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Pesquisa em Educacio Ambiental, vol. 6,0, 1—pp. 123-137,2011 _ DOLhep://ésdai.oug,/10.18675/21 16k p 123-137 Imagens a fabular ambientes: desejos, perambulacées, fugas, convites Elenise Cristina Pires de Andrade! Exica Speglich? RESUMO — Este texto deseja uma ssertz-pesquisa em experimentacio, ressoando com 0 conceito de fabulagio de Deleuze ¢(m) imagens que se propdem em exploracao de sentidos para pensar uma outra educacio, um outro ambiente. Desejar sem ser falta. Maquinaria de desterritorializacio. Escolher cartas como movimentadoras de pensamento para ampliar as possibilidades argumentativas e desprendé-las da _representacio, pretendendo a forca e a intensidade da expresso, marcando uma postura politica de esctita-pensamento-pesquisa para as imagens e(m) questes ambientais. Perambular por elas e potencializar as ideias de poténcia e forca de cinco no desaparecimento da distincio entre verdadeizo ¢ falso. Fugas. Interessa-nos a criacio e o que se extrai desse fabular, as poténcias sem necessidade de efetuacio, um potente vir a ser que permanece em poténcia de ser. Imagens que nos levam a extremos: invisivel, indizivel, impensavel. Intervalo do qual podem emezgit movimentos para o pensamento. Cartas cadticas que viajam, convidam. Convites a insepazabilidade entre arte e vida. Palavras-chave: Imagens. Fabulacao. Arte. Vida. ABSTRACT - This asticle desires an inquiry-vritig on experimentation, resounding with Deleuze’s concept of fabulation and/in images that are proposed to explore senses to think about another education, another envionment. Desising without missing anything. Detemitosialization machinery. Choosing letters as movements of thought to enlarge possibilities of argumentation and disengage them from representation, aiming for the strength and intensity of expression, marking a political stance of writing-thought-research for images and/on environmental issues. Roaming through images and ideas to leverage the power and creative force in the disappearance of the distinction between tme and false. Flights. We are interested in these creative forces of the fabulation process. Intensities with no need to be actualized, a powerful becoming that remains in the power of being, Images that take us to the extreme: invisible, unspeakable and unthinkable. A gap where movements of 1 Professora da UEFS. niscbara@gmailcom 2 Professora da Faculdade de Administracio e Artes de Limeiza. speglich@gmail.com 123 Pesquisa em Educagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-1 thought can emeige. Chaotic letters that travel and invite. Invitations to the inseparability between art and life. Keywords: Images. Fabulation. Ast. Life Desejos A cidade nao ¢ um Ingar. E a moldura de uma vida. A moldura & procura do retrato, isso que eu vejo quando sevisito meu lugar de nascimento. Nao séo muas, néo sio casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. (COUTO, 2005, p. 145). Desejaz uma moldusa para uma imagem/setrato sem preencher 0 vazio, expetimentando a visio do que se sente ¢ escutando o que nao é falado. A proposta deste texto deseja. Imagens que se propéem em exploracio de sentidos para pensar uma outra educacio, um outro ambiente, ressomincias em ca:tas, talvez. Cartas que desejam explorar noticias, inventar ideias, expor sentimentos, pressdes. Cartas como uma aposta estética de exploracio de pensamentos, conhecimentos, experiéncias, vidas e(m) ambientes singulares. Nao uma ex metifora “eserever como se escreve uma carta”, mas uma singulatizacio expressa. Afirmacio de uma afinidade entre pensamento e vida que lanca na dizecio da expesimentagio ¢ da invengio de si mesmo ¢ do mundo — uma vida artista — um pensamento capaz de afismar 0 artificio como poténcia da vida e que, portanto, nao 36 jé nao reconhece os limites entre arte ¢ vida como também desfaz as fronteiras que separam a vida e 0 conhecimento de uma atividade criadora (GODOY, 2008, p. 122) Desejar 0 esfacelamento dessas fronteiras em uma esmitepesquisa entre lugares. Cartas 4 deriva como poténcia de expressio para pensamentos acerca da educacio ¢ ambiente ¢ questées ambientais em uma escrita que se expetimenta estar entre caminhos, Nem em um Ingar nem em outro. Grafias que expressam, as vezes sem pressa, as vezes quase ao vivo. Invencionices. Desejar sem ser falta, Antes, desejar como uma maguinaria de destetritorializacio, nos dizem Deleuze e Guattari (1977). Funcionamento como afirmacio de experimentacio, roubando poténcias de Godoy (2008) ao aptesentar © movimento da eolygia menor sendo escrita e marcada nas folhas de papel de seu livro. “[..] uma outa forma de relagio com o mundo e as coisas, nfo afeita 4s uniformidades e aos enquadramentos pressupostos pela ecologia maior” (GODOY, 2008, p. 27). Assim como propde a pesquisadora, queremos desabituar-nos das uniformidades e dos enquadiamentos pressupostos por uma grande quantidade de pesquisas que se debrucam sobre as imagens ou mesmo com elas. 124 Pesquisa em Edueagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 Desejar a busca por escritas-pesguisas que pretendam considetar as poténcias das imagens de nio zepresentar a tealidade, de nio equivaler a conhecimentos coneretos, de nio remeter a significados estabelecidos @ priori. Pesquisas que pretendem uma soltura das imagens em pesambulagées por sonsenses, por vontades de expressio. “A imagem dogmitica, que remete as verdades incontestiveis inabaliveis, é sempze o pensado do pensamento [..]” GODOY, 2008, p. 123). Nao querer pensamentos ja pensados, mas poténcias de vir a ser (ow nao) movimentado pelo pensamento. Singularizar o (im)possivel. Fabular ambientes. Cartas que se jogam ao mundo na pretensao de pensar 0 impensado. Carta era uma coisa sétia, comprometedora, mesmo. Cena dlissica nos filmes de outrora: 0 marido esti mexendo nes coisas da mulher recentemente falecida ¢ di com um maco de cartas, cuidadosamente amatradas com uma fita (essa fita é indispensével). Mios témulas, desfaz 0 ago, comeca a ler ansiosemente e descobre que a mulher teve um caso. Claro que tal revelacio poderia ocorrer através da Internet, mas esta sempre pode ser desmentida —nio existe o problema da denunciadora caligratia HE outros dramas. As cartas que nao sio entregues. As cartas que chegam tarde demais. E, 2 mais patética de todas, a carta do naurago, enfiada numa gattafa ¢ jogada a0 mac, entregue portanto aos caprichos do destino (¢ das, cortentes masitimas) (SCLIAR, 2003, s/p) Cartas no intervalo: convites Do oxtono de 2010. Prezados/as leitores/as E chegada a nossa hora de escrever. Nos, imagens, deixamos aqui um breve conivite a0 devaneio. Nao representamos nada. Esquecam as narratives sobre 0 consumo, 0 des-consumo, o inconsumivel. Pescam-se no poente, nas hizes cos de laranja que envolvem 2s macas do zosto ¢ escondem os olhares cusiosos que ftam o inusitado. Mergulhem no choque de cases ¢ textusas que aio explicam e fizem com gue © incomprecnsivel pule. E continue incompreensivel. Poxém, sentido, Expresso Subam nas estruturas e sintam 0 cheiro que niio exala, o suor que niio escontt € 2 posisa que nio levanta. Posém, visiveis. Sentidos. Caminie por entre 0s montes € toque 0s pissaos que teimam em parecer Porém, brancos. Palavras nifo ditas continuariio a vagar quando a noite chegar. Porém. Atenciosamente, 125 em Educagio Ambiental, vol. 60. 