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Ficha Catalogréfica YRISSIMTZIS, Nikos A. ia Antiga / Nikos A. sexo e Casarento na Grécia Antign eee Gad. Luiz Alberto Machado Cabral enna Citing; iste. Gabriela Brioschi, als Odysseus, 2002. 120 pi 21 cm. ISBN 85-88023-15-6 tiga 2. Historia dos costumes 1. Historia da Grécia ant tists da 4, Sexualidade 1. Titulo 3. Historia da vida priva Preparada por Eleni Steinle de Moraes Todos os direitos desta edigao reservados a: © 2002 Odysseus Editora Ltda. “Amor Sexo ¢ Casamento na Grécia Anciga Titulo Original: ‘Ep 2€8 Kat Tépos omy Apxaia: EAAéba ‘Autor: Nikos A. Vrissimtzis Editor responsével: Stylianos Tsirakis ‘Tradugdo e Notas: Luiz Alberto Machado Cabral Preparacao e revisio: Rosana Citino Projeto Grafico: Carlos Big Brioschi Capa: Gabriela Brioschi e Carlos Big Brioschi Editoragao: Duppla Design k _ Odysseus Editora Ltda tua dos Macunis, 495 CEP 05444-001 Tel./Fax: (11) 3816 0835 e-mail: editora@odysseus.com.br www.odysseus.com.br ISBN: 85-88023-15-6 Edigao: 14 Ano: 2002 oa Divorcio P ara o marido grego nao existia algo como infide- lidade no casamento. Ser pri- vado de prazer estético ou sensual, pelo fato de estar casado, era algo que estava além de seu entendimento. A sociedade e a moral da €po- ca reconhecia a natureza poligamica do homem que, naturalmente, atuava de modo correspondente. Havia, porém, algumas yozes discordantes — poucas, é verdade — que reivindica- vam uma conduta moral se- melhante para o homem € a mulher (Aristoteles, Isdcrates, Plauto). Mas 0 que acontecia em caso de adultério por parte da mulher? Havia, é claro, a solucao do divorcio. O adultério por parte da mulher resultava na sua expul- so da casa de seu marido, pois tal comportamento nao podia garantir a legitimidade de seus descendentes € conduzia, por fim, A dissolucio do matriménio. O adultério era o insulto mais severo contra a honra de um homem e contra seu. direi- to de posse: “Se alguém sunpreende sua mulher com outro homem, néoo se permite que continue a viver com ela. Se insiste em viver com sea er ALIN 58 + Amor, Sexo & Casamento supe pticos" (Derméstenes, Contra Neaig 87. we Fe ari aido devia separarse da addltera, sob peng de ser, ele proprio, estigmatizado por atimia (“perda da hon. AOE como sbido, honra e oprObrio eram dois coneeitos ‘resnham excepcionlimportincia na antiga sociedade gre. fu Nio esquecamos que a Guerra de Tréia ocorreu para sal vara honra de Menelau®! ‘A honra do marido era, portanto, algo tio importante que, deacordo com uma antiga lei de Dricon™, caso o marida traido surpreendesse os adlilteros em flagrante e matawe o amante da mulher, ele seria absolvidol E, a0 que tudo indie amesma lei ainda vigorava no periodo clissico, pois é mene, nado 0 caso de um tal Eufileto” que, ao ficar sabendo que sit mulher 0 taf, vigioua, surpreendewa cometendo aduk tério e, ato cont NO me ante, Eratéstenes, Poste- riormente, quando Eufileto foi submetido a julgamento, o orador isis compésthe o discurso de defesa (Lisias, Cont aan Além disso, Aristételes, em sua obra Consttuigan a sas 3, Intormnos que essa lei ainda estava em cou seu am Camo bem notou Dod, acu ‘Jones, © and dese BNO) ede yy Mm A Ans Lis A.A Prado, Martins Fomten, Sto Paul, 1997: ™ Dado gi Isiador ateniense do clo VI © expdiente que sua mulher empregou bebe ma saci ve gece pate de bavo da cas (antes, ip any n ndarspein), pin ain ea ma de Euletopasou a deadlo na parte de bai, Abs ani aa apie ora para o amare, que entra so enguanco 0 masido cio + 59 Todo aquele que fosse surpreendido cometendo adulté rio com uma mulher casada podia escapar, no melhor dos Casos, pagando uma multa e, no pior, pelo infamante cost. tne do rapanismas, ou seja, enfiavarsethe, em priblico, um rae puncte (rapdni) no anus (cf. Léxicon, de Suidas). Contudo, aqueles que dispunham de recursos ou de bastante influén- cia permaneciam inc6lumes, como, por exemplo, Alcibiades (fig. 23), que, estando exilado em Esparta, envolvense com ‘Timaia, a esposa do rei Ages; [ato que se tornou amplamente conhecido tanto em Esparta como em Atenas. Comentavase, Sobretudo, que pelo menos um dos fillhos de Ages era, na ver dade, filho de Alcibiades. Este, uma vez mais, quando sua es- Jiparete, abandonowo ¢ ele teve de arcar com os cus- livércio, levow.a para casa a forga, ignorando a decisio posa, F tos dod das autoridades ¢ escapando, assim, 3 punigao™. ‘Segundo Sélon, o legislador, uma mulher surpreendida em flagrante de adultério “..ndo pode ostentar joias, nem visitar fs templos jriblicos, pois poderd corvomper as mulheres honradas; mas se la o fizer ou ostentar enfeites, entdo 0 prrimeiro homem que a en- contrar poderd arvancar suas roupas, seus ormamentos, ¢ acoitéla. Nao poderd, contudo, maté-la ou mutilé-la” (Esquines, Contra Timarco, 163). A mesma lei também ¢ referida no discurso de Deméstenes, Contra Neaira (86-88). ‘A expulsio da adiiltera € 0 subseqiiente divércio, no en- tanto, implicava a devolucio, por parte do marido do dote & familia da mulher, sofrendo, assim, uma perda financeira subs- tancial. Dessa forma, alguns maridos traidos engoliam seu orgulho (e a honra insultada) aceitavam o arrependimento de suas mulheres. Certamente, 0 adultério nao era o tinico motivo de sepa- ragio do casal. © homem podia divorciar-se da esposa por varias razdes, como, por exemplo, por esterilidade. E, para tanto, bastava prova-lo na presenga de duas testemunhas. Para ‘mulher que desejasse se separar por sua iniciativa, no entan- t0, 0 processo era muito mais dificil, pois, como ela estava em ——— Abeba hava eccbido amo doe ance quanta de um mio edzetas mil da Is por acai do eumente oil por desi ull deveined 3 aia da ‘noiva. (N. do T,) “e * : Dirrraresen- 60 + Amor, Sexo & Casamento_ desvantagem, desprovida dos direitos legais, no podi aeevos procedimentos juridicos. Devia dirigirse ap “recon ‘¢ prestar, por escrito, um relato dos motivos pelos ae seGaido divorciarse. O arconte ordenava uma averiguars para estabelecera verdade dos fatos € depois emitia ae cer. E 6bvio, como ja foi dito antes, que a mulher nao podi alegar 0 adultério por parte de seu marido, mesmo es scaido explicito, como motivo para o divéreio. Poroutro lade, se ela provasse ter sido vitima de abuso ou de violéncia fis 2 por parte do marido, o divércio poderia ser concedido. Como resultado do processo do divércio, todavia, o nome da mu. Iher seria publicamente divulgado e isso era extremamente indesejivel, pois as mulheres divorciadas, embora nio fossem impedidtas de se casar novamente, eram tratadas com descon- fianca. Em Esparta, onde a legislacao e a moral eram diferentes, Plutarco nos relataa seguinte hist6ria caracteristica (Plutarco, Licurgo, 15) ‘ “Geradas, um ancido espartano, ao ser interrogado por wm es- trangeiro como os espartanos puniam os adiilteros, respondeu: — Nao hi adits entre os espartanos. — Mas se houver? daa titi como catia, 0 adier dover sacrficar wm ture do grande cuja cabeca alingivé 0 cume do monte Taiget. sao cance ah bate do mundo poderd ser encontrado um ome 7 birst pater ser. pone um adiiltero em Esparta?? " doco uo ambi elatar os seguintes costumes: de: a de Leurgo®, um maridoidoso ot cestéril po- Casco se, emir que um homem jovem uvese rela ‘om a intencio especifica de que es ‘Hew: epider spartan que tea yon os iin cit .e vteu e governow no séeulo VII a.C. Segundo outs seamen eration ean ae Senden le em mic, He racy et ese de 65:66 Xeno cline TTenaGe Steeu um eto sobre cle € sua legisla. Ax reforms oslo scuadas pelos esta S do so io ‘stuiosos modeenos (fundamen ‘usogias) num pec por volta de 600 2.C. erasce criancas sadias ¢ vigoross, que seriam consideradas Bere los, sem que seu casamento fosseanulado. Do mesma semgjo, um omen de ascendéncia nobre que aprediasse as met rencias (aretad) de uma mulher casada podia pedi p ese ao mario para ter relagbessextas com ela, noi sie que 1 pls obtivesse criances robusta © de excelente ibid.) 136 (HE gparentemente deriva do principio de que prevaleceu em Esparta edeterminowthe os cox cdnento € nascimento, acarretando, contudo, um auséncia de citime entre os casais. Igual- no tivesse um ntimero de filhos suficien- usual para ele oferecé-la.a0s seus a is com ela (Polibio). Mas, iderados adul- eugeni tumesde ca efeito adicional: @ mente, se um esparta posa, era c gos para que tivessem relagoes soa ( gon Pralmente, todos esses atos no cram consi téri0s. Em Atenas, € também em outros enfrentasse um sério problema com sua esposa (como ® de cer estéril ou nao conseguir gerar criances do sexo mS fine) e, no entanto, nao quisesse conceder o divOrcio | Pie tino) He devolver 0 dote ~, podia recorrer a0 concubinato como solucao. te com sua €5| lugares, se 0 marido As Concubinas concubinato é Oo nn € uma instinicio cujas origens se perdem liars ag ais Femotos e & encontrado em todas a Fanca. Lembremen 1 8 desenvolveram na regio mediter- p08, Sar, tone ise de Abraio, que, instigado por st Como propia a Como sua concubina a serva egipcia AEE Antigo Team of Aue esta Ihe gerasse filhos (Giénesis, 16,3: "ee ena ua aa Bore, 20 que tudo indica, 10 ‘As Concubinas + 63 77), Parece, portanto, que em certos casos, especialmente com relacio proctiacio, a mulher legiima consentiaa presenca ‘Ta concubina. Mas nem sempre tudo ocorria dessa maneia, Homero, que faz varias referencias ao costume do concubina- fo cita, na Iliada, 0 caso da concubina do rei Amintor, pai de Fenix, que foi a causa de uma verdadeira tragédia familiar. Kminior apreciava muito mais sua concubina que a propria daposa. Esta, a0 percebélo, decidiuse nio s6 se vingar, mas também proteger seus direitos, ¢ instigou seu filho a seduzir ler relagdes sexuais coma concubina, a qual, assim, passaria { detestar 0 ancido. Fénix fez o que a mie Ihe pediu, mas quando Amintor descobriu o fato, amaldicoou o filho. Entio Penix, para nao se tornar um parricida, abandonow a casa de seu pai ¢ refugiou-se no reino de Peleu, pai de Aquiles (Iiada, IX, 430 s.). ‘Oantiqiiissimo costume do concubinato conservowse até 9 inicio do século XX em algumas regides da Grécia e, em algumas nacdes do Oriente, mantém-se até os dias de hoje. O principal objetivo do concubinato era a procriacio, 0 que nao s6 era permitido como incentivado pelo Estado, caso a esposa legitima fosse estéril ou gerasse apenas meninas. Em Atenas, durante a Guerra do Peloponeso", todo cidadio ateniense casado foi encorajado (se nao obrigado) a ter uma concubina, mesmo que fosse estrangeira, para aumentar 0 niimero de nascimentos legais e compensar as grandes per das na guerra (Suidas). © préprio Sécrates (fig. 24) tinha, além de sua esposa legitima, Xantipa, uma outra, cujo nome era Mirto (Didgenes Laértios). Pelo mesmo motivo, vigorava uma outra lei que reconhecia como legitimos os casamentos que nao haviam cumprido todas as formalidades indispensé- eis, bem como todas as unides livres entre atenienses ¢ mu- Iheres estrangeiras. Asconcubinas eram mulheres livres ou metecos ( métoikoi) ©, raramente, escrava a raramente, escravas. Os metecos eram imigrantes de outras cidades ¢. " ae on castles €. como tal, desprovidos de direitos civis e politicos; ém do mais, a partir de 451 a.C., nao podiam se casar com do Repo — “o pcs cnt AcE especie ‘1 eterno em 404 aC: comaderta dos enewen ' concubina, mas varias ( RVR IIIc s une Komen ow ama muffter atenienses. Foi por esa raz30 que Péricles nie pide se casax com Aspisia, que era cstram geira, camanteve como sua concubinra. Nessa mesma Ceg7 Fa cram includes os apelnitherst (“Tibertados"), isto €, 05 crwos que haviam se tornado lrres. Desa forma, 0 concubr nate era 2 Gnica saida para as mulheres estrangeiras. ‘As mulheres stenkcrscs que recorriam 20 concabisa® fariam-ne