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‘Tropa do Exércto edo Regimento junto a ponte do rio da Virzea, ‘sguardandoa sua reconstrict. No centto, de pé, 0 Cel. Duleidi. Logo, porém, comegou a receber noticias de que, pela hist6rica Estrada da Mata, marchavam as forcas rebeldes sob as ordens dos principais chefes federalistas, com aproximadamente 5 mil homens, devidamente equipados com dtimos petrechos de ‘guerra, em diregio a fronteira do Parana, Houve, a partir desse momento, a sensacio de que 0 encontro bélico das tropas se daria de um momento para outro. © General, receando ficar com a sua retaguarda cortada pelo inimigo, retrocedeu para proteger a linha do rio Negro, onde acampou no dia 15 de novembro de 1893. Ali, recebeu uma intimacio do Gen Anténio Carlos da Silva Piragibe, Cmt do 1° Corpo do Exército Nacional Provisério, para que s€ entregasse com a sua coluna, dizendo que a tropa legal estava perdida devido a sua ma posicao estratégica e tética em que se achava, além de estar cercada por 5 colunas das quais a menor dizia ter 1.500 homens. Argoio deu a resposta a bala, ocupando, incontinente, posi¢ao previamente escolhida e tratou de organizar a defesa da praca. Enquanto se desenvolviam as operages de guerra, no dia 6 de novembro de 1893 0 Marechal Floriano Peixoto baixava 0 Decreto n® 1594 - B. estendendo as familias dos policiais-militares que falecessem em combate ou em conseqiiéncia de erimento ou desastre ocorrido em defesa da Repiiblica @ de seu governo legalmente constituido o diteito & percepcio do soldo correspondent ao respectivo posto desde a data do bito. ‘O-Decreto Federal n° 1594 - C, de 7 do mesmo més, deu o direito a reforma com o soldo inteiro e a admissio no Asilo dos Invdlidos da Patria a08 policiais-militares que se inutilizassem em conseaiténcia de ferimento recebido em defesa da honra ¢ integridade do governo legal da Replica. OS PRIMEIROS COMBATES NO PARANA Na noite do dia 19 de novembro, os federalistas tentaram tomar a passagem do rio Negro mas foram repelidos. No dia seguinte, pela manha, eles se aproximaram outra vez. Foi rompido o fogo de artitharia ¢ os rebeldes se viram obrigados a recuat. ‘Troavam no Parané os canhdes republicanos. De madrugada, tentaram contornar a posigio € fracassaram novamente. No dia 21, um piquete de cavalaria do Regimento de Seguranca, sob o comando do capitio Custédio Goncalves Rollemberg, teve destacada atuacio ao travar violentos combates com as_forcas revolucionérias. ‘Além da tropa que impedia a passagem do rio Negro, estava em Ambrésios uma forga sob 0 comando do capitao do Exército Ismael Lago. Em ‘Tamandaré, outro contingente do Regimento travou, no mesmo dia 19, combate com os federalists, saindo feridos nesse entrevero 0 2° Set Viviano Gomes da Silva ¢ 0 soldado Joao Fermino da Rocha. Em todos ‘esses combates, os policiais-militares paranaenses se portaram com intrepidez e denodo, como verdadeiros émulos dos Voluntdrios da Pétria da Guerra do Paraguai. Como continuasse 0 cerrado fogo de artilharia em Rio Negro, Argolo decidiu retirar-se daquela zona para a linha do rio da Varzea ¢ a seguit para a cidade da Lapa, preocupado sempre com a possibilidade de novo envolvimento e temendo que tum movimento dos revoltosos o deixasse encurralado, pois nio podia contar com o auxilio que esperava da Coluna Norte, comandada pelo Gen Francisco Rodrigues de Lima, visto a referida coluna, que havia entrado em Santa Catarina em perseguicao aos federalistas, nio ter obtido éxito na marcha retornado ao Rio Grande do Sul, bastante estropiada, E tém inicio os preparativos para o deslocamento em diregao a cidade da Lapa, que sera © novo ponto de concentragao das tropas legalstas Porém, ao chegar as margens do rio da Vérze constatou-se que a ponte, por onde deveria passat a coluna, fora destruida pelos revoltosos. © General Argolo incumbiu 