1— pp. 125-137, 2011 Figura 1 - Conpete trancado de camara de pneu e saia feita com mil sacos de lixo reciclados, ambos da série LUXDELIX, de Jum Nakzo. Figura 2 - Vestido tipo dobradura de Luiz Claudio Silva, feito de algodio oxginico tingido com 126 Pesquisa em Edtucacio Ambiental, vol. 6, 2.1 —pp 125-137, 2011 Figura 3 - Look Osklea Collection. Figuras 1, 2 ¢ 3 - Fotos: Cléudio Capsi; moda: Denise Dahdah; producio executiva: Ricardo Oliveros; assistente de produugio: Bruna Lobo; maquiagem Cecilia Macedo (GLLOSS). Revista QUEM, ed. 369, 03 de outubro de 2007. Disponivel em http: / /revistaquem globo com/Quem/0%2C6993%2CEQG1644247-6129%2C00 html. Acesso em 23 /jan/2011 Desejar na provocacio com Sousa Dias (2007) movimentos de fabulacio na esczita literdsia: © pensar, com Deleuze, nos E que interesse teria escrever sobre o amor, escrever 0 amor, romance ou pocma, se ndo fosse para atingir o Amor como estado jé no humano, quer dizer, tal como jamais foi, no é nem sera wivido: 0 Amor que ji no € 0 de uma experiéncia pessoal, que jf nao é 0 de ninguém, Afecto puro (SOUZA DIAS, 2007, p. 281) Interessam-nos, pata este texto, 0s movimentos da fabulacio ao buscarmos margens, os extremos. Essa abertura fabulada de afe tremo. E suas provacées de intecvalos, fissuras, cachaduras: no pensamento, na escrita, na pesquisa, na vida Desejar deslocar essas ideias para pensarmos em imagens, ambientes ¢ educacio ambiental. Encontros que s6 podem ser sentidos, que agitam a alma abrindo-a para o impensdvel, o imemorial, o insensivel. Convites de cartas. Afetos putos, no es os limites, \S puros, No Perambulagées Perambular pelas imagens. Cartas como movimentadoras de nosso pensamento para ampliarmos as possibilidades argumentativas e desprendélas Pesquisa em Educagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-1 do movimento da representacio, pretendendo a forca € a intensidade expresso, marcando uma postura politica de escrita-pensamento-pesquisa para as imagens e(m) questées ambientais. Para isso, pretendemos, junto a alguns/mas pesquisadores/as, fildsofos/as, artistas, inspisar encontros “[,.] que possibilitam uma perplesidade da alma, que forcam a pensar o impensével, a lembsar o imemozial ¢ a sentir o insensivel” (6PEGLICH, 2009, p. 102). Caztas que nao necessasiamente precisem ser escritas e marcadas neste texto, mas sim poténcia de ampliacao do pensamento. Desejos em devir mezgulhando por “[..] desvios, desvaos, vaos, distorcao, deslizes pela superficie das imagens ¢ apostando na ideia de que imagens co-criam mmundos sem equivalentes, embaralhando supostas determinacées” (ANDRADE; SPEGLICH, 2008, p. 14) Um conceito que temos tentado movimentar a partir do pensamento de Gilles Delenze, a fabulacio nos remete 4s ideias de poténcia e forca de criacio no desaparecimento da distinco entre o verdadeiro e 0 falso. Fabulacio que remete, também, 4 instalacio de um devir. Propomo-nos a pensar na fabulacio como forma de sair doe fazer fugit o jogo das imagens representacionais, que fixam 0 movimento do conhecimento, do pensamento ¢ da vida submetendo-os A lineatidade do tempo cronolégico. ‘Ao pensatmos em questées relativas 4 educacio ambiental no campo educacional, nos depaamos frequentemente com determinacdes de “certos” e “errados” na forma de lidar, estar, viver, entender o mundo. Um mundo dado. Ambientes que poderiamos apenas conhecer entze natzativas e demarcacdes conceituais. Propostas de que setiam apenas nessas formas predeterminadas de relagfio com o mundo que se estabeleceriam as possibilidades de cuidar da vida, em todas as suas formas. Mais ainda, de conceituar a vida e o ambiente para podezem, a partir dessa classificacio tenitorializacio, ser conservados e mantidos. Acompanhar Palhatini (2007) quando propée, para (im)possibilidades de uma educacio ambiental, que a educagio nfio seja considerada um textitézio fechado, mas antes uma “terra de ninguém” e, consequentemente, continua a autora em companhia de Silvio Gallo, “[...] uma tera de todos, um textitério aberto e instével” (GALLO, 2007, p. 32). Iastabilidade «nos instigar — e estendemos 0 convite aos/As leitores/as — (Ja vontade de criar e (a)o entendimento