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DIREITO ROMANO CLASSICO: SEUS INSTITUTOS JURIDICOS E SEU LEGADO FRANCISCO QUINTANILHA VERAS NETO! SUMARIO: 1. Introdugao. 2. A importancia do direito romano ¢ a sua presenga nos ordenamentos juridicos modemos. 3. As fases histéricas da civilizagao romana € de suas instituigées juridico-politicas. 4. Leis e institutos juridicos romanos: o direito de propriedade e das obriga- des. 5. A queda do Império Romano e a emergéncia do mundo feudal. 6, A retomada pelos estudos romanisticos no direito do ocidente europeu. 7. A recepgdo do direito romano. 8. Conclusio. 9. Referéncias bibliogréficas. 1. INTRODUCAO A idéia de modo de produgao j4 foi desenvolvida por Karl Marx, opondo a idéia de mundo antigo ao de sociedade antiga, criando uma periodizagio das fases do desenvolvimento histérico, iniciando portanto uma forma inusitada e impactante de interpretagdo materialista das transformacées histéricas, a partir do modelo de sucessao dos modos de produgo asiatico, escravagista, feudal e capitalista: Na produgao social de sua vida, os homens estabelecem determina- das relagdes de produgao que correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento das suas forcas produtivas materiais (...). Num certo estagio de seu desenvolvimento, as forgas materiais da socie- dade entram em conflito com as relagdes de produgo existentes, ou, 0 que nao é sendio a sua expressao juridica, com as relagdes de propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali (...). Abre-se, entio, uma época de revolugao social (...). Em linhas gerais, podemos designar os modos de produgao asiatico, feudal e burgués T Professor do Curso de Direito da Universidade Federal de Rio Grande-RS. Mestre em Direito pela UFSC. Doutor ent Direito e Relages Sociais pela UFPR. Autor ova abordagem s6ciojuridica. Curitiba: Jurua, 2002. do livro: Cooperativismo: 1 6c a: Ju ternacional, politica externa e relagées internacio- Co-autor da obra: Politica im nais, Curitiba: Jurud, 2003. Scanned with CamScanner 84 FRANCISCO QUINTANILHA VERAS NETO. moderno como outras tantas épocas do progresso da form, econémica da sociedade.” Essa interpretagdo dos modos de produgdo no tempo traz 4 idéia de que o Império Romano e suas varias etapas hist6ricas egigt*® fixados cronologicamente no modo de producao escravagista, em guy motor do desenvolvimento econémico estava nas grandes propriedr®® apropriadas pela aristocracia patricia,’ que, controlando os Imeiog produgo, as terras e as ferramentas necessétias ao trabalho agrigy¢® dominavam as classes pobres e livres dos plebeus, clientes ¢ ae escravos, estes tltimos clasificados como res (coisa), eram uma egya0° de propriedade instrumental animada. A sociedade desigual rom, gerou uma série de instituigdes politicas ¢ juridicas sui generis, como um ambiente de conturbagao e de conflitos de classe, decorrentes das desigualdades sociais, principalmente entre as classes dos Patticios ea dos plebeus, esta situacdo se manifestou, por exemplo, na rebeliig plebéia que gerou a elaboracdo da famosa Lei das XII Tabuas atribuindo mais poder aos plebeus, reforcando a visao de Marx de que: 8 Até hoje a histéria de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a histdria das lutas de classes Nas primeiras épocas historicas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divistio da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condigdes sociais. Na Roma antiga encontramos patricio, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradages especiais.$ Na monumental obra reconstituidora da histéria da vida privada ocidental, desde os romanos, George Duby fornece uma interessante andlise do universo cultural romano, principalmente nas suas relagdes familiares, caracterizadas por valores que tornam a civilizagao romana tao exética, para a moderna civilizagdo mundial, como foram as civi- lizagdes amerindias subjugadas e exterminadas pelos primeiros invasores ? BOTTOMORE, Tom et al. Diciondrio do pensamento marxista. Rio de Janeiro Zahar, p. 346, 3 Classe dos grandes proprietdrios de terra no Império Romano. * A Lei das XII Tébuas teria sido o reflexo da ameaca plebéia de abandonar ® cidade de Roma, fundando uma nova cidade no Monte Sagrado, préximo a Rom caso as suas exigéncias no fossem atendidas pela classe dos patricios. Com? concesséo para que as ameagas nfo se consumassem, os patricios aceitaram ‘um conjunto de leis escritas fosse elaborados a fim de garantir maior isono™ Ggualdade) entre patricios e plebeus. Muitos historiados acreditam até que #41 028 XII Tébuas fora inspirada na legislago criada na Magna Grécia pot S6l0™. MARX, Karl. Manifesto comunista. Leén Trotsky. 90 anos do manifesto comum® ‘a. S80 Paulo: Cadenos Desafio, 1991, p. 18, i Scanned with CamScanner i coativa e pel: i cultural constituido por uma reli, oe oraoaie ee ice daquela civilizagao da Antigilidade Classica. " A evidéncia do reconhecimen i exacerbado do pater familias constituem-se em evidéncias to da pratica da eugenia e do poder Tomano (patrio poder), por exemplo, ‘ historiogréficas, que demarcam as dife- tengas culturais daquela sociedade patriarcal da Antigiiidade, mais proxima talvez do nosso periodo colonial escravagista brasileiro, jé imerso nas relagdes pré-capitalistas de produgao tipicas do capitalismo mercantilista colonial (pacto metropolitano). O nascimento de um romano nfo é apenas um fato biolégico. Os recém-nascidos s6 vém ao mundo, ou melhor, s6 sao recebidos na sociedade em virtude de uma decisao do chefe de familia; a contracepeao, 0 aborto, o enjeitamento das criangas de nascimento livre e 0 infanticidio do filho de uma escrava sao, portanto, praticas usuais e perfeitamente legais. S6 serao malvistas, e, depois, ilegais, ao se difundir a nova moral que, para resumir, chamamos de estéica. Em Roma um cidadio nao ‘tem’ um filho: ele 0 ‘toma’, ‘levanta’ (tollere); 0 pai exerce a prerrogativa, tio logo nasce a crianga, de levanté-la do cho, onde a parteira a depositou, para tomé-la nos bragos e assim manifestar que a reconhece e se recusa a enjeité-la. ‘A mulher acaba de dar luz (sentada, numa poltrona especial, Tonge de qualquer olhar masculino) ou morreu durante o trabalho de parto, e o bebe foi extraido de seu itero incisado: isso nao basta 7 para decidir a vinda de um rebento a0 mundo. Vp ae iteista e antromorfizada, como para os gregos (deuses © Primeiro, a pain ee polite be representando a guerra, 0 amor, a traigdo, etc. com formas ¢ defeito® ‘partir do dominato, ocorre a expansio da religito crsta, No final do Tmpéro” 2, religido oficial do Império Romano, atingindo o auge na au #8 soem nt Mia como Césaro Papismo (fase em que o imperador se torna ua fase com cristao do Império). também o chefe religios? a Oi). fotbria da vida privada. Sio Paulo: 7 ARIES, Philippe; DUBY, Cia. das Letras, 1997, v- 1, P- 23: Scanned with CamScanner 86 FRANCISCO QUINTANILHA ERAS NETO criancas condicionava-se a diferentes motivos, paar Le Oa do feto até questdes relacionadas a ae social, sendo a crianga enjeitada tanto por miséria como per pia’ familiares de sucessdo entre 0s ricos, visando a permitir educagag ie aprimorada para uma pequena prole, dotando-a, Portanto, de methores eondigdes para competir naquela sociedade: i .