em caso de extrema pobreza, ¢ sobretudo por 27 disporem de dote. O pai que era incapaz de angariar 0 doe para sux filha preferia dé4a como concubina 2 um Fico, asegurando, previamente, a promessa de uma Comper” sa¢io financeira em caso de separacao. ptatento cm Canscamer “4 um niimero de fatos relacionados aos habi- tos sexuais dos gregos anti- gos, que foram makentendi- dos, quer por causa de uma interpretacio equivocada das fontes, quer por uma distorcio deliberada. Varios escritores, estu- diosos ¢ arquedlogos én diferentes opinides sobre o tema, apresentando pontos devistae eorias conflitantes em alguns casos, diame- tralmente opostos. Desse modo, tanto o Pesquisador como o leitor médio estio geralmente indecisos entre duas ou Mu tors, apresentadas ie tal maneira que cada uma q eon ven como bem ilustram os exemplos de a ER, bem cometh do Povo grego, a origem do af e antiga sociedade so © SUPOStO carter homossexual Sexo #71 -fentaremos, portanto, apresentar nossa opiniio sobre este debatido ¢ mal compreendido tema do comportamento SSeual dos gregos antigos, sempre com o apoio das fontes. sean ossas principais fontes de informacio sio a literatura € cobretudo as representacées pictoricas, Uma granle quanti pije de vasos € determinadlos relevos que chegaram até nds, dados principalmente dentre os séculos VI € TV aC, retra as preferénci is dos gregos. {Quanto olhamos essas representacdes pict6ricas, ficamos juan impasse: seriam mera pornografia ou haveria alga tipo Je aimbotismo ou de cariter religioso aculto subjacente a to- das elas? ‘Cortas representacdes ersticas tinham, de fato, am cau tr religioso € votivo que estava relacionado particularmente } fertilidade (tanto animal quanto vegetal); outras, desempe- hhavam um papel apotropaico (“precaverse contra o mal”), pateas ainda realmente pretendiam proporcionar um estimule, oenual, Por fim, havia também representacées cujo principal propésito era o humoristico, nas quais o artista dava vazio & sua fantasia, retratando sobretudo criaturas miticas copulan- do de todas as manciras possiveis. ‘A primeira categoria abrange 0s vasos cJaborados com uma intencao religiosa, nos quais é representado 0 Matrimé- nio Sagrado, isto é, a c6pula de casais de seres humanos ou deanimais. Eram ofertados em santudrios ou templos enquan- to se rogava aos deuses pela fertilidade da mulher, do reba- nho e do campo. O Matriménio Sagrado era um ritual de carter agrario realizado com 0 objetivo de assegurar a fertil: dade € estava associado ao culto de Dioniso. Além disso, 0s Sitiros € 0s silenos® —seres miticos e companhciros de Dioniso, aay representados com 0 pénis ereto ~ também constituiam sibolos da ferilidade. Nao devemos nos exquecer que & relsciomae ce de todas as religides antigas estava Fecclgnada a0 propésito de assegurara fetilidade, uma vez mee ades tinham um carter eminentemente agrario. tginalmente eram detmanes Cgéniow”) das dguss ' eS es (ein a pate do século V aC. a ec fara de Dios. Tinka oro human om cpt os de sempre rpresetaos com 0 penis reo. Tanto 8 sition com os slenon sm forgive da naarena ptatento cm Canscame Casamento 72+ Amor, Sexo A segunda categoria abrange 0s vis0s que, Por meig gy representagio do filo, tinham a intencio de afastar 9 yy Hiavia uma crenga bastante difundida de que 0 falo € 6 olhys pstiam propriedades apotropaicas contra © matrolyade por esse motivo ambos cram empregados como amulets Reenas esta repleta de hermas,pilares de mérmore com um, cabeca (inicialmente de Hermes ¢, mais tarde, de outros den. ses) ¢ um falo (fig: 28). A herma pode ter se originado a pa tirde uma representagio primordial nio-pict6rica de Hermes Além disso, vése freqitentemente, em alguns vasos, uma re. presentacio combinada dos dois principais simbolos apotropaicos: um grande falo com um olho ou tim par de olhos Esse emprego tio constante do falo pode ser explicado pela absoluta supremacia do homem numa sociedade pa- triarcal, enquanto, na época do matriarcado, os simbolos pre- dominantes da fertlidade eram estatuetas de mulheres repre- sentadas com seios € nadegas proeminentes, com todos os atributos de seu sexo intensamente realcados. Por fim, a tiltima categoria abrange os vasos elaborados com representacées erdticas destinadas a despertar 0 desejo sexual no espectador. Nao devemos, porém, confundi-las com pomografia, jé que foram confeccionadas para ser utilizadas apenas nos banquetes (sympésia); © que explica o fato de a maioria desses vasos ser constituida por hryjlikes ". © observarmos essas cenas erdticas, veremos que a maior Pai delas retrata o relacionamento entre homens ¢ mulheres. Poucas retratam o relacionamento entre dois homens adultos; nais raras ainda so as que representam o contato entre UM homem adulto ¢ 0 Ramer adulto © um rapa, € apenas uma esti relacionada 30 ontato entre duas mulher fi cel tenha, de ca cla » de fato, um carter homossext fo retratad las todas as formas ¢ om ‘des de rel sexuais: vaginal, ama as © posig yee pie * va inal, anal, intrafemural, felagio (tanto do penis (penis 4 vagina), masturbacio, emprego de artefatos sextitis ain anil), ménage-d-trois, “sessemt ” orgiass Fea tlsmo, zooerastia (relagio sexuial com animais), Kile (ph gl ‘powropaico contra @ mau-olhado & empregado na Grécia até boi Ole eet a CE we dense 1 vino, cm shoe gs PIRI Sexo +73 Devemos ressaltar, contudo, a existéncia de uma diferen- ca entre as representacies eréticas do século VI a.C, eas dos los Vc IV a.C. Até o final do século VI a.C., as cenas re- presentadas ~ inicialmente em figurasnegras e depois em fi- guras-vermelhas® ~ retratavam exclusivamente eGpulas vagi- ais € anais, enquanto cenas de sexo oral ¢ de orgias nao sio cencontradas. Poclemos, portanto, presumir que, nesse periodo, essas modalidades no eram plenamente aceitas, © que nao mplica que nao fossem praticadas. Ademais, a arte reflete apenas uma parcela da realidade: por exemplo, as figuras € os atributos representados nas estituas eram idealizados, pois os gregosamavam a beleza e retratavam corpo humano isento de imperfeicoes. Cenas de orgias desse mesmo periodo retratavam exclu- ivamente relacionamentos entre sitiros out entre sitiros € sé inénadles, como € mostrado, por exemplo, num [éiythos de fi- gurasvermelhas que atualmente se encontra no Museu de Berlim, Isso provaw tipo de comport os, Os gregos cme; clmente significa que se acreditava que tal amento niio era apropriado aos seres huma- \creditavam na Moderagio, medén dgan (“nada atividade Gin excesso")¢, por conseguinte, todo desvio, como Sexual desentreada oua lascivia, nio era aceitivel. $e dn dive inn wi cnn Oss ie “Tan ei rns ope aa a one ONON NAR MLO en 74+ Amor, Sexo & Casamento |Até mesmo a masturbacio era vista como algo mais apro- priado aos sitiros que aos seres humanos, € entre estes tlt: mos, aceitavel apenas entre escravos ou barbaros. Numa pelike (expécie de dnfora grande e bojuda) que se encontra no Mu- seu da Villa Giulia, em Roma, é retratado um homem cores: do com uma guirlanda, tendo uma sandélia na mao enguida- prestcs a bater num jovem com 0 pénis ereto. A impressio gue essa cena nos causa é a de que o homem € um pease (escravo encarregado de levar as criancas 4 escola) que est castigando o efebo por télo surpreendido a se masturbat As mulheres também se masturbavam com ajuda de uum pénis artificial, 0 dishos ou baubin. Esse precursor do 17% dernoibrador”erafeito de couro macio, produzido na Po pera cidade de Mileto e exportado para todos 0s palses suida nos informa que as primeiras a se servirem deles foram ae as préprias habitantes de ‘Mileto, que, POF #8" oram caracterizadas como aiskrourgo’ (“obscenas”)- ae Jédia Lisistrata, de Arist6fanes,a heroina homoni- sma confessa: “Desde que o5 milésios nos trairam, nao vi nem wt pénis artificial de cowro que pudesse nos consolar” (Lisistrata, 109)- Sim fragmento de uma comédia perdida de Heronds (as ‘Duas Amigas), Corito, uma moca, informa & sua amiga Metr6 que os melhores dlisbo‘da cidade eram leitos pelo missive flee Quédron. F entao Metr6 sai correndo para também com prar o dela! Nao se sabe ao certo se o dlishos era empregado nas Fel gpes homossexuais femininas. De qualquer modo, sabese, 2 certeza, que era usado pelas hetairas nos banquetes, n0 quai, Com esse artificio, elas executavam dancas eréticas tanto PAP deleitar quanto para provocar o estimulo sexta nos partici pantes, como é mostrado vas ilustracdes sobre Ci lices (kjlites). Num klix do Jicdstenes, atualmente NO Museu Britanico, uma etaira nia realiza uma dance lascin segurando dois grandes pénis artificiais (fig: 50). Mais tarde. no final do século VI a.C., quando 08 bare quetes{é haviam se estabelecido como costume, cenas dese oral e orgias comecaram a aparecer pela primeira vez NOS ilkes, as tagas uulizadas messes Festins. Todas a8 iustracbes Na com‘ maya Naya eve RTA! 76 + Amor, Sexo & Casamento retratam exclusivamente cenas de banquetes ¢ fedusido a partir do emprego de varios signos e s como guirlandas de flores sobre as cabecas dos homens, flay face crotalos (espécie de castanholas) segurados ¢ tocade, pelasheiairas,jogos como eévabo (uma espécie de tro aoa) os divas especialmente empregados nos banquetes, etc. O que Sgnifica, certamente, que esse tipo de comportamento na aceitivel apenas no contexto da embriaguez orgiistica dos © banquetes. ‘Num dos mais famosos Ayles (“cdlices") ersticos, pintado pelo pintor Pedios (fig. 31), vemos, entre outros, uma hetaira inclinada sobre um escabelo, tomando em sua boca o penis de um homem, enquanto, simultaneamente, outro homem penetra por tris, No mesmo Aylix, outro homem, ajoclhado sobre uma almofada e segurando um chifire, oferece seu pénis a outra hetaira. Mais abaixo, um homem introduz seu pénis na boca de uma hetaira e, ao mesmo tempo, empurra a cabeca dela para baixo. Outro homem perambula com seu pénis ereto, segurando um grande tridente, cujo significado nos escapa (Gg. 32). Um Aylix do pintor Brigos, que se encontra no Mu- seu Arqueolégico de Florenga, retrata um homem montando, por tris, sobre uma hetaira arqueada. Com uma das maos, ele empurra a cabeca dela para baixo e com a outra, erguida, segura uma sanddlia no intuito de batéla na hetaira. A sua direita, encontrase outro homem com a perna flexionada ¢ curvada de tal maneira sobre a cabeca da mulher, como se estivesse prestes a chuté-la. Trata-se de uma das rarissimas cenas de sexo praticado simultaneamente com 0 emprego de violencia. cena do Pe a representacio de ocorréncia isolada ¢ Siena pe gral num lis de 510 a.C., que se encontra no chan teem Entre viris casais que se divertem, um nos bend a vanes Ps um Romem, semi-estendido, esti tam contate yo tm hetira. Da auséncia desta forma le Podemos caucait qualquer outra representacao pict6rics homem ¢ nee gt due €F@ considerada indigna para 2 deat ae i de boa estima. De fato, isso pode s¢F (As Vip fag NSeROS de duas comédias de AristFanes © A Paz, 88485). E Sbvio que, numa época de absoluta supremacia mas- culina e com a mais completa submissio da mulher, wma pr tiea como a do sexo oral, em que o homem é que proporcio- ava prazer a mulher, € nao 0 inverso, era, com certera, Const Gerada impropria. Esse também era o caso do sexo oral no qual a mulher proporcionava prazer a0 homem, enquanto esse, porém, permanecia passivo. Pois permanecer pasvo CF uma atitude inaceitével para 0 homem, como veremos No C= pitulo referente 4 pederastia. Para contrabakangar essa passe vidade do homem, quando a mulher era quem fazia 0 sexo oral, o artista sempre retratava “de quatro” ou ajoethada, ow seja, numa posicao de submissio, enquanto seus tracos Facials cram alterados pela penetracao do pénis em sua boca. Uma tinica cena combina 0 sexo oral simultinco, na posicio popularmente conhecida como “sessentaenove'» © Pode ser vista num [jkhnon (“lamparina”) que se encontra no Museu de Heraclion, em Creta, mas é proveniente do perio- do romano. - E digno de nota que nao se veja nenhuma representa aclassica e difundida posicio conhecida como “papaiemamae™. 