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Leonardo Barci Castriota | _ PATRIMONIO CULTURAL CONCEITOS, POLITICAS, INSTRUMENTOS ne ue Teaco resco een ee was as Peete eee en neces » se forjaram tantos instruments para se lidar com as pre~ Tce ccm ct) Ses eae teu ny eee sec keer amento urbano e do préprio meio-ambiente. t Se ee cea TRCN ae eer neo} RO accra ntsc toe profundidade uma gama de temas ligados vee ets een teeny at ee ets ee Seer est INTRODUGAO u PRIMEIRA PARTE: CONCEITOS O fim da tradigao, a reinvengao da tradigdo: narrar e construir num mundo em transfor~ magéo 2 ‘Tradigdo © modemnidade: diferentes aproximagées — 39 Histéria da arquitetura e preservacio do patriménio: diélogos 65 SEGUNDA PARTE: POLITICAS ‘Alternativas contemporéneas para politicas de preservacdo. 81 Conservacao e valores: pressupostos tedricos das politicas para o patrim6nio 93 Vicissitudes de um conceito: lugar e as politicas da memséria . str Nas encruzilhadas do desenvolvimento: atrajetéria da preservagao do patriménio em Ouro Preto (MG) Intervendes sobre o patiménio urbano: modelos e perspectivas. Democracia e participacao: planos diretores e politicas do patrimani ‘TERCEIRA PARTE: INSTRUMENTOS Inventarios urbanos como instrumentos de conservaga0 registro cultural eos desfio do patrimOnio material Conservagio integrada erevitalizago:o Projeto Lagoinha ~ Eliminam-se aqui, de vez, todos os passados exemplares, eabendo agora ao préprio presente, que se abre para o futuro, forjar seus ‘modelos de normatividade, Aceitando, como inclica Octavio Paz, a histori- ‘rage moderna: ieee pnocimaos ‘eldade em sua forma mais radical, onde cada momento é um momento de Fuptura, separagio, a modernidadte valoriza, pela primeira vez, nio mais a »-permanéncia, masa propria mudanga. Habermas, ao analisar esse modelo, assinala ser nele 0 “novo" o traco distintivo das obras que se consideram modernas. “A caracteristica de tais obras ¢ 0 ‘novo’ que se hé de ultrapas~ sare tornar-se obsoleto pela novidade do préximo estilo”, escreve. Com tal modelo, que rejeita a autoridade normativa do passado, coloca-se, entio, pela primeira vez, claramente, o(problema da auto-fundamentagaoxda mo- demidade, a que aludimos no inicio. “(..) a modernidade nao pode nem {quer mais tomar emprestado os proprios critérios de orientagao de mode Jos de uma outra época; ela deve atingir a Sua propria normatividad® por si mesma”, escreve Habermas em O Discurso Filosifico da Modernidade.® “A modemidade se vé remetida a si propria, sem nenhuma possibilidade de fuga”, completa. Tal concepsao fica clara quando se observa, como faz. filésofo, a relagao do proprio conceito de “¢lassico”) com a modernidade. J.J. Pollit, ao anali- sar tal termo, anota que, ao lado de seu sentido histéricd, este traz sempre consigo outro sentido — o@ualitativd, que nos interessa aqui. Quando se chama de “classico” ou uma “fase clissica” na evolugio de uma arte ou uma ciéncia, usa-se tal termo qualitativamente “para expressar o reconhe cimento de uma norma de perfeigad dentro de um determinado género, luma norma pela qual se tem que julgar os objetos ou evolucées posteriores dentro desse género”, escreve.* E neste sentido que Habermas se refere a tal conceito a0 anotar: “aquilo que é modemo preserva elos velados com © clissico”. Com tal afirmagao 0 fildsofo indica claramente, entretanto, a ‘mudanga que a modernidade opera ji no priprio conceito de classico. Até lento se considerara¢lassicd tudo que Sobrevivesse ao tempd, impondo-se como um modelo normativo de perfeicao, a se(imitais Porém a moderni- dade nao vai mais tomar emprestada a autoridade de uma época passada este estatuto do classico: vai buseé-la no préprio momento em que se dé uma obra de arte auténtica. (".. recebe-o (..) por ter configurado Jum momento autenticamente moderno”). Desta maneira podemos di er