¢ 0 pai nao levantar sera exposta diante da casa ou out oll 4 ‘quem quiser que a recolha. Igualmente sera nied, Tro pai, estando ausente, o tiver ordenado a mulher gravida; os prego, eos romanos sabiam de uma particularidade dos egipcios, dos germangg € dos judeus, que consistia em criar todas as suas ctiancas © nfo ep. jeitar nenhuma. Na Grécia era mais freqtiente enjeitar meninas qu, ‘meninos; no ano 1 a.C., um heleno escreveu a esposa: ‘Se (bato na madeiral) tiveres um filho, deixa-o viver; se tiveres uma filha, enjeitz.’ ‘Mas nao € certo que os romanos tivessem amesma parcialidade, Eni. tavam ou afogavam as criancas malformadas (nisso nao havia rava,¢ sim razio, diz Seneca: ‘¥. preciso separar o que é bom do que nao pode servir para nada’), ou ainda os filhos de sua filha que ‘cometeu una falta’. Entretanto, o abandono de filhos legitimos tinha como causa principal a miséria de uns e a politica matrimonial de outros. Os pobres abandonavam as criangas que nao podiam alimentar; outros ‘pobres’ (no sentido antigo do termo, que hoje traduziriamos por ‘classe média’) enjeitavam os filhos ‘para nfo vé-los corrompidos por uma educagio mediocre que os torne inaptos a dignidade e & qualidade’, escreve Plutarco; a classe média, os simples notaveis, preferia, por ambigao familiar, concentrar esforgos ¢ recursos num pequeno nimero de rebentos. Contudo, mesmo 0s mais ricos podiam rejeitar um filho indesejado cujo nasci- mento pudesse perturbar disposigdes testamentarias ja estabelecidas. Dizia uma regra de direito: ‘O nascimento de um filho (ou filha) Tompe 0 testamento’ ja selado anteriormente, a menos que 0 pai s° conforme com deserdar de antemio o rebento que poderia vir a ter talvez se preferisse nunca mais ouvir falar nele ou deserdé-lo* O universo cultural e a significagdo moral advindas desse mundo escravagista atribuiam ao direito civil romano a forma de direito mat ¢ instrumental, baseado em ardis e fraudes, que por sua vez acabavalt beneficiando os mais fortes em face da existéncia de uma socieda extremamente desigual, em que o direito formal permitia usvalmeni® apenas aos mais fortes beneficiat-se do sistema juridico existente dev! a0 seu poder material alicergado nos planos econémico e militar: Em época normal, os costumes romanos sao traduzidos com DS tante exatidao pelo direito civil, cujo cordao umbilical com #™°" “ARIES, Ph rn 'S, Philippe; . aul Gia. das Len ePe; DUBY, Georges. Dir). Histéria da vida privada. S80? 1997, v. 1, p. 24. Scanned with CamScanner e ai . fissionais entregeresy cit menos dedutiva, permitia a seus pro- realmente permitia ber i ios de virtuosismo. Tal direito Pee justia? Fazi i + quando os individuos ae vant’ Fazia respeitar as regras do jogo sociedade tao desigual, desi; am para oprimir o préximo? Numa cli rae aru paints dizer que os direitos mais formais no poderosos. E wine ii ne coac® finha a ganhar processando os Vind Teal ai * mesmo quando nao era violada, a justica abria Sais eficazes para obter 0 cumprimento do direito? Bastard um exemplo, no qual veremos que o poder pibli i privada e no faz nada para impedir? Dewees ___Nao existiam a autoridade e a coergdo piblicas indispensdveis & implementacao de decisdes judiciais; e as violagées mais cruéis possuiam. apenas um carater civil; nio existia, portanto, coagio ptiblica capaz de impor a sano penal, visando a protegdo contra a violéncia que atingisse os bens juridicos relevantes; as citagdes eram feitas pelas proprias partes, que dependiam muitas vezes de poder militar para obter éxito nesta inicia- tiva; no existia, pois, um poder publico coativo ¢ exterior, capaz de impor a sangao juridica de forma organizada e centralizada: Suponhamos que um devedor nao quer pagar o dinheiro que tomou emprestado; ou ainda que temos como tnica fortuna um pequeno sitio, ao qual nos apegamos porque nossos ancestrais ali viveram ou porque a regifio é agradvel. Um poderoso vizinho cobi¢a nosso bem; frente de seus escravos armados, invade a propriedade, mata nossos escravos que tentavam nos defender, nos méi de pancadas, nos expulsa e se apodera do sitio como se Ihe pertencesse. O que fazer? Um mo- demo diria: apresentar queixa ao juiz (litis denuntiatio), obter justia e recuperar nosso bem através da autoridade publica (manu militari). ae coisas serdo mais ou menos assim no final da Antiguidade, provincia terfo finalmente feito triunfar em todas as coisas seu ideal de coergao piiblica. Mas na Italia dos dois ou trés primeiros séculos de nossa era, a situagdo serd diferente. A agressao de nosso poderoso vizinho constitui um delito puramente civil e nao implica coergao penal; cabe-nos, pois, garantir © compa- recimento do adversario perante a justiga; para on Leena reiie! cece individuo no meio de seus homens, arrasté 10 € eee isiio privada até o dia do julgamento. Se no pudermos leva- Pearse’ ‘do juiz, nao haverd processo (litis contestatio). Mas aca e, eee 4 intervengfio de um homem poderoso que Sim, quando os governantes de > ARIES, Philippe; DUBY, Georges. Op. elt» P- 166. Scanned with CamScanner FRANCISCO QUINTANILHA ERAS NETO. 88 accitou como cliente, obtivemos justia: a sentensa diz gy. nos .. nada mais nos resta do que executar dito eta oso fF que tehiamos os meios.Tratnse eh ee = Jutar para reaver a terra de nossos ancestrais? Nig, ind time bizarrice inexplicével, um juiz no pode condenar um aeysaq.” Gmplesmente restituir a coisa roubada. Abandonando nosso sig ae le nos autorizaré a tomar posse de todos os py répria sorte, ele e ges e cominios de nosso adversario, que venderemos em leilfio; guarq.’ Femos uma soma de dinheiro igual ao valor que 0 juiz atribuiy sitio (aestimatio) e entregamos 0 restante a nosso adversério,!@ ificag’io soci: sta por homens livres e escra A estratificagao social romana compos! scravos 6 importante para entender posteriormente, por exemplo, 0 tipo de casamento estabelecido por aquela populacdo romana ¢ as suas diferencag em relagdo as formas existentes hoj Na Itélia romana, um século antes ou depois de nossa era, cinco oy seis milhdes de homens e mulheres sao livres e cidadaos; vivem em, centenas de territérios rurais (civitas) que tém como centro uma cidade (urbs) com seus monumentos ¢ casas ou domus. Contam-se ainda um ou dois milhdes de escravos, que sio ou domésticos ou trabalhadores agricolas. Sobre seus costumes, sabemos apenas que a instituigao privada do casamento lhes era proibida e como tal per- maneceré até o século III. Consta que essa gente vivia em estado de promiscuidade sexual, com a excecdo de um punhado de escravos de confianga que administravam a casa do senhor ou que, servindo a0 proprio imperador, eram os funciondrios da época. Esses privile- giados tomavam por longo tempo uma concubina exclusiva ou a tecebiam das maos do senhor."