0 engenheiro Hereilio Luz de reconstrui-la, com urgéncia. Restabelecido o transito, a marcha recomegou. Para garantir a retaguarda da Coluna durante o seu deslocamento, foi designado 0 capitéo PM Custédio Gongalves Rollemberg que, com 0 seu Piguete de cavalaria, veio enfrentar novamente a infantariainimiga, conseguindo repeli-la, pondo-aem dabanda. Toda a sua tropa portou-se com heroismo, calma e bravura, feitos esses citados em ordem-do- dia do comandante em chefe. © COMBATE DO RIO DA VARZEA No dia 23 de novembro de 1893, a colina do General Francisco de Paula Argolo chegava a Lapa com 0 objetivo de opor-se ao avanco das tropas federalistas. Todavia, 0 recuo de sua coluna dea ‘margem para que fosse substituido no comando pel Cel Anténio Ernesto Gomes Carneiro, conforme ordenara 0 Marechal Floriano Peixoto. Na mes ocasiéo, 0 comando de todas as operacées no 5° Distrito Militar foi entregue ao Gen Ant6nio José ‘Maria Pego Jiinior. ‘Cameiro, em marcha forgada, assume o seu Posto ¢ percebe as dificuldades, mas ordena a resisténcia a todo custo. Na Lapa, cle encontrou uma guarnigio numericamente irriséria, com um efetivo de mais ou menos 1.400 homens, incluindo 11 oficiais € 174 pragas do Regimento de Seguranca. Além disso, a tropa estava munida de armas deploravelmente inadequadas ¢ com pouca munigio. Mas, desde logo, Procurou estudar as condigées do terreno e incutir em cada um dos combatentes as idéias que nele se tinham transformado em doutrina desde a Guerra do Paraguai: nao reeuar. Ji, entéo, eram avistadas vanguardas do adversério que, néo encontrando nada capaz de dificultar-Ihes a marcha, penetravam nas povoagées € acampavam as margens do rio da Varzea, a espera de ordens para dar inicio as hostilidades contra as, forcas legais. Vendo a ameaga que o cercava, Carneiro determinou que fosse feita uma incursio aquela regio, a fim de desalojar o inimigo. Era a primeira experiéncia que fazia com o seu pessoal, e essa missio coube, em grande parte, aos integrantes do Regimento de Seguranga. O habito de andar por estas regides & cata de bandidos os havia tornado indiferentes a0 perigo. No dia 14 de dezembro, um destacamento Policial-militar, sob 0 comando do bravo Cap PM Rollemberg, protegido pela artilharia, atravessou 0 rio da Vareea, atacando a forca do General Piragibe pela retaguarda, ao mesmo tempo que a companthia do valente Cap PM Clementino Parana forsava a Ponte, em ataque frontal, conseguindo cortar.a etirada dos revoltosos entrincheirados @ margem dircita do rio. O combate foi violento, sendo infligidas pesadas perdas aos federalistas que ficaram entre dois fogos e deixaram no campo de luta 19 prisioneiros, diversas armas comblaim, carretas de munigées, cavalos e doze mortos, afora os que Pereceram afogados durante a debanda. No Regimento de Seguranca, foi registrada a morte em combate do Sd David José da Silva e ferimentos no Sd PM Manoel Rodrigues dos Santos Carvalho. Eis 0s nomes de outros policiais-militares sea ‘ general Argolo, em Paranagus, antes de assum o comando do 5® Distt formar sua coluna ‘que se destacaram no combate: ~ Alferes Francisco Amaro Ferreira, 1° Sge Domingos Inacio da Cruz, 2° Sgr Anténio Vicente de Paula, 2° Sgt Domingos José dos Santos, 2° Sgt José Angelo da Guarda, furriel Benedito Malaquias dos Santos, 2° Sgt Francisco Martins de Miranda, Cb de esquadra Igndcio Justiniano de Araujo, Cb Alfredo Pinto do Amorim, anspecada Leopoldino Rosa, anspecada Antonio Gomes dos Santos, anspecada Joao Francisco Barbosa, Sd Joao da Costa Filho, Sd Antonio Ferreira de Oliveira, Sd Jodo Francisco Ribeiro, Sd Domingos Alves de Andrade, Sd Manoel André de Lima, Sd Faustino Domingos Rosa, Sd Zacarias de Lima, Sd Diogo Souza Leal, Sd Pedro Luiz de Franca, Sd Manoel Justino da Silva, Sd Hugo Wanderleig, Sd José Francisco Xavier, Sd José Antonio de Squza, Sd Mazianio Antonio da