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Eclesiologia - Apostila
Eclesiologia - Apostila
Eclesiologia Unidade 13
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Eclesiologia Unidade 13
Direitos Autorais
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todos os direitos, embasada na LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
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Eclesiologia Unidade 13
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de apoio nos pólos e os links selecionadosemnossa biblioteca on-line.
Bibliografia Básica
ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 2007.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 2003.
Bibliografia Complementar
BERKHOF, Luis. Teologia sistemática. Campinas: Luz para o caminho, 1990.
CULVER, Robert D. Teologia sistemática, bíblica e histórica. São Paulo: Shedd Publicações, 2012.
DEVER, Mark. Nove marcas de uma igreja saudável. São José dos Campos: Editora Fiel, 2007.
LADD, George Eldon. O evangelho do reino. São Paulo: Shedd Publicações, 2008.
LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do obreiro e da igreja. Curitiba: A. D. Santos, 2001.
MULHOLLAND, Dewey M. Teologia da igreja. São Paulo: Shedd Publicações, 2004.
SEVERA, Zacarias de Aguiar Severa. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A. D. Editora: 2008.
SHELLEY, Bruce L. A igreja, povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 1984.
SHEDD, R. F. Disciplina na igreja. São Paulo: Vida Nova, 1996.
STRONG, A. H. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, 2007, 2º. Vol.
STURZ, Richard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2012.
WILLIAMS, Rodman J. Teologia sistemática – uma perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011
Eclesiologia Unidade 13
Sumário
Plano de Ensino ...................................................................................................................................... 06
Apresentação .......................................................................................................................................... 07
Unidade 01
A natureza da Igreja ............................................................................................................................... 08
Unidade 02
A identidade da Igreja ............................................................................................................................ 15
Unidade 03
Fundação e organização da Igreja ......................................................................................................... 20
Unidade 04
As funções da Igreja ............................................................................................................................... 27
Unidade 05
Os oficiais da Igreja ................................................................................................................................ 34
5
Unidade 06
O governo da Igreja ................................................................................................................................ 41
Unidade 07
Ordenanças e destino da Igreja ............................................................................................................ 48
Referências ............................................................................................................................................. 56
Eclesiologia Unidade 13
Plano de Ensino
Ementa
A eclesiologia estuda a doutrina bíblica da igreja e suas práticas, incluindo a natureza da igreja, nomes
bíblicos da igreja, suas marcas características, sua relação com o reino de Deus, fundação da igreja, estru-
tura, funções, filiação e desfiliação, os oficiais da igreja, seu governo, disciplina, as ordenanças (batismo e
ceia) e seu destino
Conteúdo Programático
7
Eclesiologia Unidade 01
A natureza da Igreja
Objetivo
Por natureza da igreja, queremos nos referir àquilo que a igreja é ou “ao que Deus programou para que
ela fosse”.1 Para isso, vamos examinar o sentido da palavra “igreja” e os nomes bíblicos dados a ela e seus
múltiplos significados.
1 STURZ, Richard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 532.
8
a) Significado básico. O termo “igreja” vem do a palavra aparece mais 110 vezes no Novo
grego (ekklesia), com o significado literal de “os Testamento, todas elas traduzidas por “igreja” ou
chamados para fora” (ek kaleo). No mundo grego, “igrejas” e referem-se aos seguidores de Cristo.
ekklesia era usado para designar uma assembleia Portanto, no Novo Testamento, a palavra “igreja”,
local de pessoas convocadas para tratar de basicamente, significa a congregação, assembleia ou
questões sociais, religiosas ou cívicas. No capítulo a comunidade dos seguidores de Cristo. Assim, na sua
19 de Atos, a palavra ekklesia aparece três vezes essência, a igreja não é um templo ou um local
sem conotação religiosa, traduzida, normalmente, onde os crentes se reúnem para adoração; não é
por “assembleia” (At 19.32,39,41). uma organização. A igreja é a comunidade dos crentes
em Cristo.
Israel também tinha a sua assembleia ou
congregação, normalmente designada pela palavra b) Igreja universal e local. A igreja é referida no
hebraica qahal, que, frequentemente, foi traduzida Novo Testamento em dois sentidos: universal e local.
para o grego, na LXX, por ekklesia. Culver diz
(1) Igreja universal. Nesse sentido, o termo
que “Ekklesia aparece cerca de cem vezes no
igreja designa o conjunto de todos os crentes
grego do Antigo Testamento”.2 Por duas vezes,
verdadeiramente salvos por Cristo em todos os
o Novo Testamento emprega a palavra ekklesia
tempos e lugares. Só fazem parte dessa igreja os
com referência à congregação de Israel no Antigo
que realmente foram lavados e purificados pelo
Testamento e são traduzidas por “congregação”
sangue de Cristo e vivem unidos com o Senhor,
ou “assembleia” (At 7.38; Hb 2.12).
formando com ele um só corpo (1Co 12.13), uma
Fora as cinco ocorrências mencionadas acima, só casa (1Pe 2.4,5), um só reino (Ap 1.5b,6).
em que ekklesia não tem relação com os cristãos,
Os textos que falam da igreja em sentido universal
2 CULVER, Robert D. Teologia sistemática, bíblica e são vários. Jesus quando disse que edificaria a sua
histórica. São Paulo: Shedd Publicações, 2012, p. 1074.
Eclesiologia Unidade 01
igreja (Mt 16.16), certamente estava pensando de doutrinas cristãs. Segundo, batismo. Qualquer
numa igreja de âmbito mundial e não local. Não que seja o modo do batismo, as igrejas cristãs,
disse “minhas igrejas” (locais), mas “minha quase sem exceção, exigem o batismo para o
igreja”. Paulo se refere à igreja como o corpo de ingresso de seus membros.
Cristo, “a plenitude daquele que preenche tudo
Terceiro, organização. A igreja local tem uma
em todas as coisas” (Ef 1.22,23). Diz que “Cristo
organização, por mais simples que seja. Nas igrejas
amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”
do Novo Testamento havia organização suficiente
(Ef 5.25). Noutras passagens, ele fala da igreja
para determinar vários níveis de liderança, enviar
abrangendo a totalidade dos seguidores de Cristo
cartas de recomendação em favor de membros
no mundo em todos os tempos e lugares (Ef
em trânsito, disciplinar e expulsar participantes de
3.10,21; 5.23,24,27,29,32; Cl 1.18,24).
conduta reprovável, etc. Quarto, fazer a vontade de
A igreja universal não tem uma organização Deus. A igreja existe para cumprir a vontade do seu
humana, nem um líder humano, nem se reúne Senhor. O que essa vontade envolve, estudaremos
como um todo em algum lugar no mundo. Mas mais adiante. A igreja local deve estar consciente
ela existe e se faz presente através das diversas do seu propósito, a razão da sua existência no
9
comunidades de fé espalhadas pela face da terra. mundo. 4
O seu único Pastor é o Senhor Jesus Cristo. Ele
(3) Relação entre a igreja universal e as locais. A igreja
disse: “haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).
universal não é formada pela totalidade das igrejas
Ele é “o grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20), o
locais, pois pode haver igrejas locais ou membros
“Supremo Pastor” (1Pe 5.4).
destas que não fazem parte da igreja universal,
(2) Igreja local. Mais de 80 por cento das vezes em por não estarem alicerçados em Cristo, o único
que a palavra igreja aparece no Novo Testamento fundamento da igreja (1Co 3.11). Por outro
fazem referência a uma igreja local. A maioria lado, há pessoas salvas por Cristo, portanto, que
das epístolas foi enviada para determinadas pertencem à igreja universal, mas não participam
igrejas, como também as cartas às sete igrejas de nenhuma igreja local.
do Apocalipse. A igreja local pode ser um grupo
As igrejas locais verdadeiras representam a igreja
único de uma determinada cidade (At 11.26; 1Co
universal nas suas respectivas localidades. Cada
1.2; Gl 1.2; 1Ts 1.1), ou pequenos grupos reunidos
comunidade local, embora pequena, expressa
em casas individuais (Rm 16.5; 1Co 16.19; Fm 2).
a realidade da comunidade total na sua região.
O que é uma igreja local? John Scott Horrell a Como Mulholland se referiu: “A igreja local serve
define dizendo que igreja local é “um grupo de de agente representativo do povo universal de
pessoas que confessam sua fé em Cristo, foram Deus”.5
batizadas e se organizaram para fazer a vontade de
c) Outras distinções de igreja. Mais duas
Deus”.3 Destacamos quatro elementos básicos de
distinções na ideia de igreja.
uma igreja local contidos na definição.
(1) Igreja invisível e igreja visível. A igreja é invisível
Primeiro, pessoas que confessam sua fé em Cristo. A
no que diz respeito à realidade verdadeiramente
igreja local compõe-se de pessoas que professam
sua fé em Jesus Cristo e que aceitam um conjunto 4 Acompanhei John Scott Horrell na exposição desses
itens. Op. cit., p. 18-19.
3 HORRELL, J. Scott. Ultrapassando barreiras. São 5 MULHOLLAND, Dewey M. Teologia da igreja. São
Paulo: Vida Nova, 1994, p. 18. Paulo: Shedd Publicações, 2004, p. 26.
Eclesiologia Unidade 01
espiritual da comunidade. Não podemos ver a Cristo, independente do lugar em que residem
condição espiritual do coração de ninguém, por ou do nome que dão a si mesmos. Ela é militante
isso Paulo afirmou: “O Senhor conhece os seus” porque está envolvida numa guerra santa contra o
(2Tm 2.19). Assim, como diz Wayne Grudem: mundo hostil e contra os poderes espirituais das
“A igreja invisível é a igreja como Deus a vê”.6 trevas. Por outro lado, a igreja triunfante é composta
Por outro lado, “a igreja visível é a igreja como os de todos os salvos por Cristo que partiram para
cristãos a veem na terra”.7 É a igreja constituída de estar com o Senhor (2Co 5.8; Ap 6.9-11). É a
todos aqueles que são recebidos como membros igreja no céu, onde “a espada é permutada pelos
ou participantes das diversas igrejas. louros da vitória”.8 Um dia não haverá mais a igreja
militante, pois todos estarão na pátria celestial,
(2) Igreja militante e igreja triunfante. A igreja militante
desfrutando do seu triunfo com Cristo (Ap 7.9-
inclui todos os crentes vivos que pertencem a
17; 21.1-4).
6 GRUDEM,Wayne. Teologia sistemática. São Paulo:
Vida Nova, 1999, p. 716. 8 BERKHOF, L. Teologia sistemática. Campinas: Luz para
7 Ibidem, p. 718. o Caminho, 1990, p. 569.
10
Para compreendermos melhor o que é a igreja dele, chamar judeus e gentios “para a obediência
em sua natureza, precisamos ir além do exame da da fé” (Rm 1.5,6) e formar o “Israel de Deus” (Gl
palavra “igreja” e considerar as qualidades da igreja 6.16). Paulo usa essa expressão com referência à
refletidas nos vários nomes aplicados a ela no igreja, constituída de crentes judeus e gentios, a nova
Novo Testamento. Destacamos os três primeiros descendência espiritual de Abraão, herdeira segundo
nomes por considerarmos os mais significativos e as promessas (3.29; cf. Rm 9.6; Fp 3.3).
apontaremos, a seguir, outros.
Portanto, a igreja de Cristo é o novo povo de Deus,
a) Povo de Deus. Esse é um nome importante do qual fazem parte judeus e gentios convertidos
usado para Israel no Antigo Testamento e aplicado (Ef 2.12-14). Pedro se refere à igreja como
à igreja no Novo Testamento (Ex 19.5,6 e 1Pe “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo
2.9). Vamos destacar alguns aspectos refletidos de propriedade exclusiva de Deus” (1Pe 2.9). Isso
nesse nome. não significa mudança nos planos de Deus, e sim
um desenvolvimento dos seus propósitos eternos,
(1) Eleição e chamado. Israel foi um povo eleito e
anunciados previamente a Abraão.
chamado por Deus. Deus escolheu e chamou
Abraão para fazer dele um povo especial e, através (2) Aliança com Deus. O povo de Israel entrou em
dele, abençoar as demais nações da terra (Gn aliança com Deus (Ex 19.5-8). Entretanto, “eles
12.2,3). Ele confirmou essa eleição e chamado quebraram” aquela aliança (Jr 31.32), ou “não
nos descendentes de Abraão e fez deles a sua permaneceram” nela (Hb 8.9). Então o Senhor
“propriedade exclusiva dentre todos os povos” Deus prometeu fazer uma nova aliança com o
(Ex 19.5). Israel passou a ser chamado o povo de seu povo, “uma aliança melhor, firmada sobre
Deus (Ex 6.7; Dt 4.20). melhores promessas” (Hb 8.6). Em Cristo, essa
aliança foi selada e inaugurada. A ceia do Senhor
Na “plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho” (Gl
simboliza e sinaliza a nova aliança firmada pelo
4.4), o descendente de Abraão (Gl 3.16), para, através
sangue de Cristo (Mt 26.27,28). Dessa aliança
Eclesiologia Unidade 01
participam todos os que se unem a Cristo mediante membros em particular.
a fé. A igreja é o povo da nova aliança.