! casamento romano nfio i Possuia uma configuragdio que permitisse a intervencao de um poder p ease neo de v riblico e estava essencialmente disciplina- do Be direito paved que néo era escrito, pelo contrario, era informal € oral, ocorrendo apenas a presenca precéri 2 a ‘itis Bene ae PI ga precdria de testemunhas ¢ a Prova verbal dos m s da celebragao através de suas meni ubentes restabelecedore (a nenhum gesto simbélicen, gaat COntrato de dote) e até informsl: s Pe lithe an? 8° diga, era obrigatério. Bato, “ARIES, Pi Blo por uma heranga, podia decidit ARIES, Philippe; DUBY, ; Cia. das Letras, 1997, yj cone ir.). Histéria da vida privada. Sio Pav” 1 S, OTBES. Op. cit, n, 4: } Philippe; DUBY, Georg: hs B. 45, Scanned with CamScanner DIREITO ROMANO CLASSICO: SEUS INSTITUTOS TURIDICOSE SEU LEGADO 89 um homem e gesto ou cotiuo fone: cram legitimamente casados? Na falta de para estabelecer um fy {° L. da Nobrega. Compé; 7 de Jan Freitas Bastos, 1976, p. Be ‘ompéndio de direito.romano. Rio Scanned with CamScanner (0 ROMANO CLAssico; prem ‘CO: SEUS INSTITUTOS JURIDICOS ESEULEGADO 95 peed on rebiaas foi claborada por uma comissio de trés sae propiciando a eaves 4° Pesquisar, na Magna Grécia, as leis de Sélon, propiciando a criago de um cédigo escrito de leis romanas. As disposig6es normativas estavam distribuidas nas seguintes tSbuas: Tébua I Repas ee | 20 chamamento a juizo; a ninguém era licito fugir do aa judicial. Nao havia oficial de justica para o desem- penho de tais fungSes: 0 autor da demanda fazia a propria citagio. Tabua IT Suspensao da causa por motivo de moléstia: estabelecia o prazo para comparecimento a juizo. Tabua 1 Execugao no caso de confissao por divida: apés condenado, o devedor tinha 30 dias para pagar. Se nio pagasse, era preso ¢ levado a presenga do magistrado; se a divida persistisse (0 devedor) seria preso por correias ou com ferro de 15 libras aos pés; se continuasse nao pagando, podia ser morto, esquartejado de acordo com o ntimero de escravos ou alienado como escravo.** Isto se explica porque nesse periodo a Realeza vivia situagio precéria, sé depois 0 erério romano se enriqueceu com os saques (pilhagens de outros povos): Sérvio Tulio, o sexto rei, institui a estatistica: tudo era cadastrado e os censores vasculhavam cada canto do reino A procura de riqueza para pagar impostos ¢ ampliar as receitas. Taébua IV oder paterno e de outras matérias de direito de ae vis fire parioy o filho monstruoso podia ser morto imediatamente; defendiam a eugenia; o pal tinha sobre o filho direito de vida e morte, ou seja, ‘tinha direito de flagelar, apri- sionar, obrigar a trabalhos rusticos, vender e matar; com o tempo isto se foi amenizando e mais tarde esses casos dariam margem a destituicao do patrio poder (neste aspecto, gregos e romanos diferiam de outros povos da Antigiiidade). —__ juris gnados para esta missio era de 3 ou 2 Existem dividas se o ntimero de juristas designados p! ct Gras id. Direit hoje: sintese da historia e da Fs jorindo David. Direito romano hoje: s fil of Sits romanisi Frederico Westphalen-RS: URI, 1996, p. 33. oe ALTAVILA, Jayme. Origem dos direitos dos povos. Séo Paulo: fcone, 1989, p. 93. Scanned with CamScanner N 96 FRANCISCO QUINTANILHA VERAS Neyo, Taébua V Da tutela hereditaria: as mulheres nao Podiam ger, civis, permanecendo em tutela perpétua, Naga os Degse: usueapifio de coisas que estivessem sob a tines, © Pod i era absolutamente incapaz no inicio do periodc rept Tébua VI feat), Da propriedade e da posse (dominio et poss uma admirdvel base do direito civil, Raa Const possuia exploraciio de minérios; os romanos eults vinha e trigo; proibiam a compra de propriedaae = estrangeiros, para nfo prejudicar os nacionanss fundiaria desempenhava papel essencial para os no plano econémico, como no plano da religizo, ancestrais ali enterrados). Taébua VIL Do direito relativo aos edificios ¢ as terras: a ciéncia econdmi dos romanos era a de um i fc an : cra, Povo guerreiro e agricola. O reing « depois a Repiiblica, possuiam terras puiblicas, por isto trades ram 0 livro de agronomia do cartaginés Magon; as estradas nig podiam ser depredadas, pois eram 0 local de deslocamento des legides; aquele que defecasse nas estradas reais podia ser seve. ramente punido. O inciso IX permitia cortar o galho das drvores, se a sombra invadisse o quintal da propriedade vizinha; pelo inciso X, 0 proprietério tinha direito a colher os frutos das arvores vizinhas que chegassem ao seu quintal. Esse preceitos aparecem em nosso cédigo civil: uso nocivo das propriedades, das arvores limitrofes, da passagem forgada.3> Segundo a célebre obra de Fustel de Coulanges, A cidade antiga, propriedade nfo deve ser interpretada sob as mesmas luzes da proprie- dade existente no campo e nas cidades da sociedade capitalista, pois &™ diferente em significagdo, em uso e em finalidade. Nag Oliva cispe @ propri Fomanos, tans, » Pelo culto 0s. ipios dift- . mas sue nossas- Os antigos basearam o direito de propriedade em prince tentes dos das geracdes presentes; e daqui resulta serel leis, pelas quais o garantiram, sensivelmente diversas das « oneiros BF De acordo com o mesmo autor, os romanos foram ae 08 fixac&o da propriedade privada, j4 que povos como 0s 35 ai fone, 198%2, 100. ALTAVILA, Jayme. Origem dos direitos de Sao Paulo: feone, 195° Fini . Origem dos direitos dos povos. Resto € * COULANGES, Fustel. A cidade antiga: estudo sobre 0 culto, 0 a Ses da Grécia e de Roma. Lisboa: Livraria Classica, 1954, p. 82-83- Scanned with CamScanner pIREITO ROMANO CLASSICO: SEUs INSTITUTOS JURIDICOS ESEULEGADO 97 germanos admitiam esta forma de A Propriedade, mi te em rela- cao aos rebanhos ¢ as colheitas,37 ” , Mas somente Ao contrario, as populag: remota antigiiidade, privada. Nenhuma re: a terra estivesse em c anual dos campos Ses da Grécia e as da Itdlia, desde a mais sempre conheceram e praticaram a propriedade Cordacao histérica existe de época alguma em que ‘mum; € nada se encontra se assemelhe partilha tal como esta se praticou entre os germanos A propriedade configura-se perpétua e impassivel de contestagao por outros devido ao seu cardter sagrado, Bieta jedade perpétua das familias: grado, como objeto de proprie Como em tudo isto se manifesta o caracter da propriedade! Os mortos so deuses pertencendo propriamente & familia, sé a familia tendo 0 direito de os invocar. Esses mortos tomaram posse do solo, vivem sob esse pequeno outeiro, e ninguém, a nao ser da familia, pode pensar em introduzir-se no seu grémio. Ninguém igualmente tem o direito de desapossé-los da terra que ocupam; um timulo, entre os antigos, nfio pode ser destrufdo, nem deslocado; proibem-se as mais severas leis. Aqui est4, pois, parcela de terra em nome da religidio tornada objecto de propriedade perpétua em cada familia. A familia apropriou-se desta terra, colocando nela os seus mortos, ficando-se 14 para sempre (...).” Mas, mesmo sendo considerado 0 mais forte poder de uma pessoa sobre um objeto, o direito de propriedade nunca teve cardter ilimitado e absoluto, mesmo em Roma: {A limitago da Propriedade no direito romano, entretanto, se fez sentir nao s6 nas limitagdes decorrentes dos direitos de vizinhanga e das servidées surgidas no corpo normativo, mas, principalmente pela re- ducdo gradativa dos poderes dos senhores sobre os escravos, objetos que eram no Direito de Propriedade. Desta maneira, acabou o direito tomano a limitar os poderes dos proprietérios, na medida em que proibia a plena disposigao, utilizagio ¢ goz0 por parte do proprietirio do escravo que possuia.” O direito de propriedade ja era previsto nos cédigos mais antigos. O estudo mais abrangente, porém, feito pelos juristas, toma quase sempre como ponto de partida 0 direito romano. Maria Helena Diniz faz uma sintese do direito de propriedade na antiga Roma: 37 COULANGES, Fustel. Op. cit., p. 83. 