Silva, Sd Pedro Américo de Ramos, Sd Viriato de Paula Xavier, Sd Joao Ferreira Requido ¢ Sd Napoleaio da Rosa. Essa foi a primeira vitéria das armas republicanas no solo paranaense, e a bravura dos oliciais-militares despertou a admiracéo de todos. Carneiro enalteceu o valor da facanha em sua ordem- dovdia. No dia 27 de dezembro de 1893, 0 Governador do Estado, no intuito de possibilitar a obtencio de voluntarios para preencher os claros existentes no efetivo do Regimento, baixou o seguinte decreto: “Decreto n° 22 © Governador do Estado do Parand, considerando de urgente necessidade completar o cfetivo das forcas do Regimento de Seguranca do Estado, marcado pela Lei n* 44 de 28 de outubro de 1892; Atendendo mais, ‘que devem ter garantias do Estado, quem com lealdade se empenham na manntencio da cordem e defesa da Repiblica; considerando ainda que iguais favores devem ter os que Voluntariamente tomarem armas nas atuais emergéncias, alistando-se nos corpos atrioticos ¢ civis organizados no Estado, contra os que tentam alterar a ordem constirucional do pafs, e usando das amplas atribuigbes que Ihe foram conferidas pelo Congresso Legislative do Estado, na mogio de 15 de setembro deste ano, decreta: Art. 1. As pragas do Regimento de Seguranca do Estado, que tiverem conclufdo seu Primeiro tempo de servigo ¢ de novo se ‘engajarem, tero direito, depois de concluido este, Sem que tenham sofrido pena por efeito de sentenga, a um lote de terras devolutas & sua escolha, de 250.000 metros quadrados sendo 0 titulo passado gratuitamente © as, despesas de demarcacio feitas por conta do Estado, Art. 2. Os voluntirios que se apresentarem 40s corpos patridticos e civis organizados no Estado, e servirem nos mesmos até que sejam eles dissolvidos, receberio também, se quiserem, 250.000 metros quadrados de terras devolutas, & sua escolha, com titulo ‘Metrathacora Nordentela antes do sit 'No centro, vemos o Cel, Duleidio, gratuito e demarcagao por conta do Estado, Art 3. Esses terrenos poderdo ser escolhidos entre os que o Estado possuem no vale da Irany, colénias em Ponta Grossa, Lapa, Palmeira e Assunguy. Art. 4, Revogam-se as disposigées contrarias. Palicio do Governo do Estado do Parans, em 27 de dezembro de 1893, 5° da Repiblica, © niimero de cidadaos descjosos de defender o regime foi relativamente elevado. Nessa ocasiao, houve um fato bastante curioso. O cabo Saturnino José Goncalves, pela Ordem-do-Dia n° 17, de 7 de janeiro de 1894, foi rebaixado por 30 dias € preso por 15, por procirar afastar cidaddos que tencionavam assentar praca no Regimento, incutindo-thes idéias de que as pragas da Corporacdo eram freqitentemente castigadas sem piedade, procurando por esse modo, difamar ndo s6 a seus superiores como a nobre organizacdo a que pertence, quando deveria ser 0 primeiro em interessar- se pela moralidade da mesma. Deivando de ser mais severamente castigado, atendendo a seu anterior comportamento, REDUCAO DA GUARNICAO DA LAPA Em princfpios de janeiro de 1894, com 0 reforgo do Batalhao de Franco-Atiradores, 0 Cel Carneito contava com uma divisio constituida por 4 brigadas e com aproximadamente 1.800 homens. Com essa disposicao de forcas, ¢ estando o moral da tropa bastante elevado em decorréncia da espléndida vit6ria obtida nos combates travados no tio da Virzea, ele estava coordenando todos os meios possiveis para uma grande contra-ofensiva. Mas, circunstancias adversas nao permitiram que levasse avante 0 que planejara, 0 que deu margem para que os federalistas desenvolvessem ataques simultaneos por Paranagua ¢ Tijucas. Por determinagao do comandante do Distrito Militar, foi retirada da Lapa a 3a, Brigada do Ten Cel Adriano Xavier de Oliveita Pimentel, com cerca de 500 pragas, a fim de reforcar a coluna de Tijucas ¢ a guarnigdo de Paranagué, que softiam assédio por parte dos maragatos. Nio obstante esse consideravel