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Estruturalismo — histéria, definigdes, problemas” Resumo 0 objetivo do presente arti- go! consiste em tragar uma vistio breve € geral do que podemos de- limitar como pensamento estrutu- ralista. Para aleangé-lo, iniciare- mos retomando um pouco da his- (ria do conceito de estrutara.e sua definigao especifica no estrutura- lismo modemo. Em segundo lugar, procuraremos percorrer trés es- pécies de criticas direcionadas a0 estruturalismo: uma critica a seu método, umacritica epistemol6gi ca e outra de cunho filosético. = Brvewatien Léa Silveira Sales Universidade Fedoral de Sao Carlos Abstract This article aims at giving a brief overview of what we can single out as the struc listic thought. In order to do so, we begin with by presenting a brief history of the concept of structure and its specific defi nition in moder structuralism. In addition, we will try (0 eva- Tate three kinds of eritiques to stracturalism, namely, a critique as (0 its method, an epistemo- logical critique, and a philoso- phical one. ior, Staion, problems " Este atigo fz pare de sma peguisn fnaeinda pela CAPES. vo a oiento do professor Dr. Richard Theaen Shane Revista de Cidncias Humanas, Florianépois: EDUFSC. 1.33, ».159-(88, abl de 2003, 160 — Esrumralisna ~_nisria defines. problems Palavras-chave: Estruturalismo, Keywords: Structuralism, French peasamento frances. contemporiineo. contemporary thought. A, Conse dos anos 50,60 podugecs ntlectais francesas viveram 0 que se denominow retroativamente de momento estruturalista, Esperanca de um espirito cient(fico para as Ciéncias Humanas ¢ contraponto & Fenomenotogia, o chamado programa estrutural suscitou o interesse a dedicagio de pensadores tio distintos entre si quanto, por exemplo, Lévi-Strauss, Lacan, Foucault, Althusser ow Roland Barthes -, mesmo que alguns dentre eles tenham negado veementemente este poss{vel rétulo. De qualquer forma, quer seja o termo estrutura recusado ou abragado, importa que, se quisermos compreender os desdobramentos do pensamento francés assim demarcado, teremos que visitar a questo “que € 0 estruturalismo?”, Torna-se necessério, entdo, tentar circunscrever & problemstica catocada por este modo de pensar investigando um pouco de sua hist6ria, algumas definigdes de estrutura e algumas ceriticas que Ihe foram dirigidas. Vate informat de safda que o que seré apresentado a seguir constitui apenas um entre tantos recortes possiveis e que, como tal, obviamente néo pretend esgotar o assunto, mas oferecer elementos que possam apontar diregdes de réspostas para a pergunta em jogo. Breve histérico Primeiramente, é preciso apontar a existéncia > (Geass peri ess eg clita se paras Gual se volta ointeresse. Segundo Pouillon (apud LIMA, 1970). po- demos falar de um “conceite diacronizido de estrutra” ede um outro conceito mais especitico, proprio ao esiaturalismo em Seu momento francés. ica claro, pelo resumo deste artigo, que se trata aqui de pen- sar mis detathadamenteo campo do segundo tipo de conceit, Quanto 20 primero tipo, retendemos apenas exbosar algamas linhas que The pertencer, pois, epesar da radicalidade de suas diferenga, ¢ possivel pensar que esse conceito diaeronizado de estruturafornega uma espécie de pano de fundo para © que queremos analisar Revista de Cigncies Homans, Florisngpols: EDUFSC, #.33, .1S9-188, abril de 203 ta Steir Sate 61 Segundo Bastide (1959), a palavra @@SMEUEDD ter sua origem no latim structura (do verbo struere = constrain), € sex primetro sen- tido vorn da arquitetura, significando a maneira como um edificio é construfdo. A partir do século XVII, seu uso sofrev uma expansio que ocorrew em duas diregdes: em diregao ao homem, especialmente por meio de uma comparagio de seu corpo com uma constragio arquitetOnica, © em diego as suas obras, principalmente a iingua Fazendo teferéncia a existéncia