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trabalhador pal ALK f CIDADANTIA 0 vamos vi- PODI ver jun ses e estabe- ‘a ecer regras de convivéncia. Poucas atividades humanas lidam com questées to essenciais, 0 dramaticas, que produzem tantas consequéncias. Um governo ditatorial, por exemplo, pode tirar mais vidas que a pior das epidemias. Ja um bom programa de blica, implementado por um go! ado com os principios basicos de ci social, Py garantir qualidade de vida a muitos cidados. E através da politica que se decide quais sero os seus direitos, © quanto de liberdade vocé terd, e quais serao suas chances de ter acesso aos oportunidades que possibilitam maiores escolhas na vida de cada um. Em um jogo em que as apostas s4o tao altas, 6 natural que parti- cipern muitos aventureiros e desonestos em busca de van- tagens e poder; a Unica alternativa ao governo dos aventu- jonestos & que vocé, 0 cidadéo, aprenda como 0 jogo da politica é jogado, e, junto rcidadaos, faga com que ele funcione a fa tos, tide pu- erno preoci lania e bem-esti om seus. Neste capitulo vamos discutir: 1 Politica e poder 2 OEstado 3 Os contratualistas o que o Estado pode fazer? 4 Regimes politicos ademocracia 5 Partidos politicos ‘om Londres, Inglaterra, om foto de 2006, Ese fgraite faz parte da campanha do cidadao inalés Srian Haw (1949-2011, que viveu durante quase {ez anos, desde 2001, acampado na praca em frente 4 sede do Parlamento britinico, Protestando ‘movimento contra a invasio do Afoganistso 0 do racue. uando vocé pensa em politica, o que vem a sua cabeca? Provavelmente algo relacionado a0 governo, 8 pessoas que administram a cidade, o estado ou © pais. Vocé talvez pense nas eleicées, em candidatos, no voto. E talvez tenha uma opini8o desfavoravel sobre a politica: muita gente, quando ouve falar em politica, logo pensa em corrup¢ao. Mas vocé jd pensou em quantas coisas boas na sua vida foram conseguidas por lutas oliticas? Por exemplo, hoje vocé pode postar na internet uma frase como “Odeio todos 0s politicos, 0 governo é corrupto”. No Brasil, hé menos de trinta anos, quem criticasse governo desse jeito poderia ser oreso, torturado e até morto. Isso sé deixou de ser assim gragas a um movimento politico forte que mudou a forma de o pais ser governado. E quem achar que outros problemas graves do Brasil podem ser resolvidos sem politica esta seriamente iludido. A Ciéncia Politica ajuda a entender como funcionam © governo, as leis, os partidos, ¢ tudo aquilo que influencia ou regulamenta a vida de cidad&os como vocé e seus colegas. 210 UNDADE3IcaPiruLon 1. POLITICA E PODER © conceito fundamental da Ciéncia Politica é 0 conceito de poder. A detinigsio do socislogo alemso Mex Weber (ver Perfil no capitulo 6) mostra que o centr da atividade politica ¢ a busca pelo poder. Segundo Weber, a politica é a luta por participar do poder ou i lar sua reparticéo, seja em um Estado, seja entre 08 grupos de pessoas dentro de um Estado, seja na relacSo entre Estados. Mas o aue, afinal, € 0 poder? Voce ja deve ter alguma ideia do que significa poder. Tem oder quem manda, quem € capaz de impor sua vontade sobre dos outros, Essa é a definicao classica de poder: a possibilidade de impor sua prépria vont: de, mesmo que contra a vontade dos outros, ‘Se um assaltante o ameaca com uma arma e [he ordena que entregue a ele seu dinheiro, voce provavelmente obe decers, mesmo contra sua vontade. Quando isso acontece, ele esta exercen: do poder sobre voce. Se 8 policia inter- rompe 0 assalto ¢ ordena a0 ladrao que se renda, ele provavelmente vai obede cer, mesmo nao tenda nenhuma vonta~ de de ir preso. Quando isso ac iciais exercem poder sobre o ladr& Essas s8o formas de poder razoavel- mente simples: alguém obriga outro al ‘guém a fazer alguma coisa por meio de ameaga de violéncia fisica. Mas 0 poder com base apenas na ameaca de violéncia ¢ fragil. O ladrao 56 ama Paro poder seexabelece be | ee atten tmsipere ars i crenope ;cisasse manter um policial armado acompanhan: todo, para que cump ‘Weber chamou a 1e de encontrar obediéncia em um grupe de pessoas de dominaggo, A dominaco, para durer, pre- cisa ser legitima: isto é, precisa, de alguma forma, convencer as es 088 de due & certo obedecer. Elas podem se convencer rmotivos diferentes. Weber Identificou trés principals tip naeSo. Os tres tipos de domina indo Weber, + Dominagso tradicional: é2 dominacso que se bases no cost nabito to forte que nos pareceria estranho nos desviarmo Muitas monarquias, por exemplo, foram e sio legitimadas pela tradi maneira de viver de determinada sociedade, © os suiditos ef due tnt se legtimar como represenant ds 182s, @ comum que os fé's obecegam ao lcer esprritual dee Dua Maas Sograane™ (Hace eMedia porque esse comportamento ja se tornou parte import: ane Oeipoik dunia to mans de sue tener Save, legitima, 5 N 4 N funcionério do Estado Os funcionarios| publicos nao podem ser indicados por alguém para 0s cargos que ocupam (exceto nos chamados cargos de conflanca). Eles sto aceitos no cargo pds aprovacao em um concurso publico, rho qual os candidlatos so avaliados anonimamente. 