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Livro Sistemática Animal Completo
Livro Sistemática Animal Completo
FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA À DISTÂNCIA
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
MÉTODOS DE SISTEMÁTICA
ZOOLÓGICA
Janete Diane Nogueira‐Paranhos
Leonardo Sousa Carvalho
Mauro Sérgio Cruz Souza Lima
TERESINA
DEZEMBRO DE 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA À DISTÂNCIA
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
MÉTODOS DE SISTEMÁTICA ZOOLÓGICA
Prof.ªM.Sc. Janete Diane Nogueira Paranhos. Departamento de Biologia,
Centro de Ciências na Natureza – Universidade Federal do Piauí.
Prof. M.Sc. Leonardo Sousa Carvalho. Campus Amílcar Ferreira Sobral –
Universidade Federal do Piauí.
Prof. Dr. Mauro Sérgio Cruz Souza Lima. Campus Amílcar Ferreira Sobral –
Universidade Federal do Piauí.
TERESINA
DEZEMBRO DE 2012
2
XXp.
3
APRESENTAÇÃO
Caro(a) leitor(a),
Desta forma, este livro foi escrito para servir de material didático para
disciplinas que tratem de assuntos relacionados à Sistemática Zoológica e foi
estruturado para fundamentar os conhecimentos, especialmente, de alunos de
graduação. No final de cada unidade são propostas atividades objetivando a fixação
e avaliação da aprendizagem. Portanto, aproveitem este material básico para
estudo.
4
AGRADECIMENTOS
5
Sumário
UNIDADE 1 7
A Sistemática Zoológica 7
Capítulo 1 – classificação Zoológica e Histórico da Sistemática .......................................... 8
Capítulo 2 – Importância e Objetivos da Sistemática Zoológica ....................................... 29
Capítulo 3 – Nomenclatura Zoológica ................................................................................ 41
UNIDADE 2 73
Coleta, Preparação e Armazenamento de Material Zoológico 73
Capítulo 4 ‐ Métodos e Técnicas de Coleta e Preparação de Invertebrados .................... 74
Capítulo 5 ‐ Métodos e Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados ..................... 153
Capítulo 6 – Coleções Zoológicas: panorama geral e perspectivas ................................. 229
SAIBA MAIS 253
APÊNDICE: A mochila do pesquisador 256
SOBRE OS AUTORES 262
REFERÊNCIAS 264
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UNIDADE 1
A Sistemática Zoológica
Objetivos da unidade
1. Conceituar classificação zoológica, táxon e categorias taxonômicas;
2. Mostrar a importância da Sistemática Zoológica;
3. Apresentar um histórico do desenvolvimento da Sistemática Zoológica;
4. Caracterizar e diferenciar as principais escolas de Sistemática;
5. Apresentar as regras de nomenclatura zoológica.
7
Capítulo 1 – classificação Zoológica e
Histórico da Sistemática
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até os homens. O método lógico aristotélico tinha como base a divisão de classes
mais inclusivas em subclasses remanescentes. Um exemplo é a classificação
dicotômica, em que um determinado grupo de coisas é dividido em dois subgrupos.
Esse tipo de classificação descendente se repetiria até que o mais baixo grupo de
“espécies” (compreendidas como subclasses subordinadas à classe mais inclusiva)
não pudesse mais ser dividido. No entanto, o próprio Aristóteles questionou a
validade de sua divisão lógica, ao não utilizá-la na sua classificação dos animais,
que acabou por não constituir uma hierarquia elaborada (SANTOS, 2008).
Mas, então, o que é classificar?
Segundo Mateus (1989), classificar é determinar a classe e, por extensão, os
grupos taxonômicos a que pertence certo material, cuja localização taxonômica era,
até então, desconhecida. De acordo com Capellari (2008), classificar é o ato de
agrupar ou ordenar coisas ou seres, qualificando-os e distribuindo-os em conjuntos
ou classes. A classificação pressupõe o estabelecimento das relações filogenéticas,
ou seja, das relações de parentesco entre os grupos. Também lhe interessa dar
explicação do aparecimento dos grupos. Portanto, preocupa-se com as causas e as
modalidades da evolução. Ou seja, classificar é determinar, é ordenar, é agrupar, é
relacionar.
