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» “ANNO IV — N. 87 SETEMBRO, 1929 REVISTA DO ENSINO ORGAM OFFICIAL DA INSPECTORIA GERAL DA INSTRUCGAO SUMMARIO Um plano de exercicios. —- As ficas na es (imp Maria Clar: @ 0 interesse, como va educacé ~~ Aula mod jo, Firmii ta. — O ensi de professoras alumnas da Escola de Aperivic¢oamento). Ss, GUErINO rcicio de redaccao has es- colas prir Relacao' da agua com as folhas. (Capitulo do livro “Science of plants life", de Edgard Nelson Transeau). — Os nossos concursos. DAQUI E DALI— A VOZ DA PRATICA eee HORIZONTE — ESTADO DE MINAS GERAES ouso da Si Hraea Cuma medida de Wygsené; decentia% = A Hyeéd € mais que uma escarradeira; éum apparelho hyaie- nico, esthetico, as- sente a educacao so- cial creado para substituir as escarra- deiras nojentas que maisserviam para pro- vocar o habito de cuspir. linada di rede de esgoto, a sua linpeza é aulomatica Sem intervencda smanual Pedidos 4 ISMAEL LIBANIO Rua da Bahia, 924—Bello Horizonte PHYSICA CHIMICA HISTORIA NATURAL CASA LOHNER S. A. — R/O DE JANEIRO: Representantes exclusivos de MAX KOHL A. G. — CHEMNITZ PAPELARIA E LIVRARIA @liweira. Costa & Cia. TYPOGRAPHIA, ENCADERNACAO, PAUTAGAO. si is em branco — Livros de Direito, Litteratura, Seer Scents je Escolares = Objectos de escriptorio IMPORTAGAO DIRECTA Caixa Postal, 14 -- End. Teleg. “PAPEIS” ~- AU. Affonso Penna, 1052 | Telephone 158 — BELLO HORIZONTE X— ULINA ALTOS FORNOS EM £ QUEIROZ JUNTOR. ERANCA E BURNIER, inas pata scricultura de qual- para arados, Rodas Pelton, 5 € 6 furos,” Forneceaares 623, caixas para registros © mati c fee SECGAO DE ELECTRICIOADE: Enrolamento de motores. geradores e transtormadores. Renaragées electro-me chanicas de qualquer natureza THOMAZ NAVES E ALGINDO VIEIRA Advocacia e Procuratorioes Encarregam-se de quelquer servigo perante as repar- tigoes publicas da Capital, onde so estabelecidos ha s mais de 9 annos AV. FFFONSO PENNINA, 589 — SALA 4 — BELLO HORIZONTE Livros sobre Pedagogia ~LIVRARIA MORAES-- Caixa Postal, 109 -- Av. Aff. 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Quanto 4 arithmetica e ao calculo, uma serie gradual de problemas e questdes Pensam que um trabalho dessa natureza é util por varios motivos: que os exercicios abrangerao todos os pontos do programma; que ha graduagao entre uns e outros exercicios e se evita o arbitrio até hoje observado nesse particular; que o trabalho feito para a classe do segundo anno servird para todas as classe de segundo anno, que o professor vier a reger; que os exercicios elaborados pon- aeradamente e em conjuncto compensarao 0 desleixo, a incu.ia e a desattengao dos mestres, que escolhem ataba- lhoadamente os assumptos, exercicios e trabalhos em aula. REVISTA DO ENSINO * ae: Contrariamente a essa corrente, pensam outros que os exercicios devem ser escolhidos durante o anno, 4 medi- da das necessidades e de accordo com os interesses dos alumnos. Nao se pode calcular qual seja em tal dia de tal més o interesse que empolga a classe. O professor nao pode de antemao determinare prever quaes as situacdes que se lhe depararao durante o anno. Para estes, que estado filiados 4 corrente moderna‘ nem mesmo 0 programma deve ser tragado como tem sido commumente: querem o desenvolvimento dos alumnos e nao propriamente o preparo delles e pouco importa, por- tanto, que o professor tenha dado dois ou duzentos pontos somente, contanto que a classe se tenha desenvolvido * £0 # Vamos procurar uma solugao, que satisfaca a ambas ascorrentes e aqui.a deixamos, para ser estudada, expe- rimentada e criticada pelos nossos leitores Em primeiro lugar, os exercicios podem ser elabora- dos de accordo com o programma. No elabora-los, toda- via, devem os professores attender aos interesses infantis, que se acham estudados abundantemente por autores de nomeada e que, dentro de pouco tempo, poderdo ser rigo- rosamente classificados. Em segundo lugar, a serie de exercicios nao sera re- ligiosamente seguida, de modo que a um exercicio siga necessariamente um outro, mas serd uma colleccao a que © professor hade recorrer, de accordo com as necessidades do momento. Entretanto, para que tal expediente dé resultado, € necessario que o professor nao deixe de ir refazendo, dia a dia, a sua tarefa, melhorando-a, alargando-a, transforman- do-a em conformidade com os interesses infantis, circum- REVISTA DO ENSINO 3 stancias do meio e peculiaridades de sua classe. Se fizer uma colleccdo dessa natureza ¢ parar, querendo applicd-la a todos os segundos annos que topar na vida, caird na rotina e nao tirard de seu esfcrgo o resultado que pode- tia tirar. Em conclusao: Um plano intelligente de exercicios deve por forga dar bom resultado, porque evita a improvi- sacdo e procura graduar os trabalhos, de accordo com as suas dificuldades. Nao 6, porém, uma obra feita de uma vez para sempre, mas deve ser continuamente refeita, para ser efficiente. N3o 6, afinal, um travesseiro para descansar a cabe- ga, mas um meio mais fecundo de trabalhare produzir... Quem mandara para a Revista um programma dessa natureza? IFICAS EQUENAS EXPERIENCIAS SCIENT! aa NA ESCOLA Uma professora escreye-nos sobre a dithenldadesaue ep contra em dar ao ensino de scienci:s em aaa cess ee a gio inteiramente pratica, elon alias) cot o EeEIED do programme, quo recommenda expressamente: «0 ensito de sci ncias naturaes deve pageant Se ee etal ee e na experimentagio». A observagao oe a aut innumeras opportunidades que nos offerece a vida qle aietar au a caer 0? nem sempre, dienes a misslis dispomos de recursos na escola peunerie, a vale ou aquella demonstracdo de uma lei physica oe famais comprehenderfo bem com a simp f drofessor : ae Falta-nos o material necessario para determines ete riencias. Por ultimo, como proceder a taes Soe ee aie a orientag&o que se deve seguir para que ua rege mente o alumno e nio 86 convencam da rea a ae nomeno observado como agucem a sua cur oe Se aries tigar outros phenomenos naturaes e pratical riencias? See are im- Em primeiro logar, reconhecamos que ae primir ao ensino descieneias na escola primaria um earacter