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Coordenagao editorial: Ernesto Guimaries Editoracao eletrénica e Capa: Eckel Wayne Reviséo: Equipe de Revisores da Pontes Editores Dados Internacionais de Catalogacao na Publica Camara Brasileira do Livro, sp, Bras” (cre) Guimaraes, Eduardo Semintica do acontecimento: um estudo enunciativo da designagio / Eduardo Guimaries — Campinas, sp . Pontes, 2* edigao, 2005. Bibliografia. ISBN 85-7113-161-9 1. Lingijistica 2. Nomes de rua 3. Nomes 8e0graficos 4. Nomes pessoais 5, Portugués - semantica 1. Titulo 02-0075 CDD.469.2 indices para catdlogo sistematico: 1. Designagao : Estudo enunciativo : Semantica : Portugués ; Lingiiistica 469.2 2 2. Nomes : Sentido : Semintica : Portugués : Lingiiistica 469 -ONTES EDITORES \v. Dr. Arlindo Joaquim de Lemos, 1333 3100-451 Campinas SP Brasil one (19) 3252.6011 ax (19) 3253.0769 nteseditores@ponteseditores,com. br www. ponteseclito res.com.br Capituto I ENUNCIAGAO E ACONTECIMENTO A enunciagiio, enquanto acontecimento de linguagem, se faz pelo funcionamento da lingua. Inscrevo minha posigdo numa linha de filiagdes proximas que passa por Benveniste (1970), em “O Aparelho Formal da Enunciagao”, para quem a enunciag4o € a lingua posta em funcionamen- to pelo locutor, € por Ducrot (1984), em “Esbogo de uma Teoria Polif6nica da Enunciagao”, para quem a enunciagio é o evento do aparecimento de um enunciado. Para mim? a quest4o é como tratar a enunciagao como funcionamento da lingua sem remeter isto a um locutor, a uma. centralidade do sujeito. Dois elementos so decisivos para a conceituacdo deste aconteci- mento de linguagem: a lingua e 0 sujeito que se constitui pelo funciona- mento da lingua na qual enuncia-se algo. Por outro lado, um terceiro elemento decisivo, de meu ponto de vista, na constituigio do aconteci- mento, € sua temporalidade. Um quarto elemento ainda € 0 real a que 0 dizer se expée ao falar dele. Nao se trata aqui do contexto, da situagao, tal como pensada na pragmatica, por exemplo. Trata-se de uma materialidade histérica do real. Ou seja, no se enuncia enquanto ser fisico, nem meramente no mundo fisico. Enuncia-se enquanto ser afetado pelo simbdlico e num mundo vivido através do simbédlico. 1. ACONTECIMENTO E TEMPORALIDADE Considero que algo é acontecimento enquanto diferenga na sua pré- pria ordem. E 0 que caracteriza a diferenga € que 0 acontecimento nao é um fato no tempo. Ou seja, nao € um fato novo enquanto distinto de qualquer outro ocorrido antes no tempo. O que 0 caracteriza como dife- renga € que 0 acontecimento temporaliza. Ele nao est4 num presente de 5. Ver Guimaraes (1989 € 1995). il umantese de um depois no tempo. O acontecimento inst la sug rr oralidade: essa a sua diferen¢a- : temp ie falar de como se dé a temporalidade do acontegi Py, o benvenistiana’, segundo Jocutor ao enunciar. Ou seins o ten \ © Bre mente, durante algo como duas horas ou mais, me incessantel trast BUT go € Se 02 Seu posto enguant jurado ur dire (os do homem, uno seu colega (aluno estagiario) deveria ser funciondrio, mas que ele 0 foi sem que ‘minimo, consignado na declaragio uni- ‘ode apresentar sua defesa. Jado a afirmagao de uma distribuigao de ins podem fazer coisas ¢ outros devem obe- ta pela adminsitragio, e de outro a afirmacao de ‘categoria do humano na qual todos tém o direito jer de qualquer acusagao. Categoria da qual, no sentido que “tluno estagidrio est sendo retirado. Esta afirmacao de por precisar se tepetir como eco por um longo perfodo de waa sua falta de sentido no acontecimento, Ou seja,afirmar ‘aqueles que falamdolugar discussi dit ito é neste acontecimento sem senso, para “tade, por mais sentido que a afirmagao do aluno tenha para ele ios