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Avaliação e Perícia em Psicologia

de Trânsito

Brasília-DF.
Elaboração

Ronaldo Balestra Choze

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade I

CONCEITOS GERAIS............................................................................................................................... 9

Capítulo 1

Conceitos e metodologia em peritagem........................................................................... 9

Capítulo 2

Leis e resoluções do Conselho Federal de Psicologia – laudo, parecer, relatório e


atestado psicológico....................................................................................................... 22

Capítulo 3

Normas e procedimentos da avaliação psicológica aplicadas à psicologia de


trânsito................................................................................................................................ 33

Capítulo 4

Concepções da avaliação psicológica. Processo de avaliação psicológica:


métodos descritivos e compreensivos; a entrevista diagnóstica; tipos de entrevistas:
inicial, para aplicação dos testes e devolutiva em psicologia de trânsito................ 44

Capítulo 5

Uso de instrumentos: procedimentos/recursos. Avaliação psicológica


contextualizada nas questões éticas, políticas, econômicas, sociais e
administrativas.................................................................................................................... 53

Unidade iI

AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS.......................................................... 68

Capítulo 1

Normas e procedimentos de avaliação psicológica para candidatos..................... 68

Capítulo 2

Avaliação de candidatos para mudança de categoria de CNH e de pessoas


portadoras de necessidades especiais............................................................................. 77
Capítulo 3
Avaliação de condutores de veículos pela primeira vez e os que buscam renovação.
Histórico de acidentes e sua importância na avaliação psicológica....................... 83

Para (não) Finalizar...................................................................................................................... 88

Referências................................................................................................................................... 89
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O trânsito no Brasil tem sido responsável por uma quantidade gigantesca de acidentes,
fatais ou não. Mesmo considerando os que não são fatais, temos uma incidência de
óbitos que se compara a situações de guerra.

Uma forma de tentar minimizar o impacto negativo dessas situações no trânsito


brasileiro é formar melhor os condutores, ter ciência de suas aptidões físicas e mentais
para conduzir um veículo e educar os condutores.

Essas atividades têm sido difundidas no Brasil por meio de legislação e estudos
acadêmicos que objetivam ampliar o conhecimento dos problemas e apresentar
soluções.

Portanto, este material tratará de dois pontos chaves relacionados aos problemas
mencionados que são a avaliação e a perícia psicológica voltadas para o trânsito.

Objetivos
»» Mostrar os conceitos e as metodologias de peritagem no trânsito.

»» Apresentar a legislação do Conselho Federal de Psicologia relacionado a


laudo, relatórios e atestados psicológicos.

»» Mostrar as normas e os procedimentos de avaliação psicológica.

»» Entender as concepções da avaliação psicológica.

»» Apresentar o uso de instrumentos.

»» Mostrar as normas e os procedimentos de avaliação de candidatos.

»» Apresentar as avaliações de candidatos para mudança de CNH.

»» Apresentar a avaliação de candidatos PNE.

»» Apresentar a avaliação de condutores iniciantes e em renovação.

»» Discutir o histórico de acidentes e impacto na avaliação.

8
CONCEITOS GERAIS Unidade I

Capítulo 1
Conceitos e metodologia em
peritagem

Figura 1.

Fonte: <barrabogado.wordpress.com>. Acesso em: 25/7/2016.

A perícia feita por psicólogos especializados na área de trânsito é trabalhada no Brasil


há muitos anos. Segundo Hoffman e Cruz (2011), o trabalho dessa área iniciou-se em
1920, ou seja, 40 anos antes de a profissão ser regulamentada no país.

Foi no ano de 1941 que o legislador brasileiro começou a orientar e planejar o que viria
a ser a profissão de Psicólogo Especialista em Trânsito. Tal normatização se deu no
Código Nacional de Trânsito oriundo do Decreto-Lei no 2.994/1941.

A profissão de Psicólogo foi regulamentada em 1962 e, a partir deste momento, as


atividades inerentes foram devidamente inseridas no contexto de concessão de Carteira
Nacional de Habilitação (CNH).

9
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Em 1966, houve a substituição do Código Nacional de Trânsito – CNT aprovado em


1941. A obtenção da CNH passa a ter a obrigatoriedade de que o candidato passe por
testes psicológicos.

O pesquisador Rozenstraten é tratado como precussor do desenvolvimento acadêmico


da psicologia no trânsito. Em obra de 2012, o pesquisador discute que a tarefa do
psicólogo do trânsito não se resume a exames psicológicos.

Para ele, entender o processo que envolve o estudo psicológico de condutores incluem
no rol das ações do psicólogo, dentre outras, o seguinte:

»» observar o comportamento no trânsito;

»» analisar formas de controle psicológico de comportamento no trânsito;

»» realizar pesquisas, elaborar testes e melhorar os métodos de aplicação;

»» analisar formas de ampliar a validade de testes;

»» desenvolver maneiras de ser efetivamente colaborador para maior


eficiência de instrutores de escolas de condução; trabalhar em métodos
de recuperação e orientação de motoristas que tenham se acidentado.

Como podemos ver, não se trata meramente de realizar testes de aptidão


mental. É uma atividade complexa que demanda tempo, pesquisa e dedicação do
profissional de psicologia.

A seriedade da atividade de avaliação e perícia psicológica voltadas ao trânsito logo


levou as áreas responsáveis a manifestarem sua preocupação com os resultados,
propondo ações que deveriam compor o rol de tarefas para esta atividade. A Resolução
CONTRAN no 80/1998 apresenta a seguinte relação de elementos que devem ser
efetivamente validados:

»» área percepto-reacional, motora e nível mental;

»» área do equilíbrio psíquico;

»» habilidades específicas.

Ainda na busca das melhores práticas para realizar as avaliações psicológicas que
fossem efetivas, o Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN lançou a Resolução no
267/2008 que revogou a Resolução no 80/1998. Desta forma, os testes psicológicos
passaram a trabalhar as seguintes questões:

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

»» Tomada de informações.

»» Processamento de informação.

»» Tomada de decisão.

»» Comportamento.

»» Autoavaliação do comportamento.

»» Traços de personalidade.

Note que o leque de atividades foi sensivelmente ampliado com a especificação dessas
ações. A Resolução CONTRAN no 7/2009 apresenta a preocupação em ampliar a
eficiência das avaliações e perícias psicológicas por meio de entrevistas, observações e
técnicas que se enquadrem nessa nova visão.

Do pontos de vista técnico, a realização de avaliação psicológica e perícia voltada


ao trânsito vai além do mero conhecimento de perfil de condutor. Autores como
Vasconcelos (1998) pregam que é um tipo de estudo que se estende à família, aos laços
educacionais, aos aspectos econômicos e as dimensões psicossociais dos condutores.

Por esta ótica, temos em mãos um procedimento que objetiva realizar avaliações, fazendo
uso de ferramentas que sejam devidamente testadas e validadas, para destrinchar as
variáveis existentes na estrutura psicológica do condutor.

Esse procedimento é realizado pelos Departamentos de Trânsito – DETRANS, Clínicas


Credenciadas ou outros órgãos competentes no ato da aquisição, renovação, mudança
de categoria de uma CNH.

Ocorre que todas as atividades são realizadas e, ainda assim, o índice de condutores que
se envolvem em algum tipo de acidente é muito grande. Você já tinha refletido sobre
isso?

E afinal quais são as avaliações feitas? O quê elas realmente buscam saber? Muito bem,
são testes que visam:

»» descobrir as capacidades sensório-motoras;

»» descobrir as capacidades cognitivas;

»» entender os componentes sociais;

»» avaliar os componentes motivacionais;

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UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

»» verificar os pontos emocionais e afetivos;

»» descobrir as aptidões específicas;

»» analisar eventuais patologias psicológicas.

Figura 2.

Fonte: <pt.testsworld.net>.

Indo um pouco mais além, um termo que era utilizado frequentemente para conceituar
a avaliação e perícia psicológica de trânsito era “psicotécnico”. A questão é que as
demandas do trânsito não permitiram que o foco dos testes deixasse de considerar a
personalidade dos condutores, coisa que o psicotécnico não fazia. Por isso, o temo já
não é mais utilizado quando se trata de avaliação de condutores.

Vejamos como a Resolução no 425/2012 traz a questão:

Art. 4o No exame de aptidão física e mental são exigidos os seguintes


procedimentos médicos:

I – anamnese:

a) questionário (Anexo I);

b) interrogatório complementar;

[...]

II - exame físico geral, no qual o médico perito examinador deverá


observar:

[...]

b) comportamento e atitude frente ao examinador, humor, aparência,


fala, contactuação e compreensão, perturbações da percepção e atenção,
orientação, memória e concentração, controle de impulsos e indícios do
uso de substâncias psicoativas;

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Assim, fica mais claro que a questão já tem um avanço significativo ao que se iniciou
quando da implantação da avaliação e perícia psicológica de trânsito, mas ainda precisa
avançar!

Falando em método de perícia e avaliação, a própria Resolução no 425/2012 nos traz


um rol de ações:

Art. 5o Na avaliação psicológica deverão ser aferidos, por métodos e


técnicas psicológicas, os seguintes processos psíquicos (Anexo XIII):

I - tomada de informação;

II - processamento de informação;

III - tomada de decisão;

IV - comportamento;

V – auto-avaliação do comportamento; e

VI - traços de personalidade.

Essa Resolução do CONTRAN, em seu anexo XIII, entende que a tomada de informação
deve ser composta do que segue:

1. Tomada de informação

1. 1. Atenção: manutenção da visão consciente dos estímulos ou


situações.

1.1.1. atenção difusa ou vigilância: esforço voluntário para varrer o


campo visual na sua frente à procura de algum indício de perigo ou de
orientação;

1.1.2. atenção concentrada seletiva: fixação da atenção sobre


determinados pontos de importância para a direção, identificando-os
dentro do campo geral do meio ambiente;

1.1.3. atenção distribuída: capacidade de atenção a vários estímulos ao


mesmo tempo.

1.2. Detecção: capacidade de perceber e interpretar os estímulos fracos


de intensidade ou após ofuscamento.

1.3. Discriminação: capacidade de perceber e interpretar dois ou mais


estímulos semelhantes.

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UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

1.4. Identificação: capacidade de perceber e identificar sinais e situações


específicas de trânsito.

A base legal também se preocupa com o aspecto do processamento de informação.


A Resolução no 425/2012 do CONTRAN traz, em seu Anexo XIII, que o candidato
deverá ser capaz de apresentar no quesito “processamento de informação”. Vejamos:

2. Processamento de informação

2.1. Orientação espacial e avaliação de distância: capacidade de situar-se


no tempo, no espaço ou situação reconhecendo e avaliando os diferentes
espaços e velocidades.

2.2. Conhecimento cognitivo: capacidade de aprender, memorizar e


respeitar as leis e as regras de circulação e de segurança no trânsito.

2.3. Identificação significativa: identificar sinais e situações de trânsito.

2.4. Inteligência: capacidade de verificar, prever, analisar e resolver


problemas de forma segura nas diversas situações da circulação.

2.5. Memória: capacidade de registrar, reter, evocar e reconhecer


estímulos de curta duração (memória em curto prazo); experiências
passadas e conhecimentos das leis e regras de circulação e de segurança
(memória em longo prazo) e a combinação de ambas na memória
operacional do momento.

2.6. Julgamento ou juízo crítico: escala de valores para perceber, avaliar


a realidade, chegando a julgamentos que levem a comportamentos de
segurança individual e coletiva no trânsito.

Nota-se do exposto na Resolução que o processamento de informação demanda,


realmente, capacidade cognitiva mínima desejável para que um condutor seja
considerado apto a dirigir.

Do ponto de vista prático, ferramentas que se baseiam em processamento da informação


para avaliação psicológica apresentam resultados satisfatórios quando em uso clínico
(BORUCHOVITCH, 2004).

No que diz respeito à tomada de decisão, o Anexo XIII da Resolução no 425/2012 do


CONTRAN apresenta o que segue com relação ao elemento “tomada de decisão”:

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

3. Tomada de decisão

3.1. Capacidade para escolher dentre as várias possibilidades que são


oferecidas no ambiente de trânsito, o comportamento seguro para a
situação que se apresenta.

Genericamente falando, a tomada de decisão é uma ferramenta que norteia o objeto


da avaliação psicológica do ponto de vista profissional, em geral, uma vez que aquele
melhor qualificado, técnica e mentalmente, para desenvolver uma atividade é o que
melhor a desempenhará. Imagine isso no trânsito e as suas implicações!

A Resolução no 425/2012 do CONTRAN traz a questão do comportamento da seguinte


maneira:

4. Comportamento

4.1. Comportamentos adequados às situações que deverão incluir


tempo de reação simples e complexo, coordenação viso e audio-motora,
coordenação em quadros motores complexos, aprendizagem e memória
motora.

4.2. Capacidade para perceber quando suas ações no trânsito


correspondem ou não ao que pretendia fazer.

Veja que do ponto de vista regulamentar, tudo gira em torno de situações que são
consideradas adequadas. Justamente por isso, alguns estudiosos da área de psicologia
do trânsito entendem que testes psicológicos permitem que o analista verifique o padrão
comportamental do analisado e defina se é ou não adequado.

Um evental quadro psicológico propício a efeitos negativos pode interferir diretamente


na tomada de decisões do condutor. Essa relação também existe quando tratamos o
assunto comportamento.

A questão é que a complexidade humana não permite que sejam apresentados dados
absolutos no sentido de que um perfil propício a efeitos negativos interferirá no
comportamento do indíviduo no trânsito.

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UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Figura 3. Autoavaliação.

Fonte: <pedroedfisica.webnode.pt>. Acesso em: 25/7/2016.

A questão da autoavaliação do comportamento é interessante porque ao mesmo tempo


que permite um aprofundamento do conhecimento do condutor apresenta as eventuais
falhas em uma ferramenta de mensuração. Isso porque em geral o condutor só percebe
as falhas dos outros participantes de um ato danoso.

Normalmente, ao ser perguntado sobre como se considera na condição de condutor, a


pessoa diz que segue todas as regras, que é um modelo a ser seguido, que nunca praticou
uma ação que viesse a causar mal ao trânsito e que já viu diversas infrações cometidas
por outras pessoas que ele jamais faria. Você conhece alguém que se colocaria desta
mesma forma?

Ainda assim, a autoavaliação de comportamento continua sendo uma ferramenta


poderosa para que os psicólogos possam traçar um perfil que favoreça entender os
padrões de tomadas de decisão que partem de um certo indivíduo. Afinal, como já
vimos, é o momento da decisão que impactará em momentos bons ou ruins no trânsito.

No caso dos traços de personalidade, a resolução no 425/2012 relata a questão como


segue:

5. Traços de Personalidade

5.1. Equilíbrio entre os diversos aspectos emocionais da personalidade.

5.2. Socialização: valores, crenças, opiniões, atitudes, hábitos e afetos


que considerem o ambiente de trânsito como espaço público de
convívio social que requer cooperação e solidariedade com os diferentes
protagonistas da circulação.

5.3. Ausência de traços psicopatológicos não controlados que podem


gerar, com grande probabilidade, comportamentos prejudiciais à
segurança de trânsito para si e ou para os outros.

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Note que, de maneira geral, a resolução traz elementos fortemente subjetivos. Talvez
por isso há a imensidade de indicadores trabalhados por diferentes pesquisadores,
sempre na busca de resultados mais próximos possível da verdade.