de que seria na instalacio da possibilidade de devir que se instalaria a possibilidade de vida, © nio em wma lineatidade representacional que a ligatia “simplesmente” 20 coneito de vida. Devir que se instala e perambula entre esctita e pesquisa, de(vix) escrever pesquisar junto as reticéncias. Ambiente que se inventa nesse movimento desejante que salta e mergulha através das imagens. Variadas formas de viver em relacao. Nossa proposta, entio, seria levar esse pensamento a radicalidade para instigar, no extremo, a ctiacao de um intervalo, de uma fissuca, de uma tachaduza. E, com isso, a possibilidade de nos instalarmos, em devir. Desejos. Convites a insepaabilidade entee arte ¢ vida. 128 Pesquisa em Edueagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 Fugas Estow aqui, em Arasi, Nova Torque, estou aqui ou do Chui 20 Oiapague?. Vamos fugie desse lugar, baby Fugit de onde, de que lugar, se Zeca Baleito nos encanta com essas (im)possibilidades demarcatézias? Se nfo sabemos onde estamos, pain onde fagit? Mesmo sabendo que Ara:i é uma cidade no interior do Maranhao onde viviam os pais de Zeca, juntamente com os demais filhos do casal’, seri que teriamos mesmo essa fixacio do ambiente atariense? Ou podesiamos nos perder e nos achar sem aunca termos achado/perdido Asati e, nessa angtistia do do lugar, da inexisténcia de uma cidade de otigem, como nos avisa Mia Couto na epigrafe deste texto, deixar-nos transpassar pela fabulacio de ambientes pelas imagens? Iihas ou aglomerado de lixo ¢ lama? Nao seria esse 0 poato abordado pelas nossas perambulacoes em producto de linhas de fugas, mas a poténcia da subversio criada na invengio da imagem — ilhas nao costumam desaparecer sem serem notadas! Por que nio falar de um ambiente fabulado pelos movimentos do mundo, no amndo, nas imagens, eure imagens, que estariam aqném e além das topologias fixadoras dos conceitos representacionais? [.] entte as imagens no sentido muito geral e sempre particular dessa expressio, Flumuando entre dois fotogramas, assim como entre duas telas, entze dus espessuras de matéria, assim como entie duas velocidades, ele € pouco localizivel: € a variagio e a propria dispersio (BELLOUR, 1990, p. 14), Dispersao de fisacdes. Movimentos por outros pensamentos para educagio ambiental em fagas pelas frestas, criativamente em fabulacoes proliferacdes de ambientes, ciéncias, mundos, sentidos. Assumir que nao apenas a linearidade de uma suposta realidade-ficcio que movimentaria possibilitaria a producto de conhecimento mas também _(im)possiveis transgressdes: uma aluna me contou que ouvit o segninte comentario de uma adolescente 20 se deparar com uma lagoa povoada por imimeras espécies de peixes: “Nossa, parece um aqniriol”. Por que nao se permitir fabular junto ao pensamento da adolescente para que nfo mais tenhamos a lagoa ou o aquirio como “original”, mas adensamentos de espacos-tempos? a € é e “Jmagem-intensidade”, um ato de ctiagio que no € privilégio da arte, mas parte de toda uma série de invencées, de uncdes, de blocos de duzacio, blocs de movimento, invencdes de conceito, etc, séries que tém em 3 Verso da nmisica Musak (1999), composta por Zeca Baleizo, Verso da musica Vans fugir (1984), composta por Gilberto Gil ¢ Liminha. 5 Informacées coletadas. no site oficial. «do artista, disponivel em , na secio de textos “Bala na agulha”, texto “Musak — out, 2005”. Acesso em: 23 jun. 2011. 129 Pesquisa em Educagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-1 comum, como lugares de crlaclo, a constituiclo de espacos-tempo (FURTADO. 