78+ Amor Sexo & Casamento Contrariamente, sempre vemos a mulher arqueada (como na fig. 38), ou “de quatro”, ou deitada em dectbito dorsal com suis pernas apoiadas nos ombros do homem; esta tiltima ¢ ‘uma posigio mais cansativa para a mulher, mas, pelo fato de estar com as pernas levantadas, tinha a vantagem de propor. cionar a nitida visto da penetracao do pénis, o que, evidente. mente, constituia 0 propésito do artista. A mesma posigay ¢ :mencionada por Arist6fanes, na Livstrata, de um modo que revela que eraapreciada pelos homens ¢ comumente pratica. da, Outra posicio quase totalmente ausente nas representa, bes pict6ricas é a da mulher sentada, “cavalgando” sobre hhomem deitado. E rara pelo fato dea mulher ser o parceire dominante, uma idéia que nlo era apreciada pela clientely masculina, a ués motivos que podem explicar, em nossa opinio, © desimeresse do antisia em retratar essas posicdes tndicig nals: primeiro, a mulher tinha de ser representada de modo ‘ubmisso; segundo, a posicdo “papai-e-mamie” nao era asear explicita para que 0s Grgios genitais ficassem visiveis e, tanto, nao era suficientemente excit por- tante para uma clientela Se observarmos atentamente essas cenas eréticas, vere- mos que 0 sexo € praticado unicamente pelo prazer, a0 mes- mo tempo que esta ausente qualquer expressio facial que possa denotar a presenca do sentimento mais fugaz. As postt- Tas sio rigidas € nao ha indicio de envolvimento emocional como beijo, abraco ou caricia entre os participantes. Isso se deve, como ja dissemos, tanto ao fato de as cenas serem re- Presentagdes de sexo explicito com hetairas prostitutas, quanto ao propésito do artista, que raramente retratava os asais numa posi¢do em que os parceiros ficassem face a face. ‘Uma das poucas excecdes € uma oinokhée (“oindcoe”, jar- ta de vinho) do pintor Shuvaloy, datada de 430 a.C., atual- yrente no Museu de Berlim, que retrata um rapaz e uma hetai ra de mesma idade; ele esti sentado numa cadeira, com: f,énis ereto, enquanto a garota, apoiando as maos afetuose- Mente sobre seus ombros, preparase para sentar sobre ele € wt8+10". Suas eabegas se encostam, cada um olha fixo nos olhos do outro, ¢ em seus olhares percebe-se claramente algo SNe apne anno ro wcnnco nana LaNNEDNADNDNSDNDNCE ue satisfaz principalmente “€TOSO, mas é provivel . re jue elas 0 Por motivos contraceptives =<. Av # Amr, Senn & Cavanvento pg ew mero ese sexta A Fepresentagio dstguege Fa nel quae ett do ponte de vst da coy prove day cabecas qe forman an cielo, equate waurdye ponte qlecanaeity © Hunley preto intennifieath a Nenmsagio de Ihteyease een pete our, abn’, xem Aid, he aay log Fes exeinphares cht pinta erdtica req (Vide eapa dy liven). Ni havin una Tel contra a vooerantia, talver porque nto Fowe huhitualmiente pruticada pelos gregos. Ax tinicay cenas {queetian goat exo velacioniay a Cen mitligi ay eam, por exemple, o mito de Leda € 0 Gisne (Zeus) © ‘ontras historias nay quais Zeus assume Jorma de wn animal du de un paissaro para se aproximar e copular com belas Inullieres mortals (Lig. 85) =, 01 ento referemese a seres initicos, como os sitios e as mendes, que sio algun representados copulando com animais (tig. 36), Havia, contro, wma lei conta o estupro, para proteger as muthereseascriancas, quer fossem livres, quer escravas, A penatidade consistia rium pesida multe © ofensor tinha de payin das vezes: una paraa vitima e outra para o Estado, 0 estupro ert um ato criminoso muito sério € a pena corres- pondente era severa. De acordo com uma lei estabelecida por Sdlon, 0 estuprador tinha de pagar uma multa de cem dracmas (Plutarco, Vida de Sélon). Is vezes No que eoncerne ay relacoe conde homovsextalidade mascutina, isto ¢ sextiais entre dois he mar, sem reservas, que essa pratic Ja, como transparece claramente através de textos ns adultos, podese xra inaccitavel ¢ socialmente de Esquines, Deméstenes, Eliano, Maximo de Térioi, is (Aristofanes, As Tesmoférias, 201) de representagoes picto- grificas em vasos, que tam- hém corroboram esse fato. Ohomossexuil pasivo, ‘Tucidides, ete; de comé probragio social, uma ver que ele era humilhante- mente penetrado. Tal ato cerainadmissivel evergonhoso simplesmente porque 0 ho- mem era subjugado ¢ de- sempenhava o papel da mulher. Esse é 0 motivo pelo qual nenhuma repre- sentacio pictdrica que re trate 6 coito anal entre ho- mens chegou até n6s. cree mee 7 a, | Sexo * 83 vamos conclu esse eapftulo tembrand | especitica. Algumis vezes 0 artista pinta a cena semen sua imaginacio, mas sempre com um olho no valor ont da peca. O mesmo se aplica A Comédia (uma valioa fone te cevidencia); por se dirigir & classe média e a0 povo, a comida recorria a uma linguagem pertinente ea um grande namery de exageragbes que serviam a0 seu propésito de crticar a cite. i Hi apenas uma representacao que mostra sitiros copu- Indo cate si, algo que provaveimente indique que esse com- portamento cra inaceitével para os seres humanos. Por fim, y mum aso datado por volta de 470 a.C, imediatamente apés 0 ténmino das Guerras Pérsicas, um grego é retratado seguran- doses pénis ereto, dirigindo-se a.um guerreiro persa que est currade para frente € assume uma posicio feminina. E evi- dente que a cena denota a desonrosa derrota dos persas, mas também o quae ignominioso era para um homem ser pene trado por outro, ____ tanto pelas representacées pictéricas como pelas fontes, | Jatmais praticaram a circuncisio, Além do mais, a pritica da Gircuncisi0 por outsos povos era objeto de escdrnio para gre- 0 € Fomanos, que @ consideravam vergonhosa ¢ grotesca- (Os romanos denominavam sarcastican : mente os estrange circuncisos de v (Cesfolado’ erpus (“pénis circuncidado”) © reculitus AAUP 1 o ¢ Prostituigao e uma sociedade tio permissiva (pelo menos para os ho- mens!), 2 mais antiga das profiss6es nao poderia estar ausente. Podemos supor que a prostituicao sempre foi prati. cada na Grécia sob varias formas. Nao ¢ referida por Homero, ‘mas ndo ha razdes para crer que ela fosse desconhecida. 0 dinheiro nao havia sido ainda inventado nos tempos homéricos, mas a prostituicdo é muito mais antiga que o di- nheiro. inicio do século VI a.C., 0 periodo da prosti inconseqiiente e descontrolada chegava ao fim, pois foi nessa época que o legislador Sélon (639-559 a.C.) estabeleceu os primeiros prostibulos de Atenas com a intencio de F 08 efebos que atin- giam a idade adulta a se ali- viarem, impedindo-os que cometessem adultério cor mulheres respeitaveis. Eis 0 que Ateneu escreveu a esse respeito: “O Sélon, tu és nos- 430 benfeitor, pois nossa cidade (sé repleta de jovens de temper ramento ardente que pusteriam seextraviar pela frtica de atos condenivveis. Porém, tu com- Praste mutheres ¢ instatasteas ‘em locas determinados, onde Scam ts dispusigéo de quem as quiser. Eilas, tal como as fez a natureza. Nenkuma surpresa. Vede tudo. Queres ser feliz? A porta abrir-se-d, se quiseres; basta tm bolo, Com algumas moedas podes comprar um momento de prrazer sem cor- rer 0 minimo risco... Podes escolhé-las de acordo com tua freferéncia ~ magras, gordas, altas, baixas, jovens, de meia-idade, velhas — podes télas sem ter de recorrer a uma escada ou de entrar furtivamente. ‘Todos podem desfrutd-las facilmente, sem receios de todas as manei- Tas, dia e noite”. ‘Também € descrito que Sélon, com o dinheiro obtido: Pela tributacdo desses primeiros prostibulos, construi um templo dedicado a Afrodite Pandémia, a deusa que velava pela Prostituicio®; o primeiro templo que ele construiu na Atica (Ateneus, 13, 569 d). Desse modo, as garotas do prazer esta- vam, a partir do século VI a.C. em diante, protegidas legal- inente pelo Estado, mas também cram obrigadas a pagar tri- butos e estavam sujeitas a um freqiiente controle de mercado ©om relagio aos precos que praticavam. Em grego, a palavra “prostituta” é pirne, derivada do ver- ute Sl ebew em Coin, Abide feo, ews sxcedoias cram cores Profisionais. (N. dot) 36+ Amor, Sexo & Casamento vo ped (vere) Os palais pe partir dessa pars ere ee serafo, eparnaeee ie pa age, porn © pamigafn in. aguess. NO inicio, a palavra designava a profissio ¢ Fe romeo significado pejorativo que mais tarde veio a ad. Treo qual presalece até os dias de Boje i pout vulgar no deve ser confundida com a re nada e eara hetaira, sobre a qual falaremos no préximo capi tulo. . ‘Quanto 2 origem, a prostitutas eram escravas ou exes cravas que haviam sido libertadas por algum amante ou clien- qchabitual, o qual, com certeza, apreciava sobremaneira as suas aptiddes Flas também podiam ser métvikoi “metecos”), isto &, mulheres livres que eram imigrantes estrangciras, ou ‘ainda meninas que haviam sido abandonadas por seus pais e {gue terminavam nas mios de algum rufido. Por fim, muito freqiente era o caso de filhas de prostitutas ou de ex-prosti- tutas, que aprendiam os segredos da lucrativa profiss0 com suas macs. Uma mulher ateniense nascida livre podia, igual- ‘mente, terminar na prostituicio, mas isso raramente aconte- Cia, e, mesmo assim, s6 em casos de extrema pobreza. Em Atenas, oato de incitar uma mulher ateniense a pros- tituigéo era rigorosamente proibido ¢ punido por uma lei estabelecida por S6lon. Tal como Plutarco menciona a res- f peito: “Se alguém se torna proxeneta, a ena é de vinte dracmas; i menos que a mulher ssa uma daguelas que se entregam francamente i para quem as pague. Além disso, ninguém pode vender suas filhas 4 m iris, a néo ser se ficar patente que elas perderam a virgindade antes de se casar” (Plutarco, Vida de Sélon, XXIII, 1). _Os proxenetas eram homens ou mulheres da mais baixa Posicdo social que exploravam uma ou mais prostitutas, mantidas ou nao em prostibulos. A pratica do lenocinio, caso fosse denunciada ¢ comprovada, ficava sujeita até mesmo & aplicacdo de pena de morte no século IV a.C.: [Sdlon orde- nou que] “os proxenetas, sejam homens ou mutheres, devem ser de- nunciados ¢ todos que forem considerados a munciados ¢ toda 8 culpados sero condenadas 4 morte” (Esquines, Contra Timarco, te Hava vris cateroa Prosisuigio + 87 javia varias categorias de prostitutas, lassificadas do com o lugar em que exerciam a prone seo . Profissao. Havi idiamaitjpai (literalmente, “as que batem no chat de Hamat + typta), que eram assim denominadas por trabalharem sear livre, deitando-se no chao. Dessa palavra originowse o termo Khamaitypeia, um dos muitos que tinham o mesmo signi- ficado de porneia “prostitui- 40"). Existiam também aquelas que encontravam seus clientes dando voltas pelas ruas, denominadas leqphdroi ow peripatetibaé (pe- ripatéticas"), e que, em se- guida, conduziam-nos as casas delas. Havia as gephyridai, que freqienta- vam e trabalhavam perto das pontes (géphyrai); exis- tiam aquelas que freqient vam 08 banhos piiblicos e, por fim, as hatdkleistai, ou seja, aquelas que trabalha- vam dentro dos prostibulos (kata + klino). Outra denominacio para os prostibulos era oikiskoi (“casinhas”), deriva- da da palavra oikos (“casa”). ‘A mesma conexao ainda se mantém em outras linguas, ‘como, por exemplo, em ita- liano: casino (“prostibulo”), termo derivado de casa. Os prostibulos estabelecidos por Solon localizavam-se no Ceramico (“o bairro dos oleiros"), nos limites da cidade, a noroeste, ao lado do cemitério homo- nimo (fig. 39). ‘Amor, Sexo & Casamento 88 Pouco a pouco, © mimero dos prostibulos se multipli- cou ¢, tal como Ateneu nos informa, nenhuma cidade tinha tantas