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DO DIREITO REGISTRAL 1. Introducao sistémica A disciplina de “Direito e Pritica Registral” diz. respeito, fundamental- mente, ao Ambito do Registo Predial, mas, igualmente, ao registo comercial, registo de automéveis, navios, e aeronaves. O registo comercial, apesar das suas especificidades, tem na sua raiz, e esséneia, — filosofia, ¢ base de trabalho — o registo predit divisio icativa entre: @) bens proprio; 5) bens méveis, equiparados para muitos efeitos/fins aos bens iméveis, tais como automéveis, aeronaves, ¢ navies. \éveis, em termos genér ‘0S, 0S quais assumem um registo A grande generalidade dos actos de Registo e Notariado sto de indole privada, encontrando-se inseridos, como tal, no seio do Direito Privado. Neste contexto, distinguem-se dos actos administrativos, os quais tém na sua base uma autorizagdo da Administragao. Contrariamente a estes, 0s actos proprios do registo ¢ do notariado, apresentam no seu niicleo uma publicitagdio dos Di- reitos privados, Este tipo de publicidade, difere da “publicidade-noticia”, ou, ‘publicidade-anincio”, que ¢ comum na sociedade hodierna. A publicidade do rogisto, destina-se a exteriorizar a existéncia de Direitos Reais, tendo esta efeitos juridicos, conexos com a titularidade de uma realidade (juridicamente tutelada), facto que acarreta determinadas consequéncias, as quais diferem, em termos claros, da “publicidade-noticia Assim teremos: 4) a publicidade-noticia, que se destina a exteriorizar informagio, qualquer que seja; 5) a publicidade do registo, ou registral, que procede i exteriorizagao da existéncia de Direitos Reais, dos seus efeitos juridicos, ¢ tiularidade. ate © eit ters " DIREITO REGISTRAL PREDIAL Anossa doutrina utiliza, indiferentemente, para designar o mesmo fenémeno, ou realidade, os conceitos de “Direito Registral”, e de “Direito Registal” Contudo, ¢ de forma precisa, poderemos considerar que o conceito mais correto serio de “Direito Registral”, uma vez. que: 4) apalavra, ou conceito de “registo”, deriva do latim “registrum”,e nto de “registum”, dai ser mais adequado definir-se o Direito dos Registos, por “Direito Registral”; b) existe uma necessidade unificadora conceptual nos sistemas juridico- -registrais, quer espanhol, quer brasileiro, em torno da expresso ‘Direito Registral”. Os proprios servigos de registo brasileiros, ou se} as figuras com 0 contetido funcional e atribuigdes proximas das nossas conservatsrias, dizem-se nesse ordenamento juridico, de “Cartérios Notariais”, designando-se os nossos cartérios notariais, simplesmente, por “Notdrios”. Assinale-se, nesta mesma senda, que 0 3.° volume do Tratado de Direito Civil, do autor espanhol Dudeck, se designa por “Direito Registral Imobiliério”. Contudo, importa, desde ja, salientar, que 0 conceito de “Direito Registral”, & mais amplo do que o de “Direito Registral Imobilidrio”, no qual se especitica uma drea dos Registos, enquanto que no primeiro se deve ter em consideragio a plenitude substantiva. O objecto de estudo da disciplina de Direito e Pritica Registral é, primacialmente, 0 do Direito Registral Material, ou, Substantivo, apesar da contradigao clissica, que o identifica, como processual/adjectivo. Contudo, quando se fala em Direito Registral Material ou Substantivo, tem-se em vista aquele que trata das normas juridicas relativas ao registo. Por seu turno, 0 Direito Registral Formal, refere-se & publicitagio dos actos que 0 registo contém, através, por exemplo, de certiddes, entre outros meios. Anecessidade da publicitagao dos Direitos Reais ¢ antiga, tendo nascido da circunstincia de nela se poder vislumbrar, olhando, t2o somente, para a coisa imével (por exemplo, um prédio) a quem pertence, se tem quaisquer encargos, ou énus (por exemplo, penhoras, ou hipotecas), entre outras informag@es. De facto, os bens iméveis distinguem-se dos bens méveis, onde a titularidade se presume com a posse da coisa, ou, com a respectiva entrega. i Face a tais dificuldades de detecgao da situagao juridica dos bens iméveis, sentiu-se, desde ha muito, a necessidade de criar um sistema de registos, no sentido de avaliar, e determinar, os direitos, ¢ encargos, incidentes sobre de- terminado bem imével. Os Romanos usavam, inclusivamente, um sistema de marcos ~a propésito da problematica em andlise—, no sentido de determinarem por quem tinha sido adquirido (e a quem pertencia) determinado prédio, Porém, 12 sri © 088? ~ ct tor Ne DO DIREITO REGISTRAL este como outros, traduziam-se em sistemas arcaicos, os quais traziam consigo varios problemas. No sistema juridico luso, jé nas Ordenagdes Afonsinas se tratava dos registos de bens, & semelhanga do que sucedia em Veneza, com 0 re- zisto de navios (devido, sobretudo, ao tréfego comercial-maritimo). No entanto, di, sobretudo, com o Cédigo de Napoledo (o qual teve, para além de outros, 0 condao de apresentar no seu ambito, normas juridicas especificas, com caracter acto Jodo iaque Para ristoo aca slagao 1B,e, fe,em 14¢ omoo yor um, °C. 0s n, tm. antum, 00 DIREITO REGISTRAL tratando-se de legitimagii, ¢, juris ef de iure, tratando-se de fé publica. Enquanto a legitimacao actua em relagao ao titular constante do registo (adquirente), a fé pliblica protege o terceiro subadquirente, nos termos indicados no artigo 291.” do CC. A presungdio que se encontra na base da legitimagao (direito conforme © registo 0 define) actua, tanto no que beneficia, como no que prejudica o titular registral, e, somente, no que prejudica, em relagao ao subadquirente. Referindo-se o artigo 291.° do CC, a direitos adguiridos, importa salientar, que 0 subadquirente podera ser um credor hipoteesrio. Em complemento, saliente-se, que 0 principio da legitimagdo actua, no s6 quanto ao registo subsistente, como, também, quanto ao cancelado, ou, caduco, ¢, bem assim, quanto aquele cujos efeitos foram transferidos. Perante um con- flito de interesses resultante de dupla venda (A vende a B, e, de seguida, aC, 0 mesmo objecto), por exemplo, duas atitudes podem tomar-se: a) avenda de AaC énula, porque a “non domino”, nos termos dos a 892." ¢ seguintes do CC; b) a intervengao do registo, como protecedo de terceiros de boa fé. Se C registou, ¢, ndo tendo B registado o seu direito, para o primeiro (C), 0 titular do direito de propriedade, no momento da su aquisieao, & A, nos termos do artigo 4° do CRP, permitindo-lhe o registo opor a sua aquisigao a B. Pode suceder, porém, que nao fosse A o titular do direito de propriedade transmitido, mas D. Este poder reivindicar o prédio, porquanto, qualquer das duas vendas éa “non domino”, e, para si, 08 factos juridicos demonstram-se inexistentes. O registo deu garantia a C, contra B, no Ihe dando contra D, na aegaio que este dirija contra si, e contra A, nem por forga do artigo 4.