que a modernidade vai criar “seus proprios e auto-referidos cénones * do que considera classico”. Com tal inflexdo no conceit podemos agora Ppermitir-nos o uso de expresses como (modernidade clissicd), como 0 faz Habermas. “A relagdo entre modernidade e classico perdeu definitivamen- ¢ te qualquer referéncia fixa”, conclu Se na célebre Querelle des Aniciens et des Modernes do século XVIII, e mesmo no Ecletismo, jé se colocara o problema da auto-fundamentagio da mo- demidade, 0 problema do belo condicionado temporalmente, vai ser na PATRIMONIO CULTURAL + Coneito,pltiens,instrumentos obra de Baudelaire que “o espirito e o exercicio da estética modernista” ‘assumem, para Habermas, “nitidos contornos”. Para o poeta francés a ex- » porineia estética da modernidade se fundia com a experiéncia historica: a Cobra de arte vai ser o ponto no qual se encontram os eixos da atualidade e da eternidade. “A modernidade ¢ o transitério, o evanescente, 0 acidental; 6a metade da arte, da qual a outra metade é 0 eterno e o invariavel”, escre- ‘ye. O presente nao vai mais tirar a sua prépria autoconsciéncia do passado = nem mesmo se opondo a ele: “a atualidade s6 pode constituir-se como ponto de encontro entre tempo e eternidade” *O ponto de referéncia vai er, a partirde agora, o instante fugidio do presente, que é entendido como "o autntico pasado de um presente que ainda deve vir", Assim, 0 classi 0 vai ser, para Baudelaire, o “relampago” do surgir de um mundo novo, que, por sua propria natureza, nao sera estético. Com tal visio, Baudelaire 4 vai traduzir a controvérsia antigo versus moderno nos termos belo abso- ‘uto ¢ belo relativo: “@belo & constituido de um elemento eterno, imodifi- civel (.) ¢ de um elemento relativo,Condicionado\.), que ¢ representado pelo periodo, pela moda, pela vida cultural, pelas paixdes”, escreve. Este elemento transitério seria i dispensdvel & obra de arte, pois, 6 ele que vai tornar “digerivel a torta divina’: sem este elemen- to transitério “o primero ele- mento seria insuportvel para a natureza humana” ** Baudelaire, como critico de arte ’ vai valorizar, entao, na pintura t ‘modema, justamente aquele as- ¥ pecto = a “beleza fugaz, efémera”,ligada ao instante que se esvai. Funda, {GoM isso, aquela afinidade entre a arte e a moda, que marca a modemid alg; na medida em que a beleza eterna s6 se revela sob o travestimento do {naje temporal, a obra de arte moderna auténtica s6 pode se dar no encon- {ro entre o efmero e o auténtico, entre o tempo e a eternidade. Benjamin, {a versio francesa de “Paris, Capital do século XIX", ao comentar o titulk do primeiro ciclo de Les fleurs du mal — “Spleen et idéal” — assinala que ai, 0 apresentar ao leitor 0 “mais antigo” como 0 “mais novo", Baudelaire di {forma mais vigorosa ao seu conceito de moderno: "Sua teoria da arte tem toda ela por eixo a 'beleza moderna’ e o critério da modemidade the par ‘f ce ser aquele marcado pela fatalidade de ser um dia antigo, e que o revela aquele que é testemunho de seu nascimento."* ‘Tale moder dieries procinagies Baudelaire, apesar de toda a énfase que dé ao transitério, ao fugaz, ao belo relativo, ainda man- tém um lugar em sua teoria davarte para 0 belo . absoluto, 0 imutavel, o imperecivel. A ruptura - 4 san e radical com a tradigid, indicada pelo ceiro modelo, fica mais clara quando analisa~ ‘mos o fendmeno das vanguarclas artisticas, que vio atingir o seu auge, segundo Habermas, no Café Voltaire dos ladaistas e no Surrealismo)" A estética da modernidade vai se caracterizar agora “por atitudes centradas numa coneepgio diferen- te de tempo", anota o fildsofo, Tal atitude vai ser, justamente, aquela apontada por Octavio Paz: a @nfase recai sobre ‘mudanga, a ruptura e o futuro, afastando-se definitiva- ‘mente a idéia de um passaclo fornecedor de modelos normativos. Tal cons- ciéncia de tempo, diferente, por