prostiuutas quanto Atenas, com excecao, obviamente, de Corinto, onde se exercia a célebre Hier Porneia (*Prosti- tuicio Sagrada"), sobre a qual discorreremos adiante. Nas escavacdes no Cerimico nao foi encontrada nenhu- | ma construcio que pudesse ser identificada com um prostibulo. Contudo, outras construcées que foram trazidas i luz, tal como tavernas e hotéis, podiam também ter servido nado por numero- ertas de objetos femininos, como espelhos, bijute- vias, portajdias, estatuetas de Afrodite, etc. Evidentemente, {ube havia prostibulos no Piseu, o principal porto da ck Atenas, onde ancoravam navios provenientes de varias partes do mundo e onde havia uma vida intensa e movimen- tada (Arist6fanes, A Paz, 165). ae Prostutas tinham de pagar um uibuto especifico a0 Peon aos “taxa de prostitui¢ao”), coletado pot porate sPetialmente designado para essa atribuigio, 0 femtics Par aquelas que trabathavam no interior dos "© tributo era pago pelo proxeneta, enquanto as Wannninnnnennecscn. are DTD C0. hs | Prosiuigo + 89 que trabalhavam por conta prépria pagavamno pessoalmen- te. Esse tributo sobre a prostituicao deve ter se constitu uma renda considerivel para o Estado, se levarmos em conta o grande niimero de prostitutas. A Gnica situacio em mre prostituta era dispensada de pagar o tributo era quando um cidadao levava-a para casa como sua concubina. A quantia n ser paga era proporcional ao preco cobrado pela prostituta, o qual era, por sua vez, estabelecido pelo Estado com o ausilio de um funcionario ptiblico, 0 agorinomos (*agorinomo”) (Suidas). Um tibuto semelhante também era cobrado em outras cidades da Grécia. A conservacio da ordem e da de- céncia piiblica nos prostibulos estava, entre outrasatribuigées, a cargo de oficiais especiais, os astynémoi (“astinomos”).. preco pago a uma prostituta no século V a.C. era de um ébolo (uma dracma = seis 6bolos), como nos informa o historiador Ateneu (13, 568-69), mas 0 pagamento poderia ser efetuado em espécie (fig. 40). Havia, é claro, prostitutas que cobravam mais, ou menos, caro que essa quantia, embo- ra os clientes tivessem de pagar, ocasionalmente, uma taxa extra por servicos especiais. Para os trabalhadores manuais nao-qualificados, esse preco correspondia aproximadamente ao pagamento de um dia de trabalho; para os trabalhadores especializados, correspondia a um sexto do pagamento dié- io, enquanto para os cidadaos présperos era praticamente irrisério, embora estes tiltimos desprezassem as prostitutas comuns, j4 que preferiam se divertir com as refinadas e bem mais dispendiosas hetairas. Hi um grande niimero de representacoes que retratam cenas nas casas do prazer; a maioria esmagadora, no entanto, esta relacionada as ages preliminares, ou seja, 4 admissio de clientes, negociagéo com as mulheres, ao pagamento, muito raramente ao préprio ato sexual. Assim, em diversos tipos de vaso, vemos jovens e adultos oferecendo antecipadamente # bolsa a mocas vestidas com trajes transparentes, as quais esto abracando homens ou sentando-se em seu colo, o que signifi ca que haviam aceitado suas propostas, enquanto algumas dessas cenas cram supervisionadas pela proprietiria da casa, Seralmente uma ex-prostituta ja idosa. res 190 + Amor, Sexo & Casamento Talvez a tinica representacdo de uma cépula num prostibulo, que pode ser seguramente identificado como tal, esiejz na moldura de um espelho do século IV a.C. que se ‘encontra no Museum of Fine Arts de Boston (fig: 41). Na parte interior e exterior da moldura, estio representados dois ca sais em intercurso sexual, um casal em cada parte. O que dis- tingue o lugar onde ocorre o ato sexual sfo as camas, recobertas com colchas e travesseiros. Em primeiro lugar, 1 tase de camas auténticas e nao de divas, o que nos leva a con- cluir que as cenas nao estio relacionadas aos banquetes. Em segundo lugar, nao se vé colchas e travesseiros nos divas dos banquetes. Assim, uma vez que, por motivos jé expostos, est fora de questdo tratarse de um espelho pertencente @ uma respeitivel mulher ateniense, é evidente que 08 atos ocorrem ‘em algum prostibulo ou na casa de uma prostituta. Ea julgar pelo fino acabamento da peca, presume-se que tenha perten- ido a uma prostituta de luxo. tema da Prostituicao Sagrada (Hie Porneia) merece ae especial. Esse cra um costume muito antigo, encon” em praticamente todas as comunidades do Oriente Ee | Prosteuigio + 91, Médio (Fenicia, Siria, Babilonia, Asi nia, Asia Menor), enquanto no territério grego s6 foi regis ‘ ‘Amatos, no Chipre. As sociedades ee Pafos © em ipo de magia simpatética, “grarinsacreditavam mu tipo de magia simpatética, segundo qual hava une inte ia reciproca entre coisas semethantes (“semelhana wt fnelhante”). Por conseguinte, dedicavam algumas mulls, re ierddoulo’ (Servas sagradas"), para server pen renee aa nos templos da deusa do amor (Ishtar, Avovte, Mins ‘Mfrodite). A fincio dessas mulheres era ter relagdes sexu arediante pagamento, com quem quer que assofictse, Des se modo, 0 ato sexual era praticado em honra & deusa, de Acordo com o simbolismo ¢ as associacies jé mencionadas, ¢ proporcionaria fertilidade para todas as mulheres, feild de da terra ¢, por extensio, a prosperidade da cidade. Essas prostitutas, porém, eram consideradas funcionsias do tem- bio e, assim, 0 dinheiro que elas obtinham nio contribuia vara aumentar sua fortuna pessoal, mas era mantido no te- souro do templo. Na Grécia, 0 tinico lugar que temos registros da pritica da Hiera Porneia era 0 célebre templo de Afrodite sobre a ‘Acr6pole de Corinto (fig. 42). Corinto era uma cidade muito rica, por causa de sua posicio estratégica no istmo que ligava © Peloponeso a Grécia continental, € também pelo fato de possuir dois importantes portos: um, no Mar Egeu (Kenkredi), € outro, no Mar Jénio (Lekhdion). Conseqientemente, um grande mimero de estrangeiros, sobretudo marinheiros ¢ mercadores, alguns muito ricos, chegava 3 cidade. Era, por tanto, natural que particularmente a prostituicao se desen volvesse nesse ambiente. O templo de Afrodite empregeva ma6 de mil “servas sagradas”, como nos informa Estrabio (VII, 378), e acumulava uma fortuna fabulosa que era deisada Pe los figis e adoradores dessas habeis e caras hierédouloi. Daiaque- la famosa maxima: ou pantis plein es kérinthon (literalmente, nem toda pessoa pode navegar para Corinto”), ou seit: como foi latinizada por Horacio, “Non cuivis homini contingit adire Corithum”, cujo sentido é “Nem todo homem pode se dar ao luxo de visitar Corinto”. ‘92 + Amor, Sexo & Casamento + Como relata 0 historiador Ateneu, quando a cidade fo ameacada pela esquadra de Xerxes, 0s corintios pediram as prositutas co templo que rezassem:; suas preces foram oui. ie. e depois que os persas retiraram-se derrotados, os orintios consagraram uma placa em seu templo, contendo Genomes de todas as prostitutas que contribufram para a sal yacio da patria com suas oracdes. ‘Um outro tipo de prostituicao sagrada muito antiga, da- tada do periodo do matriarcado, obrigava todas as garotas, sem excecio, a serem defloradas antes do casamento, entre- gandose no templo, mediante pagamento, a um estrangeiro, em honra e beneficio & deusa, A vy ¢ As Hetairas im_esséncia, as hetairas também eram prostitutas — uma ‘vez que vendiam seus corpos por dinheiro -, porém de um nivel superior. Fazendo uma ousada analogia, poderia- mos compardlas 4s gueixas japonesas. A palavra hetaira significa “amiga”, “companheira’. As hetairas eram companheiras dos homens nos banquetes € em outros eventos sociais dos quais as esposas legitimas, irmas e filhas eram excluidas, tanto por causa da austeridade dos cos- tumes, como pelo fato de serem estas pouco instruidas. Em grego, a palavra hetaira deu origem aos verbos helairén, “ser hetaira, ser utilizada com finalidade lasciva”, ¢ hetairizein, “ser companheiro”; ao substantivo hetairia, “companhia, associa- Gio”; € a0 adjetivo hetairikés, “que concerne a hetairia”. Assim como as prostitutas comuns, as hetairas eram pro- venientes das classes dos escravos, ex-escravos € métoikoi (metecos = “imigrantes"), A maior parte das hetairas renomadas era composta de métoikoi, proveniente de localida- des mais desenvolvidas, onde as mulheres gozavam de maior liberdade, como, por exemplo, da Jonia. Algumas delas eram também filhas de prostitutas ou ex-prostitutas que haviam conseguido triunfar em sua profissao, recorrendo a técnicas de embelezamento € ao cultivo de virias habilidades, como Yeremos a seguir, Muitas ex-prostitutas ou hetairas criaram suas filhas para serem hetairas, com a expectativa de que estas S¢ tornassem ricas algum dia ¢ cuidassem delas na velhice, tal Como fez Timandra, a amante de Alcibiades, cuja filha, Lais, ‘omouse uma das mais célebres hetairas da Antigitidade. SRNR aerenecnsce urn acer ere SOLIDER ADOEE As hetairas deviam sua fama, amplamente difundida, so- bretudo aos banquetes (symposia). Estes consistiam em ceias ra os homens, onde a bebida tinha maior desta- comida [ ympdsioc de syn + ping (“beber”)}. Nos ban- quetes nao havia mesas ou cadeiras; os participantes recli vvam-se nos divs festivos e, depois de terem comido, comeca- vama beber vinho ea conversar. Seus debates ‘05 assuntos distios até os temas politicos e filos6ficos. Tan bém realizavam alguns jogos, como o kéttabos (*c6tabo")", € divertiam-e com miisica € danca, executadas pelas he Elas eram chamadas aos banqu 9 apenas como tocadoras de flauta e dancarinas, ém, de um | ge; como companhia feminina, uma ver que honradas ni im estar presente: do a alegri chegava ao épice €0s saltavam, as hetairas ofereciam seus servigas “ » participantes (fig. 43) c, muito +05 banquetes terminavam exclusivas que que: em orga, Gam iho nb fia urn pd deg eae (dab). Ea uma baci de eos arse at do ving ta bid nt ce um as de ds al rent age qu lane {bcs de bone emia ded) ‘SNE STS aye eTse NNER ino ome dpa as Plo 0 sco qui se amas psn cj one et promanch ‘A partir de suas funces, podemos deduzir que as hetairas deviam ter um grande mimero de atributos ¢ habilidades: ‘ram educadas, tinham boas maneiras, mantinhamse assea- das, tocavam um instrumento musical (flauta, lira, tamborim, castanholas), dangavam e, naturalmente, estavam sempre prontas a oferecer seu corpo sem a minima hesitacik Ha uma crenga generalizada de que todasas hetairas erat avam dos debates filoséticos ~ Isso € verdade somente com relacio a algumas poucas dentre clas, como Ledntion, com heira do filésofo Epicuro, Marmion, Hedéia, Erotion iscipulas de Epicuro~, Aspasia (se, de fato, a hetaira), Hiparquia, a com que reconstruitt nto, extremamente cultas € partic o filosofassem elas propti rates, € Lim © Portico Variegado (Poikile Stod) dos Siefones. Entre atvibutos cram a belezat excepeional, 3 Pers 1 competéncia nas discussbes. a Friaaransonseventeninnsraissscrscn. Sexo & Casimento 96.» Amor Nem todos tinham condicdes de pagar uma hetaira gqndo Atencu (XH, 581), a famosa hetaira Fringia costama ‘nr dracmas pelo programa, ¢ Gnatena chegou a pedir, certa ver, a quantia de mil dracmas = um prego morbitante naquiela Cpocat Frinéia, contudo, foi uma das mais famosas hetairas da Antigtiidade ¢ foi, além disso, amante do ‘Geultor Praxiteles, do orador Hipérides e do pintor Apeles, tatre outros homens ilustres que, obviamente, podiam pagar alto prego que ck exigia. E possivel, porém, que essas cifras mencionacas, bem como as de outras hetairas, sejam wm exa- fores que viveram séculos mais tarde. De qualquer modo, 0 fato é que as hetairas eram muito hem pagas ¢ disso resultava que adotavam um estilo de vida suntuoso, vivendo em mansdes ricamente mobiliadas e deco- radas, com escravos A disposicio (embora nao pudessem pos- os legalmente). Sua fortuna consistia exclusivamente