38 COULANGES, Fustel. Op. cit., p. 83-84. » 1. Op. cit., p. 90. a Coes eae TAtaaION ‘A propriedade urbana na nova ordem constitu- cional. In: A propriedade e os direitos reais na Constituigao de 1988. So Paulo: Saraiva, 1991, p. 18. Scanned with CamScanner pRANcISCO QUINTANILHA VERAS NETO 98 tido individualista da p, onderava um sen! M la Pron. Naera sone pier pavido duas formas de Propriedade co} eine dade, epee ‘fy cada individuo uma restrita poreo de tera da gens, pos: eee veis. Com o de alienaveis os bens me 1 8 hectare) © sopredade coletiva da cidade, sobreveio ada fant mento i i sendo aniquilada ante o crescente fort,” ue, paulatinament io pater fanilias.A Propriedadecoleiyet, eimnento da a8 rivada, passando pelas seguintes etapas, i dando lugar pardes assim resume: 1) Propriedade individual so seth 4 existéncia de cada um; 2) Propriedad, jetos necessarios 6 a Sst npre os bens de uso particular, suscetiveis de serem tty, . iedade dos meios de trabah outras pessoas; 3) Proprie etabalhog cates roto; 4) Propriedade individual nos moldes capitalise, e v0 pode exploré-la de modo absoluto.*! apater, seja, seu dono © povo romano foi o primeiro a conceber a autonomia da cincia juridica, tendo nisso 13 séculos de experiencia que nos legou o que hoje x ‘denomina Direito Romano. Portanto, nao se pode desprezar tal fonte para estudo e critica de qualquer instituto juridico atual, por ele influenciado, Obviamente, os romanos nao deixaram de conceber em termos juri- dicos uma das instituiges mais duradouras e controversas da civilizagio humana, o direito de propriedade, que define em grande parte a divisio da sociedade em classes, determinando 0 poder econémico e politico para quem detém o poder juridico de dispor sobre a propriedade. A Lei das XII Tébuas j4 protegia a propriedade, punindo aqueles que contra ela atentassem, furtando-a, danificando-a, etc. Todavia, mesmo sendo considerado mais forte poder de uma pessoa sobre um objeto, o direito de propriedade nunca teve carter ilimitadoe absoluto em Roma: A limitacao da Propriedade no direito romano, entretanto, s¢ fez sentir no s6 nas limitagées decorrentes dos direitos de vizinhanga ¢ das servidées surgidas no corpo normativo, mas, principalmenté pela reducio gradativa dos poderes dos senhores vos, objetos que eram no Di acabou o direito romano a medida em que proibia q Parte do proprietario do ores sobre os escra- ireito de Propriedade. Desta maneit™: limitar os poderes dos proprietarios, ™ Plena disposigdo, utilizagdo e g020 P” escravo que possuia.® [Grifos nossos] “| DINIZ, aly, So Curso de direito civi, 8, ed, Sao Paulo: Saraive, 19% FRANCISCO, Caramuru Afonso. A - i it ional. In: propriedi om Proptiedade urbana na nova ordem const Saraiva, 199f, pg © 8 Wreitos reais na Consttuigao de 1988. SH0 Pat! Scanned with CamScanner ROMANO CLASSICO: seus ESEULE REIT a INSTITUTOs suRIDICOs 0 GADO 99 De acordo com Thy romano, a propriedade quinine + ma sua obra introdutéria ao direito romana, ja formalmente = onceitual ae forma de Propriedade ex iure Quiritium,® exigi ta, o denominado dominium eet la, 5 " alguns requisitos legais: Para sua configuragao, o atendimento de Pressupée, naturalmente, , due seu titular seja cidada Pressuposto & que a coiga ent ttulet Seia cidadio romano, Outro De acordo com o mesmo autor, o ius civile era tigido e complicado demais para o rapido desenvolvimento dos negécios, pois 0 comércio, exigia menos formalidade, como a transmissio da propriedade pela simples tradigo (res mancipi).45 No periodo classico, 0 direito de propriedade se intensificou e as terras conquistadas foram reconhecidas como propriedade pretoriana, assim como ja 0 era a quiritaria (origindria da propria constituigo da cidade pelas gens patricias). No tltimo periodo da Repiblica, surgiu um instituto semelhante ao da propriedade: a relagao in bonis habere, tutelada pelo pretor, que a assegurava mediante a concessio de uma série de agdes e excegdes, fundadas no edito pretoriano (criando os interditos possessérios). Também denominada propriedade pretoriana ou bonitiria, a relago in bonis habere era exercida sobre a propriedade quiritéria, Havia, assim, dois tipos de proprietario: o quiritario e 0 bonitdrio. ch proprietario quiritario exercia ° nudum ius, enquanto 0 bonitério exercia praticamente todos os direitos, exceto o da alienagio per vindicationem. a A propriedade bonitdria, por sua vez, poderia transformar-se em iritari: capido. oe ees vroptiedade provincial, do jus gentium (direito é 3 i o-romanos). O pretor foi responsdvel pela internacional, aplicado aos na aT de: sehen, due Varied ie criagfio de um novo sistema processu: 7 Prescrigdes formalistas da mancipatio e da in iure cessio. Staley ete Sf ireit ».. Si lo: Sarai @ MARKY, Thomas. Curso elementar de direto romano. Sto Paulo: Saraiva, 1995, p. 69. “ MARKY, Thomas. Op. cit. ‘5 MARKY, Thomas. Op. cit. Scanned with CamScanner \NILHA VERAS NETO FRANCISCO QUINT: 100 era o ritual em que o alicnanty a Pavam perante o Pretor rdany"ent: Roms? comprador se apreseni! s. O modo de aquisi¢ao quiritaria era ADlica governador, vos moveis. SO 0S cidadaos romanos poq tanto a0s a eee ssem presentes eet Condigoes (, usucapir, es “nes, possess jo, tempus): coisa habil a0 usucapigg, | habilis, tuls, Jase, 0 decurso de tempo, apreensao Fisica (corm, ttal, a bos 2 ie de ter a coisa como sua (animus)."6 ea intenga » sores Severo © Caracala estabeleceram OS seguintes prarog Os imperat .da pelo usucapido — ad usucapionem: 19 ‘pi yrolonga' u LE ae, quem nao é dono (non domino), que tivesse justo titulo; e 20 anos, s¢ as partes sesidiavom em. cidades diversas. No caso do ven \dedor, este continuaria proprietario enquanto nig ocorresse 0 usucapido, caso em que 0 pretor concedia, fornecendo a excecao da coisa vendida através da tradigao (fraditio), criando 4 exceptio rei venditae et traditae, 0 comprador que havia Pago o prego, Isto combatia o formalismo de ritos formais, que prejudicavam os. compradores que agiam de boa-fé, em detrimento da mé-fé, dos vende- dores inescrupulosos. Os pretores concediam uma a¢ao que definia o inicio do curso do usucapiao (usucapitio); a actio publiciana era um remédio processual a ser utilizado por analogia, com a aquisigao pelo ndo-proprietario. Essa propriedade construida pelas ages pretorianas também era enquadrada como bonitaria.