Método TACOM
Consultando as pesquisas desenvolvidas na área de psicologia do trânsito, é comum
encontrarmos menções ao método TACOM ou Teste de Atenção Concentrada.
Trata-se de um teste que busca conhecer deficits de atenção em pessoas quando
estão em situações que demandam grandes níveis de concentração.

Os DETRAN’s utilizam muito esse método por sua facilidade em ser aplicado individual
ou coletivamente. No caso de utilização coletiva, é necessária a presença de um psicólogo
para facilitar a atividade. A seguir, temos um exemplo que considera a quantidade de
acertos, de erros e de omissões. O cálculo é simples: o resultado é igual a quanitade de
acertos menos a soma de erros e omissões.

Figura 4.

Fonte: <autos.culturamix.com>. Acesso em: 25/7/2016.

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UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Veja que o teste basicamente consiste em marcar os itens destacados no topo da folha na
sequência que aparecem desprezando aqueles que não estão naquela ordem. A seguir,
um exemplo de TACOM utilizado nos DETRAN’s brasileiros.

Figura 5.

Fonte: <http://detrandicas.blogspot.com.br/2015/10/psicoteste-detran-saiba-o-que-e.html>. Acesso em: 25/7/2016.

Esse teste funciona da seguinte maneira: o candidato deve marcar a maior


quantidade de placas coinscidentes as que estão no topo da folha em um tempo de
1m e 30s. O cálculo é similar ao que vimos no modelo geral de TACOM.

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Método TADIM
Trata-se do método que apura a atenção difusa do indivíduo. O objetivo é verificar a
capacidade de a pessoa absorver informações diversas e transformá-las em conhecimento
prático.

No exemplo a seguir, o candidato deve marcar uma sequência numérica dentro das
placas, circulando o último no momento em que o tempo de 4 minutos se encerra.
Geralmente, a dificuldade e forma de cálculo do resultado varia conforme a escolaridade
da pessoa. Isso demonstra que a questão cognitiva é fortemente considerada.

Figura 6.

Fonte: <http://manual-do-psicotecnico.blogspot.com.br/2013/06/tadim.html>. Acessso em: 25/7/2016.

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UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Método palográfico

Aqui temos um método que resulta em um teste de personalidade do candidato.


A análise buscará conhecer questões quantitativas (produção, ritmo e rendimento) e
qualitativas (distância de traços, agrupamento, inclinação, direção, margens, pressão
do traço, irregularidades etc.).

Esse método funciona assim: o candidato tem 2 minutos e meio para treinar e depois
terá 5 minutos para desenvolver a tarefa. Uma vez concluída, os analistas irão avaliar
o resultado para traçar o perfil de personalidade daquele candidato. Veja abaixo um
modelo desse teste.

Figura 7.

Fonte: <www.bblumetti.com>. Acesso em: 25/7/2016.

É esse o produto que será apreciado pelo psicólogo do trânsito para, então, emitir
um laudo do que seria a personalidade daquele indivíduo. Nota-se alto grau de
subjetividade na atividade, mas é muito utilizado pelos DETRAN’s pelos resultados
que pode extrair.

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Entrevistas diretas e individuais

Figura 8.

Fonte: <www.doctutor.es>. Acesso em: 25/7/2016.

O método de entrevistar tem o objetivo de conhecer mais a fundo o foco de uma pesquisa.
No caso da psicologia do trânsito, pela forma como a regulamentação trata a questão,
fica claro que se deseja conhecer mais os candidatos e dizer a eles porque estão sendo
avaliados.

A Resolução no 425/2012 do CONTRAN traz um roteiro obrigatório a ser considerado


na aplicação deste método em avaliações/perícias de psicologia do trânsito. O Anexo
XIV diz o que segue:

1. Na entrevista deverão ser observados e registrados os seguintes


dados:

1.1. identificação pessoal;

1.2. motivo da avaliação psicológica;

1.3. histórico escolar e profissional;

1.4. histórico familiar;

1.5. indicadores de saúde/doença;

1.6. aspectos da conduta social;

2. Os itens contidos no roteiro de entrevista psicológica deverão seguir as


normas e legislações estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia.

Veja que, de posse desse tipo de informação, é muito mais fácil conseguir traçar um
perfil psicológico de um candidato à CNH.

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Capítulo 2
Leis e resoluções do Conselho Federal
de Psicologia – laudo, parecer, relatório
e atestado psicológico

Neste capítulo, vamos adentrar na regulamentação das avaliações/perícias em


psicologia do trânsito na ótica do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Como vamos
falar de laudos ou relatórios, atestados e pareceres psicológicos, nossa base de pesquisa
será a Resolução CFP no 7/2003.

A referida resolução institui o manual de elaboração de documentos a serem


produzidos pelo psicólogo. Ele revogou a Resolução no 17/2002 que tratava da questão
anteriormente.

Primeiramente, vamos conceituar os documentos para depois apresentar o que está


disposto na referida Resolução.

Laudo ou relatório
O laudo, ou relatório, é um documento que será emitido por um profissional, baseado na
capacidade técnica deste em função do bem-estar de seu paciente. Destarte, o fato de a
concepção do termo “bem-estar” levar em consideração a formação ética do profissional
de psicologia, ele será pautado por direcionamentos do código de ética da profissão.

Esse é um tema que tem considerável abordagem no mundo acadêmico. O autor


Wechsler (2001) apresentou o que ele considera ser os pontos chave para que um
profissional de psicologia emita um laudo com a máxima efetividade possível. Segundo
o autor, deve-se ter a preocupação em:

»» Concluir desconsiderando valores de religião, preconceitos, disfunções


sociais ou características pessoais da pesso avaliada.

»» Ser claro em seu texto e considerar toda a amplitude de detalhes do


avaliado relacionando-a às questões circunstanciais das informações
disponíveis.

»» Ter cuidado em expressar suas conclusões de maneira que as pessoas


que irão recebê-las consigam interpretar a mensagem e, ainda, dirigir
posicionamentos distintos a quem requer as informações.

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CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

»» Não produzir seus resultados de maneira a atender suas expectativas


como analista uma vez que tal postura criaria um viés aos instrumentos
utilizados para a atividade.

»» Ter em mente que o produto de uma avaliação psicológica deve chegar a


quem de direito devidamente contextualizado e fundamentado.

»» Ter em mente que, quando da avaliação de menores, os dados que


viabilizaram o produto da atividade deverão ser devidamente devolvidos
aos seus responsáveis.

»» Quando da discussão de eventuais dados e resultados de análise em


eventos acadêmicos ou não, o analista deve ter o cuidado de manter
resguardado o sigilo das fontes para preservar os avaliados.

»» Ainda que o produto requerido por eventual solicitante seja um parecer,


o analista deverá emitir um laudo/relatório da atividade com o objetivo
de mantê-lo em arquivo em um dossiê sobre aquele cidadão.

Figura 9.

Fonte: <alecconsultoria.com.br>. Acesso em: 25/7/2016.

O final da atividade consistirá em um documento técnico especializado que demonstrará


ao avaliado o que deve ser desenvolvido em termos de acompanhamento especializado
no ramo da psicologia, ou seja, deve ser um documento conclusivo no sentido de ajudar
a decidir o próximo passo.

Do ponto de vista da psicologia do trânsito, teremos um documento que apresentará


elementos que comprovem a opção do avaliador em dizer se o candidato está ou não
apto a se tornar um condutor.

23
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Parecer

Para o CFP, o parecer é uma fundamentação sintética que indica ou conclui a respeito
de uma situação de pesquisa psicológica, com o objetivo de esclarecer o conteúdo de
uma consulta. O produto final estará vinculado ao que conclui o parecerista.

Figura 10.

Fonte: <ciranda.me>. Acesso em: 27/7/2016

Por meio de base científica, o responsável pelo parecer analisa o que lhe é apresentado,
dá destaque aos pontos principais e emite seu entendimento. Itens que abordem
questões individuais não devem ser negligenciados, contudo, sua abordagem deve ser
resumida.

O CFP indica ao responsável pelo parecer o termo “sem elementos de convicção” para
ser usado em caso de insuficiência de informações que permitam formar sua posição.
No caso de dados apresentados de maneira inconsistente, a indicação é que se use o
termo “prejudicado” ou “aguarda evolução”.

De uma maneira geral, o parecer será um documento que irá apoiar o esclarecimento
de dúvidas por parte de quem o requer. Trata-se do momento em que um especialista
irá unir o seu conhecimento prático com o conhecimento teórico e apresentar suas
conclusões.

Assim, o responsável por um parecer psicológico deve dominar os métodos e as técnicas


disponíveis, ter vivência com situações práticas, conhecer os elementos intrínsecos à
tarefa de realizar perícias psicológicas, saber elaborar documentos técnicos da área e, de
posse desse arcabouço cognitivo, fundamentar suas exposições de maneira qualitativa
e quantitativa utilizando-se de elementos científicos.

24
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Mesmo de posse de tamanho know how, o profissional não poderá emitir seus
documentos ignorando as regras e teorias praticadas pela Psicologia. Isso pode explicar
porque um tribunal faz uso de pareceres para ajudar na decisão a respeito da culpa ou
inocência de alguém. São informações que poderão pautar o já amplo conhecimento de
um magistrado.

O parecer tem uma estrutura simples, como segue:

a. O cabeçalho é a parte superior do documento que irá identificar todas


as partes envolvidas, ou seja, o avaliado, sua filiação, o responsável pelo
parecer e as idades dos envolvidos. O formato pode variar conforme
necessidade.

b. Exposição de motivos: parte do documento que apresenta a queixa ou a


demanda em função de uma situação ou enfermidade. Os procedimentos
adotados pelo parecerista deverão estar disponíveis nesse campo para
conhecimento.

c. Discussão: o responsável irá relatar os procedimentos utilizados, a duração


da intervenção, os testes que foram aplicados, as impressões conforme
evolução da atividade e toda a fundamentação de suas conclusões.

d. Conclusão: aqui o parecerista unirá o que foi experimentado durante a


avaliação e o que a academia entende por meio de pesquisas científicas.
Todas as argumentações deverão ter aquele embasamento e fundamentos
éticos e pricipiológicos conforme previsto pela Psicologia.

Atestado psicológico
Aqui temos um documento que certifica uma patologia identificada em função dos
resultados de uma avaliação psicológica. No nosso caso, irá avaliar a aptidão de um
candidato a se tornar um condutor de veículos.

Figura 11.

Fonte: <holopsi.blogspot.com>. Acesso em: 27/7/2016

25
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Trata-se de um documento que só pode ser emitido uma vez concluída a avaliação
psicológica. O documento identificará a pessoa, objeto da certificação, e informará
a situação que pode resultar em sua aceitação ou não para desenvolver determinada
atividade (isso considerando a psicologia voltada ao trânsito).

O documento é regulamentado pela Resolução no 15, de 13 de dezembro de 1996, do


CFP. O texto é curto, mas bem objetivo quanto as atribuições do profissional ao emitir
esse documento. Vejamos:

Art. 1o - É atribuição do PSICÓLOGO a emissão de atestado psicológico


circunscrito às suas atribuições profissionais e com fundamento no
diagnóstico psicológico produzido.

Parágrafo único - Fica facultado ao psicólogo o uso do Código


Internacional de Doenças – CID, ou outros Códigos de diagnóstico,
cientifica e socialmente reconhecidos, como fonte para enquadramento
de diagnóstico.

Art. 2o - Quando emitir atestado com a finalidade de afastamento para


tratamento de saúde, fica o PSICÓLOGO obrigado a manter em seus
arquivos a do cumentação técnica que fundamente o atestado por ele
concedido e a registrar as situações decorrentes da emissão do mesmo.

Parágrafo único - Os Conselhos Regionais poderão a qualquer tempo


suscitar o PSICÓLOGO a apresentar a documentação que se refere o
“caput” para comprovação da fundamentação científica do atestado.

Art. 3 o - No caso do afastamento para tratamento de saúde


ultrapassar a 15 (quinze) dias o paciente deverá ser encaminhado
pela empresa à Perícia da Previdência Social, para efeito de
concessão de auxílio-doença.

Art. 4o - O atestado emitido pelo PSICÓLOGO deverá ser fornecido


ao paciente, que por sua vez se incumbirá de apresentá-lo a quem de
direito para efeito de justificativa de falta, por motivo de tratamento de
saúde.

Art. 5o - O PSICÓLOGO será profissionalmente responsável pelos


termos contidos no atestado emitido, devendo cumprir seu mister com
zelo e competência sob pena de violação, dentre outros, do art. 2, alínea
“m” do Código de Ética Profissional do Psicólogo.

26
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

O Conselho intervém, também, na formatação do documento que deve ter um texto


fluído, sem parágrafos, com os trechos separados por pontos. Em último caso, se não
for possível desenvolver o documento sem parágrafos, os espaços vazios deverão ser
tracejados.

Concluída a conceituação, vamos apresentar o que a Resolução no 7, de 14 de junho de


2003, nos diz a respeito desses documentos que, como já vimos, são muito importantes
para o desenvolvimento de um bom trabalho de avaliação e perícia psicológica.

A referida resolução institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos por


psicólogos. A estrutura do manual está disposta no Art. 2o como segue:

Art. 2o - O Manual de Elaboração de Documentos Escritos, referido no


artigo anterior, dispõe sobre os seguintes itens:

I. Princípios norteadores;

II. Modalidades de documentos;

III. Conceito/finalidade/estrutura;

IV. Validade dos documentos; e

V. Guarda dos documentos.

Os documentos que estamos trabalhando neste capítulo estão dispostos no Item


“Modalidades de Documentos” do manual. Lá está descrito a seguinte relação de
documentos:

1. Declaração.

2. Atestado psicológico.

3. Relatório/laudo psicológico.

4. Parecer psicológico.

Há uma observação no manual informando que declarações e pareceres não decorrem


de avaliação psicológica, no entanto, há muitas ocorrências dos mesmos em que são
apresentados como se fossem. Por esse motivo, o CFP entendeu importante elencá-los
em seu manual.

Importante mencionar que a declaração não faz parte do nosso conteúdo principal, mas
não vemos problema em apresentar seus termos conforme o manual.

27
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Declaração conforme Resolução no 7/2003 do CFP

Trata-se de um documento informacional que não emite registros de elementos


relacionados a questões psicológicas, mas meramente fatos ou situações que ocorreram
durante um atendimento psicológico.

Figura 12.

Fonte: <pt.slideshare.net>. Acesso em: 27/7/2016.

Pode declarar comparecimento da pessoa atendida, acompanhamento psicológico da


pessoa atendida ou dados do atendimento como dia, local etc.

Por ser um documento que pode ser utilizado em conjunto com outros que, por exemplo,
justifiquem ausência no trabalho, deve ser emitida em papel timbrado ou com os dados
da clínica, bem como o carimbo do profissional de psicologia.

Atestado psicológico conforme Resolução 7/2003


do CFP

Segundo o CFP, esse é um documento certificador de situação psicológica de quem


solicita sua emissão. Esse sim atestará a capacidade de uma pessoa desenvolver uma
atividade específica ou não, requererá afastamento ou dispensa de quem o solicita e,
também, poderá servir de justificativa de ausências ou faltas.

Trata-se de um documento objetivo que traz em seu corpo tão somente o que o solicitante
requereu. Ainda assim, sua estrutura deve obedecer a alguns critérios previstos pelo
CFP como, timbre, nome do psicólogo, número do registro e carimbo.

Segundo a letra “b” do item 2.2 do manual do Conselho Federal de Psicologia, o


documento deve cuidar de trazer em seu corpo o que segue:

»» Registro do nome e sobrenome do cliente.

»» Finalidade do documento.