A figura ressalta também a unidade entre os
Assim, a igreja não é simplesmente uma membros do corpo. Os membros, individualmente,
combinação de judeus e gentios, ou um conjunto estão unidos entre si à medida que participam do
de pessoas de muitas nações que agora estão mesmo corpo e vivem pela mesma cabeça. “Pois
unidas. A igreja é o novo povo de Deus, um todos fomos batizados por um só Espírito para
povo remido (Tt 2.13,14; 1Pe 1.18,19), purificado ser um só corpo” (1Co 12.13). “Há um só corpo
(Tt 2.13,14; Hb 9.14), mudado, com a lei escrita no e um só Espírito... um só Senhor” (Ef 4.4,5). A
coração, com um novo coração, com o Espírito de unidade entre os membros da igreja se fortalece à
Deus interiorizado (Jr 31.31-33; Ez 36.26-27; Hb medida que cada um se identifica mais e mais com
8.10-13). Um povo no qual e entre o qual Deus Cristo, o cabeça.
habita (cf. 2Co 6.16).9
(2) Diversidade. A união não implica uniformidade.
(3) Exclusividade. Deus requer exclusividade do seu Os principais textos que falam da unidade do
povo, “um povo todo seu, consagrado às boas corpo salientam também o fato da diversidade
11
obras” (Tt 2.14). Deus chama o seu povo para que há nele. As igrejas não são iguais: elas diferem
ser santo (Rm 1.7; 1Co 1.2; 1Ts 4.7) – separado entre si. Observe-se, por exemplo, as diferenças
exclusivamente para ele. É um povo chamado e entre a igreja de Jerusalém e a de Antioquia; ou
purificado para servir a Deus mediante Jesus Cristo entre a de Corinto e a de Tessalônica, ou entre as
(1Pe 2.5,9; 4.10,11). Assim, eleição, chamado, sete igrejas do Apocalipse.
aliança, exclusividade, são conceitos intimamente
Há também diversidade entre os membros de
associados à igreja como o povo de Deus.
cada igreja. O entendimento acerca de certas
b) Corpo de Cristo. Essa é uma das principais questões pode divergir. Os dons também são
figuras da igreja. A expressão “corpo de Cristo” variados. A igreja é como uma orquestra, que não
designa tanto a igreja universal (Ef 1.22,23; Cl se forma com apenas um músico ou com apenas
1.18) quanto a igreja local (1Co 12.27), embora um instrumento, mas com diversos instrumentos
seja àquela que o termo mais se aplica. Esse nome tocados em harmonia por diversos músicos sob a
ressalta alguns aspectos vitais da igreja. regência de um só.
(1) Unidade. A expressão “corpo de Cristo” (3) Interdependência. Entre os membros, não deve
significa “o organismo que se acha unido a haver nem dependência nem independência, e
Cristo”.10 Salienta a união da igreja com Cristo e de sim interdependência. Cada cristão precisa do
uns com os outros. A igreja é um organismo vivo, ministério dos outros irmãos e, por sua vez, cada
regido e nutrido por uma cabeça vivificante, que é um ajuda outros na sua edificação cristã. Paulo
Cristo (Cl 1.18; Cl 2.10,19). Como cabeça, Cristo recomenda que “os membros tenham igual cuidado
se relaciona pessoalmente com cada membro do uns pelos outros” (1Co 12.25; cf. Gl 6.1,2; Hb
seu corpo.11 É dele que vem a vida e a direção para 10.24). Essa interdependência se estende também
o corpo como um todo e para cada um de seus entre as igrejas. Nenhuma igreja é totalmente
independente das demais, quer na sua formação,
9 WILLIAMS, Rodman J. Teologia sistemática – uma
perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011, p. 785s. quer na sua história ou no seu ministério.
10 SHELLEY, Bruce L. A igreja: o povo de Deus. São
Paulo: Edições Vida Nova, 1984, p. 37. (4) Agente de Cristo. A figura do corpo salienta
11 MULHOLLAND, Dewey M. Op. cit., p. 200.
Eclesiologia Unidade 01
também o fato de que a igreja é agente de Cristo no Deus, corpo de Cristo e santuário do Espírito –
mundo (Ef 1.23). A igreja age com a autoridade de relacionam a igreja com a Trindade e ressaltam
Cristo (Mt 28.19,20), no poder do Espírito Santo aspectos da natureza essencial da igreja.
(Jo 14.12; At 1.8). A presença contínua e poderosa
d) Outros nomes. Além dos três nomes já
dele na vida dos seus discípulos e na comunidade
examinados, há outras figuras que também
deles dá vida, sabedoria e poder para a igreja no
ressaltam aspectos essenciais da vida da igreja.
cumprimento do seu papel no mundo (Mt 28.18).
(1) Noiva de Cristo. O próprio Jesus deu origem a
c) Santuário de Deus. Paulo usa também a figura
essa imagem quando, questionado a respeito do
do santuário para descrever a igreja. Ele afirmou
jejum, afirmou que não se pode “fazer jejuar os
que os coríntios eram “edifício” de Deus (1Co
convidados para o casamento enquanto o noivo
3.9), “santuário de Deus” (1Co 3.16,17). Em
está com eles” (Lc 5.34). Sua parábola das dez
Efésios, ele diz que em Cristo “o edifício inteiro,
virgens parece implicar também essa mesma
bem ajustado, cresce para ser templo santo no
imagem (Mt 25.1-12). Em Apocalipse, João fala
Senhor... para morada de Deus no Espírito” (Ef
duas vezes do casamento do Cordeiro e sua noiva
2.21,22). Destacamos aqui alguns elementos.
12
13
Pai, mas tem também “irmãos” e “irmãs” para 12 SHELLEY, Bruce L. Op. cit., p. 39,40.
Eclesiologia Unidade 01
Atividades
Sei responder
Objetivo
Após o estudo feito da natureza da igreja, isto é, aquilo que a igreja é em sua essência, vamos agora
examinar alguns aspectos que identificam a verdadeira igreja e a relacionam com o reino de Deus.
Ao longo da história, a igreja teve que se deparar entendimento da unidade da igreja. De suas
15
com tendências e movimentos que distorciam considerações, destacamos duas maneiras
os ensinos dos apóstolos e criavam grupos principais de entender essa questão. Primeiro, a
que denegriam a imagem da igreja. Isso fez unidade como sendo espiritual. Consiste no fato
surgir a necessidade de se estabelecer certas de todos os crentes servirem e amarem o mesmo
marcas ou características que identificassem a Senhor. Embora não estejam organicamente
verdadeira igreja. Com esse objetivo, o concílio de ligados a outros grupos de crentes, mesmo assim,
Constantinopla (381) firmou a seguinte declaração: amam-se uns aos outros.
“[Cremos] na igreja una, santa, católica e apostólica”.
Segundo, a unidade como reconhecimento e comunhão
Desde então, estes quatro sinais (unidade,
mútua. Significa que, embora as congregações e
santidade, catolicidade e apostolicidade) têm sido
denominações sejam separadas umas das outras,
reconhecidos como marcas ou características da
possuem basicamente a mesma fé e, portanto,
verdadeira igreja de Cristo.
devem lutar para dar expressão observável a essa
a) Unidade. O Senhor Jesus afirmou que haveria unidade, usando todos os meios possíveis. Assim
apenas “um rebanho e um pastor” (Jo 10.16) deve haver comunhão entre diferentes grupos e,
e rogou ao Pai “para que todos sejam um” (Jo sempre que possível, as igrejas devem trabalhar
17.21,22). O apóstolo Paulo declarou que os que juntas.13 Na igreja local, essa unidade se expressa
foram batizados em Cristo, seja judeu, grego, nos relacionamentos pessoais entre os membros,
escravo ou livre, homem ou mulher, todos são entre esses e a liderança e na igreja como um
um em Cristo Jesus (Gl 3.27,28). Paulo também todo (Ef 4.2-5. Fp 2.2). Implica unidade na fé, na
enfatizou a unidade da igreja afirmando que “há conduta, na organização da igreja e no seu serviço.
um só corpo” (Ef 4.4). Essas e outras passagens
Mas a unidade não implica uniformidade. Há uma
ensinam que a igreja de Cristo é uma só e que os
variedade de ministérios (1Co 12.4-6) e opiniões
irmãos devem viver em união.
sobre assuntos, muitas vezes, de importância
Em que consiste a unidade da igreja? Millard
J. Erickson faz uma boa análise acerca do 13 ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia
sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 438, 439.
Eclesiologia Unidade 02
secundária (Rm 14.1-15.13). Ser um em essência foi usado pela primeira vez por Inácio, bispo de
não significa ser uniforme. Mas o fato de a igreja Antioquia, em sua carta à igreja de Esmirna (c.
ser uma só em essência deve servir de estímulo 112 d. C.): “Onde quer que Jesus Cristo esteja, ali
para um esforço maior no sentido de uma estará a igreja católica”14, isto é, a igreja universal.
aproximação constante entre os cristãos, a fim O termo “católico” adquiriu um sentido polêmico
de que a igreja possa ser percebida pelo mundo a partir do século III: queria referir-se aos
como corpo de Cristo. ortodoxos em contraposição aos carismáticos e
hereges da época. Hoje a palavra faz referência à
b) Santidade. A segunda marca da igreja de
Igreja Romana.
Cristo é a santidade. Pedro declara que os cristãos
são “nação santa” (1Pe 2.9). Essa expressão de O termo “católico” refere-se à extensão universal
Pedro certamente faz referência a Êxodo 19.6, da igreja. Quer dizer, a igreja tem uma abrangência
onde Deus diz que Israel é “nação santa”. A universal, ela é de todos e para todos, sem exclusão
igreja é santa porque foi chamada e liberta do de ninguém que queira entrar nela. O Apocalipse
mundo das trevas e da corrupção e separada para fala de um cântico celestial dirigido ao Cordeiro,
Deus, em Cristo. A razão da santidade da igreja que diz: “Tu és digno de tomar o livro e de abrir
16
é sua união espiritual com Cristo. “Mas vós sois seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue
dele, em Cristo Jesus, o qual, da parte de Deus, compraste para Deus homens de toda tribo, língua,
se tornou para nós sabedoria, justiça, santidade povo e nação” (5.9). A igreja é católica porque é
e redenção” (1Co 1.3). Paulo disse também que para todos os seres humanos.
alguns da igreja de Corinto tinham sido imorais,
d) Apostolicidade. A igreja é apostólica
idólatras, adúlteros, homossexuais, ladrões,
porque está edificada sobre o testemunho e os
avarentos, bêbados, caluniadores, porém, eles
ensinamentos dos apóstolos originais de Cristo,
foram “lavados, santificados e justificados em
com apoio dos profetas de Deus (Ef 2.20).
nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
Os apóstolos deixaram seus escritos no Novo
nosso Deus” (1Co 6.9-11).
Testamento. Assim, “ao reconhecer esses escritos
A condição de “santo” não significa estado como oficiais e normativos e se orientar por eles, a
de perfeição moral e espiritual. Os cristãos da igreja permanece apostólica”.15
igreja de Corinto, apesar de suas fraquezas, eram
Há um erro relacionado com a apostolicidade
“santificados em Cristo Jesus” (1Co 1.2). Assim
que é preciso reconhecer e evitar. É a teoria da
como eles, todos os crentes no Novo Testamento
“sucessão apostólica”, que começou a tomar
são considerados santos (2Ts 2.13; Cl 3.12; 1Pe 1.2).
corpo por volta do final do século II. Dizia-
Mas a santidade não é ainda uma obra concluída,
se que a autoridade e o ensino dos apóstolos
ela está em processo de desenvolvimento. Daí as
eram assegurados pelos bispos da igreja.16 Os
constantes exortações para que o povo de Deus
bispos estavam numa linha direta de sucessão
se santifique ainda mais (1Ts 4.3-8; 5.23; Hb
com os apóstolos de Cristo. Assim, a “sucessão
12.14; 1Pe 1.14-16). Um dos últimos conselhos do
Senhor Jesus é este: “quem é santo, continue se
14 Ibidem, p. 771.
santificando” (Ap 22. 11). 15 Ibidem, p. 772.
16 Williams anota que “Irineu (c. 130-200), bispo de Lyon,
c) Universalidade. A terceira marca da igreja é a em sua luta contra as heresias, escreveu que os apóstolos
haviam estabelecido uma linha de sucessão através
catolicidade ou universalidade. O termo “católico” dos bispos, que pela sua autoridade doutrinária podiam
determinar a verdade”. Op. cit. p. 773.
