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Pattvinscis| Média, no se hesitava em utilizar as pedras dos manos para construir edificios noves. Ninguém se om isso: no se atribula uma relevancia particular & fo das construgdes do passado. Néo se considerava onstitufam um patriménio histérico o qual era neces- 2rvar. O contraste com a nossa época é marcante se termo, 0 patriménio, tornou-se palavra-chave da dade mundializada. Ore, sua significacdo esté longe ura, como 0 mostram os textos aquireunidos. >, esta antologia reine os documentos essenciais culo XIl 20 XX, permitem-nos compreender como se desenvolveu a preocupacéo com a preservacio 28, mas, sobretudo, as confusBes e os amélgamas gue esto associados & nolo de “patriménio’ hoje @. Querendo-se engajada, a antologia é precedida inteoducdo fundadora na qual Francoise Choay Sry acre Batra tudo o que tende a transformar nosso am- struido em simples objeto de lucro ou de museu. Foden] ftp brvio] ‘GOISE CHOAY 0 PATRIMONIO EM QUESTAO (00808 PARA UM COMBAE COLEGAO Pattiimbnie Frangoise Choay O Patriménio em Questao Antologia para um Combate ‘TRADUGAO Joto Gabriel Alves Domingos FINOTRACO, Belo Horizonte 201 Fino Trago Editora Ltda. Tradugdo autorizada da edigao francesa, publicada ‘em 2009 por Editions du Seuil, de Paris, Franca. © Editions Du Seuil, 2009 Este liveo ou parte dele no pode ser reprodusido por qualquer meio sem a autorizagio da editora AAs ideias contidas neste livro sfo de responsabilidad de seu autor € nko expressain necessariamente a posiglo da editora CP-BRASL CATALOGACNO-NA-FONTE | SCNDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVED, RI Gee hoay, Frangoise,1925- (0 patrniino em questo: antelogia para um combate! Frangoise Chosy;tradugho Joto Gabriel Alves Domingos. ~ Belo Horizonte, MG : Fino Trago, 2011, 184 p. (Patrimnio; 3) ‘Tradugto de: Le patrimoine ex questions: anthelogie pour un combat Incl bibliograia Tel Sndice onomntion ISBN 976.85-0054-034-5 1, Conservagko histori. 2. Edificio histricos ~ Conservagto o restauragie. 23. Patrimnio cultural ~ Protegao. [Titulo I. Série 11-6806, DD: 363.69 (CDU: 351.853 ago 21.10.11 030599 Fato de capa © Milton Fernandes, stint so PavLo 2011 onsen eotromat Cataco Parnono ‘Angela Maria de Castro Gomes | FGV/RJ Antonio Torres Montenegeo | UFPE Garlos Antnio Leite Brando | UFMG Flévio de Lemos Carsalade | UFMG Thais Velloso Cougo Pimentel | UPMG Ulpiano Toledo Bezorra de Meneses | USP Fino Trago Editora Lida, Av. do Gontorno, 9817 A | 2° andar | Barro Preto Belo Honzonte. MG. Bras ‘Telefon: (Q1) 3212 9444 ‘www. finotracoeditora.com.br Agradecimentos Este livro, resultado de uma longa aventura coletiva, é dedicado aos meus Companheiros de combate. Aqueles cujo trabalho cito no livro. Mas também a0s outros, no menos engajados: aos mais velhos, Ernesto d'Alfonso, Filipe Lopes, Claude Soucy, assim como aos das geragies seguintes, Maria Bertrand. Soazo, Mare Desportes, Gilles Duhem, Kazmer Kovacs, Bernard Landau, Jacques Saint Marc, Vincent Sainte-Marie Gauthier e Makan Rafatdjou, Sumario Abade Suger.. Poggio Bracciotini, dito “O Pog Pio Il Piccolomini... Baldassare Castiglione, Raffaello Sanzio, dito “Rafael” .. Led X.... Jacob Spon. Bernard de Monsfaucon Antoine-Chrysostome Quatremare de Quincy. Victor Hugo. John Ruskin Karl Marz... Eugine Viollet-Le-Due Allots Riegl Gustavo Giovannoni A conferéncia de Atenas sobre a conservagto dos monumentos de arte e de histéria Desde 1992, o processo de mundializagao e sua repercussio no conjun- to de praticas relativas ao patriménio edificado de nosso planeta aceleram-se de modo espetacular. E 0 motivo pelo qual gostaria hoje de promover uma tomada de consciéncia, mobilizando simultaneamente dois tipos de leitores: por um lado, os