28
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

»» Registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas


que justifiquem o atendimento, afastamento ou falta – podendo ser
registrado sob o indicativo do código da Classificação Internacional de
Doenças em vigor.

»» Registro do local e data da expedição do atestado.

»» Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou


carimbo com as mesmas informações.

»» Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

Com o objetivo de evitar rasuras por tentativa de adulteração, é requerido que o texto
seja sequencial, separado por pontos e sem a utilização de parágrafos. Nesse último
caso, se for essencial o uso de parágrafos, os espaços em branco deverão ser preenchidos
com traços.

Quando o atestado tem o objetivo de atestar a capacidade de a pessoa poder ou não


realizar determinada atividade (nosso caso para obtenção de CNH) nos arquivos do
avaliador deverá constar relatório vinculado ao caso durante o tempo que a Resolução
estipula.

Relatório ou Laudo psicológico conforme


Resolução 7/2003 do CFP

A Resolução o Conselho Federal de Psicologia apresenta um conceito mais profundo


do que aquele que estudamos. Primeiramente, é importante salientarmos que o
CFP entende que relatório e laudo são o mesmo documento. Segundo o órgão, é um
documento que descreve situações vinculadas a um histórico, a uma convivência social,
política e cultural.

Deve ser emitido considerando fatores técnicos que possibilitem um maior poder de
obtenção de dados científicos. Para tal, sugere-se a ocorrência de entrevistas, testes,
exames etc.

Isso porque o documento trará em seu corpo tudo o que foi feito durante uma avaliação
psicológica. Serão retratadas as intervenções, prognósticos, diagnósticos, evolução,
orientações e qualquer outro elemento que seja trabalhado pelo psicólogo junto à
pessoa avaliada.

Isso tudo é muito importante porque, eventualmente, o produto final poderá sugerir
que a pessoa tenha que ter acompanhamento especializado.

29
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

O CFP recomenda que a estrutura do documento considere os seguintes passos relativos


a identificação, descrição da demanda, procedimento, análise e conclusão:

»» A parte da identificação deverá contar com os dados de quem está


elaborando o relatório ou laudo, quem fez a solicitação do documento e
porque o documento está sendo preparado.

»» Na parte da descrição, deverá constar a justificativa do documento. Para


tal, o elaborador deverá apresentar o que motivou a produção do laudo
bem como o que se espera daquele motivo.

»» Na parte de procedimento, o elaborador deixará claro como se deu


a avaliação. Sempre considerando a teoria e a prática, o profissional
apresentará os insumos que utilizou para realizar o trabalho, bem como
uma conclusão da complexidade da atividade em função do que foi
solicitado.

»» A análise é a parte mais complexa do documento. Nela o profissional,


em conformidade com os dados que teve acesso, irá debater o que lhe
foi solicitado considerando o nível de complexidade inerente ao caso.
Todas as questões que envolvem um indivíduo serão consideradas pelo
profissional, seja de cunho histórico, econômico, social etc.

»» O responsável pelo documento deverá confrontar os métodos adotados


e as ferramentas utilizadas com o entendimento formado pela academia
científica. O código de ética do psicólogo recomenda que a exposição de
informações se limite ao que for necessário às análises.

»» O CFP tem uma preocupação específica com a objetividade do documento


sem negligenciar a fundamentação teórica. Isso porque o documento
precisa ser de fácil compreensão, sem, contudo, perder seu teor científico-
profissional.

»» Na conclusão, o profissional apresentará ao solicitante um panorama


geral da avaliação psicológica conforme os elementos descobertos e a
complexidade da atividade. Uma vez encerrado, o documento constará
a assinatura do profissional, o local, a data de emissão e o registro do
psicólogo.

30
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Parecer conforme Resolução no 7/2003 do CFP

O conceito de parecer na Resolução é basicamente igual ao que já apresentamos


quando discutimos termos gerais de todos os documentos estudados neste capítulo, ou
seja, trata-se de um documento que apresenta um resumo fundamentado de um ponto
específico de estudo.

O objetivo é esclarecer eventuais dúvidas com relação a um tópico específico que


tornou necessária a intervenção de um especialista para que, com os dados do parecer,
permitam decidir de maneira mais coerente eventual fato psicológico.

A exemplo do laudo, o parecer necessita de embasamento técnico-científico para ser


produzido.

Em função disso, é necessário que o profissional que o esteja emitindo faça uso de suas
experiênciencias pessoais, métodos conhecidos, complexidade da questão e uní-las ao
conhecimento acadêmico disponível sobre os assuntos para formar sua posição.

A estrutura do parecer contém quatro itens:

1. identificação;

2. exposição de motivos;

3. análise;

4. conclusão.

No início deste capítulo apresentamos um entendimento para cada um desses itens.


Agora vamos transcrever a forma que o CFP vê a questão por meio da Resolução, no
item 4, do Manual que estamos estudando:

4.2.1. Identificação

Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome


do autor da solicitação e sua titulação.

4.2.2. Exposição de Motivos

Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou


à apresentação das dúvidas levantadas pelo solicitante. Deve-se
apresentar a questão em tese, não sendo necessária, portanto, a
descrição detalhada dos procedimentos, como os dados colhidos ou o
nome dos envolvidos.

31
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

4.2.3. Análise

A discussão do PARECER PSICOLÓGICO se constitui na análise


minuciosa da questão explanada e argumentada com base nos
fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no
corpo conceitual da ciência psicológica. Nesta parte, deve respeitar
as normas de referências de trabalhos científicos para suas citações e
informações.

4.2.4. Conclusão

Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento,


respondendo à questão levantada. Em seguida, informa o local e data
em que foi elaborado e assina o documento.

32
Capítulo 3
Normas e procedimentos da avaliação
psicológica aplicadas à psicologia de
trânsito

Figura 13.

Fonte: <www.trinusconsultoria.com.br>.

Até aqui nós já vimos diversas questões relacionadas à avaliação psicológica voltada ao
trânsito que tem percurso legal ou infralegal. Neste capítulo, daremos ênfase às normas
e aos procedimentos que estão previstos na Resolução no 7, de 29 de julho de 2009, do
Conselho Federal de Psicologia.

Porém, antes de adentramos naquela Resolução, vamos fazer um tour pela compreensão
acadêmica e pelo que nos apresenta o Código Brasileiro de Trânsito, instituído na Lei
no 9.503, de 23 de setembro de 1997.

No Código Brasileiro de Trânsito, temos algumas normas e/ou procedimentos


relacionados às questões psicológicas aplicadas ao trânsito. Apresentamos abaixo
competência relativa a recursos contra decisões de exames psicológicos:

Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e ao


Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE:

[...]

V - julgar os recursos interpostos contra decisões:

33
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

[...]

b) dos órgãos e entidades executivos estaduais, nos casos de inaptidão


permanente constatados nos exames de aptidão física, mental ou
psicológica;

O Código determina que o candidato a condutor submeta-se a exames de diversas


naturezas, entre eles, temos o de aptidão física e mental que a Lei trata assim:

Art. 147. O candidato à habilitação deverá submeter-se a exames


realizados pelo órgão executivo de trânsito, na seguinte ordem:

I - de aptidão física e mental;

[...]

§ 2o O exame de aptidão física e mental será preliminar e renovável


a cada cinco anos, ou a cada três anos para condutores com mais de
sessenta e cinco anos de idade, no local de residência ou domicílio do
examinado. (Incluído pela Lei no 9.602, de 1998)

§ 3o O exame previsto no § 2o incluirá avaliação psicológica preliminar


e complementar sempre que a ele se submeter o condutor que exerce
atividade remunerada ao veículo, incluindo-se esta avaliação para os
demais candidatos apenas no exame referente à primeira habilitação.
(Redação dada pela Lei no 10.350, de 2001)

§ 4o Quando houver indícios de deficiência física, mental, ou de


progressividade de doença que possa diminuir a capacidade para
conduzir o veículo, o prazo previsto no § 2o poderá ser diminuído por
proposta do perito examinador. (Incluído pela Lei no 9.602, de 1998)

Figura 14.

Fonte: Rozestraten (1988).

34
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Para Rozestraten (1988), o sistema de normas é composto por uma tríade: homem,
rodovia e veículo. No entender do autor, é o homem o elo mais frágil do sistema por que
este pode causar distúrbios diretos.

A questão é que normatizar não é um sinônimo de obter o respeito às normas. O Brasil


é um exemplo triste de desrespeito às normas de trânsito.

Em geral, os especialistas da área consideram boas as Leis que normatizam o trânsito,


contudo, entendem que falta consciência dos condutores e demais envolvidos em seu
atendimento.

Por uma questão cultural, o individualismo das pessoas na busca de solução para seus
problemas acaba causando problemas quando o objetivo é tentar tornar eficiente uma
norma que deve ter o mesmo efeito para todos.

Todos os dias os condutores são expostos a uma série de fatores que podem ser
considerados amplificadores de atitudes negativas no trânsito: são horas de
congestionamento, direção perigosa por parte de outro condutor, acidentes mortais,
intolerância, enfim, uma série de elementos que certamente transformam negativamente
a experiência de dirigir. Esses são alguns dos motivos que demandam as normas.

Feitas essas considerações iniciais, sabemos que o trânsito é uma interação social
realizada por uma infinidade de pessoas e, por isso, necessita de normas para funcionar
bem.

Do ponto de vista psicológico, essas normas incorrem em demandas de avaliações para


saber se o candidato é apto ou não a se tornar um condutor, ou mesmo saber se um
condutor pode ter renovada sua licença.

A Resolução no 7/2009 do CFP nos traz o rol de normas e procedimentos voltados à


avaliação psicológica no contexto do trânsito e, agora, vamos passar a analisá-la para
aumentar nosso conhecimento.

A parte infralegal da Resolução em si não é extensa e possui informações simples. É em


documento específico que constam as normas e procedimentos. Abaixo transcrevemos
os cinco artigos da Resolução:

Art. 1o - Ficam aprovadas as normas e procedimentos para avaliação


psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação e
condutores de veículos automotores, que dispõe sobre os seguintes
itens:

I. Conceito de avaliação psicológica.

35
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

II. Habilidades mínimas do candidato à CNH e dos condutores de


veículos automotores.

III. Instrumentos de avaliação psicológica.

IV. Condições da aplicação dos testes psicológicos.

V. Mensuração e avaliação.

VI. Do resultado da avaliação psicológica.

Art. 2o - Os dispositivos deste manual constituem exigências mínimas


de qualidade referentes à área de avaliação psicológica de candidatos à
Carteira Nacional de Habilitação e condutores de veículos automotores.

§ 1o - Os Conselhos Regionais de Psicologia serão responsáveis pela


verificação do cumprimento desta Resolução, do Código de Ética
Profissional e demais normas referentes ao exercício profissional do
psicólogo.

§ 2o - A desobediência a presente norma constitui falta ético-disciplinar


passível de capitulação nos dispositivos referentes ao exercício
profissional do Código de Ética Profissional dos Psicólogos, sem prejuízo
de outros que possam ser argüidos.

Art. 3o - O Roteiro de apoio para entrevista psicológica e o Texto sobre


referências de percentis são partes integrantes desta Resolução, como
Anexo I e Anexo II, respectivamente.

Art. 4o - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 5o - Revogam-se as disposições em contrário, em especial a


Resolução CFP No 12/2000.

Vamos agora adentrar nas ponderações das normas e dos procedimentos que fazem
parte da referida resolução.

Conceito de avaliação psicológica

Figura 15.

Fonte: <marketingfuturo.com>. Acesso em: 27/7/2016.

36
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

O documento inicia apresentando um conceito para avaliação psicológica. Argumenta


que a avaliação psicológica só pode ser feita por um profissional de psicologia, que
demanda coleta e interpretação de informações oriundas da relação de uma pessoa com
a sociedade.

Habilidades mínimas

Em seguida, temos a discussão sobre habilidades mínimas para obtenção de uma CNH.
O documento lembra que temos condutores que sobrevivem de dirigir e outros que
apenas se locomovem. Dessa forma, essa questão não pode ser negligenciada.

Nesse momento, o que já estudamos até aqui será de suma importância já que estamos
tratando de atributos que devem estar inerentes ao eventual condutor.

Como já vimos anteriormente, a tomada de informação é um elemento básico, pois vai


considerar a capacidade de atenção do condutor, a capacidade de detectar, discriminar
e identificar situações do ambiente com o objetivo de transformá-las em elementos que
irão nortear sua conduta. Há um indicativo de que a descoberta dos elementos desse
aspecto se dê por entrevista.

O segundo ponto é o processamento de informação para tomada de decisão. Como já


estudamos, temos uma questão muito voltada à cognição da pessoa que está sendo
analisada.

Trata-se do momento em que apuraremos a inteligência, a memória e a orientação do


indivíduo. Como a anterior, temos um indicativo de que os dados sejam colhidos por
meio de entrevista.

Figura 16.

Fonte: <blog.seekr.com.br>. Acesso em: 27/7/2016.

37
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

O terceiro ponto discute o comportamento do condutor ou candidato a condutor.


Já vimos anteriormente que, apesar de não haver uma conclusão contundente sobre o
assunto, comportamentos danosos podem causar situações danosas no trânsito.

Para o conjunto de normas e procedimentos da Resolução que estamos estudando, o


comportamento considerará tempo de reação a situações, coordenação do condutor ou
candidato, condições de saber se determinado comportamento é correto, etc.

Instrumentos de avaliação

O documento argumenta que os instrumentos mais utilizados são entrevistas e testes


psicológicos, apesar de haver outros que podem ser bons para ajudar a obter resultados
em uma avaliação psicológica.

Figura 17.

Fonte: <cadspedagogo.blogspot.com>. Acesso em: 27/7/2016.

A entrevista tem por objetivo levantar informações ao avaliador sobre a pessoa que
está sendo avaliada. Por meio de uma conversa dirigida, o profissional poderá conhecer
mais sobre conduta, valores, opiniões etc.

Por ser uma ferramenta que possibilita a descoberta de questões que podem impactar
em toda a avaliação psicológica, a entrevista tem um escopo inicial ao procedimento.
Eventualmente, a pessoa que está sob análise poderá ser testada enquanto é entrevistada.

Segundo as normas e os procedimentos constantes na Resolução que estamos


analisando, uma entrevista terá esses indicadores:

1. Identificação pessoal.

2. Motivo da avaliação psicológica.

38
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

3. Histórico escolar e profissional.

4. Histórico familiar.

5. Indicadores de saúde/doença.

6. Aspectos da conduta social.

Iniciada a atividade, o psicólogo deverá utilizar questionário que trabalhe participação


em acidentes, o que o candidato acha de cidadania e do trânsito e o que elo faria para
reduzir ocorrências no trânsito.

Os resultados da atividade deverão ser obrigatoriamente apresentados aos candidatos


ou condutores avaliados e para que informações sejam encaminhadas a órgãos de
trânsito, o candidato deverá autorizar formalmente.

Com o objetivo de aferir diferenças ou semelhanças entre pessoas, o teste psicológico


irá buscar entender comportamentos em função de reações a situações distintas.

O CFP entende que testes psicológicos somente terão validade se forem baseados em
fatos científicos e realizados com instrumentos devidamente atestados. O profissional
de psicologia irá validar esse teste para uso.

Resolução no 2/2003 do CFP, que consta a forma de realizar testes psicológicos.

Condição de aplicação de testes

Segundo o CFP, testes somente devem ser aplicados por profissionais que dominem
a teoria e a prática da área em estudo. Isso porque eventuais adulterações poderão
simplesmente tornar o trabalho inócuo e sem validade. Para tal, o Conselho faz três
recomendações:

»» Ter clareza, objetividade e tranquilidade na aplicação do teste.