Eclesiologia Unidade 02
apostólica” tornou-se essencial para a vida da (2) Disciplina. Depois, ainda no século XVI,
igreja. Desse modo, “o atributo da apostolicidade foi acrescentada a disciplina como marca. A
já não significava estar sob a autoridade e a tutela Confissão Belga (1561), Artigo 29, diz: “As marcas
do testemunho apostólico original, mas de seus para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela
sucessores episcopais”.17 Evidentemente, não mantém a pura pregação do Evangelho, a pura
concordamos com essa interpretação. administração dos sacramentos como Cristo os
instituiu e o exercício da disciplina eclesiástica para
A verdade é que a igreja é apostólica porque está
castigar os pecadores”.20.
baseada no testemunho dos apóstolos no Novo
Testamento. Portanto, a igreja será apostólica (3) Missão. A partir do século XVIII, com o
enquanto for fiel ao ensino e à orientação dos surgimento das missões modernas, foi incluída mais
apóstolos e não permitir que nenhum ensino de uma marca: a missão, com ênfase na evangelização
fora ou tradição de dentro venha diluir ou dilatar a e nas missões. Uma observação interessante é feita
autoridade apostólica do Novo Testamento.18 por Ferreira e Myatt, ressaltando que a adoração e não
a missão é o alvo final da igreja. Com propriedade
e) Outras marcas. Além destas quatro marcas
dizem que “as missões existem porque o culto não
17
da igreja – unidade, santidade, catolicidade e
existe em lugares onde o evangelho ainda não foi
apostolicidade -, reconhecidas desde os primeiros
pregado”.21 O culto é o impulsor das missões, e o
séculos da história da igreja, outros aspectos foram
alvo das missões é trazer as nações para glorificar
apontados também como características da igreja
a Deus. Talvez possamos acrescentar a adoração
verdadeira, a partir da Reforma.
como uma marca da igreja genuína.
(1) A pregação da Palavra e a administração correta
Certamente todas essas marcas são relevantes
das ordenanças. Primeiro foram reconhecidas essas
na caracterização da igreja de Cristo. Elas foram
duas marcas. Calvino ressaltou que “onde quer
elaboradas e explicitadas em momentos de crise
que vejamos a palavra de Deus ser sinceramente
pelas quais a igreja teve de passar no correr da
pregada e ouvida, onde vemos os sacramentos
história. Elas mostram elementos essenciais da
serem administrados segundo a instituição de
natureza e da vida da igreja do Senhor.
Cristo, aí de modo nenhum se há de contestar
estar presente uma igreja de Deus”.19
20 Citado por Mark Dever. Nove marcas de uma igreja
17 Ibidem, p. 773. saudável. São José dos Campos: Fiel, 2007, p. 24.
18 Ibidem, p. 774. 21 FERREIRA, Franklin, Myatt, Alan. Teologia
19 Institutas da religião cristã, Livro IV, Capítulo I, Seção 9. sistemática. São Paulo: Vida Nova,2007, p. 970.
Mais um aspecto relevante na identificação da igreja o reino? Trata-se do mesmo conceito ou são
de Cristo: sua relação com o reino de Deus. Nos realidades diferentes? Alguns identificaram a igreja
evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), o com o reino de Deus; Agostinho e teólogos da
tema central do ensino de Jesus é o reino de Deus. Idade Média pensaram assim. Outros, porém,
A igreja ali aparece como algo ainda incipiente (Mt fizeram distinção entre a igreja e o reino de Deus;
16.18; 18.17). No livro de Atos e nas epístolas, a assim entenderam os reformadores e, de modo
igreja está em destaque, e o reino de Deus aparece geral, os teólogos depois deles.
em segundo plano. Qual a relação da igreja com
a) O reino Deus. Na Bíblia, o reino de Deus
Eclesiologia Unidade 02
significa, basicamente, a soberania de Deus em ter esse entendimento da extensão do reino além
ação no mundo por meio da pessoa de Cristo, da igreja.
trazendo libertação ao homem. Esse reino já
Segundo, a igreja é o fruto do reino inaugurado. O reino
foi inaugurado na primeira vinda de Cristo e se
de Deus cria a igreja. A igreja é o povo que aceitou
desenvolve no tempo presente, aguardando sua
o reino de Deus inaugurado em Cristo. Os cristãos
plenitude quando Cristo voltar. O apóstolo Paulo
são as pessoas sobre as quais Cristo já exerce o seu
ensina que o reino de Deus é “justiça, paz e alegria
reinado. A igreja é a esfera, ou domínio em que as
no Espírito Santo” (Rm 14.17). Atualmente, o
bênçãos do reino redentor devem ser vivenciadas.
reino tem um caráter pessoal, espiritual, invisível e
Ela dá expressão ao reino no tempo presente e
escatológico, embora com alguns sinais visíveis da
se prepara para viver e desfrutar o reino em sua
soberania divina.
plenitude futura
Como afirma Louis Berkhof, o reino “é o governo
Terceiro, a igreja é instrumento do reino de Deus. O reino
de Deus estabelecido e reconhecido nos corações
de Deus opera no mundo por intermédio da igreja.
dos pecadores mediante a influência regeneradora
“A igreja é a comunhão dos discípulos de Jesus que
e poderosa do Espírito Santo, na qual lhes assegura
18
Sei responder
Pensando nas quatro primeiras marcas da verdadeira igreja, aponte aquela que, na sua opinião,
caracteriza melhor a verdadeira igreja.
19
Eclesiologia Unidade 03
Objetivo
No estudo feito até aqui, vimos o que é a igreja em sua essência, os aspectos que identificam a verdadeira
igreja, bem como sua relação com o reino de Deus. Agora vamos considerar a fundação e a organização
da igreja no Novo Testamento.
20
A fundação da igreja
a) Fundador e fundamento. A primeira vez que dos doze, confessando Jesus como o Messias
a palavra “igreja” aparece no Novo Testamento (Cullmann). Quer dizer, Pedro recebeu autoridade
foi da boca de Jesus. Diante da confissão de do Senhor para ser o principal líder da igreja no
Pedro, afirmando que Jesus era “o Cristo, o Filho seu começo, conforme mostra o livro de Atos 1 a
do Deus vivo”, o Senhor Jesus disse: “E digo-te 12. A ele foram dadas “as chaves do reino do céu”
ainda que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei (Mt 16.19). Contudo, os outros apóstolos também
a minha igreja” (Mt 16.18). Quem fundou a igreja puderam usar as chaves (Mt 18.18). Noutras
foi Jesus Cristo, embora se servisse dos apóstolos palavras, Pedro foi uma “coluna” importante da
para lançar o fundamento e iniciar a edificação. igreja, mas outros também o foram (Gl 2.9).
Mas o que significa a “pedra” ou a rocha sobre Ainda outros têm interpretado a “pedra” como
a qual Jesus disse que edificaria a sua igreja? As sendo o próprio Cristo (Lutero) ou a fé que Pedro
interpretações variam. A Igreja Católica Romana exerceu em Cristo (Calvino). Neste último sentido,
diz que a “rocha” é Pedro, isto é, que ele foi Tasker comenta que Jesus dirigiu-se a Pedro
designado por Cristo como o chefe da igreja, cuja chamando-lhe rocha e esclareceu que a fé por ele
liderança Pedro iria transmitir aos seus sucessores expressa era a rocha sobre a qual ele edificaria a
ao longo da história. Mas essa interpretação não sua igreja.25
tem suficiente base bíblica, nem histórica. Como
Qualquer que seja o significado da “pedra”
bem observou Ladd: “Não há insinuação no
mencionada por Jesus não pode haver dúvida
contexto de que esta seja uma liderança oficial que
de que, no ensino geral do Novo Testamento, o
Pedro irá transmitir aos seus sucessores”.24
alicerce da igreja não é nenhum apóstolo, e sim
Alguns evangélicos também têm entendido que a Jesus Cristo, o Filho de Deus. Referindo-se à igreja
“pedra” é mesmo Pedro, como um representante de Corinto, Paulo declarou que “ninguém pode
24 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. 25 TASKER, R. V. G. Mateus, introdução e comentário.
São Paulo: Exodus Editora, 1997, p. 104. São Paulo: Mundo Cristo, 1980, p. 126.
Eclesiologia Unidade 03
lançar outro alicerce, além do que já está posto, do Pentecostes já havia pessoas regeneradas e
o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Aos Efésios, batizadas; elas tinham tarefas a cumprir; havia um
ele afirmou que a igreja é edificada “sobre o tesoureiro (Jo 13.29), celebravam o batismo (Jo
fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o 4.1,2) e a ceia do Senhor (Mt 26.26). Essas pessoas
próprio Cristo Jesus a principal pedra de esquina. já constituíam uma igreja, porém, ela ainda não
Nele [Cristo], o edifício inteiro, bem ajustado, estava completamente equipada e preparada.
cresce para ser templo santo no Senhor” (Ef
Foi somente a partir do Pentecostes que os
2.20,21). O próprio apóstolo Pedro declarou que
discípulos de Cristo receberam o poder e os
Jesus Cristo é a “pedra viva” na qual “vós também,
dons do Espírito Santo, o corpo de ensino dos
como pedras vivas, sois edificados como casa
apóstolos, a constituição da liderança e do plano
espiritual” (1Pe 2.4,5).
de trabalho e compreenderam Cristo como o
b) O tempo da fundação. Em que momento Senhor glorificado e cabeça da igreja. Portanto, foi
a igreja foi fundada? Antes do Pentecostes, no somente a partir da vinda do Espírito Santo que a
Pentecostes, ou depois? Com certeza a igreja igreja ficou plenamente estabelecida como “corpo
começou com Jesus, antes do Pentecostes, de Cristo” para poder cumprir a sua missão. Mas o
21
embora ainda estivesse numa fase incipiente e dia da organização ou do estabelecimento da igreja
incompleta. Como disse Strong, a igreja existia em “nós não podemos designar”.27
germe antes do Pentecostes.26 Quer dizer, antes
26 STRONG, A. H. Teologia sistemática. São Paulo: 27 CONNER, W. T. Doctrina cristiana. Buenos Aires :
Hagnos, 2007, v. 2, p. 1582. Casa Bautista de Publicaciones, s.d., p. 305.
O Novo Testamento não narra toda a história eram judeus e prosélitos judeus da Palestina e de
do desenvolvimento da igreja primitiva. Mas fica regiões mais distantes. Foi difícil para os judeus se
evidente que antes do fim do primeiro século já convencerem de que o propósito divino era que
havia muitas igrejas estabelecidas na Palestina os gentios também se tornassem participantes da
e por todo o Império Romano. Para o nosso salvação em Cristo Jesus. Foi Pedro quem abriu
propósito aqui, vamos analisar apenas as duas a porta da igreja para os gentios (At 10). Mas,
primeiras igrejas do Novo Testamento - a de mesmo depois da experiência de Pedro na casa
Jerusalém e de Antioquia -, e fazer alguma menção de Cornélio, os membros da igreja de Jerusalém,
a outras. espalhados para fora do país pela perseguição,
continuaram “anunciando a palavra apenas aos
a) A igreja de Jerusalém. Essa foi a primeira
judeus” (At 11.19).
igreja a ser estabelecida, e provavelmente a única
durante alguns anos antes de aparecer a segunda Sob a liderança dos apóstolos, a igreja de Jerusalém
igreja, a de Antioquia. Com a primeira pregação de experimentou um rápido crescimento. De 120 que
Pedro, usando as chaves do reino do céu, milhares se reuniram no aposento depois da ascensão de
de pessoas “acolheram a sua palavra” e “foram Cristo passaram para cerca de três mil no dia de
batizadas; e naquele dia juntaram-se a eles quase Pentecostes (At 2.41). Nos dias que se seguiram,
três mil pessoas” (At 2.41). o número cresceu para “quase cinco mil” (At
4.4). Em Atos 5.14, lemos que “cada vez mais
Os membros da igreja de Jerusalém, no começo,
Eclesiologia Unidade 03
agregava-se ao Senhor grande número de crentes, ensinavam os irmãos que os gentios tinham que se
tanto homens como mulheres”. submeter ao rito da circuncisão para que fossem
salvos (At 15.1). Uma delegação foi enviada à
A igreja de Jerusalém sofreu duras perseguições.
igreja de Jerusalém em busca de conselho sobre
No começo, essas se limitaram aos líderes. Pedro
tal questão. O resultado foi que se sustentasse que
e João foram açoitados e encarcerados. Estevão,
a salvação é pela graça mediante a fé. A igreja foi
um dos sete, foi apedrejado e morto. Tiago, irmão
libertada do jugo do judaísmo.
de João, foi decapitado. Sob a direção de Saulo
de Tarso, a perseguição se estendeu a todos os Era uma igreja missionária. O Espírito Santo
crentes, homens e mulheres (At 8.3). Por causa revelou que os dois principais líderes (Paulo
dessa perseguição, a igreja foi obrigada a sair da e Barnabé) deviam ir para a obra missionária.
cidade e se espalhar por outras terras. Porém, disso Entendendo isso, os irmãos, depois de jejuar e
resultou um grande bem: “os que foram dispersos orar, impuseram-lhes as mãos e os deixaram ir
iam por toda parte, anunciando a palavra” (At 8.4). para missões (At 13.3). Desse modo, iniciou-se o
Isso contribuiu para a expansão do evangelho e grande empreendimento missionário que havia de
o estabelecimento de outras igrejas por toda a levar o evangelho a todo o império romano.
22
Shelley afirma que “as igrejas apostólicas não se Ao contrário, tratava-se de “reuniões organizadas,
compunham de assembleias não-estruturadas”. com propósito definido, para os discípulos
Eclesiologia Unidade 03
confessos e batizados”.28 As linhas gerais ficam 18.27; 2Co 3.1), g) registros de beneficência (1Tm
claras e comunicam que havia um padrão nas 5.9; At 6.1), h) costumes uniformes (1Co 11.16), i)
igrejas locais dos primeiros cristãos: ordenanças (At 2.41; 1Co 11.23-26), j) ordem dada
O corpo da igreja reunia-se num dia designado, e observada (1Co 14.40; Cl 2.5), k) qualidades da
chamado Dia do Senhor, o primeiro dia filiação (Mt 28.19). Então, como afirma Strong,
da semana (At 20.7; Ap 1.10), e sob líderes
nomeados eles liam e estudavam as Escrituras havia uma organização eclesiástica já completa em
(1Tm 4.13), cantavam hinos (Cl 3.16), ofereciam todas as suas particularidades essenciais antes do
orações a Deus e recebiam ofertas (1Co 16.1-2).