desfalcue no efetive, Carneiro viu-se obrigado, também, a deslocar patrulhas e pequenos contingentes em pontos dos tios Negro e Iguacu, com 0 objetivo de manter contatos com o inimigo e, ao mesmo tempo, ter conhecimento de seus movimentos, No dia 9 de janeiro, seguiu, em missio de guerra para a vila de Séo Mateus, uma tropa do Regimento de Seguranca, sob 0 comando do Cap Rollemberg e constituida por 60 pracas, na qual foram incorporados mais 100 homens do 18° Batalhao da Guarda Nacional. Esse contingente conseguiu desalojar a forca revolucionéria que estava naquela vila. Enquanto Rollemberg entrava vitorioso em Sio Mateus, o Ten Fredolin Costa batew os arredores, sendo, nessa ocasido, surpreendido numa emboscada no rio das Pedras, perdendo 16 pragas, das quais 11 mortas, além de ele mesmo ter sido ferido levemente. Somente com a aproximacio da forga de Rollemberg, o inimigo retirow-se. Mas os federalistas 4 estavam senhores da situagio. © Cap Rollemberg e seus homens tentaram proceder uin rompimento através das colunas volantes inimigas. Nao houve possibilidade e, como iiltima alternativa, dirigiram-se rumo a Sao Paulo, onde se juntaram as forcas que estavam sendo organizadas. Por ironia do destino, 0 Cap Rollemberg que muito se destacara nos combates que antecederam 0 Cetco da Lapa, nao participou do evento, por se encontrar em outra missio quando 0 cerco se fechou. Esses deslocamentos vieram fragmentar sensivelmente a coluna do Cel Carneiro, agora reduzida a um efetivo de pouco mais de 700 homens. © Regimento de Seguranca ficou reduzido a 146 homens, integrando a primeira Brigada, Nomes de alguns policiais militares que se destacaram na missio de Sao Mateus do Sul: 2° Sgr Francisco Martins de Miranda ¢ Joio Angelo da “Marechal: confiasts em mim! Eu vos afirmo, ‘meu pao, que acoluna inimiga nao passé!” ‘Gomes Carneiro eo Marechal Flariano (Composisio do desenhisa Seth). Guarda, Cb de Esq Alfredo Pinto do Amorim, Ansp Joao Francisco Barbosa, soldados Joao Francisco Ribeiro Gomes, Manoel André de Lima, Zacarias de Lima, Pedro Luiz de Franca, Joao Ferreira Requifo, Anténio Francisco Alves, Hugo Gustavo Wanderleig, José Pedro Coelho, José Antdnio de Souza, Diogo de Souza Leal, Faustino Domingos Rosa, Domingos Alves Andrade, Igndcio Justiniano de Araujo, Ant6nio Ferreira de Oliveira, Pedro Américo de Ramos, Napoledo Francisco Rosa, ¢ outros cujos nomes nio conseguimos encontrar (os livros-mestres do Regimento de Seguranca foram extraviados). OsiTIo No dia 13 de janeiro de 1894, a tropa federalista estava acampada a 4 quilémetros de distancia da cidade. Desde entio, sucederam-se, de modo continuo, as demonstracées de heroismo e, em Pouco tempo, o inimigo viu quio dificil seria tomar aquela praga, cujos defensores pareciam dotados duma forca interior fora do comuin, que nio se alquebrava com a noticia das sucessivas derrotas legalistas configuradas pela capitulagdes de Tijucas, Paranagud Curitiba, Enquanto os sitiados viam-se sem possibilidades de receber auxilio, eram os sitiantes reforcados com contingentes que continuamente chegavam. A falta de recursos era cada vez maior, os ataques iam extinguindo as vidas numa luta titénica € desesperada e, em meio ao flagor dos combates, 0 Regimento de Seguranga mantinha as tradigdes brithantes do pasado pela atuagio diamantina do Presente, consignando, para o futuro, uma pagina de ouro. Muitos foram os feitos de seus valorosos soldados, assinalados como verdadeiro tributo de sangue & historia da Corporagio. No dia 17 de janeiro, os sitiados foram atacados por diversos pontos, principalmente na frente da cidade, perto do cemitério. As forcas republicans se entrincheiravam, tomando a artilharia posicao a direita da necrépole, completamente desabrigada. As forcas inimigas tentaram atacar pelo engenho de mate, mas foram recebidas pelos policiais-militares, tendo