°, nem do artigo 7.°, ambos do CRP. Intervém, neste dominio, 0 artigo 291.° do CC, Na acgao intentada por D, invocando a nulidade resultante da venda a “non domino”, ¢ a consequente, violagao do seu direito de propriedade, o registo protege C: a) porque adquitente do diteito de propriedade sobre a coisa, a titulo oneroso, e de boa fé, com registo de aquisigdo anterior ao registo da acgfio de anulagi0; b) sea acgo de anulagao nio tiver sido intentada, ¢ registada, dentro dos trés anos posteriores a venda de A aC. Perante o texto do artigo 291.° do CC. se torna necessario, como em Espanha (artigo 34.° da Lei Hipotecéiria) que A, vendedor, esteja inscrito como titular do direito de propriedade, Este requisito (adquirente a titular, que figure no registo com legitimidade para transmitir) nfo figura na nossa lei. Dai, que a regra constante da legislagio espanhola (a boa fé do terceiro adquirente pre- ar DIREMTO REGISTRAL PREDIAL sume-se, sempre, que se nao prove 0 conhecimento da inexactidao do registo), 6, enire nds, substituida por estoutra, ou seja, considera-se de boa fé o terceiro adquirente, 0 qual, no momento da aquisig&o, desconhecia, sem culpa, 0 vicio do negécio. O principio da especialidade, que se encontra intimamente ligado com 0 Direito privado, em geral, e com 0 Direito das Coisas, em especial, implica que 0 Direito Real s6 poderd existir sobre coisas concretas, e determinadas, regulado especificada, ou, tipificadamente, na legislacdo civil. Este principio é um corolatrio adjectivo-registral da seguranga do comércio juridico. Esté intrin- secamente relacionado com os direitos sobre os bens (por exemplo, prédios), ¢ nao, especificamente, com os proprios bens. O principio da publicidade — que se prende com a natureza intema do re- gisto -, apresenta por desiderato a publicitagao de titularidades, que nao meros aniincios. A publicidade registral divide-se em: @) publicidade formal, express na certidao do registo; b) publicidade material, ou seja, 0 contetido da propria certidao. O principio da inscri¢do, significa, regra geral, que © registo, se o acto nao estiver inscrito, isto é, se “ndo constar das tabuas”. S6 existira registo, se houver inscrigdo do acto na descrigdio predial, por qualquer forma. Trata-se, como bem se vé, de um conceito de inscrigzo em sentido amplo. © principio da formalidade, principio do consentimento, entre outros, tr&- duzem-se em valores do registo, que ndo so comummente aceites pela doutrina da especialidade, niio se encontrando, inclusivamente, expressos, ¢, previstos, na nossa legislagao, de forma directa. poderd ser invocado O artigo 4.° do CRP, diz respeito a eficdcia entre as partes, enquanto que 0 artigo 5." tem por epigrafe “oponibilidade a terceiros”. Encontramo-nos na presenga do designado principio da eficdcia do registo. Os actos juridicos, como manifestagdes de vontade, vinculam as partes, ¢, como consequéncia — pelo fenémeno da sucessao, atenta a nogao de continuidade da pessoa —, os herdeiros dos declarantes, nos termos dos artigos 2024., e 2025.°, ambos do CC, nao vin- culando outrem, nos termos do artigo 406.°, n.°2 do CC. Perante um acto juridico, existem partes (¢ seus herdeiros), e ferceiros (ou estranhos). Partes so todos aqueles que intervieram no acto, ¢ que nele manifestaram uma vontade vineu- lativa. Assim, por exemplo, nos contratos a favor de terceiro, “partes”, si 08 contraentes da vinculagao, ou seja, 0 promitente, e promissario, sendo que a pessoa em favor de quem haja sido estipulada a promessa sera “‘erceiro, estranho ao negécio”, como resulta do disposto no artigo 443.° do CC. As relacé Juridicas so, geralmente, compostas por direitos e obrigagdes, dos proprios 28 rin © Oe ae? ~ sine eta oute turn com igua acto ede 7 com com hip as pi pode dee inter ac, entre Ae pred doc sido ou, eficd Cont deix: ater conti trans neces de di ouot de ec adqu ingre suigo direit do tit 5302 seniic 553.° eo% do er 0 oiREITO Sutorgantes no acto, ou, das partes que nos actos colaboram. Terceiros, por seu turno, sao as pessoas estranhas a celebrago do acto, cuja posigdo possa colic com os direitos que desse emanam para as partes, sendo exigivel que tenham, igualmente, direitos relacionados com os ditos sujeitos, em virtude de outros actos, 0 que corresponde a nogao de rerceiros desinteressados (poenitus extranci), ede terceiros interessados. Para todos, interessados ou ndo, 0 acto — como facto ~ Nunca é inexistente. Ha pessoas ~ nao partes ~, para quem o acto completamente indiferente, porquanto, nenhuma relagdo tém com as partes, ou, com o objecto, sendo-Ihes estranha a sua eficicia, ou, ineficdcia. No entanto, ha pessoas — nao partes -, que, de algum modo, mantém relagdes juridicas com a5 partes, ou, com 0 objecto do acto, sendo que a eficdcia, ou, ineficdcia deste, podem alterar a sua posigao juridica. Imagine-se que Ae B celebram um contrato de compra e venda. C, credor de A, ou, de B, & terceiro ~ ndo parte -, mas interessado na eficicia, ou, ineficdcia do contrato. Se A vende a B, ¢, em seguida, aC, amesma coisa, este tiltimo sera terceiro interessado, em relago ao contrato cntre A-¢ B. B, por seu turno, é terceiro interessado em relagao ao contrato entre Ac C. E, precisamente, aos ‘erceiros interessados que 0 instituto do registo bredial se dirige, ou seja, aqueles que se encontram contemplados no artigo 5.