0 objetivo disso é garantir que a selegae considere a competénela do candidato para a fungao,e nao suas relagdes pessoals, $20 funcionarios pablicos, por exemplo. os juizes eos médicos dos hospitais piblicos. © Dominagéo racional-legal: & a dominacao que se baseia na crenga de que é correto obedecer 8 lei. N3o porque a lei seja inspirada por ordem ou crenga divina, ou poraue se concorde com todos os detalnes de todas as lels, ou por- que obedecer seja sempre do seu interesse, mas poraue a le! deve ser cumpri- da. Para entender o que é a crenca na lei, basta pensar no que consideramos, na sociedade moderna, um bom fURSISRSPIGIBUBIED. Um bom funcionario pu- blico deve ter conseguido seu emprego por competéncia técnica (demonstra da em concurso publico); deve sempre seguir o que diz a lei, e deve aplicé-la igualmente a todos os cidadaos, sejam eles brancos, sejam negros, ricos ou pobres, da mesma igreja do funcionério ou no, do mesmo partido politico do funcionario ou nao. Esse funcionério publico corresponde ao ideal da domina- 80 racional-legal. © Dominagao carismética: é = dominagao que se baseia na crenga de que o I> der politico possui qualidades excepcionais, dons extraordinarios. Os lidera- dos podem acreditar que o lider é inspirado por Deus, ou gue ¢ excepcional- mente capaz de compreender 0 verdadeiro destino da naco. £ possivel, a propésito, que os liderados estejam enganados — ou seja, que o lider nao te- nha nenhuma dessas qualidades. Mas, enquanto o lider convencer de que as tem. ele exerce poder sobre os liderados, muitas vezes inspirando-os a fazer coisas que normalmente néo fariam. 101939, 0 ditador Adolf iter, 1945, hitler nctou o dio UNIaDE3icaPiruLon Vela como as coisas so mais complexas do que aparentam, Comecamos este capitulo vendo que o poder @ a possibilidade de impor a vontade. Quando conclu mos que o poder que € s6 imposto ndo consegue se estabelecer por muito tempo, descobrimes que eaueles que obedecem precisam de motivos pare obedecer. Es- ses motivos 80 muito mais complexos do que o medo da violéncia: a dominacgo, para ser bem-sucedida, precisa respeitar as tradic6es dos dominados, ou precisa oferecer-Ihes a inspiragao e 0 entusiasmno gue uma grande lideranca é capaz de produzir, ou precisa garantir a ordem segundo os principios da lei. Qu talvez preci se oferecer as tr8s coisas, ou ainda outras aue Weber nao listou. No final da histéria, 0s dominados ndo se limitam a obedecer; eles tém valo. res, expectativas € exigéncias que impdem limites a quem exerce o poder. 0 po- Iitico que resolver ignorar completamente a questo “Afinal, por que essas pes- soas me obedecem?”, corre o risco de descobrir que, com o tempo, elas podem, parar de abedecer. 2. OESTADO Boa parte dos trabalhos de Ciéncia Politica estuda o Estado. A definicso de Estado mais utilizada pelos especialistas também foi formulada por Max Weber, € diz 0 seguinte: 0 Estado 0 monopéilio da violencia fegitima em um determi- nade territério, Em outras palavras: o Estado tenta ser a Unica instituiggo & qual a populacaa reconhece, em determinadas ocasiées, 0 direito de praticar a vio léncia. A populagao aceita essa situacao por diferentes motivos, que variam de sociedade para sociedade. Varios discutir em separado cada parte da definicéio de Estado. Monopélio ¢ uma palavra emprestada da economia e descreve uma empresa que € a Unica vendedora de certo produto, Quando afirma que o Estado tenta ser um menopélio da violéncia legitima em determinado territério, Weber esté dizen- do que o Fstado tenta se tornar a Unica instituicdo capaz de praticar a violencia legitima naauele territério, Mas 0 que é a violéncia “legitima"? Para compreender o que é a violencia legi- tima, pense na sequinte situaco: vocé est vendo, na TY, imagens de um conflito entre policia e criminosos. Os dois lados estao praticando violéncia, um esté ati rando no autro. Mas, para vocé, o que cada um est fazendo no é a mesma coi- sa. Voce provavelmente acha que a policia tem mais direito de atirar nos crimino- 08 do que os criminosos tém de atirar na policia, Vocé acha que, em circunsténcias como aquela, 2 policia tem o direito de praticar a violéncia: os cri minosos, n3o. Em outras palavras, voce considera que a violéncia praticada pela policia no cumprimento da lei é legitima ‘ASSIM FALOU... WEBER Avioléncia nao ¢, evidentemente, o Unico ins- como instrumento normal de poder. Em nossa trumento de que se vale o Estado ~ nao haja a respelto qualquer dtivida ~, mas é seu instru. mento especifico. Em nossos dias, a relagao entre 0 Estado e a violencia é particularmente fntima, Em todos os tempos, os agrupamentos politicos mais diversos — a comegar pela famt lla — recorreram @ violéncia fisica, tendo-a WEBER Wor Canc sottien ds ocarSs So Paulo Our 20 56 epoca, entretanto, devemos conceber 0 Estado contemporaneo como uma comunidade hu: mana que, dentro dos limites de determinado territerio ~ a nogao de Lerritério correspond a um cos elementos essenciais do Estado ~ ret vindica © menopélio do uso legitimo da vio: enela fisica POLITICA, PODEREESTADO Por que achamos que a violéncia da poll cia contra os criminosos ¢ legitima? Poraue, em geral, ela é praticada para fazer cumprir a lei O valor que damos a lei se deve ao f de que, nas sociedades modernas (como a nossa), predomina a forma racional-legal, aue exelicamos no item ante: or: para nés, o que vale é a lei. Quando ve~ mos policiais cometerem v prir a lei (por exemplo, matando um inocente), nos revoitamos contra eles. A vio- lancia da policia sé ¢ legitima quando ¢ pra- ticada conforme a le’ Mas 6 preciso ter em mente uma coisa muito importante: os Estados modernos dado polcia durante operasso (brasil em comunidadena Zone res desejavam proporcioner bem-estar & populace, re Nore do Rio de Janta. em resceito 8 lel, u Doreue desejassem ser "modernos”. Varnos mostrar aqui como norte-americano, francés, etc.) nao se for dp sxforco do governa ara @SSe proceso est relacionado com nossa discusséo sobre o monopéllo ca violér a