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carlos Zacarlas de Sena JGnior, Demian Bezerra de Melo Gilberto Grassi Calil (orgs.) CONTRIBUIGAO A CRITICA DA HISTORIOGRAFIA REVISIONISTA CONSEQUENCIA (©2017 Dos autores ts destaeigio resevados Consequéncia Eaitora Rus Alkntara Machado, 36 sobreloj 210 Centro -Cep: 20081-010 lo de Janeiro R)- Brasil Contato (21) 2233-7935. ‘edconsequenciadiora come woww.consequenciedtora.com be “Todos odie notodoo reservados. A teproducio ni aa pre, cona tad desta publicaio, 11 09.6108), Coordenagtoedtorial CConsequtnca Eaitora CConsho torial Revisto Osorginizadores Capac proto grifco Lata isagem Diagramagio Raphael Botelho de Moura Imagem de Capa ‘Quado de Childe Hassan, 1902 Dados itemecionais de Catalogagio-na-Publicagse (IP) Gilberto Grassi, Int. SUMARIO Prefécio mi mnt 7 ” 4 79 ua UNDA PARTE. Revolugdo e Contrarrevolugdo A suspensio da ideia de Revolugio na contemporaneidade. O.caso portugués 3 Mi uel Loffe Luciana Soutelo “teen meer penerpneergeepeyeewere ‘cONTPIBUCAO ACRITICA DA astro capy Re So nia e 0 peso das formas de Juta por hegemor con sobre ela. A do estudo do discurso, suas formas de pro, ica, Através ; muito rica ‘mos tentar verificar os caminhos desse disc -40 poder . 2 aise ada rsa mora itletal A inp rte da sociedade civil, Portanto, ao entende-l, 8ens9 § dio 'UTSO ag sa Dessg ost Por mais que preze para sia ideia de quarto ade imprensa ¢ de f,, tom agente do processo do desenvolvimento do capitalism. A inp ‘olhe seus interlocutores © porta-vozes, Sendo uma ciénes politica conservadora um dos principais, funcionando como auxiiare Mo discurso difundido na grande imprensa. Os historiadores tem sig secundirios nesse processo. Nao tem importaincia, jé que nos process, de transigio estavam ocupados a estudar 0 passado, no se debra sobre o presente vivido, que seria campo da imprensa e dos cientistas sociais, obretudo os politicos. ssa articulagdo se observa no Brasil da t parece presente na Espanha. Os cieni cos que ajudam a forjar a teoria da transigéo para a Améri sitam nesse amplo espago jornalistco. A hipdtese é que isto tem conscquéncias processuais para a forma com que vinte anos depois uma parte da historiografa busca “reescrever” uma historia que ela nunca tinha chegado a escrever durante a ditadura, E dai, suas referencias sao justamente os sujeitos que influenciaram na transigdo, tanto jornalistas corao cientistas politicos, que contribuiriam para a escrita de uma di amenizada e que ajudaram a colocar no esquecimento as ditaduras, mas junto com ehs, qualquer possibilidade comunista, que est io, e também nos if Este é um pano de fundo para a permanéncia e disseminagao dessts Sa oe século XXI. O anticomunismo vazio, que transfigu one Péctos. Serve perfeitamente para dar espaco a retomada Posigdes fascistas, que negam a ideologia. Seria também u negacionis A Scionismo de qualquer experiéncia histérica comun ve jevisttanda 0 fascismo: mo e a relativizacao do conservadoy mo o revisionis reiama Siva Poggi Figueiredo ste texto busca apresentar algumas discussses em torn da traigio revsionista sobre as experiéncias fascistas na Europa, Nossa proposta omsistird em observar em que medida um conjunto de anilises e jnterpretacoes surgidas no contexto da Guerra Fria sio resgatadas e veconfiguradas pela historiografia revisionista em seus estudos sobre 0 fascismo a partir do final dos anos 1960. Iniciaremos o debate com os apontamentos de Furet sobre a origem ia e do terror politico contemporaneo, argumento contido de forma embrionaria na tese do totalitarismo, e que contribuird para a depreci itimagao politica de movimentos no campo da esquerda, Seguiremos com uma discussio acerca do caréter inovador do fascismo, viés analitico também surgido nos debates Fria, ¢ resgatado pelos recentes estudos culturalistas sobre fascismo, que destacam a natureza moderna e revolucionéria do movimento e do regime em sua Ansia por criar uma nova sociedade e um novo homem. Por fim, abordaremos a querela da responsabilidade civil edo consenso a partir da problematizagao da ideia de zona cinzenta. Os anos 1960 foram por certo tempos interessantes social € academicamente. Esta década foi atravessada por intensas lutas dos mais variados grupos sociais, organizados em movimentos e associagoes igualmente diversos. Foram anos de luta, anos de conflito, anos nos Quais teorias e pensadores afinados com a critica social ganharam Sspaco e difundiram suas ideias, influenciando 0 mundo para além dos muros da academia. Nesse contexto, as ideias de confit, luta ¢ enfrentamento estavam intimamente associadas ao caminho em ise “emancipacao, & conquistas de direitos civis e sociais, & conquists ¢© 193 (CONTRUGAD ACRIMICA Da *STRog co Aen, mais liberdades, Tempos de esperanga, mas de uma ¢ it 5 fe er anea my, através de muita uta; uta contra os grupos sociais que se bene om a manutengio ou mesmo Fetrocesso da estrutura soe nan se recusavam a fazer novos acordos, e luta contra ideiag « weebete, respaldavam e promoviam os interesses desses grupos, i85 que Osanos 1960 foram tambéma década do hascimento do revisig, uma tradigdo intelectual conservadora, comprometida coy, as ideias de dominacao, luta, conflito € revolucio, entendendo.a. ca mals como camino que leva a conquistas €& emancipacig, ne ® his caminho para servidao, desordem, violéncia e terror; yy somo. i ke 'Ma estrada ny contramao da esperanga, em diego a0 medo ¢ & destruigag Assim, o revisionismo dialogae se contrapde as teors engajados com a ci marxismo, a escola dos Annales, a teoria critica d @ teoria da dependéncia etc. A sua forma, essas escolas produan leituras socials dos processos historicos, ressaltando a importing Participasio popula, bem como a desigualdade e a exploracio sofife Por esses setores. O revisionismo vem justamente oferecer uma outa chave explicativa para os processos histéricos; ‘menos apaixonada sem engajamentos polit visio portanto, mais objetiva. 