de um conjunto que pode ser pensa- do em termos de suas partes componentes ¢ ainda as relagdes que esas partes estabelecem entre si, a estrutura ganhou tetreno na ‘Anatomia © na Gramética. O que explica essa expansio do term para outras disciplinas além da arquitetura € justamente a riquez Cat Foren or um métode comparativo, ou seja, € possive reproduzir, de forma abstrata,o plano segundo o qual o objeto é con: titufdo para reconhec8-lo em outros conjuntoe, o que toma possivel cotejamento entre diversas totalidades (BASTIDE, op. cit). Essa idéia de estrutura seria sindnima, de acordo com Pouilton (op. cit.), da ogao de harmonia, ¢ 2 observagzo empitiea seria suficiente para ‘captara escrutura, pois ela pertenceria & ordem do vistvel. Os termos estrutura, organizagdo, agencimento das partes e arranjo dos ele- ments sto substituiveis Sem perda de significado. ‘A ampliagio do conceito de estrutura para o &mbito das Cincias Humanas, ainda seguindo Bastide (0p. cit), s6 foi efetivada no século XIX com Spencer, Morgaa e Marx ¢ alcangou a consagracio na obra de enicer toma do modelo biol6gico os insuimos para forjar a ‘expressao “estruturas sociais”, que nasce, assim, de um contexto orga- nicfstico — ele pense a estrutura social em termos de organismo, apesar de ter insistido nas diferenas entre 0 organismo social ¢ 0 organismo biologico® Segundo Bastide (op. cit), Morgan, apesar de nao falar de estrutures, mas de “sistemas de parentesco”, estava mais préxi- mo de Lévi-Strauss porque se opunhe aquela tendéncia naturalistica, Fam pora Radcliffe Brown, mais recentemente aver uma corespondtnci signi ‘ava ente enue orginca¢ a estuura soci (CE LEVESTRAUSS. 1953, p. 34) Radclitve-Brown frou ts objetves para oestdo dos sistemas de paretescor lvanat tama classifica sistemfica,compreendr op wagon propos de cada sistema e angi evetalzages sobre 4 natureza da ssedade Revista de Cigncas Husnas, Florianépclis: EDUFSC, n 3, p.159-188, abel de 2008, 162 — Bar bisa, dfiniges, problemas De fato, é 0 préprio Lévi-Strauss (1953) quem o situa como fundador daquele que seria o dominio espectfico do etndlogo: 0 estudo dos sis- smas de parentesco. J a contribuigdo de Marx esté relacionada as 1as importantes definigdes das relagSes entre a base, a estrutura e superestruturas da sociedade. Lefebvre (1959) mostra que se Thecessério distinguir no projeto de Marx varios termos que corre} ponderiam aos diversos significados de “estratura” no estrataralis modemno, tais como sistema, forma, todo, individuo e a prspria pal vra estrutara, No inicio do séeulo XX, surge, entéo, desta vez, no seio da Psicologia ¢ refletindo uma postura de ‘oposi¢o A Psicologia funcional e 20 associacionismo. Inicialmente, foram descobertas estruturas légicas na Psicologia do pensamento da escola de Wurzburg, daf sua conclusao: “o pensamento é 0 espe- Iho da l6gica”. Para esta escola os processos mentais s40 conduzi- dos por uma estrutura cognitiva e motivacional subordinada a uma “tendéncia determinante” capaz de organizar o.pensamento. Toda- via, a estrutura em Psicologia foi bem mais fecunda com os traba- Iho de Psicologia da Gestalt desenvolvidos por Kohler, Wertheimer, Lewin e Koffka. O que existe para a Gestalt, desde o inicio, € a totalidade; os elementos psicologicos da experiéncia imediata nao podem ser pensados em si mesmos como se possuifssem uma exis- téncia prévia & estruturacao. Fra importante descabrir, com base 1na suposigao do isomorfismo psicofisico, 2s leis que determinavam ‘esse campo otganizado ~ leis da totalidade perceptiva, da boa for- ma, das relagdes entre figura e fundo, etc. No entanto, 0 método estruturalista, em sua concep¢o moderna na medida em que promove consequiéncias em todas as Cigncias Hum: nas, tem sus origem nos limites da Matemdtica e da Lingtistica. Aqu ina referencia importante & 0 Curso de Lingiistica geral de Saussu- re, obta resultant das anotagGes de seus alunos relativas 40s cursos que ele proferiu entre 1907 e 1911, e publicada em 1916, Se, para a vertente historicista da Lingtistice, compreender eraestabelecer a génese eo sentido da evolugdo das palavras, para Saussure, no Curso de Lingiistica geral, importava a inteligibilidade dos arranjos e d Goi velagao a0 condo deve parirale, of, Figuirof, 1991, p. 155 a 159, Piaget, 1968, p. 85 2 50 evisu de Cidncias Humanas, Floyanépelis: EDUBSC. 