sondage sarentes_cia e sobre como os que dominam também dependem dos dominados. ds oraporcriminotos Serafiavam @ manopsiio PNAS teluh os seed a votines pelo frac ¢5 prosperorm porave Imagine que um pais estrangeiro com um exército paderoso invadisse o Brs- o gaa tacassou em sie destrulsse completamente as Forcas Armadas brasieiras. Imagine que o derse comunidades um presidente desse pals dissesse que, daquele momento em ciante, mandaria minimo se seouranca © no Brasil e s6 le poderia decidir 0 que é certo ou errado Mesmo se 0 gover- Bemvestar social ~ ou sea, fathou om lesitimars no invasor tivesse o monopélio da violéncia, vocé 0 reconheceria como legi- timo? Vocé acha que © governo invasor poderia sobreviver por muito tempo com base apenas na forca? Va ne sock Comecamos este capitulo com 0 exemple do poder que o assaltante armado BIOGRAFIAS quem —_exerce sobre sua vitima, Em seus est . dos Estados mode Charles Tily 10s, 0 cientista politico e historiador norte-americano Chaeles Tilly (1929-2008) (0928-2008), destaca que, quando surgiram, os Estados modernos no eram muito diferentes de quadrilhas criminosas que, para néo agredir 0 povo, cobravam dele. Os Estados modernos comeca ram 2 se formar no final da Idade Media, na Eu a lideranga de governantes (em geral, res) que co bravam impostes do povo pela for- 2, controlavam exércitos e conse- guiam conquistar territérios por meio da guerra — como, aids, acon tece até hoje Na gravura 20 lado a ran da inaaterra, ® defensor da Inglaterra nas querras contra a Espanha, Drake fol um corsrie, ou sea, tim pirate que contava com protecto ofl de um governante, UNIaDE3icaPiruLon BRRORIOREIBE Que se govern por conta propria Uma cidade auténoma, portanto, ‘no é comandada por ‘outra cidade ou pais Ao ‘mesmo tempo, no caso de Florenga ela apenas governa asi mesma. (BIGFERHERIG soldado que serve aquemo ‘pagar, no imporlando nacionalidade ou causa, © interesse bésico desses governantes era explorer os povos conquistades @lém, 6 claro, do povo que jé exploravam antes). Para isso, era necessario des- truir os governantes adversarios, Quando conauistavam novos territérios, podiam, explorar mais gente e financiar mais guerras. Na origem do Estado esté a guerra, e nem sempre era clara a diferenca entre guerra e crime: muitos Estados finan- claram piratas, por exemplo, que passavam a ser denominados corsdrios quando contavam com a protecgo de governantes, Para conseguir recursos a fim de finenciar seus exércitos, os fundadores dos, novos Estados europeus perceberam que valla a pena se aliar a certos setores da sociedade. Exércitos poderosos custam caro, Os Estados europeus logo desco. briram a vantagem de tomar dinheiro emprestado para financiar suas guerras, Quem emprestava esse dinheiro eram os banaueiros @ comerciantes, que integra vam uma camade social em ascensdo: a burguesia, Os reis que consequiram acumular riqueza e formar exércitos poderosos con- seguiram também enfrentar os nobres, que tinham seus prdprios exércitos. Se- undo Charles Tilly, o desarmamento da nobreza europela foi um longo processo, que levou 8 eliminaco dos exércitos particulares dos nobres e, muitas vezes, & Gestrui¢ao de suas fortalezas e seus castelos. Quando conseguiram desarmar os nobres, 0s reis passaram a ter 0 monopélio da violencia em seus territérios, em um proceso de concentracgo de poder. Mas 0 que tiveram de fazer para que essa violencia fosse considerada legitima? Enquanto iam ficando mais fortes e derrotando 0s nobres, os rels aos poucos foram forgados 2 fazer concessbes aos burgueses, que Ihes emprestavam dinhei- ro, €.a0 povo, que lutava em seus exércitos. Para satisfazer a burguesia, tiveram ue fazer leis que incentivavam 0 comércio ea industria, e deixar de interferir na atividade econdmica. Par evitar que o povo se rebelasse, tiveram de ceder cada vez mais direitos 4 populado — por exemplo, ajudando no sustente das viivas PERFIL NICOLAU MAQUIAVEL Nao é possivel falar da poll tica moderna sem falar de Nicolau Maquiavel (1469- -1527). Pode-se dizer que Maauiavel foi 0 fundador PintuadeSantigitito, d2 Ciéncia Politica e um (9536-1608) Gos principais tedricos do Oprincipe se propunha a orientar 0 lider que acel tasse a tarefa de unificar a Itélia. Ele deveria, por exemplo, ter seu proprio exército, em vez de confiar ‘om MIBEEEMBEIGS. que sempre fogem depois de rece- ber seu pagamento. Ele deveria, também, se informar sobre 0s costumes dos povos que habitam os territd- ios conauistados (a Italia até hoje ¢ marcada por Estado moderno. Como ciplomata, representou sua cidade natal, Florence, em reinos importantes da Eu- ropa. Como Maquiavel via sua cidade de fora, perce- beu que ela estava em uma situacdo muito dificil, Naquela épaca, Estados modernos jé haviam se, formaco em lugares como Franga e Espanha, mas ndo no que hoje corresponde & italia. Cidades como Florenca eram SURSHSRIES — 2 unificacdo da Italia sé viria a acontecer no século XIX, Diante dos pode~ rosos exércitos espanhdis e franceses, essas cida- des pareciam frageis, o que se provouna derrubada do governo de Floren¢a apés um conflito com a Es- panha. © novo governo prendeu, torturou € exilou Maquiavel. No exilio, ele escreveu O principe, sua ‘obra mais famosa. grande diversidade cultural entre suas regiées). 