a frente o major Ignécio Gomes da Costa, que as repeliram em dois tempos. Por volta das 14:00 horas daquele mesmo dia, © Cel Carneiro determinou que 0 Cel Duleidio, com uma pequena forca de cavalaria do Regimento, fosse perseguir 0 inimigo que se tinha retirado pela retaguarda da estrada-de-ferro. De volta, 0 Cel Dulcidio, que no encontrou o inimigo, trouxe uma manada de gado que estava perto da casa de conserva, 5 quilémetros da Lapa. Quando entrou na cidade, © Cel foi aclamado pelos resistentes com indescritivel entusiasmo. Esses reides, que de fato constituiram temerdrias empresas, 56 poderiam ter sido levados a cabo por oficiais da témpera de Dulefdio e por um corpo de tropa de real valor como 0 Regimento de Seguranga. Rua onde o Gen, Carneiro fo ferido no dia? de feverero de 1894, © inimigo, por sua vez, continuava interceptando todas as comunicagées com a Capital. Vendo a impossibilidade de romper 0 cerco, Carneiro ordenou que fossem levantadas trincheiras nas ruas, fechando com elas 2/3 da area da cidade, trabalho esse executado nos dias 18 a 21 de janeiro, periodo em que o inimigo permaneceu inativo, tiroteando s6 noite com as guardas avancadas ‘Na madrugada de 21 para 22 de janeiro, 0 inimigo, sem ser pressentido, deixou os seus acampamentos, vindo colocar-se nas matas ¢ casas situadas na encosta do morro da Gruta do Monge, conservando-se ali completamente oculto. As 7 horas da manha do dia 22, trés cavaleitos tentaram parlamentar, visando a rendicio. Foram repelidos a bala. Através de toques de cornetas ¢ clarins, o inimigo inicion um violentissimo ataque de represilia. Cessado 0 fogo, aparecem dois civis lum tenente, os quais foram interpelados por Duleidio. ‘Também ndo foram aceitas suas propostas. Contando 05 atacantes com mais de dois mil homens, tomaram sucessivamente, outros importantes pontos estratégicos, tais como: a estrada- de-ferro, 0 cemitério ¢ 0 engenho Lacerda. Para retomé-los, 0 comandante da praga teria que langar suas iltimas reservas téticas. (© Regimento de Seguranca, guiado pelo major Ignécio Gomes da Costa, fez uma investida fulminante contra os federalistas e, depois de desalojé- los das matas adjacentes, retomou algumas casas da orla direita da floresta, numa luta corpo-a-corpo, readquirindo, a tarde, as posigées perdidas. Enquanto isso, o capitio Clementino Parané, com 22 homens do Regimento de Seguranca, transpondo as suas trincheiras e abrigado pelo mato rasteiro, avangou resoluto e expulsou os invasores da estagio a tiros ¢ coices de armas, tendo sido ferido gravemente nesse renhido combate. Uma bala atingiu- Ihe 0 ventre, prostrando-o por terra. Foi salvo por um caboclo da regio. Por esse feito herdico e distinta bravura, ele foi elogiado pelo Cel Carneiro que, a0 vé-lo numa padiola improvisada, disse: Ha de a Republica recompensé-lo, meu caro. O seu esforco ndo serd em vio. Trabathar pela Reptiblica é obter a gl6ria As 18:00 horas do dia 22 de janeiro, cessava © fogo 0s federalistas, abatidos, retrocederam, deixando no terreno que tentaram conquistar grande quantidade de mortos, feridos ¢ prisioneiros. A. guarnicao sitiada perdeu 19 homens. Nos demais dias de janeiro, a refrega entre as tropas em Iuta no esmoreceu um s6 momento. s legalistas foram intermitentemente hostilizados pelas forcas inimigas que organizavam verdadeiras cacadas humanas, para o que escolhiam os seus mais destros atiradores. A propria populagio da Lapa também sofria as conseqiiéncias das emboscadas. inimigo bombardeava a cidade com seus canhées Krupp, de sol a sol, e 3 noite, de intervalo a imtervalo, tiroteava pelos flancos ¢ retaguarda com 0 intuito de levar ao cansago as forcas republicanas. Com efeito, a fadiga baixou na tropa, havendo, inclusive, algumas desergdes nas fileiras da Guarda Nacional e dos baralhées patristicos, nio tendo sido registrada nenhuma no Regimento de