exemplo, daquela do modelo historic vai se manifestar j4 no uso de metéforas como “vanguarda”, proveniente da terminologia militar e que indica a primeira linha de um exército, uma "forca de choque cuja tarefa primordial consistia na (estruigao imediata do inimigo” ** A propria imagem escolhida ja deixa entiever a relagao com © tempo vigente neste modelo. “A vanguarda concebe a si mesma como invasora de territ6rios desconhecidos, expondo-se a riscos de suxpresas, experiéncias de choque, conquistando um futuro jamais ocupado. A van- guarda precisa encontrar um caminho num territério onde ninguém ain- da parece ter-se aventurado”, escreve Habermas. O “choque estético”, preconizado pelas vanguardas como estratégia de conquista do futuro, pressup6e, por sua vez, um “elemento de ruptura convulsiva e violenta tem seuis aspectos aparentes e mais espetaculares em relacio a tradicao ou, © que vem a ser 0 mesmo, aos habitos formais estabelecidos e as corres- pondentes expectativas”, escreve Eduardo Subirats, em Da Vanguarda ao és-moderno. Habermas, em “Modernidade, um projeto incompleto”, segue Adomo ao iblilzar 06 termos {vanguarda” e “modernidad@) como sindnimos, obeer- va Peter Biirger:# Subirats nao vai to longe a ponto de pressupor uma identidade entre os termos, mas aponta a sua afinidade, Apesar de ambos, em prinefpio, designarem realidades distintas, estariam unidos intrinseca ‘mente. O modemo apontaria, para Subirats, para a diregao do novo, para @ idéia de uma renovagio constante, de “reformulagio sempre iniciada a partir do zero de valores individuais e coletivos, de objetivos comuns a ‘uma civilizagio”, Na medida, porém, em que um individuo ou uma época PAPRIMONIO CULTURAL » Conelos, potions, istrumentos hist6rica s6 poderia definir sua identidade propria com referéncia “a seu pasado, a sua meméria histérica”, a modernidade, em sua “incessante busca do novo", estaria condenada a/nao ter identidad®) O caracteristico da modermidade seria, para Subirats, justamente a “autonegagio das iden- tidades culturais objetivas e fixas, tornadas opacas”, num ato constante de nuptura e auto-superacao, Tal ato seria levado a cabo pelas vanguardas. "As vanguardas artisticas do nosso século caracterizam-se pelo rigor com que assumiram essa ruptura com o passado, em um sentido que afetava 6 conjunto da cultura e inclusive as instituig6es politicas, e afirmavam © Gov como exigéncia de uma perpétua renovagio”) conclu.” ‘Tal Gnfase sobre a mudanga, 0 novo acaba, para Habermas, por significar a exaltagio do presente: Anova consciéncia do tempo, que se introduz na Filo- sofia com os escritas de Bergson, vai além da expres- slo da experiéncia de mobilidade social, de aceleracio da hist6ria, de descontinuidade na vida cotidiana. O novo valor conferido a0. transitério, a0 fugaz e a0 efémero, a propria celebracéo do dinamismo, mani- festam 0 anseio por um presente integro, imaculado eestivel sta relagio com o tempo ajuda-nos a entender a prépria relagdo que a mo- demidade passa a manter com a tradigao. “Isto explica a linguagem algo fabstrata na qual o vezo modernista tem falado do ‘passado’. Apagam-se ‘08 Componentes que distinguem as épocas entre si", escreve Habermas. A memiéria hist6rica é substituida pela “afinidade herdica do presente com (64 extremos da histéria: um sentido do tempo no qual a decadéncia se teconhece de imediato no barbaro, no selvagem e no primitivo”. Walter Benjamin perguntava-se, em 1933, em “Experiéncia e pobreza”: “(..) qual 10 valor de todo 0 nosso patriménio cultural, se a experiéncia nao mais 0 * Vincula a nés?”