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Arte de Evangelizar - 2021
Arte de Evangelizar - 2021
ARTE DE EVANGELIZAR
A CIDADE
A Pastoral Urbana continua ainda mais um desejo que uma realidade, mais uma proposta que
um fato, mais um programa que uma realização
Há alguns anos, a expressão de moda na Igreja era “Pastoral Urbana”. Parece que hoje não se houve
mais falar tanto sobre este assunto. Poderíamos nos perguntar sobre os motivos disso, já que o assunto
não pode deixar de ser relevante para a Igreja. Afinal, a maior parte da população mundial encontra-
se nas grandes cidades.
Dom Angélico Sândalo, bispo de Blumenau-SC, afirma que a cidade é uma mistura da vida com a
morte. Valores e contravalores andam pelas calçadas, invadem lares e igrejas. Cresce a consciência do
valor da pessoa humana em muitos grupos, enquanto outros se isolam e a dignidade da pessoa
humana é esmagada.
No mundo religioso, há uma grande tendência para o individualismo e a busca de soluções imediatas
para os problemas que afetam os indivíduos e a sociedade. Por outro lado, sente-se forte a fome de
Deus, a procura de formas e expressões comunitárias onde pulse uma vida mais plena.
José Comblin diz que para se falar de pastoral urbana, o primeiro passo é o conhecimento da cidade,
de suas características e dos elementos que a compõem. Um breve esquema identifica como
elementos componentes de uma cidade a geografia, as entidades sociais, as empresas, a política e a
religião.
resistirem à despersonalização no meio
das multidões e de estabelecerem
Sobretudo nas grandes cidades, os relações de companheirismo.
adolescentes e os jovens formam grupos mais
ou menos conhecidos e até temidos quando O enfraquecimento das instituições
violentos. São chamados de turmas, galeras, sociais como a família, a escola e a
comandos, bandos. Os grupos mais agressivos religião aumentou a procura por estas
são as famigeradas gangues ou quadrilhas que tribos por parte dos jovens que vivem
provocam confusões, arrastões e dominam na miséria e na marginalização sempre
regiões. crescentes que levam à perda dos
valores, à violência e à insegurança. A
Tribos urbanas é o termo geral com que são rua, além de ser o espaço de
chamamos estes grupos juvenis. socialização, nas periferias passou a
A tribo é um conjunto de comunidades que ser perigoso e de aprendizado do
falam a mesma língua e possuem costumes, crime. As tribos urbanas participam
tradições, normas, ritos e instituições comuns. desta realidade e, muitas vezes,
Trata-se de uma organização social bem praticam violência causando medo nas
antiga. Muitas escolas de samba se chamam de pessoas.
tribos.
As tribos chegam até a fazer coisas
Nas cidades grandes não é fácil manter boas surpreendentes. Entre si eles se ajudam
relações de amizade. Mesmo a vizinhança tem e partilham o que têm. Mas se tornam
pouca aproximação. Portanto, o processo de violentos e destruidores quando
tribalização ou de formar grupos de pessoas consomem drogas ou entram em
com interesses comuns, é a maneira delas conflito com outras gangues.
Na cidade não encontramos o sentido rural de pertença a um lugar a que corresponde uma população
estável com a qual se estabelecem relações duráveis. Grande parte da organização eclesial foi
organizada sobre esta coesão: uma população, um território delimitado, uma comunidade estável etc.
Esta concepção deve ser reinterpretada. Um só exemplo nos convencerá disso. Pensemos nos lugares
da cidade que deixaram de ser residentes, mas que têm uma enorme densidade de pessoas em situação
de trabalho. É o caso de diversas paróquias urbanas onde o comércio e os serviços foram tomando
conta do espaço residencial.
Será que estas paróquias “sem residentes” podem reinventar a sua forma de inserção social, tendo em
vista o modo de como essa população ocupa esse espaço urbano?