0 principe precisaria tomar todo cuidado com os no- bres e poderosos que pudessem vir a se tornar seus rivais. E no deveria vacilar quando fosse necessério cometer violéncias e crueldades contra seus inimigos. Esses e outros conselhos se baseavam em exem~ plos histéricos culdadosamente analisados. A énfa~ se em falar da politica como ela é e ndo apenas como ela deveria ser 6 0 que faz de Maquiavel 0 fundador da Ciéncia Politica. Hoje no aceitariamos muitas das orientacdes que Maquiavel deu em O principe, como sua defesa do uso da crueldade em varias situacées, mas mesmo delas podemos apren- der algo: o carater violento da formagao dos Esta- dos nacionais moderns. 21; POLITICA, PODEREESTADO Vela na seco BIOGRAFIAS quern 50 Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). ‘ i { j de soldades que morriam nas guerras. Também tiveram de aceitar limites sobre: sou poder: o Estado foi “domesticado” por meio de leis ¢ da cria¢o de parlamen- tos, além de ser enfrentado com a ameaca de revolugao quando nao era capaz de se adaptar aos novos tempos. Para entender melhor esse jago de confrontos e negociacées, uma boa dica é ler seu livro de Historia pensando nos problemas que discutimos aqui As revolu- s6es, por exerplo, podem ser vistas como grandes esforcos para obrigar o Es- tado a satisfazer as exigéncias de legitimidade dos cidados. No préximo iter, vamos analisar um aspecto importante da histéria destas lutas: a histéria das ideias sobre o Estado. 3. OS CONTRATUALISTAS: 0 QUE 0 ESTADO PODE FAZER? Aorigem do Estado, como vimos, esté na guerra e na conauista, Maquiavel fot © grande pensador da fundacdo dos Estados. Mas o Estado é uma forma de do- minaco, @, como vimos, a domina¢ao precisa ser legitima, precisa convencer quem obedece de que, de alguma forma, é certo obedecer. Por isso, quando Estado moderno foi formado, varios pensadores tentaram resolver o seguinte problema: quando o Estado é legitimo? Durante esses debates, muitos de nossos conceltos sobre liberdade, igualdade fe democracia foram formados, Vamos explorar agora trés autores fundamentais para que, na nossa cultura, aceitaéssemos a existéncia do Estado e forméssemos nossas opinides sobre o que ele pode fazer. Até hoje, boa parte das ideias pollt- cas tem origem nos livros desses pensadores, conhecidos como contratualistas, pois viam Estado como resultado de um contrato entre os cidadaos que con- cordavam em obedecer a uma estrutura de poder com regras oréprias. Isto 6, embora o Estado tenha se formado por meio da conquista e da guerra 0 contratualistas se perguntavam 0 seguinte: se todos nos reunissemos e fun- dassemos um Estado por nossa prépria vontade, como ele seria? Esse Estado se- ria, sem davida, legitimo, pois seria a expressao da von, tade livre dos que obedecem. Contratualistas como os ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) ¢ John Locke (1632-1704) ¢ o franco-suico Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) propoem a seguin- te pergunta: como seria a vida sem o Estado? Essa fase em que o Estado no existia foi chamada de estado de natureza, Como seria o estado de natureza? E por que {as pessoas que viviam no estado de natureza decidiriam car 0 Estado? Para Thomas Hobbes, a vida no estado de natureza seria violenta, pobre e curta. Se voce vivesse no estado de natureza, segundo Hobbes, teria medo de ser ataca: do pelas outras cessoas. Afinal, se duas delas se juntas- sem para maté-lo e roubar tudo 0 que vocé possula, 0 ‘que poderia ser feito? A melhor coisa a fazer seria se ar mar para se defender. Assim, todos esteriam em ume guerra de todos contra todos. Em uma situa¢3o como essa, voce nde teria interesse em trabalhar muito, por que 2 qualquer momento alguém poderia roubar os frutos de seu trabalho. Sem poder trabalhar muito para se alimentar, € sempre preocupado em fazer guerra contra as outras pessoas, nao 6 provavel que vocé con- seguisse sobreviver por muito tempo. Folna de rosto (pagina que abre um lvro) da primeira edicao de Leviats, de 1651, principal obra de Thomas Hobbes, Note que ’ armadura do aigante (que representa o Estado) ¢formada por uma multisso de pequenas pessoas que sbdicaram de sua liberdade em troca da protecde pelo gigante que construram. UNIaDE3icaPiruLon Nessa situacdo, diz Hobbes, o medo levaria as pessoas 2 funder o Estado. Nesse momento, elas abririam mao de sus liberdade e concorderiam em obede- cer a0 Estado, Em contrapartida, o Estado deveria garantra paz ea le, para que 25 pessoas, sem meda de serem atacacas a qualquer moments, pudessern tra balhar e prosnerar Hobbes viveu curante ume sangrenta guerra civi na ingiater= 13:00 pals natal Por esse motivo sua maior preocupsrso com relac$0 a0 Estado fra a de que ele garantisse 2 pa Una Locke, por sua ver, acreditava que a vida no estado ce natureza seria bem melhor de que Hobbes pensava, Para Locke. as pessoas no estado ce natureza so- ‘iam livres ej teriam aiteto’dpropriedade do que produsissem, Para entencer or {ue esse ireto sertareconhecido, vamos supor um exemplo: quanco woos culda de uma plantagio, seu trabalho fice misturado & terra, Como & impossivel separar seu trabalho da terra (sem destruir a plantacSo), aque plantacdo 6 sua — no-con- texto do estado de natureza, aue fave caro. Mas, se o estado de natureze no & {0 sbornndvel como Hobbes imaginava, por que as pessoas fundaram 0 Estado? Bem, porque muitas vezes surgiram confltos sobre quer teria dreito a Que. ty E ninguém é bom juiz de si mesmo. Dessa forma, é preciso fundar o Estado para ~ que ele seja 0 juiz nesses casos. E aqui esta a diferenca entre Hobbes e Locke: 0 Estado, para Locke, nfo noderia julgar do jeita que quisesse. Quando as pes S028 fundaram 0 Fstado, elas 4 tnnam iret a lberdace © 8 propriecade Por 550,59 seriam obrigadas a obedecer 29 Fstado se ee protegesse os d= reltos