profissionais ¢ os especialistas; por outro lado, o pitblico no especializado e nfo informado dos cidadios, que slo os primeiros afetados por esta evolugao. Este é 0 objetivo da minha presente antologia. Ela é inspirada em um método cuja eficdcia testei em minha pratica do ensino universitério sobre 6 patriménio, destinado originalmente aos futuros urbanistas, assim como nos meus cursos na Ecole de Chaillot, destinados aos arquitetosinteressados pela historia e pela gestdo do patriménio, seja tratando dos projetos contem- pordineos, ou de restauracdo. Cada um desses cursos & ou era, entretanto, seguido e completado pela leitura obrigat6ria de um texto emblemético da poca tratada. Assim, depois da exposigdo teérica e das dificuldades levan- tadas pelo seu carter abstrato, os estudantes confrontaram- Bais sur fa). textos aprecaein Bere nod (sad. de D. Wieekzorek. Besangon UInprimeur, 2002),Cl teshen' fog Transparence et opacité (Lausanne: LAge homme, 1976) , © OCulto Modern dos Monuments. op. cit, p40 rq. « 04, “Race et histoire. Race et culture, opt, p. 112 "J, Rigaud, L’Exception culturelle, op. cit, p. 95, acompanhado de repercussdes financeiras, Basta lembrar como o aba- de Grégoire, no seu primeiro apelo contra o vandalismo revolucionéio, associa sem hesitacio as mais altas consideragdes morais ao interesse econémico representado pelo turismo europeu: “as arenas de Nimes e a ponte de Card, talvez, trouxeram mais a Franga do que eles custaram aos romanos”.”” ‘Mas somos hoje confrontados com uma revolugdo semfintica, E é em outra escala, hegem@nica e nao incidente, que se imp@e o valor econémico do patriménio, Algumas declaragdes exemplares, emanando de altos fun- cionérios franceses nomeados para a cultura, sto capazes de convencer. Em 1978, o diretor do gabinete de Jacques Duhamel, entdo ministro da Cultura, afirma que “o patriménio & uma riquera fossil que se pode get € explorar como o petréleo"y” oite anos depois, 0 ministro do Turismo preconiza “explorar[o patimtnia] como parques de extracto"’? dex anos tuais tarde, pode-se ler no Boletim do Miniséro da Cultura (de janeiro de 1988) que “o produto museoldgico ~ a obra na sua ‘embalagent mauseogré- fica, arquitetural, tecnica, pedagégica — tornou-se um objeto estético para um consumo de massa. Entdo por que nfo um cruzamento de técnicas ¢ servigos para esse mercado de um novo tipo?”; melhor ainda, em 2007, 0 Ministro da Cultura, Donnedieu de Vabre, entrevistado no Le Monde: “Eu tenho uma viso extensiva do meu papel. Eu ndo sou o Ministro de Belas Artes, Eu vou langar a ideia de um ‘Davos da cultura’: politicas, atores econ6micos e mundo cultural devem dialogar”.”> | Entzetanto, € & ago da UNESCO, com sua classificagio do patriménio sundial, que a mercantilizagtopatrimonial deve eu desenvolvimento expo- nencial. Portanto, élégico e legitimo que em “reconhecimento das diretivas, da assisténcia e dos encorajamentos fora do comum que ela prodigalizou para 185 paises do mundo inteiro para Ihes permitir estabelecer e reformar 878 sitios do patrimdnio mundial”, “e levando em conta suas performances excepcionais na indtstria do turismo”* considere-se atribuir ao Centro do Patriménio Mundial da UNESCO o prémio 2008 do Turismo Mundial (World Tourism Award), patrocinado pelo Corinthia Hotels, American Express, The “Rapport de Grate at Comité 'intruston publique sures desuuctins opérées parle ova ttre mayen ee ime seats Se Peo fegundo ano du Rptblica, J, Rigaud, “Pattimoine, évolution culturelle”, In: Monuments historiques, 5, 1978, p. 4. "tn: Monument historique, stro do 1986, "8 Le Monde, 5 margo de 2007. Ttélicos meus. 36 INTRODUCAO Imernational Herald Tribune ¢ Reed Travel Exhibitions, concedido em Londres na ocasitio do World Travel Market. Essa