»» Dominar as normas para aplica-las sem rigidez desnecessária.

»» Atentar às limitações de pessoas com necessidades especiais no ato da


aplicação do teste.

39
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Figura 18.

Fonte: <ambienteparateste.com.br>.

O Conselho entende, ainda, que o ambiente de aplicação deve possuir seis características
básicas, quais sejam:

a. O ambiente físico de uma sala de atendimento individual deve ter, no


mínimo, as dimensões de quatro metros quadrados (2,0 m x 2,0 m).

b. A sala de atendimento coletivo deve ter, no mínimo, as dimensões


descritas pela Resolução do CONTRAN.

c. O ambiente deve estar bem iluminado por luz natural ou artificial fria,
evitando-se sombras ou ofuscamento.

d. As condições de ventilação devem ser adequadas à situação de teste,


considerando-se as peculiaridades regionais do país.

e. Deve ser mantida uma adequada higienização do ambiente, tanto na sala


de recepção como nas salas de teste, escritórios, sanitários e anexos.

f. As salas de teste devem ter isolamento acústico, de forma a evitar


interferência ou interrupção na execução das tarefas dos candidatos.

Por fim, são oito as recomendações para que, com o ambiente e as ferramentas corretas
e com profissional qualificado, o teste tenha seus objetivos plenamente atingidos:

»» Escolher os instrumentos em conformidade com os objetivos do teste.

»» Considerar aspectos de tempo para planejar a atividade.

40
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

»» Ter domínio de todos os passos a serem desenvolvidos no instrumento


utilizado para o teste.

»» Ter espontaneidade no ato de exposição de instruções do teste.

»» Não usar testes que tenham elementos que possam comprometer sua
validade (rasura, amasso etc.).

»» Ter material de trabalho em quantidade adequada e para contingências.

»» Estar trajado de maneira a não influenciar na concentração dos envolvidos.

»» Fazer registro de tudo que enriqueça o resultado do teste.

Mensuração e avaliação

Sempre com atenção à academia, que irá prover as descobertas científicas, o profissional
que realizará a correção e avaliação de um teste deverá ater-se exclusivamente ao
manual.

Figura 19.

Fonte: <sgconsult.com.br>. Acesso em: 27/7/2016.

Apresentando uma abordagem técnica sobre a fundamentação dos instrumentos


psicométricos, o conjunto de normas e procedimentos das análises psicológicas do CFP
afirma o seguinte:

2. Os instrumentos psicométricos estão, basicamente, fundamentados


em valores estatísticos que indicam sua sensibilidade (ou adaptabilidade
do teste ao grupo examinado), sua precisão (fidedignidade nos valores
quanto à confiabilidade e estabilidade dos resultados) e validade
(segurança de que o teste mede o que se deseja medir).

A avaliação do teste deve sempre considerar as pesquisas que trouxeram validade ao


teste aplicado. Todo teste precisa de elementos de validade, credibilidade e assertividade

41
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

e, para tal, o método de medir resultados e interpretá-los deverá compor o rol de


exigências.

Para que os resultados não sofram variações que venham a invalidá-los, o profissional
que irá realizar sua medição e interpretação deverá seguir fielmente o que o manual do
teste recomenda.

Normas que estipulam o perfil de um grupo de referência sofrem alterações de acordo


com o tipo de pessoas que o compõem. Justamente por isso, é necessário que o
profissional esteja sempre atento às inovações proferidas por pesquisas acadêmicas.

A interpretação de testes psicológicos passa por resultados já obtidos em grupos


amostrais. Assim, é necessário utilizar os dados amostrais de grupos adequados ao
teste em execução.

A preocupação do CFP com relação à aplicação e mensuração/avaliação de testes é


tamanha que a Resolução no 7/2009 conta com um Anexo que trata somente deste
assunto.

O conteúdo do Anexo II foi alterado pela Resolução no 9/2011 que ampliou bastante
a abordagem. O novo texto afirma que conclusões de testes devem se pautar em
argumentos científicos e precisam ter suas considerações validadas.

Afirma também que no contexto do trânsito os testes possuem um viés diferente já


que consideram construtos que deverão ser estudados em um ambiente social e com
base na observação de vários indivíduos. São as comparações entre as diferenças dessas
observações que municiam os testes de maior validade.

O Anexo II ainda afirma que, no contexto do trânsito, as interpretações devem se pautar


em normas específicas e que orientações disponíveis nos manuais daqueles testes sejam
plenamente seguidas. Conclui sugerindo-se que haja ampliação de estudos em nível
nacional e comparação com base internacional para melhor fundamentar e atualizar as
constatações empíricas do tema.

Resultado e laudo da avaliação

Temos aqui o último estágio do processo de avaliação psicológica. O laudo apresentará


uma explanação conclusiva e estrita aos elementos avaliados na atividade. O responsável
pelo laudo fará arquivo do laudo junto com todos os instrumentos utilizados para
realizar os testes.

42
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Figura 20.

Fonte: <maisenem.meritt.com.br>. Acesso em: 27/7/2016.

Considerando os elementos previstos no Manual de Elaboração de Documentos, o


profissional responsável pelo laudo elaborará uma conclusão que deixe claras suas
observações sobre a atividade desenvolvida.

Segundo o CFP, os resultados possíveis na atualidade são:

I - apto - quando apresentar desempenho condizente para a condução


de veículo automotor;

II - inapto temporário - quando não apresentar desempenho condizente


para a condução de veículo automotor, porém passível de adequação;

III - inapto - quando não apresentar desempenho condizente para a


condução de veículo automotor.

O psicólogo responsável por emitir laudos e resultados deverá estar ciente das novidades
apresentadas pela academia científica para melhor emitir suas opiniões e conclusões.
O documento lembra que, caso o avaliado tenha algum tipo de distúrbio, a validade de
sua avaliação pode ser menor que a regularmente prevista.

43
Capítulo 4
Concepções da avaliação psicológica.
Processo de avaliação psicológica:
métodos descritivos e compreensivos;
a entrevista diagnóstica; tipos de
entrevistas: inicial, para aplicação dos
testes e devolutiva em psicologia de
trânsito

Concepções
Esse capítulo tem o escopo de percorrer um pouco da produção ou concepções da
avaliação psicológica. Desta forma, procuraremos discorrer objetivamente sobre
o assunto de maneira que tenhamos segurança para discutir a respeito em caso de
necessidade.

Figura 21.

Fonte: <saberesrizomaticos.blogspot.com>.

O entendimento de que a avaliação psicológica deve ser embasada em atividades


empíricas é antigo. O vínculo de resultados coerentes com instrumentos cientificamente
testados é uma constante nas argumentações dos autores da área.

44
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Existe a busca por realizar o ensino da psicologia com a preocupação de que as pessoas
aprendam a teoria e a prática de maneira uniforme e trabalhem da maneira mais ética
possível (NORONHA; REPPOLD, 2010).

Do ponto de vista prático, existem concepções que levam a avaliação psicológica a um


nível bem delimitado de atividade. Nesta, a entrevista clínica entra como principal
ferramenta para obter o máximo de informações relevantes durante o procedimento.

A busca de dados pode não se limitar apenas ao indivíduo. Em situações, o psicólogo


eleva a procura até o grupo familiar inteiro, sendo que cada ator do processo tem seu
papel especificamente definido (OCAMPO, 2005).

Por outro lado, nem todos os profissionais de psicologia têm apreço pela avaliação
psicológica como instrumento de decisão a respeito do perfil de uma pessoa. Vários são
os motivos que geraram essa “desconfiança”.

Um dos mais latentes, citados na bibliografia da área, é o fato de ter havido um


crescimento muito elevado da oferta de cursos na área, enfraquecendo o ensino e
criando viés de qualidade na atividade prática (ALCHIERI; CRUZ, 2009).

Contudo, há um movimento de revitalização da avaliação psicológica tanto na academia


científica como nas bases de formação dos psicólogos. E essa evolução é necessária, dado
o fato de que muitos psicólogos entenderem a aplicação de testes como um processo
completo de avaliação psicológica (STRAPASSON; SILVA; TEODORO, 2010).

Nunes, Muniz, Reppold, Faiad e Noronha (2012) entendem que uma melhor formação
de profissionais de psicologia conseguiria resolver alguns entraves do uso do processo
de avaliação psicológica já que, para aqueles autores, profissionais bem treinados no
campo acadêmico poderiam facilmente interpretar e aplicar manuais de práticas de
avaliação.

Como podemos ver, são diversas as concepções no campo da avaliação psicológica e,


para aprofundarmos o conhecimento, teríamos que ter vários materiais como esse com
dedicação exclusiva.

Processos de avaliação psicológica

Descritivo

Após desenvolvermos aprofundada pesquisa em artigos científicos da área de psicologia,


percebemos que não há uma fonte de informações que possa nos dar um conceito preciso

45
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

do processo descritivo de avaliação científica. Contudo, os procedimentos acadêmicos


são sempre similares entre si, diferenciando-se pela área de concentração e campo de
conhecimento.

Com base nessa argumentação temos que, do ponto de vista descritivo, a avaliação
psicológica será trabalhada no sentido de apresentar descobertas de características
intrínsecas ao indivíduo avaliado do ponto de vista individual, familiar e social.

Essas descobertas serão correlacionadas a outros fatores relativos ao que se pretende


trabalhar, no nosso caso, questões voltadas ao trânsito. O profissional que avalia terá,
ao final de um processo descritivo, condições de apresentar novas conclusões a respeito
de uma base conceitual preexistente.

Figura 22.

Fonte: <www.coladaweb.com>. Acesso em: 28/7/2016.

A entrevista semiestruturada pode ser considerada um instrumento de coleta de


dados em uma avaliação descritiva porque terá um viés voltado a exatamente o que o
profissional responsável pela atividade deseja descobrir ao final.

Compreensivo

Temos um processo composto de maior flexibilização no que tange à formação da


fundamentação clínica criada por meio de uma avaliação psicológica.

Trata-se de um trabalho que busca maior amplitude da psicanálise, envolvendo a


família do analisado e suas relações sociais (TRINCA, 1983).

46
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Figura 23.

Fonte: <livrepensamento.com>. Acesso em: 28/7/2016.

Durante o processo que formará a visão do profissional de psicologia sobre o avaliado,


haverá sempre a preocupação de contextualizar os fatos e dados colhidos.

Não apenas o conhecimento técnico fará a diferença, mas também a experiência


profissional do psicólogo e, desta forma, será possível que se chegue à conclusão de
realizar ou não testes que auxiliem a conclusão da tarefa. Apesar de importantes,
as teorias existentes acerca de um método de avaliação não devem comprometer
a capacidade do avaliador de fazer suas observações e apresentar seu entendimento
daquilo que está vendo e vivendo junto com a pessoa avaliada (TRINCA, 1984).

Resolução CFP no 425/2012

Como já visto, o CFP regula a avaliação psicológica como um conjunto de outros seis
processos: tomada de informação, processamento de informação, tomada de decisão,
comportamento, autoavaliação de comportamento e traços de personalidade.

Além do que já comentamos neste material, você encontrará mais detalhes sobre os
processos mencionados no Anexo III da referida resolução.

Entrevista diagnóstica

Figura 24.

Fonte: <www.mimp.gob.pe>. Acesso em: 28/7/2016.

47
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Vamos iniciar a discussão desse tópico abordando sua concepção infralegal. A Resolução
no 425/2012 apresenta a entrevista como sendo parte das técnicas e instrumentos
da avaliação psicológica e seu Anexo XIV traz o roteiro que deverá ser seguido pelos
profissionais que apresentamos a seguir:

1. Na entrevista deverão ser observados e registrados os seguintes


dados:

1.1. identificação pessoal;

1.2. motivo da avaliação psicológica;

1.3. histórico escolar e profissional;

1.4. histórico familiar;

1.5. indicadores de saúde/doença; e

1.6. aspectos da conduta social.

2. Os itens contidos no roteiro de entrevista psicológica deverão seguir as


normas e legislações estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia.

Do ponto de vista acadêmico, temos que se trata de uma ferramenta utilizada por
profissionais de psicologia que buscam obter informações detalhadas sobre uma pessoa
em determinado procedimento de avaliação psicológica. Para avaliações voltadas ao
trânsito, o profissional considerará os dados e elementos relacionados àquele ambiente
e àquela realidade.

A necessidade de trabalhar as entrevistas de maneira direcionada cria outra, que é o


domínio das técnicas e ferramentas, bem como das considerações acadêmicas a respeito
do que se busca estudar e analisar por meio de entrevista. O procedimento poderá ser
utilizado tanto para apresentar diagnósticos como para verificar a situação psicológica
de uma pessoa (ALCHIERI; CRUZ, 2009).

Como tudo no contexto científico, as entrevistas possuem finalidades específicas e


direcionadas ao tipo de estudo que está embasando.

Do ponto de vista psicológico, o resultado de uma entrevista deverá disponibilizar


informações comportamentais, sensoriais, de pensamentos, organização, capacidade
de resolver situações problemáticas, capacidade de se relacionar, tudo isso de acordo
com o contexto em que o ambiente está inserido, que no nosso caso é o do trânsito.

Para conseguir atingir essas finalidades, a entrevista pode ser desenvolvida de maneira
diagnóstica e/ou devolutiva, as quais veremos mais detalhadamente a seguir.

48
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Entrevista diagnóstica inicial

Trata-se de um momento em que o avaliador permitirá ao avaliado que exponha


eventuais questões que estejam lhe afligindo.

Contudo, o fato de ser um momento aberto não limita a necessidade de o profissional


relaxar com relação ao esforço com a atividade (FIORINI, 1987).

Figura 25.

Fonte: <www.taringa.net>. Acesso em: 28/7/2016.

Essa entrevista tem uma função interessante porque poderá balizar a decisão de
prosseguir ou não com eventual atividade de avaliação psicológica.

Isso porque o profissional poderá observar questões simples, como o perfil do avaliado
ao se deslocar para o local da entrevista, o tipo de apoio que ele deseja e como ele vai
lidar com a atividade (GILLIÉRON, 1996).

Por ser uma entrevista que visa construir uma relação, ela pode iniciar com um contato
à distância que parta do avaliador ou do avaliado.

A tendência é que ambos envolvidos consigam aproximar as expectativas objetivando,


sempre atender um objetivo comum, ou seja, ajudar e ser ajudado ou, dependendo do
escopo da avaliação psicológica, buscar descobrir e facilitar a descoberta de elementos
psicológicos.

Obviamente que, por se tratar de um início de trabalho de avaliação, é o momento no


qual os envolvidos irão se apresentar, o planejamento do processo será apresentado e
explicado pelo avaliador ao avaliado e eventuais dúvidas serão esclarecidas.
49
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Entrevista diagnóstica para aplicação de testes

Passada a etapa inicial, o profissional responsável pela avaliação psicológica iniciará


as ações para obter as informações necessárias à atividade. Agora, o avaliador não
se limitará a questões meramente formais da atividade, que já foram resolvidas por
ocasião da entrevista inicial.

Figura 26.

Fonte: <exame.abril.com.br>. Acesso em: 28/7/2016.

O objeto agora é, como o próprio nome diz, diagnosticar eventual situação ou perfil de
acordo com a necessidade da avaliação psicológica, sempre correlacionando os dados
obtidos com o que o referencial acadêmico apresenta sobre os elementos descobertos
e/ou em estudo. Todo o contexto deverá ser voltado a apresentar feedback ao avaliado
(CUNHA, 2000).

