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Nadir Zago EE Rae MELT) Rita Amélia Teixeira Vilela (orgs.) Itinerarios de pesquisa ey aR CET ‘em Sociologia da Educacdo um lugar para o pesquisador na vida cotidiana da ese Martlia Pinto de Carvalho® Scola ‘olar tem sido um dos camy A instituigao Pos. Mais explorados pela eC quis ich cies asi rasil, Imtimeros trabathos uh zam observagoes SPAGOS escolares, — almente as salas de aula, lizadas no proprio espago da escola, ou propéem formas diversas ie rervenciioe debate dentro da insttuigio (oficinas, gruposfocais dina tes formatos de pesquisa participante etc.). i ee Poucas vezes, contudo, a presenga do préprio pesquisador no interior da escola e da pesquisa dentro do cotidiano escolar tem sido objeto de consideracao. As questdes da nao neutralidade dos instrumentos de pes- quisa (em particular da pesquisa qualitativa) e da influéncia das relacdes estabelecidas entre pesquisadores e Sujeitos no processo de investigacao tém merecido constante atengao no campo da Sociologia e, e em nosso caso especifico, da Sociologia da Educagio.1 Sao reflexées que partem do pressuposto de que o préprio processo de pesquisa é uma pratica social e esta situado num contexto hist6rico-cultural, permeado por relacdes de poder, como qualquer outro aspecto da sociedade. Assim, nossa aco re- flexiva, como sugerem Martin Hammersley e Paul Atkinson (1983), deve- ria abranger nao apenas as interagées entre os sujeitos observados e suas TeagGes a situa¢Ges que vivenciam, mas também suas respostas a prépria pesquisa e ao pesquisador, o que pode criar novas possibilidades de com- preensdo de nossos interlocutores e novas fontes de informagao. Todavia, essas ponderagées ainda estao escassamente presentes nos estudos socioldgicos sobre a instituigdo escolar desenvolvidos no Brasil. Embora seja relativamente comum encontrarmos, nos predmbulos de telatorios de pesquisa, descricdes daquelas relacGes, dificilmente vemos os pesquisadores incluirem-nas como elementos a serem considerados em sua anilise. Se as interagdes foram amigaveis € os sujeitos receptivos ou se houve fortes resisténcias e até impedimentos a realizacao da pesquisa, essas siio consideracdes que em geral fazem parte apenas dos capitulos tiva na area educacional no B pitios de reereio ¢ reunides entre educador * Faculdade de Educacao da Universidade de Sao Paulo (USP). 1 Apenas a titulo de exemplo, ver: Bourdieu et al. (2000); Hammersley e Atkinson (1983); Bogdan e Biklen (1994); Thiollent (1987); Fonseca (1999). 207 ampa. mio sendo tratadag OMG norrtoeea ee cc e ee EE exe NSCOR ny : pean «dos procediment Prop a de ds roceinientos de peggy ng orn tau cont ce inform rata, wt 0, dC Eig na comPIECNSAO ia stiieitos em foeg Peden : ree ; ee 0. + oy tarcagiodo"nativo'diante 5 de game 19090 edema th aoe To, ala, hostitidade, franque "28S Desey dosent da anise que dz muito sobre tite lg me dona 0 da pesquisa socioligica que se deb, UA Soy fen0¢ vangar nesse caminho teflexivo demang rec patcularidades da escola como objeto, dana spe send uma instituigho hierarquizada, na qual one cores esto bem delimitads, trates de um {os Pet vrrente delicado para o posicionamento do pesquisa Fecal atengio 0s efeitos que sua presenga e a relaggs sults criangas causam sobre o material empinag peoceriam 8 abeece com wee ens de exgoraro tema ete capitulo procura demons, oa aleansexemplos,o potential dessa incorporaco, quandoas Fe reos sets a pesquisa e a0 pesquisador passam também a ser cee erefiexde, pensadas nao apenas em sua dimensio psicoégica, coe mreraes entre sjeitos descontextualizados, mas