cruzada pelo consumo mercantil do patriménio nfo & somente Prejudicial aos vistantes, enganados quanto & natureza do bem a ser con. sumido ¢ a0 mesmo tempo colocados nas condigbes de amontoamento ¢ de ruido impréprios a qualquer deleite intelectual ou estético, Ela condu tuito frequentemente também a destruigio dos sitios classificados, tanta Pela elevasao de necessérias estruturas de acolhimento (hoteleiras e outras) Guanto pela eliminagao de atividades criativas ligadas a cultura local « a sua identidade, em particular no caso dos pafses do Sul. Mas, por outro lado, para tomar um exemplo europeu, pode-se qualificar os efeitos de cus classificagzo sobre o importante sto normando que fi, ao longo do tempo, * 0 Mont-Saint-Michel? Como se ndo bastasse, a cruzada da UNESCO nao recua diante da rotulagao do falso. Dois exemplos: na China, em um sitio magnifico situade #1800 metros de altitude, nos confins do Tibete, no Yunnan, a vila sobre 08 canais de Lijiang, em cerea de trés quartos destrulda por um terremoto, {oi mais ou menos reconstruida de forma idéntica, esvaziada de seus anti 20s habitantes ¢ colocada em cena segundo as normas do turisino cultural que desde entao atrai para o sitio milhdes de visitantes anuais, chineses ¢ estrangeiros. Na Franca, a obra de Le Coubusier, brutalmente restaurada ¢ coroada por uma obra falsa [faux intégral].® colocada a cabeca das candids. turas francesas para a classificagtio de 2007, foi vencida no iltimo instante pelo conjunto multissecular de fortificaes de Vauban. Foi adiado. Simultaneamente, sobre todos os continentes, cépias de monumentos Mo presenteadas nos parques de atragBes teméticas, enquanto 0 pastiche adquire sua cidadania, Assim, cidades novas, de cem mil habitantes, pro. Jetadas no oeste de Shanghai para cidaddos privilegiados: Thames City, & partir do modelo de um bairro londrino da época vitoriana, mas dome, nado por uma réplica da eatedral de Bristol, e Nuremberg City, ao ectilo Bauhaus, sto concluidas; as réplicas de Veneza e Barcelona estdo em curso de acabamento, “VA igreja de Firminy: primeira pedra posta em 1970, cinco anos depois da morte clo mestre, inauguragdo em 2006. Essa igrej, cujo cleo local recusos& ccupagte "sular, vai, sob o impulso de militantes corbusiristas locais,“funcionar come uma bequene PME, Haverd recetas pois, dizem, nbs vamos instalar um espago-butique e, jo que nBo, outras coisas”, Duas desenas de empregos ato essim criados, de gules ‘srgurancas e conservadores. Quanto a casa da cultura, ela val receher o "Centro de imerpretagto da obra de Le Corbusier”, Seeeeeeee reer eeee eer ee ee eenee ee Esclerose Museificacao, ae aa raat mononsin E desde endo s rego dum redness nt oae eee 16s-humano € seu movimento tecnélatra”® Teduzem a cifneia an a ‘eonicas. Ora, os produtos normalizades dessa tecnoini implarads no expe gf de ato Panto podem de ma lm, ub tuir a incontornavel diversidade de patriménios = ics nae eaieram, ao longo do ep, nssas fereneseues eres, Pais nico verdad problema com o qual depaans jen ox i i lobalizada é continuar a produzir * ap Saal lem eet ras sim uma identidade humana aus ee sind i ope tl” O que ei em casa a preblemtca teal do Same quisermes optar pelo destino do Homo spe spies om Seuimeto de devine do Home pti dzemos nova cape: Cidade densa espe de har o mando de ona a devenvater o que chamei em outro: Tugar” de nossa | ‘competéncia ada) o iden efetocomo acompetasin cla ame inguagem rca) ngs en ticamentelocutore ouvinte, a competéncia de edificar engaj construtor ¢ habitante. Conclustio: resisténcia e combate Devido ao su etquematian, esta breve inrodudo ted mostrade ‘pero, a necessidade e a urgéncia de uma tomada de consciéneia. seer mde de conscitncia das ameagas que pesam no presente sabre