nitidamente experimental, o unico, alids, Eee ae ensino effic’ente. E nao 6 difficil, poraue eae eta do professor experiencias complicadas e subi Ss Bee relhos custosos e de montagem delicada, co! 2 ee os laboratorios dos cursos. seeundarios e uP: se edo Ta: contrario, querem-se expericncias simples, ae pel ee cil e que reclamem reduzido material. pimp Jats Pars tes. Uma experiencia 6, de ordinario, tan cma persue quanto na sua execucdo apenas se exigem ob} a todo mundo j a Succede mesmo que, deante de machinas demasia é ican complexas, de vidros de f6rmas bias Decas meee de foitio original, a attengio do alumno se desyia REVISTA DO ENSINO 5 Gao em si para concentrar-se na observacio desses materiacs, cujo aspecto a interessa e seduz mais do que a sua propria uti- lidade. Ao Passo que, com os modestos objectos de uso quo- tidiano, as coisas que jd estamos fartos de ver e de pegar, a attengao se volta para a applicagao inedita que o professor vae tirar dellas, para o acontecimento imprevisto que, dentro em pouco, se produziré... O QUE SE PODE |FAZER _ Com um certo numero de objectos ordinarios de escripto- rio, alguns utensilios domesticos e uma duzia do productos chimicos, diz um auctor, qualquer professor esté habilitado a dar excellentes aulas praticas 20s alumnos das classses mais adeantadas. Assim, por exemplo, se se deseja preparar 0 oxygenio e fazer algumas experiencias com as propriedades comburentes desse gaz, um tinteiro que se transformard em lampada a aleco!, uma terrina servindo de cuba de agua, um frasquinho qualquer 4 guisa de provete,e uma rolha ;travessada bor um tubo de escapamento, — eis tudo o que se faz mister. Algumas grammas de chlorato de potassio em um tubo de ensaio, algumas brazas em um fogareiro commum, e obtere- mos os mesmos resultados. Se accendermos dentro de um vi- dro um phosphoro revestido de ligeira camada de enxofre, teremos fabricado um pouco de acidu sulfuroso, o qual tor- naré vermelhas as gotas da tintura de turnesol que derramar- mos no mesmo vidro: © que prova a existencia de oxyge- nio no ar contido nesse vidro. E ja que falamos em ar, vejamos como podera o pro- fessor demonstrar aos alumnos que elle per e um quinto de seu volume pela combustio, e que o gaz restante é 0 azoto. Bastam-lhe, para isso, uma garrafa, uma vela, um prato e um pouco d’agua. Quanto ao mais.. 6 s6 saber por em jo- go esse objectos banalissimos. Tao banaes como outra gar- raf:, um cvo bem cosido, bem duro, e um pedago de papel inflammado, que substituem perfeitamente, em casus de urgen- cia, a machina pneumatica de Bianchi. Se o ponto do dia é a agua, nao vemos que difficulde- de ha em fazer-lhe a analyse e a synthese com esse mesmo pequeno material de emergencia, que nos _permitir4 prepa- rar e queimar o hydrogenio, precipitar os saes terrosos dissolvidos na agua ordinaria, distillar a agua e mostrar o que 6 uma bda agua potavel. REVISTA DO ENSINO Experieucias relativas 4s propriedades principzes dos liquidos, 4 pressdo que elles exercem sobre as paredes d 8 vasos e ao nivel que conservam nos vasos communicantes, po- dem ser levadasa termo, satisfactoriamente,~ se a esse ma- terial accrescentarmos um vidro de lampeao e um bocal qualquer. Querem-se reeonhecer os productos de uma combustéo? Com uma vela, uma garrafa d’agua, e um poco de agua de eal, faremos uma demonstracio pratica que a todo 0 mo- mento o alumno poderé repetir. Queimando fragmentos de carvio de pedra em um cachimbo de barro, ou. caleinan- do pedagos de cortiga em tubo de ensaio, obteremoso gaz de illuminacao, 0 alcatrio e 0 earvao. A separ dos principaes elementos mineraes doso!o, 0 reconhecimento dos principios immediatos mais importantes taes, as grandes leis da physiologia vegetal, a osmose, a absorp em geral, tudo isso, adverte-nos um technico, s6 re, para scr demonstrado experimentalmente, um pouca de habilidade e béa vontade da parte do mestre. De resto, mesmo nas instrucgdes que acompanham os programmas primarios vigentes, encontramos a indicagio ce experienci: mplissimas e capazes de attrahir qualquer alumuo. «Fazer um pouco de barro, expol-o ao sol e de- pois pulverizal-o com os dedos» 6 uma experiencia scientifi- ca que prova a acco do calor do sol sobre os mineracs. Qual a escola rural, por mais humilde que seja, em que os alumnos nao poderdo adquirir uma idéa exacta da evaporagio, mediante uma simples pega de roupa molha- da que se expde ao sol? E nao ¢ esa, afinal, uma experien- cia scientific .? COMO SE DEVE FAZER Parece-nos, por anto, que nao podem subsistir duvidas quanto 4 praticabilidade de um sem numero de experimen- tos interessantes, faceis e persuasivos, na escola primaria. Ao professor compete preparal-vs cuidadosamente, nao com- mettendo a inhabilidade de enunciar primeiramente a lei e partir dahi para a applicagao pratiea, deduzida sem maior interesse para o alumno. Succede muitas vezes que uma ex- periencia descripta com antecedencia nao da os resultados es- perados; adivinha-se 0 embaraco do mestre procurando expli- car, nado ji uma lei, mas o fracasso de sua demonstragiio... REVISTA DO ENSINO 7 Deante da creangada incredula ou maliciosa, que esboga um sorriso de mofa, todas as leis da physica desapparecem para - dar logar a uma triste confissio de derrota. O inconveniente desse methodo 6, porém, principalmen- te de ordem pedagogica. O principio theorico inculeado in- dependente da experiencia, ou anteriormente a esta, pode ser decorado e sdmittido, porém nao comprehendido e assimi- lado. Elle mata no. alumno o espirito de-observagio, 0 julga- mento, 0 racioeinio, qne sao as pegas inestimaveis dessa en- grenagem subtil que todos os educadores pretendem por em movimento. Nao seré vendo desenrolar-se monotonamente nma serie de phenomenos annunciados e previstos, e sem nenhum elemento desurpresa, que o alumno exercerf es- sas faculdades essenciaes. E em que pratiearia elle 0 espirito de observagio e os dons de reflexao, se j4 lhe evitaram o trabalho de distinguir o essencial do secessorio e Ihe offereceram, preparada como um prato de cosinha, a lei que lhe cumpria investigar