Mas é oportuno que, a este ponto de nossa reflexão, apresentemos mais algumas características da
cidade:
• sendo a realidade social muito fragmentada, as pessoas buscam a sua identidade através da cultura
de origem ou da adesão a grupos religiosos (ex.: religiões novas ou seitas).
• as grandes cidades refletem hoje situações humanas que estão acima do alcance das comunidades
tradicionais, como as paróquias.
• pessoas muitas vezes desprovidas de tudo, afastadas da Igreja, feridas na sua cidadania etc.
O Pe. Luiz Gonzaga Lôbo aponta alguns desafios/pistas para a pastoral urbana:
• amar a cidade. Ver nela também os pontos positivos. Isto não impede o senso crítico para discernir
as estruturas opressoras.
• descobrir os valores da cidade: proximidade, meios de transporte, escolas, hospitais, lazer, teatros,
comércio etc.
• entender o jeito da cidade. O agente de pastoral não poder ser um “moralista” frente à cidade, mas
buscar uma profunda inculturação nela.
• entender a linguagem e os símbolos da cidade. O ponto de referência são as coisas produzidas pelo
homem.
• ir ao encontro: a cidade é dinâmica. Faz a gente sair de si mesmo. Faz a Igreja ser missionária. Ir
para as praças, para os conjuntos habitacionais, para os locais de lazer, para as periferias. Será uma
pastoral aberta, itinerante, peregrina, e não fechada nos escritórios pastorais.
• criar uma mística própria da cidade, baseada na fé autêntica, na Palavra de Deus, para que toda a
cidade seja evangelizada. Atingir o coração das pessoas, provocar mudanças a serviço da vida, como
foi a missão de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10).
• acolher os que sofrem na cidade. A cidade também é a concentração dos que sofrem, dos que são
excluídos (jovens, adultos, anciãos, mendigos, enfermos etc.).
• acreditar no aspecto missionário da Igreja. Ela é, na essência, 4.º Como você acha que a Igreja
missionária. Por isso deve ser uma Igreja extrovertida. Isso deve deveria agir na cidade?
ser prioridade no Plano de Pastoral.
• valorizar a pastoral ambiental - por exemplo, pastoral nos hospitais, nas universidades, nos meios
políticos etc.
Os leigos e as leigas hoje não podem ser apenas católicos praticantes, mas missionários. A
consciência da missão nos faz perguntas pertinentes, como: por que nossos fiéis se afastam da Igreja?
Que espaços a Igreja não ocupa? Por que nosso povo procura batizar os filhos, mas não se preocupa
em fazê-los participantes da comunidade? Por que após a primeira eucaristia e a crisma, nossas
crianças e jovens não perseveram? Como repatriar os irmãos afastados?
Para um leigo despertar para a missão, ele precisa participar da comunidade eclesial, ter uma visão
pastoral da paróquia e da diocese e principalmente abrir-se para a dimensão social da fé. A Igreja,
desde 1891, tem seu catecismo social que chamamos de “doutrina social da Igreja”. Precisamos sair
da sacristia e ir ao povo, visitar as casas, criar grupos de reflexão, oração e de ação nas ruas.
O primeiro lugar de atuação dos leigos é o mundo. Daí a necessidade de leigos atuantes nos
conselhos comunitários, nas instituições civis, como também a necessidade de novos ministérios
perante a sociedade: diálogo com os líderes da sociedade, presença nas universidades,
acompanhamento da ação política, ministérios de acolhimento dos migrantes e dos turistas, etc.
Mais do que nunca precisamos estar atentos à pastoral urbana, ao mundo urbano, à ação da Igreja na
cidade.
Toda a ação pastoral da Igreja tem um fim: a salvação. Os caminhos da salvação passam pela
promoção humana, pela conversão ao Reino, pela vocação universal à santidade. Com leigos e leigas
missionários, com leigos e leigas teólogos, com leigos e leigas santos, lançaremos redes em águas
mais profundas.