12S € Pensamentos S Sociais como g los Frankfurtianos ma chave descrita como cos declarados e, em sua Os novos sentidos da Pevolugao: revolucao cums caminho da Servitao e do terror Os primeiros autores da Revolucio, historicos mais revisionistas debrucaram-se sobre o tema em especial a Revolucéo Francesa, um dos processos relevantes do mundo contemporneo, no qual os homens viraram © mundo de ponta cabega, parafraseando Christopher Hill Francois Furet € Alfred Cobban foram os grandes nomes da “viradt Politica” na interpretaco da revolugdo francesa, Cobban foi o pion 10 resgate do cardter eminentemente politico da revolucio, cntands debate revisionist, influenciaram muitos autores ana tR aiminasio da pessoa jurica do ser humana, eye Ms com a ‘ ; « . etc perspectiva, Aparte as diferengas pontuais entre os autores ng 8% direitos civis e protegoes leg indo-the todos os 4 definigio do conceito, vé-se tanto em Origens do totalix © tocanie Alijados da comunidade politica, segue-se em Totalitarismo, dit ltarismay » SEBUE-Se 0 assassinato Arendt ea Hs : ditadura e autocracia de Fisdn social, quando certos grupos humanos sio socalmen poet e Braezinskie Democracia ¢ Totalitarismo de Aron uma defosade ‘rornando centenas de mihares de seres humane. sae s, uma vez que observavamn desterrados, proscritos € indesejados, enquanto ore regimes uma i assado, ets tornava milhoes de outros economicamen ae : te supértluos e socialmente oneros0s'” Atomizados 0s individuos, mergulhados na soidze nes profunda, desnorteados em meio a um aranj politica socal qu arrebenta as fronteiras entre o legal e oilegal, poder leg ATA uma nova sociedade omen, transformand, Nao ha dividas de que os movimento: ccalmente que qualquer antigo partido revo radicalism, aparentemente tao inadequ: sua organizagéo proporciona um su 8 qUO mais a W-8e a0 luro dee Aron foi um grande aprectador da obra de Arendl, escrevendo inclusive uma resenha bastante elogiosa ao livro Origens do totaltarsmo em 1954." Apesar de algumas divergencias - concernentes a rel ntes com o partido; & base social dos movimentos ico e alemio; e diferengas de inspiragio ideolbgica co entre fascismo e comunismo - 0 conceito de totalitarismo de Aron reitera os elementos essenciais da definigio arenditiana, validade da aproximagio-entre-nazismo-e:salinismo, ivo : -totalitésios, a Portanto . niovidade da era = eee é Tha, Original etnico em sua “tentativa de alterar a propria natures © regime 0, tal como 0 re dos seres humanos, ou seja, nao apenas pluralidade co, espontaneidade” fabricar uma nova espécie, eliminando an mo também qualquer possibilidade 4 0 campos de concentragao seriam uma experiéncia sem o monopolio da act ; 11 animado de uma ideologia revolucions - simplesmente a vontade de transforma radia ds aventendendo "ARE: Hannah Origens do 1 7 Mem. psig. OTBenS do Totatarismo, Sao Paulo: Cia das Letras, 1989.p417. BRIGUEIRO, Raphael 94 moetnidad essere lites e revolugdo no pensamento de Hannah tee? ras Converge tio, 2015, p.i85, : Plis-Graduagag. PUC eal CCONTHIBUICAO A.cRTICA Dn MSTRRRAey S, Os regimes néo se tornaram totalitirios por uma espécie d ‘mas sim a partir de uma intengio original: a vontade de trans mente a ordem existente em funcéo de uma ideologia,'* fe treing Pro formar funda fsseendmenoteroriaésem precedents na stra moderns qu, dents em oda stra humana. (.)O objetivo com que oteronsnn set Ce tifcava era ode rir uma sociedade inteiramente conforme gn Svc, mid que no caso hitesanoo objetivo & pura esimplesmente a exerminase ee Desse modo, os ren que tras ¢ idolatra 0 pasado, ‘er Cont SO eS" projeto de wet retdrica e forma de fazer politica e, por isso, €M sua Visko, poderia sr caracterizado claramente como revelueionéyi0. so da Histéria comega subitamente de um n ramente nova, uma Historia nunca antes conhi rolar, era desconhecido at 1a Historia int eesti para se desen ara a compreensio das revolugées da experiéncia de um novo comeco sejam coins A chave esta no si ignificado de ruptura qual a teriam comprometi elementos centrais no exercicio da livre - Sactificadowno-altaras igtaldad. dem. ibidem, p. 307-308, ‘ARENDT, Hannah. Da Revlugto.Sdo Paulo: A aquase que apenas local.” pobreza € mais do que privagdo, & um estado cons ria, uja ignominia consiste em sua forga desuman, que submete os homens a0 impétio do absolute d absoluto da necessidade, como todos os homens riéncia mais intima independente de todas as en sa necessidade que a multidio acudiu a0 apelo impulsionou-a para a frente e,finalmente, dlos pobres.(..) Foi a necessidade sungentescarenene fe o ero vou a religion. (Niece ante de carénciae aguda misé. inador 8a pobreza é abit, pop. le seus compo nie conhecem apa eculagGes, Foi sob da Rev de sua expe 6 dtame des lee da, por tempo suficiente para fazéslos perder o "momento revolucio mudara de rumo; ndo buscava mais liberdade, seu ob a felicidade do pove." do caso francés, em especial durante o ano Il, a libertagao da pobreza superou a liberdade politica; 0 paradigma da pol paradig igualdade social predominou sobre a diversidade e a divergincia. Por isso Revolucao Francesa é entendida como um projeto que desandou, otsmelhorsiracassou. Segundo a interpretacio de Arendt as promessas da revolugao se perdem em meio ao proceso, 0 povo em sua luta, desesperada pela superagdo do reino da mecessidade poem tudo 2 Ja. a Revoliexe@rAnTerieaiMa, processo no qual o politico predominow Sobre © social, é=parasArendt=uma=experiénciashistorica.de,maior sucesso, pois garantiu a liberdade, ou seja, B . ‘a conseguido criar espacos para o pleno exercicio 0. A revolugao americana - so Frances com a mie a desastrost da Reveoo Faces 9 8 ismo. A dedugio légica era de aque alberdade se - ConTmIBUIGAO A cMCA Da, Hs THOS Ay thor nos paises onde nao se desencadeou nehuma revolugag” cu, pelo menos, onde esta tenha sido derrotada,!s s francés, mete aaa, i Jo menospreza contetido social da rey) Tal interpretagéo m : Fevolucdo, : como 0 m Uma ver a s ia. Um py Fi : roces: tradicionalmente expressou 0 arquétipo de revolugao no Oaat® ci ¢ um legado que inspirou tantos processos de emancipacig i a s : . coms antesala dotersor-e.da.opressio. A conclusio do fracasso aie de uma revluci social ¢ com ela se esvai também todo seu ga movimento iesisivel que impulsiona multidbesasesublevaren eo a opressdo, a injustica e a desigualdade; torrente de Paixdo na aa de aleangaraliberdade a farturapara todos e por que nao, a eeder OnquenArendte-AFORTOS"apreSEATAM de fundo & umenow icorado em uperestruturais, CO" politico Permanecenr-no=potler e seus interesses nv si0 ameacados. Ao Contrério, o fascismo abriu muitas portas ao grande capital, em especial a0 setor bancério e as grandes indiistrias petroquimicas Assim. 