® A propriedade quiritéria exigia a concorréncia de trés requisitos: fundo romano, proprietario romano a aquisicdo de acordo com 0 direito civil. Os terrenos provinciais do império nao podiam ser adquiridos como propriedade particular, mas se deu aos particulares uma concessio semelhante, quase idéntica a propriedade: A Propriedade Particular foi excluida de tais terrenos. Entretanto, 0 Estado podia conceder, e realmente conceden, 0 gozo deles a parti culares, concessao semelhante, mas nao idéntica, a propriedade. Os textos indicam-na com as expressées habere possidere frui Gaius * chama possessio vel usufructus. regras referentes a0 dominio ‘Na pratica aplicam-se-lhe todas a5 em geral. URI, 1996, p. 139. so elementar de direito romano. So Paulo: Sati MARKY, Thomas. Op. cit, p. 69-70, ® MARKY, Thomas. Op. cit. p. 71. Scanned with CamScanner aplicando as regras do ius ciyi} p ‘S civile, mas do ius gentium. Somente o Imperador Maxim: sisting fiscal entre fundos ideas erence? Hs aeabou com Como visto, até a equi ee iparagiio sa ocorrida no século I a.C., so \cd0 dos fundos itdlicos ao ager romanus, rs : omente os cidadaos rom: deri: itulares de proj Bs anos poderiam ser ear e eae ae acti No entanto, a realidade fundiéria fundos provinciais e os peregrinos, nM © 4°8 fundos itélicos, os As terras provinciais eram piiblicas, mas ocupadas ¢ utilizadas por Poe dos funds eng, POS, Que no ea devido pelos propit- Esse imposto, vectigal, era designado conforme a localizagao da provin- cia: se situada nas terras senatoriais, stipendium; se campeon vee Por longo tempo, foi essa a diferenga substancial entre os fundos provinciais e os itdlicos: estes nao pagavam imposto, enquanto aqueles deveriam fazé-lo a titulo de reconhecimento de dominio. A propriedade peregrina, por sua vez, era regulada pelo direito es- trangeiro local, amparada pelo pretor, pelo peregrino ou pelo governador. E nfo podia ser objeto do ius civile, mas somente do ius gentium. Existia também a propriedade peregrina concedida aos estrangeiros, a qual chamavam de dominium, em contraposicao a propriedade origi- ndtia quiritéria (dominium ex iure Quiritium). Essa nova forma de propriedade admitia o uso de meios processuais de defesa que imitavam a defesa da propriedade quiritaria.° ; A propriedade peregrina desapareceu com a Constituigao de Caracala, que concedeu cidadania romana a todos os habitantes do Império, no século III. Posteriormente, ocore aunificagao dos diferentes tipos de propriedade, no periodo Justianeu. 4 4s antigas regras juridicas, Justiniano deu ini- aoe nates transfrmacées, culminando no desaparecimento da diferenga entre a res mancipi e ares nec mancipi, fundindo os siste- mas do ius civile e pretoriano, desaparecendo, assim, a distingao en- tre propriedade quiritira e pretoriana, cuja relaco in bonis habere & qualificada como dominum. MARKY, Thomas. Opts P- 71 5! MARKY, Thomas. Op. cits P. 7” ei or i ‘Afonso. A propriedac al na : ; sioetictenal Ca eropriedade os direitos reais na Constituicao de 1988. Sio Paulo: Saraiva, 1991, p. 140-142. eragrerwsu Scanned with CamScanner ‘NETO FRANCISCO QUINTANILHA VERAS 102 ‘ surgitam também concej te ae subjetivistas sobre a ti co-propriedade (condomint fisica) e intengao de possuir e disporg, como poder de fato (apreens do os elementos animus e corpus) 53 uma coisa corpérea (coninE onceito de pessoa juridica (natura Existia também 9 quest i va aproptiaglo, permitinds acy Suidies) ave aoals ae vanjaito de direito, que permitin a deog. icgfio ju ere eae ‘i 7 Sica uric do esprit individualista europeu forjado a pat g, Bros seiaabs nio possuiam um termo preciso para exprimir a nog, de personalidade juridica. A palavra latina persona, que eae quer dizer méscara, éutilizada nos textos com significa¢do de homem em geral, tanto que se aplica aos escravos, que nao eram sujeitos de direito, HA duas categorias de pessoas: as fisicas, ou naturais, e as juridicas, seres abstratos, que a ordem juridica considera sujeitos de direito. Hoje bastao nascimento com vida. Na época dos romanos exigiam-se trés requisitos: a) o nascimento; b) vida extra-uterina, c) forma humana. Para ter a capacidade juridica plena, o sujeito devia ser cidadio romano (status civitatis); em segundo lugar, devia ser livre (status libertatis) e gozar de situagdo independente no seio da familia (sui iuris).55 No campo do direito das obrigagdes, os romanos substituiram as tesponsabilidades pessoal ¢ corporal dos devedores pela responsabili- dade patrimonial (indenizacio pecuniéria e nfo a constricfio da vida ou do patriménio). Modemamente, 0 sujeito ativo denomina-se de credor e o sujeito Passivo de devedor. Para os romanos, os termos eram creditor e debitor. Inicialmente o vinculo entre o credor e o devedor era material, pois © devedor respondia com o préprio corpo, Depois este vinculo passoua ser juridico (isto é, imaterial), com a Lex Poetelia Papiria (326 a.C.):* Além disso, algumas nogdes juridic i : isso, hogse ‘as modernas surgiram da Teinterpretagao das fontes histéricas do direito romano: os conceitos juridicos de direito objetivo (norma Agendi) © subjetivo (ius est facultas agendi), conceitos extremamente imy i itog ‘Ao lado do conceito ‘ "3 FRANCISCO, Catarina “ , Afonso. Op. cit ALVES, José Carlos Moreira. Diretto vt P- 72-74. : 4, tree oe. ano. Rio de Janeiro: Forense, 199% OP. cit. V1.» 95 Scanned with CamScanner pIREITO ROMANO CLASSICO: sEus INSTITUTO: 'S JURIDICOS E SEULEGADO 103 tempo estudavam as obras classi (dominato) obra verdadeiramente ts in encartega Triboniano de, no prazo mi rn Antes j4 compilara 50 Constituigdes j rhe terminou o trabalho em trés andedt a Surgem nesse mot is a Diese 5, Tostiniads Glebe ee as Pandas. Apés a claboraco ¢ Teéfilo, para publicar uma obra que eerie ae oo, Doroten introdugio 0 direito compreendido nas Instituas. As Insttuas, 0 Digesto ¢ 0 Cédigo foram exigidos por Justiniano, No entanto, depois de sua elaboragao, Justiniano introduziu algumas modificagées na legislago mediante Constituigdes imperiais: as Institutas (manual eicolinyve Pomeler ampere ed cree mete punto das conapilagGex diego’ de Covpus tarts Cre nese? conjunto npil dé-se o nome de Corpus Iuris Civilis, desig- nagao criada por juristas ocidentais, j4 na Idade Modema. As interpolagdes eram formulas de atualizagio do direito romano feitas pelos juristas do Império Justianeu. Os compiladores faziam subs- tituigdes, supressdes ou acréscimos nos fragments dos jurisconsultos. Essas interpolagdes também podem ser chamadas de tribonianismo. O estudo das interpolagées foi iniciado na Renascenga, através da acdo dos glosadores e p6s-glosadores. Os métodos para localizar interpolacdes so 0s seguintes, de acordo com José Carlos Moreira Alves: Textual — 0 mesmo texto classico chegou até nds, com redagdes diferentes, no Corpus luris Civilis e em fonte pré-justiniéia; 0 histérico — anacronismo em textos de direito classico; o légico — ilogismo entre as diferentes partes de um texto; 0 filolégico — 0 vocabulério, a gramatica eo estilo dos juristas classicos e dos bizantinos. - ‘A influéncia do cristinianismo no direito romano se dé no periodo do dominato; com 0 Imperador Constantino, ela toma-se a religiao oficial do Império; para os crist@os, 0 perfodo do dominato, pela vitéria do cristinianismo, teria sido 0 periodo dureo. ‘Abandonadas as convicedes religiosas, a partir da Renascenca os autores ne dedicaram prinefpalmente ao romano cléssico. Troplong quis demonstrar que 00 periodo cristo 0 direito romano foi superior, ou seja, no periodo pos-classico, sua influéncia ae sin ene na escravidio, no casamento, no divorcio, porkin. wanes idsiag, suas ye estavam ne direito romano antes do advento do crstanismio. A minince oi de Alecafis estoica, pag, € no da filosofia criss, além disto, nada de pratice foi feito no dominato para acabar com 2 eSeravicso- io hd no Baixo Império Em fins de 530, Justiniano de 10 anos, compilar o iura. s. A comissio de 16 membros “AVES Te oa 57 ALVES, José Carlos Moreira. Op. cit. v- Uh P- 46. Scanned with CamScanner NETO NILHA VERAS a FRANCISCO QUINTA] 1 influéncia da religiéo eristiiapareoetcom mais a influ i e nfo no patrim i fore nial, devido 4 base econémigs Na verdade, a in no direito de familia, escravagista.