shberdade © propriedade que elas ja possularn no estado de nat= ‘eva, Assim, se 0 Estadio ameacasse sua liverdade ou sua propriedade, voce teria o dirato de se rebelar contra ele, Locke viveu na epoca da Revolucso Gioriosa inglesa: como resultado dessa revolucso, 0 ri fol obrigado a aceitar leis que itavam seu poder e garantiam dlretos aos seus sUdltos, Para Rousseau, o estado de natureza era sinda melhor do que na concepeso de Locke. Se voct vivesse no estado de natureza de Rousseau, seri livre e feliz com © pouco que possuisse.Entretanto, o convfvio levaria voce a se importar Rett de Thomas ads vez mais com opinigo anes ea tentar ser melhor que seus semmehantes, tan (7432825), ‘os poucos, dexariamos de ser iquais,€ 0 go\pe final contra a iqualcade vine Waepensenemesacsko cam 3 invencso da propriedade, Apes a inveneae da propriedade, seria necessi- presidente dos Estados fio criar 0 Estado o 2s les para protege-la, Unien‘A Decree Yas perda da iberdade natural do homem podia 20 menos sercompensade Sawaraens pla conquista da liberdade do ciacgo Para Rousseau, a unica manera de pre” nortamarans term fervaraiberdade apds osurgimento do Estado sera se todos acetassem entre- ahi fun da as Gar seus direitos uns aos outros (@ nao a0 governante, como na concencao ae female Jom ets em Hobbes). Ao fazer iso, 0 ndviduo ndo teria interesse em exigir demais das ou. steurconaton do tras pessoas, porque tudo o que exigisse poderia ser exigido dele também. Nes- _liberdade ¢ propriedade. se cantexto, sea preciso merecersva iberdade, participando da vida pottica do pais e, principalmente, da elaborecdo de suas les, O Estado mereceria ser consi dleradolegtimno quando suas leis fossem criadas pela Vortace Geral. que da vor fade do conjunto dos cidadgos que visa ao bem comum. Se pensarmos somente fm nos mesmos 20 escrover as fis, o Estado funcionara ral. 20 poucos acs- baremos perdendo nossa liberdade, POLITICA, PODEREESTADO Vela na sega0 BIOGRAFIAS quorn so Norberto Bobbio (1309-2004), Nicola Matteucci (1926-2006), Gianfranco Pasquino (1942-), Mike Alvarez (1962°), José Antonio Cheibub (1960), Fernando Limongt (1958) © Adam Przeworski (1940-). Foto panordmica de 1998 da praca dos Trés Poderes, fm Brasilia, onde foram onstuldas a sedes dos frgi0s maximos de cada poder Em primeira plano, fa osquorda para a dirsita Sudielaria Supreme Tribunal Federal, onde onze miistos julgam sea let maxima ~ a. Constituieso Testa Sendo respeltada ® cumprida),Legisiativo (Congresso Nacional, onde fe reuinem sonadores © eputados) e Executive (Calico do Planalto, onde lrabalha o presidente. As ideias de Hobbes, Locke e Rousseau ajudam a entender melhor o que ex plicamos sobre politica e sobre o Estado, Hobbes formulou uma justificativa con- sistente para a existéncia do Estado, e suas ideias sempre voltam a tona quando a ordem piblica esté seriamente ameacada (por exernplo, quando ha uma guer- ra civil, ou um surto de violéncia). Locke foi o primeiro grande defensor moderna, da liberdade e dos direitos do cidade, tanto politicos quanto econdmicos. = Rousseau discutiu com especial competéncia as auestdes da democracia e da igualdade. |. REGIMES POLITICOS: A DEMOCRACIA Na discusséo sobre os contratualistas, mos que hé opiniges diferentes sobre coma 0 Estado deve sor organizado, quais 05 diratos © deveres dos cicadas © ue valores os cidaddos devem ter para que a politica funcione berm, Dependendo de sua posicso diante dessas questées, podemos dizer que voce defende certo tivo de ragime poitice. Segundo o Dicionario de politica organizado pelos italia- 10s Norberto Bobbio (1909-2004), Nicola Matteucci (1926-2006) « Gianfranco Pasquino (1942), um regime poitico ¢ o conjunto de instituieses, les e valores que regulam a luta pelo poder em determinada sociedsde, Boa parte das diferencas entre os regimes politicos democraticos se explica pela maneira como, em cada pais, se organizam trés poderes fundamentais:o Le sgislativo (que tem o poder de escrever e voter as leis) 0 Executiva (que controls © poder para aplicar as leis com base na for¢a — usando, por exemple, a policia) # 0 Judietério (ave garante que o Executive aplique seu poder somente dentro do que diza le) © regime politico que mais nos interessa neste livo 6 a democracia, que é o adotado no Brasil, Dizemos que o regime politico em um pals é democrético quando ele tem trés caracteristicas orincinais, procostas pelos centistas polticos Mike Alvarez (1962. José Antonio Cheibub (1960-), Fernando Limongi (1958-) © Adam Przeworski (1940-) 1. O chefe de governo do Poder Executivo é eleito pelo voto. Iss0 & verdade 130 56 quando os eleitores votam diretamente para presidente da Republica (como no Brasil), mas também quando votam nos parlamentares que, por sua vez, elegem o primeiro-ministro (como na inglaterra) 2.Os membros do Poder Legislativo s80 eleitos pelo povo. Os eleitores esco- them os deputados e senadores que vao elaborar as leis do pais 45. Hé mais de um partido, Io é, se 36 um oartido puder disputar eleicdes, elas obviamente néo si0 livres: e s6 hé uma opeso para escolher, nfo hd escolha Esse dltimo ponte importante. Quando dizemos que numa democracia hé cleicdes, estamos falando de eleicbes “imoas”, ou seja, que transcorram confor me as regras eleitorais. No Brasil do comeco do século XX, por exemplo, havia eleicdes, mas 0 voto nao era secteto, Portanto, os detentores do poder conse- guiam obrigar os eletores a votar em quem eles mandassem ou mesmo se vingar dlagueles que tivessem votado em outro candidato. Ainda hoje, em varios palses, hd fraudes