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si asinine ct ANE MAMA haem SS oat 5 1 © (CURSO A DISTANGIA—HODULO Xx DIREITO CIVIL - PARTE GERAL - PROF’ FLAVIO MONTEIRO DE BARROS LESAO CONCEITO E ESPECIES A lesfo pode ser: enorme, especial e usuréria. A lesao enorme, para caracterizar-se, basta a desproporgao entre as prestagdes. E, pois, o lucro exorbitante obtide por uma das partes contratantes. No Codigo de Defesa do Consumidor, a leséo poder ser conceituada dessa forma, como sendo a vantagem manifestamente excessiva obtida pelo fornecedor, conforme preceitua o art. 39, inciso V, da Lei 8.078/90. O valor excessive deve ser apurado pelo juiz, no caso concreto. A lesdo especial, por sua vez, exige, além do lucro excessivo, a situagdo de necessidade ou inexperiéncia da parte prejudicada. O Cédigo Civil, no art. 157, adolou essa les&o, salientando que: “Ocorre a leséo quando uma pessoa sob premente necessidade, ou ‘por Inexperiéncia, se obriga a prestacdo manifestamente desproporcional ao valor da prestagao oposta”. Como se vé, n&o basla o lucro desproporcional, & ainda mister a situagdo de necessidade ou inexperiéncia da parte jesada. Finalmente, a les4o usuréria ou usura real, além do lucro excessive e da situagdo de necessidade ou inexperiéncla da parte fesada, para se caracterizar, exige ainda o dolo de aproveitamento, consistente na ma-fé da parte beneficiada, que celebra o negocio juridico ciente da necessidade ou inexperiéncia do outro contratante. Essa lesdo ¢ prevista no art. 4° da Lei 1.521/51, encontrando-se tipificada como crime contra a economia popular, caso. 0 lucro patrimonial exceda a um quinto do valor da prestagdo. Nesse caso, de acordo com Silvio Rodrigues, a nulidade é absoluta, por ilicitude do seu objeto, O § 3° do mesmo artigo manda o juiz ajustar os lucros usurérios 4 medida legal, devendo ordenar a restituigao da quantia paga em excesso, com os juros legais, de modo que a situag&o nao é de nulidade absoluta, mas relativa, pois o ato é preservado na parte valida. REQUISITOS DA LESAO ESPECIAL Vimos que o Cédigo Civil adotou a lesdo especial, cujo reconhecimento depende de dois requisitos: a, desproporg4o manifesta das prestagdes. Aprecia-se a desproporgdo das. prestacdes segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado 0 negocio juridico (§1° do art.157). O montante dessa despropor¢ao nao. é prefixado pela lei, competindo ao magistrado analisa-lo no caso concreto; urge, porém, que seja consideravel, acentuada. Essa desproporcao deve existir ao tempo da celebragéo do negécio; tratando-se de desproporcao superveniente nao ha falar-se em lesao e sim em onerosidade excessiva, aplicando-se a teoria da imprevisdo, quando se tratar de contrato de execugao diferida ou de trato de sucessivo. Saliente-se ainda que apenas a = © CURSO A OISTANCIA - MODULO Xx DIREITO CIVIL - PARTE GERAL.— PROF FLAVIO MONTEIRO DE BARROS os contratos comutativos, em que as prestagdes se equivalem, podem ser viciados pela lesdo, pois nos contratos aleatérios o desequilibrio das prestagdes é inerente ao negocio. b. situagao de necessidade ou inexperiéncia da parte lesada A necessidade 6 a indispensabilidade do contrato. E, pois, a impossibilidade de evitar o contrato. Trata-se da necessidade econdmica de contratar. Essa necessidade nem sempre se caracteriza pela miséria, pois pessoas abonadas também podem necessilar de um certo contrato. A inexperiéncia, por sua vez, nao é incultura do lesado, mas a Inexperiéncia contratual, que até o cullo pode incidir. O énus da prova da inexperiéncia ou necessidade compete ao lesado. EFEITOS DA LESAO Presentes esse requisitos acima, a parte lesada pode pleitear a anulago do negocio juridico. Faculta-se, contudo, a parte favorecida oferecer suplemento suficiente para o reequilfbrio das prestagd¢s, evitando-se, destarte, a anulag&o do negécio. Se, por exemplo, pagou-se guarenta mil reais em um apartamento que valia