como expres: jtucional, que envolvem relagées de sosuresabordinago, saber endo saber S30 perpassadas pelasrelasdes ise. nero, etna, geracioetc. Nao se trata de estabelecer modelos, mnas apenas de partilharalgumas descobertas, oferecendo exemplos de como atengdo a esses aspectos surtiu efeito em contextos espectcos epesquisa bes de sua insergao social e inst Um lugar para a pesquisa e para o pesquisador no cotidiano da escola Nodia.adiada escola, os hordrios eespagos sao muito estruturados, 08% nizados, previstos e ocupados. Sem desconhecer a reconstrucio ¢* sub ‘versio que a criatividade de alunos e educadores produz cotidianaren'® nessa rotina, néo seria exagero dizer que os comportamentos. adequades 208 Itinerdrios de pesquisa case joven esto previstos € Org ee que-os papéisa serem desempe- oeneeipador pelo pesquisador que, muito se deltura. Ora, nessecoridiano estru- ara um adulto~frequen- ncionéria nem mae de Ja manutengio da 0 tempo, uma p para criam os quant aan lugar mets ter" facikmente nserido nes rao socidlOn0. P professora, fu lt va es reinstall i prise pata que nao & "ei se responsabilia Pel ita anim os estudantes. AO mes a open substitu professora ausente OB da prova incomodam-se os professores i de investigacio, os sujetos da pesquisa pretagao sobre a presenta do sua visdo da institu do se trata de obser yer sernpt miro mat rab mente uma inter icagio condizente com icularmente quan rnvolvem longas permanéncias em sionais € Sogo na escola, uma CxDI see rablho de pesaul jisa. Partic oe zes de carter etnografico, que ef 2 vacdes ¢ resenga (incomoda) do pesquisador exe dos profs cae que abram um espago em seu cotidiano Pare acolhé-lo e para oe Jaboragdo acontece € 2s der alho de observagio. As formas como e552 ¢ Sigestées de explicagao oferecidas pelos sujeitos podem ser extrema- sue eveladors de sua visio de mundo, de como cles pensar sobre si mresmos, a escola, arelagao pedagégica, © conhecimento etc. carvan uma pesquisa sobre o trabalho docente eas relacbes de gene ¢ 1998, numa escola publica de Sao Paulo, 10, que desenvolvi entre 1996 vratando observagbes nas salas de aula e entrevistas semiestruturadas cemas professoras, aprendi muito sobre a importancia de considerar, nas nilises, essas interpretagées a meu respeito e a respeito da pesquisa (Carvalho, 1999). De uma forte rejeigao inicial, as professoras daquela escola chegaram a trés formas basicas de relacionamento comigo, a ts lugares ou identidades a mim atribuidas que ndo eram excludentes, pelo contrério, combinavam-se ese sucediam, conforme pude aprender. ‘A primeira dessas solugées para me encaixar em seu cotidiano, parti- cularmente nas salas de aula, era tratar-me como estagidria. Havendo ‘uma escola de formagao de professores proxima, era grande o fluxo de «stagirias na escola e havia mesmo uma potémica antiga sobre a neoes- sidade e utilidade de sua presenga nas classes. Assim, especialmente ‘quando iniciei as observagées em aula, vi-me apresentada aos alunos como estagidria e comparada a elas quando perguntava sobre imerferéncias de minha presenga: possiveis Um lugar para o pesquisador na vidgcoridiang da escola 209 cota, asa presen em sala de aula, pra mim isso nig f rs Sempre ive MUTAS eS shri, tenho das estagisn eg 7 x tev i ‘agiairias a 7a ea entondoteve..ome ncomoda, sabe a sabe? (preg Fes ‘ora, scr idemtidade aribuida nfo me desagradava, pelo conidervareamente estar ali para aprender, pois, apesar de® _Sepca de seis anos como professora de 5" 8° séries em ¢ deuma, ep nnguels escola era novidade para mim ~eu jamais esi ima classe do primeiro ciclo do Ensino Fundamental Toten ‘luna, Eas professoras pareciam sentir-se confortdveis canal Day iome biam como aprendiz. Uma segunda identidade foi aparecendo lentamente ao or ABO de 1967 ‘ade psicdloga. Apesar de nunca ter afirm: ir feito referéncias & psicologia, diversas ofc sata formaséonen seja para pedir assessoria com relagio a questoes pedagSene = fazer confidéncias: “Vocé ¢ psicdloga, nao &? [Nao, eee Sela para Hiséria]£ mesmo? Eu podia jurar que vocé era psicéloga’. E possivel que esse jd fosse um lugar existente no ordi devidoa presenca de estudantes de um curso de Psicologia de une fon dade particular da regio, que hé alguns anos tinha um comvénie cag escola, trabalhando com alunos considerados; problematicos Sem divi 7 tanto a presenca desses estudantes quanto a ideia de que sin aes fa Psicologia me permitiria contribuir em seu trabalho eram a Van smteaiadategetsteteee como aquelas educadorasabsor re psicolégicas no interior da Pedago- sia, tendéncia que se tem verificado em termos amplos no pais. Também tema de minha pesquisa, redefinido no contexto da escola como “rela- Go ene proesorese alunos’, pareiaremeté-los picologia final- nt, essa identiicagao pode ter resultado de minha postura de owvint, intevindo minimo, evitando os conflitos, dirigindo-me mais acada um indvdualmente {que 20 grupo e, uma vez estabelecida a confianca, sendo Postiria de confidéncias e desabafos, a ponto de um professor den ao final da segunda entrevista: “Agora para mim foi uma terapia. Eu tudo o que eu queria falar, coisas que eu ja sei, mas eu pus pra for Pete. 2 fink 7 iMate um tinico professor do sexo masculino atuando na escola. Part al aampla maioria feminina, utiliza o plural ‘professoras”¢ Pro“? clui-lo quando necessério. cjonadaem nossas relagbes eraade ar vinculada a Univer- tuniversitaria e douto- 5, a reagaio idadea' cecortente 0 at0 06 CN est lecuisadora, professora Unive mim os mais dificeis eincomé los para mgo, exterioridade e desconfianca, mes rac, que se traduziam seja em Com wo esta fazendo doutorado”; “I4 fiz mas agora nao tenho mais pritica eda experiencia de divisio do traba- prcoiraidentl is wranga € a Gadas a iOvees ao ("Mew irmi amen etenato na USP € na PUC, muitos cu de Sirmagoes da superioridade da tempo): 868 0 “gs questéesarticuladas 20 tPO sobrea eon ge verifica em nossa sociedade. Io imtleca! Margo de interpretacoes c explicagoes, foi importante min rgenidade,procurar entender a que inten oettera © ars dirigindo e as consequéncias dessa professor eas professorasestavam Se as prcelaco sobre suas énfases,siléncios e repetigoes. Na verdade, cada ‘sua combinagao complexa, refletiam as contradigoes tum desses lugares € vagar acupado pelo socidlogo num processo de pesquisa como esse: sprendize ao mesmo tempo autoridade; confidente que prometiatrat-los to momento seguinte, trazendo a puiblico seus depoimentos. Com relagio a sua formagio, por exemplo, os entrevistados foram unanimes em afirmar que aprenderam seu oficio na pratica, colocando como muito secundériaa formagio obtida em cursos de magistério ouem nivel superior. Essa énfase na formagio pela pratica, na sala de aula € frente a frente com os alunos tem sido constatada internacionalmente, emespecial entre os professores primérios, mas também junto a profes- eat fe outros niveis da Educacao Basica (Dubet e Martuccelli, 1996; rife, 191 Perrenoud, 19; Le, 1996). Nos rermos reposts teense coordenada por Maurice ‘Tardif (1991), 0s profes- pijshareriiae saberes da experiéncia os fundamentos da prticae Sofamretncia profisional” econsderam a sala de aula e a interagio

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