O dinheiro era usado para ajudar os pobres e as encerramento do cânon inspirado.30
viúvas (At 6.1), assim como para sustento dos
líderes (1Tm 5.17-18). Os novos convertidos O fato da organização contraria a teoria de que
eram acrescentados à igreja pelo batismo (At
a igreja é um corpo exclusivamente espiritual
16.33) e toda a igreja se juntava para observar a
Ceia do Senhor (1Co 11.17-26).29 destituída de toda a organização formal. Também
contraria a teoria de que a forma de organização
Strong argumenta que o testemunho que o
da igreja não é definida no Novo Testamento,
Novo Testamento dá não é simplesmente de
permitindo-se que cada igreja adote a organização
uma organização informal, mas formal da igreja.
mais adequada às suas circunstâncias e condições.
23
Tal organização se mostra em: a) suas reuniões
Ao contrário, os elementos básicos da organização
estabelecidas (At 20.7; Hb 10.25), b) eleições e
da igreja estão estabelecidos no Novo Testamento.
oficiais (At 1.23-26; 6.5,6; Fp 1.1d), c) designação
As igrejas podem ajustar a sua estrutura
de seus ministros com a reconhecida autoridade
organizacional de acordo com as suas condições
deles e da igreja (At 20.17,28; Mt 18.17; 1Pe 5.2),
e necessidades, preservando os princípios já
d) disciplina (1Co 5.4,5,13), e) contribuições (Rm
estabelecidos na Palavra de Deus.
15.26; 1Co 16.1,2), f) carta de recomendação (At
28 SHELLEY, Bruce. Op. cit., p. 57.
29 Ibidem, p. 57. 30 Ibidem, p. 1575.
com o sistema adotado pela igreja. Nas igrejas exigem que o ex-membro excluído se reconcilie
de governo congregacional, onde as decisões são primeiro, pessoalmente, com a igreja que o
tomadas em assembleia geral, como ocorre entre excluiu, para depois solicitar transferência para
os batistas, por exemplo, os meios pelos quais outra igreja. Isso pode ser uma boa prática para
alguém se torna membro da igreja normalmente a disciplina, mas por vezes se torna inviável ou
são estes: difícil por motivo de distância, tempo decorrido
e outros fatores.
(1) Pelo batismo na própria igreja. A pessoa, depois de
ter dado evidência de conversão, é apresentada à (4) Por aclamação. Quando o candidato vem de
igreja para fazer a sua “profissão de fé”, mediante uma igreja de outra denominação, com a qual não
interrogatório do pastor. Após responder às há carta de transferência, e se o batismo que ele
questões ou declarar a sua fé, a igreja vota se o recebeu for considerado válido, resolvida a questão
aceita para o batismo e, por conseguinte, como de divergências doutrinárias, a igreja recebe o novo
membro da igreja após ser batizado. membro por votos, com base no testemunho dela.
Pode também ocorrer aceitação por aclamação
Pessoas que vêm de outra denominação cujo
de pessoas procedentes de igrejas da mesma fé e
batismo não tenha sido ministrado nas condições
ordem, como no caso de, após muitas tentativas,
e na forma adotadas pela igreja, de modo que esta
a carta não chegar, ou no caso de a igreja de
não considere válido aquele batismo, o candidato
origem não existir mais ou ainda situar-se em local
poderá ter que ser batizado de acordo com o
muito distante, sem comunicação. Contudo, neste
entendimento da igreja.
último caso (da mesma denominação), deve-se
(2) Por carta de transferência. Quando o crente fazer todo o esforço para que se obtenha a carta
deseja mudar de uma igreja para outra da mesma de transferência, ficando a modalidade aclamação
denominação (“da mesma fé e ordem”), ele deve como solução extrema.
manifestar seu desejo de filiar-se à nova igreja, e
Em todos esses casos, convém que a aceitação
esta, depois de decidir em assembleia sua aceitação,
do novo membro seja por unanimidade de votos.
31 STRONG, A. H. Op. cit., p. 1576.
Eclesiologia Unidade 03
Caso haja voto contrário, se o motivo não puder Há também desfiliação por transferência, quando
ser esclarecido e resolvido na hora, convém deixar o membro vai para outra igreja da mesma
o assunto sobre a mesa e certificar-se primeiro denominação, em atendimento ao pedido de
da razão do voto contrário. Pode ser que se trate transferência da outra igreja. Depois de decidida a
de algo que desqualifica aquela pessoa para ser transferência pela assembleia, procede-se o envio
membro da igreja. Se o motivo não justificar da carta e o desligamento do membro do rol.
o impedimento da filiação, ignora-se o voto
Alguns pastores não costumam ou são tardios em
contrário e se recebe o membro.
desligar membros. Um dos argumentos diz que é
c) Motivos e modos de desfiliação. A preferível manter no rol esses nomes para que haja
desfiliação ocorre quando o membro deixa de mais acesso da igreja a essa pessoa para eventual
pertencer à igreja. A desfiliação pode ser por ajuda. E ainda, há igrejas que não têm rol de
exclusão, morte ou transferência. membros. Consideram esse controle desnecessário
e sem base bíblica.
Para a exclusão, é preciso que haja motivo para
tanto, previsto no Estatuto da igreja. Os motivos Todavia, como exercer o devido cuidado pastoral
25
podem ser: 1) conduta errada e inaceitável do e a disciplina eclesiástica se não se sabe quem faz
membro, da qual não se arrepende, após ter sido parte da igreja? Ou como organizar a igreja se não
exortado (Mt 18.15-17); 2) propagação de doutrina se sabe com quantos pode contar? Por essas e
diversa daquelas consideradas fundamentais outras razões, entendemos que a prática da filiação
pela igreja; 3) mudança do membro para outra e desfiliação é necessária e tem fundamento na
igreja de denominação diferente; 4) ausência aos Palavra de Deus. Contudo, é preciso que haja zelo
cultos e às atividades da igreja durante um tempo e humildade no cuidado dos irmãos em falta (Gl
considerado excessivo pela igreja; 5) solicitação da 6.1,2), amor para perdoar o faltoso arrependido
exclusão pelo próprio membro. e paciência para esperar pelo restabelecimento
do enfraquecido ou recuperação do irmão que
O membro poder ser também desligado por
se desviou. Afinal, a igreja é uma “comunidade
motivo de morte. Nesse caso, faz-se a comunicação
terapêutica”.
do fato em assembleia, registra-se em ata e efetua-
se a retirada do nome do falecido do rol de
membros.
Eclesiologia Unidade 03
Atividades
Sei responder
Os quatro modos de filiação numa igreja, como a batista, são: ______________, ______________,
_______________ e _________________.
26
Eclesiologia Unidade 04
As funções da Igreja
Objetivo
a) as funções da igreja,
Para que a igreja existe? Quais são as suas funções? A igreja existe para glorificar a Deus. Escrevendo aos
romanos, Paulo diz: “Para que, unânimes e a uma só voz, glorifiqueis o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo” (Rm 15.6). Em Efésios 3.21, ele expressa esse mesmo desejo: “a ele [Deus] seja a glória na igreja
e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre”. Aos tessalonicenses, escreve: “Para que
o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do
Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.12). Na mesma linha de pensamento, o apóstolo Pedro exorta os crentes para
27
que usem os seus dons com zelo e dedicação, “para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus
Cristo” (1Pe 4.11). Como se vê, o propósito final da igreja é glorificar a Deus.
Mas como a igreja glorifica a Deus? Certamente, para tanto, a igreja deverá viver segundo a vontade de
Deus e cumprir as suas funções. Wayne Grudem denomina essas funções de ministérios e diz que eles
estão relacionados com Deus, com os cristãos e com o mundo.32 Vamos analisar essas funções.
32 GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 726,27.
Adoração
Grudem expõe que adoração é “a atividade de altares ao Senhor, invocando o seu nome (Gn
glorificar a Deus em sua presença com nossa voz e 12.7,8). Moisés, ao ser comissionado por Deus para
com nosso coração”. Diz que “é algo que fazemos tirar o seu povo do Egito, recebeu estas palavras:
especialmente quando entramos na presença “Quando houveres tirado o meu povo do Egito,
de Deus, quando estamos conscientes de que o prestareis culto a Deus neste monte” (Ex 3.12).
cultuamos de coração e quando o louvamos com Na instituição da Páscoa, “o povo inclinou-se e
a voz e dele falamos para que outros o ouçam”.33 adorou” (Ex 12.27). Depois que atravessaram o
Na adoração, reconhecemos o mérito, o renome mar Vermelho, Moisés e todo o Israel cantaram:
e o respeito que são devidos a Deus. Isso inclui o “O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele
louvor. se tornou a minha salvação; ele é o meu Deus,
portanto, eu o louvarei; é o Deus de meu pai, por
a) Adoração no Antigo Testamento. A adoração
isso o exaltarei” (Ex 15.2). Muitos anos depois,
ocupa um lugar importante no Antigo Testamento.
Moisés declarou a Israel: “Ele é a razão do teu
Abel, Noé, os patriarcas e especialmente o povo
louvor e o teu Deus, que fez em teu favor estas
de Israel, todos eles tinham a prática de cultuar a
grandes e terríveis coisas” (Dt 10.21).
Deus. Abraão, na terra de Canaã, edificou alguns
No reinado de Davi, salienta-se a adoração. Ele
33 Ibidem, p. 847.
Eclesiologia Unidade 04
“designou alguns dos levitas para ministrarem Ao contrário do Antigo Testamento, a adoração
diante da arca do Senhor, para celebrarem, cristã é descentralizadora. Horrell destaca quatro
agradecerem e louvarem ao Senhor, Deus de elementos que distinguem essa nova forma de
Israel” (1Cr 16.2). Asafe foi nomeado chefe adoração. Primeiro, o povo. Em vez de centralizar-
dos levitas. Ele e seus assistentes tocavam liras, se nos judeus, a igreja se tornou universal para
harpas e címbalos (1Cr 16.5). Assim, adoração e todos os povos, sem discriminação ou favoritismo.
louvor deveriam ser uma expressão contínua da Agora existe uma nova raça eleita, uma nova nação
vida de Israel. santa, uma comunidade espiritual (1Pe 2.9).
Edificação própria
A igreja não é somente uma comunidade que e pregando a palavra do Senhor juntamente com
adora. É também um povo que está crescendo muitos outros” (At 15.35).
em conhecimento, fé e amor. Portanto, ela tem
O ensino faz parte da grande comissão: “ensinando-
uma função em relação a si mesma: a sua própria
lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei”
edificação. Os primeiros cristãos tinham esse
(Mt 28.20). Não basta levar o indivíduo a Cristo e
interesse. Eles “perseveravam no ensino dos
colocá-lo na igreja pelo batismo. É preciso ensiná-
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
lo a viver como Deus ordena.
orações” (At 2.42).
A palavra relacionada com ensino (didaquê)
29
Paulo, depois de mencionar que Cristo deu à
aparece mais de 175 vezes no Novo Testamento.
igreja os dons ministeriais - apóstolos, profetas,
Em 1 e 2Timóteo há mais de 50 referências ao
evangelistas, pastores e mestres -, ele explica que
ensino, instrução, doutrina e exemplo, visando
foram dados “tendo em vista o aperfeiçoamento dos
às vidas mais consagradas e firmes no Senhor.
santos para a obra do ministério e para a edificação
Conhecer a Palavra de Deus e a sua vontade para
do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à
nós é fundamental para uma vida cristã saudável e
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
frutífera (Cl 1.9-11).
de Deus, ao estado de homem feito, à medida
da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13). b) Comunhão. Outra maneira de edificar a
O propósito desses dons é preparar e edificar o igreja é através da comunhão (koinonia), que
corpo de Cristo de forma que ele possa alcançar significa participar juntos em algo. Isso é mais que
a unidade da fé e do conhecimento pleno de associação mútua, embora esta esteja implícita
Jesus Cristo. Esse é o caminho para a maturidade naquela. A comunhão está ligada à adoração. A
e para o crescimento em Cristo. Há pelo menos base da comunhão cristã é a participação comum
três aspectos envolvidos na edificação da igreja: na vida de Deus (1Jo 1.3,7). Por isso, a comunhão
aprendizagem, comunhão e crescimento. era restrita aos que perseveravam na doutrina
dos apóstolos (At 2.42); os que se desviavam
a) Aprendizagem. Um dos principais meio
do comportamento cristão eram excluídos da
pelo qual a igreja se edifica é a instrução ou
comunhão (1Co 5.4,5; 2Ts 3.14).
ensino pela Palavra. Os milhares de cristãos que
se converteram no dia de Pentecostes, depois de A manifestação especial da comunhão era o amor
serem batizados, “perseveravam no ensino dos abnegado pelos irmãos (1Co 13; 1Jo 3.16), sinal
apóstolos” (At 2.42). Mais adiante em Atos se marcante da nova comunidade (Jo 13.34,35) e um
diz que “todos os dias, no templo e de casa em meio de levar o mundo a crer em Jesus (Jo 17.23).
casa, não cessavam de ensinar e de anunciar Jesus A comunhão implicava levantamento de ofertas
Cristo” (5.42). Em Antioquia, Paulo e Barnabé para socorrer os necessitados (Rm 15.25-26;
demoraram-se durante algum tempo “ensinando 2Co 8.1-4; 9.1,2). Envolvia também a prática da
Eclesiologia Unidade 04
hospitalidade (Hb 13.2; 1Pe 4.9), o levar as cargas Subentende-se aqui um modo sincero e amoroso
uns dos outros (Gl 6.2), o encorajamento mútuo de viver. Maturidade e unidade são impossíveis
(Hb 10.25) e a oração pelos outros (Fp 1.19). sem o amor.