° do CRP—na medida em que o registo publica actos juridicos—, que nao tenhain sido partes, mas cuja eficécia, ou, ineficacia, do contrato, possa prejudicé-los, ou, benefici-los. Entre as préprias partes, e seus herdeitos, os actos tém plena cficdeia, ainda que nao registados, nao intervindo o registo na sua constituigao Contudo, se entre as proprias partes, o registo nada acrescenta ao acto, nito deixa, para estas, de ser necessério, para que possam invocar o acto em relagio 8 terceiros interessados. O registo ndo tem, desse modo, valor constitutivo, contrariamente a0 que acontece no direito alemao, onde o acordo real, ou, translativo (acto abstracto de disposigao), e a sua inscriga0 no registo, sto necessrios, ¢ suficientes, para operar a constituigdio, modificagao, ou transmissio, de direitos relativos a bens registaveis, independentemente do acordo causal, ou obrigacional (que pode, inclusivamente, ser nulo). Neste contexto, no contratc de compra e venda, os contraentes, simplesmente, se obrigam a transmitir, e a adquirir. Pelo acordo real, transmitem, ¢ adquirem, sendo este o acto que fard ingressar no registo, a titularidade do adquirente. O mesmo se passa no diteito suigo, com a diferenga de que 0 acordo real nao apresenta cardecter abstracto. No direito brasileiro, a propriedade das coisas iméveis adquire-se pela transcrigao do titulo de transferéncia, nos livros de registo, nos termos do respectivo artigo 530° do CC, sendo que os actos sujeitos a transcrigao nao transferem o dominio, sendo a partir da data em que a mesma seja realizada, de acordo com os artigos 553° seguintes da dita codificagdo, Entre nds, os actos existem fora do registo, © © efeito deste é, simplesmente, declarativo, mesmo em sede de registo corp © Oud? ~ scat eto 29 DIREITO REGISTRAL PREDIAL obrigatério. Este principio é excepcionado pelo artigo 4.°, n.° 2 do CRP. Isto & no que concemne & hipoteca, a sua eficdcia, mesmo infer partes, depende do respectivo registo — na linha, alias, do preceituado no artigo 687.° do CC. Nao so ferceiros, os representantes legais das partes (nem, por conseguinte, os respectivos herdeiros), sempre que Ihes incuba o dever de promover o registo a favor dos seus representados, e, em relagdo a actos registéveis, em que estes sejam sujeitos, ou, partes. Assim, se A, como representante de seu filho menor B, compra para este, a C, certo prédio, deveri, no uso dos poderes de administracao (artigos 1881.°,n.° I, alinea g), ¢ 1885.°, ambos do CC), promover 10 da aquisic¢ao a seu favor (B). Se 0 nao promove, e, em seguida, compra ‘o mesmo pi ‘as agora para si —, registando a sua aquisi¢ao, a compra, eo correspondente registo, serdo inoponiveis a seu filho. Por conseguinte, inter partes, 0S actos juridicos sio, plenamente, eficazes, no sentido de que a falta de registo em nada Ihes altera a eficacia, Para com terceiros interessados, aeficécia dependera do registo. Este elemento “registo”, fixa-se com a sua data, a qual é indicada no artigo 61.° do CRP, ou seja, a data da apresentagao respectiva. Neste contexto, os actos juridicos para produzirem efeitos “erga omnes” terdo, regra geral, de ser submetidos a registo, nos termos do artigo 5.*, n.° 1 do CRP. Os actos indicados no n.° 2, do citado artigo 5.° do CRP, produzem efeitos “omnes adversus”, independentemente de registo, ndio podendo ser registados, ainda que 0s interessados 0 requeiram, originando, como tal, efeitos inter partes, “erga omnes”, independentemente do respective registo. Nao podem ser submetidos a registo, quaisquer restrigdes ao direito de propriedade, ¢ outros encargos sobre este, que lei especial ndo declare, expressamente, sujeitos a tratamento registral. Por exemplo, 0 caso do artigo 1392.° do CC — o qual consagra que ao proprietirio da fonte ou nascente nao ¢ licito mudar o seu curso costumado, se os habitantes de uma povoaco, ou, casal, hé mais de cinco anos, se abastecerem dela, ou das suas aguas vertentes para gastos domésticos -, ou, a situacdo constante do artigo 1351.” do CC —no qual se estipula, que os prédios inferiores esto sujeitos a reeeber as dguas que, naturalmente, e sem obra do homem, decorrem dos superiores, assim como a terra e entulho que arrastem na sua corrente ~, apesar de relevantes para 0 conhecimento dos caracteres de titularidade e condicionantes dos prédios onde se encontrem, e, como tal, para a seguranca ¢ certeza do comércio juridico, nao devem ser susceptiveis de submissiio a registo. Tais restrigdes siio de natureza legal, ¢, nfo negocial. Estas tam simplesmente caracter obrigacional, ou seja, produzem efeitos inter partes, incluindo os respectivos herdeiros, mas ndo vinculam terceiros subadquirentes, a titulo singular, nos termos do artigo 1306., n.°1, Ultima parte do CC. Assim, se A se obriga para com B, a cortar as ramadas de drvores além de certa altura, ocontrato obriga A, e seus herdeiros (artigo 398.°, n.°2 do CC), mas nao aquele 30 aqu ésu osa erge um) mov de dev. prec pree por No pro} seu esti doc ées dot con con do: par éa oat aut sua cor igu ind ree det par me ec de pre do ar po: fur nter ade acia walé este gra Os nes ada se ser FOS rsa ual 180 108, ou, ios do em de ara de tas ‘es, im, ra, ele a quem venda o prédio. Se a restrigao tiver, contudo, o cardeter de servidao, esta & sujeita a registo, a fim de produzir os respectivos efeitos. Da mesma forma, 0s actos relativos a bens universais, ou situagdes similares, produzem efeitos erga omnes, independentemente do respectivo registo. Sendo as universalidades um produto da actividade imaginativa ~ uma coisa ideal -, tratam-se de coisas méveis. Considerando-se um conjunto de coisas auténomas, unificadas em vista de um fim, ndo so, em si, susceptiveis de descrigao, enquanto nao forem devidamente especificadas, e determinadas, na linha do que ja se encontrava preceituado no artigo 951.° do CC de Seabra, Quando deverd considerar-se preenchida a condi¢@o? Os casos mais vulgares, neste contexto, sao a heranga por partilhar, ea doagao de todos os bens, ou, de bens com determinada situagao. No caso da doagao, poderemos referir que esta se traduz num contrato, propriamente dito, tornando-se necessaria a intervengao de ambas as partes, ou seus herdeiros. Sob que forma? O artigo 221.° do CC, determina que as estipulagdes verbais acessdrias, anteriores, contemporaneas, ou, posteriores, a0 documento contratual sao nulas, atendendo a que a razio da forma da doag’o €essencial, de acordo com o artigo 947.° do CC. Por seu turno, o artigo 394.