2007, p. 48). ‘Uma proposta de pensar entre as imagens a partir de algumas apostas e de algumas fugas [.] Aposta no conceito de imagens como superficies do acontecimento; imagens que nos afetam, que nos deslocam ¢ sentidos produzidos neste contato deslizante, efémero. Fugas de ideias como a conipoténcia da analogia fotogréfica, o sealismo da representacio, 0 regime de crenca na nasrativa ¢ 2 concretude da realidade Apostz em imagens que se movimentam e existem por si, que explodem em sentidos. Aposta no entre, nas rachaduras provocadas por este/neste entre lugar, ov entre tempo (SPEGLICH, 2009, p. 103) Figura 4 - © sumico de uma itha com cerca de 20 mil metros quadrados na lagoa da Tijuce, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), intriga ambientalistas e integrantes do govemno do Estado do Rio. Fotos aéreas de 2004 comprovam a existéncia da illa, que desaparecet segundo as imagens feitas em 2008 (.) “O problema nio é 0 sumigo da ilha, praticamente um amontoado de lama”, diz 0 bidlogo Mario Moscatelli, “O que impressiona € que o governo ainda tena diividas sobre 0 projeto. A deagagem da illa levon meses, deve haver um registro disso”, afirma. Para cle, 2 seticada da ilha nao representa perda ambiental considerivel, mas é preciso retomar a limpera da lagoa. “Ainda existem 6 milhdes de metros citbicos de lama ¢ lixo ali”, diz Fonte: Faiha Online, 17 /03/2009- http // wow! fotha ol com be/folla/eotidiano /ult95u535808 shim Fabulac... Se as fabulas levam a um final, preferencialmente cheio de licées a se ter © caminhos certos a se seguir, a ideia de fabular (com Deleuze) desloca-se para uma nio fibula, Sem final, sem licdes, sem caminho a seguir. Também nao uma novela, na qual algo se passou (DELEUZE; GUATTARI, 1996, p. 63), mas producio de figas, apostas em encontros 130 Pesquisa em Edueagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 Nada passari pela lembranca, tsdo acomtecev nas linhas, entre as linhes, no E que os torna imperceptiveis, um ¢ outro, nem disjuncio nem conjungio, ‘mas linha de fuga que nao pita mais de se tracar, para uma nova aceitacio, © contrétio de uma remincia ou de uma resignagao, uma nova felicidade? (DELEUZE; GUATTARI, 1996, p. 81) Silvia de Paiva, ao analisar a obra do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, nos diz: “E importante notar que, no processo de fabulac&o, conceitos como verdade fe mentira entram em suspensio” (PAIVA, 2008, p. 7). O que se conta, o que se mostra nfo tem ligacio direta com algo vivido, existente, localizvel — espacial e temporalmente. Interessa a ctiaco e o que se extrai desse fabular, interessam as poténcias e as possibilidades de vir a ser, sem a necessidade de efetuacio. Deslocamo-nos, assim, de um tempo cronolégico e suas amazras, das ideias de lembranca e de origem, deslocamentos que desejamos para nossos pensamentos, como explicitamos no inicio deste texto. Deslocamentos e adensamentos como sugeziu o técnico do time de futebol inglés Arséue Wenger depois que seu time perdeu de quatro a zero para o Barcelona — pela Copa dos Campedes, temporada 2009/2010 -, os quatro gols marcados por Lionel Messi, jogador argentino que, segundo as falas de um aturdido técnico, se parecia com um jogador de videogame. O encanto e a impzevisibilidade do Messi “humano” foram tio intensos que ele virou avatar dele mesmo no videogame’. Pura fabulacio? Imagens que fabulam ambientes, provocando pensamentos, esciitas, pesquisas, educagées, vidas vinculadas a seus limites suas margens. Fabular em intensidade, levando as faculdades ao seu extremo e provocando a possibilidade de nos instalarmos em devis. Em um potente vir a ser que nao se liga nem a lembcancas, nem ao vivido, nem ao que se vives, que permanece em poténcia de ser, pois [-] quando o habito ea meméria submetem a casa ¢ 0 temitério, como se estes pudessem existir independentemente do animal que os recorta, no € a arte que se toms impossivel — pois el € neste momento © consolo tio almejado vida mesma que adoece do medo de viver (GODOY, 2008, p. 265) Que vidas ¢ que ambientes poder-se-iam inventar nessas poténcias em devis Que vidas ¢ ambientes perder-se-iam da invencio