Evangelização
A igreja não existe apenas para adorar a Deus mensagem e recebem Jesus em seus corações e o
e edificar seus membros na fé e no amor, mas ensino da obediência a todas as coisas que Jesus
também para levar o evangelho a todo o mundo e ordenou. Essa obediência também implica o novo
expandir-se. Após sua ressurreição, Jesus declarou: crente ir e fazer discípulos, e assim, a evangelização
“Toda autoridade me foi concedida no céu e na do mundo se torna uma tarefa que envolve cada
terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as vez mais um número maior de cristãos e possível
nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho de ser concluída.
e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer
Como garantia de êxito nessa missão, Jesus
a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou
prometeu estar sempre presente com os seus
convosco todos os dias, até o final dos tempos”
servos e revesti-los de poder espiritual. Em Lucas,
(Mt 28.18-20). Essa comissão é também declarada
após dizer aos discípulos: “Vós sois testemunhas
em outros evangelhos, com algumas alterações
destas coisas”, Jesus acrescentou: “Mas ficai na
(Mc 16.15,16; Lc 24.46,47; Jo 20.21,23), e também
cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”
em Atos (1.8). Essa é uma ordem de Jesus para
(24.48,49). Em Atos, disse: “Mas recebereis poder
ser cumprida por todos aqueles que o amam de
quando o Espírito Santo descer sobre vós; e sereis
verdade (Jo 14.15).
minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como
A ordem de fazer discípulos, conforme Mateus em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da
28, inclui a proclamação de Cristo como Salvador terra” (At 1.8).
e Senhor, o batismo daqueles que aceitam a
Eclesiologia Unidade 04
O Espírito Santo dá à igreja poder e orientação na sociedade, ela pode ser um instrumento vivo na
para realizar a obra. Temos exemplos claros evangelização se estiver vivendo na presença e no
disso nas Escrituras. Isso é visto, especialmente, poder do Senhor (Ap 3.8,9).
no livro de Atos (At 5.19,20; 8.26,29; 10.19,20;
Portanto, para ser fiel ao Senhor, a igreja deve
11.12; 13.2,4; 16.6,7,9). Paulo resume a presença
se esforçar para levar o evangelho a todas as
e a atuação de Cristo e do Espírito Santo no
pessoas. Isso vai além do nosso círculo imediato
seu ministério ao dizer aos romanos: “porque
de contato. Como disse Erickson: “Num
não ousarei falar de coisa alguma senão daquilo
sentido bem real, evangelização local, expansão
que Cristo tem feito por meu intermédio, para
ou fundação de igrejas e missões mundiais
obediência dos gentios, em palavra e ação, pelo
são a mesma coisa. A única diferença está no
poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito
comprimento do raio.”37
Santo” (Rm 15.18,19). Evangelização é uma obra
espiritual. Por mais insignificante que a igreja seja 37 ERICKSON, Millard J. Op. cit., p. 447.
Serviço social
31
Em todas as funções da igreja, existe a sofredores. Tiago salienta o aspecto da atenção
responsabilidade de praticar atos de amor e aos órfãos e viúvas - desprotegidos na época
compaixão cristã tanto para crentes como para - como parte da expressão da legítima religião
descrentes. Sendo assim, esse aspecto da obra (Tg 1.27). Também fala da necessidade do
da igreja está relacionado com a adoração (Hb cristão expressar a sua fé através de obras de
13.16), com a evangelização e com a edificação ajuda aos necessitados (2.15-17).
dos crentes.
A igreja de Cristo precisa estar envolvida em
Jesus Cristo preocupava-se com aqueles que serviço social na comunidade e no mundo. A
sofriam. Seu ministério não foi só de perdão necessidade e o sofrimento do homem não estão
e salvação da alma, mas também de cura de circunscritos apenas aos aspectos da sua relação
toda sorte de sofrimento. Ele deu o exemplo pessoal com Deus, mas também na sua relação
do cuidado abrangente do homem. Ele curou com este mundo e com a sociedade onde vive. Ele
pessoas de enfermidades, libertou de opressões sofre no mundo e na sociedade, além de sofrer na
malignas, perdoou os pecados, proveu alimento alma diante de Deus. A igreja precisa ver o homem
em ocasiões especiais, ensinou as verdades total, em todos os seus aspectos, e procurar levar-
do reino de Deus e instruiu sobre como viver lhe o amor de Deus, demonstrando-o na pregação
segundo a vontade do Pai. e ensino do evangelho, mas também na prática de
obras de ajuda aos que sofrem.
A igreja, como corpo e instrumento de Cristo
na terra, deve também seguir o exemplo do seu Contudo, a igreja não deve tornar-se uma agência
Senhor e procurar ajudar os que sofrem. Essa é a humanitária, preocupada acima de tudo com
vontade de Cristo para os seus discípulos, a julgar as necessidades físicas e mazelas sociais. “A
pela parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37) prioridade deve estar sempre nos mais profundos
e pela lição de Mateus 25.31-46, onde ele mostra problemas espirituais da humanidade”.38 Mas,
que os verdadeiros sinais dos que são dele são uma vez que as pessoas são seres corpóreos que
os atos de amor para com os necessitados e
38 WILLIAMS, Rodman J. Op. cit., p. 874.
Eclesiologia Unidade 04
vivem num contexto social, a igreja também deve com o homem total, mas sem perder de vista o
preocupar-se com toda a condição humana. que é prioritário, é um desafio, pois o interesse do
homem em geral tende a se voltar mais para as
Mas também isso não quer dizer uma igualdade
questões da vida terrena, sem a preocupação com
entre o evangelho da salvação e o “evangelho
a realização da vontade de Deus, ou seja, com a
social”. O evangelho é a mensagem de salvação
vida no Reino.
e deve ter prioridade. Isso não significa que não
se deva dar comida a um faminto antes de falar a Através das suas funções - adoração, edificação
ele do evangelho de Cristo. Certamente, devemos própria, evangelização e obra social -, a igreja
dar o alimento, mas não deixar de oferecer o que cumpre a sua finalidade no mundo, que, em última
é de maior valor: a entrada no reino de Deus e a análise, é servir e glorificar a Deus. Cada igreja
vida eterna. “Pois que adiante ao homem ganhar o local e cada membro é parte desse propósito
mundo inteiro e perder a vida? (Mt 16.26). eterno de Deus. A igreja encontra motivação para
ser fiel à sua missão na certeza de que seu trabalho
Jesus ensinou que se deve buscar primeiro o
não é inútil (1Co 15.58).
reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas
32
Sei responder
33
Eclesiologia Unidade 05
Os oficiais da Igreja
Objetivo
O que é um oficial da igreja? Wayne Grudem diz que “um oficial da igreja é alguém pubicamente reconhecido como
detentor do direito e da responsabilidade de desempenhar certas funções para o benefício de toda a igreja”.39 Os oficiais,
que alguns autores preferem chamar de líderes ou ministros, são necessários para o bom desempenho da
igreja. Como diz Conner, “é inegável que para realizar melhor seu trabalho, a igreja deve ter oficiais”.40
34
Quer dizer, para que a igreja funcione adequadamente, é preciso que determinadas pessoas sejam
reconhecidas como detentoras de autoridade e responsabilidade para conduzir a igreja.
Quem são os oficiais da igreja no Novo Testamento? Em Efésios 4.11, Paulo diz que Cristo “designou
uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e
mestres”. Em 1Coríntios 12.28, ele fala também dos apóstolos, profetas e mestres, nessa ordem, como
os primeiros líderes.
Noutras passagens, Paulo fala de bispos e presbíteros como aqueles que pastoreiam a igreja de Deus (At
20.17,28), governam, pregam e ensinam (1Tm 5.17). Refere-se ainda a diáconos (Fp 1.1; 1Tm 3.8-13)).
O apóstolo Pedro também faz menção de presbíteros, que têm o dever de pastorear o rebanho de Deus
(1Pe 5.1-3). Afinal, quem são os oficiais da igreja? Vamos estudar o assunto dividindo-o em três partes.
35
Um deles se chamava Ágabo, que “indicou pelo
autoridade nas igrejas devido à sua relação com o
Espírito que haveria uma grande fome em todo
Senhor e a sua vocação e missão apostólicas (Mc
o mundo, que ocorreu no tempo de Cláudio” (At
3.13-15; At 1.21,22). Eles interpretaram os atos
11.28). Ele não era o único, pois naquela igreja
de Cristo, fundaram as primeiras igrejas e foram
“havia profetas” (At 13.1). Judas e Silas eram
os guias autênticos delas. Pela relação especial que
profetas que integraram a comitiva que levou a
tiveram com Cristo e com a fundação da igreja,
carta para a igreja de Antioquia comunicando a
é impossível que tivessem sucessores no mesmo
decisão do concílio em Jerusalém. E eles, “Judas
sentido da palavra. Contudo, alguns defendem
e Silas, que também eram profetas, exortaram os
a ideia de que há pessoas com ministérios
irmãos com muitas palavras e os fortaleceram” (At
apostólicos de um tipo diferente. Stott coloca “a
15.32).
jurisdição episcopal, a obra missionária pioneira, a
implantação de igrejas, a liderança itinerante etc.” Em 1Coríntios, Paulo considerou o dom de
como possíveis exemplos de ministério apostólico profecia como de grande importância para a igreja.
atual.43 Mas os apóstolos que foram colocados Disse que “quem profetiza fala aos homens para
na igreja por Deus “primeiramente” (1Co 12.28) edificação, exortação e consolação” (1Co 14.3).
foram aqueles que se tornaram testemunhas Instruiu que não deviam impedir que os profetas
pessoais do Cristo ressurreto e que fundaram as falassem, mas que os outros deviam julgar o que
primeiras igrejas. eles diziam (1Co 14.29). Assim como os apóstolos,
os profetas exerceram um papel bastante relevante
b) Profetas. No sentido primário em que a Bíblia
na implantação da igreja, num tempo quando a
usa a palavra profeta, referia-se a uma pessoa que
revelação trazida por Cristo ainda estava sendo
ouvia a palavra de Deus e falava o que vinha da
compreendida e assimilada pelas igrejas (1Co
boca do Senhor. Era o porta-voz de Deus, um
14.30; cf. Jo 16.13,14).
meio de comunicação da revelação divina. Os
Contudo, agora com as Escrituras, onde
EBU, 1987, p. 114. encontramos a revelação já dada por Cristo e
42 Ibidem, p. 115.
43 Ibidem, p. 115. interpretada pelos apóstolos, grande parte do
Eclesiologia Unidade 05
ministério profético pode estar relacionada com de igrejas. Muitas igrejas começam com pessoas
a capacidade espiritual de ouvir Deus falar por chamadas “leigas”, isto é, sem a ordenação formal
meio do texto bíblico ou de determinada situação de pastor. São crentes que amam o Senhor,
e comunicar com vigor a mensagem recebida, conhecem a mensagem do evangelho e são dados
visando à “edificação, exortação e consolação” pelo Senhor à igreja para ir e pregar o evangelho
(1Co 14.3). Nas palavras de John Stott, profecia, em lugares onde normalmente ainda não há uma
no Novo Testamento, é “o dom de percepção do igreja. Assim, os evangelistas servem melhor à
texto bíblico ou da situação contemporânea, ou de igreja indo pelo mundo, levando a mensagem da
ambos, ou seja, uma poderosa combinação de uma graça e do perdão de Deus.
precisa exposição com uma aplicação pertinente”.
d) Mestres. A função do mestre era muito
44
Conner declara que profecia “Era um dom
importante nas igrejas do Novo Testamento e não
mais ou menos temporal em sua natureza, que
há dúvida de que era um dos deveres dos pastores.
bem podia ser dado a um oficial ou a outros
Paulo menciona “pastores e mestres” (Ef 4.11),
na igreja”. E que é provável que não havia uma
dando a impressão de que não se referia a oficiais
classe profética oficial, senão um dom profético,
distintos, mas a duas funções desempenhadas
36
37
e bispo” (1Pe 2.25). No Antigo Testamento, eles podem fazer as duas coisas.
os líderes do povo de Deus eram chamados de
O conceito moderno de bispo é diferente daquele
pastores (Jr 3.15; 23.4; Ez 34.23; Zc 11.17).
do Novo Testamento. A ideia de bispo como um
Entre os evangélicos, em geral, tem havido uma oficial superior com autoridade sobre um grupo
predileção pelo título pastor para o líder espiritual de pastores e igrejas de uma certa região, apesar de
da igreja. Por que a preferência desse nome? Alguns ter realmente começado a aparecer já no segundo
fatores podem ser apontados para explicar a século e ter sido plenamente estabelecido no tempo
preferência pelo nome pastor: a) o fato da igreja ser de Cipriano, é, sem dúvida, um distanciamento do
chamada de rebanho; b) a função dos presbíteros e cargo original de “bispo” do Novo Testamento.
bispos de apascentar; c) Cristo apresentado como Essa é a opinião de muitos estudiosos.
pastor e d) a ideia de pastores do povo de Deus no
b) Qualificação e investidura. As qualificações
Antigo Testamento. Provavelmente, tudo isso tem
básicas para o cargo de pastor (presbítero ou bispo)
exercido influência para a preferência do nome
estão expressas em 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.6-9.
pastor em vez de presbíteros e bispos.