Eventualmente, os instrumentos e/ou a abordagem do profissional de psicologia poderá


ter algum distanciamento dos elementos acadêmicos em função da especificidade de
cada avaliação. Contudo, o objetivo final do processo de entrevista deverá ser o mesmo,
ou seja, dar aquele retorno ao entrevistado (TAVARES, 2000).

Esse tipo de entrevista estará sempre voltado a descobrir, apresentar e realizar avaliação
dos elementos ambientais que contextualizam a vida daquele que será entrevistado
e avaliado. Assim, a atenção estará em problemas, situações negativas, situações
positivas, angústias e qualquer situação que tenha atuação psicológica relevante para o
que se pretende diagnosticar.

Importante mencionar que as descobertas e avaliações da entrevista diagnóstica poderão


culminar na necessidade de execução de outros tipos de entrevista e, certamente,
embasará eventuais testes que deverão ser aplicados durante o processo de avaliação
psicológica.

50
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Um desses tipos de entrevistas que podem ser necessárias após a de diagnóstico para
testes é a devolutiva, que veremos a seguir.

Entrevista devolutiva

Tecnicamente falando, essa entrevista objetiva dar feedback ao avaliado sobre qual é a
posição do avaliador sobre seu perfil ou seu quadro, conforme o caso.

Há ocasiões em que ocorre imediatamente após a entrevista diagnóstica mencionada


anteriormente, mas isso não pode ser aplicado como regra geral porque há casos em
que o avaliador faz uso de várias técnicas e instrumentos para concluir a atividade.

Figura 27.

Fonte: <www.t1noticias.com.br>. Acesso em: 28/7/2016.

A questão é que a pessoa avaliada necessita conhecer qual é a visão do avaliador a


respeito de seu estado ou de seu perfil para evitar que haja conclusões precipitadas que
partam dele mesmo sem que sejam a realidade descoberta durante a avaliação.

Em nome da verdade, saber como foi avaliado é um direito da pessoa que passou
pelo processo e, dessa forma, principalmente no que tange às avaliações pautadas em
atividades científicas, há preocupação por parte dos pesquisadores em realizar esse
momento (NUNES; NORONHA; AMBIEL, 2012).

Por fim, como se dará a busca por facilitar o entendimento dos resultados pelo avaliado,
o profissional que conduz a entrevista devolutiva pode necessitar utilizar recursos além
do mero diálogo.

É uma etapa do processo que pode culminar na necessidade de dirigir o avaliado a


outras especialidades clínicas e, justamente por isso, não é descartada a presença de
pessoas para dar suporte àquela que passou pela avaliação.

51
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Extrapauta: entrevista de encaminhamento

Como já sabemos, os diferentes tipos de entrevistas podem revelar necessidades por


parte da pessoa avaliada que podem não ser de domínio do profissional que a está
atendendo.

Nesse caso, é dever do avaliador encaminhar aquela pessoa a outro atendimento clínico
especializado para continuidade das atividades.

O autor Tavares (2000) lembra que no ato da entrevista inicial o psicólogo pode entender
que aquela pessoa precisa ser encaminhada a outro especialista. Durante a triagem, que
funciona igual a uma entrevista inicial, pode ocorrer a entrevista de encaminhamento
para que o paciente tenha sequência/direcionamento em seu atendimento.

Extrapauta: entrevista de intervenção psicoterápica

Para fechar esse capítulo, apresentamos esse tipo de entrevista que tem como base, tal
qual as demais, prestar apoio ao avaliado.

A questão aqui tem como diferencial dar apoio à pessoa para que esta tenha condições
de mudar determinado comportamento que entende inadequado. Justamente por esse
elemento distinto, é um tipo de entrevista que caminha junto com um modelo teórico.

Contudo, cabe salientar que cada profissional que avalia um cidadão terá uma forma de
trabalhar e, para cada caso, haverá apoio teórico distinto.

52
Capítulo 5
Uso de instrumentos: procedimentos/
recursos. Avaliação psicológica
contextualizada nas questões éticas,
políticas, econômicas, sociais e
administrativas

Vamos iniciar esse capítulo observando o contexto infralegal da questão. A Resolução


no 425/2012 traz em seu art. 6o o que o CFP entende por técnicas e instrumentos de
avaliação psicológica, vejamos:

Art. 6o Na avaliação psicológica serão utilizados as seguintes técnicas e


instrumentos:

I - entrevistas diretas e individuais (Anexo XIV);

II - testes psicológicos, que deverão estar de acordo com resoluções


vigentes do Conselho Federal de Psicologia – CFP, que definam e
regulamentem o uso de testes psicológicos;

III - dinâmicas de grupo;

IV - escuta e intervenções verbais.

Parágrafo único. Para realização da avaliação psicológica, o psicólogo


responsável deverá se reportar às Resoluções do Conselho Federal
de Psicologia que instituem normas e procedimentos no contexto do
Trânsito e afins.

Como podemos ver, o primeiro item do artigo menciona as entrevistas diretas e


individuais. Esse tema já foi tratado anteriormente no decorrer de nosso material e por
isso, para continuarmos com um entendimento fluído do assunto, vamos abordar os
demais temas previstos na normatização.

Testes psicológicos
Os testes psicológicos são regulados pelo Conselho Federal de Psicologia por intermédio
da Resolução no 2/2003. Ali está disposto que testes psicológicos são instrumentos de
avaliação e medição de características psicológicas de uso exclusivo do profissional de
psicologia.

53
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Do ponto de vista contextual, o profissional que irá aplicar testes psicológicos deverá
considerar elementos previstos na norma, quais sejam:

I - Considerar os princípios e artigos previstos no Código de Ética


Profissional dos Psicólogos; (Redação dada pela Resolução CFP no
5/2012)

II - Considerar a perspectiva da integralidade dos fenômenos sociais,


multifatoriais, culturais e historicamente construídos; (Redação dada
pela Resolução CFP no 5/2012)

III - Considerar os determinantes socioeconômicos que interferem nas


relações de trabalho e no processo de exclusão social e desemprego.
(Redação dada pela Resolução CFP no 5/2012)

O parágrafo único do artigo 1o da Resolução conclui o conceito de testes psicológicos


afirmando que estes são procedimentos sistemáticos para, por meio de observação
em amostras comportamentais, possibilitar a descrição ou medir características
psicológicas.

Figura 28.

Fonte: <www.ativaclinica.com.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Para o CFP, somente podem ser considerados testes psicológicos de múltipla escolha ou
similares instrumentos que contenham as seguintes características:

»» Que contenha os fundamentos teóricos e os objetivos do teste.

»» Que tenha validação empírica (científica).

»» Que contenha apresentação científica das propriedades psicométricas.

»» Que contenha sistematização de correção do teste e de compreensão do


resultado.

54
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

»» Que apresente as formas de aplicar e corrigir o instrumento.

»» Que os requisitos anteriores estejam dispostos em um manual.

Para testes projetivos, os instrumentos deverão apresentar as seguintes características


mínimas:

»» Que contenha os fundamentos teóricos e os objetivos do teste.

»» Que tenha validação empírica (científica).

»» Que contenha sistematização de correção do teste e de compreensão do


resultado.

»» Que apresente as formas de aplicar e corrigir o instrumento.

»» Que os requisitos anteriores estejam dispostos em um manual.

Em caso de aplicação de testes desenvolvidos em outros países, a Resolução prevê que


todos os requisitos mínimos deverão ser atendidos e o instrumento deverá ser traduzido
para o português, além de que sua cientificidade ter que ser comprovada com amostras
brasileiras.

O Conselho conta com uma Comissão composta por especialistas em testes psicológicos
que terão entre suas atribuições a de emitir pareceres a pedido do CFP e sugerir eventuais
melhorias em instrumentos.

Figura 29.

Fonte: <www.iasdjardimpaulista.com.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Outro ponto é que os testes que sejam encaminhados para análise do CFP deverão
obedecer a uma tramitação prevista na Resolução, qual seja:

55
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

I – Recepção;

II – Análise;

III – Avaliação;

IV – Comunicação da avaliação aos requerentes, com prazo para


recurso;

V – Análise de recurso; e

VI – Avaliação Final.

§ 1o – A recepção consiste no protocolo de recebimento, inclusão no


banco de dados e encaminhamento para análise.

§ 2o – A análise é feita com a verificação técnica do cumprimento das


condições mínimas contidas no Anexo I desta Resolução, realizada
inicialmente pelos pareceristas Ad hoc e posteriormente, pela Comissão
Consultiva em Avaliação Psicológica, resultando em um parecer a ser
enviado para decisão da Plenária do CFP.

§ 3o – A avaliação poderá ser favorável quando, por decisão do Plenário


do CFP, o teste é considerado em condições de uso , ou desfavorável
quando, por decisão do Plenário do CFP, a análise indica que o teste não
apresenta as condições mínimas para uso. Nesse caso, o Parecer deverá
apresentar as razões, bem como as orientações para que o problema
seja sanado.

§ 4o - A comunicação de avaliação ocorre quando do recebimento desta


pelo requerente, podendo o mesmo apresentar recurso no prazo de 30
dias, previsto no Art. 12 inciso IV desta Resolução, a contar da data que
consta no Aviso de Recebimento (AR).

§ 5o - A análise do recurso à avaliação desfavorável, realizada pela


Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, ocorre quando do
recebimento do recurso do requerente.

§ 6o – A avaliação final desfavorável ocorre quando, mediante análise,


a avaliação desfavorável prevalece diante da resposta de que trata o
parágrafo anterior, ou quando esta resposta não for apresentada no
prazo estabelecido nesta resolução, caso em que o teste será considerado
sem condições de uso.

56
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Uma vez aprovado pela Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica do CFP, o teste
estará apto a ser utilizado.

A Resolução prega que o CFP considerará as concepções científicas para aprovar testes
encaminhados à sua apreciação.

A responsabilidade pela escolha da melhor condição de uso de um teste será do


profissional de psicologia que irá aplicá-lo.

Os prazos de tramitação do procedimento de avaliação de testes no CFP estão previstos


no art. 12 da Resolução no 2/2003 e são os seguintes:

I – 30 (trinta) dias, a partir da data de recebimento do teste psicológico


pelo CFP, para os procedimentos de recepção e encaminhamento à
Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica ou parecerista Ad hoc
por esta indicado;

II – 60 (sessenta) dias, a partir do recebimento do teste para análise,


para emissão de parecer pelo parecerista Ad hoc;

III – 30 (trinta) dias, a partir do recebimento do parecer, para emissão


do parecer pela Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica;

IV – 30 (trinta) dias, a partir da notificação, para apresentação de


recurso pelo responsável técnico pelo teste psicológico; e

V – 30 (trinta) dias, a partir do recebimento, para análise e parecer da


Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica ao recurso do requerente.

O CFP demanda que a validação empírica (científica) de testes que já foram aprovados
deve ser revista periodicamente para verificar se houve alteração de dados de efetividade,
de interpretação e se os dados utilizados atualmente podem ser mantidos. Essa revisão
é de responsabilidade do profissional que projetou o teste e da Editora que o lançou.

Testes que não tenham sido homologados pelo CFP só podem ser utilizados para fins de
pesquisa. Caso contrário, o usuário será considerado antiético.

Para manter o público informado, o Conselho divulgará com frequência instrumentos


em análise, aprovados, reprovados, em uso e retirados de uso.

Sem exceção, os testes psicológicos estão sujeitos à Resolução no 2/2003 do CFP e


deverão contar com um psicólogo responsável, ter aprovação do Conselho e só ser
disponibilizado a profissionais devidamente registrados no Conselho Federal de
Psicologia.

57
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

A utilização de testes psicológicos será fiscalizada pelo CFP e poderão resultar em ações
de intervenção em caso de desrespeito à regulamentação.

Ademais, eventual desrespeito às normas poderá resultar em descumprimento de leis


e suas respectivas sanções.

Ética na avaliação psicológica

Figura 30.

Fonte: <www.sala.org.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Como já pudemos analisar, a avaliação psicológica é formada por uma série de fatores
que reúnem a ciência, as experiências profissionais do avaliador, as experiências
pessoais do avaliado, conceitos voltados ao contexto pessoal, ou seja, uma série de
elementos de contexto social e pessoal.

As conclusões das análises do psicólogo resultarão em um laudo que apresentará


as impressões do profissional sobre o quadro do avaliado no contexto para o qual a
atividade foi desenvolvida.

O objetivo central do profissional que realiza uma avaliação psicológica deve ser o de
tornar melhor a vida do avaliado.

Se trouxermos essa afirmação para o contexto do trânsito, esse objetivo estaria voltado
a dar feedback a um cidadão se está apto ou não a se tornar um condutor ou, até mesmo,
a permanecer habilitado.

Todos os profissionais devem obedecer a princípios que regulam suas atividades no


sentido de permitir que os objetivos da profissão sejam atingidos e, no caso do psicólogo,
estes estão previstos no código de ética.

De maneira simplista, podemos dizer que o profissional deve dedicar suas habilidades a
dar retorno positivo à sociedade na forma de um trabalho feito com princípios e moral.

58
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Este material tem o objetivo de trabalhar assuntos de maneira ampla e, por isso, não
podemos adentrar da maneira devida no todo da ética, pois apenas esse tema, seria
suficiente para um material completo.

No entanto, alguns elementos que norteiam a ética podem ser descritos de maneira
simplista, como segue:

»» Para ser ético, o profissional deve usar sua autonomia para o bem comum.

»» Para ser ético, o profissional deve usar sua perícia para providenciar o
bem-estar de quem o procura.

»» Para ser ético, o profissional não deve, em hipótese alguma, fazer mal às
pessoas ou, na pior das hipóteses, não causar prejuízo.

»» Para ser ético, o profissional deve ser justo com todos os que dele
necessitam.

É por esse motivo que o profissional que realiza avaliações psicológicas deve estar
sempre atendo aos princípios que segue ao realizar sua atividade, aos benefícios que
seus atos trazem aos avaliados, ao tipo de relacionamento gerado com seus clientes,
à forma como utiliza as ferramentas disponíveis e a como informa as pessoas de suas
conclusões (BOTOMÉ, 1997).

Uma das referências no que concerne aos princípios éticos voltados à avaliação
psicológica, Wechsler (2001) produziu um guia de atitudes éticas do profissional da
área. Esse guia nos traz o seguinte:

»» A seleção de testes deverá considerar:

›› Decidir o que será avaliado encontrando no referencial bibliográfico os


melhores instrumentos.

›› Considerar as características psicométricas dos instrumentos em


consonância com a realidade brasileira.

›› Aplicar os instrumentos considerando todas as características e


limitações pessoas do avaliado.

›› Checar se os manuais possuem todas as informações necessárias.

›› Procurar apoio de outros profissionais, se faltar alguma informação.

59
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

»» A administração dos testes deve considerar:

›› Informar o avaliado para que serve eventual teste e conseguir a


autorização formal para aplicá-lo.

›› Verificar a adequação do ambiente onde a avaliação será aplicada.

›› Ter à disposição os insumos necessários à aplicação da avaliação.

›› Manter o avaliado motivado a participar das tarefas inerentes à


avaliação.

›› Cuidar para que o avaliado confie na atividade que está sendo


desenvolvida e em quem a está desenvolvendo.

›› Estar sempre atento aos feedbacks comportamentais dos avaliados,


pois estes podem comprometer o resultado da avaliação.

›› Não se desviar dos manuais.

›› Manter o foco na avaliação, evitando qualquer tipo de ação que possa


desvirtuar a atividade e seu propósito como, por exemplo, sair do
recinto.

›› Deixar claro aos envolvidos que a aplicação de algum teste durante a


avaliação é responsabilidade do profissional que está aplicando.

