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UM CONCE PAULO MARCONDES FERREIRASOARES A n{vel de condigdo necessdria, portanto, a comunicabilidade nado pode ser de modo nenhum determinada em termos de satisfagdo ou nao satisfagdo (e menos ainda em graus de nao satisfagdo: espaciais, temporais, quantitativos). Ou hé ou nao ha um fenédmeno de comunicag¢do: se hd, mesmo em forma extremamente reduzida, hd sempre obviamente comunicabilidade (ou “‘inter-subjetividade” ou “presenca de cédigos”). Nesse sentido, o mito recorrente da incomunicabilidade da obra de arte de vanguarda 6 um mito destitufdo de sentido: o que significa que ndo é verdade e ndo significa nada dizer-se que ela é © GRANDE PUBLICO E 0 CONSUMO DAS VANGUARDAS. Eu nunca quis pouco Falo de quantidade, intensidade (Caetano MUITO Veloso) Um dos pontos mais polémicos, moti: vador de uma série insondivel de interpre- tagBes equivocadas, 60 de se pensar 0 fe ‘nomena comunicativo da arte, especial ‘mente da arte experimental de vanguard, ‘numa perspectiva de validade ou no des- se seu sepecto formal, & medide em que seja mais ou menos consumido pelo gran de pdblico, Alguns autores chegam mes mo a atacar 8 produezo de vanguarda por ‘consideré-lainvidvel em termos de uma comunica¢do dos problemas “reais” da sociedade em que se insere. Essa 6, por exemplo, 2 idéia levantada por Ferreire Gullar: "A comunicacso & tanto maior quanto mais perto de minha experignola vital esté a obra de arte, A ‘maioria do pdblico no entende a arte moderna porque ela néo fala de sua vida”. No entanto, atribuir a certa arte de vvanguarda condigo de produto sem his tri, fruto exclusive de um formalismo Emilio Garroni clitista e subjetivsta de alguns produto res de arte, pelo fato de essa producso ‘Ao ter atingido 0 grande pablico é, no ‘minimo, enearar 0 problema de maneira ‘muito estreita, Assim & que, mesmo o Mo: vimento da Poesia Concreta, que tinha por objetivo atualizar a linguagem artist ‘ca no sentido da modernizacdo por que festava passando 0 pals, ainda que essa Crenca superestimasse aquela moderniza- ‘ho, levando © Movimento a incorporar "a utopia desenvolvimentista (que) mar- ‘cou profundamente a (sua) stuado""?*, representa um quadro bastante significa: tivo da fntima relacéo existente entre a produggo artistiea e 0 contexto hist6rico, Neste momento, é importante repen- sar essa problemética também noutras di recbes, Ainda segundo Ferreira Gullar, ‘mesmo que 0 pUblico vena a se familiar zar com 0s aspectos formals que infor mam 8 obra de arte de vanguatda, ainda assim, esse ptlico poders, quando mui: 10, exprimir respeito por aquela forma de expressiio sem no entanto compreendéls: ‘mesmo que essas informacbes sejam dads 20 espectador comum, creio que elas, no maximo, o levariam a uma atitu: de respeitosa em face daquela obra de arte, mas nfo a penetré-la em toda a sue “radicalmente subjetiva’’. significagdo cultural, como & posstvel 30 expert”.'* Para Antonio Céndido, entretanto, 0 enfoque da questo do pablico e da obra de arte, e da sua mitua influéncia poders Ser visto de uma perspectiva mais aprox ‘mada da relacéo de ambos: ". . . em con- traposig#o @ atitude tradicional e unilate- ral, que considerava de preferéncia 3 a¢f0 do meio sobre o artista, verse esbocando na estética e na sociologia da arte uma ‘tence mais vive para este dinamismo da ‘obra, que esculpe na sociedade as suas es: {eras de influéncia,eria 0 seu pico, modificando 0 comportamento dos gru pos e definindo relaeSes entre os homens. (0..] 