not identdade humane. Conssiécia de nosso dupa ext de srs vtos 2 le, pind em ua dpe indssbe cage cm os mndos da natureza e da cultura. Consciéneia do fato de que a institucio 19, mss remtomeni, “Pronto dx Ete Unidon ology dao cents neers ile Scene Fondation 2000); e0de aes Caron aa sti tonal Fore do Sto Francie Cf Leg de parincine op sociedades humanas ndo se transmite ‘somente pelo uso ea diferenga de suas ‘Inguas, mas também pelas modalidades diferentes de sua insergfo espacial € temporal no mundo, Entretanto, tomar consciéncia é s6 0 pré-requisito — necessirio endo suficiente ~ que da sua significacao e convida ao combate exposta no titulo desta antologia: combate ¢ estratégias a serem empregados ‘do somentea fim de renovar as diferengas obliteradas e desvalorizadas, mas sobretudo a fim de prosseguir no presente a invengio das particularidades espirituais e materiais que fundam a riqueza da humanidade. Ao modo de uma incitagio, eu apenas evocaria trés frentes da luta 4 ser travada: primeiro, a da educacao e da formacao; em seguida, a da utilizagao ética de nossas herancas edificadas (hoje mercantilizadas soh o ‘ocdbulo de “patriménio”);, enfim, ada participagao coletiva na produgao -de um patriménio vivo, 1. Atenuar a auséncia de uma cultura de base em matéria de espago edificado ¢, na Franga, uma primeira urgéncia a qual caberia & Educagao nacional responder em dois dominios complementares, Por uum lado, banindo o amadorismo que reina hoje na maior parte dos casos, tratar-se-ia de fazer com que os historiadotes da arte profissio. nais oferecessem um ensino que permitisse a aquisicao de um saber hist6rico, Por outro lado, importariainiciar pela implicacto do corpo inteiro€ de “todos os sentidos [ineluindo a contribuigto também clo andar] como os olhos, o olfato o tato, eom o silencio e o som” em uma exploragio conereta do espago construido como seu meio natu. zal, esses espagos concretos cujo conhecimento e o reconhecimente So ocultados pela hegemonia do espaco virtual. Ainda que o Estado se desengaje de suas tradicionais responsabilidade em matéria de PatrimBnio em proveito dos especialistas locais, como eles poderiam assuir semelhantes tarefas em um pais onde, da escola priméria 20 fim do secundrio, nao existe nenhuma iniciagao nem as artes ¢ as priticas do espaco em geral, nem A arquitetura e ao urbanismo em particular? Nés deverlamos, a esse respeito, tomar como exem- plo nossos vizinhos europeus, notedamente os italianos.® Da mesma WSs ati nona. Espaces ouvertsespaces collectfe, adaptagSo francesa de Espacios ‘sespaciosealectivos Sociedade calombiana de arquitets, om colabaragte com "= mnisérios de Quesides estrangeires e da culture, Bogoté , 2007). Cf. também "onto Salona, une figure exemplaize de architecture contemporaine”, F. Choay, {staniome,n. 357, noverabro-dezembro de 2007, pp. 86.90. * Ss Walia a inlelagto dos jovens ao espago ediicedo comeca na escola priméria. 0 'xalério da histéria das artes plasticas, da arquitotura e do ordenamento forma, com os futuros arquitetos e com os diversos profissionais do espago, ret promever nae sas esas wn nen taba dee encontros com a histéria e, mais ainda, com a espacialidade real, no seio das quais a concepgao auxiliada pelo computador® tendew progressivamente a evacuar o desenho manual” e o ideal da criagéo individual a substituir o tradicional didlogo com o mestre de obras. mista da competéncia de edificar ¢ de habitar um patri- * See inovador na conta a sate passe 6m por uma propedéutica, engajando juntamente urbanistas, aie habitntes na reaprpriagto ena retlizago. sistema das herangas (sitios ¢ prédios) nacionais e locais e de suas escalas de ordenamento, Em outras palavras, nbs devemos arrancar sitios e edificios antigos do seu gueto