›› Nunca disponibilizar cópias de testes realizados em avaliações.

›› Nunca desenvolver avaliações ou eventuais testes de maneira indireta


(a distância).

›› Nunca gravar o que acontece durante a avaliação sem consentimento


do avaliado.

›› Nunca tentar utilizar tecnologia para substituir a presença do


profissional avaliador.

»» Na correção e interpretação de resultados deve ser considerado:

›› Os critérios e índices adequados a cada tipo de atividade.

›› Unir dados qualitativos e quantitativos ao que foi vivenciado durante


a avaliação.

60
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

›› Dar seu entendimento aos resultados sabendo que eles se baseiam em


valores estimativos e não absolutos do que o avaliado expôs.

›› Sempre se basear em normativos atualizados.

›› Nunca substituir completamente os dados colhidos por análises de


computadores já que estas servem apenas de apoio.

›› Manter em arquivos os dados confidenciais que recolher conforme


previsto em código de ética.

»» Ao elaborar laudos e entrevistas devolutivas, deve ser considerado:

›› Que valores pessoais e preconceitos jamais deverão nortear qualquer


conclusão.

›› Que relatórios deverão ser de fácil compreensão sem desconsiderar a


complexidade do avaliado.

›› Que para o relatório ter fácil compreensão, a forma de expressar os


resultados deverá está de acordo com o público que irá recebê-los.

›› Não apresentar suas conclusões como um questionário de respostas


preestabelecidas.

›› Que as pessoas têm direito aos resultados da avaliação e às conclusões


deles resultantes.

›› Que dados de menores deverão ser devolvidos aos responsáveis.

›› Que todas as informações colhidas em avaliações são sigilosas e que os


dados pessoais dos avaliados estão nesse rol.

›› Sempre apresentar as conclusões da avaliação em formato de laudo.

Ainda assim, você pode ter certeza que existem muitas situações em que o código de
ética ou regras apresentadas são simplesmente desprezadas pelo profissional que realiza
avaliações psicológicas, um perfil que dever ser combatido pelo bem da profissão e da
atividade.

61
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Políticas da avaliação psicológica

Criado em 1971 por meio da Lei no 5.766, para criar normas, realizar fiscalização, prestar
orientação e dar diretrizes à profissão de psicólogo, o Conselho Federal de Psicologia é a
organização responsável por desenvolver e disseminar políticas nessa área.

No entanto, as atividades privativas de um profissional da área de psicologia já estavam


registradas bem antes e foi na Lei no 4.119, de 1992, que ficou definida essa questão.

Como já vimos, dando sequência à sua atuação política que anda paralela à sua atuação
fiscalizadora e reguladora, o CFP emitiu diversas Resoluções para que todas as nuances
da profissão estivessem devidamente reguladas.

Entre elas, temos a Resolução no 2/2003 que trata dos testes psicológicos. Não obstante,
o Conselho disponibilizou, ainda em 2003, um sítio que possibilita aos interessados
conhecimento sobre a situação de testes em andamento <http://satepsi.cfp.org.br/>.

No tópico anterior, discutimos de maneira mais profunda os testes psicológicos, que


compõem importante atividade na atuação política do CFP em função de avaliação
psicológica e, por isso, vamos dar sequência em fatos novos.

As políticas do CFP voltadas à avaliação psicológica tem tido um propósito mais


de orientar, já que uma preocupação sempre presente é dar cientificidade aos
procedimentos de avaliação, observando o contexto nacional e relacionando-os às
descobertas acadêmicas.

O Conselho tem levado tão a sério a questão de orientar a profissão para que seja
desempenhada com maior qualidade, que até textos apresentados em certames para
cargos públicos são analisados para eventuais utilizações em pesquisas que estão em
andamento.

O órgão tem preocupação, inclusive, de que os produtos oriundos de pesquisa na área


da psicologia que resultem em ferramentas para avaliação psicológica sejam de acesso
exclusivo a psicólogos, assim, o contato com editoras é constante nesse sentido.

Com esse viés científico cada vez mais aparente, o CFP tem políticas de desenvolvimento
da literatura acadêmica da área. Desta forma, realiza convênios com diversas empresas
ou organismos que trabalham para desenvolver os estudos na área da avaliação
psicológica e da profissão como um todo.

A título de comparação, na década de 1990 havia registro de 406 trabalhos científicos


na área; já na década de 2000, esse número chegou à casa de aproximadamente 2.100
produções.
62
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES nos


disponibiliza um estudo que demonstra o avanço dos estudos na área, vejamos:

Quadro 1. Teses e dissertações – 1990 a 2010.


Teses e Dissertações - 1990 a 2010
Ano No de Produções
1990 14
1991 8
1992 22
1993 21
1994 22
1995 34
1996 37
1997 82
1998 71
1999 95
2000 114
2001 150
2002 176
2003 199
2004 231
2005 265
2006 256
2007 266
2010 494
Total 2557
Fonte: <www.capes.gov.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Resta evidente que estamos longe de conseguir dizer que o estudo deste tema está
esgotado. Justamente por isso, o CFP, trabalhando sua política de atualização dos
conhecimentos, já vislumbra ações para avançar os estudos sobre avaliação psicológica
para descobrir se o que se sabe ainda é contemporâneo e válido.

Assim, justifica-se a ocorrência de eventos acadêmicos constantes para que a união do


saber de vários acadêmicos resulte em um trabalho que manterá a base de conhecimento
atualizada. Isso se dá em seminários, congressos, workshops que ocorrem com certa
frequência e já ganharam o cenário nacional.

Ademais, o CFP tem se esforçado para manter equipe perene de pareceristas ad hoc
para realizar as avaliações necessárias sempre com o objetivo de manter a base teórica
dos instrumentos de avaliação psicológica atuais e efetivos.

Economia na avaliação psicológica

Já sabemos que a avaliação psicológica resultará em um laudo e/ou um relatório


que deverá considerar os elementos ambientais em torno do indivíduo e isso inclui o
ambiente econômico.

63
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

A questão ambiental é um dos motivos de o CFP ter tanta preocupação com a atualidade
acadêmica dos fatos e dados que circulam a atividade de avaliação psicológica. Essa
atualidade permitirá que o psicólogo consiga considerar a realidade do avaliado e,
assim, efetivamente considerará sua realidade econômica.

Vários instrumentos de avaliação psicológica que surgem no Brasil não têm origem em
nossa realidade e, dessa forma, foram elaborados em ambientes econômicos diferentes.

Não é necessário sermos peritos em economia para considerarmos inócuo que uma
ferramenta produzida na Suécia, um país desenvolvido, seja imediatamente utilizado
em um país emergente.

A realidade econômica de um país afeta diretamente o perfil das pessoas em determinadas


situações. Sabemos que quem é milionário, muitas vezes passa por crises sem sentir.
Ele rico “apenas” deixará de ganhar muitos milhões ao ano e se contentará com menos
milhões. O pobre, em algumas situações, sofre impacto menor por ter menos posses e a
classe média geralmente sofre um impacto grande.

Por isso, é importante sabermos tanto do contexto de quem está passando por uma
avaliação psicológica e o contexto econômico tem influência à medida que afeta o
avaliado.

Isso não se limita a pessoas em si. No ponto de vista das empresas, há o aspecto
ambiental. Crises também afetam organizações, incidem em demissões, que incidem
em estresse, que incide em insatisfação etc. Note que são elementos que certamente
afetarão o resultado final de uma avaliação psicológica.

Até para escolher o melhor candidato a emprego, o aspecto econômico pode influenciar
no resultado de uma avaliação. Isso porque a pessoa que está buscando uma oportunidade
raramente o faz para satisfazer o ego.

Geralmente, se busca um trabalho para ter como se sustentar e à família. Se o contexto


econômico é precário, o nível de estresse do avaliado tenderá a ser alto e o psicólogo
deverá levar isso em consideração.

Contexto social na avaliação psicológica

Todas as profissões possuem um viés social muito grande. O administrador, por


exemplo, tem como objetivo melhorar a gestão das empresas para que elas gerem mais
empregos e, consequentemente, igualdade social.

64
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

O médico, por sua vez, busca oferecer conforto e maiores condições de saúde a todos de
maneira igual. O psicólogo busca atender seus pacientes de maneira a tratar eventuais
distúrbios para que possam ter uma vida normal como todos os demais e assim por
diante.

Note que em alguns casos, há a preocupação com a igualdade social no final das contas.
Ainda que isso seja um pouco utópico, não deixa de ser real e é praticado pela ampla
maioria dos profissionais.

Em função desse impacto social, muitas atitudes foram tomadas para melhorar o uso
das avaliações psicológicas.

No Brasil, um marco foi a criação do Conselho Federal de Psicologia que, como já


vimos, trabalha no sentido não apenas de fiscalizar, mas também de elevar os padrões
de qualidade teórica e prática da atividade.

Durante a evolução das ferramentas utilizadas para realizar avaliação psicológica, a


profissão passou por diversas transformações que a elevaram a um patamar de ciência
inconteste. Hoje, os instrumentos permitem os profissionais descobrirem elementos
vinculados a vários aspectos da vida das pessoas: comportamento, preferências,
crenças, atitudes etc.

Essa amplitude de abordagens foi acompanhada por uma enorme gama de penetração
da avaliação psicológica que hoje é utilizada em hospitais, escolas, orfanatos, institutos
de trânsito etc. Esse é o grande viés social da atividade, porque se mal desempenhada
as pessoas que dela deveriam se aproveitar podem ser prejudicadas pelo resto da vida.

A atuação do CFP e de Conselhos Regionais para fiscalizar e melhorar a avaliação


psicológica é de suma importância e conta com o apoio e a cobrança da sociedade em
peso já que o interesse é que as pessoas avaliadas fiquem melhores e não piores.

Lembra que já vimos que o profissional deve guardar sigilo, informar aos de direito,
manter arquivos, preparar laudos etc.? Tudo isso faz parte da preocupação dos órgãos
de fiscalização e controle com o viés social da atividade.

Caso os Conselhos não tivessem uma atuação forte e próxima à sociedade por meio de
ouvidorias, disque-denúncia e outros meios de contato, não poderiam esperar algo que
não fosse desconfiança de suas ações. A avaliação psicológica resultará em dados que
podem impactar negativamente a vida de qualquer pessoa e isso deve ser considerado
constantemente.

65
UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS

Contudo, nada disso teria sentido se o profissional não comprasse e concordasse com a
ideia de que a avaliação psicológica deve passar à sociedade a imagem de uma atividade
ética, competente e socialmente responsável.

Assim, as orientações do CFP por meio de resoluções, bem como os eventos científicos
que discutem a atuação profissional, têm importância ímpar para a atualização desses
profissionais (OAKLAND, 2009).

Como posso ter certeza de que há influências sociais sobre resultados de


avaliações psicológicas?

Vamos responder essa pergunta com outras:

»» Como você acha que as empresas de marketing sabem o que expor em


seus comerciais?

»» Como você acha que as empresas de entretenimento sabem


exatamente o que oferecer ao seu público?

»» Como você acha que os partidos políticos atraem milhares de pessoas


a um indivíduo em especial?

Pois é pessoal, daí a importância dessa preocupação com o viés social da avaliação
psicológica para o trânsito, porque se os dados e resultados param em mãos erradas
podem influenciar milhares de pessoas de maneira errada. Isso é algo a se pensar!

Contexto administrativo na avaliação psicológica

Agora vamos discutir como a avaliação psicológica funciona em contexto organizacional


ou administrativo nas empresas e consequentemente no trânsito.

Começamos pelo conceito inicial: as empresas são um conjunto de pessoas que envidam
esforços para obter resultados em comum. Enquanto os proprietários buscam o lucro,
as pessoas buscam benefícios, segurança e salários.

Na atualidade, podemos inserir, sem preocupação com erro, o elemento “realização


profissional” no rol de elementos que impulsionam as pessoas.

Pelo que já estudamos até aqui, considerando essa pequena descrição, temos um
universo enorme de oportunidades para a avaliação psicológica no contexto das
organizações (administrativo) e fazer um paralelo disto com o trânsito.

66
CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I

Se tivermos pessoas impulsionando empresas, temos que ter preocupação em trazer as


pessoas certas. Nesse momento, temos o que chamamos de processo de recrutamento
e seleção.

Nos dias atuais, cada vez mais a avaliação psicológica tem tido influência no final de toda
escolha de pessoas. Isso porque, após todos os testes e provas, antes de sacramentar a
contratação, os candidatos que chegarem ao final do processo serão submetidos a uma
avaliação psicológica.

Assim, a avaliação psicológica tem funcionado como um funil de candidatos.


É possível que em um universo enorme de pessoas existam 10 que seriam perfeitas
operacionalmente para uma vaga, contudo, a avaliação psicológica irá restringir mais
ainda esse universo para que o contratante possa optar por, no máximo, três pessoas e,
assim, facilitar sua decisão.

As academias de polícia só recebem candidatos que tenham passado por várias provas
e testes e, após isso, por avaliação psicológica que irá determinar se o perfil da pessoa é
compatível com uma função que irá por em suas mãos um instrumento letal e o poder
de usá-lo.

Veja que, no caso da aquisição de uma Carteira Nacional de Habilitação, quando o


candidato é avaliado psicologicamente, um dos objetivos é descobrir se ele tem condições
de lidar com todas as nuances que irá enfrentar no dia a dia atrás de um volante.

É por isso que o CNP busca trabalhar os testes de maneira cada vez mais profunda,
atual, científica e profissional.

Esses testes vão apoiar as conclusões do psicólogo ao final de uma avaliação psicológica
e, essas conclusões vão apoiar as decisões dos gestores nas empresas. Esse é o grande
viés administrativo da atividade.

67
AVALIAÇÃO DE
PSICOLOGIA PARA Unidade iI
A CONDUÇÃO DE
VEÍCULOS

Capítulo 1
Normas e procedimentos de avaliação
psicológica para candidatos

A questão é regulada pelo Conselho Federal de Psicologia por meio da Resolução


no 7/2009, em seu anexo denominado “Normas e procedimentos para avaliação
psicológica de candidatos à carteira nacional de habilitação (CNH) e condutores de
veículos automotores”.

O documento é formado por seis partes sendo:

»» Conceito de Avaliação Psicológica.

»» Habilidades mínimas do candidato à CNH.

»» Instrumentos de avaliação psicológica.

»» Condições de aplicação dos testes.

»» Mensuração e avaliação.

»» Resultado e laudo.

Como podem notar, já estudamos todos os itens no decorrer desta apostila, contudo,
podemos apresentar um aprofundamento a respeito do item que trata das habilidades
mínimas dos candidatos à CNH.

Desta forma, vamos apresentar um breve resumo dos outros tópicos e aprofundar o
mencionado.

68
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

Conceito de avaliação psicológica

Figura 31.

Fonte: <ivsemanacs.wordpress.com>. Acesso em: 29/7/2016.

Para não sermos repetitivos em relação aos conceitos já apresentados no decorrer deste
material, vamos trasncrever in verbis o conceito apresentado pelo CFP na Resolução
que estamos estudando:

A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico


de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito
dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do
indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias
psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das
avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos
e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem
como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na
modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da
demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica.

Habilidades mínimas

Aqui, vamos aprofundar nossa compreensão de cada habilidade que o candidato à CNH
deve ter para poder obtê-la.

Tomada de informação

Todo processo psíquico passa, essencialmente, por estímulos. Os condutores, e aí


incluímos ciclitas, motociclistas, motoristas de veículos etc., quando no trânsito, acabam
por utilizar processos psíquicos para tomar decisões relativas a ações consideradas
seguras no trânsito.