em dinheiro, uma vez que, como mulheres, nado podiam adquirir bens iméveis. Diz-se que Frinéia, depois da destruigio de Tebas pelo exército de Alexandre, 0 Grande, propos que a cidade foss suas expensas, com a condigio de que fosse colocada na entrada da cidade uma inscrigao declaran- do que: “Alexandre destruiwa e Frinéia, a hetaira, reconstruiua” (Atencu, XH, 591d). Averdade da afirmagio pode ser questionada, mas 6 certo que Frinéia dedicou uma estitua de Eros ao tem- plo desse deus em Téspias, na Beécia, sua cidade natal. Os habitantes de Téspias, para agradecé-la e homenageda, ¢1 greramthe uma estitua de ouro no templo de Apolo, em peTes obra de Praxiteles, que portava a inserigdo: “Phnjne tretrconiscne nena ee sia Catena, Va going aS ess dos res Arquidamo e Filipe va cobrar ¢ gero de ese -construida ie tara Cotina dedicou uma estétua sua ¢ uma estatua ered Me uma vaca ao templo da deusa Atena, em Esparta, Faget ainda menciona outras extraordinarias oferendas, -Aaieratingtas, fits por hetairas famosas lo assim, as hetai A cio naaent gat #8 hetairas procuravam ascender de post tratmatons 1h num esforco de superar as experiéncias ter de une ae tm Infancia miserével e, muito provavelmen- Passagem pela prostituicio vulgar, A mera riqueza (irr As Hetairas + 97 io era suficiente n ira. atingir esse propésito, mas a fam: sim. Outra forma de emacs ereeees os e Scasionalmente sua vida) a personafiades hustres como por Iiticos, estrategos, artistas e filésofos, ‘Conhecemos alguns desses famosos casais: Aspssia (se, como dissemos, cla foi, de fato, uma hetaira) ¢ Péticles; Fringia CPraxiteles (..c Hipérides, ..c Apeles); Timandra e Aleibiades; Ledntion ¢ Epicuro; Tais ¢ Alexandre, 0 Grande; Glicera ¢ Menandro; Mania © Demétrio Poliorcetes; Agatocléia ¢ Ptolomeu IV, € muitos outros. ‘As hetairas, principalmente no perfodo classico, eram protegidas pela elite ~a qual serviam ~ por causa de seus atri- Pritos fisicos € ndo por seu slalus moral. Xenofonte menciona o fato de que Sécrates externou, certa ver, 0 desejo de conhe- cer a famosa hetaira Teddote, sobre a qual seus diseipulos fa- Iavam freqiientemente. Entio, um dia enfim a visitou e admi- rou sua beleza, sua casa ¢ sua riqueza, mas quando a hetaira peditihe que viesse visité-la amitide, ele respondeu diploma- ticamente: “...Nao quero ser arrastado por ti: prefivo que venhas a ‘mim... e de bom grado receber-tei, se néo tiver comigo alguma joven mais querida” (Memoréveis, 111, XI) _ Segundo Ateneu, em sua juventude o renomado politi- co Temistocles, provavelmente num estado de embriaguez, colocou em seu carro quatro das mais famosas hetairas de sua época e conduziv-o pela agora no momento em que estava repleta de gente. Conforme se interpreta o texto antigo, pode- se depreender tanto que Temistocles havia colocado-as con- sigo, dentro do carro, quanto havia atrelado-as ao carro, no lugar dos cavalos! Alcibiades costumava andar em priblico acompanhado por uma hetaira, até que, por fim, envolveuse unicamente com Timandra. . Quando 0 orador Hipérides defendeu no tribunal sua amante Frinéia, acusada de impiedade, nao hesitou em desnuda ¢ expordhe a extraordindria beleza do corpo; 0s juizes, admirados com a bela imagem diante dos olhos, liber- taram-na. E digno de nota que 0 verdadeiro nome de Frinéia era Mnesarete, que significa “a que se interessa pela virtude”, lum nome inadequado para uma mulher que vendia 0 corpo Frinéia era um apelido que Ihe fora dado por causa da cor 19 + Amor, Sexo & Casamento Jada de sua pele (playna, em grego, é um tipo de sapo amarelo). Apesar disso, era muito requisitada, pois, para os gregos antigos, um belo corpo era mais apreciado que wma Bere face ou que a cor da pele. Por ter um corpo perfeito, Praxiteles utilizowa como modelo para suas estatuas de Afrodite, a deusa do amor. Pelo fato de serem as hetairas mulheres ¢ também nio- atenienses, elas precisavam de algum protetor ~ no necessa- amente de um proxeneta — que cuidasse delas quando se involvessem em escandalos ou em complicacdes (processos amarel jjuridicos, etc.). ; Por fim, 0 sonho de toda hetaira, mesmo da mais famosa dentre elas, era encontrar um cidadao abastado que a levasse para casa como sua concubina, onde poderia viver comoda- mente uma relacao semelhante ao casamento ¢ ter filhos. Este foi o caso da hetaira Neaira, que apés diversas aventuras, ter- minou vivendo com Estéfano, um cidadao ateniense, conse- guindo, assim, obter ilegalmente o status de esposa legitima, fato que resultou no to conhecido julgamento (Deméstenes, Contra Neaira) Diziase também que a mie de Temistocles, uma certa Abrétonon, da Tracia, era uma ex-hetaira ¢, igualmente, mae do general Timéteo, fato que ndo impediu a ascensio de ambos os homens aos mais altos cargos da vida ptiblica grega. Segundo Ateneu (XIII, 592 €), Deméstenes era afeicoa- do aos prazeres sensuais e vivia com uma hetaira, com a qual havia tido filhos. O préprio Aristételes, depois de se tornar vitivo, viveu com a hetaira Herpilis, a qual Ihe deu um filho, Nicémaco, para quem o fildsofo escreveu sua obra Ftica a Nieémaco (Ateneu, XIII, 589 c). Por outro lado, a Comédia Antiga fustigava as hetairas, Ree 7 gananciosas, mentirosas, astutas e depravadas, al como também 0 fizeram muitos outros escritores da €po- a Ne Rapae da guerra declarada pelos mesmos cfeculos (ps Omicos, escritores, etc.) contra Aspasia, @ ipanheira de Péricles. A célebre Aspasia era uma imi em Mileto, na Jénia, a.C, Seu pasado pern igrante (métoikos), nascida que se estabeleceu em Atenas em 450 manece obscuro, Era uma mulher bela, As Heairas 99 inteligente, culta © perspicaz, Sécrates g sua habilidade ret6rica (Platio, Menétens) Ocserte fen escrevewrlhe uma obra, intivulida Aspasia, e Platarce fae emalta consideracio, apesar de nio ter sido seu contemporde neo. Contrariamente, 0s comedidgrafos apresentavamna como uma coneubina (Cratino, Fr 241), como hetairae como prostituta (Eupolis, F: 98) e ainda como proxeneta comum Gue mantinha um prostibulo (Arist6fanes, Os Acamienses, 524 ec Ateneu, XT, 569). Certamente, o propésito da comédia xa ridicularizar ¢ temas hilariantes como esse atrafam o inte- resse do piiblico. Ademais, muitos dos ataques contra Aspisia vyisavam, na realidade, ao préprio Péricles. ‘A partir da Nova Comédia em diante, as hetairas passa- ram a ser tratadas com maior tolerancia e até mesmo com simpatia, em algumas ocasides. Um exemplo tipico ¢ comé- dia de circunstancias A Arbitragem (Epitrépontes), de Menandro, em que a hetaira Abrétonon, uma garota bondosa, ajuda seu amante, Carisio, a encontrar o filho perdido. Pederastia ‘evemos esclarecer, desde o principio, que a pederastia D nao tinha um carater homossexual e, portanto, nao deve ser confundida com pedofilia, isto é, 0 abuso sexual de crian- cas. A palavra pederastia denotava a afeicio espiritual de um hhomem adulto por um garoto e, por conseguinte, ndo pos- sufa significado e contetido obscenos; mas era, a0 contrario, uma instituigio pedagégica plena de ideais. O fato de que a palavra tenha atualmente, em varias linguas, uma associacio sexual depreciativa, devese a uma interpretacio equivocada € nao a uma distorcio intencional, como veremos a seguir. FE bem sabido que, a partir do periodo pés-matriarcado, a homossexualidade desenvolve-se em todas as sociedades, antigas ou modernas, nas quais as mulheres eram (ou ainda sao) social ¢ sexualmente reprimidas. Isso ocorre entre todos ‘05 povos antigos, mas especialmente entre os némades ¢, na maioria das vezes, durante os periodos de migragao e guerra, ‘ou seja, quando as mulheres esto ausentes ou sao ultrapassa- das em ntimero pelos homens. Em sociedades militarizadas — como Esparta, Tebas ou Creta, por exemplo ~ os meninos deixavam suas familias numa ida- de bastante precoce (aos sete anos, em Esparta) para viver em comunidades militares, com garotos da mesma idade € m: velhos, ¢ aprender a arte militar. Além disso, um dos ideais da sociedad grega antiga era © cultivo nao 36 do espirito, mas também do corpo. Acredi va-se que ambos os ideais se correspondiam mutuamente, © provérbio nots hygiés em sdmati hygie (“mente si em corpo sio"). Desse modo, portanto, a pritica de exercicios const & tufa uma atividade obrigat6ria para os jovens e fazia parte de seu programa educacional. Daf decorre que, quer no contex- to das antigas organizacdes militares, quer nos gindsios e nas palestras!, onde os jovens se exercitavam, originowse um terreno propicio para o desenvolvimento da pederastia. Em outras palavras, enquanto a homossexualidade sempre havia existido, a pederastia € um fenémeno que comecow a surgit por volta do século VIa.C. e durou até o fim do século IV a. ‘A possibilidade de ser mais antiga nao esta descartada; as fon- tes, no entanto, nao fazem referéncias significativas, Em Homero nio ha nada que posst comprovéla, nem mesmo 0 minimo vestigio; e é certo que se pederastia exists se, ele a teria mencionado de algum modo. Devese notar que o estreito relacionamento entre Aquiles e Pitroclo € descrito na Tliada apenas como pura amizade. Esquilo, muito tempo depois (século V a.C.), em sua tragédia Os Mirmidones, fol 9 primeiro a atribuirhe uma conotagio homossexual. Atém dis 80, nada foi encontrado na arte do perfodo arcaico que mi, lave mola pov dav p= “aa wee ae cxeaan depos, Palma do bo pu =z coed) 102 + Amos, Sexo & Casamento pudesse provar que a pederastia houvesse existido anterior. ae nte, Os proprios escritores gregos também admitiam que mimmelhante pritica nao existia em tempos remotes, porque segos e os costumes nao haviam progredido o suficiente para que propiciassem o desenvolvimento dessa instituicéo fuaclano, Amores, 35), Como Plutarco afirmou, a pederasta surgiu quando os jovens comecaram a treinar nas palestras ¢ nos gindsios (Plutarco, Brotikés, 751). No periodo clissico, quando filosofia, poesia, miisica ¢ atletismo estavam em constante desenvolvimento, os homens fornavam-se cada ver. mais refinados, tanto do ponto de vista fisico quanto mental, enquanto as mulheres permaneciam ex- clufdas de todas essas atividades. Desse fato resultou que os homens nao tinham o que compartilhar com a esposa; sem- pre encerradas em casa, as esposas mantiveram uma simplic dade de carater uma estreiteza mental, além de nao cultivar ‘0 corpo por meio de exercicios ou atividades fisicas. Assim, os sgregos, que sempre haviam sido amantes da beleza, nao tive- ram outra escolha sendo se voltarem beleza ¢ & harmonia dos bem-reinados corpos masculinos. Esse é © motivo pelo ‘qual eram esculpidas, na Antigiiidade, principalmente estatuas de nus masculinos. Por outro lado, o corpo nu feminino co- mecou a ser representado na estatudria somente na metade Jp do sécutotva.C, comas primeiras estétuas da deusa Afrodite (fig. 45). O corpo, portanto, era exercitado nos gindsios € nas pa- lestras, ¢ 0 espirito era cultivado nas escolas. Essas tiltimas, no entanto, ministravam apenas os conhecimentos basicos, isto 6, a escrita, a leitura, a aritmética e a miisica; enquanto a filo- sofia era ensinada em escolas especiais. Mas como, entio, 05 Jovens, 0s futuros cidadios, seriam instruidos? Quem ensina- ria a0s jovens os segredos da vida social, as fungGes do Estado, 0s bons modos, os valores éticos, a virtude, mas também 0s percalcos ¢ os perigos da vida? Como, sozinho e sem ajuda, © jovem estabeleceria contatos e amizades que o auxiliariam € 0 apoiariam mais tarde? _Em vista disso, esse jovem precisava de alguém, além do mentee de gindstica € do seu professor. Seu pai, certa + nao podia assumir tal encargo, pois estava quase rarnenevenaniere nena = ez ue ela nstrugio. Por haqueles tempos, a fae ncdo que a caracteri- zariam mais tarde. Ela era sobte- tudo uma unizo frigil e pouco es tavel, o que aimpossbilitava de de- sempenhar seu papel pedagégico Essa lacuna foi, conseqiiente- mente, preenchida peta pederastia, que era uma instituigio pedagogica: ‘um adulto educado era encarregado de transmitir seus conhecimentos experiéncias a um adolescente (éphebos) ¢ de ajudé-lo a se tornar um cidadio responsavel. 