setenta mil reais, ao ser citado para a ago anulatéria poderd efetuar o complemento do prego, depositando a diferenga de trinta mil reais. Esse pedido de preservacao do negocio juridico, porém, deve ser feito em reconvengao, pois a acao anulatéria n@o tem carater ddplice, sendo, pois, vedado ao réu, na contestacao, formular pedido em seu favor. Entretanto, tratando-se de rite sumério, esse pedido pode ser formulado na propria contestacao, por forga do § 1° do art. 278 do CPC. Nada obsta que a parte lesada formule pedido subsidiério: complementagao do valor da prestagéo e a anulacao do negécio juridico, devendo este dltimo pedido ser acolhida apenas na hipdtese de a parte favorecida no concerdar com a redugéio do proveito. DISTINGAO ENTRE LESAO POR NECESSIDADE E ESTADO DE PERIGO Na les&o por necessidade de contratar, o negdcio é celebrado para evitar um dano patrimonial; no estado de perigo, o negécio visa evitar um dano de carater pessoal. Na lesdo, a situagdo de necessidade ndo precisa ser conhecida da parte beneficiada pelo negécio, dispensando-se, destarle, o dolo de aproveitamento; no estado de perigo, ao revés, 6 necessario que a parte beneficiada proceda com dolo de aproveitamento, vale dizer, que tenha conhecimento da situagao de perigo. Na lesa, a necessidade de contratar 6 do proprio deciarante lesado; no estado de perigo, a situagdo de necessidade pessoal pode ser do it ae si ae hems a SSE AAR oie o rane on : © ‘CURSO A DISTANCIA - MODULO XX DIREITO CIVIL- PARTE GERAL ~ PROF FLAVIO MONTEIRO DE BARROS declarante, sua familia ou terceiros. Assim, a venda de um bem, por prego desproporcional, para salvar a vida de um terceiro, pode configurar o estado de perigo, se a outra parte tinha conhecimento dessa situagdo; mas se essa venda é feita para evitar a ruina patrimonial desse terceiro, nao ha falar-se em estado de perigo, nem em les&o, essa ultima s6 se caracterizaria se fosse para evitar ruina econdmica do proprio lesado. No estado de perigo, a parte favorecida nao pode exigir a preservacdo do negécio, mediante oferta do suplemento suficiente; na lesdo, joma-se possivel isso, evitando-se a anulagao. Finalmente, cumpre recordar que tanto na lesdo quanto no estado de perigo a parte age premida pela necessidade de contratar, assumindo obrigagdo excessivamente onerosa, SIMULAGAO CONCEITO Simulagao € o acordo entre as partes, para dar existéncia real a um negécio juridico ficticio, ou, entéo, para ocuttar o negécio juridico realmente realizado, com o fito de violar a lei ou enganar terceiros, Trata-se de uma declaragao enganosa da vontade, que oferece ao negécio juridico uma aparéncia diversa da desejada pelas partes. Estas, de comum acordo, fingem praticarem o negocio simulado. A simulagao nao 6 vicio de consentimento, porque o desacordo entre a vontade interna e a declarada é intencional. E um vicio social, pois a vontade 6 conscientemente declarada, enganando terceiros ou violando a lei. REQUISITOS Asimulagdo apresenta os seguintes requisitos: a. acordo entre as paries, ou com a pessoa a quem ela se destina. Assim, na simulacdo existe um conluio entre as partes. Todavia, os atos unilaterais também a admitem, desde que se verifique esse conluio entre declarante com outra pessoa. Exempio: homem casado promete recompensa a quem devolver certo objeto que ele diz ter perdido, mas na verdade havia deixado com a sua concubina, combinando com esta a devolugdo para entregar-lhe a recompensa. Denota-se que essa promessa de recompensa ndo passa de um negécio simulado para encobrir o negocio verdadeiro, qual seja, a doagdo. O testamento € outro exemplo de ato unilaterat passivel de simulagéo. b. Declarago enganosa da vontade. Ha, pois, desconformidade consciente entre a vontade declarada e a vontade interna. As partes, como observa Silvio Rodrigues, nao querem o negocio declarado, mas tGo-somente fazé- lo aparecer como querido. O conteiido do ato falso, isto é, narra