA proi- biu,sem estudos prévios, 11 substan- cias do grupo 25x-NBOMe. Os riscos, infelizmente, nado cessam, pois o LSD pode ter diversos adulte- rantes... Tal como o doce, a bala oferece riscos semelhantes. Apenas cerca de metade das balas oferecem sua substancia original: © MDMA. Dentre as substancias perigosas que podem ser encontradas nas balas, esta o PMA (téxicae demora mais tempo para fazer efeito). Exis- tem ainda os riscos inerentes de se utilizar ecstasy em uma festa e dangar por horas a fio. Para estes psiconautas é fundamental um consumo moderado e constante de agua, que permanegam resfria- dos (para evitar a hipertermia) e que descasem algumas vezes. As proibig6es estimulam que o mercado crie novas substancias que, inicialmente, permanecem dentro da legalidade, mas, do ponto de vista da satide, oferecem riscos pela falta de conhecimento sobre seus efeitos. A efetiva legalizagao do uso de psicodélicos, regulamentando os usos psicolégicos e médicos, pode contribuir nado apenas para reduzir riscos e danos aos usuarios, mas igualmente paraajudar muitas pes- soas com transtornos mentais edo comportamento. 15 Atualmente,éaLei11.343,de23deagosto de2006,quedispdesobreas politicas publi- cas sobre drogas e estabelece as normas pararepressaoaotraficono Brasil. Umadas principaismudancasfoiofimda pena de prisdo para os usuarios. Segundoa lei,aquele que porta drogas”para consumo pessoal” pode ser submetido as penas de adverténcia, prestacdio de servigos acomu- nidade e medida educativa de compareci- mentoaprogramaoucurso (art. 28). Entre- tanto, na realidade, muitos usuarios sao presos como traficantes, especialmente se for pobre, negrooumorador dealgumaco- munidade. & DESDE AGISTO. DE 2006 USUARIOS NAO PODEM MAIS SER PRESOS Ja aquele que for enquadrado como traficante, ou seja, quem ”im- portar, vender, trazer consigo, en- tregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente”, nas palavras do art. 33, podera ser condenado a pena de 5a 15 anos de reclusdo. Para que se configure a conduta de trafico de drogas exige-se a inten¢do de passar a droga para outras pessoas. Usuario ou traficante? Quando alguém é flagrado com subs- tancias ilicitas, cabe ao juiz (ou autoridade policialnoprimeiromomento),conforme Oartigo 28, pardgrafo 2°, da Lei 1343/06, aveliar se a droga destinava-se ou nao a consumo pessoal, com base nos seguin- tes critérios: a natureza e quantidade da substancia apreendida; o local eas condi- gOesem quese desenvolveuaacao;as cir- Cunstancias sociais e pessoais,acondutae ‘os antecedentes da pessoa com quem a drogafoiapreendida Na pratica, essa classificagéio comega na delegacia de policia, geralmente com basenasdeclaragdesdaPM. Seodelegadoimputaraocidadadoapra- tica do crime de trdfico, é lavrado um auto de prisdo em flagrante eo preso pode ser encaminhado ao sistema pri- sional. Por outro lado,no caso de posse de droga para consumo pessoal, 0 acusa- do é encaminhado para a Delegacia onde deverd assinar 0 termo de com- Promisso de comparecimento ao Jui- zado Especial Criminal, e depois libera- do. Nao existe pena de prisdo, em ne- nhumahipétese, parao usuario. 7 RODEI, EAGORA? é G wren rcum 18 ENAO ACEITE PROVOCACOES. VOCE NAO E OBRIGADO ADIZER NADA ALEM DOS DADOS PARA SUA IDENTIFICACAO. Primeiro, tente manter a calma, nao dis- cuta nem aceite provocagées do policial. Vocé nao é obrigado a dizer nada além dos dados necessarios para sua identificacao (nome, data de nascimento, endereco). Re- comendamos que vocé sempre ande com seus documentos deidentificagao,mas nao crime andar sem eles, nao existe prisdo “paraaveriguagao” ou para “puxaraficha”. Vocé sé pode ser detido em caso de fla- grante delito (posse de drogas, por exem- plo)ousehouvealgumaordem judicial