° do CC, estipula que é inadmissivel a prova por testemunhas, se tiver por objecto convengdes adicionais ao contefido de documentos auténticos, quer tais conveng6es sejam anteriores, quer contemporancas, quer posteriores, & formagiio do documento, Por conseguinte, a determinagao dos bens deve ser feita pelas partes (incluindo os herdeiros), e em documento (de resto, a prova documental €a tinica admissivel em registo). Que espécie de documento? De acordo com oattigo 364.° do CC, quando a lei exige, como forma de declaragao, documento auténtico (tal como, a escritura publica, nos termos do artigo 947.° do CC), a sua falta s6 pode ser suprida por documento de forga probatéria superior, ou, confissdio expressa judicial, ou, extrajudicial, constando esta de documento de igual, ou superior, valor probatorio, o que inviabiliza, desde logo, a forma indicada no artigo 375.° do CC (letra ¢ assinatura, ou, somente, assinatura reconhecidos presencialmente). Somos, desse modo, levados a concluir, que a determinagao 36 pode operar-se através de outra escritura pilblica, ou, documento particular autenticado, no caso da doagao ter sido realizada por tal via, apds 0 ‘momento da especificagao patrimonial. Os factos indicados nas alineas a), b), ec) doartigo 5.°, n.° 2 do CRP, produzem, como tal, efeitos independentemente de registo. Por seu turno, a usucapiio, sendo um dos modos de adquirir a propriedade — nos termos dos artigos 1316.°, 1317.°, alinea c), e 1287.°, todos do CC—, funda-se na posse, ¢ os prazos comegardo a sua contagem, desde que a posse se tone ptiblica — artigos 1297.° e seguintes do CC. De sorte, que a posse oculta n&o conduz a usucapido, e a aquisigao. A aquisig’o por usucapiao fundamenta-se, pois, na publicidade da posse, nao se tomando necesséria outra rot © Os I~ sce tis 31 DIREITO REGISTRAL PREDIAL forma de publicita (0. Do mesmo modo quanto as serviddes aparentes, de acordo com o artigo 1548.°, n.° 2 do CC. Estas situagdes apresentam consagragiio no dominio da legislagao registral, mais concretamente, no artigo 52,n.°2, alineas a) e b) do CRP. © artigo 6° do CRP, diz respeito ao principio da prioridade do registo. De facto, em matéria registral, vigora a maxima prior tempore potier jure, a qual se encontra plasmada no citado articulado normativo. A prioridade do registo opera-se através da determinagao da data da apresentagao registral, excepcionando os casos de oficiosidade, independentes de apresentacZo, cuja data é aquela em que for lavrada. Se varias inscrigdes tiverem a mesma data por ano, més, ¢ dia, a ordem determina-se pelos niimeros que tenham cabido as respectivas apresentacdes, nos termos dos artigos 60.°, € 61.°, ambos do CRP. O registo permite que o facto primeiramente registado, se anteponha, ou, sobreponha, ao registivel, ou, que tenha sido registado com posterioridade, independentemente das datas dos actos, e, por conseguinte, ainda que importe transmisso, ou, oneracao a “non domino”. Claro que este facto pressupde que haja incompatibilidade, ou, prejudiciabilidade, entre os actos, pois, de contrario, © problema nao chega, sequer, a colocat-se. Deste modo, o principio em anilise, traduz-se: 4) numa exclusdo, como no caso da dupla venda. A venda posteriormente registada (venda a “non domino”, artigos 879°, alinea a), e 892. € seguintes, todos do CC), inibe o registo da venda anterior (a “vero domino), ndo registada; b) numa preferéncia, pois, 0s direitos nao se excluem, mas, outrossim, concorrem. E 0 caso de dnus, e encargos, entre si. O credor hipotecirio tem o direito de ser pago com preferéneia sobre os demais credores, que no gozem de prioridade. A esta regra importa abrir ex- cepgies, concretizadas: 4) nas garamtias reais que operam independentemente de registo, tais como, © penhor (artigo 666.° do CC), os privilégios creditérios (artigos 733." e seguintes do CC), ou, o direito de retengao (artigo 759.° do CC); b) naquelas situagdes juridicas, consequéncia de outra anteriormente inscrita; ©) no registo provisério, quando convertido em definitivo. De facto, neste caso, 0 que importa, o que marca, nao é, nem a data do acto (que pode ser posterior inscrig&o), nem a data da apresentagdo do averbamento, mas, outrossim, a data da inscrigo proviséria; @) na hipdtese do n.° 2, do artigo 291.° do CC. 32 vet © On? ~sde an suscit vindo tal co sisten @) do queo estatu neste juridic propri tagio doart R nenhu sirva (espec Q mais f coisas de ber tes, tam tigo ente we ero sim, 20s exe mo, 338 onte este vode nto, 0 DIREITO REGISTRAL Se, porém, o subadquirente registou o seu direito, a acgao de anulagao, ou, declaragao de nulidade, devera ser intentada, e registada, posteriormente, mas sobre 0 acto nulo, ou, anulavel, desde que, ainda, nao tenham decorridos trés anos. J4 assim no sera, quanto ao acordo de vontades acerca da invalidade do negécio, ou, quanto & aegao de nulidade de registo, cuja inscrigdo nao afecta 0 terceiro subadquirente, a titulo oneroso, e de boa fé, inscrito com anterioridade. Neste contexto, resumindo, em sede global, poderemos esquematizar a matéria referente aos principios do Registo Predial, referindo, desde logo, que os artigos 4.° ¢ 5.° do CRP, se relacionam, intrinsecamente, com a propria estrutura do nosso sistema registral. O artigo 4.° do CRP, estabelece que os factos que so sujeitos a registo, apesar de nao terem efeitos face a terceiros (ou seja, nao apresentem oponibilidade “erga omnes), poderdo ser invocados entre as partes, sendo entre estas eficazes, o que significa que produzirdo entre as mesmas efeitos (inter-partes). Contudo, o legislador salvaguardou no n.° 2, do artigo 4.° do CRP, os factos constitutivos de hipoteea, para os quais o registo nao é condigio de eficécia, mas, outrossim, condigfo da sua propria existéncia, Neste seguimento, a luz do artigo 4.°, n.° 2 do CRP, entende-se, commumente, que a hipoteca é inexistente, no caso de nao se encontrar registada, por dela Jo derivarem os efeitos titeis pretendidos. O n.° 2, do artigo 5.° do CRP, tem suscitado, igualmente, algumas questdes, tendo o mesmo, ao longo dos tempos, vindo a dar lugar a decisoes controversas, nomeadamente, baseadas na usucapizo, tal como se encontra preceituada na respectiva alinea a). De facto, no nosso sistema juridico-registral, a posse sobrepde-se, & luz do artigo 5.°, n.