Direitos do Homem nao é aqui danormat : arjemitido (a Declaragio Universal di ‘td-se diante, neste caso, do funcionamento da contradi¢a0 9, e de tal modo, neste acontecimento, que o esforgo 'o aluno defensor do colega é tornado sem sentido, ¢ sua emia por mais que afirme o pertencimento do aluno 3 catepore do ‘ consegue af significé-lo, pela sopreposi¢ao do homogéneo. O Politico é para mim nao o dizer normati- mente a afirmacao de pertencimento do flito no centro do dizer. Ele se enunciat Comesta vos. Com ela pretent .guagem por se dar nos espagos de enun« fico", Ou seja, a constituigao da tempor: 12. Tratei desta questao em Guimaraes (2000a). 17 {faz pelo funcionamento da lingua flies regula por urna dooneciegt% 8 lope % dio acontecimento S€ relagao com linguas dizeremuma certa lingua 3, ESPAGO DE ENUNCIAGAO Considerara configuragdo do acontecimento, tal como fizeny oloce uma relaga por todos os aspectos decisiva:arelagao ene ce ante, pois s6 ha linguas porque hi falantes e S6 he falantes jx"8lay agus Besa relagio no pode ser tomada como uma relago emp N dipnemama eta situa as pessoas flame ingua x, em outa read, Jere teemple, no Brasil e fala Portugués, na Fang, Frances e8& 2x sda no Paraguai se fala oEspanhol e 0 Guarani. Esta relacio entre 08 ‘ese linguasinteressaenguanto um espaco regulado e de disputas pegs! vane plas Iinguas, enquanto espaco politico, portanto. A lingua é avr ro sentido de que ela € necessariamente atravessada pelo politico: normativamente dividida e é também a condig&o para se afirm, pertencimentodos nao incluidos, a igualdade dos desi ente dividides” (Os falantes no sio os individuos, as pessoas que falam esta ou age lingua. Os falantes so estas pessoas enquanto determinadas pelas line aque falam. Ne do si fisidlogica, ou psiquica, de falar. Sao sujeitos da lingua enquanto con, dos poreste espaco de linguas e falantes que chamo espago de enunciagio, Deste modo considero que o falante, categoria Neste ponto diferencio minha posigg: da de Ducrot. Mas num sen 0 preciso. Primeiro devo dizer que concordo que ofalante, tal como Ducrot o conceitua (como figura fisiolégica e psiquica), nao é um personagem da enunciagao. Minha dife- renga esti em que considero que o falante nao é esta figura empitica, a é abitados” por fi r a0 dizer dizer. Sao espags con e aos modos de mento: da deontologia!® indissociado desta deont entice 13, Tomo aqui esta aga pan pa tt noo a parr da formulasao que Ihe deu Ducrot (1972) em Dire et ne 18 0S scr fal ma lnghm ofl de om Pains ‘rea nuuma relagao de convivéncia ede disputa na América vanhol, também lingua oficial de varios Estados vizi- ecto. Consideremos, por exemplo, um fato como ade- to asPortugués forma palavras como acessar. Esta palavra, Se ant ciow an Portesehr as BR a qocom olngles. ; so comamosacessar, podemos Vela como um derivado de aceso scoesiupereitamente possvel em virtude dos procedimentos de de que ser fngua Portuguesa. Mas € preciso vera tal ie deletar envolve 0 fato de que nao ha delerem Portugués), derivado em Portugues de to acess do Inglés. Estamos (0 tal que 0 espaco de enunciacio do Portugués do giant cli wna relagio com o Ingles. Em otras palavas, oespago de Bras gio do Portugués & também ocupado pela lingua ingles, ciagte mos um outro exemplo interessante. Hove, durante um pe- inas, um estabelecimento comercial cujo nome jiante de um procedimento de tempo em funcionamento no Brasil. 