na contagem dos votes: o partido do governo sempre ganha, néo im- porta quantos votos tenha tido. E claro que, nesses casos, nao ha democracia, Como bem disse o cientista politico polonés Adam Przeworski, para exist det cracia, é preciso que haja a possiblidade de 0 governo perder a eleiedo. UNDADE3IcaPiruLon craticos, hi Intre os regimes po: al diferenca é entre regi cialistas, Plehado nos muros da universidade Mackenzie, o emblems do Comando 4e Cara aos Comunistas (CCC), grupo paramltar que agiu no periodo da Gitadura mltar no Brasil entve 1964 @ 1985. Foto de 1968. Hava eleicbes na reunia 0s partidavios do governo e a que reunla os opesitores que tinham ha llegalidade e foram perseguldos pelo governo e por grupos como 0 CCC. ‘deputados alomaes no Em foto de 2015, Barack Obama, desde 2009, MOCE JA PENSOU NISTO? ace ht mE No Brasil, em 1993, houve um plebiscito para escolher nosso re- gime politico. Os cidadaos foram 5 unas para decidir se 0 regime politico seria presidencialista ou parlamentarista, monarquia ou re- publica, Venceram 0 presidencia lismo @ @ republica, que é 0 regi- me politico brasileiro até hoje. ‘Assim, no Brasil, por exemplo, de quatro em quatro anos vatamos para presidente da Republica, para deputado e para senador, ¢, Se quisermos, podemos votar em partidos diferentes para cada um dos cargos. Isso pode levar a impasses, porque: © presidente, muitas vezes, nao tem apoio da maicria no Poder Legislativo para aprovar as leis que defende. Falaremos mais da politica brasileira no capitulo ™4 Vale lembrar, a propésito, que nem todos os regimes politicos so democrati- cos. Nos regimes autoritérios, a populacdo nao tem o direite de escolher seus go: vernantes. Nesses regimes, quem controla o Poder Executivo (isto ¢, a forea) em geral faz as leis que bem entende e as aplica como quer. Além disso, as pessoas raramente tem liberdade para manifestar suas opinides sobre politica e no po- dem se defender se o Estado atacar seus direitos. No mundo atual, a China e 2 Arabia Saudiita 830 exemplos de regimes autoritarios. Em 9 de julho de 2011, surgiu um novo pais, a Repuiblica do Sudo do Sul, formado a partir da independéncia da regio sul do Sudao. Como varios outros paises, o Sudéo do Sul tem sua origem em uma guerra: a sangrenta guerra civil entre 0 governo do Sudgo ¢ os rebeldes do Fxército Popular da Libertagao do Suddo. Um dos motivos principals da guerra era o fato de que a maior parte das reservas de petréleo do Sudao estavam loca- lizadas no sul do pais. Algm disso, navia di- versos conflitos étnicos (também muito co- muns em novos Estados) entre os povos que compunham 0 Sudo. Em janeiro de 2008, as duas partes assinaram um tratado de paz em Naivasha, no Quénia, prevendo para 2011 um referendo (votagso para aprovar ou rejeitar uma proposts) ue decidiria se © Sudo do Sul se tornaria inde- pendente. 0 referende aconteceu em 7 de ja~ neiro de 2011, e os eleitores do Sudo do Sul ‘optaram pela independéncia. Desde entéo, uma das prioridades do governo do Sudo do Sul tem sido, como ¢ caracteris- tico de um novo Estado, o esforco de tentar desarmar a populagao, garantindo o monops- PARA SABER MAIS « Sudao do Sul: um novo Estado lio da violencia legitima para o Estado. A ONU financia um programa que busca garantir a reinser¢éo dos antigos combatentes da guer- ra contra © Sudo na vida civil, Nao sabemos se esses esforcos serdo bern-sucedicos, mas outros exemplos histéricos nos permitem su- por que nao seré facil a consolidagao do Esta- do do Sudo do Sul, Na Europa, por exemplo, 2 consolidagao dos Estados Nacionais foi mui to sangrenta: na Inglaterra, que hoje é um dos pa'ses mais estaveis do mundo, houve gran des conflitos politicos e religiosos. Na América do Sul, a violentissima Guerra do Paraguai foi muito importante na consolidacdo dos Esta~ dos da regido (inclusive o Brasil. E importante ter isso em mente para nao cair no erro, bastante comum, de achar que os atuais conflitos africanos so causados por algo de errado com as culturas dos poves da Africa. A consolidagao dos Estados Nacionais. sempre é dificl, e s6 nos resta esperar que os. diversos setores da sociedade sul-sudanesa, 05 paises vizinhos da nova nacao, @ os 6rgaos de governanca giabal (como a ONU) consi- gam que construcso de Sudo do Sul seja a menos violenta possivel 5. PARTIDOS POLiTICOS Em uma democracia, deve haver liberdade para que todos apre- sentem propostas 2 serem discutides com os demais cidadaos. Mas como cade cidadao, sozinno, pode ter influéncia sobre todos os ou- tros? Digamos que vocé tenha uma boa ideia sobre uma nova lei, ou sobre como 0 pais deve ser governado. O que vocé faz? Como agir para que todos os outros brasileiros oucam sua opinigo e tenham condig6es de avaliar se vocé tem razao? Uma solugao € juntar-se @ outros cidadaos que pensam mais ou menos como vocé para ampliar sua influéncia, Essa ¢ 2 idela por trés dos partidos politicos. Os partidos politicos sdo associagSes que tém © objetivo de disoutar © poder politico. Quando voce resolve se fliar 2 um partido politico, sabe aue as idoias do partido nao vao ser exa~ tamente iguais as suas (final, 05 outros membros do partido tam bém tém o direito de dar suas opinides, que nem sempre coincidirso. com a sua). Mas, se fizer uma boa escolna, voce vai optar pelo parti- do com ideias mais préximas das suas. Boa parte da politica consiste isso: juntar-se a outras pessoas para defender ideias e interesses semelhantes ‘Como surgiram os partidas modernos? Sempre que hé Estado, hé grupos que lutam entre si para controld-lo. Mesmo