Aclassificação zoológica, então, é a ordenação dos animais em classes ou
grupos com base nas suas semelhanças e relações. Essas semelhanças podem ser
fenéticas, manifestada pela semelhança total ou filogenética, resultantesdo
processo de evolução por descendência comum. Assim, como diz Hickmanet al.,
(2009), a teoria da ancestralidade comum de Darwin é o princípio subjacente que
dirige a busca em direção à ordenação da diversidade da vida animal.
A “pedra angular” da classificação zoológica é a espécie; e, sobre ela,
repousa todo o “edifício” da classificação. Muitas são as definições de espécie. Aqui,
utilizamos o conceito de Lineu, isto é, o conceito de espécie tal como Lineu
entendia. Sendo a espécie a unidade da taxonomia, todos os problemas que lhe
dizem respeito têm interesse em Sistemática. Um dos grandes méritos de Lineu
consiste na ordenação dos grupos de animais, segundo uma hierarquia; e
considerar a espécie como grupo unitário, a partir da qual se constituem grupos
cada vez mais extensos, isto é, de categorias mais elevadas. Admite que a espécie
é susceptível de apresentar modificações em relação à forma padrão. Quando tal
acontece, consideram as formas que se afastam do padrão como variedades.
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Podemos considerar, ainda, que os híbridos não fazem parte de uma classificação
biológica específica, ou seja, não possuem posição filogenética correta na história
evolutiva. Eles são o produto do cruzamento entre dois indivíduos diferentes, em
geral membros de espécies distintas.
Muitos são os conceitos de espécie; e estes têm sido alterados desde que
foram criados, assim que surgem melhores conhecimentos e alguma inconsistência
em relação ao conceito anterior. John Ray (1627–1705), um cientista inglês, foi o
primeiro a desenvolver um conceito moderno de espécie e realizou alguns esforços
para classificar uns poucos grupos orgânicos de maneira cientificamente conduzida.
Segundo Ray, nenhum critério seria mais seguro para a determinação das espécies
que as características distintivas que se perpetuam na propagação da semente.
Assim, não importa o que ocorrer de variações nos indivíduos ou na espécie, pois,
se eles brotam da semente de uma planta, são variações acidentais e não motivos
para distinguir uma espécie. Animais que, da mesma forma, diferem
especificamente, preservam suas espécies distintas de forma permanente, pois uma
espécie nunca brota a partir semente de outra ou vice-versa. Como por exemplo: a
semente de um laranjeira sempre dará origem à outra laranjeira e nunca à uma
mangueira, pois são espécies distintas. Igualmente, a laranjeira nascida a partir de
uma semente, não necessariamente, será igual à árvore que lhe deu origem, pois
isto é variação intraespecífica.
Storer et al. (1989) define espécie como um grupo de indivíduos que têm
muitos caracteres em comum e diferem de todas as outras formas em um ou mais
aspectos. Todos os indivíduos de uma espécie provêm de um antepassado comum
e podem cruzar entre si para produzir prole fértil que se assemelha aos pais.
No século XVIII, o zoólogo, botânico e médico sueco Carolus Linnaeus
(1707 – 1778), ou simplesmente Lineu, conhecido como o “pai da taxonomia”,
lançou as bases reais para a classificação e nomenclatura modernas. Lineu foi o
primeiro a propor uma classificação racional do mundo vivo (na realidade sua
classificação engloba o mundo vivo e o mundo mineral). Ele dividiu e subdividiu o
Reino Animal até as espécies baseado em caracteres estruturais e deu a cada
espécie um nome distintivo binomial. Seu sistema para nomear, ordenar e classificar
os organismos é utilizado até hoje, com modificações. Lançou as bases da
classificação biológica em sua obra Systema Naturae (décima edição em 1758),
admitindo a existência de seis classes de animais: mamíferos, aves, anfíbios (que
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incluía os répteis), peixes, insetos e vermes (que reunia todos os demais
invertebrados).