*® 5, A QUEDA DO IMPERIO ROMANO E A EMERGENCY, DO MUNDO FEUDAL ério Romano, assim, vir, Existem varias teses sobre a este ee a sua queda: ean fatores podem ter a Hs pequenos agricultores, devidy da economia eerie das coldnias conquistadas, como parte 4. so.fano ee m oman ‘0 crescimento do exército de desocupados aaa de naar gastos vultuosos do Estado para entreteniments urbanos, que exigiam gastos ‘doimnetins " gratuito, que consumiam mais de 1/3 dos recursos do império; para evitar rebelides, foram criadas leis como a Lex Frumentéria, que fomentava a distribuigdo gratuita de trigo para os pobres; grandes espetdculos publi- cos eram organizados no Coliseu, com a presenga de feras e gladiadores; a distribuigéo de pao e circo para as massas caracterizou este periodo; ocorreu também o colapso da pesada administragdo romana; as minas de prata da Espanha foram perdidas. O Estado tornou-se insolvente e falsdrio. A moeda tinha apenas 3% de prata, o restante era constituido de cobre e bronze, razio pela qual foi sendo paulatinamente abandonada pela populagao, o exército nio cultivava mais a disciplina dos velhos tempos, era composto essencial- mente por 9/10 de mercendrios estrangeiros, sendo freqiientemente dizimado, para conter 0 povo, que explodia em rebelides interas _ conduzidas pelos pobres de Roma (guerra civil interna). Em uma delas mae ea ees das legides foram mortos. Os camponeses dos Os ioderan $ polegares para ndo serem convocados como solda- ;_ © ssederati e os coloni, barbaros, passaram a ocupar as fronteiras do império, ¢ os habitantes das urbs (cidades) foram paulatinamente migrando para o campo em busca de se; ana des Proprietarios, que tinham exércitos paneaune Bee ee 0 ‘mod o i ara se de! 9 lo de produc escravagista foi sendo Paulatinamente substituido Por uma economia de subsisténcia aor ie ay it pues monetaria, mas escambo, troca de sinabie a © estatica (nfo havia to a 2jeto por outro, sem um equive- Vl de wa Acoma) sano bao see ie anes i agista sucumbiu ao trabalho servil € Ps ovidental se fragmenta em unidades te produgio descentrali- & ALVES, José , José Carlos Moreira, Direito romano, 9 MURSTEIN, Berard, Amor, sexo e casam, Rio de Janeiro: Forense, 1999, P:52 Arte Nova, t.1, p. 106, re 'ento através dos tempos. Portus! Scanned with CamScanner Para fundaimentar esse transcrigGes, que falam Tespectivams ocrescimento do cristianismo, o ret e seguran¢a: Mesmo no. Seu auge, nos trés primeiros ‘séculos depois de Cristo, lavraram Odean mercial e militar romano as contradiges que frnalmente ¢scravo solapava o trabalho livre, langando © Pequenos agricultores, que passavam a représsao brutal a seus figis. Nas fronteiras do Império, grupos expul- sos da Europa Central pelos Hunos em marcha agravaram os proble- mas administrativos de uma burocracia cada vez mais sobrecarregada e dispendiosa. As comunicagies, a capacidade de defender os ricos ea seguranga do comércio comecaram a diminuir no século III d.C. e, com elas, desapareceu a prosperidade do Império.*! A “queda” do Império em 476 d.C. constituiu apenas o iiltimo Passo no processo de desintegrago. A essa altura, os imperadores Tomanos haviam abracado 0 catolicismo. Constantino fora o primeiro a converter-se em 313 d.C. Sobreviveram as cidades episcopais e arcebispais. Grandes regides ocupadas por latifundiarios e colonos, no entanto, tornaram-se auténomas, professando apenas uma lealdade nominal ao distante imperador oriental, que governava de Constan- tinopla; ao final, hordas barbaras ocupam-se do antigo Império Romano do Ocidente: A necessidade de sobrevivéncia e defesa militar ¢ a auséncia de governo e de legides romanas tornaram possivel e necesséria a ins- tituigdo de um sistema senhorial, no qual eoconae as origens do que mais tarde veio a ser chamado de feudalismo (..). Em locais nao submetidos a0 governo romano, tais como a Eseécia, a Irlanda, a Escandindvia e a Alemanha, registros ainda existentes ia uni smo as republicas de mer- “ Grandes personagens da hist6ria universal Do, flan a epblins de mer oe ona faael Po cal oe © direito e a ascensao do capitalismo TIGAR E, Michael; LEVY, Madeleine R.0 0 poder. Rio de Janeiro: Zahar, , p. 36. Scanned with CamScanner NCISCO QUINTANILHA VERAS NETO FRA! 106 desenvolviam, ada is também se desenv : indicam que formas fete fe defesa a organizacdo social logary* i Jiment ecessidades deal = ‘i ; n lisa a questao militar es sua influéncia beng mt Fey Roehnlibs im determinada pa © exército rom; : Lays et ‘uma imbativel méquina 4 ie Ree Passava a ge! Ee 5 ies forga desprezivel pelos hunos 8 a . encat derosos haviam decaido! Cem anos antes, 0 exércto my, _ Como 0s Pochis eficiente forga combatente na face da terra, yj, pee oe Atle ‘era tio desprezivel que podia se seer em com, época 1 De fato, é claro, tropas romanas contri sam para avin, ate ea cobretudo ao apoderar-se de terreno elevado a0 defl em Chilons, sp'Shos eitados acima constifuem um Comentirio fase, saat abor ano no século V. Apesar do impay nante sobre a sina do exército romé to da barbarizaco, as tropas romanas continuaram a lutar de acordy com a tradicional tatica romana; entretanto, essa tatica, anteriormen, fe tao superior, pareceu absurda aos barbaros do século V° Surge a duplicidade do dominio, com a bipartig&o do dominio titile do eminente, através da difusao do arrendamento de terras, gerando o germe do feudalismo: ‘No caso dos grandes latifiindios situados na drea mais préxima a Roma, uma das solugées do problema trabalhista consistiu em arrendar par- te das grandes propriedades a cidadaos ou escravos, cobrando-se alt- guel em espécie sob a forma da obrigagao de cultivar a parte da terra reservada ao uso e lucro pessoal do latifundiario. Nas fronteiras do Império, com a finalidade de manter ao largo os invasores, cidadios romanos receberam terras e o status de coloni, sob a supervisio de um senhorio investido de prerrogativas legais. Os colonos pagavamo aluguel em espécie e trabalho e eram obrigados a participar da defesa das fronteiras. Em todos os casos possiveis, os invasores eram comt- prados pelo convite de entrarem em federagaio com o Império. Os Sederati tecebiam terras para cultivar, prestavam o juramento de de- fender o Império e adaptavam sua organizagio social ao sistema pr eae muuniiirs.© coloni, embora tivessem permissao pat" Proprias leis em contendas dentro do grupo. Emerge definitivamente deste eau Processo de decadéncia uma 00V estrutura econémica, juridica, politica e cultural, o feudalismo: ‘Bangin a, TIGAR E, Mi . ‘ PRR Michael; LEVY, Madaleine R. Op, cit, p. 37, i ‘ © FERRIL, Arther, 4 queda do império ro; explicagao milita Zl / 4 mano: a “ FERRIL, Arther. Op. cit., p. 37. Scanned with CamScanner MANO CLASSICO: : a 4 'SICO: SEUS INSTITUTOS JURIDICOS E SEU LEGADO 107 Na parte da Europa outro: o feudalismo represento deia, de uma classe gove; te e moribundo imperi vonistegPeral, Em outras regides, constitui a ta parauma vida spreehe asttil, ndmade e voltada para a guer- para : (embora ainda bastante guer- ra governada 6. A RETOMADA PELOS ESTUDOS RO! ii DIREITO DO OCIDENTE EUROPEU PeRNCnEe oe A continuidade dos estudos sobre o direito romano justificava-se pela sua apropriacao pelos ordenamentos juridicos europeus, a partir das monarquias absolutistas e do movimento de codificagao francés sedimentado por Napolefio Bonaparte, seguindo tendéncias jé expres- sas na Europa, com o ressurgimento do comércio em decorréncia