na castiacao dos limites das assungées de verdades ¢ representacdes? Que educacio ambiental se inventaria nesses (des)encontros? A pattir de nossos desejos ¢ de nossas perambulacées, gostariamos de aqui apresentar possibilidades de producio em linhas de fuga do escape identitério na busca por outros mundos que nao o da representacio, da comparacio em equivaléncias, da necessidade de desvelar um significado 2 prior’ das imagens. © A matézia referida encontra-se disponivel em: . Acesso em: 23 jun. 2011 131 Pesquisa em Educagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 © Semindzio Multiplicimagens’, por exemplo, propés outros olhates, ouvidos, peles junto a professores/as e alunos/as, se constituindo no segundo norkshop do Projeto “Educacio, Ciéncias ¢ Culturas: textitérios em fronteiras do Programa Biota-Fapesp”5, reunindo pesquisadoras © pesquisadores dessa investigacio e convidadas/os. “A proposta é conversar ¢ expandir sentidos das experiéncias. Todas as atividades ocorrerao nas escolas puiblicas em que trabalham as professozas € o professor de Biologia que participam do pzojeto Multiplicimagens”, nos diz o félder do evento. Poderiamos, entao, chamar tal expansio de cartogsafia de ambientes fabulados? Na efemeridade das experiéncias, o fragmento irrompe 2 unidade, 2 picada movimenta a sealidade. No encontco com o instante e a ducagio de imagens de natureza, professonas e professores, estudantes e conhecimentos escolares entram nos flusos das (des)figuragdes. Exprescar a escola, margem sem voz, compo sem centro, pensamento que resiste na invisibilidade: composigio de uma frigil sobrevivéncia? (AMORIM, 2008, /p) No testo intitulado “Percepcio ambiental € povoada de imagens-cliché”, Susana Dias® continua a nos movimentar por entre imagens, clichés e as pesquisas desenvolvidas por Antonio Carlos Rodrigues de Amorim, professor da Faculdade de Educagéo (FE) da Unicamp. Durante suas aulas com estudantes da graduacao que desenvolviam trabalhos audiovisuais, o professor percebeu que: [.] 08 alunos nio conseguiam ver as imagens fora de determinados sentidos. Nio havia um trabalho de detalhamento da imagem, de explorar as potencialidades e limitages das imagens. Nao parecia ser na imagem, ou na tensio com as imagens, que os sentidos poderiam proliferar. Estamos aprendendo a encher as imagens com as coisas do muindo sem pensar a propria imagem repleta de clichés (AMORIM gpud DIAS, 2009, s/p). Susana Dias prossegue a reportagem afirmando que “reconhecer as potencialidades do cliché como um limite intenso do sentido, cujo excesso é 7 © Seminario MULTIPLICimagens ocorreu nos dias 28/11, 4 ¢ 5/12/2008 em trés escolas da sede ptiblica de Campinas, Sio Paulo, e foi organizado pelo Projeto de Pescuisa “Educacao, Ciéncias ¢ Culturas: terzitérios em frontelcas no Programa Biota- Fapesp” ¢ Grupo de Estudos ‘Humor Aquoso’, FE/UNICAMP. 8 “Educacao, Ciéncias ¢ Cultua: temtitérios em fronteisas”, realizado junto 20 Progcama de Pesquisas em Caractetizactio, Consexvactio e Uso Sustentivel da Biodivessidade do Estado de Sio Paulo, financiado pela Fandacio de Amparo 4 Pesquisa do Estado de Sio Paulo Giota/Fapesp), é coordenado pelo professor Dr. Antonio Carlos Rodrigues de Amorim, da Faculdade de Educacio da Unicamp. Para Amorim, priotizar acées dentro das escolas “penmite que a escola tenha dentro dela algo que nfo seja tho escolar, que no exige explicacio”. O trecho citado foi extsaido do texto “A natureza ex-posta: imagens que cucam”, de Susana Dias, publicado em 12 de dezembxo de 2008. Disponivel em: Acesso em: 23 jun. 2011. ° Artigo publicado em 10 de fevereito de 2009 através do Laboratério de Estudos Avancades em Jomalismo da Unicamp. Disponivel em: . Acesso em: 23/06/2011 132 Pesquisa em Edueagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 plano de forcas para o vazio, é a argumentacio