museolégico e financeiro, O objetivo 6 realizdvel sob as condigoes estritas de: + dotar esses lugares de novos usos adaptados & demands societal contemporgnea; « renunciar ao dogma de sua intangibilidade e ao formalismo his- t6rico da restauracaio; rigs, associando o respeito + saber proceder as transformagbes necessétias, do passado e a aplicagao de técnicas contemporaneas de ponta, nda nossos vizinhos italianos continuam a ser mestres no tra- Ag et ne rats ts oe er Basta lembrar o exemplo das universidades italianas, em sua maioria instaladas nos sitios edifcios antigos de prestigio. Tomemos apenas fa de Veneza, surgida no espaco de uma série de palécios histéricos ® CAO (conception assistée par ordinateur) ou CAD (computer-aided design} [Note "nn dn pr eh daa rine El dtica &, a esse respeito, a ago de A. Scobeltzine no seio de Ecole d’ ae een ee to ei os E 40 desativados, que (sobre o Grande Canal, o da Ca’Tron) foi remanejada por Carlo Scarpa e que acolhe o Instituto de Urbanismo, Na Franca, s estudantes sio, na maior parte dos casos, relegados ao interior de objetos técnicos banalizados, 3. E necessdrio pontuar, dentre nossas estratégine de resistencia & normalizagto planetiria, o papel das associacées locais de cidadtios ¢ de todas as estruturas administrativas locais abertas a participagao de seus administrados. Pois, hoje, é a escalas locais, pela adigao e a confrontacao de tomadas de consciéncia individuais, que podera de novo ser afirmada a necesséria reivindicagao da diferenga, marca da identidade, Porém, ¢ preciso que se entenda isso, Nzo € uma questdo de promover uma espécie de retorno aos comunitarismos ttadicionais. Trate-se, ao contrério, de chamar-se & formaggo de ‘comunidades eujos membros seriam solidarizados nao pelas arigens étnicas ou geogréficas, préximas ou distantes, mas por sua comunhao € presente insergAo nos espagos concretos, naturais e societais, E reaprendendo a inscrever as problemiticas societais do presente & eseala e na base de uma heranca local (natural e edificada) que serdo inventadas as novas entidades espaciais para, sobre a fundagdo destas, reencontrar-se ¢ continuar a enriquecer a hierarquia das ‘identidades regionais, nacionais, europeias, A mise en garde alarmista desta introdugdo tem por ‘nica finalidade convidar a um combate que continua possivel de se ganhar. Eu concluirei também por um manifesto de otimismo quanto a sobrevivéncia de nos- sa competéncia de edificar, evocando, simbolicamente, duas experiéncias cexemplares, Para comecar pela reutilizacao no mercantil de nosso patriménio, eu ssudaria um caso francts (de outro modo, excepeional em nosso pais): aquele «la pequena cidade fortiicada de Saint Macaire (com dois mil hebitantes), tas margens do Garonne, na Bordelais, a vinte quilémetros de Bazas. Em Vinte-€ cinco anos, o prefeito, Jean-Marie Billa ~ arquiteto e professor, for. two nas associagBes comunitérias ~ obteve éxito ndo apenas em articular ov habitantes na reabilitagdo e na restauragio de um patriménio medieval ¢ enascentista que cafa em ruinas. Ao prego de uma luta permanente contra «voting administrativa, prefeito e habitantes promoveram juntos a adaptacto ‘\» normas téenioas em vigor e a transformagao em habitagdes sociais de a grande parte de edificios domésticos medievais, lojas de metcadores 1esidenciss aristocréticas fortificadas; juntos, eles obtiveram a conversio 41 definitiva de um antigo convento de Ursulinas (século XVII) em um asilo {que fica lado a lado com um estabelecimento para pessoas com Alzheimer, ‘assim como a instalagio de uma casa de acolhida para criangas autistas no coragio do centro histérico. Em seguida, no que concerne a sobrevivéncia poseivel de uma arquitetura «que nfo possa ser reduzida nem a um