e ex- trahir cos factos? Esse processo tem como unica utilidade en- cher o cerebro da creanga com uma porgdo de formulas frias e inexpressivas, decoradas mecanicamente, e sem nenhum con- tacto com a realidade que sao chamadas a exprimir. A aulade sciencias naturaes, como a comprehendemos hoje, 6 antes um entretenimento familiar do professor com os alumnos, em linguagem despida de expressdes demasiado technicas, e em que 0 objecto da liao é tanto « uanto poss vel posto deane dos olhos da classe, para scr considera em todos os seus aspectos. Banindo 0 systema da expo: ininterrompida, particularmente condemnayel em se tratando de um ensino activo como deve ser o de sciencias, 0 profes- sor sera antes um guia do q e um magister; a sua miss:o, é, de um lado, mostrar, fazer observar, tocar e experimen- tar; de outro lado, fazer agir, fazer procurar e desbravar 0 caminho que leva’ ds descobertas. E haverd tarefa mais seductora do que a de abrir novos e claros caminhos COMO CORRIJO COMPOSICOES (ImpressGes de Maria Clara) Comegamos hoje a publicar uma serie de impressdes de uma verdadeira professora, que ha perto de vinte annos tra- balha num logar pequenino e remoto, numa escola isolada no Sul de Minas. O logarejo tem de 150 a 200 casas e de 500 a 600 hahitantes. Para alli foi ha vinte annos e, n&o obstante muitas difficuldades, luctas, amarguras,—venceu, Ficando rica? T rnando-se illustre? Nada. Venceu, primeiro Porque a sua escolasinha é simplesmente admiravel e segun- do porque, 4 custa de muito estudo e meditagao, alcancou uma solida cultura moral e intellectual, E’ uma grande mes- tra. Mais tarde ha de contar-nos como soube ser feliz, en- tre as paixdes mesquinhas dos homens, no logarejo aque foi atirada. Tapou os ouvides aos elogios e 4s censuras. con- vergiu todas as forcasde sua intelligencia ede seu coracao Para a sua escola evae levando uma vida serenae _elevada, {ate uma turba simples de ereangas e um punhado de ivros. INUTILIDADE DAS CORRECGOES correceGes feitas 4 moda antiga me pareceram sem- pre inteiramente inuteis para 2 maior parte dos alumnos. Ora vejam. Faziamos as composigdes. 0 mestre recolhia os ca- dernos e os corrigia, assignalando a lapis vermelho todos os erros. Li voltavam os eadernos inteiramente cobertos de ris- cos vermelhos, com os erros de orthographia, improprieda- des de expressdo, erros ce syntaxe e@ de sentido. Mais: o pro- fessor escrevia, por cima, a forma ceria enao sedava ao trabalho de explical-a Assim me corrigiram as composicdes na_ escola prima- ria, assim na Escola Normal. Assim—os bons professores. A maioria dos professores, porém, ao que tenho visto, nao 1é direito os cadernos e, embora os leia, lim'ta-se a sublinhar a vermelho os erros, deixando os alumnos na certeza de que estado errados, sem saberem como acertar. REVISTA DO ENSINO UTILIDADE DAS CORRECCOES Logo que abri a minha escola, notei que esse processo de corrigir era absurdo e improficuo, mas néo pude atinar ¢omum processo mais productivo. O m-io melhor que me surgiu, depois de dois annos de pretica, foi o seguinte: to- mava os cadernos, assignalava os erro3 em casa e, indo & escola, chamav: alumno por alumny 4 minha mesa, expli- cando-lhe de vagar e permenorizadamente todos os erros. Era um ensino puramente individual e trouxe logo graves consequencias. Uma dellas—a classe toda sem trabalho e, por isso, um barulho enorme. Outra—um pretexto para as re- clamagées dos paes, porque, se se dava o caso de alumno mais atrazado ser filho de rico, logo se dizia que a professora tinha preferencia por csse alumno, por demorar-se mais nas suas explicagdes. Como fazer, entéo? Corrigir como me corrigiram na escola? Deixar d- corrigir? Propuz-me o problema, nos seguintes termos: E’ ne- eessario corrigir os exercicios, de modo que os alumnos com- prehendam que levei a serio os seus trabalhos, de modo que reconhegam os erros em que cahiram e os corrijam por si e, afinal, de modo que evitem taes erros ou saibam reconhecel- os, com alguma attengdo. MUITOS ERROS Um cos primeiros expedientes, que tomei, foi de nao assignalar todos os erros das composigdes. O motivo é cla- ro: como poderé um alumno aprender de prompto tudo o aue Ihe falta, nas primeiras composigoes? Faz-se mistér se- riar e dosar os erros, isto 6, Selenaar de principio somente uma ordem de errose nao explicar outros, sem primeiro deixar essa—bem conhecida e explicada. Ensina-se toda a geographia numa aula? Como se_ ha de ensinar toda a grammatica numa composigao? Deve-se, em cada composi¢do, por em relevo uma ou duas qualida- des apenas de erros. LISTA DE ERROS Com o tempo, fui observando que ha certos erros que se repetem, em todos os cadernos, quer quanto 4 grammatica, 10 REVISTA DO ENSINO quer quanto ao pensamento das composigies. Vim a con- cluir que os alu nos erram quasios mesmos erros de or- thographia e que sentem as mesmas difficuldades. Através de uma serie de dictados, percebi que certas palavras eram mathematicamente mal escriptas e podia, logo de comego, adivinhar quaes cram as palavras ou quaes as partes de cer- tas palavras que os alumnos nio graphariam certo. Occoreu-me, entéo, elaborar uma lista das difficulda- des de orthographia e de syntaxe, seriar essas difficuldades, por modo que as fosse explicando aos alumnos, uma_ por uma, das mais faceis 4s mais difficeis. Mais tarde, veri quei que muitos pedagogos recommendam e-se processo e de maneira muito melhor. Tiveapenas 0 merito de chegar 4 verdade, s6 com as minhas forcas. Comeceia elaborar a lista de erros communs de meus umnos e explicava-lh’os demoradamente, mostrando-lhes o errado, dando-lhes phrases certas e fazendo-os escrever e fa- lar f6rmas certas. TRABALHO PESSOAL Para courctar a iniciativa eo esforgo pessoal do alumnos, imaginei pél-cs em actividade por um modo que me nao rece inutil. laborada uma lista dos erros communs, isto é, dos er- ros em que todos os alumnos fatalmente caem, combinei com elles um modo de corrigir: escreveriam na ultim: pagina do c.derno umi peruena lista desses erros, numerando-os. Assim, como 6 erro muito commum dizer-se—No