Os principais requisitos podem ser resumidos em
Na verdade, a igreja tem na mesma pessoa do conduta irrepreensível, caráter inquestionável e
seu líder um presbítero, um bispo e um pastor. capacidade para dirigir e ensinar.
Presbítero é aquele que preside, governa; bispo quer
Essas qualidades o indivíduo adquire pelo dom
dizer supervisor de obras; pastor é aquele que
natural, pela graça divina e pela preparação. Há
apascenta. A igreja, como povo ou assembleia,
pessoas com inclinação natural, por exemplo, para
precisa de um presbítero que a presida; como um
a liderança ou o ensino, mas é a graça de Deus
grupo de servos do Senhor, a igreja precisa de um
que torna a pessoa capaz para o ministério, quer
bispo que supervisione os trabalhadores e a obra;
ela tenha ou não algum pendor natural. Não
como ovelhas de Cristo, a igreja necessita de um
obstante a graça divina que capacita, requer-se do
pastor para apascentar. Como a predileção é pelo
candidato ao ministério uma preparação pessoal
nome de ovelhas e rebanhos aplicados aos crentes,
cuidadosa, tanto no aspecto intelectual, como no
Eclesiologia Unidade 05
moral e espiritual. Com esforço pessoal e com o 1.14,15), ou ainda constrangido pelo amor a Cristo
auxílio das Escrituras, “o homem de Deus [será] e seu povo (Jo 21.15-17). A igreja local também
perfeito e perfeitamente preparado para toda boa participa deste processo de chamada ao expressar
obra” (2Tm 3.17). Jesus, antes de enviar os doze sua impressão ou convicção de que o indivíduo
para a obra, determinou que “estivessem com apresenta indícios de vocação para o ministério
ele”, para que fossem preparados (Mc 3.14). Paulo (At 13.2,3).
exortou Timóteo para que procurasse apresentar-
O ato de consagração requer um exame prévio
se “aprovado diante de Deus, como obreiro que
do candidato, que leva em conta a convicção da
não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
chamada divina, o preparo pessoal e as condições
palavra da verdade” (2Tm 2.15).
básicas para o ministério. Esse é um ato dos
Além das qualidades acima apresentadas, o pastores (1Tm 4.14). Não há nada definido no
indivíduo terá de receber o chamado de Deus Novo Testamento sobre o método de consagração
para a obra do ministério. Todos os crentes são senão indícios de algum procedimento formal,
chamados para o serviço em geral, mas para a como eleição, oração e imposição de mãos (At 13.3;
função de pastor ou de líder do povo de Deus, 1Tm 4.14; 5.22; At 14.23; Tt 1.5). Naqueles tempos
38
que envolva demorada preparação e dedicação primitivos, o ato da imposição das mãos podia
da vida, é preciso um chamado específico. Esse implicar duas coisas: que a pessoa era separada
chamado pode refletir-se num desejo ardente pelo para certo ofício e que alguma capacidade especial
exercício do ministério (1Tm 3.1), ou numa forte lhe era conferida por Deus, mediante a oração.
convicção de que deve fazer a obra de Deus (Rm
Diáconos
Além dos pastores (bispos, presbíteros), foram escolhidos para servirem na igreja em
encontram-se também no Novo Testamento os áreas de relevância para a vida do povo, mas não
diáconos (Fp 1.1; 1Tm 3.8-13). De modo geral, diretamente do ministério pastoral. Por analogia
aceita-se que os diáconos tiveram sua origem no com Atos 6, os diáconos servem à igreja nas
ministério dos sete em Atos 6.1-7, embora haja necessidades que não precisam ocupar o tempo
controvérsia a esse respeito. dos pastores, liberando estes para atuarem na parte
mais específica do seu ministério. Os diáconos
A palavra grega diakonos significa servo e tem,
podem também servir em outras áreas, como na
no Novo Testamento, um sentido geral e outro
pregação e na evangelização, a exemplo daqueles
específico. No sentido geral, ela designa, sem
de Atos 6.
distinção, qualquer um que serve, assim como
Apolo e Paulo (1Co 3.5; Ef 3.7; 1Tm 1.12; Cl 1.23) As qualificações para o diaconato estão em Atos
e o próprio Cristo (Rm 15.8). Com essa conotação, 6.3 e também em 1Timóteo 3.8-12. Devem possuir
todos os cristãos que servem na causa de Cristo boa reputação, vida cheia do Espírito Santo e de
poderiam ser considerados diáconos. sabedoria, e ter experiência comprovada (1Tm
3.10). Sem essas qualidades, eles não poderiam
Mas a palavra passou a ter também um significado
atender os irmãos em suas necessidades.
específico, conforme Filipenses 1.1 e 1Timóteo
3.8-13. Nessa acepção, diáconos são aqueles que Quanto ao procedimento para sua eleição e
Eclesiologia Unidade 05
consagração, temos indícios também em Atos secretários, diretores de departamentos, líderes de
6.1-4. Nessa passagem, a visão da necessidade e organizações e outros. Como já vimos, para alguns,
o critério da escolha foram dos líderes principais todos esses que servem na igreja estão incluídos na
(apóstolos); a escolha foi feita pelos membros categoria de diáconos. Mas a maioria dos estudiosos
da igreja; a consagração seguiu-se com oração e faz distinção entre eles e os diáconos.
imposição de mãos dos apóstolos. Na prática batista,
Nesse caso, sobre que base podemos justificar
normalmente, a consagração para o diaconato
o acréscimo desses líderes, além daqueles
é feita somente com a igreja local, dispensando-
especificados no Novo Testamento? Respondemos
se o concílio formado com participantes de
com Conner: “sobre a base da necessidade”. Ele
outras igrejas, pois a consagração é para servir
explica que a comissão que nos foi dada justifica
como diácono naquela igreja que o consagra.
o emprego de quaisquer meios ou a adaptação
Diferentemente dos pastores, que são consagrados
de quaisquer métodos que sejam consistentes
para o ministério também em outras igrejas.
com os princípios do evangelho e com os pontos
Com o passar dos tempos, outros líderes foram fundamentais da eclesiologia.47
aparecendo nas igrejas, como tesoureiros,
39
47 CONNER, W. T. Op. cit., p. 312.
Eclesiologia Unidade 05
Atividades
Sei responder
Objetivo
c) a disciplina na igreja.
Os apóstolos não prescreveram uma forma de governo especial para as igrejas. Conforme Bruce Shelley
afirmou, o Novo Testamento não revela um governo eclesiástico uniforme na era apostólica.48 Contudo,
podemos observar a existência de alguns elementos básicos que devem ser levados em conta no governo
da igreja. Veremos primeiro as formas de governo eclesiástico na história e depois voltaremos aos
41
princípios bíblicos.
Formas de governo
a) Governo episcopal.No século II, o bispo que rejeitaram a supremacia romana mantiveram
surgiu como o pastor principal e administrador das a premissa de que o governo das igrejas deve
igrejas de uma determinada região. Passou a ser estar nas mãos de bispos. As igrejas metodistas
também o principal celebrante da ceia do Senhor. e anglicanas estão entre estas, governadas por
Este papel do bispo veio em tempo de perseguição bispos. Algumas igrejas luteranas optaram por um
e de lutas contra os hereges. Os bispos eram os sistema episcopal modificado. Nos tempos atuais,
únicos com direito a ordenar presbíteros (também outras igrejas têm surgido com essa forma de
chamados “sacerdotes”) e diáconos, cujas funções governo episcopal.
eram limitadas nas igrejas locais.
Entre tantas formas adotadas de governo governo da igreja segundo o Novo Testamento.
eclesiástico, há de se perguntar como deve ser o Essa não é uma questão tão simples, porque, como
Eclesiologia Unidade 06
Erickson afirma: “Não há exposição prescritiva oficiais e delegados (At 1.23,26; 6.1-6; 15.2,3);
sobre como deve ser o governo da igreja”.49 Mas o b) cada igreja tinha poder para executar sua
mesmo autor reconhece que há certos princípios própria disciplina (Mt 18.17,18; 1Co 5.13);
fundamentais presentes no Novo Testamento c) cada igreja, juntamente com seus oficiais,
que devem ser levados em conta. Ele aponta três tomava as decisões (At 15.22), recebia delegados
desses princípios neotestamentários: (At 15.4), enviava representantes (2Co 8.19) e
missionários (At 13.2,3).
Primeiro, o valor da ordem, visto especialmente
em 1Coríntios; portanto, “É indispensável que Essas são razões que justificam o governo
certas pessoas sejam responsáveis por ministérios congregacional da igreja, um governo autônomo
específicos”. Segundo, o sacerdócio de todos os santos, e democrático, onde cada qual tem a oportunidade
quer dizer, cada pessoa é capaz de relacionar-se de exercer o seu sacerdócio e os seus dons
diretamente com Deus e servi-lo. Terceiro, cada espirituais. Os oficiais exercem certas funções
pessoa é importante para todo o corpo (Rm 12 e 1Co em favor da congregação por nomeação dela
12); a igreja precisa do ministério de todos para mesma. Todas as funções ministeriais, como a
a sua edificação. Como base nesses princípios, o pregação, a administração das ordenanças e outras
43
referido autor conclui que “a forma congregacional são da competência da congregação local e não
de governo da igreja é a que cumpre melhor os dos oficiais; esses recebem da igreja suas funções
princípios colocados”.50 específicas em beneficio de todos.
Além desses princípios, deve-se observar Esse sistema tem dado certo na experiência prática,
também a prática das igrejas do Novo estimulando a participação e a responsabilidade de
Testamento, apontando para um governo todos nos assuntos da igreja. As igrejas crescem
do tipo congregacional. Destacamos três e se edificam quando todos podem servir com
elementos: a) cada igreja elegia seus próprios liberdade, usando todos os seus dons (Ef 4.15).
49 ERICKSON, Millard J. Op. cit. p. 457.
50 Ibidem, p. 457.
A disciplilna da Igreja
Na vida cristã, temos obrigações uns para com os igreja de Cristo. E a história nos mostra que esse
outros. Essas obrigações recíprocas não envolvem aspecto da vida da igreja já foi mais acentuado
apenas o encorajamento aos outros de maneira no passado do que agora. Segundo a informação
positiva. Elas incluem também a responsabilidade do professor de história Greg Wills, “nos dias
de falar honestamente sobre as faltas, erros, anteriores à Guerra Civil Americana, ‘os batistas
afastamento das Escrituras e pecados específicos. do Sul excluíam quase 2% de seus membros a cada
A disciplina é um dos aspectos vitais de uma igreja ano’”.52 Aqui no Brasil também se verifica que no
saudável.51 passado, de modo geral, as igrejas batistas eram
mais rigorosas na disciplina. Vamos considerar
Já vimos que no século XVI a disciplina
o assunto abordando o conceito, base bíblica,
eclesiástica foi considerada uma das marcas da
propósito e formas de disciplina.
51 Mark Dever considera a disciplina na igreja uma das
nove marcas de uma igreja saudável e relata que as igrejas a) Conceito e base bíblica da disciplina. A
no passado, nos Estados Unidos, eram mais zelosas da
disciplina. Op. cit., p. 183-212. 52 Informação de Mark Dever, Op. cit.,p. 196.
