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re ee ee ee ETTIOL ~ oe i ¥ x i) Bp i ee A OB Oe posse f t a ea CRUZ DE CARAVACA O TALISMA POR EXCELENCIA A milagrosa Cruz de Caravaca, assim denomina-se porque sua devocdo fol mais intensa na cidade de Caravaca, na Espanha, onde, no século XII, ja era venerada... No Brasil, no antigo Territ6rio das Missées do Uruguai, Es- tado do Rio Grande do Sul, encontra-se ainda hoje uma CRUZ DE CARAVACA | construida em pedra pelos Indios Guaranis e Padres Jesuitas Espanhéls, ao tem- | po da conquista. A CRUZ DE CARAVACA constitui o mais forte talisma contra todos os miales que possam afligir o ser humano: doengas, inimigos, crises, desempre- gos, etc.... Quem a usar, devidamente preparada, estar sob a guarda do Grande Anjo da Guarda de Jerusalém e do seu préprio Anjo de Guarda, repre- sentados ambos pelos dois Anjos que formam o pedestal da Cruz de Caravaca. Na preparaciio da Cruz de Caravaca, qualquer que seja o metal empre gado, & necessiria a liga adotada pelos grandes Santos alquimistas da Idade Média, segrédo éste que sdmente é revelado aos Iniciados de certo grau da ORDEM ESOTERICA DE CARAVACA. Mediante a Data do seu nascimento, remeteremos, pelo Reembolso Postal, uma CRUZ DE CARAVAOCA, devidamente preparada e acom- panhada de uma caixa «DEFUMADOR ZODIACO» e um vidro do Finissimo “PERFUME ATRATIVO ORIENTAL” Remeteremos juntamente um HOROSCOPO inteiramente gratis Pelo reembolso postal Pedidos & LIVRARIA E FLORA. OLIMPIA LTDA. Avenida Joao Pessoa, 115 — Caixa Postal, 1261 LEOPOLDO BETTIOL DE UMBANDA Colegio Santo Agostinho Edigoes da Livraria e Flora Olimpia Ltda. Caixa Postal, 1261 — P. Alegre — R. G, do Sul 1956 Homenagem ao Mestre (Santo Agostinho) A minha mulher. Compankeira fiel de todas as horas, sem cujo concurso e estimulo, eu nao teria levado @ efeito o mew trabalho. Este livro é tew. O melhor do teu espirito e do teu coragaéo amante, anda esparso por es- tas paginas. Séo tuas. Corina... Que Deus te abengde! LEOPOLDO BETTIOL 20 de Janeiro de 1956 INDICE Homenagem ao Mestre (Santo Agostinho) . Dedicatéria . . Explicando . Uma Histéria . Um Programa Prefacio . . . Introdugio .. . Histéria da Umbanda Ritos na Umbanda Indagacio . . .... Sciencia . . . Teogonia . . Critiea . . . Sociologia . . ... Homenagem aos Exiis . O Elogio de Ex como Orixa . O Tipo Astral do Exu .. Homenagem a Jesus (Oxala) A Kabala e Mitos Hindus .. Em torno da Historia da Umbanda . Oxossi 1* palestra . Oxossi 2* palestra . Irocé (Sio Francisco) Cosme Damido ...... Homenagem a Iemanja Oxum . . Xango... Homenagem a Ogum Apologia de Ogum .. Homenagem ao Bugre . Alma de Bugre Homenagem aos pretos velhos .. A Alma de Negro Homenagem a Pai Joao . Pretos Velhos EXPLICANDO Umbanda Perante a Critica, foi o material da pri- meira fase de minhas aulas, visando «a filosofia e teo- gonia», relacionadas com a Umbanda. Ao termo de meio ano, a «Unifio», resolveu fazer palestras em visitas de Tendas. Surgiu, entio este A.B.C. Nao fora possivel, dar-lhe a mesma norma de um curso regular, que féra feito em vinte e quatro pales- tras. Infelizmente, 0 campo DEVOCIONAL, da Umban- da, foi invadido por caciques ignorantes e exploradores, comprometendo a causa, com fatos deprimentes e ver- gonhosos que a Imprensa e a Policia, notificam, com tanta frequencia, Impée-se uma distingZo, uma separagéo de valores moraes. De um modo absoluto, é preciso — negar apoio aos arrivistas. A Uniaio de Umbanda do Rio Grande do Sul, socor- rendo-se do prestigio das autoridades, DEVE FECHAR os antros de velhacaria, disfargados com o nome de Ten- das de Umbanda, colaborando com a LEI em bem da religiao e moral publica. Foquei, entéo a Umbanda, no seu aspecto «doutrinario», que enfeixei nas vinte e duas conferencias que constituem este livro, complementar do primeiro. 