2 obra nfo 6 um produto fixo, unt voce ante qualquer piblico; nem este é passivo, homogéneo, registrando unifor memente 0 seU efeito, $30 dois termos {que atuam um sobre 0 outro, e 20s quais, s2 junta o autor, termo inicial desse pro: cesso de circulacéo literdria, para conf ‘urar a realidade da literatura atuando no tempo"! Importa mais detidamente considerar a idéialevantads por Ferreira Gullar, que ime parece ver a questo a partir de uma compreensto hierérquica da producto ar. ‘istica (cultura popular versus cultura eru MARCA de FANTASIA = 29 dita). Embora nfo seja esta concepeso de todo equivocada, conviria aqui assinalar 10 riscos que corre o artista quando, na bbusea de uma comunicacio maior com © poblico (e, em grande parte, com uma mensagem politica de cunho "conscient: Zante”), opta por formas de expresso. mais redundantes ou por um certo pater: falismo empenhado em acomodar a men: Sagem artistica nos moldes da criago po: ular. Eo caso do proprio Ferreira Gullar ‘Que, sendo um artista experimental, nega se 20 experimentalismo em funglo de {uma comunicagso mais répida com 0 {rande pablico optando, num determina {do momento, pelo "romance de corde!” Jo80 Bos-Morte (eabra marcado pra rmorrer)" 'No entanto, vendo © problema de um Angulo oposto, mesmo considerando a ne ‘essidade de se insistir “no preparo e na formaglo de grupos néo-prvilegiads pa ra que cheguem a0 prazer e 20 saber que 5 instalam pelo contato com obras post es, no sentide amplo da palavra’™®, vale Seligntar 0 fato de que, para se chegar a tal perspectiva, 6 necessério que o artista no abra mlo de sua linguagem, como as- sinala, mais uma vez, Silviano Santiago, a0 dizer: "Nao cabe haver um aviltamen: to da qualidade por parte de quem fabrica a obra de arte; deve-se, antes, esperar uma tmelhoria progressive do pablico leitor pa ra que ele, um dia, faca jus aos critérios {de qualidade impostos e exigidos pelo ar tista. (,..) A nota de esperanca vai para o pablica. € este que precisa chegar até nbs, artistas, para atingiro grau de maturidade intelectual e o padréo de exceléncia dese- jados e necessérios. $6 entio quantidade e ‘ualidade encontrardo o equilibrio E ainda quando pense esse problema como pertencente a uma “‘concepedo eli tista de arte”, acrescenta: “0 elitismo ar tistico, em si, no é nefasto. Oswald de Andrade (Gustave Flaubert, James Joy ce...) nfo é melhor nem pior escritor por ter uma visio elitista de arte. Pode, Quando muito, ser mais ou menos atual Ser mais ou menos digno de servir de mo- dato para or ovens ‘esse sentido, esté o pensamento de Jomard Muniz de Britto em maior sito hia com a concepcdo de arte (e sua rela {¢80 com 0 publica) expressa por Silviano Santiago, e mesmo por Antonio Candido, do que pelas idéias e estratégias assumidas por Ferreira Gullar. Para Jomard Muniz Ue Britto, hé a necessidade nao do artista 58 valer dos estorebtipos e condicione: mentos culturais em fungo de uma co- 30 MARCA de FANTASIA E ‘municago mais imediata com 0 grande publica. Ao contrério, muito mals neces: Séria, para ele, 4a formulagdo da proble- matica em termos de uma mudanca na diteco do pUblico, no sentido qualitativo da sua “liberagdo existencial”. E assim {que o autor postula 0 conceito de “des- CulturagZ0", ou seja, da urgéncia de um descondicionamento do publica: ". . Des teulturacgo é uma proposta na medida em ‘que funciona como um estimulante con- teito operacional, palavra de um agir con: ‘reto, nomeACAO de uma realidade co: tno fato e projato, Nao como palayra fe Tada no vazio (. ..) Quem fala DESculturAGAO pensa em des-condicio- namento dos esteredtipos da KULTURA, ‘como tabu, em malisculo e com K’ (sie).1 Desculturago como processo de dese ducacdo ou, para user a terminologia de Tan ‘lich, de desescolarizagao. Segun: go Illich, a escolarizacdo representa uma Forma dé dominio sobre os individuos no sentido de governé-los para formacio de tuma visio de mundo propria da sociedade institucionalmente organizada (opressiva). Assim & que declara: "... tenho a impres: ‘fo de que a maioria das pesquisas realize das atualmente sobre 0 futuro tendem pleitear maior ineremento na institucione TizaeSo de valores e porque acho que de vemos definir condig6es que permitam lacontecer exatamente 0 contrario, Neces- Sitamos de pesquisas sobre a possibilidade de usar a tecnologia para criarinstituicdes {que sirvam 8 interaeo pessoal, criativa e futonoma e que fagam emergir valores nfo possiveis de controle substancial pe- los tecnocratas”.? Deste mado, tanto 2 desculturacéo, em Jomard Muniz de Britto, quanto a deses ‘colarizecdo, em Illich, assumem a caracte Fistica bésica de tentar romper com a ordem mais geral da institucionalizacdo a cultura e/0u da sociedade. Por isso, 2 desculturagso ndo representa uma opea0 fem func do analfabetismo, onde o in ddividuo venha a permanecer sem ter cons- ciéncia de si mesmo; a0 contrério, descul: turacdo representa um corte, uma rupture fem relacdo 20s cOdigos estabelecidos pele cultura oficializada (institucionalizada) a dinimica da desculturaedo fica sendo impulsionada pela prética da dese ‘ducagdo: como anti-esquemetismo, ant suficientismo, antf-redundancia, anti provineianismo” VAI CARACTERIZAGAO DA PRODUCAO DE VANGUARDA E significativo pensar a série de concet tos de que se vale Jomard Muniz de Britto pata caracterizar a producdo de vanguarda fa forma artistce, Para ele, uma das ‘caracteristicas bisicas para se compreen. der urna produgdo de vanguarda dentro de determinado contexto (hist6rico, so: ial, artistico), esté em se considerar o seu Grau de “negatividade” e de “relativida de’ No primelro caso, 0 grav de negativids- de importa na medida em que representa Neorte", "rutura”, em face tanto do "pas sado’” como do “moderno”. Esse seria 0 Cardter signficativamente mais demolidor da produedo de vanguarda: a intensidade dda negatividade artisticacriativa dentro {de um dado contexto, ou seja, a negativi ‘dade que levasse em consideraga0 as ‘questBes de espaco e tempo, E ¢ af que Surge a necessidade de conceituara0 do Segundo caso: o da relatividade do novo": 0 ue 6 NOVO No aqui e agora, po: dderé estar ultrapassado noutro contexto, ‘u seja, noutro espaco e momento. Nesse sentido, a negatividede atua co- mo elemento de “choque”. Entretanto, eve-se pensar 0 fato, também, de uma ‘maneira que mesmo fevando-se em conta 2 relatividade do espaco-tempo, possamos atribuir essa caracter(stica de “choque' ‘Go a busca exclusivamente compulsiva 0 “novo”, mas uma condiglo presente fem toda obra de arte que procura inovar 2 ante 08 valores estéticos e os pense entos estabelecidos numa determinada Sociedade, esta forma, Jomard Muniz de Britto ‘nos apresenta um outro conceito, o da ne Cessidade de "s/ntese entre a racionalida- de ea transracionalidade”. Evidencia esta sintese a urgéncia de se aproximar 0 ra ional @ um projeto existencial mais am- plo, mais global, Para ele, entretanto, essa Sintese tem-se revelado, quase sempre, ‘0 projeto mais ambicioso e mais fli do também. (...) A sintese sempre se in ‘linou mais para um lado. E quem esté de tim lado se acha com o direito de trans- portar 0 lado oposto consigo tam bm, "27 'S luz das idéies equi apresentadas, po- demos observar que, levando:se em consi deragfo a relatividade do espaco-tempo, bem como a sintonia (ou descompasso) do racional em relagso a0 existencial, ‘uma obra de arte que, num primeiro mo mento, se apresente como