mer- cado tem fruectas, coliocariam na ultima pagina do eaderno o erro eo acerto, pela seguinte forma: N. 1—No mercado tem fructas. Certo: No mercado ha jvuctas- Pois bem. Todas a S qui pava nas composigdes com essa irregular.dade, logo a assignalava a lapis verme- Ihoe com um N.’ 1. Os alumnos iam 4 pagina dos erros e corrigiam por si proprios. Mais tarde, aconselho de um velho professor, modifi- quei 0 processo, para as classes’ mais adiantadas, no nume- rando os erros e deixando que os alumnos og procurassem e os identificassem, por seu proprio esforco, na lista final. como, EXPLICAR OS ERROS Sempre achei exee'lente 0 processo de La Martinigre e © tenho posto em pratica com excellentes resultados: 0 pro- REVISTA DO ENSINO iE fessor ‘escreve no quadro negro, uma phrase ou um mem- bro de phrase defeituoso e faz com que os alumnos achem oerro; depois de achado o erro, faz com que os alumnos o corrijam; cada um tenta, portanto, corrigil-o, escrevendo a f6rme que lhe parece certa, no seu caderno. O professor pro- cura a melhor f6rma dentre as suggeridas por seus alumnos e, &-falta de uma béa, propde uma sua COMO FIXAR O CERTO Desse modo mostra-se o erro e propie-se 0 certo. Mas como se ha de fixar? Através de ercicios, nao arrancados de manuaes, mas tragados de accordo com as necessidades da classe, caleados sobre os seus errros com- muns. Propoe-se, por exemplo, uma serie de phrases mas Jadas, para que os alumnos as completem, obrigando-os de alzum modo a empregar, por varias vezese em dias diver- S08, aquellas formas que costumam nao acertar Quanto { férma citada, podiamese propor exercicios co- mo estes: No mercado. :..fructas. O mercado. - fructas. Na cidade ....easas. No negocio ....-..brin- quedos. {Os alumnos collocarao formas do verbo ¢ex ou haver). ALGUMAS CONDIGOES PARA BEM CORRIGIR Para que uma correcgio dé os resultados que ce) ‘espe- ram, a experiencia me tem mostrado que sao necssentis te tas condigdes: a correcgao nia deve vir em dia mui! oF afas- tado da redaccao, para que os alumnos tenham present es 0 espirito as idéas que tiveram, ao escreverem; ag scoreesscee devem ser feitas com cuidado e em letra legivel oe houver alguma abreviag&o ou convengao, os alumnos | soem estar inteiramente a par; os alumnos devem reflectir a ore as notase as observagoes do professor, eter a iiberaads le © interpellar, todas as vezes que nao comprehenderem bem. REPL Se a correccdo nao tiver a virtude de fazer fom ue os alumnos pensem e reflictam, nao. aleanga o seu x leenres Todo exercicio escolar tem em mira a refle Nao obrig: o alumno a reflectir? Logo, nao tem razao de ser. 12 REVISTA DO ENSINO Pengo que o professor deve por todo o seu engenho na procura de meios de desenvolver o raciocionio das creangas, ‘em todas as opportunidades da vida escolar. Vou exemplificar como pode fazel-o, numa correcgio. Nota que os alumnos caem em de erminado erro. Manda um ao quadro e dicta, para que os outros escrevam, nos seus cadernos, tres a seis pequenas phrases diversas em que se repita a construcgio, de modo differente, mas certo. Leval- os-4 depois a comparar com 0 modocom que escrevem usu- almente, induzir e concluir. Isto é apenasum exemplo, porque de outros muitos o melhores modos pode o professor attingir 0 seu objectivo. EXPLICAGAO GERAL Depois de alguns mezes de aula, pode o professor ado- ptar, com vantagem, este methodo: lidos os exercicios e as- signalados os erros, explica em aula, em primeiro lugar, os erros em que todos cahiram; depois explicar4 alguns erros maiores dos alumnos, desde que aclasse possa aproveilar, com taes ex: licagdes; finalmente, chamaraé particularmente e individualmente este ou aquelle alumno, que merega cuida- dos especiaes e precisede um ensino individual. Fara isto, emquanto os outros alumnos corrigem por si os seus erros. TRABALHO FECUNDO O que desejo apenas assignalar aqui, com estas obser- vacdes naturalmente desvaliosas, 6 que a correccéo 6 um problema escolar de altissima_importatcia e os _professores devem encaral-o seriamente. E’ um trabalho fatigante, por- que nada mais desalentador do que uma pilha de cadernos. Mas tem as suas consolagdes.Uma dellas 6, por exemplo, 0 debrugarmo-nos sobre as almas infantis e buscar o que den- tro dellas se passa, através de suas paginas simples e in- genuas. Nao ha maior pureza nem maior s bedoriano mun- do. Outra consolacdo nos offerece uma correccéo bem feita: fructos copiosos. Os alumnos yao caminhando de tal maneira que, dentro de pouco, a lista de erros vae desapparecendo. Trabalho fatigante e desalentador, disse eu, mas sou obrigada a accrescentar que 6 tambem heroico e fecundo. Heroico, porque 6cumprir, com perfeicéo, um dever. Fe- cundo, porque faz a civilizagéo caminhar e crescer... | ' © JOGO, A IMITACAO E O INTERESSE, COMO FACTORES DA EDUCACAO (Conferencia realizada na Escola Normal de Montes Claros) © JOGO , _ Q desenvolvimento da creanga depende dos jogos senso- riacs-motores, que preenchem o fim de preparar os orgams dos sentidos, e motores, para a acquisigio de uma educagiio completa. O apparecimento da imitagio e do interesse, de accordo com 0 meio, concorrem para o mesmo fim. Pelo jogo a creanga incrementa a sua forea physica, e pela imitagao e o interesse constroe a for¢a mental. _.E’ por si mesma, pelo esforgo proprio que a creanca se habilita para aleancar uma posicio feliz no mundo social. Pelo jogo, pela imitagaoe pelo interesse a creanga pro- cura de-envolver-se, como a planta, que busca a luz, oar ea humidade para nao se estiolar. A creanga nado é, nem um pequeno selvagem, como querem uns, nem um homem perfeito, como suppunham os antigos pedagogos, antes do conhecimento d_ psychologia in- fantil. Ella € um typo especial, sui generis, que precisa ser estudado e compreendido para poder ser educado. Que se dé !iberdade 4 creanga; que ella corra, grite, salte livreme:te, com a expansio que 0 sei: organismo e a sua natureza exizem, porque assim ella esta adquirindo forga mus- cular » intellectual e aprendendo pela proprio experiencia, no grande livrodo mundo, aquillo que o professor e os li- vros nao ensinam. As suas neces:idades biologicas reclamam essa liberda- de de m tilidade, que coagir sera coagir o seu desenvolvi- mento, seré prival-: d+ unico meio de que ella dispde para tornar-se um animal perfeito e um homem de intellecto forte e fecundo. 