para suaprisdo. Nadelegaciavocé tem direitode ser acompanhado por um advogado e de s6 falar em julZo, ou seja, somente dar o seu depoimentoquandoestivernapresencade umjuiz. O Cultivo caseiro de maconha (ou (ULTIVOCASEIRO qualquer outra droga), mesmo que para consumo préprio, ainda é crime. Assim, quem cultiva, “para seu consu- mo pessoal plantas destinadas a pre- paragao de pequena quantidade” de drogas pode ser submetido as mesmas penas de quem porta drogas para consumo prdprio: adverténcia, Prestacao de servicos e compareci- mento a curso educativo (art. 28, § 1°, daLei11.343/2006). Entretanto, muitos cultivadores sdo enquadrados como traficantes, uma vez que 0 cultivo para fins de tra- fico também esta previsto na Lei de Drogas (art. 33, $19, Il). O preconceito, a desinformacao e o fato da lei ser vaga dao brechas para a arbitrarieda- de dos policiais e do sistema judicial e acabam levando muitos cultivadores caseiros paraacadeia. OLHO VERMELHO NAO E CRIME O consumo de drogas em si nao é crime, mas sim 0 fato de adquirir, guardar, transportar ou trazer consigo drogas clas- sificadas como ilfcitas. Voc€ sé pode ser levado para a delegacia se estiver com alguma droga ilicita no momento da de- tencio, Assim,ndoexiste crimese naéoforcom- provado que aquela substancia apreendi- dase trata de uma drogailcitalistada pela Anvisa (Agéncia Nacional de Vigilancia Sa- nitaria,do MinistériodaSatide). E preciso haver prova material, ou seja,aapreensaodecertaquantidadede droga, parahaver condenagao. Como ja dizia o mtisico Bezerra da Silva: “Nao tem flagrante porque a furmaga jé subiu pra cuca /Deixando os tiras na maior sinuca/(..) /Quem aper- tou, queimou jd esta feito/Se nao tivera provado flagrante nosautos do inquéri- toficasemefeito-digala’. 19 INVASAO DE DOMICILIO DeacordocomaConstituigao Federal,a casa,entendidadeformaamplacomoqual- quer espaco habitado ou que se exerga umaatividade profissional,’éasilo inviolavel doindividuo, ninguémnela podendo pene- trarsemconsentimentodomorador,salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou paraprestar socorro, ou, durante o dia, por determinacao judicial’. bb casné asin INVIOLAVEL Do NDIDUD (Constituigao Federal) Assim, a inviolabilidade do domictlio so- mente pode ser quebrada em caso de crime em flagrante, desastre ou para pres- tar socorro - em qualquer hordrio. E ainda, durante odia (das 6has 18h) com mandado assinado por um juiz. As provas obtidas em buscas domiciliares fora destes parame- tros constitucionais sao ilicitas e nao podemser utilizadasno processo. OQUEE TRANSACAO PENAL? Atransacao penal é proposta pelo Mi- nistério Publico antes do oferecimento dadenuncia(pegainicialdoprocesso)ao juiznoscasosdecrimesdemenor poten- cial ofensivo (porte para consumo pes- soal, por exemplo). E uma espécie de “acordo” entre o MP e o suposto autor docrime,ondeesteaceitaaplicagdoime- diatada pena, e em trocao processoter- minaali. As penas, quando aplicadas em tran- sagao penal, nao valem para efeitos de reincidéncia nem constardo de certi- d6esdeantecedentescriminais. Diferen- te do que ocorre quando ha sentenga condenatéria. Geralmente a transacéo penal impede outrano periodo de cinco anos. Emrelagaoao usudrioissonaoacontece quando ele reincide na conduta relacio- nada coma posse de droga para consu- mo pessoal, ouseja, o usuario pode fazer varias transagGes penais, dentro ou fora desse lapso temporal (em razdo do porteparaconsumode droga). O uso medicinal da maconha é uma realidade de longa data. Na mais antiga farmacopeia da humanidade, a chinesa Pen-Ts’ao Ching de 2.723, a, é descrito o efeito analgésico, anticonvulsivante e tranquilizante da cannabis. Infelizmente a politica proibicionista no século XX fez uma campanha pesada