do renascimento comercial europeu, criando a necessidade da construgéo de um direito privado moderno a partir de um sistema mais abstrato, formal e adaptado as exigéncias do direito civil e comercial surgidos. O francés René David fixa o papel essencial da comunidade juridica feudal, instaurada nas universidades medievais eclesiasticas, que permitiu a formulagao de um novo padrdo de cultura juridica, que se universalizou e permitiu a construgao das bases téoricas fundamentais para a edificagao da familia romano-germénica: meio principal pelo qual as novas idéias se espalharam, favore- cendo o renascimento do direito, foi constituido pelos novos focos de cultura criados no Ocidente Europeu; uma fungio essencial pertence a universidade de Bolonha. Convém, por conseqiiéncia, r como as universidades conceberam a sua 1m primeiro lugat a Pera fay oe rr ne elaboraram no decorrer dos séculos, negligenciando sansa cas dos Estados, um direito erudito comum a toda a Europa. ireitos aplicados pelos tribunais, i daremos os direitos ap! i i Em seguida, esti ge Estado para Estado e de regio para regido; ¢ direitos que varittng medida variéve, eles sofreram a influéncia veremos como, iver 6 do direito erudito ensinado nas universidades.’ “STIGARE; i ir nso do capitalismo i eine R.O direito e a ascens - ® TIGAR E, Michael; Ley ee blotect Ge Ciencis Sociis, 1993,p.38. 6 pioder. Rio de Terigrandes sistemas do direlto ‘contempordneo. Sio Paulo: , René. Os Martins Fontes, 1998, p- 32+ Scanned with CamScanner cIscO QUINTANILHA VERAS NETO 108 eS 0 jusfilésofo Norberto Bobbio demonstra também o Process, r J zactio do direito europeu: a ee ctipsou na Europa Ocidental durante ag O Direito Romano s= 15 costumes locais e pelo novo diregg de Média, substitulde Pe nanicas (ou bérbaras). Mas dep prio das populaget em tal periodo ~ obumbramento com obumbram me toda a cultura, ressurgiu NO Primeiro milénio gq resto, aquele de orto Juridica de Bolonha e dfundiu-se nao apan® aparecimento tre os quais jase havia estendido o Império Roman nos tert se outros territrios jamais dominados por ie Tame eas eis a Com pe fenémeno da ‘recepgdo’, gragas a0 gual o direito romano penetrou pr, Frngumente na soeiedade alema (basta pensar que ainda no fim 4, velo XIX —-antes grandes codificagdes ocorridas no inicio do ség SX aplicava-se nos tribunais germAnicos o direito do Corpus juris. Jaturalmente modernizado e adaptado as diferentes exigéncias soci navob o nome de ‘usus modernus Pandecta- rum; o direito roman difundiu-se, por outro lado, também nos Paises Baixos, nos escandir e, ainda que em medida mais limitada, na propria Inglaterra.” » Pri. is dg O homem do periodo renascentista europeu procurava o enriqueci- mento em uma sociedade reurbanizada e voltada para a conquista extema de riqueza e de culturas para o credo crist&o e para a edificagio de impérios comerciais sem precedentes através da pilhagem, o que foi conseguido nos séculos posteriores por Portugal e pela Espanha, pioneiros na expansio maritima, através da pilhagem das varias nagGes estrangei- ras milenares invadidas e conquistadas no extremo oriente, e, em uma etapa posterior, com o proprio dominio e exterminio dos povos do novo mundo e da Africa, submetidos ao agressivo processo de invasio ¢ dominagao do imperialismo europeu, incluindo os séculos XIX e XX. Pelo menos para os paises que sofreram a sua influéncia, o direito romano € considerado um dos maiores fenémenos culturais de todos 08 tempos. Os juristas romanos eram homens praticos, menos afeitos @ questies filos6ficas que os gregos, 5 4 7. ARECEPCAO DO DIREITO ROMANO historiador do direito Anténio M: alguns dor ¢ fanuel Hespanha define Pressupostos histéricos, para a aceitacdio do direito pe apartir do fos do século XII e inicio do século XIN, na Europa. Hespanha cita os fat “9 BOBBIO, Norberto O positivismo juridic ireito. 5®° Paulo: foone, 1995, p30. JiTidico: ligdes de filosofia do dire? “ GRASSI, Fiorindo David. Direito ro mano hoje ‘etéria e d2 £1050 do direito romanista, Frederico Wea nw”? Hale: sintese da histéria stphalen-RS: URI, 1996, p. 53- Scanned with CamScanner ,OMANO CLASSICO: g| ISTT one an OS JURIDICOS E sey 1 EGADO 109 spcipais, We caracterizaram py pineal tect Pleno renascj rans romana no contexto europeu modemo, dentre cimento da Jurisprudéncia ‘ 08 quais se de: unidade € ordenagao das qi ‘stacam: 2 mano, direito ¢; Renice, Siversas fontes do direit ro! a "andnico e di; itos locais), © diteito (dieito b)unidade do objeto das cigngin. ss. mano-justiniangiay; "8 Juridicas (a jurisprudéncia ro- i S cientifi d)unidade quanto ao ensino jc, ident ns els iiss aide a » idéntico em toda a Europa difusio de i i oa ‘ina literatura specializada, comum, 0 latim.® escrita em lingua A recepgao do direito romano ela ini a Bo 5 dente deu-se unicamente pela fisperidade ae oS sesica do Oci- formais genéricas que, com a inevitvel especializagio ae toes técnica, ajudavam os burgueses na condugdo das ities capita ea contrrio, 0s mesmos burgueses nd estavam em absolute ene na apropriacdo das determinagdes materiais do direito aiuto as ase tuigdes de direito mercantil medieval e do direito de propriedade de suns cidades satisfaziam muito melhor suas necessidades. A apropriagao de tais qualidades formais do direito romano foi essencial para 0 estabelecimento da justiga principesca patrimonial no Ocidente, que nao se caracterizou como administragao de justia patriar- cal de tipo material, quer dizer, dirigida para a consecugio de determi- nados postulados materiais, como o bem comum, Franz Wieacker oferece importante argumentagio no sentido de que o direito romano nio teve ajustamento mec4nico e universal, em face das novas condigdes econémicas criadas pela sociedade mercantil, demonstrando que varios institutos juridicos do direito modero adivi- nham das préprias prdticas costumeiras desenvolvidas ao final do periodo medieval e periodo do renascimento comercial italiano, o que apenas demonstra os limites da recepgao do direito romano, mais apropriado nos seus aspectos formais do que substanciais: avaliar a qualidade de uma ordem juridica apenas a partir de suas normas ¢ instituigdes sem a valorizagao da sua fungéo social, o que se pode dizer é que as fortes tendéncias absolutistas e cudonisticas da legislagdo justiniangia néo poderiam 2 5 Aveis aos primérdios do desenvolvimento ter sido especialmente favoraveis aos primol aa e jsitiva virada para a liberdade, para a mobili- de uma sociedade aquisitiva viracs Patt w européia, dade e para o lucro, como a da época moderna europrl. Tanto quanto se pode oa 'A, Antonio Manuel. Histéria das instituigdes juridicas: Epocas medie- Vale modema. Coimbra: Almedina, 1982, p. 442-449. Scanned with CamScanner 110 FRANCISCO QUINTANILHA VERAS NETO Mesmo 0 direito comum dos conciliadores, Construfdo p, direito justinianeu, era, na verdade, mais Progressive, mat ¢ mais racional, mas no, propriamente, propieis © econon, ing contrario, e em especial, a débil publicidade dc direitg pyr Ply ¢ © caracter ndo-aparente da hipoteca geral Prejudicarany o**tig organizacio e criagio do crédito imobiliério, bem como a inuila fate elaboragio de um pattiménio em mao comune efiogga tera do contrato romano de sociedade na formarye das moga® sociedades de pessoas. Para o surgir das modenas socieds cs