Eclesiologia Unidade 06
expressão disciplina pode acarretar uma conotação aqueles que causam divisões na igreja. Nas cartas
negativa, como a instrução que visa à correção que o Senhor Jesus enviou às sete igrejas da Ásia,
ou mesmo à exclusão. Mas esse não é o sentido onde havia problemas doutrinários, morais ou
que se quer dar aqui. A palavra “disciplina” vem fraqueza na vida cristã, ele exigiu arrependimento
do latim e significa “ação de instruir, educação, e correção, sob pena de a igreja perder o seu lugar
ensino”. A função da disciplina é ensinar, corrigir, (Ap 2.14-16; 20-23; 3.1-3; 19,20).
desenvolver. A disciplina na igreja é toda a ação
As situações mencionadas nessas passagens e
da igreja que visa conduzir os seus membros ao
noutras podem ser áreas em que a igreja deva
desenvolvimento e mantê-los firmes na Palavra de
exercer a disciplina corretiva. Se a igreja negligenciar
Deus. Sem disciplina a igreja poderá se corromper.
esse aspecto do seu ministério, o resultado é a
No Novo Testamento, a disciplina eclesiástica é frouxidão moral e doutrinária dos seus membros
bastante enfatizada e rígida. As passagens abaixo e, por conseguinte, o enfraquecimento da vida
mostram o lugar da disciplina na vida cristã e vários espiritual dos irmãos e da igreja. Por isso que no
problemas que deviam ser tratados. Em Hebreus Novo Testamento a disciplina foi praticada com
12.4-11, a disciplina é apresentada como algo bastante rigor, como, por exemplo, o caso de
44
extremamente positivo, e que Deus nos disciplina Ananias e Safira (At 5.1-11) e do crente imoral de
para o bem, assim como os nossos pais terrenos Corinto (1Co 5. 1-5).
fizeram conosco quando éramos crianças. Em
b) Propósito da disciplina. Wayne Grudem
Mateus 18.15-17, o Senhor Jesus nos ensina que se
apresenta o propósito da disciplina eclesiástica em
um irmão pecar, aquele que souber do fato deve
três itens;53 Mark Dever o faz em cinco.54 O que
procurá-lo a fim de corrigi-lo; se o ofensor não se
segue expressa em grande parte o conteúdo das
arrepender, comunicar o fato à igreja para que o
exposições desses autores.
assunto seja tratado.
(1) A disciplina visa restaurar e desenvolver o cristão
Em 2Coríntios 5.1-5, Paulo recomenda o que se
que está em falta. Às vezes o cristão se desvia do
deve fazer com um certo irmão incestuoso. No
caminho da santidade ou da verdade bíblica e
mesmo capítulo, ele estende a disciplina àquele
carece da ajuda específica para sua restauração. Ele
que, “dizendo-se irmão, for imoral ou ganancioso,
precisa reconciliar-se com Deus e com seus irmãos
idólatra ou caluniador, bêbado ou ladrão” (1Co
e assim restaurar a sua comunhão. Nesse caso,
5.11). Em Gálatas 6.1, o apóstolo ensina que se
a ação disciplinadora da igreja é de fundamental
um irmão for surpreendido em algum pecado,
importância. E o objetivo imediato da disciplina
os que são espirituais devem ajudá-lo na sua
e “ganhar o irmão” (Mt 18.15), ou “restaurar a
restauração, mas com espírito de humildade. Em
pessoa” (Gl 6.1), ou fazer o irmão “retornar do
2Tessalonicenses 3.6-15, Paulo dá instrução sobre
erro do seu caminho” (Tg 5.20). O trabalho de
como tratar alguns da igreja que eram ociosos e que
disciplina aí deve ser feito com humildade, amor e
defendiam a sua inatividade como sendo da vontade
espiritualidade (Gl 6.1,2). É um trabalho positivo,
de Deus. Em 1Timóteo 1.20, o apóstolo se refere
que visa restaurar e desenvolver, e não punir.
a alguns que haviam naufragado na fé, os quais ele
havia entregue a Satanás, para que aprendessem (2) A disciplina visa proteger outros cristãos do pecado. Outro
a não blasfemar. Na mesma carta, o apóstolo diz propósito da disciplina é impedir que o pecado
como tratar os líderes que vivem no pecado (1Tm
53 GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 750-752.
5.20). Em Tito 3.10, diz o apóstolo como tratar 54 DEVER, Mark. Op. cit., p. 207-211.
Eclesiologia Unidade 06
se alastre e atinja outras pessoas da comunidade. perca a sua identidade e a sua capacidade militante.
Referindo-se ao caso daquele irmão em falta na
(4) A disciplina é feita com o propósito de glorificar a
igreja de Corinto, Paulo diz, figurativamente, que
Deus refletindo a sua santidade. A igreja é composta
“um pouco de fermento faz com que toda a massa
de indivíduos que foram chamados por Deus
fique fermentada” (1Co 5.6). Por isso recomendou
para serem santos (Rm 1.7; 1Co 1.2; 1Ts 4.7; 1Pe
que aquele indivíduo que estava em pecado fosse
1.15; Hb 12.14). Quando refletimos a santidade de
posto fora da igreja para que aprendesse e fosse
Deus, glorificamos o seu nome e levamos outros
salvo “no dia do Senhor Jesus”; mas também para
a glorificá-lo também. Jesus ensinou que nossa
que outros não viessem a cair no mesmo pecado
luz deve resplandecer diante dos homens para
ou falta semelhante. E ordenou: “não vos associeis
que vejam as nossas boas obras e glorifiquem o
com os imorais” (1Co 5.9).
nosso Pai, que está no céu (Mt 5.16). Glorificar
Em Hebreus 12.15, o autor adverte: “Cuidado a Deus é a razão da nossa vida em Cristo e na
para que ninguém se abstenha da graça de Deus. igreja. Paulo exclamou: “a ele seja a glória na igreja
Que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo
perturbe e muitos sejam contaminados”. Tratando o sempre” (Ef 3.21). Nossa santidade tem de
45
da disciplina dos que vivem em pecado, Paulo refletir a santidade de Deus. Por todas as razões
disse a Timóteo: “repreende-os na presença de expostas acima e outras que podem ser percebidas,
todos, para que outros também tenham temor”. “a disciplina bíblica na igreja é uma marca de uma
Portanto, um dos efeitos da boa disciplina na igreja saudável”.55
igreja é a proteção dos outros da contaminação
c) Formas de disciplina. Normalmente, a
do pecado.
disciplina eclesiástica é vista assumindo três formas
(3) A disciplina visa resguardar a pureza e o testemunho da na sua aplicação. Alguns chamam essas formas de
igreja. A disciplina eclesiástica tem também como disciplina formativa, corretiva e cirúrgica.
propósito proteger a igreja da impureza moral e
(1) Disciplina formativa. A disciplina formativa é
doutrinária e preservar a força do seu testemunho
toda a atividade da igreja que visa instruir e formar
no mundo. Naturalmente, nenhum cristão é tão
os membros na vida cristã. Toda a instrução que
puro que não tenha de estar se purificando cada vez
os crentes recebem através das pregações, das
mais (1Jo 1.8-10). Mas quando membros da igreja
exortações, dos estudos, conselhos, apoio, constitui
vivem na prática do pecado, de modo notório, se
disciplina formativa. É assim chamada porque
não forem corrigidos, a igreja fica maculada no
todo esse trabalho tem a finalidade de formar
seu caráter e enfraquecida na sua capacidade de
o caráter e a consciência dos crentes segundo o
testemunhar do poder restaurador do evangelho
padrão da Palavra de Deus. Nesse sentido, todos
de Cristo. Paulo recomenda que nos tornemos
os membros da igreja precisam receber esse tipo
filhos de Deus irrepreensíveis, sinceros e íntegros
de disciplina. A vida da igreja é de constante
no meio de uma geração corrupta e pervertida, na
instrução, aprendizado e desenvolvimento, pois
qual devemos resplandecer como luminares no
o alvo de Cristo para os seus seguidores é mui
mundo (Fp 2.15). O pecado na vida dos crentes
elevado e demanda esforço ao longo de toda a
ofusca o brilho da luz de Cristo. Num mundo
nossa existência.
globalizado, onde o pluralismo e o sincretismo
religiosos ganham força e a moralidade cristã se (2) Disciplina corretiva. Todos os crentes estão
deteriora, é preciso cuidar para que a igreja não 55 Ibidem, p. 211.
Eclesiologia Unidade 06
sujeitos a falhas na vida. Quando alguém incide cair também na mesma falta.
em erro ou falha que possa comprometer a vida
(3) Disciplina cirúrgica. Mas as etapas anteriores
cristã, ele deve ser corrigido, como já foi visto (cf.
da disciplina nem sempre dão resultado, pois o
Mt 18.15-17a; Gl 6.1). Essa é a disciplina corretiva.
faltoso pode recusar-se a ouvir também a igreja.
Esse trabalho precisa ser feito com observância
Quando isso acontece, a igreja terá que considerar
das orientações bíblicas. Convém atentar para o
aquele indivíduo como alguém que não quer se
ensino de Jesus no texto supra referido. O Senhor
arrepender e seguir a Cristo (Mt 18.17b-18). Essa
instruiu que a disciplina deve começar por aquele
é uma disciplina cirúrgica, que tem a aprovação
que sabe do pecado do irmão, apenas os dois
divina. Assim como às vezes é preciso tirar fora
devem tratar do problema. Se o faltoso não ouvir,
parte do corpo físico para que o corpo todo não
então é preciso continuar no trabalho, levando
pereça, da mesma forma também acontece na
agora consigo um ou dois irmãos, que servirão,
igreja. A igreja é o corpo de Cristo; e quando um
inclusive, de testemunhas. Se ainda o problema
membro põe em risco a saúde e a vida espiritual
não for resolvido, é preciso comunicar à igreja, e
do corpo, depois de frustrada toda a tentativa de
esta, por sua vez, deverá agir no sentido de corrigir
correção do irmão em pecado, é preciso excluí-
46
o irmão.
lo. Exercendo essa disciplina, a igreja não estará
Esse método de trabalho preserva a individualidade necessariamente faltando com o espírito cristão;
do crente que está em falta e responsabiliza o irmão ao contrário, estará demonstrando zelo espiritual e
mais forte pela ajuda ao mais fraco. O mesmo interesse pela salvação daquele indivíduo em falta
princípio está em Gálatas 6.1,2, sendo que aqui se e de outros, através do bom testemunho de Cristo
ressalta também a necessidade do conselheiro ser (1Co 5.5.).
espiritual, manso, humilde e cuidadoso para não
Eclesiologia Unidade 06
Atividades
Sei responder
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Eclesiologia Unidade 07
Objetivo
Conceito
A palavra ordenança significa aquilo que foi o individuo só recebe os benefícios da graça de
ordenado ou mandado e tem sido usada para Cristo se ele participar dos sacramentos.
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O termo sacramento é conceituado de modos Os batistas e muitas outras denominações não usam
diferentes. O Catecismo da Igreja Católica afirma que, a palavra “sacramentos” e sim “ordenanças” para
“celebrados dignamente na fé, os sacramentos denotar o batismo e a ceia do Senhor, por julgarem
conferem a graça que significam. São eficazes o termo mais apropriado e com um significado
porque neles age o próprio Cristo”.57 E diz também ligeiramente diferente desses ritos. Definimos,
que “os sacramentos são sinais eficazes da graça, então, ordenança como os ritos simbólicos que
instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por Cristo indicou para serem administrados em
meio dos quais nos é dispensada a vida divina”.58 sua igreja como sinais visíveis que expressam a
Neste sentido católico, os sacramentos são meios verdade salvadora do evangelho e a confirmam ao
pelos quais a graça de Deus chega até o indivíduo. A fé crente.59 Diferentemente dos católicos, que têm
depende dos sacramentos para a sua eficácia; sete sacramentos, os evangélicos sustentam que
Jesus Cristo estabeleceu apenas duas ordenanças:
56 Informações dadas por Louis Berkhof. Op. cit., p. 622. o batismo e a ceia.
57 Catecismo da Igreja Católica – edição típica do vaticano.
São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 317.
58 Ibidem, p. 319. 59 STRONG, A. H. Op. cit., p. 1633.
Eclesiologia Unidade 07
O batismo
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Cristo autorizou os seus discípulos a batizarem
vida. Porque, se fomos unidos a ele na semelhança
já no início do seu ministério (Jo 3.22; 4.2). Após
da sua morte, certamente também o seremos na
consumar a obra da redenção na cruz, o Senhor,
semelhança da sua ressurreição (Rm 6.3-5).
com base na sua autoridade, ordenou que os seus
discípulos evangelizassem o mundo e batizassem Noutra carta, o apóstolo ensina: “sepultados
os crentes em nome do Pai, do Filho e do com ele no batismo, com quem também fostes
Espírito Santo (Mt 28.18,19). O restante do Novo ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o
Testamento mostra os discípulos cumprindo a ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12). Na união
grande comissão. com Cristo, o crente é lavado e purificado dos seus
pecados, por isso que o batismo também simboliza
O batismo de Jesus, em sua essência, é idêntico
a nossa purificação. O ato do batismo não opera
ao batismo de João, e segue, historicamente, o
por si a salvação, antes ele é um rito símbolo que
de João. Os dois batismos tinham os mesmos
sinaliza a salvação, que é recebida mediante a
elementos essenciais: (1) ambos foram instituídos
fé. Contudo, o batismo também estimula a fé e
por Deus (Mt 21.25; Jo 1.33); (2) os dois batismos
confirma, simbolicamente, a inclusão do crente
estavam relacionados com uma radical mudança
em Cristo e na sua salvação.
de vida (Lc 3.7-14; Jo 1.23; Mt 3.7,8) e com o
perdão dos pecados (Mc 1.4; Lc 3.3; At 2.28); (3) c) Os receptores do batismo. Segundo a Bíblia, o
eles empregavam o mesmo elemento material, batismo tem de ser precedido de arrependimento e
a água. A principal diferença entre eles é que o fé (At 2.38; 8.37; 16.31-33; Mc 16.16). Junto com o
batismo de João pertencia à antiga dispensação verdadeiro arrependimento e a fé está a conversão
e, como tal, apontava para Cristo como aquele (At 3.19). Isso significa que, antes do batismo, a
que havia de vir. O batismo cristão baseia-se na pessoa precisa confessar Jesus como o seu Senhor
autoridade de Cristo já demonstrada na sua vida e Salvador, e, dessa forma, ele recebe a salvação
e no seu ministério, especialmente através da antes mesmo de se submeter ao batismo.
sua morte e ressurreição e, por isso, o batismo é
No Novo Testamento, o batismo era praticado
ministrado também em seu nome.
logo que a pessoa recebia Jesus como Salvador e
Eclesiologia Unidade 07
Senhor. Era o meio simbólico de confessar a fé Alguns evangélicos, que praticam o batismo
em Jesus. Isso não significa que a salvação era infantil, alegam que o batismo substitui a
transmitida pelo batismo, e sim que o batismo circuncisão da antiga aliança, e assim ele deve
era o modo oficial como a fé inicial em Cristo era ser aplicado às crianças, para que participem das
declarada e confirmada. bênçãos da nova aliança. Mas esse argumento
também não tem suficiente base na Escritura.