0 adulto, por sua vez, admirava e desfrutava a beleza, a forga.€0 vigor do joven. Havia, pois, uma transmissio recfproca, criada para beneficio de ambos. O conceito de que tanto a forca, a coragem, 0 conheci- mento e a virtude podem ser transmitidos do mais velho € mais experiente ao mais novo ¢ inexperiente, quanto o vigor do jovem pode ser transferido ao mais velho, por intermédio de uma estreita relacio, é antiqiifssimo. A antropofagia das sociedades primitivas também re- pousava sobre esse mesmo principio. ‘Vese, por conseguinte, que a pederastia era uma instituigao de ideais nobres € elevados. Por essa mesma radio, nao deve ser identi ficada com 0 homossexualismo, Fisso o queadiferencia de qualquer ‘outra instituigao: similar encontrada ‘era desprovida outro lado, mila ainda ce cee ADL NSN ONAN em qualquer outra civlizacio de qualquer época. O termo pederasia & composto a partir das palavras pais ("crianca") € ‘erin (“amar”). ‘A pederastia seguia um conjunto concreto de regras. Nesse relacionamento, o adulto era denominado erastés (Camante”) € 0 adolescente, erdmenos (“amado”). O erjmenos devia ter entre doze € dezoito anos. Qualquer relacionamen- to com um garoto mais jovem ou mais velho que essa faixa etdria era inconcebivel, pois é a partir dos doze anos que a crianga entra na puberdade, periodo no qual comeca a formar sua personalidade ¢ no qual justamente mais necessita de um instrutor. Por outro lado, a continuidade do relacionamento_ depois dos dezoito anos era considerada inaceitavel, para pre- venir que casualmente se transformasse numa relacio ho- mossexual. (O erastés devia ter acima de vinte anos, 0 que significa que jé havia ultrapassado 0 estigio de erdmenos, tendo adq Fido, assim, suficiente experiéncia social e formacio cultural para que pudesse transmitilas aos mais jovens. O encontro ¢ o primeiro contato ocorria nos gindsios ¢ ot Lemar ee (8 jovens se exercitavam sob a supervi paidotrizes (“pedortiba’, o instrutor de gindstica). Ali, 05 eae odkam Berend 0 jovens se exercitando desnudos, Saas corps harmonies, bem como suas habilidades€ ee ae whey ron 4 frastés se aproximava do Zero due espera sa adiraco etentva ober se as los presentes, como vemos nos Pederastia + 105 sae gest Ta ne Seat ee Fertig orl ereenaad ae Escavagées da Agora’. vasos da época. Esses presentes tinham cariter simbélico pedagégico. Presentes simbélicos eram a coroa, simbolo do mérito, do cardter e da capacidade, ¢ 0 galo, simbolo da forca e da virilidade. Uma vez que o galo era empregado nas rinhas, por ser um animal agressivo, ele também ensinava aos jovens © espirito de combate € a agressividade, elementos indispen- sdveis para inspirar a virtude guerreira nos futuros cidadaos, tendo, portanto, um valor pedagégico. Além disso, era tam- bém 0 simbolo da capacidade sexual masculina, Outro ani- mal que tinha significado pedagégico era a lebre (fig. 46). © jovem costumava libertar a lebre ¢ depois soltar um cio em seu encalco, descobrindo, assim, a alegria e o prazer da caca ‘Outros animais oferecidos como presentes, que também estavam relacionados & caca, eram cervos, passaros, cies € $3 tos selvagens. Presentes de valor pedagégico eram as tabule- tas para escrever, os instumentos musicais (lira, ete.), 0S dis- cos de arremesso, os stlengides (espécie de raspadores utiliza- dos nos banhos) ¢ 0s frascos de dleo para ungir 0 corpo. Por fim, um presente que também constituia uma prove de admiragio SPLINTS IM NNN NNN era o vaso com o nome do garoto inscrito nele, seguido pela palavra kalés (“belo”). Muitos desses vasos chegaram até n6s, todos datados do periodo no qual a pederastia surgi ¢ pre- dominow (fig. 47). Esses vasos eram feitos sob encomenda, ‘mas também havia uma produgio industrial especializada, quer contendo a inscrigio pais halas (“belo garoto”) — qu Fa adequado em qualquer ocasiio ~ quer com os nomes dos tnais belos jovens de Atenas, pelos quais, seguramente, havia tuma grande procura por parte dos seus candidatos a erastés __O emasés exprimia, portanto, sua admiragio ¢ sua prefe- ‘éacia por meio ce presentes, enquanto o enjmenas, de aco do com as regras ndo-esritas da pederastia, rio leva se ma reams apenas nats uma estima wana aeigio amist™ Selo eats Dessa forma, a relagio era unilateral, € 0 got 'ampouco participava do ato sexual, como veremos a seguit: O relacionamento e gualdade, ou seja, entre um adutto com formacao enty tum jovem sem 1. Taso expe kmasio cultural relacionamento nio poxtia continnar depose eee ir a maioridade, aos dezoito anos, nace eno de des ariam de existit. Em algumas ocasies, se 0 relicionamente prosseguisse, provavelmente se converteria numa relagio he mossexual entre dois adultos, algo considerado inaceitivel do ponto de vista social, Enquanto durava o relacionamento, 6 easésensinava a0 eximenos a8 maneiras de comportamento, as regras de corte. sia, os valores morais, a disciplina, mas também as nocbes bie sicas sobre a vida social, legislacio e os negécios exteriores da cidade. Além disso, iniciava-o no mundo da Arte € do Teatro, coisas que niio eram ensinadas na escola, porém eram indi pensiveis para que tm jovem se tormasse um cidadtio com conviccio, discernimento, carater ¢ virtude. ‘A partir do que até aqui foi exposto, cheguse facilmente Aconclusio de que a pederastia baseavase numa ligacio espi- ritual e psiquica, enquanto a atracio fisica permanecia subor- dinada e subjacente ¢ compreendia apenas algumas discretas manifestacdes de paixio por parte do eras. ‘As fontes escritas raramente mencionam esse aspecto do relacionamento; dispomos, no entanto, de representagées pictéricas retratadas em varios tipos de vasos. Neles, vése freqiientemente os adultos bolinarem os drgios genitais dos garotos, mas nunca o contritio, O préprio ato sexual ocorria Ge € quando ocorria) exclusivamente entre as coxas do jor vem, na posigio intrafemural (fig. 48). Todas as cenas rel rentes ao ato concordam sobre esse ponto. Nio hii nenhuma que retrate a penetracio anal. As representagbes pictoricas que retratam ow contém cenas de penetracio anal nao em relagio alguma com a pederastia: referemse a eriaturas iticas, como sitiros ou silenos, on entio retratam cenas de banquetes envolvendo prostituicio masculina. © ato intrafemural do eniimenas era o xinico permitido, de acordo com as regras ndo-escritas da pederastia, mas tame bém de acordo com os cddigos moral ¢ social. As razdes para } Por principio, baseado na de Pederastia © 107 y TIRAVERIEPNN RV eRNIENTNraR MONT ren Pee 108 + Amor, Sexo & Casamento ~ ss0 sio simples ¢ ficeis de ser entendidas. Segundo a concep- cio predominante naquela época, a penetracio anal rebaix: ria 0 jovem aspirante a cidadio 4 posicao da mulher, pois consideravase a penctracao do pénis, quer na vagina, no nus ow na boca, um ato agressivo, que denotava poder —uma agao conveniente apenas para os homens, Em contrapartida, 0 ato também significava a submissio e a passividade da pessoa que cera penetrada, Mas assumir um papel submisso e passivo era adequado apenas para as mulheres ¢ escravas, Julgavase in- concebivel, portanto, que um futuro cidadao se submetesse a tal humilhacio, rebaixandose a desempenhar 0 papel da mulher. Nao era algo considerado imoral, mas algo socialmen- te inaccitivel. Apenas com mulheres livres ¢ escravas poder seia ter esse tipo de relacio sextal. aa fae feared as qe nan ser atribuidas a “epravada) cca Paws datapigon Cegenerado”, Tin og sigan akties ns kayo") Suni cage mae toraarian cidados responses a ‘cos ¢ administrariam as finangas do Estado, pois um ato como es papel de objeto, 0 que era que Ihes se ‘0 contato entre as coxas do erimenos, Outro importante elemento era a nao garoto, que, associada iava sta posico do papel das mulheres, dos homossexuais e dos que se prostituiam, ou seja, dos parceiros sexualmenta passivos. Todos 08 vasos que chegaram até nds concordam nese aspecto. Enquanto 0 erastés € representado com o penis ereto ou consumando 0 ato entre as coxas do erimenos, 0 p= nis desse tiltimo esta sempre flicido (fig. 50). Além disso, a expressio da face do garoto ¢ sempre distante e indiferente, enquanto a face do erastés revela paixao. Se o jovem se delei- tasse com esse tipo de ato sexual, seria considerado um prostituto € enfrentaria a desaprovacio geral. O fendmeno da pederastia tem sido explicado de diver- sas maneiras ¢ formularam-se varias opinides sobre seu signi- ficado. E preciso, porém, acentuarmos, uma vez mais, que sua amplitude foi delimitada a uma época ea uma classe social, ¢ que 0s esporadicos casos de abuso sexual de criangas nao ca racterizam essa instituicéo como um todo, nem deprecia, 0 minimo que seja, 0 seu carater. Cronologicamente, a pederastia esta delimitada entre os séculos VI ¢ IV a.C,, ¢ era encontrada somente entre os mem- bros das classes superiores. Nao poderia ter sido de outro modo, uma vez que desempenhava um papel pedagdgico e, Por conseguinte, as classes mais baixas dos agricultores, dos trabalhadores manuais, dos metecos (métviko’) ¢ dos escravos estavam automaticamente exclufdas, por serem desprovidas do status cultural ¢ moral exigidos. . . Os metecos ¢ os escravos, em particular, no possuiam nem mesmo direitos politicos e, por conseqiiéncia, nio tinham 8 conviccao civil necessiiria para 0 propésito pedagégico da Pederastia (Esquines, Contra Timarco, 57). Os textos antigos que tratam desse tema referem-se apenas 20s cidadaos ricos € nobres, dl Panticipacéo de inviolabilidade de seu anus diferch, | sa 110+ Amos, Sexo & Casamento Aken do mais, a pederastia era algo que exigia tempo ¢ digheira. O candidiato a erates devia pasar bastante tempo faas palestras © nos gindsios, onde os jovens se exercitavam, algo que indica que cle era uma pessoa abastada ¢ que dispu- ‘nha. portanta, de tempo livre suficiente. Devia também gas- tar uma quantia considerivel em presentes, néo 56 para obter © favor de um jovem, mas também para conservélo, ji que ‘enfrentava a concorréncia de outros candidatos a erastés. Vermox. assim, que a pederastia consumia tempo ¢ era ‘© que excluia prontamente as classes menos favorecidas dos cedadios livres. Platio escreve a esse respeito: “Os ementrs costumam fazer 0 balance des prejuizes materiais que hes possam ter cansade sua pixie ¢ as liberatidades de que deram procs. ¢ somando « tudo isso os trabathos por que passaram, conside- rams emplamente quites da gratidéo devida a seus amantes” (Fedro, ‘231 b). . (O fato de que a pederastia por veres implicasse atos se- suas € inegavel, mas isso no significa que o abuso sexual dos jovens era legal ou tolerado pelo Estado. Ao contririo, era Segal « acarretma scveras punigées, como demonstram mui leis especificas que exprimem a posicio da sociedade ¢ do Gante do fendmeno do homossexualismo em geral. tama delas. tal como ¢ mencionada por Esquines: “Se cirnionse w entoega como homessexual passivo, néo Uke serd permiti- &e wr excalhade como wm dos nove arcontes, nem assumir 0 cargo de secrete, nem atuar como advogade do Estado, an amen ed quer tipe dr cargo, quer na cidade, quer fora dela, quer por escotha, (que por sorte, nem ser enviado em misséo diplomética, nem cxrrcer seu devedto de oppnséo na assembltia, nem penetrar nos templos pribli- Gos, nem portat uma puirtanda nas festas em que isso ¢ habitual, nem entrar nos limites do lugar que tenha sido purificado para