capitais e dos direitos dos titilos de crédito, as fomey romanas. Pouco mais que nada, e para o comércio por chegee constitu apenas alguns apoios menores. Também o dteto marines dire mineiro tiveram de ser constituidos quase completamente a pari? base do direito comum europeu e do direito alemiio,7 : lades dg Devido a influéncia da formacao filoséfica dos antigos jurista, g elemento puramente formal adquiriu muita importancia no Pensamenty Juridico, Sendo que nao ligavam ao pensamento nenhum nexo, com im direito sagrado nem interesses teleolégicos ou &tico-materiais, que 0 levassem ao terreno de uma casuistica Puramente especulativa, com Staves conseqiiéncias para a estruturagao da pratica juridica, Com a recepgao do direito romano, houve uma importante alteragio na estrutura do pensamento juridico ocide atendimento dos requisitos formais essenciais. Desta forma, as produgdes juridicas ocasionais coneretas = Juristas romanos (direito casuistico), retiradas da interpretagio d Jurisconsultos (responsa prudentium), aplicadas de forme indutv® contextual da pritica dos antigos romanos e transformadas em postulao® Juridicos que sero aplicados dedutivamente, caracterizando a Pe gem dos indutivismo empirista para 0 dedutivismo. Nas ree prudetium (pareceres dos jurisconsultos Tomanos), os SC 0 se caracterizavam pela chamada “interpretagaio duta” do direito, jicboa: Calovs!? 7 WIEACKER, Franz. Histéria do direito privado moderno. Lisboa: C! Gulbenkian, 1979, a Scanned with CamScanner piREITO ROMANO CLASSICO: SEUS INSTITUTOS JURIDICOS E SEU LEGADO 1 itindo interpretaco mais que li 7 da escola da exegese, Pois O8 concise eros, Asemelhanga mados em maximas do direito, ificados e transfor- Dessa descontextualizacio da pritica romanos resulta a “alienago da vida™ cuja conseqiiéncia para os interessa revestir-se quando de sua discrepAnci: existentes.”! i aisle sem os prinefpios do Direito Romano, e, o que é mais i incessantes atividades dos intelectuais politicos cujo pereon mie ok formara nas universidades medievais, pelo estudo deste direito, jamais teria ocortido aquilo que 0 sociélogo Max Weber, memoncirena chamou racionalizagao da moderna sociedade e cultura européias,”™ " E também nao se pode negar a sua influéncia no delineamento de importantes institutos privados, como a Ppropriedade no seu sentido material, que foi um dos atributos maximos da codificagao napoleénica. Assim, de acordo com Perry Anderson, o direito romano garantia um conceito de propriedade absoluta, sem restrigdes, oponivel em relacdo aterceiros e independente de outros fatores extrinsecos: Nenhum sistema juridico anterior tivera jamais a nogo de uma pro- priedade privada sem restrigGes: a propriedade na Grécia, na Pérsia, no Egito, fora sempre ‘relativa’, ou, por outras palavras, era condi- cionada por direitos superiores ou colaterais de outras partes eau. toridades, ou por obrigagSes em relacdo a elas. Foi a jurisprudéncia romana que pela primeira vez emancipou a propriedade privada de todo o requisito ou restricfo extrinsecos, ao desenvolver a novel distingdo entre mera posse, consolo factual dos bens, ¢ propriedade, direito legal pleno a eles. O direito romano de propriedade, do qual um sector extremamente substancial era dedicado a propriedade de escravos, representava a primeira destilagdo 4 propriedade de es- cravos, representada a primeira destila¢do conceptual da produgao e troca comercializada de mercadorias num sistema politico alargado, que o imperialismo republicano tornara Peart i oe a or Zagio grega fora a primeira a desprender o pélo absoluto da “liber dade’ do continuum politico de condigées € direitos relativos que sempre prevalecera, assim a civilizagao romana foi a primeira a separar a cor pura da ‘propriedade’ do espectro seonhaes ae posse opaca e indeterminada que, de um modo geral, a precedera. A Propriedade quiritéria, consumagcao legal da economia escravagista “T WEBER, Max. Keonomia y sociedad, 2. ed. México: Fondo de Cultura ny Econémica, 1977, p. 634-635- SUB Lae) NISBET, Robert. Os filésofos sociais. Brasil Scanned with CamScanner 112 FRANCISCO QUINTANILHA VERAS NETO constituiu uma vultosa inovagio, 4 iva de Roma, extensiva a idade que Ihe haviam dado Origen m, sobreviver a0 mundo e Para esse autor, a propria funcionalidade de tal direito estay, belecida na sua superioridade para a pratica comercial nag May (urbis romanas), embora se considere que 0 império romano ade idades cialmente agrario & escravocrata: Seep, ‘A superioridade do direito romano para a pritica mercan cidades residia, pois, nfo somente nas suas nogdes claras ge °® priedade absoluta, mas também nas suas tradiges e eqiidage™ yous critérios racionais de prova e no relevo dado a uma mag tura profissional, vantagens que os tribunais consuetudinétigs 9° malmente ofereciam.”* 2. Porém, nao se pode desconsiderar que 0 direito romano e 9 se conceito de propriedade foram produzidos em outro modo de produgi,o modo de produc escravagista, ou seja, num contexto histérico profin damente diferenciado do protocapitalismo renascentista italiano, do capi. talismo mercantil dos estados absolustistas a partir do século XVI e dy capitalismo concorrencial, a partir da Revolucao Industrial (1750-1850), Estes est4gios hist6ricos foram. tipicos da Europa Continental, formando o sistema romano-germnico. ‘A construgdo nao foi imediata. Precisou aplicar e incorporar todos os seus institutos 4 nova realidade do final da Idade Média e renascentista. ‘Apés 0 inicio estritamente académico dos glosadores, cederam 20s pos-glosadores interessados mais no desvirtuamento pratico do direio, formulado pelos jurisconsultos da Roma Classica, liberando-o do ane cronismo de suas vestes escravistas, para possibilitar e difundir 0 seu uso na civilizagio moderna. Este trabalho foi gradativamente sendo empreendido pelos novos juristas contratados para atender as necessida- des mercantis burguesas, j4 que estes estavam menos interessados qu? humanistas de outrora no virtuosismo da civilizacao classica paga, © ‘mals aquiescentes com seu emprego e adaptagdo as novas praticas € necess* dades comerciais da classe burguesa, cada vez mais detentora 40 poder econémico e politico (Revolugao de 1789). ‘Ao contrrio do apregoado, a codificagao contribuiu como fatot i unificagao do direito privado europeu. Serviu também como inst mento de expansio do direito romano-germAnico para fora dos qua‘ europeus do geopolitismo juridico do velho mundo, no period® “4, conquistas coloniais ultramar, que retiraram a Europa do se status periferia do mundo mulgumano. ee st ANDERSON, Pers, Linhagens do estado absolutisa Lisho® front +P. 72. ™ ANDERSON, Perry. Op. cit., p. 26. Scanned with CamScanner 10 ROMANO CLASSICO: SEUS INSTY we TUTOS JURIDICOS E SEULEGADO 113 c processo de codificagdo consolida a dominaca; colonials eine Jaa partir do século avi tr Vitias potncias syridicos como hegeménicos para estabelecer um aes a Sean propriedade ‘| ja escravit i tidor d ido e da supremacia Metropolitana sobre as colé- ‘i dodo do model pias com a adocao do modelo exportador m ae jsto um etnocentrismo juridico europeu, lonoculturista, criando com . CONCLUSAO 0 direito romano caracterizou uma civilizagio for) de produgo escravagista, Nas suas aie pa en ee sob, 9 meee

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