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Linguagem, lingua, lingjjistica Tee, 3 wiz. ec) mwRopLcia A Margera Peter UNeusncs FT: WIS TedR cos, cho MULOS @WwrexTo , me ‘homer, 2o qual eu ua parted eu pepo nome, Maa (hosnen Hamat Ba A d # notivel a semelhanga observada nas explicagdes em epigrafe sobre a origem do ‘mundo: embora formuladas em épocas remotas por sociedades bem diversas, associam a palavra ~ a linguagem verbal ~ ao poder mégico de criat. O faseinio que & Tingvagem sempre exerceu sobre o homem ver desse poder que permite nfo s6 nomest/crirftrans- formar o universo re cexistiu, poderd vir a Tinguagem verbal é, ‘busca para entender co- fineando e assumindo as de estudo ~ linguage 1s que hoje possui idos lingUisticos. icagdes no momento de ser proferidos, Mais tarde os graméticos hindus, entre os ‘qusis Panini (século 1v ram descobertos pelo Ocicente no final do século xv, Os gregos preacuparam-se, principalmente, em definir as relages entre 0 concei- toe a palavra que o designa, ou necesséria entre a palavra eo seu si icado? Plato discute muito bem essa questo no Criiilo. Arist6teles desenvolveu estudos noutra diregao, tentando proceder a uma anise precisa da estrutura lingUfstica, chegou a elaborar uma teoria da frase, a distinguir as par- les do discurso e a enumerar as categorias gramaticais Dente os latinos, destaca-se Varrfo que, na esteira dos gregos, dedicou-se & gra :mética, esforgando-se por defini-la como ciéncia e como arte. Na Idade Média, 08 modistas consideraram que a estrutura gramatical das linguas na ¢ universal, e que, em conseqiéncia, as regras da gramética so independentes das Jinguas em que se realizar, gua zem de suas experiénelas no estrange rihecidas. Em 1502 surge o mais ant ro de graméticas do século xvi, de- ula na razZ0, 61 imagem do pensamento e que, portanto, cidos no se prendem a uma lingua particular, mas ser- vem a toda e qualqu Oconheei teresse pels I ciocinio mais abstrato sobre ‘que se desenvolve um método his ‘umento importante para ofl _graméticas comparadas e da Lingitstica Histérica. O pensamento ling Fineo, mesmo que em novas bases, formou-se a partir dos prinefpios metodol6gicos ela- bborados nessa época, que preconizavam a anise dos fatos observados. O estudo compa- rad das Iinguas vai cvidenciar 0 fato de que as Kingoas se transformam com o tempo, independentemente da vontade dos homens, seguindo uma necessidade pr6pria da lingua ce manifestando-se deforma regular. Franz Bopp € o estudioso que se destaca nessa época. A publicagfo, em sua obra sobre 0 sistema de conjugagao do staserito, comparado ao grego, a0 Linguagen, lingua, lngiteica 12 ‘evidenciar que existe entre elas uma telagao de parentesco, que elas constituem, portanto, ‘uma familia, a indo-européia cujos membros tém uma origem comum, 0 indo-europen, ‘a0 qual se pode chegar por meio do método histérico-comparativo, grande progresso na investigacio do desenvolvimento histsrico Fido no século xtx foi acompanhado por uma descoberta fundamental qi ‘modernamente, 0 prprio objeto de anslise dos estudos sobre a linguagem — lingua liter via ~ até entio, Os estudiosos compreenderam melhor do que seus predecessores -mudangas observades nos textos escritos correspondentes aos diversos periodos qt ram, por exemplo,o latim a transformar-se, depois de alguns séculos, em portugués, espa 10, francés, podriam ser explicadas por mudangas que teriam acontecido na lingua falada correspondente. A Lingifstca modema, embora também se ocupe da ex- pressio escrita, considera a prioridade do estudo da lingua falada como um de seus princt- do século xx, com a divulgacto dos trabalhos de Ferdinand de Saussu- fessor da Universidade de Genebra, que a investigagéo sobre a reconhecida como. ‘Antigamente, a Lingi {ros estudos, como a lagica, a culo xx operou uma mudan tude, que se express fico dos novos estudas ling ue estardo centrados na observagao dos fatos 0 