0 sentido de revolugao para Aron € Arent é hastante diferente daquele usado por autores do campo da esquerda, entendendo que el superpestrutural sao ja por demais tadiceis=portantO-FeVolucionarias. Como entao definir projetos ¢ Processos que promovem transformagées profundas e estruturais? Para esses autores, literalmente, nao ha palavras. Outro conjunto de autores que iré caracterizar © fascismo como Fegime revolucionétio, utilizando tal vocabulo como designa¢i? Revolt tempore nismo historico e anatemizagio da ‘ historiografia: uma critica do revisionismo co" Janeiro: Contequencia, 2014. 56° , Demian (or eo Seman (OR). A miséria da OFASCISMO OREVSIONISMO EA La ys000 "ACAD BO Conse evs! ONstRCeA 201 axplicita, serdo os defensores da teora do ase terceira via teve menos repercussio no d ese da 10 debate sobre o f fascismo atese do totalitarismo, sendo de fato mais Popular Na reapropriacio te feita por Anthony Giddens paraexplcarastentne rmacbes SMO como terceira via, 4 que trai rece 9 pesentes do trabalhismo inglés” De quer fama: ma fore o cater revolucionrioe moderns do fxismo mie hye gemamencio da contibuigd importante desahiptee Auge somo conceituada pelos socidlogos norteame anos Sey mOPNEFh ‘aniel Stone Pr « 20 ‘comunismo; uma outra forma de organizacio social que fosse capaz de superar os limites e crises do capitalismo liberal, em resvalar na igualdade social e no ataque as hierarquias, Propostos pelo comunismo, (O novo sistema estaria articulado em torno da nagdo e da raca, Essa proposta, assim como a tese do totalitarismo, se insere no debate sobre a ideologia do fascismo, Teriae fascismoumarideoiogin prépridepacticular? SCrRMeSte-algo"Completaniente HO Et FAO de pensamento e pratica social ou uma vertente autoritéria do capitalismo? Os trés expoentes dessa interpretagdo reafirmam explicitamente resignificando conceitos ss : 4 4 os eetransformagiio. propostos pelo movimento e posteriormente pelo a regime, A revolugio em seu entendimento era em realidade um 4 vee que revolugio conservadora™, nacionalista em seu émago, uma vez q erin i So Ps: Us 0 spends Stoo deur svar ee ae ral sobre at FALCON, Francisco José Calazans. (orp. Fascismo: conceitos e experi CoNTHOUCAOACHTICADA HSTRCGRA ey Ory 202 secomprometida com a sociedade como um todo eng o jeirarmen verdad seja 0 empresariado ou 08 Setores subordinay lo, apenas com parte dela, aici 40 conservadora seria o tini : ‘Nesse sentido, a revolucao con Co arranjo copy de superar os cots ¢ as contradies, razidos em principio pg Ai aatsmo e ela propria revolucao burguesa em suas demandas py igualdade civil participagao politica. A ampliagao da participacio, purtir da inclusio politica de novos elementos com ideias variads por ventura divrgentes, promoveriam fraturas istras, enfraquecends 4 unidade politica e social da nagio. O direito ao livre debate ¢ 3 livre manifestagdo comprometeriam a forga e a unidade do colety, fomentando cearas, desentendimentos e conflitos. Democracia e socialismo seriam tio somente a exacerbacao dese process, estimulando ainda mais os conflitos, ao invés de resolvé-los, O resultado dessas falsas revolugdes, em sua visio, no poderia ser outro senio a decadénciae a crise que haviam se instalado na Europa do entreguerras Olhando de perto as andlises desenvolvidas por bipsetPrestonre Cole, nota-se uma forte semethanca com os discuirsis de épaca, ou sei suas explicagies sobre o-fendmeno-parecem quase que reprodugses dosdiscursos-dovfascismorsobresstomesmo. Comparando trechos de discursos de Mussolini proferidos em 1922 com as anilises dos autoresé Possivel perceber a argumentagio é construfda na enata mesma diresio. Apresentamos primeiramente a fala de Musso ‘Teremos um Estado que fara esta simples decla um partido, o Estado representa a coletividade n: ‘is de todos, protege todos e poe-se contra quem qu meee escndvelsoberania’..) Um Estado mnipoténcia, da defunta omnipoténcia soci 0: Kstado ni representa fe todas, esti {que atente contra a como o liberal... um Estado’ A seguir os trés autores, um movimento revol te desfavorecidas “dinar hacionalista das camadas médias econ 'sido quer contra o coletivismo e o internacion™” ito A monarata nfo 1. Oper ntresse em hostlzar o fscismo, Udine 1922 Pe re vSONSHOE ARELATHZACAO DO COnsADORSA jqnt00 OFNSCMO een 203 sno marasta quer contra as fendEncias da socidade eapialis para con centragae jg fascimo é] um movimento da classe média qu representa um protest con Poort care ee grandes sindicatos.” fascism no foi uma nova forma de capitalism imperialist, mas, pelo con oes doutrina e um modo de vida inteiramente diferentes, una teria oa ae opaa quer a0 capitalismo parlamentar quer ao scalsmoeaocomunis- aN" Uma terceira forga que tinha o seu principal motor na pequenaburgusia que ie violentamente adversa &s ambigBes igulitrias da classe opera e que tinha Sido duramente atingida tanto pela crise econémica como pela fata de empregos ‘de um certo nivel e que comportassem prest Como podemos perceber nos trabalhos de Lipset, Preston ¢ Cole imperaasforga.co.discurso.incutido.na fonte. Ao trabalharem aofontenesta.ganha vida propria, transmutando-se na analise em si_ ¢ retirando dos pesquisadores seu papel de agente no exame ¢ na reflexio sobre 0 material documental. Reproduzindo.os.discursos anticapitalismo s de ‘opressiore-exploragio, em prol de uma suposta harmonia apregoada pelo sistema. A esse respeito concordamos com Marx quando afirma que, para se entender uma época, nao basta atentar a0 que os homens dizem de si mesmos ¢ de seu mundo; é preciso considerar também suas Praticas, a aco social. O=diseursomndorescusarananilise ¢ isso nao quer dizer de modo algum que nao se deva dar valor a0 discurso ©u que tomamos os oradores, as testemunhas de seu tempo, por °portunistas ou hipécritas. and practice under cap 1 FELICE, R-op it. p38 “ymour Martin, Luomo ela poli E, R.opeit.p.148, D.H. Storia del pensiero socialista V: socialismo ¢ fscismo “pud FELICE, R. op cit. p.66, 31-1939). Bar, COLE, G, 6kp7-6 CCONTEUIGHO ACATICA DANITRIOGRA A pe, Wy 204 : ‘além dele, podemos ainda destacar ese do totalitarismo: aconstrugio do consenso