10 LEOPOLDO BETTIOL Mas, nao foi bastante; meus ouvintes insistiram pa- ra que abordasse também — o ritualismo. Foi uma terceira fase de trabalho nas Tendas, nu- ma serie de doze conferencias comentadas e esquemati- sadas em quadros, com largo estudo sobre mediunidade, é — Mediunidade e Ritos na Umbanda, que seguira logo ao livro presente, e fim da obra. Foi, quanto pude dar 4 Umbanda... Nao tinha mais. O que faltar, é o futuro; campo muito amplo, es- perando trabalhadores conscientes, dos quaes espero, o mesmo amor pela causa. Leopoldo Bettiol UMA HISTORIA Os negros do grupo BANTU, mesmo na Africa, sem- pre invocaram os mortos e na manifestacéo destes, fn- dependente de — iniciagdes, tambem recebiam ORIXAS. Por contingencia, aqui no Brasil, este grupo BANTU, conviveu ao lado do grupo YORUBANO, ou sao tres télos; dado que informam a mesma coisa. Sabemos que a Umbanda, como relegiao exterior, em vias de organisag&éo no decurso de apenas 50 anos, nao tem um Bozzano, um Flamarion, um Paul Gibier, um Dellane, nem um codificador como Allan-Kardec, Ha variante de: causa, tempo, lugar e meio. A Umbanda, ainda nao tem, um Nina Rodrigues, um Arthur Ramos, um Edison Carneiro. Estuda-se o ESPIRITISMO ha cem anos, a relegido do negro ha 200 anos; s&o diferen- cas. Comtudo, a literatura de Umbanda ja 6 rica e in- teressante, esperando — uma codificagio, um corpo de © ABC DE UMBANDA 55 doutrinas unificado e normativo, espurgado de tolices, que os umbandistas séo os primeiros a reconhecer. Quanto 4 critica do cléro, esta, é velha. O sacer- dote sem escrupulo e sem imaginacao, faz do pulpito — banco de lavadeira de praia—e fala de todo mundo, que nao seja da sua grei. Porque razdo esse «trame- leiro» de saia preta, tipo quitandeira de mercado, nao falaria da Umbanda?!... Cada umbandista é um fre- guez de menos «no mercadinho» do padre; perdeu o me- do do Diabo e do Inferno; nao confessa, nio comunga, nao veste balandrau, nao da dinheiro para a Igreja! Ent&o, amigos, o padre esta com a razio. O um- bandista, é um liberto do dogma, repele a fé céga; logo, é um revoltado contra a exploragao. Nés tambem adoramos os — santos — simbolos e imagens de homens que foram oo espiritos e que NAO SAO propriedade do padre... Sao divinos, ‘sao kosmicos; respondem & qualquer sér que os oa! na Igreja, na Tenda, no nosso quarto ou no mato. Foi o ensino de Jesus! Nao basta? Afinal, quem nos critica? Quem sao os detrato- res? O sabio, empanturrado de microscopio, de mate- matica, de positivismo mal digerido. Acha, que somos histericos, precisados de bromureto e hospital. Seria bom, tambem para eles. O padre, acha que estamos possuidos — do Demonio. No caso, agua benta ou ex- comunhao. Nos, ficamos rindo do processo. O espi- rita scientifico, que nega o elemental e o ORIXA. O negro, que repele o — esprito do morto: Preto Velho e Cabéclo, que ele despacha na rua, no fundo do quin- tal. Emtretanto, nés, nfo precisamos bromureto, nem agua benta, nem passes, nem doutrinag&éo, nem — des- 56 * LEOPOLDO BETTIOL pacho de negros! Ora! Todos tres, tém batido nas portas da Umbanda. O sabio, com o seu orgulho, o es- pirita, com o seu guia e o negro com o seu ORIXA. O que é que acontece, entio? Abrimos os bracos! — Sa- rava pros tres, meu fio... Vivam Deus!... Gajulé, Ori- x4, Aba!... Salve que tem fé!... Salve quem nao tem! Sublime, humano, divino... Para que contestar?... Nao 6? E’ o fato de uma Tenda? Nao! E’ o fato geral. O umbanista, sabe e cala. Porque é um tdlo? Nao! Porque é fraternal. Dizem que o umbanista — explora os crentes. Tal vez, Sim. Todo culto