essencialmente NGUARDA: nove, poderd, num momento posterior, se encontrar ameacada de cristalizaedo. Pon do om xeque essa questo, que se apresen ta, pelo menos, contraditéria a0 que seria a esséncia do termo ‘"vanguarda" (repre sentativo de algo pioneiro, inaugural), Jo: ard Muniz de Britto assinala 0 fato de fsa mesma vanguard, na maioria das ve 22s, eleger acima da propria criatividade o elemento de criticidade que a manteria na ccondigio de "‘vanguarda permanente”. Nao fosse essa uma situacdo que s6 “.. .yam conferir a0 significado de van. uarda um (in) certo cardter obsessive: ‘compulsivo, de auto-superardo continue, de agressividade criadora a toda prova, de inacabamento perdurante, de auto-flagele 80 quate mista. (....)interrogando-se permanentemente @ vanguarda escolheria ‘arriscar sua prépria razio de existr...° ‘Aqui importa acentuar que, no min mo, esie esforco resulta indtil, uma vez ‘que, passado o primeiro momento origi nalmente novo de uma determinada obra sua continuacdo jd seria uma redundéncia (0, pelo menos, uma diluicgo (no sentido mesmo fragmentério do termo). Essa 6 ‘todavia, uma concepeSo que tentaria 2 ceaptar, na essincia da palavra, a significa ‘ff estrita do termo vanguard. Nesse entido, conforme jé fol dito, um momen: +0 posterior a0 da criacSo original de uma obra jd seria uma redundéncia, a menos ‘que o seu autor (ou outro artista) radica Iizasse a experiéncia anterior, de forma que resultassam elementos novos, orig: ais, que até chegassem a afirmar ou mes ‘mo negar a obra precedente (até porque uma poderé ser totalmente independente ‘em relacdo outra). Sabe-se, entretanto, que o artista pro- dduz sob determinadas condigdes e que fessas exercem influéncia sobre o resultado {do seu produto art/stico. Em contrapart: da, é bom que nfo se esqueca que a sua ‘obra tem ressondncias ¢ atua sobre o seu meio social de circulacdo. Assim é que, ""...no interior de um mesmo sistema, defrontamo-nos sempre com todos os produtos intermedirios entre as obras produzidas por referéncia as normas in ternas do campo de produgso erudita e {as obras diretamente comandadas por ‘uma representagdo intuitiva ou cientifi ‘camente informada das expectativas do pblico mais amplo. ..”2* Nesse cas0, 20 artista de hoje, coloca se a oposicéo ”. .. entre a liberdade cria dora e a lei do mercado, entre os impers- tivos sociais que orientam de fore a obra a8 exigénclas intrinsecas da obra que quer ser compreendida, aperfeicoada, acabada, entre as obrat que séo criadas por seu piblico e aquelas que tendem a trian seu publica. .."2° Ao artista de hoje, consciente da existéncia e exigéncia dessa oposi¢g0, 0 problema que se colo- a, talvez, soja 0 de unir dois pontos, pelo menos aparantemente opostos: de um la do, @ indistria cultural interessa apenas a ‘comunicaedo imediata e de larga escala (exigindo do artista uma certa facilidade ‘na comunicaggo com 0 pablico, levando-o 2 utilizagdo de uma linguagem de ampla decodificacg0); por outro lado, 30 artis: 1, voltado para uma linguager mais ex perimental, interessa mais inovar (ou re- novar) essa linguagem, no sentido de uma ‘comunicaego originalmente criativa com (0 seu pdblico. Responsivel, como jé foi assinalado, pele formacgo de uma nova mentalidade desse piblico. Essa tarefa, levada a feito pelo arts: ta, estd na ordem de uma concepedo de arte intimamente relacionada a vida: 0 ar tlsta nfo se permite mais o “encastele mento”, uma vez que sabe ser a rua a fon te existencial da sua pradugdo. A cotidia: nidade (vivida e criticada) passa a ser, nos tarmos da arte-vida, a bassola que guia 0 artista na direefo de um “escreviver” 2 propria “existencialidade