as mruniies do pws. Se algum homem, que tema sido condenade por homensexualisme, agn contrérie « esas proibicies, deverd ser conde. mado & morte” (Eacquines, Contra Timarco, 19), Para provar 0 quanto essas leis cram rigorosas, fossem aplicadas ou no, vamos mencionar 0 cas de Timarco, no discurso contra o qual Esquines invocou a tei acima descrita. Timarco era um cidaddo respeitivel, uma personalidade ralmente, que Timarco havia perpetrado 0 dette de peost tuicio, mas, de qualquer modo, os jurados foram perwad dos ¢ cle foi sentenciado a perda dos seus direitos potinces, com base em que “w wim hamem wend sew corpe, ao hewtard vender os intevesses da cidade” (id, 29). € tio grande fot a verge nha que Timarco semis por ext condenagio, que acabou re ole arastal de Esquines menciona outra lei que impedia o» Cometerem abusoa sexwain com on garotox “Os profesor ndo fader abv as excels antes do mace do sl ¢ der fet ‘antes que 0 sol se powha. Newhum aslo poder entrar 90 0 senes que sea filha, irado ou cunhade do profess Seaiguim, oPe sar dessa proibicda, entrar na excola, sa condenade & morte gtatento cm Canscamer Veronese r.UtO™O™OC— 2 + Amor, Sexo & Casament© 7 ; ss encarnngaios cas prestras no teria permitir vente com as cviances por ocasido das fstas de aoa vtas caso eles o permitann € 270 0s expule aemao considerados cuipados por wiolar @ lei concernente & ac cas lines... (ibid. . cr an a imbra uma outa lei de Sélon: Eequines também nos oe aan ense eometer um udtvajecontra ena crianga lore deve erent a penatade que considerarapropried ao ar san acu ja condenade, deer er enue os fre para ser excentado no mesino dia” bie, 16). . eames dle Solon é mencionada por Deméstenes: “Se ad vitotor quar crane, malier ou home = ones ow ar ove comater um utraje contra eles, deverd ser denunciado stad pr quagueratenense que o queirae tenho direto de Jaca Ose deve aprsenta caso, no praca maximo de tin sreiasa partir da acusacao, & Helitid® contanto que os negicios Jrbtcso permite; caso contri, ojulgamento deverd ser eftuado ta ag se possvel. Una vez que 0 ofensortenha sido julgado pela “Heligineconsiderado culpado, deverd ser imediatamente condenado 4iprivo on ao pagamento de malta” (Deméstenes, Contra Mezion, 4). Do mesmo modo, 0 que nenhum adultos Herines, sob pretexto alge Deméstenes também menciona uma outra lei de Solon, segundo a qual “Os homassexuais esto proibidos de participar, em ‘qualquer instancia, nos consethos do Estado” (Deméstenes, Con- tra Andrition, 30). Esparta, como anteriormente dissemos, os garotos deixavam suas familias aos sete anos de idade ¢ passavam a viver em comunidades militares com outros da mesma ida- de © mais velhos, para aprender 0 oficio de soldado. “© Os ono: jana encegada do pliiamenta da cidade de Atenas, & qual se subonlinaar @ ‘attco ofl (encarepdo das execybes por pena de mort), oF exterccos © os guanlas incumbidos de prender os malfeores (todas exes subordinadas cram craves pablico)- Cl Dito Ost de ca Cs de al Haney tera lis de al Hay. sa Gn Kr OE ‘Zahar editor, Riv de Jancino, 1987. (N, do'T.) ™ Leiba dia cde Atenas into por Son. Iniiahente, eau eb de 2seso cujon membros eram excolhios em toda as clases populares, Posteiorment, 10" so principal xg judicial, a corte suprema da detocecl te Os cirenes (ou hirenes), que e Pederaia® 113 « os, aa acompant MOS Mais nove ntre cles desenvolviam-se rel; See bretudo na devocio, O erastés era denominal devia obedecer aos consethos € as is papell trucies do mais ve uuma grande exigencia de pure ma reben ee pravactio era castigada com rigor: 0 exilio pe ere constitufam as penas a que estavam sujeitos os que e denados. O hstriador Elian reterene scanners nb tivesse « ousadia de aceitar um abuso contra si, ou se outro jem tentasse abusar sexualmente de outro, néo interessava a nenhum de- les desonvar Exparta. Nesse caso, eram exilados ow, 0 que era ior, condenados @ morte” (Eliano, Histéria Varia, II, 10). Plutarco complementa: “Se alguém é acusado de se aproximar (de uma crianca] com més intencdes, deve ser privado de sw honra(atimos) pelo resto da vida” (Phutarco, Instituicées Lacedeminias, 7,237 c), Segundo uma lei de Licurgo, 0 abuso sexual de criancas era terminantemente proibido: ..se alguém tinha dese sexual ‘por criancas, isso era considerado por Licurgo muito vergonhoso, € institui que os homens devem se abster delas (das criancas), tal como os ppais se abstém de seus prdprias filhos ¢ os irmias, dos irmiios” (Xenofonte, Constituicdo das Lacedeminias, Il, 13). Ainda sobre Esparta, escreve Maximo de Tito: “Os homens espartanos se apaixonavam pelos garotos espartanes, mas apenas como alguéi que se apaixona por uma bela estétua” (20,8 a). Herédoto, Tucidides, Plutarco, Diodoro Siculo ¢ outros também fornecem testemunhos sobre as penalidades por abuso sextual de criangas. Para concluir es ‘clam a lideranca sobre 0s ilai e capitulo, devemos ressaltar que a no bre instituigio da pederastia nio deve ser confundida com pedofilia, e que a homossexualidade na Grécia antiga era sim plesmente tolerada pelo Estado e, de modo algum, amplar es (ou hen 0 comand en ck ev 8,85) nha msde vias cia epeeey je pranes asks. Cf. Phare Or ern sole esis dss outta orn de jvens na comunidad 0, Lieu, XVI (N. doT) 114 « Amor, Sexo & Casament mente difundida, sociedade grega anti nem jamais constituiu um “padrio” da . jga! Os ocasionais incidentes sexuais da = snte punidos por lei. t ita eram, por sua vez, Figorosame! Peonseguinte, Mualquer tentativa de apresentar a homos- J Por erndnde ©-a pedofilia como fendmenos naturais, ampla- i ¢ sernte difundidos e aceitéveis na Grécia antiga, niio tem res- . mente diane das eidencas de uma leglacio tio Homossexualidade ae que comprova a aversio dos gregos pelas relacdes xu nio-naturais (para physin skhéseis). , Fe Al ‘Quanto ao suposto relacionamento homossexual entre munin: Zeus e Ganimedes (fig. 52), sobre 0 qual os homossexuais feivindicam sua origem, Xenofonte escreveu: “Eu digo que N 0 sabemos muito a animales foi lecado por Zeus ao Olimpo, no por sua beleca exterior, 1 espeito da homosse- nas por sua graca psiguica. Isso transparece através de sew nome xualidade feminina na (que significa no fisicamente, mas “espiritualmente encantador”, ¢ Grécia antiga, pois, em pri- porisso foi honrado pelos deuses” (Xenofonte, Banguete, VIII, 30). 4 meiro lugar, a sociedade era De qualquer modo, as diferentes opinides sobre a ho- » exclusivamente dominada mossexualidade ¢ a pederastia — que so formuladas de tem- pelos homens e, portanto, pos em tempos por varios escritores, principalmente estran- 08 escritores antigos esta- geiros (ndo-gregos), 0s quais tentam apresentar a Grécia anti- ‘vam muito pouco interessa- ga como o paraiso da homossexualidade € os gregos como 1 dos nas questées femininas; tendo uma atracio natural pelo préprio sexo ~ nao constituem ‘em segundo lugar, o homos- nada mais que a mera expressio de seus préprios anseios! sexualismo feminino era, obviamente, menos difundido que ‘© masculino, tal como nos tempos atuais. Dispomos de fontes , que fazem escassas referéncias ao tema, mas que so, de qual- quer modo, rejeitiveis. O dicionario de Suidas referee as mulheres de Mileto como “tribadese depravadas”, porque faziam sexo entre sie, de : fato, empregavam, com essa finalidade, o dlisbos, uma espécie de pénis artificial feito de couro macio. A palavra tribade (wribds), “aquela que esfrega, que roca’, significa lésbica e € derivada do verbo tribo (“esfregar”, “rocar”), por razbes Sbvias. f Outras palavras que tém a mesma denotagio eram hetairstria € dietairéstria, ambas derivadas de hetaira. Em latim, 0 respecti- vo termo € frictrix, derivado do verbo fricare (“friccionar”) © termo que prevaleceu em quase todas as Iinguas, po- palavra grega lésica, derivada da IIha gregade Lesbos, a patria de Safo (fig. 53), que é erroneamente considerada como a sacerdotisa, por exceléncia, do amor homossexual ferninino. Pent semearrieenrmen acon ONDINE re eA NN AAS AAAI * eorsrsnseareyenrenann Luciano também diz que certas lésbicas utilizavam 0 p&- nis artificial (6lishos) para fazer sexo entre si. No diilogo, Clondrion ¢ Leaina, de sua obra Didilogo das Hetairas, hii uma descricio explicita de uma cena com Iésbicas. Leaina, uma tocadora de citara, narra A sua amiga, Clondrion, o que se passou na casa de Meguila, uma rica hetaira de Lesbos: [Leaina e Deménassa, a corintia} ..pedivam-me que focasse citara. Quando terminei de tocar, era muito tarde ¢ elas jé estavam ‘embriagadas, entéo Meguila me disse: ~ Hora de dormir, Leaina, ej que é tarde, fica aqui e dorme conosco. Vamos colocarte entre nés duas ... ~ A principio, beijaram-me como ‘homens, no somente nos libios, mas tamié dentro le minha boca, ssegoram ‘meus seios ¢ Deménassa, até mesmo, mordia-me em meio ‘aos seus Beijos... Depois de um tempo, Meguita, que jé estava inrabecidatow a eraca gue arta eque no parent, de modo algum, ¢ se mostrou com a cabeca completamente raspada, tal como as atletas muito viris. Fiquei com medo, mas ela me disse: ~via alguma ves, Lenina, algum rapa ta formoso? ~ Mas Meguila, ndo veo aqui rapa: algum — dissethe. Homosexualidade Fem v q = Naio me chame de Meguila ~ rtorguie com Deminasa, qué minha pase aw eine = Enid, Meguila, & wm homem ¢ né . homens fazem? _— = Nao Leaina, nao. tenho, mas nem preciso diss. Fy 7 ei eet sven in nt — Porventura, entéo, és um hermafiodita, daqueles que disp dos dois? — perguntei-the. uate ~ Nao, Leaina respondewme - nasci como todas as mul No entanto, meu caniter ¢ as meus deseos sd0 masculinos. Vem ‘para perto de mim e verds. E eu permit, querida Clondrion, que ea fecsecomigo tuto 0 que desejawa... Nao pecas que conte mais, pois séo cvisas tao vergonhosas (que, por Afodite, nao passo continuar... (Didloges das Hetairas, 5) Plutarco escreve que, em Esparta, mesmo as mulheres honradas, solteiras ou casadas, apaixonavam-se pelas mosas, sem porém esclarecer se se tratava de amor espiritual ou sextal (Plutarco, Vida de Licurgo, 18,9). ‘Nenhuma outra personalidade jamais esteve tio associ da.ao homossextialismo feminino como famosa poetisa Safo, ‘ou Psafa, como soaria seu nome no dialeto eélico local. Safo nasceu por volta de 6122.C., na ltha de Lesbos, talvez na cidade de Eressos ou em Mitilene, Denominada “a décima Musa” (Antologia Palatina, IX, 506), ela era, ao lado de seu compatriots, o poeta Alceu, 2 principal poetisa do século VI a.C. Sécrates, no Faro (235), de Platio, chamalhe “Sajo, a lela’, enquanto Alceu deserevet como “de cabelas negra, amevel ede fala doce como 0 mel ‘Ostus0s e 08 costumes das cidade edlicas, das quais Lesbos era uma, diferiam dos da Grécia continental as mulheres go- zavam de uma relativa liberdade que haviam preservado des- de 0s tempos homéricos e tinham, até mesmo, a posibilidade dle serem educadas em escolas especiais para garoras. Lem bremos aqui, a titulo de comparacio, que nem mesmo na er de ouro de Péricles havia escola desse tipo em Atenas. de Salo chamavaese Escumandronimo ¢ sua me, Cleis, Ela tinha trés irmios: Caraxo, que hava passado um 118 + Ars, Sexo & Cossmente e ee - ania de Naucrates, no Egito ¢ havia peg ears Dari, que Herédoto (II, 135) se casado cm 2 tre hetaira Rodope: o belo Lirico, que confunde com 2 oo escangao no Prytancion de Mitilene, e S qual nada sabemos, com excecao de seu Earigig treason com um tl Quérquilas daha de Andros ne segundo tradicio, reve uma filha com ele, & qual = ) 6 Some de sta me, Cleis. Safo envolveuse na Sia paiblica ve seut tempo e foi exilada, por algum tempo, na ‘Sicilia (India), pelo tirano Pitacos. Safe mantinba uma escola para garotas, uma espécie de pendonato, onde ensinava poesia, misica, canto ¢ danga. Pntemeate, esas disciplinas