em tong y. nat n ; cael probleméticaresgatada e resignificada pap io regimen Ess sera urna outa. a onismo em um debate ainda mais recente, r ‘Aproblemética do consenso em Arendt ‘os como a problemitica do consenso aparece em Arendt Vejam Segundoa filésofa, umatransformagao.detal magnitude,como esta ancorada em um forte consentimento simbidtica com.um lider salvacionista ¢ onipresente. A questao de fundo aqui € como.esse.consenso,é.construido, qual a sua base. Para Arendt, ototalitarismo é um fendmeno da sociedade de massa, fruto de um processo gradativo de isolamento ¢ d igamento do homem piiblico, do cidadao, persona civica e politica, que se inicia coma Revolucio Industrial, se aprofunda com o imper ¢ finalmente, se tornaccrtico com a crise do entreguerras, O homem massa é um homem atormentado pela solidao, fundamento para o terror. O totalitarismo Promove a morte em suas variadas dimensdes, a comegar pela morte civica e juridica, seguida da morte social ¢ fisica. As primeiras sio aa os habitantes, perseguidos ou nao, e relerest cymbers¢ ets civis bisicos de livre expressio, eatin oc tao pica, direito de defesa, direito origin! eos ea uigdo. As mortes social efisica tocam me eae eae aits pois envolvem o dreto insergao social xésico de todos, o direito a vida, & existémc® Foresse-penser-que.o. consenso-das-massas-tenha.emergida!? © dos me i ; 0s de comunicacio, sedueindo-umarpoptagto-fragilizad © aleita 20 ra cismo, Ou ai Ouainda que o consentimento fosse filho do me yo.0 REVBIONEHOE ARELATOZAGA D0 Conse ACOA 205 incutindo 0 Em Arendt.tudo.isso.contribuiu-de-fato, mas o-fator voameniorprofende de-faltade.perspectiva e entendimento da conexio mnenunidade politica €com outro deforma geal. A exacerbago com ae da morte em tantos sentidos feadesse homem umimpotente, vivo; morto no pensar, MOrto no agir, conectado apenas com um morte” * rm | destrigio dos direitos de um homens, a morte de sua pesos juris, acon Ac primordial para que sea inteiramente domino, Eso no se apis apenas jas especiais, como os criminosos, 08 oponentes politicos, os ju 5 (com 0s quais se fizeram as primeiras experiéncias), mas a lo Totalitério. O livre consentimento um obstéculo a0 |. como 0 é a livre oposigao. Como podemos perceber, para Arendt, o-consentimentonnioné 5 ao dominio total, como 0 ¢ a livre oposigao”” E sim uma obsticu construgio do regime, mas desespero ansolidai - visando fortalecer.a.anestesia, social mais que qualquer coisa. Para além do bastante controverso conceito de mass: a, a proposta de Arendt para entender 0 de seu papel de Sujeitosedashistétia, Quem sio 0s artifices dessa histéria? Certamen's nao as massas; homens-massa.ndo.fazem hist6ria, S40 levados por ela. ‘mo da massa, dos homens comuns, dos setores esta.o Estado, atuando ios que conseguiriam ia de grandes Retirado 0 protago Populares e de boa parte das camadas médias, comosujeitore os grandeshomens, fortes visionari éscapar is prises da solidao da modernidade, Uma histo homens e seus grandes feitos. vo, $80 Paulo: Cia da eras 1989502 CONTREUICAD ACRNCA Da sy 206 moO oy O legado historiogrifico e, portanto igualmente politicg ¢ a difusio de uma interpretagao da transformagao hist6ricg cal mnt iy social nessa diregdo e sentido é profundamente conservayer ang anti-moderno, pois completamente descrente do. homem % bei g sujeto ativo, racional e empoderado, dotado da capacidad, any sentido e construir sua realidade social. le dar Esta crelo ter sido a verdadei vitéria intelectual dos neo berais do an, herdada por seus correligionarios do Gltimo quarto do século XX: ter ne = ‘de mudanga sociopolitica impulsionados pela pat ipagdo das masts cong de manipulagao de verdadeiros pro! ogo ca, langando, is, sim, a suspeita sobre a espontaneidade, a repre detode ama zacio sociopolitica: Orevisionismo: resgate culturalista do fascism como fendmeno motierno @ revolucionario e os novos significados do Consenso Ao final década de 1970 e com larga expansa nte Os anos 1980 €1990,0 debate sobre o cardter dos regimes fascistas direcionou-sepaa © campo da cultura. Nesse periodo comecaram ir uma série de trabalhos, apontando paraos'“limites” de uma hist tradicional sobre os fascismos, demasiadamente centr 1s transformagoes Politicas, no contexto do pés-guerra e na crise da c mo liberal Um conjunto expressivo de pesquisadores, dentre ais destacamos Emilio Gentile, George Mosse e Zeev Sternh esses aspectos nao so suficientes para exp ¢ reforgam a importincia da cultura, das represemtagdes e prices Simbdlicas, dos mitos ¢ do imaginério coletivo para construcio do movimento e vitéria do regime. vem considerado que © fendmeno fascista : ‘ io recentes Abordagens culturais do fascismo nao séo exatamente tao recem . : 0 Quanto anunciam os novos autores da renovacao cultu rabalhos com i 5 tf A Psicologia de massas do fascismo de Wilhem Reich, Fascismo e Crt “LOFF, Manuel, opit. p.62-63, NT FASCIGMO O REVISIONSHO E A RELA eo000 "ACO 0 cotgenaooneuy 207 Capital de Daniel Guerin, Medo i Liberdade ge Erich Fromm easmems go lésfo Victor Klemperer publadss sch gn Me src Reich foram os pioneirosnesse campy ‘ainda na pest aid ef Reich estabelecen' um complexo ditlogo entre May e Fr ie entender 0 comportamento dasmassasina Alemanhe nazista, a inde a vitoria do fascismo a confits psicosscias derived de aie impostas pela eivilizagdo burguesae da intojsio deans concepete mecanicista de vida, Fromm parte de um estudo sobren condigio do indviduo a moderna socledade capitalist pars devendarum de enfraquecimento do senso de pertencimento a una comme Rompidos os vinculos primérios que trazi n ‘iam seguranca ao individuo, sentimentos de solidio ¢ impoténcia levaiam o homem moderno a se entregar a mecanismos de fuga como forma de superacdo de sus condigao. Guerin enfatizou que, Para além da relacio crucial entre 0 regime e 0 grande capital, o sucesso do fascismo est na politica do espeticulo, nos aspectos simbélicos, linguisticos e na mistica trais na mobilizagdo e excitacio dos setores populares, A ibolos e mensagens subliminares do nazismo foram investigados, ainda que em condigdes bastante adversas, também por Klemperer. neio 4 sua luta diaria para sobreviver & perseguicéo do nazismo, esse filblogo e critico literdrio deixou registrado em seu di m estudo