concreta”, para User @ expresso de Jomard Muniz de Britto, E 6 ainda ele quem bem define essa ‘concepeso de arte-vida, Analisando a ‘obrawida de Caetano Veloso, diz: "a metalinguagem de Caetano néo ¢ pure: mente cerebral ~ exercida com offcio de critico — mas impuramente corporal, de rnademente carnal em sua levitacdo cot diana. E 0 corpotodo que se joga, escre vivendo-se na linguagem critica do cotidia no (,..) fz a metamorfose de si proprio ‘para melhor metamorfosear a cotidian ‘dade do cotidiana. |...) Caetano Veloso sempre "transou"" com as mais vivas con tradigdes do homem brasileiro: repetidor e inventivo, integrado e apocaliptico, pas sivamente colonizado e criticamente an- trop6fago, lcido e Kidico..."2° ‘Com efeito, essa atitude existenciadors da arte, no Brasil, tem como marco fun: damental 0 advento do tropicalismo — movimento que exerceu grande influéncia sobre toda a producio das artes no Brasil gar’ como q peniténcia por ter usu: fruido daquio q julga néo Ihe tenha sido obrigatoriamente destinado..." Um importante relato a respeito dessa tendéncia foi feito por Antonio Cindi do®?, 29 comentar livro de Waly Salo: mo: natural que muitas produces dos jovens, rebeldes as tradicées, is defi nigbes e por vezes a prépria cultura, reve Jam essa eonfusdo de géneros que permite ‘todas as liberdades. E 0 caso de um tipo de literatura violentamente anti-conver ciional, que parece feita com sucata de ‘cultura, como, entre outros, 0 curioso me segura que eu vou dar um tfogo (...) nele se cruzam 0 protesto, 0 desacato, o teste: munho, o desabafo, 6 relato — tudo numa linguagem baseada goralmente na associa 80 livre e na enumeragdo ca6tica |...) Fesultando um movimento bastante vivo MARCA de FANTASIA 33 ‘cuja matéria é a experiéncia pessoal do ‘autor, Aqui, ndo podemos falar de memo- Flas, nem de relato, nem de ficedo, nem de poesia, nem mesmo de estilo. & a lite ratura anti-literéria, traduzindo uma espé- cie de erupedo inconformista” 'Nesse sentido, tentando aproximar 0 posicionamento critico de Jomard Mu: fiz de Britto dessa tendéncia, é de grande relevancia ver como 0 autor se coloca: "0 fundamental & 0 corpo como re-alimenta- ‘fo de si proprio, auto-consumindo-se, ‘uto-superando-se em maltiplas fenergias”.*” E ainda formulando as ques- {Bes do que veio a ser identificado como uma politica do corpo, levada a efeito a partir daqueles questionamentos sobre 3 necessidade de se pensar o social também dda perspectiva das limitagBes impostas 20 corpo, ao prazer; preocupacbes surgidas, ‘como jé foi dito, a partir do fendmeno da contracultura, que radicalizou a experién- cia de arte-vide. Diz Jomard Muniz de Britto, referindo-se 20 tropicalismo (com ‘0 qual aparenta estabelecer relagbes de ‘completa identidade): “0 corpo eseracha- do: instincia primeira e Gitima do tropica- lismo (...)basieamente escrevivendo sua ‘existencialidade conereta. E supersigno ppor que chegou a hora da bioverdade cor poral, dg deboche licido a espinafracéo lidica’.°* E mais, noutro momento: ‘do corpo como exteriorizagdo para (08 outros: da corporalidade como projeto ‘concretizével: da carnalidade como obra- se-comunicando: do corpo como trabalho 2 ser produzido inventado: do corpocan: ante’ Gostaria agora de retomar mais de per to 0 elemento diferenciador da vanguarda postulado por Jomard Muniz de Britto Para ele, mesmo que uma vanguarda assu- ma"... a sua radicalidade original entretanto, incorpore essa atitude a um t: 0 de viss0 mais”. . ordenador, cons- trutivista, racionalizadora,récio-analisé vel”, essa vanguarda estaria proxima de ma postura “integrada". Ou seja, mesmo representando ”. ..verdadeiros lances apocalipticos, de negatividade inovado: +2", poderd, a partir do momento em que desapareca a “. . sua violentago formal, demonstrar sinais de cristalizacso como venguarda integrada-quase-oficalizada”.