° 2, alinea a) do CRP, ao proprio titulo e registo. Poderemos, inclusivamente, adensar, que 0 conceito de posse, ¢ as consequencias juridicas que se repercutem do seu estatuto, se desconexam do mundo juridico hodierno, A questo que se coloca neste fimbito, prende-se em determinar se um sistema de seguranga do coméreio juridico se compadece com a permisstio de que a usucapio se sobreponha ao proprio titulo, e registo. De facto, e apesar de todas as dificuldades, ¢ argumen- tagao nefasta que se Ihe aduzem, mantém-se preceituado na alinea a), do n.° 2, do artigo 5.° do CRP, a prevaléneia da posse, sobre o titulo € o registo Relativamente as serviddes aparentes (artigo 5°, n.° 2, alinea b) do CRP), nenhuma controvérsia se suscitara. Isto porque, por exemplo, um caminho que sirva de servidao de estilicidio, nao devera merecer qualquer protecgZo registral special, ou geral), porquanto, esta nao se estende a descrigao. Quais sao os factos aludidos na alinea c), do artigo 5.”, n.° 2 do CRP? O mais frequente de todos, é a heranga. Isto porque, o registo predial tem em vista coisas— bens certos e determinados —, nao se podendo admitir tratamento tabular de bens incertos e indeterminados, nem de universalidades. Concomitantemente, ie ~ ec tire 33 DIREITO REGISTRAL PREDIAL nao ser admissivel o registo da heranga. Porém, poder-se-a registar o prédio Pena que faga parte da heranga (composta por varios bens, direitos, ¢ deveres), apesar definiti desta ser tecnicamente impossivel, de ser objecto de registo. No entanto, o(8) registo prédio(s) que fapa(m) parte da heranga poderé(&o) ser submetido(s) a registo a pail favor de todos os herdeiros. As coisas incertas e indeterminadas nao se encon- posteric tram sujeitas a registo, sendo oponiveis a terceiros, independentemente deste, sido tej Tal nao significa, como foi referido, que nao possam existir bens dessa heranga, tener objecto de acgdes, e, como tal, softer tratamento registral individual. pasties Ainda no que concerne ao artigo 6.° do CRP, poderemos referir que este conserv poderd ser dividido em duas vertentes fundamentais, a saber no caso 4@) uma primeira, refere-se a prioridade no registo da aquisicao. Ou seja, se registral A vende a B, e, seguidamente, vende 0 mesmo imével a C, sendo que eventua B, entretanto, jé 0 alienara a D, tendo C disposto do mesmo imével, recorren onerosamente, a favor de E, estaremos, declaradamente, perante o con Oa ceito de terceiros, ou sejam, De E. Assim, aquele que prioritariamente da qual registar o seu direito, encontrar-se~a, em prinefpio, defendido na sua direito ( titularidade. Esta primeira vertente (do artigo 6.° do CRP), diz respeito finidos).. 4 prioridade em termos de Direitos Reais de Aquisigao. Neste caso, ¢ Op conforme estipula o n.° I, do artigo 6.° CRP, a prioridade dos registos sistema) funciona, ¢ prevalece, relativamente a sua data, e, dentro desta, pela bunal n& ordem das apresentagdes. Os actos que sto registados prioritariamente registos prevalecerio sobre os restantes; ~, sem q 5) uma segunda, relativa aos Direitos Reais de Garantia, os quais se caracte- celamen tizam por uma compatibilidade (a priori), entre si. Assim, por exemplo, facto reg se A onerar a favor dos Bancos X, Y, W, o mesmo prédio, nao s¢ a qual, ¢: colocard a questao da prioridade do registo, o que urge averiguar seri, Oar lo 86, a graduagio de direitos/créditos que constam no registo, e que registral poderdio servir de base em acy executiva, se esta vier a ter lugar predial d Nestas situagdes, 0 credor hipotecério K3, s6 ira ver satisfeito o seu de direite crédito, depois de o ser o credor hipotecdrio K2, e este, depois do credor Dea hipotecario K1. oneragao Por seu turno, nos termos do n.° 3, do artigo 6.° do CRP, verifica-se uma legitimac proteceao fundamental ao registo provisorio, 0 qual, de acordo com o texto eee da Iei, no caso de converstio em definitivo, conservaré a prioridade que teria ae como provisorio, isto é, a sua prevaléncia, Os registos de acgées so, sempre, © prop! provisorios por natureza, uma vez que nio existe, ainda, a definig&o concreta “ oo da titularidade do direito, a qual s6 serd possivel com a decisao jurisdicional. 8 Questo equivalente a esta —porque se refere a registos provisérios -, repercute- ae 34 cos Jes ct eee emer OE este ase que wel uma exto teria apre, creta onal cute- 10 DIREITO REGISTRAL -se na qualificagio realizada pelo conservador, admitindo um registo, ni como definitivo, mas, outrossim, lavrando um registo provis6rio (ou, em vez de lavrar registo provis6rio, recuse o proprio registo). O n.° 4, do artigo 6.° do CRP, nesta esteira, veio prever que 0 conservador que recusou um pedido de registo, vindo, posteriormente, tal recusa a ser considerada improcedente ~ tendo, entretanto, sido rejeitados outros direitos incompativeis, ou, Direitos Reais de Garantia —, conservaré 0 primeiro dos registos a prioridade, que teria, caso no tivesse sido recusado, Para se averiguar da legitimidade, ou, legalidade, da recusa do conservador, haverd lugar a recurso contencioso ou hierarquico. No entanto, no caso de recurso ~ independentemente da tipologia -, ter-se-4 de lavrar registralmente tal procedimento, para que o n.° 4, do artigo 6.° do CRP possa, eventualmente, mais tarde vir a ser aplicado. Assim, se houver ganho pela parte recorrente, o registo deverd ser lavrado com a data em que foi recusado. O artigo 7° do CRP traduz uma presungao, a luz do nosso direito registral, da qual resulta que 0 registo definitivo implica, ou, pressup6e a existéncia do direito (inscrito), e a determinagao do seu titular (nos precisos termos nele de- finidos). Porém, esta presungio ¢ ilidivel. O preceituado no artigo 8.° do CRP decorre, precisamente, do espirito do sistema registral luso, inferindo-se, como perspectiva mais correcta, que o Tri- bunal ndo deverd apreciar, ou, pronunciar-se sobre acg6es, que visem impugnar registos (em juizo) — os quais em termos tabulares se encontram comprovados , sem que, na formulacdo peticional das mesmas, tenha sido requerido 0 can- celamento do registo. Isto porque, se existe uma impugnagio contenciosa do facto registado, ndo deverd verificar-se uma publicitagao registral da realidade, a qual, em termos priticos, possa ser diversa da realidade material. O artigo 9.