133, p.159-188, art de 2003 Leo Steir Sater — 168 Por influéneias vindas da economia, Saussure afirmava que a hist6ri de uma palavra nao dava conta de sua signiticagao atual. Essa inve sao das relagties entre sistema e histéria € introduzida, segundo R’ coeur (1970), pela distingao entre Kingua e fala, e termina na formal Zago de trés regras que serio generalizadas para outras disciplina: a idéia de sistema, a relagao entre sincronia e diacronia (com privil gio pard.a primeira) e o nivel inconsciente, nfo reflexive e no hist fico das leis que operam na lingua. A Lingtistica saussureana tem como objeto 0 sistema de signos constituido pelas relagbes de deter- minagao reciproca entre uma cadeia de sons (significantes) © uma cadeia de conceitos (signiticados): Nesta determinagao mitua, 0 que conta néo sto 19 fermos, considerados individualmente, mas os afastamentas diferenciais; sao as diferencas de som e de sentido ¢ as relagées entre ambos que constituem 0 sistema dos signos de wma lingua, (RICOEUR, op. ct, p. 159), ‘Apesar de Saussure ser muitas vezes colocado como o pai ismo, ele praticamente nfo usou o term ea difusdo de sua obra foi constantemen te mediada pela Escola de Praga, sobretudo por Trubetzkoy e Jako- bson. Certamente, nao se (sata apenas de uma questao de nomen- clatura, Ocorre que a concepgiio fonolégica com énfase na sintaxg mais respeito as caracteristicas centrais do estraturalismo t como se difundiu pelas diversas Ciéncias Humanas (como verem« adiante) do que 2 concepg%o ainda semantica de Saussure’, [sso reflete, por exemplo, ma recusa, por parte de Jakobson, da arbitrari edade do signo e no fato de que, enquanto Saussure confundia so ¢ fonema, Trubetzkoy dizia que o especifico do fonema nao era sé caréter puramente psiquico, mas que seu valor lingaistico resid exalamente em seu catiter diferencia! TE Risa op. cts p 159 Lita 1970". Suse oS tere importa feneiona pare 4 antropologis de LéieSrauss depois ou carclalaments co haver este apeendide a fle ‘rca das conelues dos linguist eusi.] 28 inisetaente Levi Srauts penn ot Saussure, ©, quando 9 far, ¢tragendo incorporedar ax rien proposes por True. key Jakobeos =} Revista de Ciencias Humana, Flsinspotis: EDUFSC, 0.38, p.159-188, abs de 2003 164 — Esuutallsmo Nesta esteira é Hjelmslev quem promove o estruturalismo como. programa fundado a nga a revista Acre Linguistica em 1959 T tetzkoy Jakcbson e Hiimslev diol a uma evolu epitome pape comeresareenestenenreeesraeiy orev, ted no eatin ato gue Ihe gare um caer verde mente cietfico Biya tides og poppers iecouel ecrentibons sani da Linguist come discipline piloto na degao de tas a Ciencias Humanas encontra seu primeiro solo na Antropologia por ocasiao do t&o famoso encontro, em Nova York, entre Lévi-Strauss ¢ Jakobson. E la que 0 filésofo convertido & Antropologia assiste as aulas do lingiiista aenusiloge elena a eputhee Laer Ouran ent correspondéneia formal entre a lingua co sistema de parentesco, quanto. apse cnet Na obra qu se toma referencia para © ue ser produzido em seguida. in poalelo a esss origens na Lingo, épos(vel seguir am outro afluente: a influéncia, sobre os pensadores estruturalistas, da- quela que é a linguagem forralizada por definigZo, a Matematica. Se- ‘gundo Piaget (1968), a estrutura mais antiga que foi conhecidae estu- dada como tal fot a “estratua de grupo”, desesberta por Galois, Vee. toos como Paget