supde que a abservagdo dos fatos sa ant © que 08 fats observados sejam exari ia adequada. O trabalho ci determinados pressupostos i se dos fats orientado pra 0 mesmo fentémeno haja diferentes descrigdes ¢ ex- plicagées, dependendo do referencial terico escolhido pelo pesquisador. Antes de explicitar melhor o que & a LingUistica e como ela desenvolve sus pes- quisa convém éefinir seu objeto, 2. O que 6 a linguagem? Esti implicito na formulagdo dessa pergunta o reconhecimento de que as Iinguas naturais, notadamente diversas, sf0 manifestagdes de algo mais geral, a linguegem. Tal constatagio fica mais patente se pensarmos em traduzi-la para o inglés, que possui um Xinico termo — language ~ para os dois conceitos ~ lingua e linguagem. E necessério, en io, que se procure distinguir essas duas nogGes. © desenvolvimento dos estudos linguisticos levou muitos estudiosos a proporem detinigbes da linguagem, préximas em muitos pontos e diversas na Gnfase arriba a di- ferentes aspectos considerados centrais pelo seu autor. Neste capitulo introdutrio serdo 16 Inked Lingtisico abetha executa uma danga circu A mensagem transmitida, inhe reta que faz parte da dana. Quanto miaior a distancia, me- ‘nos giros faz a abelha (para 500 metros faz seis giros em 15 segundos). A direc a ser se- ‘guida ¢ dada pela diregdo da linha reta em relagdo a posigao do sol Os dois tipos de danca apresentam-se como verdadeiras mensagens que anunciam ‘a descoberta para a colméia: 20 perceber o odor da obreira ou absorvendo o néctar que ela Aeglute, as abelhas se do conta da natureza do alimento; ao observar a danga, as abethas ‘descobrem 0 local onde se encontra a fone do alimento, (Os estudos do zoélogo alemio fxzem uma importante revelagio sobre o funciona- ‘mento de uma “linguagem” animal, que permite avalise pelo confronto a singularidade da Jinguagem humana, conforme assinala Benveniste (1976), Embora seja bem preciso o tema de comunicagao das abelhas ~ ou de qualquer outro animal cuja forma de comuni ‘G0 jd tenha sido analisada ~ ele nfo constitui uma linguagem; no sentido em que o tcrmo é ‘empregado quando se trata de linguagem humana, como se pretende demonstrar a seguir, ‘As abelhas séo capazes de: (@)compreender uma mensagem com muitos dados e de reter na meméria infor- ‘mages sobre a posigdo e adistincia; e (©) produzir uma mensagem simbolizando— representando de maneira convencio- nal ~ esses dados por diversos comportamentos somaticos. Fssas constataydes evidenciam que esse sistema de comur digdes necessfrias &existéncia de uma linguagem: ha simbolismo, form io cumpre as con- ea, ceapacidade de Igo de forma con- ‘Assim como a lingua- ‘de uma comunidadee todos os seus mem- bros so apt ‘da. mesma forms, gas entre o sistema de comunicacto das abelhas ea lingua- leraveis: 4 mensagem se traduz pela da ‘aparelho vocal”, ‘4 mensagem da abelha no provoca uma resposta, mas apenas uma conduta, 0 ‘que significa que nio hé dislogo; icaglo se refere a um dado objetivo, fruto da ex i uma mensagem a partir de outra mensagem, A linguagem hursana ca- por oferecer um substtuto & experincia, apto a ser transmitido in- smente no tempo e no espago; (@)o contetido da mensagem € tnico ~o alimento, a nica variagéo posstvel refe- ia eA diregdo; o contetdo da linguagem humans € i se (©) amensagem das abelhas ndo se deixa analisar, decompor em elementos meno- 10 aspecto a caracteristica mais marcante que ope a comunicagio das inguegem hnmana. Num enunciado linguistico como “Quero dua’ é possfvel s elementos portadores de significado: quer- (radical verbal) + -0 (desinén- ia mimero-pessoal), dua, denominados morfemas. Prosseguindo a decomposic20, po- acto 8 uma 86 situagfo, ansmissKo unilateral e enuncindo indecomponivel Benveniste chama a atengio, ainda, para o fato de que essa forma de com: tenha, sido observada entre insetos que vivem em sociedade e é a sociedade a condigao para a Tinguagem. 