* A “horrivel mixérdia de estilos e concepcdes do mundo do século pasado” tinha mostrado com clareza “aonde esses valores cul- turais podem nos conduzir”, escreve ofildsofo. Assim constitufa-se “prova de honradez, confessar nossa pobreza” e proclamar 0 surgimento de uma “nova barbarie”. “Barbérie? Sim. Responclemos afirmativamente para in- troduzir um conceito novo e positive de barbaric, Pois o que resulta para © birbaro dessa pobreza de experiéncia? Ela o impele para a frente, a co- megar de novo, a contentar-se com pouco, sem olhar nem para a direita hem para a esquerda. Entre os grandes criadores sempre existiram homens implacveis que operaram a partir de uma tébula rasa”, Fazer ‘tibula rasa’ do pasado, comegar do nada, criar seus préprios modelos — tais eram as tarefas que se colocavam para os ‘novos bérbaros’, as vanguardas do inicio ‘Tighe modernidade: diferentes aproximagten do século, Marinetti, em 1909, no “Manifesto do Futurismo”: “Nos quere- ‘mos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminis- mo e todas as covardias oportunistas e utilitérias”. Ou ainda: “Admirar um. -velho quadro é verter nossa sensibilidade numa urna funeritia, em vez de langésla adiante pelos jatos violentos de criagdo e agio. Voc® quer portanto estragar suas melhores forgas numa admiracao iniitil do passado, do qual * voc® sai forcosamente esgotado, diminutdo, espezinhado?"® Esta revolta contra o passado nao é geatuita, servindo a um propésito bem determinado: com ela a modernidade tenta se libertar das “fun malizadoras da tradigio”, como escreve Habermas.‘ “(.) [a modernida- de] vive da experiéncia de se fevoltar contra tudo que é normativé) Esta revolta é uma maneira de neutralizar padrdes tanto da moral quanto da utilidade”. A estratégia para tal: um “jogo dialético entre recato e escin- dalo pablico”, que leva a utilizagao de diversos elementos de provoca¢a0, de ruptura, como as metaforas beligerantes e as ages agressivas. “Basta recordar, a propésito, aqueles grupos de artistas como os dadafstas de Zu- rique e Berlim, os futuristas do Norte da Itélia ou os cubistas franceses que, em suas agdes e manifestos e, sobretudo, em suas exposigdes e expe- rimentos formais, assumiram a provocagio e o escandalo como finalidade artistica”, escreve Eduardo Subirats, que ilustra Sio incontéveis as passagense citagdes que coincidem neste ponto: a apologia da bofetada por Tzar, 0 canto Nviolencia, 8 agdo destrutiva e desapiedada dos f= turistas, o quase-cullo 3 estética do ‘espanto! que um. tritico como André Salmon eelebra, 0 prazer ambiguo pelo chocante e monstruoso, confessado por Charles, Morris, owa stistacio pelo caraterestupefaciente que © pintor Gleizes asinala em suas conferéncias sobre 6 cubismo2* ‘As vanguardas ea retomada pés-historicista do passado Feghando a primeira parte de “Modemidade, um projeto incompleto", Habermas tenta mostrar como a relagio da modemidade com a histéria = que denomina “pés-historicista” — ultrapassa a simples negagao abs- trata: “O espirito moderno, dle vanguarda, tem procurado em ver disso [da negagdo abstrata, do a-historicismo] utilizar 0 fpassado de modo divers, servindo-se daqueles passados que se tornaram disponivels pela erucligio ‘objetivante do historicismo, muito embora simultaneamente se oponha & Historia neutralizada que se encontra encerrada no muset do historicis mo” Para isso utiliza-se do conceito benjaminiano deVetztzeit {tempo de PATRIMONIO CULTURAL « Coneito,plten,istrumentos agora), onde temos uma proposta de re-apropriagio da tradicio semelhan- fe Aquela que Habermas detecta nas vanguardas, Benjamin desenvolve tal gonceito em 1940, ainda sob o impacto do acordo entre Stalin e Hitler, ten- tando, com ele, contrapor-se aos modelos de relagdo com a histéria que Ihe pareciam vedar qualquer possibilidade de agio humana transformadora, Benjamin nio se rebela apenas contra a normatividade tomada empres: tada de uma compreensio da historia caracterizada pela imitag delow”, escreve Habermas em Der philosophische Diskurs der Moderne, “ele também combate aquelas duas concepgdes que, jé no terreno da concepgio moderna de historia, interceptam e neutralizam a provocacao do novo € do absolutamente inesperado”.