uma a “i © ‘CURSO A DISTANCIA— MODULO Xx DIREITO CIVIL. PARTE GERAL- PROF? FLAVIO MONTEIRO DE BARROS mentira, caracterizando-se, inclusive, o crime de falsidade ideoldgica, previsto no art, 299 do CP. Saliente-se, assim, que, na simulagdo, ha uma falsidade Ideolégica ou intelectual, recaindo apenas sobre o conteddo do negocio Juridico, Este, sob o aspecto formal, apresenta-se_perieito. Diferentemente ocorre com a falsidade material, que incide sobre o contetide e também sobre os aspectos formais, consistindo, pois, numa contrafago fisica, isto 6, numa alteragéo do documento verdadero, através da insergao de novos dizeres. c. Aintengao de enganar terceiros ou violar a lei. Enquanto no dolo, uma das partes € enganada, na siiulagdo as partes tém ciéncia da_buria, concretizada para enganar terceiro. Assim, nao 6 possivel a coexisténcia, no mesmo negécio, de dolo ¢ de simulagao. ESPECIES A simulagdo pode ser: . absoluta; . relativa; subjetiv. maticiosa; inocente. spaoge SIMULAGAO ABSOLUTA E RELATIVA Na simulag&o absoluta, as partes nao objetivam a celebragdo de qualquer negocio juridico. Este é aparentemente celebrado para enganar terceiros au violar a lel. Exemplo: devedor simula venda de bens a um amigo para subtrai-los da execugao dos credores. Outro exemplo: © marido simula a confisso de dividas com um parente para prejudicar a sua esposa na separagao amigavel. Na simulagdo relativa ou dissimulagdo, por sua vez, 0 negocio juridico aparente visa esconder 0 negdcio verdadeiro. Diz-se relativa, porque existe um ato simulado e um ato dissimulado. Exemplo: homem casado faz doacéio de imével 4 sua concubina, mas providencia a lavratura de uma escritura de compra e venda. SIMULAGAO OBJETIVA E SUBJETIVA Simulagdo subjetiva 6 aquela em que o negécio juridico transmite direito a certa pessoa, para que esta os repasse a outra. Nessa simulag&o, 0 negécio juridico beneficia aparentemente o testa-de-ferro ou prestanome ou homem de palha, mas 0 verdadeiro beneficiado é outra pessoa. Exempio: homem casado simula doar imével para um amigo, para © ‘CURSO A DISTANCIA ~ MOQULO Xx DIREMTO GIVIL - PARTE GERAL — PROF" FLAVIO MONTEIRO DE BARROS que este o repasse gratuitamente & sua concubina. Outro exemplo: o pai, desejando vender um bem para seu filho, diante da oposigo dos demais filhos, finge doar para este, em seguida, realiza a venda desejada. A simulacao subjetiva s6 se caracteriza quando 0 testa-de- ferro transmite o bem a pessoa a quem o negécio visa beneficiar. Enquanto isso née se realiza, nao se pode falar em nulidade. Por outro lado, diz-se objetiva a simulagdo quando c negocio juridico contém declaragdo n@o verdadeiro. Exemplo: escritura publica de compra e venda com prego inferior ao real; quando os instrumentos Parliculares forem ante-datados, ou pés-datados; quando o negocio juridico contiver declarac&o, confissdo, condigéo ou clausula nao verdadeira. SIMULAGAO INOCENTE E MALIGIOSA Simulagdo inocente 6 a que n&o objetiva violar a lei ou prejudicar terceiro. Tal ocorre, por exemplo, na doagdo mascarada de compra e venda feita por homem solteiro 4 sua concubina. O Cédigo de 1916 continha dispositivo expresso, reputando valido o negocio juridico. O Cédigo de 2002 6 omisso. Todavia, como adverte Fabio Uthoa Coelho; “Se a simulagdo n&o prejudica terceiro, n&o existe como tal e deve ser considerado valido o negécio praticado em descompasso com a verdadeira intengao das partes. Assim, se uma pessoa precisa deve assinar documento particular com data futura, por razées de conveniéncia das partes, nao havendo nenhum prejuizo a terceiro, ndo se configura a simulagdo”. Simulagao fraudulenta ou maliciosa, por sua vez, 6 a que objetiva fraudar a lei ou prejudicar terceiros. Nesse caso, o ato sera nuio. EFEITOS A simulag&o frauduienta, seja ela absoluta, relativa, objetiva ou subjetiva, provoca a nulidade absoluta do negocio juridico. Portanto, esse vicio deve ser decretado de oficio