principal do pesquisador na anilise das imagens” (DIAS, 2009, s/p). Forcas para 0 vazio, des-identidades em imagens de ambientes que abrem fissuzas no cizculo concéntrico da espizal da significacio. “O que isso significa?” Aquilo. “E o que aquilo significa?” Aquele outzo. E assim seguindo em uma infinita cadeia intedligada de comparacoes ¢ equivaléncias — o que, de acordo com Deleuze (2003), aponta o modelo platéaico de mmado. O Semindtio Multiplicimagens também pretendeu romper com essa cadeia fisadoza de sentidos das imagens. Cadeia fisadora que, ao se quebsar, faz proliferar as poténcias de criacio ¢ instala a possibilidade de devir: imagens que passam a poder fabular. Fabular mundos, pensamentos, ambientes. Fugas como as cavoucadas por alunos e akinas! da professora de Biologia ¢ Educacio Ambiental Tonara Urrutia Moura, do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), quando produziram videos numa aposta em “esvaziar as imagens dos clichés”, como nos disse Amorim na reportage, jA citada, de Susana Dias'!, PY, Figura 5 - Imagens paralisadas do video"? disponivel em http://vimeo.com/3159001. 1 Masia do Carmo B. Barros, Ricardo de U. Moura, Barbara M. Teixeixa, Clévis M Neves ¢ Danilo de O. Pessoa. 11 4 ceportagem intitulada “Pescepeao ambiental é povoada de imagens-cliché” encontss- se disponivel em: http://swww.comeiencia.br/comeiencia/handler.php?section=3 &mnoticia=521. Acesso em: 23 jun. 2011 12 Acesso em 23 jun. 2011. No endereco indicado podem ser encontrados outros videos ptoduzidos durante © projeto “Educacao, cigucias ¢ culturas: teusitérios em fronteiras no Programa Biota-Fapesp”. 133 Pesquisa em Educagio Ambiental, vol. 6,0 Imagens em movimento” pazalisadas. Atravessamentos por fragmentos ¢ descontinuidades da escola, dos caminhos, dos corpos, do lixo, Abertusas brechas na expectativa de que as imagens, clichés ou nio, sejam poténcias paza novos pensamentos ¢ conhecimentos. Invencées em filmes, documentitios, livros diditicos patadiditicos, sites, postais (educacionais ou nao) que parecem jd estar prontos com suas imagens, oes. Milagres da clonagem, Sc. DNA, padzoes, cientistas eas imagens tém assumido um “fardo”: explicacio, ilustzacio, textos, inten Comums cientistas ou informagao, como um complemento as palavsas. Mas eis que alg -las fugir dessas prises ¢ dessas fancdes, divulgadores de ciéncia resolvem deis como mostra o breve trecho da entrevista que se segue Sse projeto que ex comecei a ter o contato com Mata Atlintica e comecar a trabalhar nesse universo de uma mata sem trilha, de comesar a abric trilhas ¢ tudo mais; foi a minha grande escola, de comecar a aprender a enxergar aquilo de uma mancira... de certa forma diferente do que vocé vé descrito nos livros. Porque eu fui parz li sem grandes embzsamentos tedticos de todas essas teorias mirabolantes que 2 gente vé por ai € i certa forma foi bom porque eu nio fui vinado para K... A seqiién imagens que eu posso te passar... sio os caminhos das cer Matas Atlinticas que ev acabei percomendo (SPEGLICH, 2009, p. 100), Imagens extraidas da producto cinema Steven Spielberg. 134 Pesquisa em Edueagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 Ao ser perguntado sobre uma imagem de sua pesquisa, Pedio Luis Rodrigues de Moraes!? ptimeizamente se prope a mostiar os “géis”: imagens resultantes de testes em enzimas utilizados para vesificar heranca genética e, assim, demazcar as possibilidades de parentesco entre as populacées ¢ individuos das plantas estudadas (SPEGLICH, 2009). Ainda junto 4 autora, acompanhamos Pedio de Moraes mudar de ideia e escolher outra imagem que nao os géis para expressar sua pesquisa: “os caminhos das cem Matas Atlinticas” peccorridas por ele 20 longo de seu trabalho. Caminhos que se abrem em matas fechadas, que abrem o olhar e 0 pensamento pata estarem nos lugares sem predeterminacoes de teorias. As