minucioso da linguagem e da propaganda demonstrando como projetos politicos e socais, mesmo transformagdes comportamentais, podem ser alcangados através de estratégias discursivas. Fle analisa como certos vocdbulos, expresses ¢ conceitos foram naturalizados,internalizads pela eptigdo macio8 tiveram seus sentidos deturpados e completamente resign esr ideologia fase nda assim, os estudos culturais sobre faci fascista, linguagem, io da époe: itavelmente, as Vieram a se popularizar recentemente, ober lamer la de 1930. contribuigGes dos interpretes pioneiros da déca 5 cowmeucko Ace =e 0 trio composto por Gentile, Mosse e Sternhell & re de uma htoiografia recente que se destaca ng ne popularizar a abordagem cultural, mas por produzi-la + pare um refrencil conservado, 0 revisionismo. De forma ger't de vio enfatar 4 natureza moderna e revoluciondia de get reaquecendo a hipdtese do ineditismo da experiéncia recy: a nas teses do totalitarismo e na tese da terceira via. Bscq Tevolugae conto, seria ume revolusdo conservadora ¢ teria suas rages movimento cultural de revota€ desilusio com a modernida tomou a Buropa em fins do XIX. Além disso, os trés indo se dene uo das elemento ideolgico, suas origens,infuénce fsciio exrdo pelos simbolos e representagées do facionn’¢ imsginii oe, A interago compexa entre aida de eva conservadora, MO agressive € 0 uso efi cultural garantiu apoio popular, cimentou o fascismo um m lento de massa. Preseny da miquina senso, fazendo do entender os ‘lado com os irecionados p oderia se perder *ordenada, Esse papel é explosdes de lerangas, atuando € pelo processo expresso por w andeiras, cionado a tsoradas através da pore : € da repe tcnicas que foram us 190.0 REVSONSHOE AFELEINEACH0 Do can econo 0 2 ConSEBMecRan 209 tii uma religto civ igiosa* (0 fascismo faz renascer 0 conservadorismo, pusca pelas tradig6es nacionais, pela restau a dativamente fragmentadas na modernid, 'das massas, Teascendendo aio de ligacbes pessoas, rdernidade,¢ pela necessidade de » Mosseconsideraomovimento vitoriso, tinico ¢ revolucionstio em sua capacidade de moty sedugdo ¢excitacio das massa; em restauraradignidade do integrando-o de forma controlada e segura a uma coetividade sea dy ok, a ra¢a Ou a nagao; em criar uma visio orginica do munds Esse argumento & mais profundamente desenvolvido em seu nacional is massas de 1975.” Logo no inicio do prime c Mosse recupera algumas reflexes de Mussolini sobre seus primeirosanoy ro poder, em especial a ideia de que uma revolugio cra novas formes politicas, mitos devogdes préprios e que tal processo surgia, muitas \¢a0 de antigas tradigdes adaptadas a um novo fim, € Mosse se reportam, e que sio as pelo fascismo, sao: a moderna relagio Estado- lana ideia de representatividade; a ideia de ia de poder oriundo Mosse recupera 0 conceito to, bem como sees m na definigie do con "er: ROUSSEAL ‘de manipulasao socal e estetizagio ds poi CONTRBUGAO ACRITICA Om sy ADA HTC Gy, "Een, inaugurado uma profunda transformacio mental e cu implicagées politicas, afastando-se_gradativamente pautadas na é, do culto ao sobrenatural e de poder arbit explicagées racionais, do culto a soberania popular e a, A relagio de adoragio sacralzago, na acepsio comportan devosto, permanece, embora deslocados para a politica. E newt & que Mosse utiliza 0 conceito de religido secular ou civil Parting nt? arcabouco politico-dscursivo, 0 fascismo teria criade nova dee gestos e formas préprias para que, com o tempo, estes sta, Se converte em tradigbes e, como defende Mosse, base da prépria cidadanis tural cg de ex ratio, e 0 cont 7 fortes Plicagieg Favor ay ato sociay sem, - pore o que chaos de ilo fsa fem ead lina ao oli” Based em uma idea romantic ascensio da vba Din se que acini nha un substi comm da uated compartlhar. As dnastias reais ou principescas indo su Sio do proprio povo. Esse canceto de soberania p de “vontade ger tal como Rousseau auea natureza do homem como cidadio sé pon ex 2 pessoas atuam juntas como um povo secular, em que @ povo adora a gular formalizar ese cult, A unidade do vontade geral.. Em consequéncia, o cult ea nova pe a tratou de expressar essa unida Politico que na realidade se tornow uma rel sacial Sto Paulo: Martins Fontes, 1989. MOSCA, 1939. ARON, Raymond. O épio dos intel arnc0 CAD EMO ENE: an smilio Gentile, Por Sua ez, volta sua tengo para g in i ara O caso italia e seque um caminho parecido com o de Mosse nara ang cobre # crise da modernidade © 20 uso da che go pe SSO it camo religito politica a6 {Um pouco diferente de Gentile, que se concentra 1 problema da etetzaio da police como canto pas ncn a imvestigando a reconfiguragio de mios, fetes eros emma pelo eado nazista, Gentile aprofunda uma Outra dimensio da sacralizaci ralizagio da politica, debrugando-se sobre 0 processo de tansiommaga' insitigBes ou entidades polticas- como oFstado,anagioarayaens partido ~ em referenciais de cultoe devogio, ica ocorre sempre que uma entidade pol ‘0 Estado, raga, classe, 0 partido, assume a cataterstica de uma enidade sagrada, isto &, um poder supremo, indisputaveleintocivl, torando-se objeto de £8, rever 1, fidelidade e devogio dos cidadias até o pont de scifi da propria vida, por exerpla, No proceso de sacralizagio da politica, tipico das sociedades modernas, “a dimensao politica assume um cariter religioso proprio, tornando-se mae de novos sistemas de renga, mitoseritos,apresentando, pois caracteristicas e fungdes tipicas de uma religiéo, como interpretar 0 significado e a finalidade da existéncia humana" secu rn haan so acd xi aan cn os sito, Eaeltad een se comin a0 cea Manfred (ed). The collected works ‘Missouri Univ. Press, 2000, VONDUNG, Klocs ‘und Politiche Retigion der Nat G «fry mre pig a eg seesaw olive: 6 N.I fune 2005, p29. Traduca ke ie et tat ire de: “pore ‘te nclading the 9 oats en ene an hendeste eed at dadania tenia una ssa ede." pital dimension 1abes OH at ian compartir. Las dinastias reales o pricipescas ya No HT fo pucbla Este concep de soberana popular se preciso media “tam see ‘como Rousseau la habia expresado, asentindose en la creencia 4% ew systems ‘and functions typical to religion, such sinter mee 212 ‘cONTAIBUIGAO ACITICA OA HISTRIOGRAF i pe Sp mito & organizagao foram componentes fundamen a do fascismo, dois aspectos