Seguranga. A desergio era considerada como crime em tempo de guerra ¢ o desertor julgado como criminoso militar. ‘A Lapa apresentava um aspecto desolador. A munigéo se esgotava, © cansaco dos combatentes, que restavam era imenso. Todos deviam se manter noite ¢ dia em seus postos, sem dormir ¢ esfomeados. ‘Tremenda era a responsabilidade que recaia sobre a galhardia de tio poucos. Com as chuvas, as trincheiras se transformavam em lodacais. Ninguém é capaz de imaginar 0 que seja passar vinte e quatro horas, trinta € seis horas a fio dentro de uma trincheira, £ um verdadeiro inferno, O inimigo estava ali, pertinho, espreitando. ‘A tropa legal sofre toda sorte de privagdes, mas nio se rende, continua resistindo com 0 maior denodo e abnegacio. Carneiro procurava elevar 0 moral da tropa, publicando a seguinte proclamacio: Aspecto da tropa lederalista que invadi oParan “Desde o dia 16 corrente que sofreis oataque dos inimigos da Repiiblica, aos quais tendes sabido resistir com patriotismo e valor, que ficario gravados na nossa hist6ria como belos cexemplos para os n0ss0s filhos. Tendes vencido esses inimigos que reconhecendo a sua propria fraqueza apelaram agora para as intrigas, os falsos boatos e as Nao Ihes deis crédito. Conservai-vos no caminho do dever e da honra que é também da vitéria, Congratulo-me convosco, pelos triunfos que alcangastes, peco-vos alguns dias mais de cconstincia ¢ resignacio em bem dos nossos dda Repiiblica que estar muito brevemente vencedora c em paz. ‘Viva a Reptiblica Viva a Legalidade. Viva o povo da Lapa. Acampamento da Lapa, 24 de janeico de 1894. = (as) Anténio Gomes Carneiro - Cmt da Divisio” préprios interes Na noite de 26 para 27, 0 inimigo, apertando o cerco, retomou as posigées anteriores, colocando no cemitério um canhio krupp, um canhio de tiro ¢ uma metralhadora 0,025m. No dia 27, atacou o flanco esquerdo com 300 homens, ocupando © Alto da Cruz, e desse dia em diante, o sitio fechava- se cada vez mais, alojando-se o inimigo em torno das forcas pica-paus, & distancia de 300 a 400 metros. Estava tudo sendo preparado para um ataque decisivo contra os sitiados, Juca Tigre revalucionério gacho Rasen, Foro do quadro “Combate da Estagio da Lapa”, que teve lugar no dia 22 de jancira de 1894, de autora do pintor Daniel Frere (© quadro esté exposto no Quartel do Comando Geral da PMPR. ULTIMO COMBATE Chega o dia 7 de fevereiro de 1894 e dé-se © mais violento combate até entio registrado na legendéria cidade, Ele se desencadeia com detalhes tdticos € asticias inesperadas. Recebendo noticias através do Cel Duleidio, que com a répida intuigio de que era dotado © com as taras perspicacia e agudeza de vista que Possuia, tudo via ¢, assim, o Cel Carneiro, com 0 cenho carregado, enviou emissarios as ttincheiras Para que, sem a mfnima mostra de movimento, sem quebra absoluta do silencio, recebessem as tropas 0 alarme ¢ ficassem de prontidio, pois a qualquer momento dar-se-ia o mais violento ataque por parte do inimigo, no intuito de quebrar a resisténcia dos defensores. Nenhum movimento se via, nenhum rufdo. Tudo era silencio e escuridio. Alta madrugada, brilhou uma viva chama sobre boqueitao, seguida de um estampido. Era 0 primeiro tiro de canhdo, acompanhado de outro, outro mais outro, partidos do cemitério, do morro do Monge e do Alto da Cruz. A poderosa forca sob 0 comando de Laurentino Pinto, Aparicio Saraiva, Torquato Severo, Piragibe e outros, que estava colocada nos quintais das casas das ruas da Tropa, Boa Vista e Alto da Lapa, irrompe nessa ocasiio, num movimento geral para o ataque fulminante as trincheiras e invasio da praca Os republicanos receberam em pé firme o inimigo. Nada detinha a firia dos atacantes que pareciam dispostos a vencer ou morrer. Oscastelhanos de Aparicio Saraiva urravam em mistura com os atichos de Juca Tigre, Fuliao e Cesétio Saraiva e em diapaséo quase