exterior, explora o aderente: mis- sas, vélas, esmolas, -oficios pagos. O Vaticano, é rico e nao faz calos nas maos! O negro, cobra — o aché! O espirita vende homeopatia... O sabio, nfo trabalha de gracga! Admitamos que o umbanista, faca pagar, uma oferenda. Eu nfo o nego. Onde estara o mal? N&o sao todos iguaes? Olha, amigo, se o teu telhado é de vidro, nao ati- res pedras... A moral intima, é sempre mais dificil do que a moral exterior. Muitos, vém, 4 Umbanda, nao para dar; mas, para pedir. Sao creches, maternidades, ambulatorios ,escolas... As vezes, pedem — vétos!... Onde est entio, o escrupulo? Convem pensar. O um- bandista é que deve voltar as costas 4 tudo isto. Bati- zar, encomendar e casar — na sua TENDA. Deus, esta em toda parte, nestes oficios, a préce e o rito do eacique '€ igual a qualquer outro. A benco de Deus, vem da £6 de cada um, nao depende do balandrau ou do templo em que o acto se realiza Saravé pra Vossuncé: Vivam Deus! «SOCIOLOGIA» Amigos. Perguntaram-me, se tem a Umbanda pontos de con- tacto com a sociologia. Tentarei responder, até onde puder. Veja. Por Deus! Nao é a Umbanda — uma relegiao? Sim. E' relegi&o, é culto exterior como qual- quer outro. Ora, a relegiaio nao se limita 4 esféra indi- vidual. O homem é um ser social, vive em familia, em agregados, seja o clan, a tribu, a taba, a aldeia, a ci- dade. Sempre sugeito a normas, que sao limites 4 sua liberdade de agir. Assim, no Tempo, vemol-o. cavernario, selvagem, barbaro, civilisado, idealista, mistico e iluminado. Em todas estas fazes — é sempre religioso; 6 a diferenca entre o tigre e o homem. A capacidade e o poder men- tal variam. Nao é a mesma, a percepcio do anémalo, do bruto pubere, do selvagem e do homem de cultura. Nao. Porque nao seria, tambem para o umbandista, mo- tivo de cogitagao, as nossas — categorias mentaes —, na ordem em que se revelam: primeiro, fenomenos organi- cos, taes a nutrigio, respiracio, sono, assimilagio, me- tabolismo; depois, 4 esfera afectiva, sentimentos, pen- dores, paixdes; mais tarde, indagacgao, pesquiza, reflexfo, raciocinio. Nao? Para que separar a filosofia, da scien- cia e a sciencia, da religiéo? Tudo isto, néo seré a mar- cha do pensamento humano? O fenomeno mais infimo, em relagéo ao homem, nao se separa deste vasto campo 58 LEOPOLDO BETTIOL de observagio, que ainda serve na politica, na sociolo- gia e na arte. E’ a Historia. O estudo da alma teré comecado pela introspeccao. Foi insuficiente. Passou-se ao metodo psiquico-fisico; com este ao estudo das localisagdes cerebraes; depois aos tests e questionarios. Mais tarde, 4 anatomia-pa- tologica, buscando possiveis lesées 0 que deu origem a psicologia-comparada e por fim, em esplendido conjunto, ao moderno metodo experimental. Foi! Cogitagdes de sabios, diréo. Sim, precisamente, porque nao? Ninguem, explicara.o — homem integral —, rezando. Porque sera a catedral, inimiga do laboratorio? Nao provira da mesma mio, o astro e o verme, a flor e 0 calhau? Quando houve alguma cousa regular, chama- da Sociedade, esta foi fetichista e primaria: um cacique e com ele um pagé. Na barbarie, o autocrata foi, a um tempo, legislador e frade. Na civilisacio, a divisio do trabalho, acompanha a divisio de poderes: escola, tem- plo, quartel. O mestre nio é padre; o padre nao é€ sol- dado. Por ahi, surge a idéia de povo, de nagio, de Es- tado. Por vezes, usurparam-se fungdes. Mas, nao é a norma. A guerra de Estado a Estado, as revolucdes periodicas, servem ao despertar das consciencias. O pa- dre nos fala de — dever. O homem oprimido, fala de — direito. O mestre na sua catedra, manda que ambos aprendam a lér! Vale! Estamos num mundo de entes felizes e entes desgra- cados. Uns, tém palacios, outros, nfo tém pao. Por isto a relegido, tomou 4 si, o encargo da caridade — o amor do proximo: sentimento, medo, favor, piedade, es- mola voluntaria. Sim. A Sciencia, tambem procura nér- mas sociaes: economia desiquilibrada, previlegios, frau- © ABC DE UMBANDA 59 de, roubo, desajuste, doenca, exploragéo. O filosofo, se- para —, sempre haveré dér, que nado depende de fé, da assistencia de ninguem: calunia, infamia, trahic&o, mal- dade, perda de entes caros, decepgdes... E’ a alma que dée!