complementares de tudo relacionados a uma longa tradicig 4, ia, que remonta a modernidade, ‘além disso, da politica de mass soliveis e acima indissoliveis € cultura politica italiana € europei : pares meng da ecosso da Grande Gnerra diversas repides dg uropa presenciaram a emergencia de movimentos politicos e cultura de contestagio da modernidade, em especial seu cardter racion &s, Na télia, dois expoentes desse moviment secanicista liberal eburgués frm pfuturismo e 0s nacionalistas em torno da revista La Voce, Ese jovens artistas € intelectuais compartilhavam a visdo de que a Ital deveria exercer um papel mais ativo na vida europeia, e de fato, estava destinada a cumprir uma missio civilizadora na hist6ria do século XX Deriva dai seu fmpeto em ver nascer 0 “novo italiano’, produto de um processo de regenera¢a0 moral, cultural e politica. O fascismo, segundo Gentile, se nutre desses ideais, se apropriando de elementos tradicionais, em especial 0 cull & agio, a disposigio a violéncia, a intolerancia ao dissenso, 0 desejo pelo novo, desdém pela tradigdo e a glorificagio da juventude, e agregands os ao seu conjunto cultural e ideolégico. Assim como os futuristas e nacionalistas, 0 fascismotambém envisionava um “novo homem’” ¢ Mussolini acreditava ue este 6 surgiria através da disciplina e da ped ° antes a mentalidade e os sentimentos do hor nnn a perenne Ha a nacionalistas visava produzir homens + niente a jomens empoderados de autonomia 2s anos no aha dg rn tst® fascsta“sacrficow a iberdale Politica, em nome do primado absoluto do mens instrumento do Estado. E isso foi ém o fascismo é entendido como uma al eé visto como uma instituigéo 5 mitos, simbolos e martires, 408 Estado totalitirio”™e fer dos hor « , alemies dedicou-se & construgéo do que funcionalista ou estruturalista para explicaofuncionamentocate oe dedecisbes durante onazismo Segundocsatese Holocene consistidoem um projetopremeditadoeplanejdocuidadoamenepeg arquitetos do regime, mas um processo deraicalizasio camulative an Projeto que envolveu diferentes stores do Estado edo partido, sujet A pressdes diversas do contexto, A responsabilidae pelo genocidio¢ pelo proprio processo de manutencéo do regime, portant, no reaiia unicamente sobre os ombros de Hitler ou de liderancas proeminentes do partido, como largamente defendido pela correnteinencionais Outra parte, da qual trataremos com maior profundidade nesse texto, abragou a hipotese geral construida por De Felice, na qual fascsmo teria tido sucesso na construgéo de um amplo consenso social anal ideia de “zona cinzenta’, presente noslivros estemunhais de Primo Assim, o conceito de consensoimpresso ns nova pesquss frances co a0 interpreta Processo de : MINA¢Eo oy CONStrUCaO de wim Polit naa Por pan har Guida por investigacdes acerca mo francts em Vichy edo apoig Um conjunto de pesquisadores ficou conhecido como hiptese 0 de Felice ver: MELO. 3 mals profunds da contac de Rend Flere MESO Sr 726, p 113-144, 2016 ome “BROZSAT, Martin. The Hitler State: the foundation Caer ait Tid Rech London: Longa, 1981 MOMSEN. LAQUEUR, W. si a ear gi New histoire def esstance: tes es septembre, 1986, LABORE, Pe Oss TUADRAT. $ (orgs). constagio era, 2010 LENBERG, DQ Jeni: Civ Bra 218 tariaatravessado por matizes, que iriam do ativisn, : oe Ee mismo derrotista, ita, confor ‘A indiferenga € 20 va pesquisa desenvolvida por Robert Gellately consiste em como um regime marcado por tamanho autoritarism, y, brutalidade se manteve por tantos anos; até que Ponto o5 a tend, eka i " sabiam sobre as perseguigdes, a8 arbitrariedades da policia secret campos Sus hipese, defend com base em uma exten page documenta & de que os alemaessabiam de tudo e apoiavam volute ¢ miltantemente 0 regime € seu Nider supremo, Hite Galas apreseia um trabalho de pesquisa denso,analsando document Partido Nazista, da Policia Secreta (SS), da Policia Criminal (Krripo), tesemunhos ¢ jorais, demonstrando que “os alemaes em gent revelavam orgulhosos € contentes por Hi afastando certos tipos de pessoas que nao se consideradas ‘outsiders’ “antissociais’, “bocas T € SeUS asseclas estarem ncaixavam ou que eram s” ou “criminosas'® Como podemos perceber, a explicagdo para sustentacao, permanénci ¢ forca do regime é buscada na anuéncia ¢ no consentimento ativo da “sociedade’, ainda que 0 autor nao descarte op repressio, contudo, fica restrita ao inimigos dla como se 0 restante dos alemaes, ditos TepressOes nem tivesse tido seus direitos a introdugio 0 autor chega afirmar que a “c« altamenteseletivos e ndo se abateram de mane’ alemiio”* Em seguida, © autor men sind (desemyp wlos. Logo no it © 0 terror eran sobre o pov ligdo a liderangas » 40s partidos de oposicao e aqueles rotulados como antissocias "egados, moradores de rua, bebados, prostitutas). Nao fariamels bpd da Se Estariam eles também consentindo com as medidas sine! E de fato interessante apresentar um quadro de consens0¢ aes onguista do apoio social, que segundo Gelatlyé deforma abertav hen nn e uandO se extitpa da sociedade a ops? ¢ brutal. Quem nessas condigdes ousaria se manifest” aa pe “GELLATEL 'Y, Robert. Apoiang io dt cir: Record apr pean Hier consentimentoecoergdo na Aleman mais den p22, : CONTABUGAO ACAI DHRC, ye 0, a sensor 0 ORION oe omy . 29 pode-se argumentar que esses individuos, ; assim como 9: ciganos, homossexuais ¢ deficientes fisicos ¢ mentais, no, ig judeus, spietividade social mitificada no ideal do ariano e, Portant, no je iam parte do ideal oe covisionad. Todavi, mesmo ages td {oro prot6tipo da perfeigio pelo regime foram sfeado Cate sesiganteriot, Arendt mostrabem como teroreo mele staan toda a vida social, pibica privads, Mesmo o aianoided ten éiretos civis violados ecerceados desde osmaisbisicascommodincinas irevinatéo fim liberdade deexpresio edo dietodeliremanistace e-organizagio. Com o endurecimento do regime, 0 medo afetou avd, privada ea capacidade dos individuos de consi aos de confane ¢ solidariedade, mesmo com parentes e amigos mais priximos, Sendo assim, nfo & plausivel admitir e defender que a coercio e a violncis teriam sido seletivas, como afirma Gellatly. Desigual,certamente, mas seletva é uma conclusio unilateral e demasiadamentesimplista. Com respeito a0 papel da oposi¢ao Gellately argumenta em termos : i, bem como atradicio democritica da Alemanha era fraca ¢ inconsistente, nao tendo conseguido criar raizes profuuncas, ¢, dese modo nao postando real obsticulo a vitoria de um novo regime autoritario, Aqui notamos uma influéncia da tese do Sonderweg, que explica a vit6ria do fascismo pela continuidade de estruturas politicas e mentais centralizadoras, executivos fortes € instituigdes altamente burocratizadas, bem como resquicios de uma cultura cavalheiresca, militarizada e hierarquizada, Norbert Elias, Hans-Ultich Webler e Jurgen Kocka defendem teses hessa direcio ¢, assim como Gellately, entendem que esse caminho Peculiar 4 histéria da Alemanha foi o responsivel pelo fracasso da Repiblica de Weimar e das propostas democriticas de sociedade.