pelo magistrado. No Codigo de 1916, os simuladores néo podiam argiiirem o vicio em juizo, um contra 0 outro, ou contra terceiro. No Cédigo atual, nao existe essa restricao, pois a nulidade é absoluta, podendo ser suscitada pelas partes ou qualquer interessado, devendo ainda o juiz pronunciar-se de oficio. A acSo de nulidade do negécio juridico 6 impresoritivel. De fato, o negocio juridico nulo.ndo é suscetivel de confirmagao, nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169). Por outro lado, subsistirA 0 que se dissimulou se valido for 0 negécio na substancia e na forma. CURSO A DISTANCIA ~ MODULO XX DIREITO NL - PARTE GERAL ~ PROF? FLAVIO MONTEIRO DE BARROS Tal ocorre, por exemplo, com a simulago parcial, em que as partes, numa escritura de compra e venda, mencionam prego inferior ao real, para reduzir o valor do imposto de transmiss&o de bens. Nesse caso, subsiste a compra e venda, porque admitida pelo direito material, tendo ainda observado a forma (escritura publica), ressalvando-se, porém, 4 Fazenda Publica o direite de cobranga da diferenga do imposto devido. Igualmente, na simulagdo relaliva, desfeito o negécio aparente cumpre examinar a validade do negécio verdadeiro, que podera manter-se intacto caso sua pratica seja permitida pelo direito (validade substancial) e seja obsérvade 0 modelo {egal (validade formal). Portanto, na doagdo de imével que homem solteiro faz a sua concudina, mascarada de compra e venda, a Fazenda Publica Estadual pode mover ago de nutidade de negécio, para obter o imposto referente 4 doagao, tendo em vista que 0 imposto devido em razo da compra e venda € recolhido pelo Municipio. Anulada a venda, subsiste a doagdo, porque admitida pelo direito, e também, por ter observado a forma legal (escritura publica). Por outra lado, na simufagao inocente, o negécio juridice dissimulado é valido, pois ndo ha a intengéo de prejudicar terceiros, ou de violar disposic&o de lei. Também é possivel a simulago absoluta inocente, como, por exemplo, a confissdo de dividas entre “A” e “B” para evitar suicidio alheio. Na simutagao relativa inocente, o primeiro negécio € nulo, mas o segundo sera valido, se preencher os requisitos substanciais e formals. Em contrapartida, na simulagao absoluta inocente, a nulidade atinge 0 negécio juridico, que em si mesmo 6 querido, nao subsistindo nenhum outro sucedaneo, porquanto a vontade das partes nao se dirige 4 realizagao de qualquer negécio, Finalmente, se o simulador, que adquiriu aparentemente o bem ou direito, celebrar aigum contrato com terceiro de boa-fé, os direitos deste sero respeitados. Com efeito, dispde 0 § 2° do art. 167 que: “Ressalvam-se 0s direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negocio juridico simulado”. NEGOCIO FIDUCIARIO Negécio fiduciario é aquele em que uma pessoa (fiduciante) transmite a propriedade de um bem a outra (fiduciaria), impondo-the a obrigag&o de devolvé-lo ou de transmiti-lo a terceiro, depois de atingido um certo fim. N&o obstante a omisséio .do Codigo, as partes podem celebra-lo, com base na liberdade de contratar, desde que o fim seja licito. Distingue-se nitidamente da simulagdo. Nesta, o contetido do negécio ¢ falso, ao passo que no negocio fiduciério o contetido é sério, tendo sido realmente concretizado pelas partes. t 7 © ‘CURSO A DISTANCIA — MODULO XX DIREITO CIviL «PARTE GERAL - PROF* FLAVIO MONTEIRO DE BARROS Se, porém, 0 negocio fiduciario for efetivado para prejudicar terceiros ou fraudar 2 lei, deverd ser equiparado a simulagao, impondo-se a decretacao da nulidade absoluta. O negocio fiducidrio compe-se de dois elementos: a. transmissdo da propriedade de um bem; b. obrigagéio de 0 fiduciario restituir esse bem ao fiduciante depois de atingido certo fim ou do implemento de determinado termo ou condigéo. Tal ocorre, por exemplo, na doagao de um bem com a obrigagao de o donatario restitul-to ao doador, ands completar 25 anos de idade. Cumpre