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16 CAPITULO 4 A DIMENSAO ESPACIAL DOS PRECOS 4.1. Introdugio Sabe-se que a matéria-prima agricola, antes de chegar ao consumidor final, pode-se submeter @ Inds tipos de transformagées fisicas: transporte, processamento e armazenamento. Essas transformagbes ‘ocorrem ao mesmo tempo em que o produto evolu através dos diferentes niveis de mercado (produter, atacadista ¢ varejista) cada qual caracterizado por certo nivel de prego. Assim, num dado momento, 0 prego se refere a um certo nivel de mercado e a um certo grau de transformacdes sofridas pelo produto. Pereebe-se, pois, que, ao invés de se observar um tinico prego de um certo produto, o que se vé é uma complexa estrutura de pregos. Essa estrutura, na verdade, é tridimensional. Cada prego observado é ‘como um vetor em um espage tridimensional, cuja coordenada & © quantum de transformagbes softidas pelo produto a que se relere, Assim, um mesmo produto, & medida que ¢ transportado, armazenado e processando, vai tendo scu proco alterado, Em uma economia competitiva, os pregos de um produto em diferentes estigios de transformacdo so interligados através dos custos dessas translormagies. Neste © no proximo capitulo, tratar-se-a de conhecer essa estrutura tridimensional dos pregos através de teorias de mercados competitivos. O material apresentado, bascia-sc largamente na excelente obra de BRESSLER & KING (1970). Nas segdes seguintes serdo discutidos varios aspectos relativos & dimensdo espacial dos pregos. 4.2, Prinefpio de Coméreio Inter-Regional 4.2.1. 0 Caso das Duas Regides”® Considera-se 0 caso de um bem produzida em duas regides separadas (Xe ¥). Se ndo houver comércio entre elas, sabe-se que o prego em cada regido (Py © P,) seri determinado em fungo das respectivas curvas de oferta ¢ demanda (Figura 41) Supondo agora que haja comércio entre as regides Xe P e ignorando, por enquanto o custo de transferéneia do produto entre as regides, seri lucrativo transferir 0 produto de ¥ para X, uma ver que Py Texto baseado em BRESSLER & KING, pp. #7-92 1 > P, A tendéncia sera de que o fluxo do produto de Y para X continue até que o suprimento do produto ‘em X aumente o suficiente para os pregos em ambas as regides se igualem, Figura 4.1, Comércio regional sem custos de transferéncia, FONTE: BRESSLER & KING, p.87. Graficamente a situagio acima pode ser representada de duas maneiras, Na Figura 4,1 procede-se 4 soma horizontal tanto das duas curvas de demanda como das duas curvas de oferta, chegando-se as ccurvas de demanda e oferta combinadas, respectivamente'”. A intersepo das duas curvas combinadas determina © prego P* comum as duas regises (pois o custo da transferéneia é nulo) eo volume total de produto vendido ou comprado nas duas regides conjuntamente (0°Q’). A projegao & esquerda desse nivel de prego P’, modo a alcansar os dois grificos correspondentes a cada regio, determinaré nas curvas de oferta regional a quantidade produzida em cada regido e nas curvas de demanda regional a quantidade ‘demandada em cada regio. Na Figura 4.1, percebe-se que com 0 comércio inter-regional, na regido X'se demandard Ob de prodato c se produziré Qa com um déficit de ab a ser coberto pelo fluxo precedente de Y, Nesta ltima regio, seri domandado O’e ¢ produrido O'd, com um superdvit de produto ccorrespondente a ed, Pelo método empregado, resulta que ab =ed, Altemativamente, pode-se represcntar 0 comércio entre dus reges através do diatragma “back to back" como na Figura 42. Nest figura, a diteta do eixo vertical aparecem as curvas normais de oferta ¢ demanda para a reido Y. A esquerda aparecem as curvas da regido X invertidas, pois as quantidades pra essa repo sio medidas da dteila para a eaquerda a paria do ponto ©. ‘A seguir, tragam-se as curvas de excesso de oferta para cada regido (HS, e ES,), curvas essas que relacionam diferentes niveis de pregos (comuns a ambas as regides) e o8 respectivos montantes pelos quais as ofertas regionais excedem as demandas regionais (Figura 4.3), Para se obter graficamente FS, ¢ ES,, toma-se para cada nivel de prego @ diferenga horizontal entre a curva de oferta e curva de demanda cem cada regia sas curvascorespondem &rlago cate os progs comuns as us regis © total demandadoe produido, em conjunto, sas dus ei 78 & ura 4,2. © diagrama “Back to Back”, Em funedo do posicionamento das curvas de oferta e demanda regionais as curvas de excesso de oferta se eruzam de um dos lados, Por exemplo, na Figura 4.3, a intersegdo se di do lado direito, signifieando que ao prego P” haveri um excesso de demanda (“excesso de oferta negativo") em X. Esse cexcesso € igual a Of que equivale também a ab e ed nas Figuras 4.1 ¢ 43. as observagiies das Figuras 4,1 e 4.3 constata-se que o comércio tende a expandir a produgio na regitio de prego menor ¢ retrair a produso na regio de prego maior. Assim, em Y expande-se a produgiio de Oe para Od, para o que devem ter sido utilizados recursos produtivos provenientes de usos alternatives {sto &, da produgdo de outros bens). Em X, cai a produgdo do bem em questo com liberagdo de recursos produtivos para outros fins. Do lado do consumo, em X, onde o prego era maior, hé um aumento de consumo do bem em {questio, 0 contririo acontecendo em ¥. Conelui-se, pois, que o comércio provoca também uma realocagdo das rendas regionais entre os diferente bens de consumo. 9 Figura 4.3. Curvas de excesso de oferta ¢ equilibrio regional FONTE: BRESSLER & KING, pp. 88. Deve-se notar que a realocagZo dos recursos produtivos pode gerar descontentamento entre os produtores, cuja produgio foi reduzida devido a importagdo de outras regies a menores pregos. E importante, no entanto, ter em mente que o comércio pode liberar recursos de uma aplicago para outa, no significando que iré ocorrer desemprego dos mesmos. Os recursos no seriam desempregados mesmo se ndo possuissem emprego alternative, caso em que 0 custo de oportunidade dos mesmos seria nulo e, logo, a produgo do bem em questo nio seria reduzida pela queda do prego." Como para os ‘consumidores a importago a menores pregos ¢ interessante, a criagio de barreiras protegendo a produgdo intema ndo € recomendivel, a ndo ser temporariamente para produtos em fase de adaptagdo a um novo nivel (maior) de produtividade, Considera-se agora o custo de transferéncia (CT) por unidade entre as regibes Xe ¥. Nesse €2s0, 4 transferéneia de produtos de Y para X nio prosseguiria até o ponto de igualdade entre P, e P,, mas sim, cenquanto a diferenga entre esses presos for maior ou, quando muito, igual a CT. ‘Uma maneira de analisar 0 efeito do custo de transferéncia sobre 0 comércio inter-regional & através do diagrama “back to back” (Figura 4.4). 0 procedimento envolve, inicialmente, a obtengao da curva de diferenga de excessos de oferta, ou seja, (ES, - ES). A ordenada dessa nova curva correspondente a diferenga vertical entre as duas anteriores, Com cla serio relacionadas a quantidade ‘tansacionada e a respectiva diferenga de pregos que provaleceria entre as regises Xe ¥. Como 0 comércio inter-regional se di enquanto Px - P, 2 CT, deve-se comparar as diferengas de proses (ordenada de ES, - ES,) com CT. Grafieamente marca-se no diagrama uma linha horizontal de ordenada igual a CT (Og na Figura 4.4). Onde esta corta a curva (ES, - ES,) ter-se-A 0 ponto em que P,- P, = CT (ponto U), cuja abeissa dard a quantidade comercializada de Y para X, ou seja, Oh, Havers, evidentements, uma queda da renda econdmicerecebida por ees recursos sm custo de oporanidads 80 Na Figura 4.4, observa-se que se CT’ = O, a quantidade transacionads seria Of, onde (ES, - ES,) cruzar 0 eixo horizontal. Com CT = Og no exemplo, a quantidade transacionads seri Oh. Outras informagies de interesse S30 08 pregos regionais. Para tal projeta-se para cima o ponto h sobre as curvas ES, © ES, . Py” seré a ordenada do ponto sobre ES, ¢ P,” a ordenada do ponto sobre ES,, Figura 4.4, Bfeito do custo de transferéncia sobre 0 eomércio FONTE: BRESSLER & KING, p.91 [As implicagdes das analises feitas sobre © comércio entre duas regides slo: (a) com comércio, a diferenga de pregos entre regides tende a se reduzir, sendo o limite dado pelo custo de transferéncia, ¢ (b) quanto maior o custo de transferéncia entre regides, maior a diferenga de pregos que prevalecerd e menor a ‘quantidade comercializada entte elas,

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