4. O que é Lingiifstica? Como o termo linguagem pode ter um uso nfo especializado endo referir-se desde a a da linguagem verbal gens (verbais ou nfo-verbais) compar ica de signos usados para a comunicagfo, Esse aspecto comom tomou 9 uma ciéncia que estuda todo e qualquer logia; Peitce a chamou de Se studa a principal mo inguista procura descrever eex- is que estio sendo usados, sem i0 © de sintaxe observadas por um habi- expressio verbal A dos falantes de ou- Belo Horizonte, muites vezes 0 fa- © sotaque de algumas dessas regises; “esquisito” seu sua sintaxe, Esses julgamentos ndo sio levados em conta pelo lar toda e qualquer expressio lingfstiea como um fato merece- dor de descrigio e explicagzo 2 Inbochsdo 8 Lrgtises © lingtistaprocura descobrir como a linguagem funciona por meio do estudo de linguas espectficas,considerando a lingua um objeto de estudo que deve sec examinado empiricamente, den logia de anslise lin da nstincia, a escia ‘A prioridade atibufda pelo lingtista ao estudo da lingua fad explica-e pela ne- cestidade de comigit as procedimentos de and de seus proprios termos, como a Fisica, a Biologia ete. A metodo- ticafovaliza, prncipalmente, a fla das comunidades e, em segua- 1 au iculdade em perceber e aceitar a possibilidade de considerar a da independentemente de sua representagio gréfica. B comum ouvi ainda no alfabetizada, que pron quando na realidade ela estd substituindo um som por outro, Os crtérios de coleta, onganizagao, selec e andlise dos dados linglisticos obede- - expressamente formulada para esse fim. Os formagdes dispont dos que confirmam ow rfvtam as teorias formuladas pala Lingtistica ger, So duas fas interdopendontes:ndo pode haver Lingisticageral ou terica sem a base Lingutstica descriiva,E possivel, eatetanto, que uma desergfo lingtistica cbjetivos,além de oferecer elementos para a anise da Lingiisica geal: o trabalho de descrigo de uma lingua pode estar preocupado em produzir uma gramitica ou um dicio- nério, com o objetivo de doté-la do insuumentos para sua difusfo na forma escrita, como incrénico, segundo 0 qual determinado momento panto do tempo, A descrigdo linglfstica observaria “a relagdo entre coi turiam o sistema lingiistico, Embora defendesse a perspectva si uas, Saussure reconhecia a importincia e a complementeridade des duas sinerdnicae a diacrdnica. Em sincronia os fatos lingUisticos slo observaddos onamento, num determinado momento. Em diacronia os fatos si ana &s suas transformagGes, pelas relagbes que estabelecem com os fatos que 0 exemmplo, como o prono! ‘ma atual Vocé, pronome pessoal, é necessério comparar diferentes estados de Linguogem, lingua, ingisico 19 viamente caracterizados como tai ¢ observar as mudangas que ocorreram na expresso sonora en tomam a separagéo sincronia/diacronia como um rigoroso pein- cipio metoy ou se investiga um estado >. dois ramos da Lingistica: « sincrOni mica vem sendo denominada Lingtistica teérica, proocupada mais ‘com a construglo de modelos tedricos do quo com a desctigdo de estados (Como muitas éreas de estado se interessam pel a, que se detém no exame da interagao entre lingua e sociedade; a psicolingdtsticn, que estuda o comportamento do individuo como participante do processo de aquisiglo da in guagem ¢ da aprendizegem de ume segunda lingua, 5. Gramatica: 0 ponto de vista normativo/descritivo ‘A gramética tradicional, 2o fundamentar sua andlise na lingua escrita,difundie falsos conceitos sobre a natureza da linguagem, Ao nio reconhecer a diferencs ua escritac lingua falada passou a considerar a expresso escrita como modelo de cosre (glo para toda e qualquer forma de expressio desde sua origem um ponto de vista pres WV a.C.)—em que pese seu pro- wdos ¢ a pronincia correta das Outras graméticas antigas, como as do deabe, grogo elatim, tamibém eam p ‘ivas e pedagégicas; almejavam descrever a lingua cuidadosamente, mas também pres-

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