6i por uma relagko dire- smentre falante eas linguas portuguesa e inglesa, Nao simplesmente por- tue ha empréstimo de uma palavra, center, ou porque se consti wim, sae com uma frase inglesa, 0 que seria também um simples emprésti- so estamos diante de um embate em que o falante esté divido por sua felagio com duas Kinguas: veja como a presenga do center no define & ‘Fntaxe nem como inglesa nem como portuguesa: no primeiro caso seria Broto Fruras Center e no segundo Center de Frutas Broto. Ha algo era frutas (Portugués) que impede a primeira construgio, ed algo em center é uma palavra “emprestada” com sta sintaxe) que impede a segunda construga queol elas! (ocast we acessar € um aque acess Ti Vou Tetomar € ampliar, segundo a especificidade desta pergunta, uma analise que fiz.em ‘Politica de Linguas na Améria Latina” (Guimaries, 1997) sobre o espago de enuncig30 ino-americano. 15, Para nao me ater mui Ou seja, esta nomeacio se d4 num espago de enunciagio em. 16s fomece modelos ao Portugués. Mas este modelo nfo se cum- sna questo da disputa, podemos lembrar, por exemplo,apriticade incompreensio dos falanes de Espanhol zelativamente 20 Portugués, oposta® prtica brasileiros com o espanhol. at 9 yre compl bate das 1, Uimotocas dest tp, com uma configumctodiyg, de um outro estabelecimento do mesmo género, em oe VE, 6, Campinas: Cambut Fruit Center. Nest cso falate oa" bh expago de enunciagio, pela lingua que nio éa sua, omar ‘Nesta medida nao se pode deixar de levar em Conta que 1 Espanhol néo sio, no espago de emu como Portugués ¢ Esp: PAGO de enunciagag By americano, legitimas tal coma lingua mene -Motaday > ciénci; ‘Nio estou aqui levando em conta um conjunto de tang problemas extremamente relevantes, como, por exemplo, n0S °U falam ainda em torno de 150 linguas indigenas, varias Dadi a descrigio acima, com a devida ressalva, podemos dzg que o espaco de enunciacio mes individual. Neste espago, rabalhar o ensino do Portugués do Brasil nos pafsey vizinhos e do espanhol no Brasil é um modo de redividir 0 espago para tomé-lo cada vez mais sul-americano e cada vez menos norte-americang ou europeu, 20 lado de trabalhar a resisténcia ao avanco do 4 notadamente o americano, como lingua de todos. E uma resisté certo tipo de monolingiiismo. Nao se trata aqui de uma at € sem conseqiigncias como aquela que busca proibir o uso de palavras estrangeiras no Portugués. A questio politica é noutro lugar, j porque os espagos de enunciagao so espacos, divididos desi i de disputa pela palavra. I Podemos tomar a questio do espaco de enunciaco através de uma Outra pergunta: 0 que é falar Portugués no Brasil? Sem divida q Primero aspecto que devemos considerar & que o Portugués é a oficial do Estado Brasileiro, e é, nesta medida, a eer 16, Traci deste aspecto espectfico de uma, ‘uma pol Conhecimento sobre Literatura e Linguage de linguas em “Produgao e Circulago do (Guimaraes, 19992), 20 a.€ elemento de identificagao de ; Mas falar Portugués no B ‘ma relacao dos falantes coma lingua ests regu mm a lingua do Estado, enquanto uma lingua, ¢ ‘pramatizada"”, normatizada. Est por o de que ha regides em que se fala, por exempl aba), ¢ outras em que se fala (muito), Regibes em que ee {eomo em Piracicaba, Sao Paulo) e regides em que fata ssideremos, para os efeitos desta argumentacao. que estes 'gejam todas as diferengas existentes que temos neste espa ‘9. Nao hé igual direito a dizer [muto} ou {muito}, ou rea] ito & palavra € distribuido de tal modo que ele é um pata {muito} ¢ [mar] ¢ outro para os que dizem {mutole para mat]. Assim falar Portugués é estar afetado por estas 7am 0 espago de enunciagao da Lingua Portugue- "Nao estamos aqui considerando todo um conjunto mais Ko de questdes como 6 fato, j4referido antes, de que se falamno Gmeras linguas indigenas e diversas linguas européias e orien- {sto me leva a dizer que, do ponto de vista que aqui assumo, uma - vel, no sentido em que esta nogio € tomada pela Jo diz respeito exatamente a relacio dos falantes ‘gua, de tal