onde o rei manda em tudo, existem gru- pos diferentes tentando convencé-lo a fazer coisas diferentes, Porém, esses aru: 0s no s8o semelhantes aos partidos modernos, que se formaram quando o di- reito a0 voto foi se tornando mais abrangente, passando a incluir a classe média € depois os mais pobres, os negros, as mulheres, ete. A partir desse momento, todos 0s grupos que queriam ganhar influéncia sobre o Estado precisaram correr atras do apoio dos eleitores. Além disso, os operdrios formaram seus prdprios partidos assim que pude- ram. Por que os mais pobres se esforca- ram tanto para formar partidos? Poraue, como vimos, os ricos tém outras formas de se fazer ouvir na politica. Poder, por exemplo, comprar espago nos jornais para divulgar suas ideias. Os que no desejam concorrer a cargos no governo podem fi- nanciar as campanhas dos candidatos — que, em contrapartida, precisarao ouvir 0 que seus financiadores querem. Ja os po- bres n3o podiam (nem podem) fazer nada disso. Portanto, quando se formaram, os partidos socialistas visavam juntar a con- tribuigdo financeira de milhoes de pessoas para terem chance de competir com os mais ricos pelo poder politico. eas BE PENSOU Tia UNIaDE3icaPiruLon ‘capa da revista norte-americana Time edi de 25 ce mato de 1992, como milonsrio Ross Perot, que concorreu 2 Presidéncia dos Estados Unidos norte ‘ano. Perot disputou esse ‘leigso como candidate Independente — ou sea, em ser filiado 3 um partido, o que é permitido not Estados Unidos ~ © pageu boa parte de sua ampanna com dinheio ‘do prdprio Balso. Para ‘quem nao pode pagar suas proprias eampanes, Testa a aternativa de Ingressar em um partido (ou formar um nove). Ccartaz de eampanha do Partido Trabalhista Inglés, do 1923, O texto dz: "Use a cabeca! Apoiealguém do Seu proprio time, vote nos trabahistae" POLITICA, PODEREESTADO NV Vela na secao BIOGRAFIAS quem ¢ Maurice Duverger (19175. © surgimento dos partidos socialists forcou a formacéo de outros grandes partidos, mesmo porque hoje as campanhas politicas custam caro até oara milo narios, Como notou o cientista politico francés Maurice Duverger (19172, ern mui tos paises modernos a disouta basicamente se dé entre dois grandes partidos: 1, um partido de esauerde, que defende a cobranga de impostos dos mais ricos para oferecer beneficios a0 mais pobres. S80 08 partidos socialistas e seme thantes; 2 um partido de direita, que defende que 0 Estado nao intertira muito na eco- rnomia, para que ela cresca mais, Sa0 0s partidos liberais ou conservadores. Nos Estados Unidos, ha um partido um pouco mais & esquerda (0 Partido De-~ mocrata) © outro um pouco mais dire (© Partido Republican). Na Inglaterra, ssa distin¢S0 ¢ mais evicente, com um partido claramente de esauerda (© Par- tido Trabathista) e um partido claramente de direita (o Partido Conservador), Mesmo onde ni mais de dois partidos importantes (no Brasil, como veremos, ha bom mais que dois), @ comum que os varios partidos se organzem em dass blo- cos: um mais & esquerda, outro mais a direta Nas disputas entre os oartidos modernos, os dois partidos principais tenclem a compotir polo centro. Para conquistar a maioria e vencer a eleicso, os partidos precisam dlsputar a simpatia (0 voto) do centro: pessoas ave no s80 nem muito dle esaquerda, nem muito de direita, Para isso, tero que se tornar menos radicais {A esauorda, por exemplo, vai ter que aceitar cobrar menos impostos do aue gos- taria, A direta, por sua vez, va ter que concordar em oferecer alguns servicos so- cais & populacao mais oobre Esse elemento de moderacso proporcicnada pela disputa por votos ¢, sem davida, importante para a manutencio da democracia moderna. Mas também traz sérios problemas, Hé o risco de os partidos oararem de defender qualauer idols que soja e se tornarem iguais. Nesse caso, a5 pessoas realmente interossa- dias em defender alguma ideia poderiam desanimar e perder o interesse na de- mocracia, Esse é um dos grandes cesafios da democracia moderna, como vere- mos no titimo capitulo deste lvr. VOCE APRENDEU QUE: v Poder 6a capacidade de impor sua vontade sobse as outras pessoas, mesmo contra a vontade delas Apoltica éa uta por particpar do poder ou influenciar sua reparlicdo, seja no Estado, sea entre os Bstades, seja nos grupos de pessoas que compoem o Estado, Existem varias motives, além da forca, que levam, as pessoas @ obedecer Se por algum motivo as pessoas acham certo obedecer, dizemos que ha dominagao legitima. Entre os tipos de dominagao legitima, Weber destacou a dominagao tradicional, a racionablegal e a carismatica ¥ OFstado busca obter 0 monopélio da violencia legitima em determinade territono. v ACiéncia Politica fol fundada por Maquiavel, que efencia estudar a politica nao apenas como ela everta ser, mas também come ela &, 05 contratualistas foram pensadores que discutiram 0 que o Estado podia ou nao fazer. Para Hobbes, o Estado podia fazer tudo, desde que garanlisse @ seguranca da populagao, Para Locke, s6 podia fazer 0 necessario para proteger 0s direitos nalurais a liberdade © & propriedade. , para Rousseau, o Hstadio no podia fazer nada se suas lels nfo seguissem a vontace geral dos proprios cidaciaos. Regimes polices sdo o conjunte das insuugbes, lets valotes que regulam a disputa pelo poder v Democracia é um regime em que os membros do Poder Legislativo sao eleitos pelo voto de todos os, cidadaos, em eleigbes livres disputadas por mais de um partido. Nos regimes presidencialistas. os cidadaos geralmente votam no chete de governa do Poder Executivo; nos patlamentaristas, 0 ocupante desse cargo de modo geral é escolhido pelos deputados cleitos pela populace, Patlidos politicos sao grupos organizados com o objetivo de conquistar o poder UNIaDE3icaPiruLon ATIVIDAD. REVENDO 1. © que o detentor de poder precisa fazer para manter sua domina¢éo? 2. Para Weber, qual o conceito de Estado? 