* Ao analisar a situacdo politica e cultural da historia da Alemanha sob ese a eg aes Ee nono t , German nacre Hor poe Rey Wk pS) OC Slt nd wou suits Soames ava sn be 8 "Bhahn Books 1908 GONTHBUICHO ACAIICA Oda 220 le jan, cmos netavelmente no fatalismo cultura. Cony, ism, ee : Prmontinuidades se elas esto impressas na cultura, no fgyn”, Sa x bit poro? Além disso, 0s apreciadores do Sonderweg Pate gt do hisérico de lutas dos partidos e organizacdes politicas en wes ampliagio dos direitos de participagao politica e melhora das a de trabalho. Em suas andlises, 0 impacto social dos agentes dg "pty e da transformagio, como a social-democracia, os lass; a tas, Mi Engels, Ross Laxembrugoe Karl Liebknecht praticamente dec =* parece, No comer da narrative do lwo de Gellatly, perceesse sings tendeca em far da sociedade de forma difsa, spresntaniss como uma entidade amorfa, sem maior preocup: diferenciagbes,extratos sociais ou classes. Tais espagos sociais ou, mais Propriamente, os diferentes lugares de fala sio por vezes mencionady durante a narrativa, porém, suas experiénciay diferenciadas aie parecem representarinfluéncia significativa na consteucdo da opinin dos individuos. Aqui jaz 0 ponto em realidade. Como estaria consti essa sociedade? Como se relacionariam seus inte, concepgao de sociedade se ancora 0 autor? A s € um conjunto, por certo, mas um conjunto de individuos, um somatério de “eus” atomivs interesses, a¢40 em demarcar a antes? Em que icclade para Gellatly ado um aglomerado movidos por seus medos e sonhos particulares. fu liberal de sociedad, como jé exposta por f no poder do individuo em interpretar a re: éscolhas racionais. O consenso proposto aqui & que nem sem sempre explicito ou vi Pode ser responsabilizada. Nesse aspecto, diferente daquele que impacta e seduiz as ma Arendt e pelos culturalistas, Gellately acaba, assim, por resvalar em interpretagées e conclusis demasiado generalizants, expressando-se por meio de construe Tinguisticas como ‘onsenso de modo geral”; “a maioria das pesso® Prontamente aceitou’s “o apoio do ovo"? que em si dificultam um ica concepgio ice, que aposta ea sua volta e fazer consciente e ativo, ainda tambs ssas, como defendido por “GELLATELY Rober. opi. 22.624 VY a 22 so © REUBIONSMO sevsne 0° 4040 Do cos Hocnens andlise mais ane £ complexa do problema. Em uma on aoe ant sociedade éapresentada, ainda quenig intencionalmente, fomo um monolito, um conjunto de individuss én tea! ima pelas mais diversas e particularesrazdes, Eo contrapartide anestaies de rechaso e resstaca ov 3 ops ree rupos on movimentes aparecem como expressbes fora da ondem, orginas, apartadas da dita “Sociedade, , ve) sentido da reflexdo construlda aqui nao é ot a existéncia de apoio social, mas ponderar em que medida diseuen, de individuos isolados podem ser vistos como representatives de sociedade” como um todo. Oposigio e resistencia nio fariam parte também da sociedade? Se é certo que encontramos demonsteagdes de apoio ao fascismo, legit bviamente negar encontramos outrossim expressées de critica e rechago. £ certo também que tais vozes encontravam menos espagoem uum ambiente de repressio, violencia e medo, Muitas iniciativas eram clandestinay ou sutis, como a resisténcia privada pactica, justamente como forma de se evitar retaliagdes por parte do regime. Nao pegar em armas ou nao resistir abertamente por medo significa necessriamente consentir? Ha, portanto, um certo nivel de descontentamento ou de to que € muito dificil de medir ov determinar. Como jecer nos registros documentais? Nesse sentido, defender a tese de um amplo consenso civil ea inculad a ela de que as politicas implementadas pelo fascismo Fepresentavain os interesses de todos. A pesquisa de Gellately aponta que a maioria ndo resist, nio sendo observado um movimento de oposigio em massa a0 regime. O autor argumenta ainda que pesquisa realizadas por “psquisidors nazis de opiniao publica’, reforgam a hipétese de um amplo Gama émtempo conturbados como a guerra revelandonada mals que SB dedlaracoes derrotistas esparsas, patticularmente em is como Berlim ou Hamburg no final de 1944 e inicio ¢ 194. feriorava, mio houve naa ‘de Peter Hoffman ¢ Joa a resistencia, Mesmo enguant a situagio no campo debts Proximo a uma rebelde, segundo os een suds chim Fest sobre a resisténcia alema, no geral a populas cONTBUGHO ACAITCADAHSTROGAE, te, 22 Jotadodo govern) Om rato do este da Aleman continvando do 0 qu os trabalhadoresndo apenas continuavamgoap god as mencion inda sugeriam a adogao de métodos stal stas pata “pup ai er Tider com alu 6 funcionalismo publica, opin ¢ 0 relatério mencionado na citaig documentos oficias e fontes a naturezn om ae Outre diga-se de passagem, dever ser trabalhadas eanaisdaslevando em cont ‘eterencial, ouseja,suaorigem, eas condicdes de sua producdo, Regisas tramanes no sio produzidos de formaneutras podem nao erpropesity ouconscientes, seadmitirmos que os sujeitos ndo visam necessariamente produzir registros, mas sempre, fatalmente, descortinam uma visio fhundo, um ponto de vista acerca dos acontecimentos. Uma fonte ofa, portanto,revela o ponto de vista da ordem vigente, corroboraalleiturady vencedor sobre a histéria. Além disso, a andlise de uma fonte produaida durante um regime de tipo fascista por agentes do governo nao pode deixar de levar em consideracao 0 impacto da repressao e da violéncie politica na desestabilizagao de iniciativas de resisténcia, incutindo 1 medo na sociedade e desencorajando os cidadios a manifestarem abertamente stas opinides, Quem