para desqualificar Opotencial terapéuticodesta planta. A maconha reconquistou espaco na drea da satide em 1996, quando um plebiscitono estado da Califérmiaaprovou © uso medicinal da maconha. Hoje, 23 estados dos EUA possuem legislacao semelhante. O mesmo acontece em paises como Canada, Israel, Republica TchecaeEspanha. Nestes locais a maconha é receitada para pacientes com cancer (contribuindo para o alivio das dores e desconfortos decorrentes da quimioterapia), para estimular © apetite em pacientes HIV positivos, ajudar no controle da pressdo intraocular de pessoas com glaucoma, entreoutros. No final de 2013 0 Uruguai legalizou 0 uso recreativo e medicinal da maconha. Nos EUA, 0 mesmo aconteceu nos estados do Colorado, Washington, Oregon, Alascae Washington DC (EUA). Em margo de 2016, foi divulgada resolucao da Anvisa que autorizou a prescrigdo e importacao do canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabidiol (THC), canabinédides da maconha, no tratamento de criangas e adolescentes portadoresde epilepsias refratarias. Essa medida coloca o controle do uso medicinal nas maos da industria farmacéutica e criminaliza quem planta o prdprio remédio. Quem se arriscar a usar maconha no tratamento fora das limitagSes citadas acima pode sofrer as Mesmas punigGes de um usuario recreativoeomeédico que receitar pode seracusado detréfico de drogas. 21 ae a ATS AReducaiodeDanos (RD) éumaestraté- gia utilizada para reduzir riscos e danos as- sociados ao uso problematico de drogas. Elaéconstituida por principios e ages que naotém como focoevitar completamente © consumo, Os principios de tolerancia, pragmatismo ecompreensdo da diversi- dade saofundamentais paraplanejaracoes querespeitemasingularidadedecadaume Oprotagonismo dos usuarios notratamen- to. Tolerancia porque evita a compreen- sao moral sobre os comportamentos rela- clonados ao uso de drogas. Pragmatismo. porque entende que, na pratica, muitos usuarios nado querem endo precisamaban- donar o uso de drogas para iniciar o trata- mento. Compreensdo da diversidade pois percebe que cada projeto terapéutico singular em seu processo e depende do seuprépriotempo. As estratégias de RD sao muitas, como por exemplo, adistribuigdo de seringas e cachimbos — para evitar 0 compartilha- mentoepreveniratransmissaodedoengas contagiosas — ou a criagao das salas segu- ras paraosusudriosfazeremoconsumode drogas comassisténciamédica. 22 Temos também a substituigéo de drogas mais pesadas por outras mais leves docrack pelamaconha,porexem- plo). Outras politicas mais abrangentes visam informar sobre os riscos reais do uso de drogas e sobre os maleficios da criminalizagéodo usuario. Eamaconha comisso? -Quem disse que maconha nao vicia? Dentre os usuarios de maconha,cerca de 9% podem se tornar dependentes algum dia. Ainda assim, a cannabis é menos viciante do que outras drogas, como alcool ou tabaco (a nicotina tem. umataxadedependénciade32%). -Puta sequela! Ousodemaconhaatrapalhaamems6- ria e o aprendizado até o dia seguinte, pelo menos. No caso do uso diario, esses efeitos podem durar semanas. Algunses- tudos também ja mostraram que ela di- minui muito a concentracgao ea coorde- nagdomotora.Sefumar ndodirja! -Tabaconha Emuitocomumousodeumpoucode tabaco para enrolar junto com a maco- nha ou haxixe no “baseado”. S6 que esse. comportamentoaumentaosdanos para © sistema respiratério e ainda pode causardependénciaemtabaco. -Bongada Obongéumaformadereduzirdanos cau- sados pelofumo.Adgua, preferencialmen- te gelada (pedras de gelo também sao usadas), diminuiatemperaturadafumaca inalada. Elatambémserve como filtro, pois retém impurezas presentes na maconha. Recomenda-se cuidado para nao beber a gua e sua troca apés cada uso para evitar insetose