a define Um grupo 6 um conjunto de elementos (por exem- plo, 0s nimeros inteiros, positvas e negatives) rew- nidos por une operagdo de composicao (por exem. plo, @ adi) tal que, aplicada aos elementos do ‘onjunto, zoma a dar um elemento do conjunto: existe um elemento neutro (no exemplo escolhido, 0 2670), tal que, composio com um outro, ndo 0 modifica (aqui n +00 +n =n} e, sobretudo, ‘iste wna operaedo inversa (no caso particular & subtrasao), tal que, composia com a operacdo di- rata, fornece elemento neutro(+n=n=-n+ Dy; finalmente, as composigbes sao associativas (agul fn + mp + =n [m+ Up, (bid. p. 18-19) Revista de Cidaciae Homans, Flcinépolis: EDUFSC, 0.33, p.tS9-188, bri de 2003 Lea Sitira Sales — ssa no, aos poucos, const @ Matemca do séulo XIX e tei por conti funda degen, A contigs meio gue a Matendtc foeoora ao estudio, olaborando purer seu todo de penser, vm do grupo Bout, cos sic ne aD ‘procurar colocar as Mateméticas nteiras sob a égide da esirutura, os Bour- bbaki operam uma abstragio de segunda ordem: além do fato de niio ser considera anatreza cs elemento (sje elometos posse in Carter asta no impetand sen coca) coisas wantor magdes comuns aos conjuntos que podem ser aplicadas a quaisquer ele- mri por code un principe de somos, Est anformages conduzem, portanto, as estruturas gerais (as chamadas estruturas-mae) ¢ a ‘seus axiomas, e deslocam a atenglo aos termos das relagies para as rela- Gfes ene cs eros, Taser a eri nica de ura extra conte tim cet ods a conse Wigs de seas axiomas Log. fea estabelecida uma visio exclusivamente formalista da Matemética em detri- mento de sua dimensdo empirica’. André Weil, proveniente deste grupo, cont dretameme pracstaabos de LES apesceveroaptnice Iti de As esraras elementaes do parenesco implica, em fncdo disso, a solidificacio do paradigma estruturalista e, supostamente, a issolugzo das fronteiras entre a Matemética e as Ciéneias Humanas', ‘Daf a hegemonia do estruturalismo come paradigma central de varios, oxtrs campos 4 aber hauveo passe da efervescénia cll rance- sa Tate de ora Nata completa e fra com matzes enoangs {ue promovern ora oalrgarento das nti ora estig ca po do signo’, de forma que se torna perigoso falar do estruturalismo. ome ce este temo compreendeste uma unkade Ge penvamcnto ou mesmo uma circunscrigéo bem delimitada de premissas. Melhor seria falar ds estraturalismos, compreener cada un deles significa cera Inete tr quo se debrogr sobre cada hista especies. TSatee 9 que sepia, ch Dose 198he > Bi entrevista a Frangos Dose, (19912) Jacques Hoairay declara que, tm matemsticn errutuatita dos Bourbak, “nj 0 eacedeaments, x concatenoio, 9 engaveramente das proposgses€ daco como ue esperie ce necesicde sem suet, bjeva, cess Inger cuore anaisar sem que 0 signa ter que v considera os processes prop mente hisiricos da descoherta mateniica."p. 250) + Pasa Descombes (1979), a Gefinigao de eset fr pela matemaien sei, vigorose mente, # aniew acetdvel © 0 dica foto eftivamenteslatonizado com 0 metodo Imatemitico a0 tanspblo para 4 cultura seria Michel Serres “Pee o estado mas dead dss hiss ~ que 8 se ise nes ebeives deste bale feinar 8 Dosee, 199la ¢ 1990 Resists de Cideciae Humana, Floviandpolis: EDUFSC, 0.38, p.1S9-188, abril de 2003 (© que significa a incrivel forga adquitida pelo termo estrutura, sobrettido durante os anos 50 e 60? Qual 2 sua contribaigao diferencial fem termos de método ¢ de valor heuristico? Seré que tudo nio passa de um mero modismo a citcunscrever 0 conjunto de um certo nimero de pensadores? Devemios concordar com Kroeber quando se arrepen- de de ter ajudado a difundir 0 uso da estrutura a0 afirmar que esse termo “[..] no acrescenta absolutamente nada ao que temos no espirito quando o empregamos, sendo que nos deixa agradavel- mente intrigados”(apud LEVI-STRAUSS, 1953, p. 314)? Ou ser& que, ao conteétio, pdr os ofhtos no mundo