n&o confundir o negécio fiduciario (fidticia romana) com a condigo ou termo resolutivos expressos (fidticia germanica). No primeiro, a devolugéo nao é automatica, ainda que se tenha atingido o fim ou ocorrido a terme ou condigao, pois depende de uma manifestag&o de vontade do fiduciétio, ao passo que no termo ou condigdo resolutivo expressos a devolugdo 6 automatica, emanando diretamente do implemento do termo ou condigao, Se, por exemplo, disser o doador: essa doagdo cessaré automaticamente quando completares 25 anos ou quando ocorrer tal condicao, estaremos diante da fiddcia germana, retornando o bem automaticamente ao fiduciante. Se, ao revés, 0 doador disser: ao completares 25 anos ou depois de certa condigao, assumiras a obrigacdo de me restituir esse bem, havera o negécio fiducirio ou fidécia romana, que nao implica na devolugdo automatica do bem ao fiduciante. Nesse Ultimo caso, de acordo com Maria Helena Diniz, o fiducidrio no podera ser compelido a restituicdo, vale dizer, o fiduciante ndo poderé reivindicar a propria coisa, pois nao tem o direito real de propriedade, devendo contentar-se com as perdas e danos. RESERVA MENTAL CONCEITO Reserva mental 6 a declaragao de vontade com a intengdo de ndo cumpri-ta, visando enganar o declaratario ou terceiro. Tal ocorre, por exemplo, quando o vendedor aliena o objeto, mas nao tem a intengao de entregé-lo. Pode-se dizer que reserva mental é o inadimplemento premeditado; 6 0 n&o querer o que manifestou. REQUISITOS Os requisitos da reserva mental sao: .. divergéncia intencional entre a vontade interna e a vontade declarada; . propésito de enganar o declaratdrio ou terceiro. A reserva mental pode verificar-se em negocios juridicos bilaterais, unilaterais, recepticios e n&o- recepticias. ge ‘CURSO A DISTANCIA — NODULO XX DIREITO GIVIL- PARTE GERAL ~ PROF® FLAVIO MONTEIRO DE BARROS MODALIDADES DE RESERVA MENTAL Areserva mental pode ser: a. absoluta; b. relativa; c. inocente; d. ilicita; e. unilateral; f. bilateral. RESERVA MENTAL ABSOLUTA E RELATIVA Na reserva mental absoluta, o reservante nao quer absclutamente nada do que manifestou. Exemplo: o escritor assina contrato com a editora, para escrever certo livro, que, na verdade, ndo pretende escrever. Na reserva mental relativa, por sua vez, 0 reservante pretende aigo diferente daquilo que manifestou. Exemplo: o reservante realiza um contrato de comodato, mas na verdade ele quer uma locagao, RESERVA MENTAL INOCENTE E ILICITA Diz-se inocente a reserva mental em que o reservante n&o tem a intengdo de prejudicar qualquer pessoa, Exemplo: “A” assina contrato de empréstimo de dinheiro em favor de “B”, para evitar o suicidio deste, com a intenc&o de descumprir 0 avencado. Reserva mental ilicita 6 o que visa prejudicar a outra parte. Exemplo: “A” vende 0 automével para “B*, mas ndo pretende entregar-lhe o bem, embora deseje receber o prego. RESERVA MENTAL UNILATERAL E BILATERAL Reserva mental unilateral 6 quando apenas uma das partes n&o pretende cumprir o que manifestou. Reserva mental bilateral ¢ quando ambas as partes nao pretendem cumprir o que manifestaram. Exempio: “A” vende o automével para “B* com a intengao de ndo entrega-lo, sendo que “B” realiza a compra com 0 escopa de nao realizar o pagamento. EFEITOS DA RESERVA MENTAL, Em regra, a reserva mental é irrelevante, subsistindo a valiiade do negécio juridico, que devera ser cumprido tal qual a vontade . 