modo que os falantes se identificam exatametne por Givisio. No caso do nosso pequeno exemplo, ha os falantes que se Sfontificam pela divisio da lingua que os faz dizer (muto] de um ado ou identifi [smite ae oso 6 rareada por uma hierarqsia de ientitades. Ou sta divisio distribui desigualmente os falantes segundo os valores, Cora jerarquia. E aqui pode-se ver comoa Escola, entre outras, ‘trumentos, é fundamental na configuragdo do espago sua nacional, no nosso caso o Portugués. Ou seja, 0s falantes e sua relagio.com desta hi cado pela divisio da lingua ¢ estar destinado, pot uma deontologia global da lingua, a porter dizer cetas cosas e io ou" ras, a poder falar de certos lugares de locutor € no de outros, & certos interlocutores e nao outros. TT. No sentido que tem gramatizagio para Aurou (1992), Uw 1 plo, aquete que ¢identifieado por falar my recep te ea fale a nas do pode falar COMO 1OCUOE oma Nl tases de sus clo. adores: Mesmo que esteiames considers 8 30, Pa gio de Cuiabd e Ccores Ro Estado de Mato Grog, aye ivi nasegfo eeu, no Estado de So Paulo, de oats de Indo, ou de Pir’ arecer como um personagem € no como yy, Re? faxt-lo® Ge ser na midia sO 0 locutor-Cuiabang, ie 0 Togs. 0 So ecet ‘como personage m é aparecer como locus Pa focutor-jornalista que ele no pode ser. Este tipo de grit reante para dar um sentido muito forre aq a gneiderando a divisiio do Locutor que, ao descony mer sci, desconhece que seus lugares de fala cee ‘Operar sobre e contra este desconhecimengy tecimento de linguagem. OE como estamos C que fala de um Tu dividos e interditados proprio do politico ne acon ar estas consideragdes sobre 0 politico quero ra mardedistingbes entre arqutpoltica, pare-politicac meid-politica Dis, ean que uma abordagem soviolingifstica quantitative, enqyay, aoreyPgpera com o conceito de para-politica, jd que suas descrigge, to ta opera cada um o que € sev, neutralizando © conflito Dor um frocedimento descritivo do que é de cada um. Ao lado disso ela pode respon acréscimo, naoexatumente por seu dizer cientifico, como mera. ‘como forma de denunciar a distribui¢o do que é de cada um Pera cada um. Ou se, ouela integra o conflito ou pode falar sobre ele, (© Espago de enunciagio é assim decisivo para se tomar a enunciacgo como uma pritiea politica e nao individual ou subjetiva, nem como uma tistibuigto estatificada de caracteristicas, Falar é assumir a palavra nes- teespago divido de linguas e falantes. E sempre, assim, uma obediéncia ce/ou'uma disputa. Se é que se pode falar em simples obediéncia. Enunciar é estarna lingua em funcinamento. E-a lingua nio funciona rno tempo, mas pelas relagées semiol6gicas que tem. A lingua funciona no acontecimento, pelo acontecimento, endo pela assunedo de um individuo. Neste sentido, dirfamos, a enunciagao se dé por agenciamentos es- fectios da llgus. No acontecimento o que se dé um ager Bollico da enunciagio. Neste embate entre Vinguas e falantes, proprio los espacos de enunciacao, os falantes so tomados por agenci nuneativos, configuradospotiticamente Senate nogio de agenciamento da enun: ea ‘Go esta aqui a partir do que Guataré (1980) eolocam em Mile Plates, a eatacterio ‘Antes de termin: politica, 22 da conceituagio que Duerot (1972) faz dos it é que para mim este agenciamento é politi- Yetivo, como um “acordo” de um grupo. Ele te por se dar segundo os espacos de go 2 part iio aiferens: sole ECO politieament cdo de politico acima exposta é decisive tratar de neeperja palavra. Diremos que ela se dé em conas rie enunciativa se caracteriza por constituir modos rlavra dadas as relagdes entre as figuras da mas lingufsticas. . * ace definido pela primeira vez em Texto e Argu- 8Par 587), quando estudei as mudancas