através desse novo instra- mento € uma atiwude capaz de cartegar consigo novas possibilidades de interpretacio, contribuindo, dessa forma, para o alargamento de nossa raz € de nosso conhecimenta? Podemos, sim, falar do estrutu- ralismo como moda, mas Somente no sentido de que ele constitui, na expresstio de Deleuze, “um ar livre do tempo”(1972, p. 271), conju to de fluxos ¢ intensidades virtuais que acabaram por se converter e diversos modelos concretos. Desta forma, ¢ af que se inserem as su! seqilentes tentativas de definigao. Em torno do sentido desse termo foi realizado um colsquio.em Pa- ris em 1959. Bastide (1959) relata que, ao realizar 0 discurso inaugural, ‘esta foi uma das pronunciagSes de Moulin 166 —~ garustllame — hikrn, desiiges, problemas Termos de uso corrente como “grupo”, “classe”, “poder” ow “estrutura” ndo tém, hoje, dois tres, ‘quatro significados fundamentais ~ 0 que é nor. mal =, mas tantas acepedes como auiores, acep- $005 estas intetramente irredutfveis a um deno- ‘minador comum, quando néo totalmente anting- ‘micas. (p. 1), Diaate desta dificuldade, nao cabe aqui sand-ta apontando ilussrios. caminhos que conduziriam @ tal denominador comum. Ao contrério, pre- tendemos apenas, neste momento, colher algumas definigdes gerais for- necidas por autores afinados com o contexto do estruturalismo na tents tivade proporeionar uma primeira aproximagao das significagSes acolhi- das pela estrutura Revista de Citnclas Humanss, Florianopolis: EDUFSC. 0.33, p.159-188, abi de 2008 Lea Sieira Seles — 167 ‘Uma estrutura pode ser definida como um sistema integrado de el ‘menos Essa intepragdo se df de uma maneira espectfica, qual sefa, se dos elementos sofre uma mudanca, todos os outros elementos sero modi cados. As partes componentes dessa totale sistemética estio relacion: das entre si segundo leis especificas que garantem a idemtidade da estutu Fsse sistema no se confuunde com a idéia ce organizago interna de wr Conjunto eisso por dois motivos: 1) osistema ¢ imanente aos objetos con derados, 0 que permite a construcdo de tm modelo que, por sua vez, tora possivels a explicaco e a previsio dos fatos observados; 2) se a idéia d ‘organizagao procurava promover a inteligibilidade de um sistema por mei de um inventério de caracteristicas recorrentes em diversos conjunt observados, eliminando as diferengas que aparecem (considerad acidentais ou apenas fndices dos limites do conjunt que conjuntos diferentes podem ser aproximados no a despeito, mas e virtude de suas diferencas, que, entio, se procura ordenar."(POUILLO! ‘apud LIMA, 1970, p.31) Asdiferencas ndo-constituem alteridades puras, mas sé definem de acordo com relagdes estruturais comuns. Para Met- leau-Ponty (1960) as diferencas ordenadas, ao invés de darem lugar a oposigSes, formatam complementariedades" Levar aefeito o estudo da estrutura significa estabelecer a sintaxe das transformagbes que promovem a passagem de uma configuracao a coutra, Essa sintaxe, por ser limitada, cestringe as possibilidades de muta- fo e dita a forma segundo a qual a estrutura seré apresentadla conere: tamente nos modelos. A pesquisa extreral 6 ange, com eet, resulta 4 completo quando alcanca ardenar a plualida- de des fotos regulados na simplicidade do modelo. te, por consegunte, condensa as canelusces do racicinio ¢,simuleneamente, as mostra de manet ramaiscompreensiva(LIMA, 1970, . 34). 