com Matas Atlantica puderam sex percottidas exatamente por 240 terem um teferencial predeterminado do que deveria ser visto ou pensado. Matas Atlinticas que estavam libertas da necessidade de se assemelhazem 3s teorias € conceituacées, de comunicarem dados ao pesquisador que estatia ali apenas paca coleté-los. Matas Atlanticas que foram abertas, percostidas, criadas, Fugas na invencio do pesquisador. Criacio de vida na multiplicidade da singularidade do ambiente da Mata Atlantica. Cem delas e nao sem ela. Imagens acompanhadas dessas cem Matas Atlinticas como “um bloco de devires e de sensagées”, nas palavras de Christine Buci-Glucksmann (2007, p. 70), nao comunicando resultados do trabalho, nio representando lugares, nao ilustrando espécies, nfo dissecando a metodologia de pesquisa. Imagens que nos levam a extremos: o invisivel, o indizivel, o impensavel... ctiando um intervalo, wm entre imegem do qual podem emergit movimentos para o pensamento. Movimentos em fuga das sepresentacdes, do registro, da comunicacio, da ilustragio. Caxtas cadticas que vém e vio. Viajam. Convidam... Vinjar € [..] peumitiz que a forea do inespezado nos ausebate. .] Seja para se sentir no exilio ou em um novo seino, viajar é sempre ocasifio de descoberta e pressupée o estado de espitito de quem tem vontade de nio ter mais vontade, de entregarse a0 acaso (FEITOSA, 2006, p. 279-280). Convites Ecsie texto deixa convites, Subam nas estruturas e sintam 0 cheiro que nio exala © © suor que no escone © 2 poeiza que nfo Levanta. Comites a fugas, a esplicacies, a pensamentas. Deixamos aqui um breve convite 20 devaneio. Convites também a esquecimentos, a nos perdermos entre imagens ¢ centides, Pexcam-se no poente, nas luzes cor de laranja que envolvem as macis do rosto € escondem os olhares curiosos que fitam o imusitado. Comites a esqueciments: das representagées, significartes, do tempo cronolégice. Palavras nko ditas continuario a vagar quando a noite chegas. Convites a protocar pensamentas, esrita 18 Professor do Instituto de Biociéncias, Departamento de Botinica, da Unesp de Rio Claro, Pedro L. R. de Mores foi entuevistado por Exica Speglich durante seus estudos de doutorado. 135 Pesquisa em Educagio Ambiental, vol. 6, 0. 1— pp. 123-137, 2011 idas vinculadas a sous limites ¢ suas margens. Poréen, beancos. Comite ao sgjo, um dessjo de criar, (nJo entendimento de gue ceria na instalagto da lidade de devir que se instalaria a posibilidade de vida. De escrita ¢ ‘pesquisa, Caminhe por entze os montes e toque os passaros que ‘teimam em aparecer. Convite a olbar pana os ambientes coma invengées: ambientes fabulades. Aqui, por imagens. Posém, visivei uma dispersio de educazto ambiental em fugas pelas frestas, eriativamente em fabulagdes & proliferagdes de ambientes, ciéncias, mundes, sentides. Mevgulhem no choque de cores e texturas que no explicam e fazem com que 0 incomprcensivel pule. Convite ais questies: que vidas ¢ que ambientes se inveniam nesses movimentos? Que educagdo ambiental ce inventaria nesses encontros? E continue incomprcensivel. Porem, sentido. Expresso. E, com isco, a possbilidade de nos insialarmes, em devir. Porémn. Referéncias AMORIM, Antonio C. R. de. MULPLICimagens (Folder). Seminario realizado pelo Projeto de Pesquisa “Educagio, Cigncias e Culnuas: texsitésios em fronteizas no Programa Biota-Fapesp” ¢ Grupo de Estudos ‘Humor Aquoso', Faculdade de Educacio, UNICAM, Campinas, Séo Paulo, 2009. ANDRADE, Elenise C. P. de; SPEGLICH, Erica. Design? Desite? Dessin? Images resound... Testo apresentado no “The Deleuzian Event”, organizado por Deleuze Studies, Institute of Humanities and Social Science Research, Manchester Metropolitan University, Manchester, UK, agosto de 2007. Em)tomando o tempo n()o caldo em “c”: cultura, cinema, ciéncia, centalidades. 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