que levaram vressao adverbial a conjungao. Cenas séo especificagées de enunciagao. E Cfativa é assim um espago particularizade por uma de distribuicdo dos lugares de enunciagiio no acon- ologia CSP ares enunciativos so configuragées especificas do to. O8 TUBA vo para “aquele que fala” e “aquele para quem se tijwa “aquele que fala” ou “aquele para quem se s uma configuragio do agenciamento enunciativo. io Pestituidos pelos dizeres ¢ no pessoas donas de seu dizer. dla *e necessariamente considerar o préprio modo de consti- im esti; Tugares pelo funcionamento da lingua. cee ea de lugares se faz pela temporalizacdo propria do ido a temporalidade especifica do acontecimento nciativa. a cel fala” NY Go pessoas mai senti damentauidade do que vimos colocando desde Texto ¢ Argumenta- Naggnos considerar que assumir a palavra é por-se no lugar que errosar do Locutor que vou chamar de Locutor (com maitiseu- plesmente LS. L é entdo o lugar que se representa no proprio Yonte deste dizer. E desta maneira representa 0 tempo do dizer a0, enuncia, ), ou sim] dizercomo retomo aqui o que Duerot chamou de pol ye eu jd apresentava em Texto e Arg mente constituido. Isto me levou a, itor e enuinciador que Ducrot distingue © que jorias, onde procuro caracterisur no a ago dol mo contemporaneo deste mesmo L, eassim representa odizer, com ta no presente constituido Por esteL. om, queesth no pempresentacio de origem do dizer na Sua Ppa r ft metro do tempo se divide porque para pelos lugares soci oo ‘Sen, ue ocutor se Fe 9 Lact gus um lugar social de locutor. Tomeme, Um le proprio. a ae foes Presidente da Repiblica, ou um Governadey Estado Decreta X, ele 0 faz ndo porgue alguém se daa si ser a origem ° que Decreta, mas porque ‘enquanto Presidente (falante de Portuguas) = aise se dar como origem daquilo que Decrera, ov ‘melhor, do proprio s® fica dizer que assumir a palavra para decretay g¢ ‘o Locutor, que se di como origem do decrg, eros ycenquanto constituido como um lugar social de locutor, oy pag falaem Lingua Portuguesa. Em outras palavrag falar enquanto predicado por um lugar social. A ese itor chamaremos de locutor-x, onde locutor (com redicado por um lugar social que a varidye} x representa (presidente, governador, etc). Assim € preciso distinguir Leator do lugar social do locutor, e é s6 enquanto ele se dé como lugar social (locutor-x) que ele se da como Locutor. Ou seja, 0 Locutor é dispar ai Semesta disparidade ndo ha enunciacdo. ‘Deste modo, no acontecimento de enunciaco hd uma disparidade constitutiva do Locutore do locutor-x, uma disparidade entre o presente do Locutore a temporalidade do acontecimento.'* Esta distingdo pode ser diretamente mostrada, no ato de decretar, pelo préprio modo de dizer 0 decreto, que se dé em formas d tipo “O Presidente da Reptiblica, no uso de suas atribuicdes, decreta. [Neste caso o Locutor esté diretamente separado do locutor-x que decreta, O Locutor é sempre locutor-presidente, locutor-indio, locutor-consu: etc. No caso do decreto, o locutor-pre: ingua Portuguesa. Ou seja, nao hd decreto do preside! nio ser em Lingua Portuguesa. Esta configuracdo do espago de enunciacao, pela exclusio de qualquer outra lingua, esta diretamente re; definigdo da Lingua Portuguesa como lingua do Estado Brasi 0 Locutor s6 pode lugar social do locut ‘minéscula) sempre ver P? so di 19, Lembro aqui Ranciére (1992), que numa andlise enunci que osueitofalante anacrdnico, 24 ciencia Pa eg sei as wen outro aspecto da questo. Tomemos um enuncia- assem: Paro vou prometo que VOU asus east”. Aqui parece se Jo cotidian® {promessa € do ex dado como origem da promessa,distin- aizer av fquele que devers cumprir a promessa. Aocontrério disso af vote caso a expressio