3. Como se deu a passagem do estado de natureza para o Estado em Hobbes @ Locke? 4. Qual a principal diferenca entre parlamentarismo e presidencialismo? 5, Por que dizemos que, em um sistema com dols partidos (ou dois blocos de partidos), a competicao entre eles fara com que se tornem menos radicais? INTERAGINDO 1. Considere a seguinte letra de cangéo: A minha alma (A paz que eu ndo quero) A minha alma té armada e apontada Para cara do sossego! Pols paz sem voz, paz sem voz Nao 6 paz, é medo! As vezes eu falo com a vida, As vezes é ela quem diz: ‘Qual a paz que eu ndo quere conservar, Pra tentar ser feliz?” As grades do condominio ‘Séo pra trazer protecio Mas também trazem a divide Se é vocé que té nessa priss0 Me abrace e me dé um beijo, Faca um filho comigo! Mas no me deixe sentar na poltrona No aia de domingo, domingo! Procurando novas drogas de alugue! Neste video coagido, E pela paz que eu no quero seguir admitindo E pela paz que eu ndo quero seguir E pela paz que eu ndo quero seguir E pela paz que eu no quero seguir admitindo DO RAPPA, Lado 8 Lado A, 1999. Warner Musi * Altra escrita por Marcelo Yuka diz que “paz sem voz no é paz, é medo”. Com base no que estudamos neste capitulo, os versos dessa can¢ao est: mais de acordo com as ideias de Hobbes ou com as de Rousseau? 2. Escolha um colega para jogar 0 “Jogo do ditador”, um experimento utiliza- do em varias disciplinas, como Economia e Ciéncia Politica. Veja as regras abaixo: TP - Um de vocas deve ser 0 ditador; 0 outro, © povo. 2"~ Imagine que o ditador tem R$ 10, que precisam ser divididos entre ele e © povo. Ele néo pode ficar com os R$ 10 para si; tem que dar pelo menos RS 1 para o povo. POLITICA, PODEREESTADO © ditador deve fazer uma proposta de divisso para o povo. Ele pode propor qualquer divisdo que queira (ele 6, afinal, um ditador): RS 9 para ele e R$ 1 para o povo, R$ 8 para ele e R$ 2 para o povo, R$ 7 para ele e R$ 3 para o povo, etc. © povo sé pode fazer duas coisas: a) aceitar a proposta do ditador; nesse caso, o povo recebe a quantia ‘que o ditador ofereceu. Ou: b) recusar a proposta. Neste caso, 0 povo eo ditador ficam sem nada. Jogue 0 jogo com seu colega duas vezes ¢ informe ao professor o resultado. CONTRAPONTO Considere a charge a seguir: CORRUPCAO: A CARA DA BESTA © Esta charge, do cartunista Angeli, publicada no jornal Fotha de S.Paulo em 23 de maio de 2007, mostra um gigante feito de outras pessoas pequeninas, como o Estado representado na folha de rosto do livro Leviats, de Hobbes, reproduzida neste capitulo. Porém, o gigante nao é majestoso como o de Hobbes: é um politico corrupto formado por outros corruptos, carregando duas malas de dinheiro obtido ilegalmente. Na sua opiniso, o que Angeli pensa sobre o Estado brasileiro? E quem seriam as pessoas que formam o gigante? Seriam, como no caso de Hobbes, todos os cidadaos? UNIaDE3icaPiruLon SUGESTOES DELEITURA Henrique V, de William Shakespeare. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2007, Shakespeare viveu em uma époce em que a obra eas anslses de Maquiavel feram muito discutidas, Nesta peca, um principe procura levar seus sol dads 8 vitoria contra a Franca, mas, por diversas vezes, comete atos de moralidade quastionavel Homenagem & Catalunha, die George Orwell Lisboa: Antigone, 2007 i Relato da experiéncia do autor como soldado voluntério na Guerra Civil Espanhola de 1936-1839, com referancias a fetos como a queda da demo Cacia espanhola e 2 ascenséo do fascisrno e do nazismo.O livro ratrata um dllema insolivel: a tenséo entre o idealismo dos voluntarios e os jogos de poder com vistas 2 organizar governos e ganhar guerras, ‘Tudo pelo poder (Estados Unidos, 20M). Diregso: George Clooney. ‘A histria de um jovem idealista envolvido na campanha de um politice aue festé tentando ser escolhido come candidato de seu partide 4 presidéncia dos Estados Unidos. Ao longo do filme, 0 protagonista enfrenta situacSes dificis, dando com pessoas que passam os cologes para 114s, pessoas que disputam 0 poder pelo poder © nao para defender os interesses da sociedade, entre outras, INTERNET ¢4cesso em: fev. 2013) httpy/congressoemfoco.uolcombr Congresso em face: site jornalistica especializado na cobertura da atividade do Congress Nacional brasileiro e na politica orasieira em geval GLOBALIZAGAOE POLITICA rafite artista britsnico Banksy em muro da cide le Belém, na Cisjordénia. Foto de 2008. Neste capitulo vamos disentir: © capitulo anterior vimos que boa parte do que 1. 0 coneeito de entendemos por politica se refere ao Estado — globalizacao seja a luta pela conquista do Estado, seja a luta 2.A governanca pela influéncia sobre ele. Vimos também que o global Estado moderno nao existiu desde sempre: 0 monopdlio da 3.Aglobalizacéoe —_violéncia legitima foi conquistado aos poucos. Aliés, nem o Estado sempre existiu, em todos os territérios, algo ou alguém que 4.Movimentos tivesse exclusividade no uso legitimo da violéncia socials globais Mas sera que esse monopélio é inabalavel e eterno? Nes- 5.0 Brasilea te capitulo vamos estudar um fenémeno que, segundo al- slobalizacao guns autores, pode tornar o Estado menos importante e transforma-lo de maneira significativa: a globalizacao.

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