4 REVISTA DO ENSINO A creanga, qual o individuo saido de uma caverna es- cura e estreita, e que acaba de sentir aluze o espago, tem necessidade de conhecer tudo o que impressiona os seus sen- tidos Por isso ella é curi e indaga de tudo e em tudo quer tocar, em busca de sensagées até ali desconhecidas para ella. Cabe ao educador buscar para ella jogos, ‘a0 mesmo tempo attraentes e educativos, que satisfagam a sua cur dade innata, afim d2 que a sua energia nao seja gasta inutil- mente na pratica de actos muitas vezes inconvenientes e con- demnaveis. S6 assim 6 que a creanca podera ser bem condu- zida e tornar-se homem util 4 sociedade de quem iré fazer parte futuramente. Quando a creanca commette alguma traquinada, 0 unico culpado 6 0 seueducador, que nao soube prendel-a em cou- sas uteis e deixou que ella fosse procurar um motivo para dar expansao 4 sua necessidade organica. Bem guiada, a creanea adquiriré os bons habitos, sem jamais ter occasiao de contrair os maus, que infelicitam o ho- mem na vida pratica. Todo trabalho manual 6 um prazer para a creanca, @ é nessa occupagio que ella se instrue, de modo agradavel, sem esiorco e fadiga, porque tem necessidade de mover seus musculos e de se servir delles, e, por isso, de tornal-os mais fortes e mais agei . «\’ medida que novos movimentos sao executados, os centros nervosos entram em actividade e criam novas vias, que enriquecem o cerebro». Sendo 0 jogo in antil a satisfagdo de uma necessidade na- tural da creanca para ingressar no mundo, o seu fim 6 habi- lital-a para todos os misteres do homem social. Eis porque os jogos sio um arremedo de tudo que o ho- mem pratica. Os jogos infantis, que reproduzem as etapas de civili- zacio por que 0 homem passou, desde o estado primitivo até a epoca actual, sao de caca, de lucta, de cavalzar... e de to- dos os trabalhos e actividades a que oadulto se entrega nos nossos tempos. A creanga procura o jogo como uma necessidade e nao como uma distragao. que nao tiver por ponto de partida o jogo, 6 forcada e anti-natur 1. F O edueador deve langar mio do jogo como principal fa- etor da educag&o, tanto muscular como intellectual, si quizer eatear razionalmente e formar homens _perfeitamente educa- los. Cumpre nfo contrariar a natureza esim segui i a r r s eguil-a paripas- £0, na grande obra da educagao da infancia. ee ___ .E” pelo jogo que acreanga s2 revela. As suas inclina- gdes boas ou mas, a sua yocacao, as suas habilidades, 0 seu caracter, tudo que etlatraz latente no seu eu em formagio, tornarse visivel pelo jogo e pelos brinquedos, que ella exe- cuta. A IMITAGAO A imilagio 6 um instrumento de importancia capital para © desenvolvimento mental da ereanga. Mas 0 uso deste instru- mento exige que elle seja aperfeigoado,. como se aperfeigoam as outras funcgdes por meio do jogo. Imitar 6 reproduzir o que se viu outros fazerem, ou o que se tem ouvido. Ea creanga tem a a qualidade innata de repetir tudo o que ella yé e observa. Aproveitando-se a tendencia da imitacdo, a educacdo da creanga torna-se facil, para que ella possa viver a vida de adulto. Si ha creancas mal educadas, 6 porque 0 meio em que ellas tém vivido nao hes fornecem bons exemplos. _ E’ preciso pér a creanga em ambiente sio moralmente, afim de que ella nao contraia méos habitos assim como o edu- caggr seja exemplo vivo de bons costumes, de moral e de tra- alho. O antigo rifaéo—«Dize-me com quem andas, que direi as manhas que tens»—nos ensina que o homem é 0 producto do meio, devido 4 qualidade de imitar. 16 REVISTA DO ENSINO O homem comega a sua aprendizagem pela imitaciio, que apparece na creanga desde os primeiros mezes de existencia, e toda a vida do adulto 6 uma serie de imitacées. ‘Todos os conhecimentos que adquirimos +io pela imita- ¢aio consciente ou inconsciente, Mas quem imita sempre, aperfeigoa o que esti imitando, & por isso as sciencias eas «rtes estéo enriquecidas de notaveis deseobrimentos e invengdes, que comecaram de simples expe- riencias de observadores euriosos, levadas a cabo pelos seus imitadores. Nada fazemos sem um fundo de imitagdo. Eu, que aqui vos falo, estou imitando o que apanhei nas minhas leituras ou que vi outros {zzerem, e vés todos que me ouvis, tam- bem sois imitadores conscientes ou inconscien es do que ja presenciastes em vossa existencia Védes, pois, a importancia da imitagéo na nossa organizac&io mental. Sem a imitagdo nao teriamos deixado as cavernas e nfo teriamos passado de cagatlores e pescadores. Os _inventos humanos tiveram por ponto de partida o jogo e chegaram 4 perfeicao pela imilagao. Haja vista o pa- ra-raios, 0 vapor, a forga de gravidade, ete., consideradas obras de genios «A imitacas depende de uma percepgio visual ou acus- tica que evoque os movimentos dos membros susceptiveis de reproduzil-os». A creanga imita de preferencia aquillo que lhe impor- ta imitar pelo interesse de suas tendencias naturaes. Por is- so 6 que para fazer desapparecer as mis taras, deve-se crear para a creanga um meio em que os zctos. reprovaveis nao tenham logar de serem imitados, afim de nao se tornarem habituae-. Conhecida a importancia da imitagio na educagiio, 6 por meio dos jogos adequados que o educador poderé desen- volver e estimular cssa qualidade tio estimavel na formagio psychica e physica da creanga. 0 INTERESSE A creanga agita-se, joga, indaga, é attenta e investiga Jevada pelo interesse. O homen: lucta, diverte-se, soffre, tor- na-se util pelo interesse. O interesse ¢ 0 poderoso movel de todas 4s cousas gran- diosas, e o fecundo creador do progresso, da vida, emfim, dos seres. REVISTA DO ENSINO 17 .