bactérias. ~Sem pressao! Segurarafumagapormuitotempondaofaz com que vocé fique mais chapado, sé au- mentaa quantidade de toxinas no sistema respiratério.Outrapraticafrequenteéade “dar pressdo” (a pessoa, tampando bocae nariz, faz forga no abddmen como se qui- sesse soltar a fumaca), isso pode ser preju- dicial para o sistema circulatério e para 0 canalauditivo. ~Passaagoma? Asalivapodetransmitir doengas contagio- sascomoaherpes. Oidealserianaotocara boca no baseado ao dividi-lo com outras xv“ -Vaporizando! Emenos prejudicial paraosistemarespira- tOrio do que fumar em si. A principal dife- rengaéaausénciadacombustao.Ovapori- zador esquentaamaconhaatéatempera- turadesejadaparaliberarsomenteoscana- bindides desejadas. Alguns estudos mos- tram que os vaporizadores permitem inalarumaproporgéomaiorde THCemre- lagdoastoxinaseacalcatrao, -“Engessaram” o baseado! Quanto menos voltas vocé der na horade apertar 0 baseado, melhor. Quanto mais papel se furna, maior é a quantidade de furmaga produzidaeaiirritagao paraosiste- zem menos furnaga do que papéis com aditivos (Sabores)outinta (coloridos). es i 7 ate Nee ay aT) A luta antiproibicionista vem crescen- do,mas também crescem no Brasilas rea- gGesconservadoras. Em Brasilia, no Congresso Nacional, temos a composicao mais reacionaria desdeosanos da Ditadura,Com RenanCa- lheiros presidindo o Senado, Eduardo Cunhaa Camara dos Deputados, eacons- tituicéo da “Frente Parlamentar contra a Legalizacgao das Drogas”, o cendrio nao é nadaanimador. Precisamos nos organizar eresistir! Ainda esta em tramitacao no Senado o PLC 37, do Deputado Osmar Terra. Esse projeto é uma ameaca de retrocesso em relacaioa Lei de Drogas eas conquistas an- timanicomiais da reforma psiquiatrica, ja que prevé o aumento da pena paraotrdfi- Co, alémdeestimularainternagao forgada de usuarios eo repasse de verbas puiblicas paraclinicas que realizam tratamentosreli- giosos. Maconheiras e maconheiros, integran- tes de um grupo social oprimido, tém sido Protagonistas da resisténcia ao populari- zar © fracasso da politica de guerra as drogas com as Marchas da Maconha. No. entanto, é fundamental que cada vez mais setores da sociedade compreendam que © proibicionismo nao afeta apenas usudarios, mas que implicaem mode- los excludentes de satide, educacao ede seguranga ptiblica. Foi por conta dessa resisténcia que, durante o ano de 2014, algumas maes puderam falar abertamente sobre o uso medicinal da maconha. Criangas com crises convulsivas ga- nharam o direito de importar o CBD (canabidiol) para seu tratamento. Mas sdisso nao basta. NoSTF,aindaesta paraser julgado © Recurso Extraordinario 635659 que pode declarar inconstitucional, por ofensa ao principio da protegao da intimidade e da vida privada, o art. 28 da Lei de Drogas, dando mais um Passo para a descriminalizagéo do uso. Precisamos pressionar para que ojulgamentoacontega! O tabu sobre a maconha foi que- brado eo debate a respeito da legali- Zacao esta instaurado. Masanossavi- téria, com o fim da guerra as drogas, nao sera poracidente! eR SUT AS Nossavitérianaoserd poracidente, poissdalutacoletivaconquista direitos. Conhega e participe dos movimentos e coletivos que lutam contraaproibicao ea guerraas drogas, em defesadalegalizacao. x} < > Aland Setorial de Politicas sobre Drogas do PSOL “7<~ Setorial do Partido Socialismo e Liberdade que retine os militantes antiproibicionistas do partido com o objetivode pensar umanovapo- \iticasobredrogas. facebook.comsetorialpoliticasobredrogasdopsol x Movimento pela Legalizagao da Maconha/ MLM Além de pare da construcao da Marcha da Maconha em varias cidades, o MLM se prope a lutar pela legalizacao cotidiana- mente, através de debates, semindrios, publicagdes, atos