_ O sociologo, apéla para o Codigo e arquitéta LEIS... Eu sei! A caridade moral pode ser uma lei divina, A caridade material é um fracasso, uma incuri uma chaga na civilisagio. O Estado, o Poder Consti- tuido, em nome do povo para o povo, tem que varrer da face do mundo, o — tabi — dos reis divinos, com frades © masmérras. Governo do homem — para o homem! Basta coréar og deuzes e os herées! Neste caso, 0 mi- zeravel, quando o houver, por qualquer causa, num re- gimem justo, — é um tutelado da LEI, um hospede do Estado e nao um mendigo de praga publica. E’ um mi- zeravel com direito 4 vida e muito mais: com o direito de viver.como homem! Para isto, precisamos, menos Igrejas, menos Carceres e mais Escolas. Por isto, a per- gunta foi imbecil. Nao sei ao certo, si a Umbanda péde, responder; sei que — deve responder, E’ um movimen- to espiritual, como o outro; visa o homem vivendo jun- to de outros homens; no pdde alheiar-se dos problemas de sociologia que nao cogita do Céu, mas cogita da VIDA. A Igreja é um exemplo, quando juntou o espiritual ao temporal. Pretendeu o dominio e governo dos pd- vos. Era a relegiao incorporando a Sociologia. Desde 1891, com Le&o XIII, entrou fundo, no grave problema das questdes sociais. O padre, o patrao e o operario das fabricas — confabularam. Os umbandistas, sio homens de todos os matizes, porque nfo farao outro tan- to? Né&o se fala: agora num socialismo christio? Es- taré ahi, o caminho poltico do umbandista. 60 LEOPOLDO BETTIOL N&o encontrei comunistas na Umbanda. Gente que canta e reza e beija a m&o do Preto-Velho e do Cabéclo, tem pouco pendor para — a Revolucio. Nao serio sus- peitos! Comtudo, unidos, pelo véto, no livro, na im- prensa, na tribuna, com a ordem e dentro da ordem po- dem pleitear 0 melhoramento das leis sociaes. Nao se- ra assim? Por isso mesmo, que sao religiosos, amantes da justiga e da verdade, nao podem cruzar os bracos ante os destinos sociaes do seu paiz. A Umbanda — nao é sectaria. Que importa a posicao, o titulo, a cér, a crenca, a raga de cada um? A Umbanda é um con- junto de filosofias e de relegides. Cada TENDA, é uma porta aberta para todos. Nao é combativa, fala em fraternidade e predica a paz. Combater — uma rele- giao é afrontar Deus! O Oriente, tem novecentos mi- IhGes de religiosos, que nio combatem ninguem. Deus nao sabera disto? Desta estatistica da Sociedade das Nacées? N&o saberé de sua promessa ao povo judeu a quem disse «dar» Chanaan e multiplicar os filhos de Abrahio? Pois, ao envéz, multiplicou o chinez e o hin- di, deixando o judeu em infima minoria; pagando caro, cada palmo de terra da Palestina e tendo no costado, o inglez ou o arabe!... Quem terd mentido tio torpe- mente, Deus ou Moysés?!... Quem? Gostaria de per- guntar isto, aos nossos gratuitos detratores. Porque, s6 ao umbandista, farao perguntas capcio- sas? Estamos contentes com o nosso baixo espiritismo; com a nossa grosseira e primitiva magia de candomblé; com a tolice de adorar santos, de riscar Pontos e de can- tar!... Nao violentamos, nao forcamos ninguem a nos acompanhar. Tanto nos basta. Se a nossa victoria es- torvar os farizeus, néo é por nossa culpa!

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