** Com tal conceito Benjamin combateria io de mo- faquela “degeneracéo da consciéncia moderma do tempo, aberta ao futu- 0", representada pelo evolucionismo, onde “o progresso se coagula em forma histérica” e, ao mesmo tempo, pelo historicismo, que, com sua série de passados tornados disponiveis, cria uma "imagem etema do passado” Habermas explica: Por um lado ele se volta contra. a idéia de um tempo hhomogéneo e vazio, ue é preenchido pela obtusa f no progresso, propria do evolucionismo € da flosofia da Fistoria; mas, por outro, também contra aquela neutra Tizagio de lodos 0s critérios pratcada pelo historias, quando confina a historia no museu € deixaa sucessi0 Ae fatos escorrer entre os dedos como um rosirio® Fim lugar dessas duas concepges imobilistas, caberia a0 historiador mate- rlalista, segundo Benjamin, estabelecer uma “experiéncia” com o passado, 6 te-apropriando de seus contetidos nao-realizados e, com isso, “salvan- 0.0", "redimindo-o”. O modelo de tal re-apropriagao Benjamin acha, por ‘exemplo, em Robespierre, que, encontrando um pasado “corresponden- fo” na Roma Antiga, toma posse dele e, redimindo suas expectativas nio realizadas, subtrai-o ao continuum inerte da hist6ria. Benjamin, Tese XIV: A histéria & objeto de uma construgdo cujo hi o tempo homogéneo e vazio, mas um tempo satu- rado de ‘agoras’. Assim, a Roma Antiga era para Ro- bespierre um passaco carregado de ‘agoras’, que fez explodir do continuum da historia. A Revolugao. Francesa se via como uma Roma ressureta. Ela citava ‘a Roma Antiga como a moda cita um vestuério antigo. ‘A moda tem tum faro para o atual, oncle quer que ele ‘esteja na folhagem do antigamente. Ela é um salto de tigre em diregio ao passado, Somente, ele se d4 numa, arena comandada pelas classes dominantes. O mesmo alto, sob livre ou da historia, ¢ 0 salto dialético da Revolugio, como o concebeu Marx. “Dag ¢ manera eres proximation Habermas esclar to: "Tal & 0 conceito benjami- e esse con iano de Jetzizeit, do presente como momento de revelagao; um tempo em que as farpas de uma presenga messiainica se en- redam, Neste sentido, para Ro- bespierre, a Roma Antiga foi um passado prenhe de revelagdes ‘oportunas’ E neste pode estabelecer_ um paralelo ntido que Habermas entre essa re-apropriagao da hist6ria — messianica e baseada no proprio presente — proposta pelo coneeito de Jetztzeit e a re- lagao que as vanguardas man- tém com a tradigdo: “Como ele [Benjamin] tenta paralisar, com um choque produzido surrealisticamente © continuum indolente da historia, também uma modernidade volati da na atualidade, assim que atinge a autenticidade de um Jetztzet, deve criar a sua normatividade de imagens especulares re-evocadas do passa- do”, escreve.* Estamos, porém, a milhas de distincia do modelo histori- cista, coma a observacio de Habermas que se segue, deixa perceber: “Es [imagens especulares re-evocadas do passado] nao si mais percebidlas ‘como passados exemplares por natureza’” Modernidade e monumento historico Vai ser, entio, apenas no ambito da modernidade, com a peculiar relagio que esta estabelece com o tempo, que vai poder aparecer uma idéia como a dg “patriménio cultural”, que pressupde, como veremos, uma relagio reflexiva com o pasado e com a tradigfo.)Frangoise Choay, numa obra Ji classica, A Alegoria do Patriménio, também identifica a emergéncia do a da modernidade, apresentando a flogio ea patriménio com a emer trajetéria do pensamento e das politicas de patrimonio desenvolvidas des deo século XVIII no Ocidente, com base numa distingéo fundamental en tre “monum| uma “invengio” moderna e européia, Ao propor esse caminho, a autora to” e fmonumento histérico”, sendo este ultimo justamente

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