suporte midiético nem a uma categoria da arte “evento”, devo precisar que minha descrigo, nfo tendenciosa mas tendencial, aplica-se antes de tudo as vedettes dadas como exemplo nas escolas, nas revistas de arquitetura e na midia. Pois existem, ainda e um pouco por todos os lugares, desconhecidos que, pouco preocupados com publicidade, continuam, longe do ruido miditico, a praticaro oficio de arquiteto com todo seu corpo ¢ em um permanente didlogo com os higares e com os homens. E ‘mantém-se ainda grandes construtores também. E bem porque gostaria, para terminar, de prestar homenagem a experiéncia incansavelmente continua pelo termtério da Coldmbia, entio de trinta anos e até seu titimo dia, do grande Rogelio Salmona. Associando técnicas de ponta & escuta das populagdes © & atengdo sempre maior aos solos, relevo, vegetais, cus ¢ antigos patriménios ‘construidos, ele edificou uma obra contemporanea compardvel a nenbuma outra hoje, porque ela afirma com lirismo, simultaneamente & nossa moder- nidade, a identidade, a alteridade e as diferengas de uma cultura Preconceitos e modo de emprego da antologia ‘Ainda uma ver, esta antologia nfo tem vocagto para ilustrar exaustiva- ‘mente uma histéria geral e extenuante da génese e das préticas patrimoniais: ela esta de acordo com os questionamentos formulados na introduc. Mas, ‘mesmo assim, ela nfo pode ee pretender a uma representatividade completa das quest¥es levantadas, Tal projeto teria requisitado numerosos volumes. O formato da obra impds ura escolha limitada de textos, forgosamente arbitréria ce que foi por vezes dolorosa. Essa escolha foi ditada por quatro campos: 1. De um modo geral, optei por documentos ao mesmo tempo en- bleméticos, particularmente vivos, mal conhecidos ou, por vezes, supostamente muito conhecidos, mas sempre engajados. Esse campo ‘me levou a excluir notadamente os textos administrativos do século XIX frances ow ainda as exposigbes técnicas sobre a restauragio dos monumentos. 2 2. Nailustracdo do combate a ser travado hoje, privilegiei sua dimensio Positiva (o combate por) em detrimento de sua dimensdo negativa ou critica (0 combate contra). Essa selec critica, limitada aos dois Ailtimos tergos do século XX, foi, com uma tinica excegao, ilustrada pelos documentos internacionais. sens A introdugdo, tendo sublinhado a origem europeia-ocidental da reflexto sobre 0 conceito de patriménio construldo e defnido, com citagdes e referéncia bibliogrdficas para apoio, os papéis pioneizos € originais exercidos no seu desenvolvimento pela Itdis, a Gra. Bretanha e os pafses germanéfonos, atribui para o piblico francés, um maior niimero de textos franceses, entretanto. : + Quanto d triagem dos extratos escolhidos, procureievitar a monoto. nia, Para textos cuja extensdo permitia mensurar melhor a riqueza, 2 complexidade ou a estranheza sob os olhos de nosso presente, ea ascociei, ao modo de contraponto, textos muito curtos, servindo, ao contrério, pela sua clareza e sua brevidade, : . Esta antologia segue a ordem cronolégi i sai ; gica © a periodizagto adotad Pa a cae a é recedido de uma apresentacdo que fornece uma nota. biog ¢ bibliogréfica sobre o autor e ofere rineipais bali ua eis provloras n= Meee #8 princi balias pra Na transcrigdo do conjunto dos textos, a paginacdo foi normalizada. Do wo modo, substitui-s a ortografia a regres de pontuacioatuais para os d a anteriores ao século XIX. De forma contréria, Tespeitamos twsses ftimos 0 uso das maidsculas, ainda no sistemética, dotada por eves de um forte valor seméntico. , : No corpo dos textos escolhidos, as notas de rodapé foram reduzidas a0 ‘isin; elas concernem em geral a terminologi 0 e minologia ow expli paesugens alusivas, " rs

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