da primeira pessoa em prometo & s6 a ‘origem, marca que representa seu presente como resentagao da P se er Ou seja, este eu € a representacio de que niio ha £ Ge um lado, a marca do desconhecimento do Locutor a ‘qual fala: de amigo, de pai, de filho, de vendedor, etc. prometer algoaalguém? Em outras palavras, 0 J eeu que nao sabe que fala em uma cena enunciativa. E “desconhece que fala de algum lugar. A tal ponto que se ‘meramente enquanto tal, que deveré cumprir sua 1 psa, Aqui lugar de Locutor se representa como lugar de Me. E neste caso um lugar de dizer que se representa como ar este lugar de dizer de enunciador. Considerare- ‘e, que se trata de um enunciador-individual. Ou o que se da como independente da a tagao jade a partir da qual se pode pele Tiador-individual, enquanto um lugar de dizer, traz um aspec- ‘co para isto que estamos chamando lugares de enunciagao. Ba o Pie um lugar como aquele que esta acima de todos, como a ira o dizer de sua circunstancialidade. E ao fazer isso repre- tagem como independente da historia. lugar de dizer, que se apresenta como o apagamento do jor-genérico. Pensemos aqui em ditos popu- ‘a vento colhe tempestade”. Neste caso 0 Locu- representag aquele que sentaaling\ Um outro em. Um todos que se apresenta icao de fronteiras para o conjunto desse todos. ostra como dizendo com todos os outros: se mostra » que escolhe falar tal como outros individuos, uma esentar como independente da hist6ria. 1c fala tém operado sobre um desconhecimento 1 nao € uma ago individual, €a constituigao de 25 ~ewy. Ainda um outro aso. Quando se faz ua afimagig en, a —_— ua ivO especifico da nome: "AGO smodatizagio como “Todas as pessoas morrem'”, oenunci eo ‘lugar do dizer. apresenta-se como quem ic ao ety, ‘Gitade da relagao do que diz. com 0s Fatos. O que een? rg Cos sinifica? Signitica a identiticasao do lugar do emuneigsP* Sen fee Ro universal. Ou seja, um lugar de dizer que se apresenga 2° Con seefp social, como estando fora da hist6ria, ou melhor, acima gong. Fae Spresenta um lugar de enunciagdo como sendo 6 lugar is Bae dis sobre o mundo. O enunciador-universal é um lugar que «jo 22. Laxutor eomo submetido ao regime do verdadeiroe do falso. Ea ag proprio dodiscurso cienifico, embora no seja exclusivo dele, 4 ,&te FZoacima, por exemplo, nio é exclusiva do discurso cien Consideramos, ento, que a cena enunciativa coloca em jg, um lado, lugares sociais do locutor, papéis enunciativos como Jor & Iocutor-presidente, locutor-jornalista, locutor-professe: cutor-indio, locutor-consumidor, etc. O Locutor nao se apresenta gor! enquanto predicado por um lugar social distribuido por uma deo do dizer. De que lugares sociais € possivel dizer 0 que se diz e dest modo? | | Por outro lado, a cena enunciativa coloca em jogo, também, lugar dedizer que estamos aqui chamando de enunciadores. E estes se apresen’ tam sempre como a representagao da inexisténcia dos lugares sociais dg locutor. E embora sempre se apresentem como independentes da histérig (ria, so lugares proprios de uma hist6ria. Temos entig enunciadores como: enunciador-individual, quando a enunciacao repre. senta o Locutor como independente da hist6ria; enunciador-genérico, quando a enunciagdo representa 0 Locutor como difuso num todos em que 0 individuo fala como e com outros individuos; enunciador-univer. sal, quando a enunciagao representa o Locutor como fora da historia e submetido ao regime do verdadeiro e do falso. 