° do CRP foi introduzido, como se disse supra, pelo nosso sistema registral como uma novidade, aquando da publicago da codificagao registral predial de 1984. Dai, ter sido instituido 0 designado principio da legitimacao de direitos sobre imiveis, De acordo com este principio, quem pretenda dispor, através de alienagdo ou oneragao, de um prédio, tera de demonstrar, perante 0 titulador, que se encontra legitimado para o poder fazer. Por exemplo, para se realizar um contrato de constituigao de usufruto, um contrato de arrendamento, um contrato de hipoteca, ou, um contrato de compra e venda, o titular disponente tera de demonstrar que é proprietério do prédio ~ imével sub judice -, nos termos do artigo 9.", n.° 1 do CRP. Porém, existem excepgdes a este principio, tal como resulta do n." 2, do artigo 9.° do CRP: a) desde logo, no que conceme a actos/decisdes judiciais, nos quais 0 juiz no se encontra condicionado, no seu julgamento da situagao, ao pincipio tn © Oe ee ets 35 DIREITO REGISTRAL PREDIAL ofa sob cogitago, A decisio judicial impde-se automaticamente, ndto tendo o conservador do registo predial que averiguar da (in)eortecta averiguagao factual pelo drgao jurisdicional. A alinea a), do n° 2, do artigo 9.° do CRP, clenca um conjunto de factos que constituem excepedo ao principio da legitimagao — previsto no n.” 1, do artigo 9." do CRP -, entre os quais poderemos destacar a venda em processo execulivo, a expropriagao, a penhora, 0 arresto, a apreciagao em pro- cesso de insolvéncia, entre outros. A expropriagaio traduz-se num modo de aquisieao origindria da propriedade, na qual existe uma transmissio. de titularidade do direito de propriedade de um sujeito, a favor de outrem. O processo de expropriacdo ¢, efectivamente, uma forma de aquisic2o origindria, independentemente das matérias posteriormente averiguadas, concernentes, nomeadamente, com indemnizagoes, nite outras, factos que apresentam uma natureza, eminentemente, processual, ¢ obrigacional. Neste caso, a entidade expropriante adquire © direito real de propriedade sobre o prédio: +) a consagrada na alinea b), do preceito em andlise, tem em vista uma situagao de natureza claramente pritica, ou seja, aquela em que deter- minado sujeito adquira um bem imével num determinado dia, e, no mesmo, o pretenda alienar. Isto porque, quem tenha adquirido bem imével nesse dia, ndo tera possibilidade de fazer prova da sua titulari. dade registral, para, no mesmo, o alienar ou onerar; ©) &constante da alinea c) do articulado normativo em referéncia, a qual fez correr “rios de tinta”, porquanto, para a generalidade da doutrina, quem se encontra doente, ou, gravemente adoentado, nao tera por Principal preocupagao a pratica de quaisquer actos negociais. A norma fem, contudo, por objecto os casos de urgéncia com perigo de vida dos outorgantes. Um dos principios findamentais de registo predial traduz-se, como se salien- ou, no principio do trato sucessivo, 0 qual procede a legitimagao dos direitos Sobre iméveis. Este apresenta, em si, inculeada a ideia de que a constituigao de diteitos, ou, oneracdes, sobre prédios, tera de respeitar o encadeamento de litularidades registrais. Existe, no seio deste principio, uma conexio com as regras de transmissio derivada. Isto porque, o direito do adquirente bascia-se, ¢ fundamenta-se, no direito do transmitente, o mesmo sucedendo com a constiti. Gio de énus ou encargos sobre prédios, a qual sé poder ver ificar-se, atendendo 4 legitimacao do titular do direito, Esta é a regra basica do principio sub judice. contudo, ndo coincide com a concepgio absoluta e dogmatica do mesmo, por diversas ¢ Registral | Registo Pr uma omis: Apesar di, de 1959, n registo pre Predial de o registo f cessairia pu Assim are ™ b) re de Neste t de trés me desobedién pois, enc autonomia, pela protec sujeito qui conduta on do Registo 1959, ¢ 19: entendeu es registo indi seus direito aplicada ao Assim, @) qu tray 5) que ‘hi Este reg anteriormen ral, qu nente goes, ente, quire uma deter- no bem ulari- qual trina, 4 por orma ia dos alien reitos igo to de om as se, stitui- jendo udice, 9, por 10 DIREITO REGISTRAL diversas contingéncias, que tradicionalmente se verificaram no nosso Direito Registral Predial. Isto porque, até 1960 (altura da entrada em vigor do Cédigo do Registo Predial, elaborado em 1959), verificava-se no nosso sistema de registos, uma omissio parcial registral dos prédios — por auséncia da sua obrigatoriedade. Apesar disso, mesmo apds a entrada em vigor do Codigo do Registo Predial de 1959, nos concelhos onde o regime cadastral estava menos desenvolvido, 0 registo predial continuou a nao ser obrigatério. Contudo, 0 Cédigo do Registo Predial de 1959, impds que nos concelhos onde existisse cadastro geométrico, 6 registo predial teria de assumir natureza obrigatéria, o que implicaria a ne- ria publicidade do direito predial Assim, esquematicamente teriamos a) registo predial facultativo, nos concelhos onde vigoravam as velhas matrizes prediais; 5b) registo predial obrigat6rio, nos concelhos onde se verificava o sistema de cadastro geométrico. Neste tltimo caso, se o titular do direito nao procedesse ao registo, no prazo de trés meses apés a respectiva aquisiga0, tal implicaria uma infracgio de desobedigncia qualificada. Este facto, determinava uma verdadeira injustica, pois, encontrévamo-nos no dominio do direito privado, o que impunha uma autonomia, e determinago pessoal, pelos respectivos titulares, podendo optar pela protecgao registral, ou nfio, dos seus direitos. No limite, seria a pessoa! ssujeito que nao procedesse ao registo, que sofieria as consequéncias da sua conduta omissiva, Este regime bifurcado, supra citado, foi vertido no Cédigo do Registo Predial (depois de ter vigorado nas codificagées registrais de 1959, ¢ 1976), através do principio da legitimagdo dos direitos. O legislador entendeu estabelecer no Cédigo do Registo Predial de 1984, um sistema de registo indirecto, ou seja, uma obrigagao indirecta dos titulares registarem os seus direitos, ao invés de impor uma consequéncia para a auséncia de registo, aplicada ao titular do prédio. As a) quem nao tiver o prédio registado a seu favor nao o podera alienar, ou, transmitir~ nem outro sujeito adquiti-lo; 5) quem nio tiver prédio registado a seu favor Jhipotecar. im, neste contexto, 0 Cédigo do Registo Predial impde que: © poderé onerar/ Este regime demonstra-se mais justo, do que a duplicidade de sistemas, anteriormente referida, visando reagir a uma anomalia criada pelo ordenamento registral, que permitia, em parte, o regime registral facultativo. Neste contexto, (a te ster 37 DIREMTO REGISTRAL PREDIAL o sistema de registo obrigatério, colmatava a inseguranga, ¢ incerteza juridicas, 2, alinea criadas por um sistema de duplicidade registral nacional. Justificad. O Codigo do Registo Predial de 1984 foi mais realista, através da instauragao Nos 1 do principio da legitimacdo, 0 qual determina uma registabilidade predial surge no obrigatoria indirecta, da transtr O principio do trato sucessivo, traduz a ideia de transmissao das inscrigées. _ POSS4 ing Contudo, entre nds, sempre houve uma dupla concepgo sobre o mesmo, tradu- _ViSria pc Zida no artigo 34.° do CRP. Tais duas vertentes so as seguintes: ae at 4) on. |, do artigo 34.° do CRP, refere-se aos prédios ainda nao registados, _ °°™ Pas ou seja, ainda nao descritos, nao ingressados no registo predial, sendo a esta impropriamente incluida no ambito do principio do trato sucessivo; be 5) on. 2, do artigo 34.° do CRP, traduz o principio do trato sucessivo ot propriamente/verdadeiramente dito. a © Coube ao Codigo do Registo Predial de 1959 consagrar, nos actuais termos, o principio do trato sucessivo, adoptando as duas vertentes supra mencionadas. J Dai, que relativamente as escrituras, e/ou titulos anteriores a 1960, entendeu-se tendo em consideragao, inclusivamente, 0 principio da irretroactividade legal ee uma foesta rideia mento oCRP, titulo orédio otarial iosno ser - para sos de alinea idade rédios nente, 0, nos que o om DO DIREMTO REGISTRAL alinea c) do CRP, se encontre em perigo de vida, por motivo de urgéncia stificada, concomitantemente. Nos termos do artigo 34°, n° 2 do CRP, 0 principio do trato sucessivo surge no seu verdadeiro sentido. Imagine-se que no existe referéncia registral da transmissdo de A para B, o que implica que a transmissio de B para C, nfo possa ingressar definitivamente no registo, mas, tio s6, mediante inscrigao pro- \iséria por davidas, A parte final do artigo 34.°, n.° 2 do CRP, suscita, porém, muitas diividas. O Dr. Catarino Nunes, tentava explicité-lo da seguinte forma, om base no direito de sequela, Nestes termos, suponhamos que a) Atom o registo de aquisigio sobre 0 prédio x; b) Ahipoteca o prédio x; ©) Atransmite (aliena) 0 prédio x a favor de B; d) éinscrita penhora derivada da hipoteca, supra mencionada, por o exe- quente ser credor com garantia real sobre 0 prédio x; e) C adquire o prédio x, arrematando-o em sede de venda executiva. Neste contexto, verificamos que o direito de C se funda no direito de pro- priedade do devedor-hipotecério, ¢ ingressa, de imediato, no registo, a seu favor C), apesar do imével em questao se encontrar registado, anteriormente, a favor de B, o qual no € 0 originario devedor. O arrematante ~ C -, que adquiriu » prédio x, em sede de processo executivo, apesar do registo intermédio a favor de B, poderd registd-lo a seu favor, desde que o credor hipotecério tenha citado em sede processual (accfo executiva por si movida), também, B. Isto, no entanto, apesar da venda executiva se passar, e desenrolar, entre o titular da renhora (credor hipotecdrio), ¢ o titular da aquisigao, ou seja, C. Dai, que para C conseguir registar definitivamente o seu direito, exige-se, como se referiu, que B tenha sido citado pelo credor hipotecdrio. A complexidade de uma situagao desta tipologia, traduz-se no facto do principio do trato sucessivo funcionar, gra geral, através de uma perspectiva linear. Contudo, em face do exemplo anteriormente explanado, 0 Dr. Catarino Nunes defende que se o terceiro adquirente, realizar 0 seu acto aquisitivo directamente do devedor hipotecario proprietério original), qualquer penhora em processo executive sobrepée-se 20 direito do primeiro (isto é, do adquirente). Outro dos principios registrais relevantes, a assinalar, traduz-se, como se disse anteriormente, no principio da instdncia, constante do artigo 41.° do CRP. edido/tequerido, tendo em consideragao a vontade do requerente. No émbito © on sos ara 39 DIREITO REGISTRAL PREDIA. ral, ém legitimidade para o requerer, todos aqueles que sejam interessados. elas para outorgar 0 acto, ou, pedido de registo. O artigo 39.°do CRP vem diferenciar xem tematicamente esta questo, abrangendo entre os possiveis requerentes do registo fei predial, os notarios, os advogados, e solicitadores (como representantes), para dena além daqueles que tenham legitimidade directa na sua requisi¢ao. Aos notarios, 4 fave advogados e solicitadores — no ambito do requerimento regisiral —assiste uma ——_g ge ¢ presungiio de mandato, mesmo que nao sejam portadores de procuraco espe- ——_atend cifica. O pedido de registo devera ser, ainda, feito de forma inteligivel, isto 6, dever as partes deverdo fazé-lo de forma clara, ¢ inequivoca. Contudo, por existirem a defi actos registrais que tém de ser praticados oficiosamente, 0 principio da instancia pa, nao assume caracter absoluto, sendo, outros im, regra geral. Para além dos citados, um outro principio registral, traduz-se no principio da especialidade, 0 qual se refere aos actos, mas, também, ao prédio, em si. 3. Sis Nao sao admissiveis, de acordo com este principio, consequentemente, actos de registo, sobre bens incertos, ¢ indeterminados, oO ‘No que ao principio da legalidade respeita, poderemos referir que 0 conser- Reais vador do registo predial assume uma fungdo para-jurisdicional (diversa da do juiz), com caracteres de independéncia face ao proprio poder administrative, no que ao acto de registo diz respeito, de acordo com 0 estatuido no artigo 68.