ndo eram ministradas com BEkeaca de serir como qualificacbes para fururas profis- {eex mas apenas como conhecimentos gerais para contribuir Sr jscnvehimento da personalidade. A vida naquela escola, eas ds Musas”, como Safo a denominava (Fragmento 136), ora comunitiria e toda vez que chegava uma nova garota ou (que uma aluna antige saia para se casar realizava-se uma Co- ‘pemoraczo, e Safo excresia um poema para a ocasia (Osnomes de suas alunas favoritas chegaram até nés, quer axats dos fragmentos de seus préprios poems, quer mencio- nados posteriormente por Maximo de Tiro: Guirina, Ais, Anaciiriz, Génguila, Arignota, Mnasidice, Eunice, Telesipe, Gorgi, Erana, Cleis. Afirmase que esta tiltima era sua filha, pois, sum poema, Safo se refere a ela da seguinte maneira: “Teako uma linda menina, que parece um ramo de flores douradas, (hii, me bem-qurmer~ niin [troc0] por todo 0 reino da Lidia, nem pele edonézcel [Lesbos] ( fragmento 88)*. E possivel, porém, que © poema se refira somente a uma aluna muito querida € que otermo “menina’ (king, em grego, € tanto “filha” como “me- Sina’) seja apenas uma expresso poética € uma manifesta: Sig ser Po nepal gue Sao sensi amor, afccao € Pace « 5 "eta piacipin dads da Cats, 0 “Salo da Cidade”, consgrato ee cae cares ares do Farad. Os vince srs era aclhion nee eifiio. * A extn des apne & de oan es : ‘ ral ness in ron, Teele de Mie. ‘Beate Si Po, WANN. oT) Teen ) ‘Homosexualidade Feminina * 119 “ eu prefiro, juro, estar morta ~ dla me deixava, ¢ entre muitas {agrimas media asin: ! quanto nés sofremos, Psappho! Contra a vontade, eu te abandono! eeu Ihe espondi, entén: vai na alegria, ¢ guarda-me na lembranca: sabes bem como nos prendemos a ti, do sabes? Pois quero retirar do esquecimento, parati[ ] [J L J] quanto fomos felizes, (fragmento 8). ‘Uma de suas alunas mais adoradas era Atis (Atthis): ] de novo, Eros que nos quebranta os corpos me arrebata, decane, iene rete i I quando pensas em mim, sinto que ja néio me queres, Atthis, e para os bracos de Andrémeda-voas{ "(fragmento 18) Outra aluna favorita era Mnasidice (Mnasidika): J Mnasidika, de mais belas formas Que a deticada Ghyrimno [ (fragmento 48). E Génguila: Jeu te pero [ y Gén}ghylal i 1 Enquanto o desejo, de novo [ a tua volta flutua a beleza ~ e vendo seu vestido, wrémula tu ficaste, eeu me alegro; ‘até mesmo a sagrada dewsa nascida em Kypros [ (fragmento 56). ‘s¢ Casamento 120 + Amor, Sexo questionsivel se es natureza a, tal como plo, as relacdes cus disefpulos. E,entretanto, sas relagoes eram de sexual ow platoni ceramn, por exe de Socrates com st Safo escreveu sobretudo monodias (poemas cantados a0 também som da lira), spitaldmios (cantos nupciais), bem como epigramas € iambos. De toda sua obra, apenas uma ode completa se salvou. O resto chegow-nos apenas em carter extremamente fragmentitio, O sentimento intenso € a atmosfe- rasensual de sua obra alimentou 9 mito sobre sua vida pessoal € sobre as relagdes fntimas que t= ria tido com suas alunas. Seus temas versam sobre a separaciio, a solidao, a velhice e, princi- palmente, sobre o amor: sempre expresso com grande simpli Fidade, as veres com ternura, s vezes com ardor apaixonado. ssa grande mestra e poetisa (fig. 55), considerada tio cexcepcional quanto Homero, teve um fim trigico: suicidouse na Ilha de Léucade, num lugar denominado Alma Sapphas ("Salto de Safo"), pois oi do alto dessa rocha que ela se prec pitou para o abismo do mar, por causa do amor nao correspondido por um certo Fan”, O geégrafo Estrabio es creveu a respeito: “Léucade possuia wm templo dedicado a Apolo Leukas ¢ também o famoso “Rochedo do Infortiinio", de onde se alee ee incurdiveis e néo correspondidos (X, 452). In ‘ona ter sido desse local que Safo se atirou ao mae por causa de seu vclento desejo (Anta) pelo desdenhoso ene ato que evanta sérias objegdes versio mais di- ‘obre seu interesse exclusivo pelo sexo feminino! Tas de una eda dif "Td wel difnilasbedpo poe mis A mur do esas como mer inven. (N.doT) Homosexualidade Feminina m4 (Os argumentos para suit suposta inclinagio por mulhe- res baseiam-se em certas passagens de sua poesia, que, como dissemos, chegot-nos num estado muito fragmentario. Seg ramente, uma evidéncia insuficiente para se chegar a uma tal conclusio! Ao contrario, nao somente Safo foi casadla~ pro- yavelmente teve uma filha ~mas também se suicidou por car Eade seu amor nio corresponclido por um homem. Acredit mos, portanto, que Safo foi mal compreenclida, seni inten- cionalmente denegrida, por determinados escrito" E significativo que nio exista nenbuma representa sasos antigos que retrate mulleres em relagdeshomosen"r © que demonstra que nao hava interesse sobre Ess FO de tena nem por parte dos artistas, nem por parte lientela. ‘Conseqientemente, nao temos indicios de Ait © homossexualismo feminino tenia encontrado, naa Ft ida dle grega, um ponto de apoio no campo artsticn 0 1 filolgico. nec tC ONTO “ervaoavsevervaaraensansa i Glossdrio Agapes: 1 ~ Ceias comunitatias dos primeiros cristios, despro- vidas de carater litirgico, sem nenhuma relagio com a cele- bracio dos mistérios da eucaristia sagrada. 2- No singular, amor (no conceito cristo). Agoré (“Agora”): principal praca ptiblica no centro da cidade, onde se situava 0 mercado, Local de reunides. Agorandmos (“agorinomos"); oficial encarregado do controle de precos, bens e servigos oferecidos. Andrén (*androceu"): local da casa reservado exclusivamente para os homens. Apokalyptéria: 0 ritual da retirada do peplo nupcial e 0 desyelamento da noiva, bem como os presentes que Ihe eram oferecidos imediatamente apés essa cerimé: Apotropaiié (‘apotropaico”) ou apotrépaic: amuleto para desviar omal, Arkhon “arconte”): um dos nove ofici vam a antiga Atenas. Baubn: ver élisbos. Démos: um pequena ou grande regio que se autogovernava € seus habitantes. Ekdosis: a entrega da noiva a familia de seu futuro marido. Engjesis: no periodo pés-homérico, uma espécie de contrato de casamento nao-escrito (verbal). Epaillia (“epaulia"): cuja etimologia provém do diminutivo de épaulis “lugar para passar a noite”), designava também o dia seguinte ao casamento. Epigania: 0 direito de se casar com atenienses, concedido por Atenas aos seus aliados. eleitos que governa- Glossitio + 123 Epikles: a filha que recebia a heranca de seu pai, porém a centregava, pelo casamento, a0 seu parente mais proximo, uma vyex que nio tinha 0 direito de possutla, administra ou vendéla, por nio dispor de quaisquer direitos, do ponto de vista juriai- co, numa transagio comercial. Epinetron: instrumento de madeira utilizado para elaboragio do fio de li. Epithaldmion (“epitalamio"): canto da primeira noite de niip- cias entoado pelas amigas da noiva. Fastés: na relagio de pederastia, o adulto que ama e instrui o garoto. iErémenos. na relacao de pederastia, 0 garoto que é amado € instruido por um adulto. Eros: intenso sentimento de atracao por alguém ou por algo. Igualmente, o deus da mitologia helénica, freqdentemente representado como companheiro (ou filho) da deusa Afrodite. Gamelién (*Gamélion”): 0 sétimo més do calendario atico, que corresponde ao perfodo compreendido entre a metade do més de janeiro metade de fevereiro. Gymnésion (“gindsio”): local especifico onde os jovens se exercitavam. Gynaikonite (“gineceu” mulheres viviam. Hédna: nos tempos homéricos, os presentes concedidos pelo candidato a noivo ao seu futuro sogro. Hermas. estelas quadrangulares de marmore encimadas pelo busto do deus Hermes e com um falo abaixo do busto, erigidas nas esquinas das ruas, nas estradas e em frente as casas, algumas delas com inscrig6es de preceitos morais. Hetairas. prostitutas refinadas e dispendiosas. Hier Porneia: *Prostituicao Sagrada”, uma institui antiqiissima em que as “escravas sagradas” (hierédoutoi)tinham TelacOes sexuais, mediante pagamento, com quem quer que assolicitase, Desse modo, o ato sexual era praticado em honra A deusa, de acordo com o simbolismo eas associagdes de carter magico-simpatético, € proporcionaria fertilidade a todas as mulheres, fertilidade da terra e, por extensio, prosperidade da cidade. ‘posento especial da casa onde as 124 + Amor, Sexo & Casamento Hierédoulok: “escravas sagrada’, prostitutas do templo de Afrodite, em Corinto, onde © grada® (Hieni Porncia). Hienis Gamos.“casamento sagrado”, rial ag fertilidade ¢ a renovagio da terra, Hyménaios (*himeneu”): canto nupei cissio do casamento. Kalés: “belo”. Palavra escrita nos vasos pr uum jovem. Katapygon: “depravado”, que praticava atos sexuais contra a natureza (para plyjsin aseles), «homosexual passivo. A pior difamagio para um h Katakhjsmata (“cataquismata’): figos secos © nozes que ¢ ancados sobre a noiva, como o ritual do lan nos nossos casamentos (para garantir fertili dade aos noivos) Kittabos (“e6tabos"): espécie de jogo feito com o vinho. Em uma bacia de bronze atiravase o resto do vinho que era bebido num cilice, sto é, numa taca de duas algas ¢, simultaneamente, aquele que o lancava pronunciava 0 nome da pessoa amada, Pelo som que a bacia de bronze emitia, adivinhava-se o quan- to se amava a pessoa cujo nome era pronunciado. O cétaboera praticado durante os banquetes. Kiylisc uma espécie de cllice raso para € duas alcas, usado como taga des Loutrophoria: ritual do transporte de agua para a purificagio da noiva antes do casamento. Loutrophiros (“Iuuréforos”): vaso especitico empregado no ritual da lowtrophoria (“lutroforia”). Uma eépia dele era empregada como oferenda finebre. Métvikos ("meteco"): homens ou mulheres livres, de proce- déncia estrangeira ¢ que, por esse motivo, eram desprovidos de direitos civis e politico: Nymphagogia (*ninfagogia”):a procissio de ‘anoiva era levada da casa de seu pai Nymphedtria *ninféutria” geralmente a melhor Oikos: “ca cilio, famifia, propriedade. NCNPNN NINN NLN IN LRN nt exercida a "Prostituigio a. io relacionado a entoado durante a pro- ‘dida do nome de mento d lade © prosperi- nho, com a boca larga bebida. aumento na qual do seu marido. ‘asa __—— Glosstrio #125 » de tamanho médio u jlizado para icoe"): Oinokhie (oie se ho. Olishos (ou haubény: pen precursor clo “vibrador”. vedivastia: lacie segundo a qual umn adulto instruido assuria encargo de inst Paidotribes (“pedourib feito de couro macio, 0 ‘umn garoto («febo). ia”): professor de gindstica, encarregado de ministrar educacio fisica para os garotos. ‘Pais amphithalés: menino cujos pais deviam estar vivos, encar- regado do ritual da distribuigio de paes durante a ceia de nento. Palaistra (“palestra”): local especifico onde os atletas treinavarn pancriicio (“boxe”) lutaivr Pirokhos (“piroco"): 0 “padrinho de casamento” do n geralmente seu melhor amigo. Perirrhantérion (“perirrantérion”): recipiente com agua destinada ao ritual de purificacio. Pils de acordo com a concepeio antiga, conjunto de cidadios, cidade-Estado. Pome. « prostituta comum, ‘dote”, presentes de casamento ofertados pelo noivo ao seu sogro. Condicao indispensavel para que o Proika (“proica”): Prytaneion ( *Pritaneu”): nas principais cidades da Grécia, 0 “Salo da Cidade”, consagrado a Héstia, onde ficava a lareira do Estado, Os visitantes ilustres eram acolhidos nese edificio. ‘Sympdsion ("simpésio"): jantares organizados exclusi para os homens, seguidos por beberagem de vinho, discusses € Passatempos que, na maioria das vezes, terminava em orgias, com a participagio das indispensiveis hetairas. Tilanton C*ralento”): 0 talento (pl. télanta=“talentos") equivalia aseis mil dracmas. Ent também uma medida de peso, equivalente a aproximadamente 37 kg. ‘Tribas (“tibade”): “aquela que esfrega, que roga Palavra derivada do verbo énibo (“esfregar”, “rocar’). lésbica,

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