De modo geral, as igrejas exigem que, para ser
A circuncisão foi ordenada aos judeus para ser
batizado, o individuo precisa professar a sua fé
aplicada a todas as crianças do sexo masculino,
em Jesus perante a igreja. Essa “profissão de fé” é
como sinal de sua participação no povo da aliança.
aceita pela simples declaração do candidato, a não
ser que haja boas razões objetivas para se duvidar Na nova aliança, contudo, o batismo é ordenado
da sua palavra. Não cabe à igreja o julgamento para todos os que se arrependem e creem em
dos segredos do coração das pessoas. Cada um Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, homens
é responsável pelo que faz perante Deus. Mas a e mulheres, e serve como sinal simbólico de sua
igreja precisa tomar por certo que o indivíduo participação com Cristo. Assim, a circuncisão
crê sinceramente em Jesus como seu Salvador, levava em conta o nascimento natural do
50
para então batizar a pessoa. Caso contrário, deve indivíduo, enquanto que o batismo conta com o
aguardar o momento oportuno. nascimento espiritual, que ocorre pelo exercício
da vontade pessoal em crer em Jesus Cristo
À luz do que foi exposto acima, o batismo infantil
e se unir a ele. É claro que o infante não tem
(pedobatismo) não se justifica. Ele não é ensinado
condições de preencher esse requisito para o
na Escritura. Até mesmo aqueles que defendem
batismo, e seus pais não podem fazê-lo por ele;
a prática do batismo infantil reconhecem que
podem, sim, desejar isto, suplicar ao Senhor e
na Bíblia não há nenhum exemplo de batismo
ensinar a criança as verdades do evangelho para
de crianças. Berkhof declara: “Pode-se dizer de
que se torne “sábio para a salvação, pela fé que há
início que não há nenhuma ordem explícita na
em Cristo Jesus” (cf 2Tm 3.15).
Bíblia para batizar crianças, e que não há um
único exemplo no qual se nos diga claramente d) A fórmula do batismo. A instrução específica
que crianças foram batizadas”.60 que os apóstolos receberam do Senhor foi para
que batizassem em nome do Pai, do Filho e do
Entretanto, os que defendem o pedobatismo
Espírito Santo (Mt 28.19). Alguns entendem que
apresentam seus argumentos. Os católicos batizam
a expressão “em nome de” (eis to onoma) significa
infantes porque entendem que no batismo a
“sobre a autoridade do trino Deus”. Mas há quem
criança fica purificada dos pecados originais e se
entenda que “esta interpretação é exegeticamente
torna uma pessoa cristã. O Novo Testamento
insustentável”.61 Berkhof argumenta que a
ensina que a salvação ou o perdão dos pecados
preposição eis (para dentro de) é mais indicativa
vem mediante a fé em Cristo, e esta deve preceder
de um fim e, portanto, pode ser interpretada no
o ato do batismo; ninguém é salvo pelo batismo,
sentido de “em relação a”, ou “para a profissão de fé
mas mediante a fé em Jesus, que se confirma no
em alguém e sincera obediência a alguém”. Assim,
batismo. Não é no batismo ou pelo batismo que a
a ideia é que a pessoa batizada é simbolicamente
pessoa é perdoada e purificada, e sim pelo sangue
introduzida no nome de Cristo, isto é, tornava-se seu
de Cristo, quando crê.
discípulo, entra num estado de lealdade a ele e de
60 BERKHOF, L. Op. cit., p. 638. 61 Ibidem, p. 630.
Eclesiologia Unidade 07
comunhão com ele e, por conseguinte, com toda a “para dentro” junto com baptizein.
Trindade (Jo 14.23).
(2) Expressões relativas ao batismo. Algumas
Algumas passagens como Atos 2.38; 8.16; 10.48; expressões relacionadas com o batismo indicam
19.5, Romanos 6.3 e Gálatas 3.27 falam de que ele era ministrado por mergulho na água. João
pessoas que foram batizadas em nome de Jesus, 3.23 diz que “João também estava batizando em
sem mencionar a Trindade. Esse fato tem levado Enom, perto de Salim, porque ali havia muita água”.
alguns a pensar que os apóstolos não usaram a Mateus 3.5,6 fala que “Habitantes de Jerusalém, de
fórmula trinitária no batismo. Mas essa não é uma toda a Judeia e de toda a região do Jordão iam até
conclusão necessária. Uma explicação possível ele [João] e eram batizados por ele no rio Jordão”.
é “que as expressões utilizadas nas passagens Em 3.16 o mesmo evangelista, falando do batismo
indicadas [batismo em nome de Jesus] servissem de Jesus, diz que “depois de batizado, Jesus saiu
para acentuar certas particularidades concernentes logo da água”. Em Atos 8.38,39 se lê que Filipe e
ao batismo ministrado pelos apóstolos”.62 Sabe-se o eunuco “desceram ambos à água” e que, depois do
que, por volta do ano 100 d. C., quando o Didaquê batismo, “saíram da água”.
(O Ensino dos Doze Apóstolos) foi escrito, a fórmula
51
Todas essas declarações indicam que o batismo era
trinitária já era de uso nas igrejas.
mesmo feito pelo mergulho na água, e não com
e) O modo do batismo. Na história da igreja, o água derramada ou borrifada sobre o indivíduo.
batismo vem sendo praticado de três formas: por As pessoas entravam na água e saíam da água; e,
imersão (mergulho), afusão (água derramada sobre a por isso, o batismo era feito onde havia “muita
cabeça) e aspersão (água borrifada ou respingada). água”, especialmente no rio Jordão.
A forma defendida e praticada pela grande
(3) O simbolismo do batismo. Convém considerar
maioria das igrejas evangélicas é a imersão. Esse
também o simbolismo da ordenança que aponta
entendimento baseia-se em alguns fatos.
para a imersão. O batismo simboliza união do
(1) O sentido da palavra batismo. A palavra grega crente com Cristo na sua morte, sepultamento e
baptizein, basicamente, significa “imergir” ou ressurreição (Rm 6.4; Cl 2.12). Assim, somente
“mergulhar” e, portanto, o mandamento do o ato de mergulhar e sair da água expressa
batismo é, em si mesmo, um mandamento de adequadamente o simbolismo da ordenança.
imersão na água. O significado da palavra continua Erickson diz que a imersão “é a forma que
inalterado no uso neotestamentário. Esse fato preserva e completa mais plenamente o significado
é confirmado pelo uso das preposições “em” e do batismo”.63
62 Ibidem, p. 630. 63 ERICKSON, Millard J. Op. cit., p. 467.
A ceia do Senhor
A ceia do Senhor foi instituída por Cristo na noite alimento espiritual. Na Escritura, essa ordenança
em que ele foi traído (Mt 26.26-30; Mc 14.22-26; é chamada “ceia do Senhor” (1Co 11.20), “mesa
Lc 22.17-20; 1Co 11.23-29). Ela não é mencionada do Senhor” (1Co 10.21), “partir do pão” (At 2.42;
no Evangelho de João, embora alguns queiram At 20.7).
insistir que Jesus estava pensando nela em João
a) A natureza dos elementos. Há três
6.32-51, onde ensina que o seu corpo e sangue são
interpretações acerca da natureza dos elementos da
Eclesiologia Unidade 07
ceia, conhecidas pelo nome de transubstanciação, ceia. Contudo, a ideia da consubstanciação parece
consubstanciação e memorial. carecer também de suficiente base bíblica.
(1) Transubstanciação. A ideia da transubstanciação (3) Memorial. Zwínglio ensinava que a ceia
é que o pão e o vinho da ceia, após a consagração do Senhor é um simples sinal ou símbolo,
pelo sacerdote, transformam-se, realmente, em carne representando ou simbolizando figuradamente
e sangue de Cristo, deixando de ser pão e vinho. verdades ou bênçãos espirituais; e que o seu
No princípio, a ideia dessa interpretação não era recebimento é apenas uma comemoração daquilo
bem essa. Afirmava-se que de algum modo a que Cristo fez pelos pecadores e, acima de tudo,
carne e o sangue de Cristo se combinavam com um sinal da profissão de fé cristã. Quer dizer, o
o pão e o vinho na ceia do Senhor. Agostinho, pão e o vinho permanecem com sua natureza,
embora falasse do pão e do vinho como o corpo sem transformação, nem Cristo se faz presente
e o sangue de Cristo, ele distinguia entre o sinal e nos ou sob os elementos, mas o pão e o vinho são
a coisa significada e não cria na transformação da dedicados para servirem, naquele momento, como
substância. um memorial do sacrifício de Cristo, fundamento
da existência e da esperança da igreja.
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53
mesmo cálice, eles sinalizam que vivem em íntima participantes devem viver nessa união, se não na
comunhão uns com os outros. A ceia oferece um mesma igreja local, ao menos no corpo espiritual
bom momento para refletirmos sobre os nossos de Cristo, comungando da mesma fé e esperança.
relacionamentos fraternais e a nossa comunhão
Jesus Cristo celebrou a ceia somente com os seus
com Cristo.
discípulos, os doze. Muitos que criam nele não
Por todos esses sentidos da ceia, os que dela estavam presentes. Por isso que, para alguns, a ceia
participam de maneira correta, mediante um ultra-restrita, isto é, só para os membros da igreja
autoexame, tendo “consciência do corpo do local, quando celebrada em reunião exclusiva
Senhor” (1Co 11.28,29), são fortalecido na sua fé dos membros, tem mais fundamento bíblico. A
e esperança e recebem força espiritual para viver. maneira restrita de celebrar a ceia, extensiva a todos
Não se trata meramente da lembrança de um fato os membros de igrejas da mesma denominação,
salvífico ocorrido no passado e de uma promessa é bastante comum entre algumas igrejas,
para o fim dos tempos, mas também de algo que, especialmente entre batistas mais tradicionais.
pela sua significância, infunde vigor espiritual para Alguns grupos evangélicos praticam a ceia livre.
a vida presente. De qualquer modo, requer-se um prévio e sincero
autoexame dos participantes para sua efetiva
c) Os participantes da ceia do Senhor. Há,
significação (1Co 11.28,29).
basicamente, três modos de celebrar a ceia do
Destino da Igreja
Vamos terminar este estudo falando rapidamente lhe dá sabedoria e forças para lutar e vencer.
do destino da igreja. A igreja é povo de Deus a
Algumas comunidades locais podem achar-se em
caminho da pátria celestial. Nessa jornada, ela tem
fraquezas, como as do Apocalipse (2 e 3), mas
de enfrentar e lutar contra os inimigos procedentes
continuam sendo orientadas e encorajadas pelo
de fora e de dentro dela mesma. Mas ela não está
Senhor Jesus Cristo. Seguramente, “as portas do
só: o Senhor está sempre presente, e seu Espírito
inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
Eclesiologia Unidade 07
Ao contrário, a igreja está sendo aperfeiçoada e será toda ela igreja triunfante, celestial e feliz.
para ser “igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, Nessa firme expectativa de glória, a igreja caminha,
nem qualquer coisa semelhante, mas santa e luta e cresce pelo anúncio das grandezas daquele
irrepreensível” (Ef 5.27). que a chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz (1Pe 2.9). Ela está confiante que “aquele que
Um dia o Senhor Jesus virá em glória, e a igreja,
vem, virá dentro em breve e não tardará”, e que o
que agora está espalhada pela face da terra, será
justo viverá pela fé e que, se ele recuar, o Senhor
reunida, revestida e arrebatada pelo Senhor, para
não se agradará dele (Hb 10.37,38). Ora, “Vem,
estar com ele para sempre, na nova Jerusalém, a
Senhor Jesus!” (Ap 22.20).
pátria celestial. Então, deixará de ser igreja militante
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Eclesiologia Unidade 07
Atividades
Sei responder
A ordenança que Cristo deixou para ser ministrada no início da vida cristã é ______________, a que
é praticada durante a vida cristã é __________________.
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Referências Bibliográficas
BERKHOF, L. Teologia sistemática. Campinas: Luz para o Caminho, 1990.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – edição típica do vaticano. São Paulo: Loyola, 2000.
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DEVER, MARK. Nove marcas de uma igreja saudável. São José dos Campos: Editora Fiel, 2007.
ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.
FERREIRA, Franklin; ALAN, Myatt. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.
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