° do CRP. Neste contexto, s6 podertio ingressar no registo predial, os requerimentos que tenham um contetido legal. Para tal — efectivacao do registo predial -, im- porta proceder & anzlise, quer do negécio juridico subjacente, quer do proprio acto registral, nomeadamente, no que se refere aos seguintes pontos: @) capacidade das partes; b) capacidade de dispor: ° ©) requisitos formais do acto; regist 4d) validade do acto; meran 6) Tieitude do acto ee relatiy Em complemente, refira-se, que quanto ao prédio, importara verificar ¢ aalgu aquilatar da sua identidade, através da sua determinagao especifica, atendendo _—_—hipote pretensfo de transmissio, ou onerago que se Ihe encontra subjacente. Se 0 acto sujeito a registo for derivado de decisao jurisdicional, nao haverd que averi- guar ou aquilatar da validade ou substaneia da mesma, desde que tenha existido transit em julgado, Tal deriva das normais regras de um qualquer Estado de Direito, presentes, inclusivamente, no texto da Lei Fundamental. Apesar disso, poder suceder que, pelo teor e substincia (formal e material) do pedido (de ° registo), resultante da decisao judicial transitada em julgado, o conservador opte sister 40 sont © 0 eet on oO ssados enciar registo ). para tarios, uma > espe- isto é, stirem acipio em si, = actos sonser- ida do ivo, no 68.2 do nentos . im- sréprio ificar e adendo 2. Seo eaveri- xistido tado de + disso, ido (de loropte O DIREITO REGISTRAL pela sua provisoriedade (registo provisério) ~ apesar da obrigado registra. Por exemplo, se o prédio se encontra registado a favor de A, e B propée accao de reivindicagao sobre o mesmo contra C, pronunciando-se o Tribunal pela con- denagio de C, e reconhecimento de B como proprietério, ordenando o registo a favor deste, em sede predial, para que a dita titularidade ingresse nas tabuas, fe se concretize — apds 0 transito em julgado da decisto judicial ~, deverd ser atendido, e respeitado, 0 principio do trato sucessivo, ou seja, 0 conservador deveria proceder ao registo provisério, a favor de B, 0 qual, a priori, passaria a definitivo, depois de comprovada que fosse, a transmissio de titularidade de A, para B. 3, Sistemas de registo Os designados “sistemas de registo”, destinam-se a publicitar Direitos Reais, ou, de Crédito com relevaneia registral, podendo ser classificados em a) sistemas com efeito constitutive, nos quais sem 0 registo, no existe Direito Real constituido de forma valida, sendo 0 caso tipico do direito germanico. Por exemplo, a escritura piblica na Alemanha tem efeitos, tmeramente, obrigacionais, na linha dos que existem ao nivel do nosso contrato-promessa; b) sistemas com efeito meramente declarativo, ou, de mera oponibilidade a terceiros, nos quais a existéncia do proprio registo & oponivel a terceiros. sistema de registo nacional, apresenta alguns aspectos do sistema de registo com efeito constitutivo, e, bem assim, do sistema de registo com efeito meramente declarativo, ou de mera oponibilidade a terceiros. Trata-se, como tal, de um sistema hibrido, Em geral, poderemos classificd-lo como declarativo, relativamente a generalidade dos direitos, sendo, porém, constinuivo, quanto ‘alguns direitos, como sucede, por exemplo, com a hipoteca, Relativamente & hipoteca, poderemos referir que no caso desta nao ser registada: a) a hipoteca existe, mas nao apresenta, ou, no produz, efeitos (para alguns autores); b) ahipoteca nao existe como figura de Direito ~ de acordo, por exemplo, com a concepeio do Professor José de Oliveira Ascensi Outro exemplo do conteiido constitutive (em alguns aspectos) do nosso sistema de registo, refere-se as sociedades comerciais, as quais se nio forem “4 submetidas a registo, grande maioria das situagdes, 0 nosso sistema de registo tem efeito meramente declarativo, DIREITO REGISTRAL PREDIAL apresentardio personalidade juridica, Contudo, na Ha, ainda, quem classifique os sistemas de registo, da seguinte forma: 4a) sistema de folio real, 0 qual é organizado com base nos prédios, nume- rados sequencialmente (por freguesias, ou, por niimeros, entre outros vectores possiveis), vigorando um ficheiro (informatizado), e sobre 0 qual se inscrevem os direitos (de propriedade plena, de propriedade horizontal, de usuftuto, entre outros); 5) sistema de folio pessoal, o qual subsiste, ainda, em algumas zonas de Italia, estando, porém, nos dias de hoje, genericamente, ultrapassado, Trata-se de um sistema proprio dos direitos registrais de inspiragdo germnica, como sucede no norte de Itilia, no norte de Inglaterra, na Alsécia Lorena, ¢, em geral, nos territérios que sofreram a dominagao dos austro-héingaros. De salientar, que a Italia do sul segue um sistema de registo de inspiragao francesa, e, consequentemente, diverso da parte norte desse Estado. Em Franga, este sistema vigorou até & Lei de 1954, tendo, posteriormente, sido substituido. O sistema de folio pessoal tem em vista a inscrigtio de direitos sobre iméveis, de acordo com as pessoas/sujeitos, Nao se encontram, dessa forma, os ficheiros ordenados, e organizados, por prédios, mas, outrossim, por pessoas, 0 que, para além de complexo, se demonsira de menor seguranga, Este sistema foi sendo, gradualmente, abandonado, mesmo pelos paises que 0 introduziram, como a Franga, ¢ a Ital Os sistemas de registo poder, igualmente, ser clasificados, de acordo com 0 negécio juridico que Ihe serve de base. Neste ambito, teremos sistemas de registo: 4) causal, tendo em consideragdo a necessidade de demonstragao da causa, isto é, a compra e venda, a permuta, a doagao, a dagdo em cumprimento, ete.; 5) abstracto, em que néo existe necessidade de demonstrar a respectiva causa, sendo este uma caracteristica prépria do direito registral alemiao, Deste modo, no sistema de registo germanico, nao é relevante o negécio juridico de base, ainda que este seja atacado por invalidade, demonstrando-se, outrossim, fundamental a existéncia do registo, Se existir algum sujeito prejudicado pelo dito negécio, este ter’ o direito de ser indemnizado, nao tendo, contudo, acesso ao respectivo Direito Real. nob quar foin end iin verd dem ‘ niad pelo servi war ¢ de de prédi servi E dmi wri em te gist ermo gist sofia ie fac diret ‘acto, : 00 DIREITO REGISTRAL na Neste contexto, por exemplo, no sistema registral austriaco, e, bem assim, me f brasileiro, hé uma tendéncia essencial para os caracteres de constitutividade, : geanto aos respectivos efeitos, No primeiro desses sistemas de registo ~— 0 qual i moldado & semethanga das concepgdes juridico-registrais do direito alemio, me E

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