69
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

Os estímulos, na visão de Rozestraten (1988), são as informações que a pessoa adquire


do ambiente e transforma em sensações ou percepções. Esses elementos permitem
que as pessoas compreendam o que acontece ao seu redor com maior facilidade e de
maneira mais coerente.

Justamente por isso a tomada de informação inclui em seu rol de elementos aquele que
talvez seja o mais importante do ponto de vista operacional de um veículo, ou seja, a
atenção. Juntamente com a percepção do que ocorre ao seu redor, o condutor atento
certamente terá mais êxito na tarefa de guiar.

Outra questão que não é segredo a ninguém que dirige ou está aprendendo a dirigir
é o fato de que se trata de uma atividade com certo grau de complexidade. É um ato
que possui inúmeras funções mecânicas e tecnológicas que demandam um grau de
conhecimento considerável de quem o pratica.

Estamos falando da cognição e, falando em cognição, falamos no que sabemos e


aprendemos. Essa relação (conhecimento x aprendizado) permitirá ao condutor ser
melhor ou pior em tomar decisões, resolver problemas, se relacionar etc.

Um autor chamado Hoffman (2005) trabalhou um conteúdo acadêmico no qual afirma


que nem sempre o que um condutor vê ele enxerga. Isso é diretamente relacionado à
capacidade que a pessoa tem de perceber o ambiente, transformar aquilo em informação
e tomar uma decisão a respeito. No final, tudo está em torno da tomada de informação,
que irá gerar elementos que levem o condutor à atenção necessária ao ato de dirigir.

A questão é que existem diversos elementos que trabalham contra o aspecto “atenção”
que é tão falado ao se discutir a tomada de informação.

A ingestão de bebidas alcóolicas, sono, excesso de equipamentos eletrônicos no veículo


e várias outras funções podem simplesmente transformar o condutor em alguém que
vê, mas não enxerga por mera falta de atenção.

A personalidade do cidadão pode, também, impactar diretamente em sua capacidade


de prestar atenção.

Se estivermos diante de uma pessoa com facilidade para perder a calma, fatalmente
teremos um condutor que passará por momentos de grande estresse no trânsito. As
grandes cidades estão com pouca estrutura para muitos veículos e isso pode causar um
transtorno para pessoas com esse tipo de perfil (ROCHA, 2005).

70
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

Como podemos observar, a tomada de informação é de suma importância para ajudar


o processo de avaliação e perícia psicológica no trânsito, mesmo porque pode trazer
elementos que trabalham positiva ou negativamente em condutores.

Processamento de informação

Temos aqui um parâmetro que baseou diversos modelos de estudo a partir de 1950.
A questão é relacionada à capacidade ou não de um condutor conseguir transformar
todos os sinais recebidos em informações úteis para uma condução segura.

Como o ser humano é limitado em sua capacidade de processar informações, está


inerente a uma série de fatores que podem resultar em acidentes de trânsito de grandes
proporções. O condutor não passa de uma vítima no universo de elementos ambientais
que limitam sua capacidade de processar informações (SANTOS, 2013).

Importante mencionar que o processamento de informação compõe a capacidade


cognitiva do condutor. A capacidade cognitiva está relacionada ao grau de inteligência
de uma pessoa e isso envolve a habilidade de raciocinar, capacidade memorial etc.

Tomada de decisão

Chegamos ao ponto em que as informações eventualmente obtidas por um condutor


são devidamente processadas para viabilizar o momento em que ele agirá de acordo
com sua capacidade de tomar decisões.

Não é tão simples como decidir se vai almoçar ou se vai ir ao banheiro. A tomada de
decisão, no contexto da avaliação e perícia de psicologia do trânsito, aborda um universo
amplo, porém que culmina no instante em que o condutor resolve o que fará.

De um ponto de vista prático, temos a teoria da homeostase que explica a tomada de


decisões como o momento em que o condutor age de maneira a minimizar de maneira
drástica a possibilidade de eventual acidente.

No entanto, a mesma teoria lembra que existem grupos no qual a busca pela aventura
pode ampliar o risco de acidentes de maneira considerável (WILDE, 2005).

Rozestraten (1988) entende que a tomada de decisões é vinculada aos outros aspectos
do perfil psicológico da pessoa.

Tal relação pode impactar na capacidade que o indivíduo tem de decidir de maneira
correta e isenta. Esse entendimento não é isolado, já que na visão de Carvalho e
Morgado (2005), os condutores que estavam envolvidos em acidentes que foram objeto
71
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

de pesquisas, em geral, tinha traços psicológicos com instabilidade emocional, levando


a uma consequênte limitada capadidade de decidir de maneira a evitar as situações.

Comportamento e autoavaliação do
comportamento

Esse aspecto é interessante porque é o foco de estudo da Psicologia em qualquer


contexto. É a necessidade de se movimentar que faz com que as pessoas resolvam
se arriscar no trânsito, nas ruas ou em qualquer situação que lhe permita
atender àquele impulso. O que guia esse impulso é o comportamento de cada um
(ROSESTRATEN, 1998).

Figura 32.

Fonte: <alexquinto.blogspot.com>. Acesso em: 29/7/2016.

Segundo Rosestraten (1998), o comportamento do condutor leva em consideração


sua cognição do que vem a ser o trânsito, sua prática como condutor e a forma como
aprendeu a conduzir.

O autor menciona, ainda, que o relacionamento social e cultural pode, também,


influenciar no comportamento do motorista no trânsito.

É observando a forma como as pessoas se comportam no trânsito que o pesquisador


de Psicologia do Trânsito poderá inferir eventuais problemas relacionados a atitudes
danosas ou benéficas a toda a sociedade no que diz respeito à prática de dirigir
(ROZESTRATEN, 2000).

Com pesquisas e observações, os Psicólogos especializados em trânsito buscam


encontrar meios de tornar a relação comportamental entre o condutor e o ambiente
menos danoza.

Uma vez tendo conhecimento de patologias, é mais fácil tratar o problema na pessoa.
No caso do trânsito, o conhecimento de problemas comportamentais permitirá a adoção
de comportamentos melhores por parte de todos (RAMIS; SANTOS, 2012).

72
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

No campo prático, busca-se meios de criar métodos eficientes de testar o perfil psicológico
dos condutores de maneira conhecer, dentre outros, seu comportamento em contexto
de trânsito, para comparar o que for descoberto com o que seria considerado adequado
a um bom condutor.

Traços de personalidade

Aqui temos um elemento que é obrigatório no ato de avaliação de condutores por parte
do Conselho Nacional de Trânsito. O objetivo é encontrar padrões na forma de pensar,
sentir e agir das pessoas. O problema é que não há um critério que possibilite o analista
afirmar se um condutor está ou não apto a dirigir por meio dos testes de traço de
personalidade. Os resultados não permitem uma conclusão definitiva criando esse viés.

Figura 33.

Fonte: <www.sobreavida.com.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Em pesquisa, concluída no ano de 2003, Alchieri e Stroecher descobriram que há um


universo que supera dois mil indicadores que classificariam uma pessoa como apta ou
não nos testes psicológicos de trânsito. Trata-se de um universo de possibilidades que
deixa clara a não congruência de dados e informações entre os pesquisadores da área.

Afinal, como lidar com questões como essas:

»» Pessoa que ignora velocidade máxima por não ter interesse.

»» Pessoa que avança no sinal vermelho por ser impaciente.

»» Pessoa que não olha se há alguém na faixa de pedestre por não dar
importância a esse tipo de detalhe.

»» Etc.

73
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

Em um aprofundamento de estudos, que insistimos ser importante levar em


consideração, observamos que há a concordância entre os pesquisadores de que a mera
observação da personalidade das pessoas não pode ser determinante para dizer se ela é
ou não um perigo como condutora.

No entanto, esses pesquisadores já concordam que determinados traços são sim fatores
importantes para predizer se aquele indivíduo tem maior ou menor propensão a se
envolver em um acidente no trânsito por motivos diversos.

Instrumentos de avaliação psicológica

A Resolução no 7/2009 nos informa que os instrumentos mais utilizados para apoiar
a avaliação psicológica são a entrevista psicológica (que estudamos profundamente no
capítulo 4) e o teste psicológico (que estudamos com ênfase no capítulo 3).

Desta forma, tal qual fizemos no item que tratou o conceito de avaliação psicológica,
faremos aqui, ou seja, apresentaremos o conceito que a Resolução no 7/2009 traz para
os dois instrumentos com o objetivo de não nos tornarmos repetitivos.

No entanto, cabe aqui o registro que este material segue o padrão indicado pela
Resolução 425/2012, que indica o que um especialista em psicologia do trânsito deve
estudar e, por isso, alguns trechos apresentam conteúdos reiterados.

Então, segundo a Resolução no 7/2009, a entrevista psicológica é:

[...] uma conversação dirigida a um propósito definido de avaliação.


Sua função básica é prover o avaliador de subsídios técnicos acerca da
conduta, comportamentos, conceitos, valores e opiniões do candidato,
completando os dados obtidos pelos demais instrumentos utilizados.

Figura 34.

Fonte: <artesdoensino.blogspot.com>. Acesso em: 29/7/2016.

74
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

Já os testes psicológicos são apresentados como:

uma medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento


do sujeito, tendo a função fundamental de mensurar diferenças ou
mesmo as semelhanças entre indivíduos, ou entre as reações do mesmo
indivíduo em diferentes momentos.

Condições de aplicação dos testes

Figura 35.

Fonte: <www.devmedia.com.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Igualmente aos testes psicológicos, as condições de aplicação dos testes foram debatidos
com ênfase no capítulo 3 deste material e, por isso, não iremos abordar novamente para
evitar repetição de conteúdo. Na dúvida, você deve retornar ao capítulo 3 para consulta.

Mensuração e avaliação

Igualmente aos testes psicológicos, a mensuração e avaliação dos testes foram debatidos
com ênfase no capítulo 3 deste material e, por isso, não iremos abordar novamente para
evitar repetição de conteúdo. Na dúvida, você deve retornar ao capítulo 3 para consulta.

Figura 36.

Fonte: <www.psicronos.pt>. Acesso em: 29/7/2016.

75
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

Resultado e laudo

Igualmente aos testes psicológicos, o resultado e laudo dos testes foram debatidos com
ênfase no capítulo 3 deste material e, por isso, não iremos abordar novamente para
evitar repetição de conteúdo. Na dúvida, você deve retornar ao capítulo 3 para consulta.

76
Capítulo 2
Avaliação de candidatos para
mudança de categoria de CNH e de
pessoas portadoras de necessidades
especiais

Esse é um capítulo que tratará especificamente de mudança de categoria de CNH.


A Resolução no 168, de 14 de dezembro de 2004 emitida pelo Conselho Nacional de
Trânsito (CONTRAN), entre outras coisas, estabelece normas e procedimentos para
formação de condutores, de reciclagem e dá outras providências.

A competência dessa resolução fica evidente no texto apresentado em seu Art. 1o, veja:

Art. 1o As normas regulamentares para o processo de formação,


especialização e habilitação do condutor de veículo automotor e elétrico,
os procedimentos dos exames, cursos e avaliações para a habilitação,
renovação, adição e mudança de categoria, emissão de documentos de
habilitação, bem como do reconhecimento do documento de habilitação
obtido em país estrangeiro são estabelecidas nesta Resolução.

A princípio, a Resolução se preocupa com os exames de aptidão física e mental. Ela


determina em seu Art. 6o que, por ocasião da adição ou mudança e categoria (item III),
o candidato deverá se submeter aos exames.

A título de obrigatoriedade de avaliação psicológica para mudança de CNH, entendemos


importante transcrever o § 2o do Art. 6o, vejamos:

§ 2o A Avaliação Psicológica será exigida quando da:

a) obtenção da ACC e da CNH;

b) renovação caso o condutor exercer serviço remunerado de transporte


de pessoas ou bens;

c) substituição do documento de habilitação obtido em país estrangeiro;

d) por solicitação do perito examinador.

Note que o rol exclui a mudança de CNH que pode ter sido uma forma de
prestigiar a atividade já realizada durante a obtenção do documento. Contudo,
é no mínimo curioso que uma pessoa que vai passar a ter autorização para

77
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

dirigir um ônibus articulado, por exemplo, não tenha um reexame, afinal, como
vimos durante toda a conceituação da atividade de avaliação psicológica, cada
contexto demanda um trabalho diferenciado.

O Art. 9o da Resolução nos diz que a instrução de condutores deve seguir o que está
disposto no Art. 158 da Lei no 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro). Vamos ver o
que esta resolução informa:

Art. 158. A aprendizagem só poderá realizar-se: (Vide Lei no 12.217, de


2010)

I - nos termos, horários e locais estabelecidos pelo órgão executivo de


trânsito; e

II - acompanhado o aprendiz por instrutor autorizado.

§ 1o Além do aprendiz e do instrutor, o veículo utilizado na aprendizagem


poderá conduzir apenas mais um acompanhante. (Renumerado do
parágrafo único pela Lei no 12.217, de 2010).

§ 2o Parte da aprendizagem será obrigatoriamente realizada durante


a noite, cabendo ao CONTRAN fixar-lhe a carga horária mínima
correspondente. (Incluído pela Lei no 12.217, de 2010).

Resolvemos apresentar o conteúdo do artigo acima porque o parágrafo único do Art. 9o


da Resolução 168 do CONTRAN tem uma determinação específica quando se trata de
mudança de categoria de CNH, que é no “Parágrafo único”, que diz que: “Quando da
mudança ou adição de categoria o condutor deverá cumprir as instruções previstas nos
itens 2 ou 3 do Anexo II desta Resolução”.

Em seguida, vamos trazer ao corpo de nosso material o item 2 (que trata da mudança
de categoria) sem excluir a necessidade de você conhecer todo o conteúdo das normas
aqui mencionadas. Vejamos:

2. CURSO PARA MUDANÇA DE CATEGORIA

2.1 CURSO DE PRÁTICA DE DIREÇÃO VEICULAR

2.1.1 Carga Horária Total: 15 (quinze) horas aula

2.1.2 Estrutura curricular

- O veículo: funcionamento e equipamentos obrigatórios e sistemas;

- Prática na via pública: direção defensiva, normas de circulação e


conduta, parada e estacionamento, observação da sinalização.

78
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

2.2 DISPOSIÇÕES GERAIS

- Considera-se hora aula o período igual a 50 (cinquenta) minutos.

2.3 ABORDAGEM DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

- Os conteúdos, contemplando a realidade do trânsito, devem ser


desenvolvidos procurando-se ressaltar os valores de respeito ao outro,
ao ambiente e à vida, de solidariedade e de controle das emoções;

- Nas aulas de prática de direção veicular, o instrutor deve realizar


acompanhamento e avaliação direta, corrigindo possíveis desvios,
salientando a responsabilidade do condutor na segurança do trânsito.

Notem que o primeiro tópico do item 2.3 tem um fundo bastante subjetivo e, no
nosso entender, a avaliação psicológica poderia ajudar muito na composição do
perfil do cidadão que pretende mudar de categoria. Trata-se de mais um ponto
para você pensar em médio e longo prazo para a evolução da atividade.

Continuando os procedimentos de avaliação para mudança de categoria, a Resolução


no 168 obriga o candidato a realizar aulas de direção veicular com duração mínima de
15h em veículo que atenda as especificações da categoria pretendida. Desse prazo, 20%
deverá ser necessariamente em período noturno.