5. ENUNCIACAO, REESCRITURA, TEXTUALIDADE Como dissemos anteriormente, para nés 0 sentido de uma expressio procuro constituir um aqui como uma relagao nao segmental. A se; nodo de operar esta relagao. ‘Vamos, para nosso estudo da designag4o, observar a relagdo entre esignar e nomear, de um lado, e de designar e referir, de outro. Ou seja, 5 ocean eon oer ie cts Ds et me Geir © que se deve or rela ent oe nie coins ‘gtada como memordvel por temporalidades es ee ze nomes Proprios vamos tormar este aspecto como fundaneeny, serv goaee™ a0 6 rec eera andlise. - . de no caso da relagao entre: designagao e referéncia, oque se deve rae scant nome aparece referindo no texto em que ocorte. Assim é hea gcomo wi var como oriome est relacionado pea textulidndevosg on lidade Neste caso os 10 de um nome sa one getermina-lo, de predcd-lo. Eneste sentido éque consituema de mod jo do nome em questo. Chamo a atencao aqui para o fato de que signagae to de vista, a relagio de predicagdo a que me tefiro aqui se da-pet deste ot gmentalidade, ou Sea, por sobre as fronteiras dos enunciados sobre ea enfrentar este ultimo tipo de analise, apresento a seguir o que venno considerando Como UM processo de reescritura"prépri para ne gs relagées de textualidade. Com este tipo de andlise vou estudar mim, oa nto de designagoes de nomes comuns. arm era caracterizar aqui o procedimento da reescrituragdo retomo aand- tise que fiz doos no texto da Constituicko do Impériodo Brasil na seqhéncia Esta andlise (Guima 1991a) mostra pelo menos duas possi dades de interpetacio do os: uma anaforica e outra déitica. Ela mostra ‘ao estabelecer um ponto de interpretagio no texto (os) relativa- ‘0 (o antecedente do os), 0 que se tem é uma falta de relagzio mente a 0 7 univoca entre estes dois pontos De acordo com esta andlise, considero que procedimentos como repeticdo, substituigio, elipse, etc, so procedimen- ido proprios da textualidade. O que significa di- andfora, catéfor expressoes, bem 21. Cf. Gi ies (1999). 22, A palavra deriva deve ser tomada no sentido que Ihe deu Pécheux (1983) em Discurso. Estrutura ou Acontecimento. 21 de deri a incessante, como que no hé texto sem o proceso Va de Eque et ue contidoy, reescrituragdo. Esta deriva enunciat 56 tempo, os sentidos ¢ 0 texto. 0 di exatamente nos pontos de estabelecimentos aa {!tiva ¢ ‘melhancas, de correspondéncias, de igualdade, ee, tities & uma forma se dé como igual/correspondente # qc substitui, et), 0 sentido estd se fazendo como dirt -xtualidade. O procedimento de reescrituracio ng "4 © algo do texto seja interpretado como diferente de si, Ent© £2 ¢ ont nacdo de uma palavra € ver como sua presenca no rliserag, predicagées por sobre a segmentalidade do texto, ¢ 90%" Cong! sentido da designacao. » © que se dé como fi enuncia, A reescrituragdo é uma operacao que signi na temporatida acontecimento, 0 seu presente. A reescrituragao € a pontuacao mae do de uma duragao temporal daquilo que ocorre. E 20 reescriturar, ag fa interpretar algo como diferente de si, este procedimento atribui (pred ica) urado. E 0 que ele atribu pretagao anaférica, a preexisténcia do sentido de cidaddo, que a0 mesmg tempo € predicado pela sobreposigao da interpretagao déitica, que coloce emcirculagao a preexisténcia do sentido de pessoa, de individuo. E esse movimento de predicagao na duragao do presente pelo memorivel signi. fica porque projeta um futuro, o tempo da interpretagao no depois do acontecimento no qual o reescriturado € refeito pelo reescriturante Deste modo minha posigao € radicalmente anticompo: seja, o sentido de uma expressdo ndo é construido pelo se1 com outras expressdes do texto, tal como exemp to de cidadao. Sé assim se torna possfvel deixal sentido os rememorados que os diversos pontos de um texto reco Ou seja, a descri¢ao do sentido nao pode se limitar ao est namento do enunciado. Este é parte da questo e no seu 28 6 Ge anes ag a ion om on rresenta cor n gizer que se aD? smo valido pare um discov descritas