nessas condligaes responderia a uma pesquisa de opinido criticando o regime? Quein ousaria discordar ov apontar qualquer alternativa? Em condigdes como essa, é muito difcll verificar a sinceridade das declarages dos sujeitos ‘o Exército e o Partido Nazista, As pesquisas d Outro elemento a ser destacado para se problematizar melhor @ questéo consenso ¢ a necessidade de tamanho investimento em aparelhos de investigacio e repressio. Se 0 suposto consenso advogado Eee as ss ene sdlido e amplo, ¢ os “inimigos da nagio” tatostecunea feement® aticlados, qual o sentido de destin ceitos, logisticos e humanos na construgao de um estrutura de igaca seus tenga itstigasio e repressio como a observada na Alemanhaé territ6rios conquistados? Tais a onta oe colacamsg ee nao visam escamotear a margem de consens» S algumas ponderacdes relativas ao impacto 4 “Idem 4 cess 0 REVSIONESMOE AFELATIZAGKO D0 ConSERDISND 22g oo oF le oriundo da coergao, violencia e do terror para que se possa ensionar melhor essa margem, hipervalorizada pelos autores sions E Ecce fa ey dos agentes da épocae Jadagar sobre suas cones ““ Producao. E preciso indagar em que imaidao fascismo representava os interesses dos diferentes grupos ima. Quem ganhou com o fascismo? Na complicada correlagdo serorgas de uma sociedade desigual,violentae autora, naqule devrento particular, permeado por guerras mundiais e crise do iberalismo, quais grupos obtiveram maiores vantagens? Os grupos sociais, as classes € suas fragées, nado foram equivalentemente seeompensados, nao se beneficiaram na mesma proporcio. Tanto na Italia quanto na Alemanha séo evidentes os vinculos estreitos entre Estado eo grande empresariado, particularmente o capital financeiro. A politica econémica, apesar do principio governante do avanco econdmico coletivo da nacao e posteriormente dos esforgos de guerra, esteve intimamente ligada aos interesses desse setor, bem como ao de grandes trustes, dos quais os bancos eram importantes acionistas. Na Itdlia, durante a reestruturago do sistema tributério, entre 1925 e 1927, os impostos cobrados de diretores e administradores de S.A.s & metade. J4 os cobrados sobre capital investido no setor bancario e industrial tiveram redugio de 10%. No ano de 1926, contavam com financiamento piiblico 0 Banco di Napoli, Banco di Roma e o Banco di Sicilia, além do poderoso trust metalirgico Ansal. Sé éste tiltimo obteve a esse tempo 400 milhées de liras, 0 que certamente Possibilitou sua algada a novos empreendimentos como industria aeronaval ¢ bélica. Para salvar da faléncia, durante a Depressio, bancos como Credito Italiano, Banco di Milano e Banca Commerciale, bem Eine 0S grupos industriais que dependiam da injecdo dos acionistas metros Mussolini fundou trés instituigdes com dinheiro do Tesouro: ‘fndit (1931), IMI (1931) ¢ IRI (1933) * CUE 2090, RIN: Daniel. Fascism and Big Business. Cap. IX. Section 2 New York: Pathfinder Press em. Cap. 1X, Sect m5, Zo 208 conrmegto AcrITC8 on 0 igualmente estreitas a8 relagSes dos banc, andes monopélios coma politicas do Estado nazista, $4 5 satgtina a diretoria de 40 empresas cm 1942. Herman dos diretores do Deutsche Bank desde 1937, tornou-se nig s4.¢ poderoso bangueiro alemo do pés-segunda guerra, como coy, poder de Konrad Adenauer emt 1949. Grupos importants cot roar, Messerschmit, Siemens, Krupp, 1G Farben, Dat see BMW, AEG, Heinkel e Steyer-Daimler-Puch tiveran pi jem Mpulsionados durante o perlodo, nfo somente devia pacrivos do Estado, mas também pela redugao dos gastos com a sooo atlizando trabalbo forgado de prisioneiros nos campos a enagio. A IG Farben - frato da jé poderosa fusdo das empes aur Bayer Hoechst, Huels, Kalle, Castella e Agfa -tinha sings patente do gis Zyklon B, utlzado nos campos de concentragio pag exterminar prsioneitos. ‘A guisa de concluséo, gostaria de resgatar a declaragio de Grams em um discurso na Camara dos Deputados em maio de 1925, "9 onsenso obtid pelos senhores é obtido com um porre sio forjados sim, mas em determinadas co regime de terror de Estado, sedutor e pro espetacularizagio da politica, E social do capital e, nesse sentido, pela desigualdade, pela violéncia, pelo conilito e pela alienagi. revisionismo busca deliberadamente obscurecer tal realdate, hiperdimensionando a margem de consen Na Alemank: a Deutsc Abs, un * Consensos es. O fascismo é um te marcado pet harmonia social © STACKELBERG, Roderick. A A Roderick. A Alemanta de Hit oie, 20 169-20, de 14 ta, Turim: Einaudi 1978. pevolugao Russa e revisionism historiggns oretorno neoliberal da “tese da continuidade” e bolchevismo é stalinismot enti orco Lauria Monteiro escrita da historia € inegavelmente um campo de atalha politico, onde se confrontam diferentes projetos de sociedade. Tratando ge assunto, 0 historiador Josep Fontana apontou com precisio que fF gpcoes politicas diferentes correspondem verses distintas da interpretagio do passado” ~ 0 que nio significa que iso sempre orra de forma explicita ou mesmo consciente. Tendo isso em mente, thao ¢ surpreendente que a escrita da histéria da Revolugdo Russa, um tema tio central para 0 século XX, tenha sidoe continue ser marcado por narrativas que se estruturam a parti de um dado ponto de vista politico, muitas veres em detrimento das verdades histricas. Nesse sentido, no que tange a produgio histérica estruturada em torno de u idadle & Revolugdo Russa e & experitncia soviética, predominam teses que tentam demonstrar que o projeto comunista é int e autoritario e ditatorial. Isso ¢ feito tomando- -se 0 Partido Bolchevique € o regime soviético enquanto unidades ahistéricas € reduzindo-as ao fendmeno do stalinismo, afirmando 10 de continuidade fundamental ao longo da existencia dosmesmos, Nao toa, ohistoriador Stephen Cohenapontoua relagio entre bolchevismo e stalinismo” como a mais central das questOes envolvendo essa revolugao e seus desenvolvimentos posterior nna Revista HistriaeLuta de Clases Uma y a versio preliminae dese texto ft publcada 2.19, de margo de 2015, H FONTANA, Joep. “As guceras da historia? bm: 2049303, > COHEN, Stephen. Rethink nce ~ Pl tepheo. Rethinking the soviet experien Orford University Press, 1985, p38 ‘ita dos homens Baur Abs, av History since 1917, Oxo 225 a

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