com 0 tiroteio, formando tudo uma tropa infernal. E a pequena guarnigéo suportava heroicamente a grande pressio que 0 inimigo, tio superior em mimero, exercia sobre ela Durante dez horas, combateu-se ininterruptamente, com avangos € recuos, com a tomada ¢ a retomada, varias vezes, das mesmas Posigdes, com a tenacidade admirivel do ferido que caia invejando a sorte dos que iam continuar a lata, Os defensores iam sendo dizimados cruelmente nas trincheiras por cerrada fuzilaria das hordas de maragatos. Elevando-se sobre 0 troar da metralha ¢ do alarido dos castelhanos que engrossavam as forgas atacantes, ouvia-se, alto e bom tom, a voz do Cel Carneiro clamar: RESISTIR, RESISTIR SEMPRE. “O que se passava naquela trincheira onde os canhdes rugiam como panteras sanguisedentas, os fuzis explodiam tétricos, as balas detonavam mortiferas, era tal ‘amalgama de fmpetos, de valentia, de bramidos € de e6lera, que st néo pode descrever 0 cespetécalo medonho ¢ pavoroso. Eraohomem que se transformava em fera, era o soldado ue espelhava o exilio ¢ exterminio naquele pugilato homérico em que os ardegos combatentes se esfacelavam num impeto selvagem, abrasados de uma faria insuportavel. Bravura de parte a parte, herofsmo de todos os lados, desapego a vida horrivelmente perturbador e caligance, - €que ali espadanava de todas as feridas a sangucira rutilante de intrépidos e valorosos filhos da mesma pétria herdica e gloriosa” (5). Um oficial foi atingido no peito. Cambaleou € caiu de joelhos, levando a mao ao ferimento. Carneiro, indo acorré-lo a peito aberto, € atingido do lado direito do epigisirio por uma bala de comblain que lhe atravessa o estomago € 0 figado. Conduzido a casa de Pedro Fortunato, foi atendido pelo Dr. Joao Candido Ferreira(6). Do alto da torre da matriz, Dulcidio observava 0 movimento das tropas federalistas, comunieando a Carneiro 0 que vias e armado com sua manulicher, com 0 concurso de valor de seus comandados, rechagava 0s sitiantes € cagava os ajudantes de ordens ¢ outros cavaleiros que se adiantavam um pouco de suas posigécs. No lugar onde se eneontrava, era um alvo bem visivel e insistentemente procurado pelos atiradores inimigos. No entanto, permanccia atento 20s menores movimentos da grande coluna inimiga, tudo observando ¢ anotando, indiferente aos ‘zumbidos das balas que passavam ao seu redor. Estava ja no final de sua observacao € se preparava para afastar-se daquele posto, que se tornava cada vez mais perigoso,dadas 3s novas e mais certeiras pontarias com que 0 inimigo procurava atingi-lo. Foi nessa ocasiao ferido por uma bala, que atravessando 0 seu porta-revélver eo talim foi alojar- se-Ihe na barriga, achatando-se contra 0 oss0 ilfaco, Ferido e agonizante, Dulcidio foi atendido, incontineti, pelo Dr. Joo Candido, sendo conduzido para a residéncia do Cel Lacerda. O seu estado era extremamente grave. Mesmo sofrendo dores cruéis, ainda encorajava seus comandados, incitando-os a Vitoria. Suas vibrantes palavras, sua presenga varonil, infundiam nos combatentes Animo ¢ valent. Pelo novo diagnéstico do Dr. Joao Candido, foi acusada a perfuragio da bexiga. Nada mais havia {que o pudesse salvar, jf que os recursos eram escassos. Antes de dar o iltimo suspiro, dizia aos que © cercavam: é 36 tirar essa dor das minhas costas, que nao bato 0 rosquete. Mencionava, ainda, que quando melhorasse iria para as trincheiras e que a canseira ‘que sentia cra da cama, mas que havia de se levantar. As dez horas do dia seguinte, expirava 0 valoroso ¢ destemido soldado, que foi de um estoicismo raro. A sua morte era 0 comeco do descalabro. Assim que os componentes do Regimento de Seguranga souberam da morte de seu herdico comandante, abandonaram as trincheiras para prestar~ Ihe as Gltimas homenagens. Chorava o Regimento de Seguranca o passamento do seu grande comandante. Perdia a Lapa mais um bravo