__Privada de interesse, a vida seria destituida de attra- etives e cheia de dissabores. E’ interesse para creanca tudo que serve para suscitar e alimentar a sua attencdo. O interesse ou 6 biologico, ou 6 psychologico. _ Biologico quando tem por fim activar as faculdades sen- soriaes~motoras; psychologico, 0 que concorre para as acqui- sigdes da intelligencia. A creanca que nado é despertada pelo interesse, nao se desenvolve o tornar-se-4 um homem fraco physicamente e moralmente. Crear o interesse de todas as ordens, na escola, €dever do educador, que quizer formar individuos fortes e aptos para emprehender a lucta pela vida. O interesse 6 a alegria do educando. Levada pelo inte- resse, a creanca nao se sente fatigada; todos os deveres esco- Jares sio executados com animacio e enthusiasmo, e as acquisicdes se fazem sem esforgo e tornam-se mais seguras. Eis o papel do interesse como factor da educagao. Denomina-se interesse immediato aquelle que 6 effeito de uma cousa suggestiva, ou impressionante aos orgams dos sentidos, e mesiato, o interesse por uma acquisicéo futura. Este nasce da curiosidade, do desejo de aprender, Quando a ereanga trabalha para cumprir um dever es colar, que lhe é dado, ella 6 estimulada pelo interesse me- diato de executar com perfei¢io o seu trabalho. Entrega-se ao trabalho com prazer, sem visar outra recompensa senaio a satisfagdo da acquisicaio. Esse interesse, que é 0 principal na educacdo, deve ser desenvolvido na ereanca, desde que a sua eapacidade intel- Jectual_o permitta. «O interesse nfo depende dos objectos, mas de nés mes- mos; 08 objectos nfo fixam a nossa aitencdo pelo que elles sio em si mesmos, mas pelo que elles sio para nés; nfo 6 a sua hatureza objectiva, mas o seu valor subjectivo, que nos attrae’’. Como quer Clapartde—‘‘O interesse 6 0 symptomace uma necessidade; na creanga € symptoma de uma necessidaie de crescimento do espirito e do corpo.’ Eis porque os objectos que suscitam o interesse da creanga variam 4 medida do seu desevolyimento, E’ preciso ter-se em vista o desenvolvimento psycholo- gico que acompanha o desenvolvimento physico, conforme cs periodos naturaes do crescimento da creanga. O interesse se manifesta pela curiosidade, e esta curio- sidade precisa ser satisfeita em proveito da educagio. 18 REVISTA DO ENSINO Muitos se agastam com a curiosidade espontanea da ereanca; néo lhe prestam attencfio e tomam-na como im- portuna. E’ um erro fatal. A curiosidade infantil 6 uma virtude enio um vicio, e essa curiosidade 6 forcoso ser alimentada e nao destruida. Nenhuma materia de ensino deve ser iniciada sem que primeiramente se tenha interessado a creanga na sua acquisi- cio. Uma ligao precisa ser uma contestacao, isto 6, uma dis- cussio entre professor e alumno e nio uma preleccio fria do professor, para que ella possa interessar ao alumno. Os interesses, que siocommuns 4s creancas de pouca idade, variam gradativamente, conforme o sexo, nas crean- eas de idade maior. A creanga se desenvolve naturalmente, por etapas | que marcam o seu cre:cimento, e cada etapa cor- responde 20 desenvolvimento de uma determinada funceiio, que lhe proporciona jogos agradaveis O segredo da pedagogia consiste em servir-se das apti- dées naturaes da creanga e nao reprimil-as, e aproveitar os momentos asados para fazer apparecer aquellas de que nado seja dotada, ou estejam em estado latente. Z GONZAGA JUNIOR © professor de Methodo! AULA MODELO Sendo a aula uma collaboragdo entre o professor e a classe, s6 podera ter nome de aula modelo, rigorosamente fa- Jando, aquella que, alem de beta preparada, foi experimen- tada com bom exito. Ainda qne o preparo da aula atenha dotado dos requisitos necessarios, ¢ indispensavel a sua experimentagio para transformal-a em aula modelo. Con= forme se vé, esta depende da participagio da classe. O professora ndo pdde, a priori, considerar como mode- jouma aula que apenas preparou. Para ser julgada assim, a aula ha de ter recebido a collaboragaéo dos alumnos e ao mes- mo tempo haver correspondido aos interesses delles. Dest’- arte, somente depois de ter sido dada, poderé haver aula verdadeiramente modelar, A aula bem preparada 6 como sifosse aroupa bem feita, que noemtanto nem sempre serviré para aquelle, a quem se destina. Mas, assim como nao se péde prescindir do bom preparo da roupa, assim {ambem nio se péde dispensar a béa preparagio da aula. Sera este um ponto de manifesta utilidade no ensino normal e no trabalho didactico: attender-se primeiramente ao preparo da aula, e depois comparal-o com a propria aula, notando-se as modificagdes, quea collaboragio da classe ali introduziu no decorrer desse trabalho escolar. A bem do aperfeigoamento de sua technica, 0 professor deve tornar-se autocritico. A aula que preparou serd oppor- tunamente modificada por elle proprio, si assim o aconselhou a cooperagio da classe. O ensino 6 um trabalho em commum, um estudo que o mestre realiza com os alumnos. Tanto de- pende daquelles como destes. Professores e alumnos sido todos elles estudantes, com a differenca de que aos primeiros cumpre serem sempre estudiosos. Por vezes tem surgido esta pergunta: «como se faz o pre- paro das ligdes? E’ facil responder: . Claro esté que, antes de tudo, elle ha de conhecer estes, de modo geral e de modo particular. Na escola normal estu- 20 REVISTA DO ENSINO dou-os por aquelle modo, e agora na pratica ineumbe-lhe conhecera cada um de per si. Estas consideragdes podem orientar os professores na elaboracéo das aulas modelos. Parece-me que, depois de preparal-as, elles deverdo ministral-as 4 classe, com o fim de ve- rificar a sua efficiencia, isto 6, si ellas despertaram o interesse dos alumnos e si foram devidamente assimiladas. Desta for- ma, €de crer, nao subsistiré outro proposito sindo 0. de servir o ensino primario, imprimindo-se a0 mesmo a finalidade edu- cativa que o caracteriza. Os remates da obra sao =necessarios para aprimoral-a. Firmino Costa (Dire cter Teetnico do Curso dex Applicagio VI. Supprimico por jaestar contido nos artigos [prece- VII. O livro_de leitura deve ser de accordo com a lin- uagem infantil ,ndo empregando nunca o professor yocabu- ario desconhecido das creangas. VIII. O professor deve esforgar-se para despertar na ere- anga o interesse e amor pela leitura, cultivando os bons habi- tos, attitudes e habilidades, para que