9 © CURSO A DISTANCIA - MODULO XX DIREITO CIVIL - PARTE GERAL - PROF” FLAVIO MONTEIRO DE BARROS exteriorizada pelo reservante, pouco importando que este tenha quardado em mente o secreto propdsito de nao cumprir o prometido. Todavia, a reserva mental, desde que conhecida da outra parte gera a inexisténcia do negécio juridico, em face da auséncia de vontade, conforme salienta Moreira Alves. Com efeito, dispée o art. 110 do CC que: “A manifestagao de vontace subsiste ainda que o seu autor haja feito reserva mental de nado querer 0 que manifestou, salvo se dela o destinatario tinha conhecimento”. DISTINGAO ENTRE SIMULACAO E RESERVA MENTAL © panto em comum entre a simulac&o € a reserva mental é que em ambas a declaragao de vontade é feita com o propésito de enganar. Na simulagéio, porém, nenhuma das partes é enganada, pois elas agem de comum acordo para iludir um terceiro ou violar a fei, ao passo que, na reserva mental, o reservante visa enganar a outra parte. Como ensina Washington de Barros Monteiro, na reserva, a simulacdo € unilateral, o enganado ¢ 0 oulro contralante, ao passo que na simulagéo a impostura’ é bilateral, urdida por ambos os contratantes. Na simulagao, o negécio é nulo; na reserva mental, em regra, é valido. A teserva mental conhecida pela outra parte também se distingue da simulagdéo. Com efeito, nesse tipo de reserva mental, 0 reservante tem a convicgao de que a outra parte ignora a mentira, ao passo que na simulagéo ha um contuio entre as partes. Na reserva mental conhecida do destinatario, 0 negécid juridico € inexistente, ao passo que na simulagdo havera nulidade absoluta. Ressalte-se, contudo, conforme observa Silvio Venosa, que se o declaratério efetivamente sabe da reserva e com ela compactua, os efeitos indubitavelmente serao de simulagdo, com aplicabilidade do art. 167 do CC. Se, por exempta, "A" e “B" celebram contrato de comodato, mas “B” sabe © concorda com a reserva mental de “A”, no sentido de entregar-Ihe o bem a titulo de locagdo, aplica-se o art. 167 do CC, recaindo a inexisténcia sobre 0 comodato, mas subsistindo o que se reservou, qual seja, a locagéo, se valida for na substancia e na forma. DISTINGAO ENTRE RESERVA MENTAL E DECLARAGAO JOCOSA, IRONICA OU CENICA Declaragéio jocosa é a feita por brincadeira, irénica ¢ a realizada na pega de teatro entre o artista e o espectador. Nessas declaragdes néo sérias da vontade, 0 negécio juridico é inexistente, pois, em termos juridicos, nao ha uma manifestagao de vontade real; nao ha, destarte, © propésito de enganar juridicamente o declaratatio, pols, como adverte M4 ‘CURSO A DISTANCIA ~ MODULO xx DIRETTO CIVIL - PARTE GERAL — PROF® FLAVIO MONTEIRO DE BARROS: Nelson Nery Junior, 0 declarante espera que a outra parte descubra logo a sua verdadeira inteng&o, tanto é que logo da conta do que se trata. Na reserva mental, ao revés, a vontade 6 manifestada, com © propésito de enganar juridicamente a outra parte, sendo certo que o reservante espera que esia nao descubra a sua real vontade. Assim, a declarag&o jocosa, irénica ou cénica nao produz reflexos no direito, ao passo que na reserva mental o negocio é vélido, porque © reservante objetiva extrair dela alguma conseqiiéncia juridica. Se, porém, a reserva € conhecida pelo destinatdrio, 0 negdécio se torna inexistente, equiparando-se a declaragao irénica ou jocosa, conforme se depreende, a “contrario sensu”, do disposto no art, 110 do CC. LAPSUS LINGUAE VEL CALAMI Trata-se da troca de uma palavra por outra. E a an‘ibologia. Tal ocorre, por exemplo, quando o testador refere-se a usufruto, pensando que é fideicomisso, ou, entéo, grava a legitima do herdeiro necessario com usufruto achando que este se trata da clausula de inalienabilidade. Lapsus finguae vet calami é 0 desacordo entre a vontade intema e o contetdo material da declaragao, assemelhando-se ao erro obstaculo, propiciando a anulacdo da expressao utilizada por equivoco, interpretando-a, porém, tal qual desejada pelo declarante, Como ensina Pontes de Miranda, 0 equivoco deve ser dirimido pelo juiz na interpretagdo do negécio juridico. Tal qual acontece com a reserva mental, ocorre a divergéncia entre a vontade interna e a vontade declarada. Na reserva mental, porém, essa divergéncia é intencional, com o propdsito de enganar a cutra parte; na fapsus linguae vel calami, ao revés, essa divergéncia € despropositada, n&o intencional, pois n&o se visa enganar o destinatario. DISTINCAO ENTRE