defensor(7). “Sua morte foi sentida por todos os companheiros e amigos, até por desconhecidos que 0 admiravam pelo seu carter, sua seriedade e bravura” (Gen Muricy), Dulefdio portou-se heroicamente, lutando em todas as fases das operacées, enaltecendo sempre sua vida de soldado disciplinadot ¢ bravo, ¢ envaidecendo, com isso, a Corporacéo que lhe fora confiada pelos poderes piblicos do Estado. Honrou constantemente a confianca que Ihe tinha o Gen Carneiro e tombou no seu posto, quando mais acesa ia a luta, antecipando-se ao seu chefe no sactificio € legando-nos esta Forca, cognominada de brava e leal, que orgulhosamente conserva até hoje, como tributo especial ao insigne comandante. Carneiro tinha-o também em grande consideragao. Ao tomarem conhecimento de sua morte, seus comandados iam abandonando as trincheiras para prestar-Ihe uma dltima homenagem, mas, em vista do perigo reinante, foi necessério inumar imediatamente o cadaver na sacristia da Igreja Matriz da cidade, que servia de cemitério aos sitiados. Porém, seus soldados desejavam a todo custo vingar-se, aumentando 0 seu valor combativo. Enfrentar a morte, para eles nao significava sacrificio, antes os deixava com mais disposigao para a luta, dando provas inequivocas de coragem ¢ bravura, reconhecidas pelo préprio inimigo. ‘As alternarivas do combate passaram a pender para 0 lado dos federalistas. Ao amanhacer do dia 9 de fevereiro, o Cel Carneiro também vinha a falecer. Assumia o comando da praga 0 Cel Joaquim Lacerda e passava a liderar 0 Regimento de Seguranca © Maj Ignacio Gomes da Costa. ‘A morte dos bravos foi levada ao conhecimento do inimigo por algum traidor, ¢ logo, tratando de aproveitar a circunstincia, redobraram (8 adversirios a intensidade do fogo e multiplicaram ‘5 ataques, com manifesto intuito de levar 0 panico e acovardar os defensores, forcando-os a se renderem. Mas, além do valor pessoal dos sobreviventes, existia um pacto firmado entre todos com o compromisso de se baterem até o sltimo homem. Nessa pugna de holocausto, tombaram bravamente uma legiao de valentes policiais-militares soldados das demais forcas legais que ali lutavam. Eassim, sob um cerco que dia-a-dia mais se estreitava € mais angustioso se tornava, pelejaram os bravos durante 26 dias com tal bizarria, com tal afinco ¢ audicia, que até aos proprios adversérios causaram assombro. Fotografia do Gen. Careiro, tirada a fase mais crtca da ‘ampana contra os federalists - 1894 ACAPITULACAQ, Estando toda a tropa legal cercada pelos tes corpos de exército, cujas forgas montavam um cefetivo superior a trés mil homens, e considerando que: ~ ndo havia possibilidade dos sitiados tentarem qualquer retirada ou continuarem resistindo, por se Ihes ter esgotados as munigées, viveres e gua; ~ nao podiam tomar, por falta de recursos, uma ofensivas ~ estavam certos de que nio poderiam contar com nenhum reforgo; + cientes também que Paranagué, Curitiba € outras cidades do Estado ja estavam em poder dos tevoltosos, ¢ que o Governador ¢ 0 General Pego Junior tinham se retirado precipitadamente (8), 0 Cel Joaquim Lacerda reuniu os seus oficiais e com eles decidiu que seria accita a capitulacio, A Ata de Capitulagao da Lapa esté assim redigida “Aos onze dias do més de Fevereiro de 1894, na cidade da Lapa, no Quartel General da 22. Brigada, presentes os generais Gumercindo Saraiva, comandante do Exércit Revolucionétio do Rio Grande do Sul ¢ e chefe das forgas em operacées neste Estade Anténio Carlos da Silva Pragibe, comandant do 1" Corpo do Exército Nacional Provis6ro Laurentino Pinto Filho, comandante do 2 Corpo do mesmo Exército; Coronel Julido d Serta Martins, comandante da primeir Brigada; Coronel Joaquim Lacerda comandante da segunda Brigada os oficial abaixo assinados pertencentes a referid Brigada, por eles foi convencionada «

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