3 que vem a sauir em come base carabus de Bade, op. ct, ¢ Lia, 1970, "sOvmuiceineresse deste nova ivestigugko concise om alba as antnomias por telogtes de complementariedads.” (MERLEAU-PONTY, op. ei p. 197) Revita de Citneiss Humana, Flvianépoiss EDUFSC, n33, 9159-18, sit de 2003, 168 — Bsruuralieme ~ isis, fides, problemas AApds terem sido constru{dos, 0s modelos poderao ser comparados entre si, seja no interior de uma mesma disciplina, seja de forma intetdis- ciplinar, Por tudo isso, ocome um destocamento no que se refere & pro- cura do sentido; ele no é mais aquilo que se mostra camuflado numa linguagem obscura, mas deve ser procurado do laclo das relagdes laten- tes na estrutura e passiveis de serem organizadas num modelo. Em um estudo introdutsrio sobre o tema, Piaget (1968) empreende ‘um esforgo de generalizagao do conceito de estrutura com base no argu- ‘mento que passamos a expor. & possivel separar dois grandes tipos problema no interior da temética estruturalista: wim que se refere @ ideal de positividade e outro ligado as intengdes cnticas de cada discipli ‘ou Seja, aquestdo de saber a que o vies estruturalista se pve a0 se instal ‘em um determinado campo do conhecimento. Tais intengdes erficas como caracteristicas a variabilidede ¢ & contradigio, Sao imedutivelment :miitiplos os alvos atacaclos pelo estruturalismo: na Matematica, ele & queixa da compartimentagem dos assuntos heterogéneos; na Lingiistica, das investigagdes diacrénicas; na Psicologia, do atomicismo c, de uma forma geral, da historia, do funcionatismo e do sujeito. Portanto, nao & possivel procurar, por este caminho, @ generalizagdo almejada, Todavia, Piaget percebe que, se mirarmos as empreitadas estruturalistas através a lente de seu desejo de positividade, encontraremos dois aspectos comuns 2 todas elas: 1) 0 fato de que a estrutura & auto-suficiente e promove ti potencial heurfstico intriaseeo a0 objeto delimitado, sem precisar recorr a nada que esteja fora desses limites, 2) 0 fato de que todas as dreas q apticam o método estruturalista realmente alcangam. a formalizacéo estruturas que revelam propriedades comuns. Em suas palavras: [1 (Brcontramos] de wna parte, wn ideal ou espe: rangas de inteligibilidade intrinseca fundadas sobre 0 postulado de que wma esiratura se basta a si pro pria e ndo reuer para ser apreendlida, 0 recurso a todas as especies de elementos estranhos & sua natu ‘eza; por outro lado, realizes, na medida em gue 1 chegou a atingir efetivamente ceras estratuiras ¢ em que sua uilizagdo evidencia alguns caracteres _gerais € aparensemente necessérios que elas apre- ‘sentam, epesar de suas varied. (bi, p. 8). Revista de Ciencias Hamanss, Forindpolis: EDUFSC, n.3. p.159186. sil &e 2008, Lia Sieve Soler ‘Quais seriam essas propriedades, esses caracteres gerais comuns a todas as estruturas? Investiguemos, tio, adefinigiio de Piaget que, logica- mente, € 2 mais adequada & sua epistemologia genética’. Para este aut ‘uma estratura é, fundamenialmente, um sistema de transformagées intern auto-reguladas, isto €, 0 mecanismo dessas transformagées & submetido leis (reguladas por processos obrigatérios de equilibragto) que pertenc nido as propriedades dos elementos, mas a0 sistema em si. Assim, 25 cara teristicas do conjunto como totalidade serBo distintas do acximulo das carac— teristicas dos elementos, Além disso, a totalidade também define que transformagées do sistema no ultrapassardo os limites desse mesmo sist _ma. A transformagio, a auto-regulaga0 ea totalidade 0 os potitascapaz de definir uma estrutura. O primeiro desses pontos, a transformagéo (uma totalidede estruturada é também, por defini, estruturante), 6 0 que espe- cifica a problemética estraturalista, porque, se esta se reduzisse a defini as possibilidades de formalizagzo, seriamos obrigados a acmitir como de teor estruturalista todas as teorias, ilosofias ¢ formas de conhecimento que nto fossem estritamente empiristes, ou seja, toda tentativa de estabelecer uit tipo qualquer de formalizago podcria vita ser caracterizada como estrutu- ralismo. Ao contrtio, uma eoria estruturalista deve definir a totalidade dos ‘movimentos virtuais do sistema de transformagdes. Para Piaget (op. cit), a existencia da estrutura ¢ independente 8 pesquisador que tem como tarefa construir sua formalizagio. Port

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