ptiblicosetc. facebook.com/MovimentopelaLegalizacaodaMaconha Cultura Verde Coletivo pee € antimanicomial que se organiza na cidade de Niteroi/ RJ. Aberto e horizontal, procura fazer a interlocu- Gaoentreas duas pautas. www.culturaverde.org Frente Estadual Drogas e Direitos Humanos / RJ Espaco de articulacao politica que retine organizacdes, movi- mentos, trabalhadores da satide e militantes que lutam por uma nova politica sobre drogas e contra violagdes de direitos huma- nos. facebook.com/FrenteEstadualDrogasEDireitosHumanosRj 27 ee Planta na Mente Primeiro bloco carnavalesco do Rio de Janeiro alevantar bem alto a bandeira da legalizacao. O Planta desfilana Lapa ie *quarta-feira de brasas” e participa da Marcha da Maco- nha. www.fb.com/PlantanaMente Law Enforcement Against Prohibition / LEAP Brasil A LEAP (Agentes da Lei Contra a Proibicao) é formada porintegrantes das forgas policiais e da justia criminal que defendem alegalizacao. www.leapbrasil.com.br SF tempadio Blog jornalistico com histéria, atualidades e humor sobre a cultura canabica. Foi responsdvel pelo primeiro Festival Nacional da Cultura Canabica. www.hempadao.com RUA-Juventude Anticapitalista ORUAéumcoletivodejuventude e possuiu umsetorial antiproibicionistaque Organizajovens que lutamcontraaguerraas drogas. esse See www.radiolegalize.com Growroom O Growroom é um grupo que atua em defesa dos direitos dos usuarios de maconha e mantém um portal na internet sobre tudo queérelacionadoa planta, seus usos e usuarios. wwwgrowroom.net Be evicns Psicotropicus Centro Brasileiro de Politica de Drogas. Organizagao sem fins lu- Pate faaen aoscomobenode Promover mudangas na politica de drogas brasileira com base em evidéncias cientificas, tole- rancia,bomsensoeracionalidade. wwwpsicotropicus.org Smoke Buddies Grupo queatuaem defesa dos direitos dos usuarios eadeptos da culturacandbica. httpy/smkbd.com/ yeas ef) ESE Wy) ( > { AV ad yf % y Z y Hay Ro ‘ 3 N ‘Ww a XK be . LS See AY SYS SS Wh) \ A y = 4 fl 33 hig PIA ‘ oo oS f/ a QoL = wo Ss CN Cee URDU ei U1) 3 1. Procure outras pessoas também interessadas em organizar a Marcha da Maconha na sua cidade. Marquem uma reunido aberta e divulgada paraconversar sobre como serda Marcha. 2. Definam em conjunto uma data, hora, local de concentra¢ao e traje- toda Marcha. 3. Divulguem a data da marcha, usem as redes sociais, email, panfletos, cartazes... Vocés podem ainda organizar atividades pré-Marcha como deba- tes, rodas de conversa ou exibir filmes. Entrem em contato com as Marchas de outras cidades para aumentar ainda mais a divulgacao e combinar datas. 4. Comunique (através de oficios) a prefeitura e o Batalhdo da PM local sobrearealizacao da marchae seu trajeto. Mas lembre-se, eles nao podemim- pedir ou “nao autorizar” a Marcha! S6 devem ser avisados comantecedéncia, como prevé 0 art. 5°, inciso XVI, da Constituigao Federal: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao ptiblico, indepen- dentemente de autorizacao, desde que nao frustrem outra reuniao anterior- mente convocada parao mesmolocal,sendo apenas exigido prévioaviso a au- toridade competente”, Além disso, o Supremo Tribunal Federal ja reconhe- ceualegalidade das Marchas da Maconha e demais manifestagdes em defesa da legalizacdo (ADPF 187). 5. V4 para a Marcha da Maconha com disposicao! Leve cartazes, faixas, fantasias, instrumentos musicais, megafone, distribua panfletos... Mas, atengdo, nao fume! Infelizmente a erva ainda é proibida e fumar na marcha pode ser um pretexto paraa policiaacabar com todaa manifestacao. 31 é O © www.renatocinco.com facebook.com/renatocinco tenatocinco@renatocinco.com Ci vereador de luta Camara Municipal - Praga Floriano, s/n®, Cinelandia, Gabinete 503 — Anexo, Telefones: 3814-2026 / 3814-2027

You might also like