Caso o candidato à mudança de categoria venha a mudar de Unidade da Federação,


poderá aproveitar os exames até ali realizados com sucesso por força do disposto no Art.
28 da Resolução no 168. Neste sentido, fique muito atento ao que está sendo votado no
congresso nacional em relação a este assunto, o qual poderá mudar a qualquer instante.

No caso de avaliação de pessoas portadoras de necessidades especiais, trata-se de um


assunto sensível que é abordado pelo Conselho Nacional de Trânsito e pelo Conselho
Federal de Psicologia.

Figura 37.

Fonte: <nathiexplorandovalores.blogspot.com>. Acesso em: 29/07/2016.

79
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

A Resolução no 425/2012 do CONTRAN define regras relacionadas a instrumentos de


avaliação voltados ao portador de necessidades especiais (PNE). O artigo 4o fala do
exame de aptidão física e mental e apresenta exigências, dentre elas, algumas específicas
para o PNE, vejamos:

Art. 4o No exame de aptidão física e mental são exigidos os seguintes


procedimentos médicos:

§1o O exame de aptidão física e mental do candidato portador de


deficiência física será realizado por Junta Médica Especial designada
pelo Diretor do órgão ou entidade executivo de trânsito do Estado ou
do Distrito Federal.

§2o As Juntas Médicas Especiais ao examinarem os candidatos


portadores de deficiência física seguirão o determinado na NBR 14970
da ABNT.

Ainda na Resolução no 425/2012, há a determinação de que avaliações psicológicas


em candidatos PNE devem considerar as condições especiais daquela pessoa conforme
disposto em seu artigo 7o.

O Anexo VIII da Resolução no 425/2012 trata especificamente da avaliação neurológica


que, dentre várias atividades, possui avaliação de força muscular por parte do candidato
à CNH. Essa avaliação está no item 1.3 e, no subitem 1.3.2 temos instruções específicas
para o candidato PNE como segue:

1.3. A força muscular será avaliada por provas de oposição de força e


pela dinamometria manual:

1.3.2. para o portador de deficiência física os valores exigidos na


dinamometria ficarão a critério da Junta Médica Especial.

Já o Conselho Federal de Psicologia traz, no Anexo IV – Das condições da aplicação dos


testes psicológicos, da Resolução no 7/2009, uma preocupação específica com relação
ao candidato PNE:

c) Pessoas com deficiência não impeditivas para a obtenção da Carteira


Nacional de Habilitação devem ser avaliadas de forma compatível com
suas limitações.

Como sabemos, os testes são instrumentos que ajudam o psicólogo a realizar a atividade
de avaliação psicológica. Pensando nisso, o Conselho Federal de Psicologia produziu
um documento chamado “Cartilha de Avaliação Psicológica”.

80
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

Nessa Cartilha há uma questão específica para avaliação psicológica em portadores de


necessidades especiais. Trata-se da pergunta 36, que responde quais são os testes mais
adequados para PNE.

O documento lembra ao leitor que o CFP tem como função orientar, fiscalizar e
regulamentar a profissão de psicologia e, por isso, não é sua competência indicar os
testes que aquele profissional vai utilizar.

Desta forma, é o profissional de psicologia que deve realizar pesquisas profundas para
conhecer, entender e empregar os meios mais adequados para desempenhar suas
funções em relação ao seu paciente.

Desta forma, a Cartilha nos lembra de passagens da Resolução no 2/2003 do CFP que
trata de testes psicológicos. Vamos ver:

Art. 11 – As condições de uso dos instrumentos devem ser consideradas


apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos
indicaram resultados favoráveis.

Parágrafo Único – A consideração da informação referida no caput


deste artigo é parte fundamental do processo de avaliação psicológica,
especialmente na escolha do teste mais adequado a cada propósito e
será de responsabilidade do psicólogo que utilizar o instrumento.

O Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI, disponível em <http://www2.


pol.org.br/satepsi/sistema/admin.cfm>), permite ao profissional realizar estudos que
possam demonstrar detalhes de testes disponíveis.

No fundo, é um apoio importante para o profissional de psicologia escolher a melhor


ferramenta para trabalhar.

Ainda que não seja sua competência, o CFP produziu uma Nota Técnica que tem
por título “Construção, Adaptação e Validação de Instrumentos para Pessoas com
Deficiência”.

No documento, o CFP reitera seu entendimento de que todos os elementos de cunho


técnico e teórico devem ter fundamentação empírica por meio de pesquisas científicas.

Porém, o CFP faz questão de apresentar algumas considerações naquela Nota Técnica
que dizem respeito especificamente aos PNE’s. A preocupação do Conselho é a qualidade
das ferramentas que irão ser utilizadas. Vamos transcrever o que o documento traz
sobre o assunto:

81
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

1) Adaptar um teste para pessoas com deficiência não se resume em


alterar um aspecto indistintamente sem avaliar as consequências na
avaliação psicológica como um todo e nos resultados e procedimentos
do próprio teste;

2) O uso de certos tipos de adaptações pode modificar o construto que


está sendo medido. Cita-se como exemplo medidas de compreensão
escrita e oral;

3) É condição indispensável, considerando a heterogeneidade da


população com deficiência, o conhecimento profundo sobre o público
ao qual o teste é destinado, o tipo de deficiência, e, como o público irá
manusear os materiais do instrumento; e,

4) A equipe de desenvolvimento ou adaptação deve consultar indivíduos


com as deficiências alvo para avaliar o impacto das adaptações realizadas
em relação a aspectos de usabilidade, acessibilidade, clareza das tarefas,
entre outros aspectos. Quando possível, a consulta a especialistas na
área do construto ou a psicólogos que apresentam a deficiência para o
qual o teste está sendo adaptado é recomendável.

Podemos inferir que as orientações dizem respeito à necessidade de realização de


estudos e avaliações para que um instrumento já validado possa passar por qualquer
modificação, ainda que para atender pessoas portadoras de necessidades especiais,
com o objetivo de não incorrer em erro de avaliação.

82
Capítulo 3
Avaliação de condutores de veículos
pela primeira vez e os que buscam
renovação. Histórico de acidentes e sua
importância na avaliação psicológica

O CONTRAN, por meio da Resolução no 267/2008, determina que se a pessoa estiver


em busca de sua primeira habilitação ou renovação de sua carteira de habilitação, será
tida como candidato por força de seu artigo 3o.

Figura 38.

Fonte: <autoescolaprimos.com.br>. Acesso em: 29/7/2016.

Essa resolução lembra que, quando o candidato buscar renovação para conduzir
equipamentos das categorias C, D e E, ele deverá passar por avaliação dos distúrbios
do sono.

Ainda que seja importante a leitura completa desta resolução, vamos trazer o conteúdo
do Anexo X, que trata do assunto que é de suma importância:

1. Da avaliação dos distúrbios de sono (CID 10 – G47):

1.1. Os condutores de veículos automotores quando da renovação,


adição e mudança para as categorias C, D e E deverão ser avaliados
quanto à Síndrome de Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) de acordo
com os seguintes parâmetros:

1.1.1. parâmetros objetivos: hipertensão arterial sistêmica, índice


de massa corpórea, perímetro cervical, classificação de Malampatti
modificado;

83
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

1.1.2. parâmetros subjetivos: sonolência excessiva medida por meio da


Escala de Sonolência de Epworth (Anexo XI ).

1.2. Serão considerados indícios de distúrbios de sono, de acordo com


os parâmetros acima, os seguintes resultados:

1.2.1. Hipertensão Arterial Sistêmica: pressão sistólica > 130mmHg e


diastólica > 85mmHg;

1.2.2. Índice de Massa Corpórea (IMC): > 30kg/m2;

1.2.3. Perímetro Cervical (medido na altura da cartilagem cricóide):


homens >45cm e mulheres >38cm;

1.2.4. Classificação de Malampatti modificado: classe 3 ou 4 (Anexo


XII);

1.2.5. Escala de Sonolência Epworth: > 12.

1.3 O candidato que apresentar escore na escala de sonolência de


Epworth maior ou igual a 12 (> 12) e/ou que apresentar dois ou mais
indícios objetivos de distúrbios de sono, a critério médico, poderá ser
aprovado temporariamente ou ser encaminhado para avaliação médica
específica e realização de polissonografia (PSG).

Se formos fazer uma pesquisa de quantas vidas são perdidas no trânsito por conta
de motoristas que dormem durante a condução, podemos entender a extensão da
importância do assunto em questão.

Continuando nosso percurso na regulamentação infralegal, a Resolução no 168/2004


do CONTRAN determina em seu artigo 3o que, dentre outras coisas, a avaliação
psicológica é obrigatória para obtenção da CNH. O mesmo artigo é silencioso com
relação à renovação da CNH.

Já o artigo 6o da Resolução no 168/2004 deixa claro que para obter e renovar a CNH, é
exigido exames de aptidão física e mental.

O parágrafo 1o determina que, se o candidato à renovação não tiver cursado Direção


Defensiva e Primeiros Socorros, deverá realizar o curso de atualização para renovação
da CNH.

Se o condutor estiver renovando carteira em função de profissão remunerada, por força


do parágrafo 2o do artigo 6o, será submetido à avaliação psicológica.

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AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

Com base nesse arcabouço infralegal, os profissionais de psicologia do trânsito buscam


otimizar os instrumentos disponíveis e testar sua efetividade com o objetivo de usá-los
na avaliação psicológica voltada à obtenção da CNH (NORONHA, 1999).

Nós já vimos isso no decorrer deste material, mas inicialmente o que hoje chamamos
de avaliação psicológica no contexto do trânsito tinha o nome de Exame Psicotécnico.
A alteração se deu em função de que a atividade de avaliação pericial ser muito mais
complexa do que um mero exame psicotécnico em conformidade com o que determina
o CONTRAN.

É importante mencionar que estudo realizado por Lamounier e Rueda (2005) descobriu
que a avaliação psicológica é bem-vinda àqueles que estão procurando obter sua
primeira CNH, já os condutores que vão renovar não entendem isso necessário.

Uma conclusão daquele estudo é o fato de que, talvez, aqueles que já tenham CNH
tenham medo de perdê-la em caso de nova avaliação.

No mais, as técnicas de avaliação, ferramentas, desenvolvimento de instrumentos etc.


seguem o que está regulamentado pelos órgãos de controle e fiscalização.

Em relação ao histórico de acidentes e sua importância na avaliação psicológica,


infelizmente o tema, que encerra nosso conteúdo, é uma constante na vida de quase
todas as pessoas que vivem no Brasil e em boa parte do mundo.

Mencionamos pessoas que vivem e não apenas brasileiros, porque acidente no trânsito
é uma realidade triste para qualquer pessoa que conduz um veículo automotivo.

Do ponto de vista governamental, os elementos considerados principais fatores de


ocorrência de acidentes são, nessa ordem:

»» o condutor;

»» a rodovia;

»» o equipamento.

O nosso país é considerado o terceiro maior celeiro de acidentes de trânsito do mundo


(RODRIGUES, 2000). As mortes causadas por acidentes no trânsito ultrapassam o
quantitativo de muitos conflitos armados.

Não precisamos ser peritos em análise de acidentes de trânsito para concordar com
os dados das estatísticas que apontam a direção sob efeito de álcool e o desrespeito às
regras de trânsito como os principais fatores causadores de mortes no Brasil.

85
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS

Aliado a essas realidades, infelizmente, temos ainda a ocorrência de:

»» falta de atenção;

»» uso de equipamentos eletrônicos ao volante;

»» conversas durante a condução;

»» falta de respeito com a vida alheia;

»» entre outros.

O Departamento Nacional de Trânsito entende acidente de trânsito como algo que


não foi intencionalmente provocado. Nisso, um fato interessante é que em muitos
acidentes o responsável não é o condutor. É de nos deixar de queixo caído a quantidade
de pedestres e ciclistas que, desatentos, causam acidentes espetaculares pelo mundo
afora.

Tudo o que circula a realidade de um acidente de trânsito possui dois elementos


trabalhando conjuntamente: elementos físicos e elementos psicológicos.

Nosso foco de estudo são os elementos psicológicos que possuem em seu rol, mas
não apenas: desinteresse por regras, negligência, falta de amor próprio, crises
emocionais etc.

Quer ter uma ideia de porque os fatores emocionais ou psicológicos afetam sua
habilidade de guiar um veículo? Imagine uma situação em que uma pessoa é demitido,
briga com seu (sua) companheiro (a) e dorme mal.

Na sequência, ela entra em seu carro e sai dirigindo. Ela pode até não sofrer um
acidente, mas certamente passará por um triz em diversas oportunidades até chegar ao
seu destino. E é aí que a avaliação psicológica entra para autorizar um cidadão a possuir
uma CNH.

Como já estudamos, de maneira geral, as pessoas que buscam obter uma CNH acreditam
que a avaliação psicológica é importante nessa hora. O CFP entende que as ferramentas
que os profissionais de psicologia do trânsito usam devem, ou deveriam, dar suporte
para que se possa concluir pela capacidade ou não de uma pessoa se portar bem no
trânsito.

Nós já vimos que a avaliação psicológica voltada ao trânsito busca elementos que
predigam as habilidades de um candidato tomar decisões, estar atento a informações,
transformar essas informações em reações e agir corretamente.

86
AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DE VEÍCULOS │ UNIDADE II

Trata-se, então, de um trabalho importantíssimo que não apenas busca impedir que uma
pessoa se exponha ao perigo imediato como, também, ao perigo futuro (LAMOUNIER;
RUEDA, 2005).

Os estudos realizados em avaliação psicológica demonstram que ainda não há uma


matriz de atividade que seja voltada exclusivamente à capacidade ou não de um
indivíduo conduzir um veículo automotivo. Em geral, esses estudos são relacionados
ao trânsito, porém, focam a capacidade cognitiva da pessoa.

Outro elemento que não pode ser desprezado é o fato de as pessoas não estarem
confortáveis com a validade dos testes aplicados justamente por eles não terem essa
preocupação em saber se, na hora de conduzir, o cidadão apresentará ou não algum
tipo de patologia psicológica.

Ainda assim, não resta dúvida que os elementos que apresentamos com relação ao
histórico de acidentes são uma fonte preciosa de motivos para que os estudos em
avaliação psicológica avancem e que os profissionais da área busquem cada vez mais
subsídios para reduzir essa triste realidade formada pela equação: pessoas + veículos
= mortes!

87
Para (não) Finalizar

Considerações finais
A produção desse material teve um contexto diferenciado porque envolve a vida de
todos nós. Se você pesquisar um pouco, verá que todos que conhece já passaram ou
sabem de alguém que passou por problemas no trânsito, seja com acidentes, discussões,
más condutas etc.

Desta forma, conhecer a si mesmo é um importante fator para que saibamos como nós
costumamos agir (quem está fora sempre vê melhor o problema), como nós deveríamos
agir e como podemos trabalhar para agir melhor.

A avaliação psicológica voltada ao trânsito tem esse fundo não apenas “medicinal”,
mas também social, já que possibilita estudar a habilidade de as pessoas lidarem com
situações de forte estresse e mapear suas atitudes frente a problemas.

Essas atividades permitem que um profissional dê sua opinião por meio de um laudo
que pode salvar a vida de quem recebe o diagnóstico e de muitas outras pessoas que
poderiam ser afetadas por uma avaliação incorreta e/ou sem embasamento.

Contudo, devem ter percebido que é um assunto vasto, com uma enormidade de fontes
bibliográficas e, por isso é importante que você aprofunde seus estudos e ajude as
estatísticas negativas apresentadas nesta apostila.

Desejamos sucesso na empreitada e que esse material seja útil em sua jornada!

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