°* Nao que deixe de se produzir, neste ca- s0, obras inventivas. Aqui vale salientar 0 pproblema apontado por Jomard Muniz de Britto: dirigese, basicamente, para a con- sideragdo de que, & medida que essas pro- ‘dueBes tenham uma visSo ordenadora, ‘construtivista, diante da culture, sua ten- ‘déncia natural seria no sentido de uma re valorizaggo do repertorio cultural, Essa tendéncia nos faria pensar que todo o es- oreo e trabalho realizado por esses gru 1s seria o de "no panorama zados. Certamente, essa atitude nfo repre senta, do ponto de vista da cultura, o sin toma de algo negativo, muito pelo contré: rio; entretanto, o que parece ser a suges- {0 do autor, como que alertando para lum certo perigo, esse comportamento correria o isco, também, de se aproximar dde um trabalho académico, 34 “MARCA de FANTASIA Gostaria, como énfase, de me repor as, palavras do préprio autor, que se vale de texemplos muito importantes para a com- ppreensdo do que estou tentanto expor: "Ampliagdo do repertério cultural brasi- leiro através das pesquisas dos poetas con: jo Sousandrade e {Chico Buarque de Hollanda quando re-toma seu itineré- Fio inventivo das msicas para a peca ‘Morte e Vida Severina até Construgfo"®” (Grifos do autor). E mais, referindo-se & ‘montagem de Gaiiley, Galilei do oficina: “uma obra-prima, sem davida'’.** O que formule, por fim, uma pergunta que ‘aponta para aquele risco anteriormente mencionado: "a vanguarda se RENEGA. RIA pelas suas OBRAS-PRIMAS?"? Por outro lado, a questo poderd ser a de se considerar o estégio em que se en: ‘contra uma obra que se apresente como sendo de vanguarda, ou seja, em que me- dida ela deixou de causar 0 impacto inau- {ural que tanto caracteriza esse tipo de producto, a violentagso formal de que fos falou Jomard Muniz de Britto. Nou tro ponto, com feito ainda mais negati Yo, estaria 0 fato de se pensar até 0 esté Gio de repeti¢so formal em que pode se encontrar uma determinada obra em re lagdo a uma outra produzida anterior- mente. Freqlentes vezes isso poderia ‘ocorrer como decorrdncia de programas testéticos previamente estabelecidos por seus autores em face do que podem con- Siderar, em um dado momento, como re presentando uma atitude de vanguarda. Semelhante pensamento,frisa 0 préprio Jomard Muniz de Britto em entrevistas ‘que nos concedeu, representa ume espé- Cie de busca “compulsiva do novo”, que pode levar, muitas vezes, um tipo de ex: Clusivismo, de auto-afirmacdo de uma vvanguarda Ginica. Nesse sentido, Jomard Muniz de Britto, cita as palavras de Harol- do de Campos contidas no n® 26/27 do “tempo brasileiro”, quando se refere & ia conerata e outros “movimentos” ja verdade, o que existe no Brasil em termos de vanguarda ¢ a poesia conere ta, O mais, so dilutes, dversficacdes, redenominacbes”.* E esse 0 ponto em que sus critica con- traas vanguardas assume um carter mais vigoroso, Criticando principalmente a postura programética dessas vanguardas, formadora de um tipo de repert6rio ar tlstico-cultural que elege o que deve ou ro ser considerado como vanguard, ‘numa atitude que 0 autor chama imperia- lista, € importante atentar para um outro aspecto: se para aquelas vanguardas 0 fun- damental fica sondo a criagg0 de progr ‘mas, planos de aco, critérios de julga- mento, para Jomard Muniz de Brito fundamental fica sendo exatamente nfo estabelecer qualquer tipo de ". .. critérios

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