RESERVA MENTAL E RETICENCIA Reticéncia é 0 dolo negativo ou por omissAo, consistente no siléncia intencional a respeito de fato ou qualidade que se fosse conhecido da outra parte 0 negdcio juridico nao se teria realizado. © reticente deixa de dizer tudo o que deveria dizer, silenciando, por exemplo, sobre a praga contaminadora do pomar de faranjas, que é objeto da compra ¢ venda. Na reserva mentel, ao inverso, o reservante diz tudo o que deveria dizer, silenciando apenas sobre o seu propésito de n&o cumprir o prometido. Assim, a reserva mental € siléncio sobre o propésito de néo cumprir 0 prometide, ao passo que a reticéncia é 0 siléncio sobre certo fato ou ‘CURSO A DISTANCIA ~ MODULO XX DIREITO MIL - PARTE GERAL - PROF? FLAVIO MONTEIRO DE BARROS. qualidade que deveria ser informado a outra parte, encontrando-se, porém, presente o propdsito de cumprir a obrigacdo, Na reserva mental, o negécio juridico é valido, padendo o ee destinatério mover acao judicial visando o cumprimente da obrigacdo cumulando-a com perdas ¢ danos, na reticéncia, o negécio juridico ¢ 2 anuiavel, podendo @ parte enganada mover aio de anulagdo do negécio juridico, cumulando-a com perdas e danos. i RESTRIGAO MENTAL Restrigéo mental, como ensina Nelson Nery Junior, 6 o expediente malicioso para induzir a outra parte a interpretar a manifestagdo da vontade diferentemente do que esta declarado. Na restrigdo mental, o declarante quer exatamente o que est4 declarado, mas espera que a outra parte interprete de maneira diferente do contetide da declaragao. Nao ha, pois, divergéncia entre a vontade interna ea vontade declarada, distinguindo-se, portanto, da reserva mental. A restrigao menta! é irrelevante, nao se anulando, portanto, o negocio juridico. A propésito, dispde 0 art. 112 que: *Nas declaragdes de vontade se alenderd mais 4 intengaio netas consubstanciadas do que ao sentido literal da finguagem”. Em suma, a restrigao mental € a declaracdo redigida : propositadamente com mais de um sentido, com fito de o destinatario -; interpreta no sentido diverso do realmente querido pelo declarante. ‘CURSO A DISTANCIA ~ MODULO 9X DIREITO GIVIL- PARTE GERAL ~ PROF? FLAVIO MONTEIRO DE BARROS QUESTOES 1. Qual a disting&o entre lesdo enorme, especial e usuraria? 2. 0 Cédigo Civil de 2002, 0 Codigo de Defesa do Consumidor e a Lei de Economia Popular disciplinam quais lesées? Quais os requisitos da les&o especial? Qual a distingado entre a les&o especial e a teoria da imprevisio? O que se entende por necessidade e inexperiéncia? Quais os efeitos da lesdo? Qual a distingao entre a lesdo e 0 estado de perigo? O que é simulagaio? Quais os requisitos da simulagao? No mesmo negocio juridico ¢ possivel a coexisténcia entre o dolo e a simulagdo? Os negécios juridicos unilaterais admitem a simulagao? Qual a distingao entre simulag3o absoluta e relativa? Qual a distingao entre simulagao subjetiva e objetiva? Qual a distingao entre simutagao inocente maliciosa? Quais os efeitos da simulagao? Qual o prazo para a propositura da agéo simulatéria? Na simulagdo, 6 possfvel preservar algum negécio juridico? que acontece com o negocio juridico celebrado pela parte, realizado com ferceiro, apés a simulagao? O que é negécio fiduciario? Como se distingue da simutagao? Quais os elementos do negocio fiduciario? Qual a distingdo entre fidticia romana e germanica? O que é reserva mental? Quais os requisites da reserva mental? Qual a distingao entre reserva mental absoluta e relativa? Quai a disting&o entre reserva mental inocente ¢ ilicita? Qual a distingdo entre reserva mental unilateral e bilateral? reserva mental anula o negécio juridico? Qual a disting&o entre reserva mental e simulagao? Qual a distingao entre reserva mental e declaragdo jocosa, irénica ou nica? O que é lapsus linguae vel calami? Qual a disting&o entre reserva mental e reticéncia? O que é restrigao mental?

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