no Decreta... O que mas & Paidade do Lacey wile Pod. icar esta divisdo propria do Decreta, ous so duzir est va divisdo do Locut el partir de um dizer que nao é s6 voz é como a voz de todos, por isso ele fala com razsio. Beste enunciador- genérico produz af 0 efeito de que ele nio fala como presidente mas ‘como um do todos, do povo. ‘Como dissemos antes, sua prépria tempo faz 00m como! ta distribuigdo de lugares se constitui pelo izagdo. Ou seja, no caso do De- enunciativo € o presente que (ie € uma memoria, um passado de dizeres, decretar e decretar-x. Por exemplo, € preciso a sido decretado, que x nio diga o contrario de algo cons- Odecreta x tem como seu passado esta meméria de leis, sresente do acontecimento. Por outro lado, esta me- 10 acontecimento porque para um depois nele pro- 29 ele (acontec! iza o Presi que ai esti c méria faz set ele mesmo uma proj, seo presente nao sendo para projetar Decreta X, no ha rigag6es)- JE ENUNCIAGAO E POSIGAO DE SUJErTQ, oh © de ™ Futura . 1. Ouseit. Zpois no hs sonidos (de 7, LUGARES D! mento do Locutor dividido pelo proprio jo oo. quando se lhe édispare, 60 proce ta t6rico. Poderias° Pea jcado no acontecimento como ings jeeste colocar-se & margem daisy" modo: de representagao dos es de dizer Cenunciag do locutor (locutores-x)? © lor) emo apagamento do lugar ‘social do ae cor divisdes do Locutor que funciona produzindo oapagamon?* lo, ria? Este funciona dente ou produz poreste «antes, para nosso ponto de vista, falar e fazerse co do interdiscurso, de uma meméria de senti io, ay Assim ser sueto estar afetado por este esquetimentn guy ae peste modo a representagio do Locutor se cons feist esquecimentoc € istoque divide o Locutor e apaga o locutor-x, ieltemos a0 caso do Decreta de um lado © 20 €as0 do dito popula, © lugar social de presidente & apresentadg 'o fala de uma regido do interdiscurso (4, iberal), Falar desta posigao de sujeito enesty to das configurages sociais ¢ issimetrias do dizer (os conflitos prOprios do lugar Ja representaco do Locutor enquanto enunciador. popular, o sujeito fala de uma outra regio dointerdiscurso (posicdo de sujeito), a do senso comum. Posig&o que dé ‘ao todos a sabedoria irrefletida Ja qual o Presidente ndo se diz Presi- dente mas um dos que lhe so historicamente “Ae duas caracterizagoes acima poderiam levar a pensar que figura do enunciador nao € nada mais do que uma repe ao do sujeito. Mas nao é 0 caso. O enunciador-universa pode ser 0 lugar do dizer de enunciagdes para as quais @ pos io do sujeito no interdiscurso é a do discurso juridico-liberal, como no caso do Decreta X. Poderia ser, por outro lado, o lugar de dizer de enunciagoes em que o sujeito estivesse na posigao de. sujeito administrativo, ou cienti- fico. E estas diferencas levam a relag6es diversas entre 0 lugar de dizere 0 lugar social do dizer. Da posigao do discurso juridico e do discurso jeito 6 es (Orlandi, se significa nesta posiga social do locutor-x), pela re universal. Ja no caso do dit 10 de dizer que apa- 28 OO ner gua joc utr Pog part as ete ean cnc Ma posicito do dicurs0 cienitia,O ave pote Fernando Meringue Cardoso (que hajeoce- ca no Brasil) do lugar de loeutor presente 30, Nada impede que da posit de {8600 Ror president. Tans Vezes afl presente mob de lo proprias da economia, da socilogia ee, enuncian- mento Jnt, Mas no dena esr nessa ver como Iie do 2Ar iego presidente a Part de uma posigio do discurso cientifi- So 18 O° Paar do lugar do presidente a partic de uma posigio do de feomo no caso do Decreta, ou de uma posicio no dis- co, oorno caxo do dito popula “Quem semesia vento, cae > ecpgervese que o passado (memorsvel) doacontecimento

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