ella, por iniciativa pro- pria, procure nas bibliothecas infantis, nas revistas illustradas, ete., conhecimentos uteis que lhe vdo servir na vida pratica. IX. Sao diversos os graus de leitura dos alumnos de cada anno do curso primario, devendo o professor classificar os seus alumnos, de accordo com cs diversos graus de adean- a mento dos mesmos. X. Sao os seguintes os diversos graus de leitura: O ENSINO DA LEITURA ModificagSes no programma de ensino primario, suggeridas por pro- fessoras alumnas da Escola de Aperfeigoamento I. A leitura deve ser interpretativa, desde o I ao IV anno primario. IL. As interpretagdes devem ser dadas oralmente em to- das as classes do curso primario, sendo que deve ser frequen- tee muito util o auxilio do diccionario. III. A leitura no I facil e de assumptos familiares 4 creanga. IV. Os exercicios de leitura sio indispensaveis, nio de- vendo 0 professor preoceupar-se com o horario, podendo al- teral-o de accordo com as necessidades pedagogicas. V. Aaula de linguagem deve preceder a de leitura, ba- seando-se nella o professor para dar aos alumnos attrahentes licgdes de leitura. nno deve ser sempre de linguagem 22 REVISTA DO ENSINO [ Anno—Ler e commenter a historieta de qualquer livro, apresentado no momento. Serfio empregados diversos jogos para 0 desenvolvimen- to da leitura oral e silenciosa, quando houver opportunidade. Reconhecimento das sentengas, das palavras, syllabas e letras de que as mesmas se compoem. II Anno—Aperfeigoar todos os conhecimentos adquiri- dos noI anno. Novos exercicios e novos jogos de leitura interpretativa, para desenvolvimento dos alumnos. II Anno—Leitura recreativa nao s6 de revistas, como tambem de qualquer livro apresentado no momento. Declamagao de poesias civicas ou de fabulas interessan- tes. Dramatizacio de assumptos pedagogicos, tirados das licdes, na qual tomarao parte todos os alumnos da classe. IV Anno—Ampliacio do programma do II anno. Com- mentarios feitos pelos alumnos sobre historias lidas silen- ciosamente. A creanca deve ter bastante desenvolvimento, para que ella, por iniciativa propria, procure nas bibliothecas infan- tis,nas revistas illustradas, etc., conhecimentos uteis, para que esteslhe sirvam na vida pratica. TRIMEIRO ANNO I A leitura deve ser feita pelo methodo global. II. As historietas devem ser transcriptas_em folhas de cartolina, com letras de imprensa, feitas com pincel e verniz de aleool, sendoo cartéo apresentado com gravuras expressi- yas, de accordo com o assumpto da ligéo. III. Depois de bem fixados os cartées da historieta, serio apresentadas aos alumnos as fichas relativas 4s senten- cas do cartio. TV. Fixadas as fichas, sero estas decompostas em pala- yras e estas em syllabas, que seraio tambem decompostas em letras. V. O professor deve ter o material flexivel na classe para todos os graus de mentalidade. Nota—Concordamos com os artigos I, Il, V, VI, VI, VIII, X, XI, XII, XII, XIV e alineas deaa @. Marra Morera Da Costa, GUIoMAR MaTTos ABREU, Estuer Atves, Maria pas Dores JARpIM, ZILDA GAMA { EXERCICIO DE REDACCAO NAS ESCOLAS PRIMARIAS (Palestra na Escola Normal de Ouro Fino) O fim principal do ensino da lingua patria, nos diffe- rentes graus do ensino primario, normale secundario 6, sem duvida, ministraraos alumnos os conhecim: ntos precisos para bem externar os seus pensamentos. Sendo esse 0 fim culminante do ensino da lingua, é facil deduzir que, para attingir tal fim, 0 professor ha de luctar com enormes difficuldades. Praticamente vemos que, entre os nossos conhecidos, ha quem nao seja capaz de escrever um artigo, 4 primeira vista. O pensamento fica emperrado. As idéas Aopen E, nem sem- pre, a forma 6, precisamente,um modelo de boa linguagem. __, Escrever cartas é, para muita gente, um verdadeiro sup- plicio e nfo so raros os erros grammaticaes entre pessoas notoriamente doutas. AS CREANGAS _ Devemos, por isso, culpar as creangas porque nao sabem redigir? E’ justo que n6s, professores, exijamos do~ cerebro infantil o que nés, adultos, s6 conseguimos com enormas dif- ficuldades ? ___, se as creancas so acoimadas de inintelligentes porque nao sabem escrever uma historieta com 2orrecgio impeccavel, porque, entao, nao fazer 4 nossa consciencia esta pergunta: Sabemos redigir com estylo e correcgéo de modo a desafiar a critica dos outros? __ Posso affirmar, com toda a seguranga, e como quem vive do officio: escrever 6 cousa diffivillima, que se consegue com grandes estudos e trabalhos. 93 24 REVISTA DO ENSINO Queixar dos alumnos porque nfo escrevem como Camées, 6 fazer grave injustica aos professores da materia, porque o exercicio da redacgio, como diz o Regulamento, pée 4 prova a dedicagio do professor, por ser o mais trabalhoso. A UTILIDADE DO ENSINO DA LINGUA Nao 6 necessario insistir sobre um ponto que, certo, me- rece a nossa approvacao. A utilidade da lingua, a necessidade da aprendizagem 6 tao grande que, afinal, somos todos pro- fessores de portuguez. Em Historia do Brasil, por exemplo, o professor nao s3 deveré preoccupar com a maior ou menor perfeigio com que o alumno saiba escrever; o que Ihe compete é ministrar a to- dos indicagdes econselhos afim de qu2 todos escrevam os seus exercicios. O alumno, hoje, 6 tudo na escola. O professor 6 um guia e um collaborador. Se os alumnos nao existissem, nao existi- riam as escolas. TEMPO PERDIDO Estamos sempre a ouvir: —O alumno F. nio sabe escrever. O alumno B. 6 pessi- mo em portuguez, etc. Ao envez destas queixas,o que seria razoavel 6 que nés, em nossas cadeiras, procurassemos os melhores meios de guial-os e corrigil-os, &’ sempre facil abordar 0 assumpto e uma li¢iode por- tuguez 6 sempre opportuna. COMO ENSINAR A LINGUA .\ escola primaria—diz o Regulamento—da ao alumno um conhecimento pratico da lingua. As nogdes Je grammatica de- verdo ser dadas de tal modo simples e de tal maneira intuiti- vas que, recebendc-as, no teré o alumno, em verdade, a sen- sagfio de contacto coma grammatica. O ensino deverd ser apontado 4 correceao de vicios e de- ssumpto, analyse, estu- feitos de pronuncia; interpretagao do spose gy REVISTA DO ENSINO do de orthographia e pontuacgao, bem como conhecimento do vocabulario. As melhores indieacdes vem expressas nos programmas, que contém, em resumo, a methodologia a praticar. A COMPOSIGAO. Os exercicios preliminares deverdo seguir 0 seguinte ca- minho: 1° Descripgdes: a) descrever a sala de aula; b) deserever a ruae a casaem que reside; ce) descrever 0 edificio escolar; d) deserever a cidade; e) descrever a igreja; f) descrevergravuras, aspectos da natureza, ete (todos os exercicios devem ser precedidos de preparagdo oral), 2° Composigio: a) escrever cartas, descrevendo e narrando factos e cou- €asé, em summa, applicar tudo que for pos-ivel. Variar sem= pre e muito. b) invengao, sobre todos os assumptos. PREPARANDO 0 TERRENO. Depois que o alumno tiver um certo treino e adestra- mento na expressdo escripta dos pensamentos communs e ha- bituaes, convem se !he ministre algum conhecimento ve pon- tuagao, segundo um pleno claro e accessivel a tua intelli- gencia. Para que o alumno consiga escrever correctamente 6 preciso conhecer cs casos principaes doemprego da virgu- la, a crase, «8 conjugagoss, etc. Por exemplo, a virgula: I) Pedro, vem ci. TI) Se elle estudar, aprenderd. : 111 O menino aprende, estudando com enthusiasmo. REVISTA DO ENSINO IV) Ouro Fino, 2 de 6 de 1929, V) D. Pedro II, imperador do Brasil, morreu em (Explicagdes no quadro negro destes e outros casos). A CRASE Regra geral: accentua-se 0 a, quando o nome seguinte éfemininoe admiite artigo: : I) Vou a S. Paulo. Vou 4 Italia. D.i um livro a uma menina. av. excia. a esta menina. Elle esta a chorar. > >» > (Explicagdes no quadro negro.) IMPERATIVO Convem ensinar com muito cuidado as formas do i vem € un ) impe- rativo ¢ insistir sobre o imperativo negativo. FUTURO DO SUBJUNCTIVO Para se evilar expressdes como se eu por, se ew trazer, se ew fazer, etc, convem multiplicar exercicios sobre o futu- ro do subjunctivo. A LEITUORA A imitagdo 6 um elemento _ indis; v pensavel para que a creanga aprenda bem qualquer materia. p : : Lendo, a creanga vae adquirindo a materia prima para as suas composicdes e o cabedal indispensavel para a expres- sao oral e escripta de seus pensamentos. Jogando com as palavras j4 conhecidas, o professor poder abelecer am programma de exercicios, de peque- s as phrases, que, lidas, copiadas e, emfim, dictada: i 3 : a8 . , adas, fi- q xem no cerebro infantil. zs Depois fara phrases incompletas, afim de que, nos es- pagos vegos, as creincas colloquem as palavras adequadas. Por ex.: REVISTA DO ENSINO qT —Nao—laranjas para vender. —Nunca—tantos desastres na rua como agora. Depois de um continuado exercicio, ein que o_profes- sor haja trabalhado de facto, iniciar-se-A a composigdo de sentencas. Por ex.: —dizem, estiveram—festas an madas. Convem, sobre a leitura, observar 0 seguinte: alguns rofessores, com o intuito de enriquecerem oO yocabu! ario los alumnos, mandam que escrevam listas e mais listas de synonimos. ‘Tal riqueza—como diz Joao Toledo—é rique- za falsa. Sio trambolhos que entulham a intelligencia. © MOMENTO OPPORTUNO A imaginagdo, como todos sabem, 6 a actividade das imagens. As imagens sao recordaqoes das sensagoes. O trabalho proprio das professoras 6 estimular as forcas da imaginacdo, dirigir a actividade e fomentar a vivacida~ de das imagens. } Num dia de lindo sol, o thema para a composigaio nao sera, precisamente, a deseripcio de um dia de chuva. A opportunidade 6 grande cousa na vida. Como dar a descrever ao alumno a partida de Pedro Alvares Cabral, o Tejo, o mar, as earavellas, se aS creangas nunca viram taes cousas nem mesmo em photographias? A composigéo, sem a observacio directa dos objectos, é uma cousa negativa para a intelligencia dos alumnos. Por isso 6 que, quasi sempre, 0s professores verberam as creancas: néo escolhem sufficientemente o thema e, depois, reportam ao alumno toda a culpa, quando, de facto, elles 6 que sao culpados AS LEIS DO ENSINO A illustre profe:sora mineira senhorinha Benedicta Val- Jadares, deu, no Curso de Aperfeigoamento, para 0s assis~ tentes technicos, uma aula de methodologia magnifica . Vou resumir os principaes pontos desse trabalho: I— Lei de predisposicéo. Quando alguem esté predis- posto a fazer alguma cousa, 0 facto de fazel-a causa prazer e © de nao fazel-a, desprazer. 28 REVISTA DO ENSINO Il) E’ necessario que acreanga appreenda o uso que. ir fazer das nogdes. Nada afervoraré tanto uma creanga no aprendizado da leitura, do que ouvir uma linda historia lida por outra creanga. III) Nas escolas americanas, os americanos montam negocios, onde as creancas, que sao tambem_negociantes, compram e vendem, verificando assim a utilidade dos cal- culos. II—Lei de satisfagao. O homem tem a tendencia de repetir as reacgdes que lhe causam prazer. A influencia da lei de satisfagio, no ensino, é muito grande, sobretudo nas suas repercussdes longinquas e cuja visio 0 commum dos professores ndo tem. Vou exemplificar: Nao ha materia que mais interessa 4 creanga do que a geographia; este interesse promana do seu instincto social Para ella 6 uma alegria saber como os diversos povos da teira vivem, como se vestem, 0 que comem, como sio cons- truidas as suas casas e qual o aspecto de diversas terras do nosso orbe. Iniciando, porem, o seu estudo ce geographia, € forgada pelo cymmum dos professores a dec: ar defin.cdes, listas de accidentes, cidades, productos, ete. — estudo esteril e te ioso, que s6 causa desprazer a quem a elle se dedica e que po" sso mesmo ird fazer da geographia um estudo odiado e que a creanga ‘elegaraé, no futuro, para o numero daquelles a que 0 homem em que ella se transformar, ha de yoltar. Em regra, 0 successo causa prazer. O bom professor de- ve, pois, animar os seus discipulos, fornecendo-lhes occasiao ce acertar e deve agir de modo a que elles mesmos_ consta- tem o proprio progresso. Uma creanga que for sempre mal succedida corre o risco de adquirir uma convicgao positiva de inferioridade (complexo de inferioridade) e,em dobro, aver- sdo a todo e qualquer estuco. III—Lei de exercicio. «

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