Georges Cuvier (1769 – 1832), um zoólogo e naturalista francês, ficou
conhecido por estabelecer a extinção como um fato, sendo ele o mais influente
proponente do catastrofismo na geologia no início do século XIX, e oposição às
teorias evolucionárias de Lamarck e Geoffroy Saint-Hilaire. Cuvier, em sua obra
de 1817, “Règne animal distribué d’après son organisation” (Distribuição do Reino
Animal Após Sua Organização) dividiu os animais em quatro ramos: Vertebrata
(peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos), Mollusca (moluscos e Cirripedia),
Articulata (anelídios, crustáceos, insetos e aranhas) e Radiata (equinodermos,
nematóides, cnidários e rotíferos).
No século XIX, a anatomia e a classificação foram assuntos de grande
interesse e muitos sistemas foram propostos, como o do naturalista francês Jean-
Baptiste Lamarck (1744 – 1829). Lamarck, além de suas contribuições na biologia
evolutiva, é reconhecido por sua publicação de 1801, o livro “Système des animaux
sans vertèbres”, uma grande obra sobre a classificação dos invertebrados, um
termo que ele mesmo criou. Rudolf Leuckart (1822 – 1898), zoólogo alemão é
reconhecido por uma série de trabalhos na área de parasitologia e também por
dividir a classificação de Cuvier, separando o grupo Radiata em dois filos:
Coelenterata e Echinodermata.
O biólogo, anatomista comparativo e paleontólogo inglês Richard Owen
(1804 – 1892) é reconhecido pela criação do termo Dinosauria e pela sua declarada
oposição à teoria de evolução por meio da seleção natural de Charles Robert
Darwin (1809 – 1882); pois concordava que a evolução existe, porém discordava
que era tão simples quanto Darwin dizia. Owen produziu uma extensa contribuição à
Sistemática Zoológica, descrevendo inúmeros grupos de invertebrados (ex.: dividiu
os moluscos da classe Cephalopoda em duas ordens, Dibranchiata e
Tetrabranchiata), peixes (apresentando diversos ensaios sobre peixes pulmonados
e dipnóicos, entre outros), répteis (descrevendo muitos dinosauros), aves
(produzindo trabalhos monográficos sobre o kiwi, a extinta moa e o takahe, entre
outras aves) e mamíferos (ex.: reconheceu e nomeu os dois grupos naturais de
ungulados típicos, os com dedos ímpares, Perissodactyla, e os com dedos pares,
Artiodactyla).
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O geólogo e paleontólogo Louis Agassiz (1807 – 1873) trabalhou com
taxonomia de peixes atuais e fósseis, produzindo uma grande série de publicações
como “History of the Freshwater Fish of Central Europe” (História dos Peixes de
Água Doce da Europa Central) de 1830 e os cinco volumes da obra “Recherches
sur les poissons fossiles” (Estudos sobre peixes fósseis) publicados entre 1833 e
1843. Seus achados paleontológicos fizeram ser necessária uma nova classificação
de peixes, proposta posteriormente por ele, porém já ultrapassada. Agassiz ainda
trabalhou com moluscos e equinodermos durante sua carreira, produzindo obras
memoráveis, como “Etudes critiques sur les mollusques fossiles” (Estudos Críticos
dos Moluscos Fósseis).
O naturalista britânico Charles Darwin, conteporâneo de Owen e Agassiz,
entre outros, juntamente com o naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo galês
Alfred Russel Wallace (1823 – 1913), desenvolveram as teorias de evolução
orgânica, que resultaram em uma mudança profunda de perspectiva na Sistemática,
assim como em todas as outras ciências da vida e mesmo fora de suas fronteiras
(DE PINNA, 2001). Ambos enviaram à Linnean Society de Londres no dia 1º de
julho de 1858, uma breve comunicação apresentando o conceito de seleção natural;
porém tal conceito só foi consagrado após a publicação de A Origem das Espécies
(título original “On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the
Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life”, que significa “Sobre a
Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação de Raças
Favorecidas na Luta pela Vida”), em 1859 (FONSECA, 2008). Tal obra é
considerada um dos livros científicos mais influentes já escritos, pela solidez e
amplitude dos argumentos em favor da evolução, incluindo dados anatômicos,
morfológicos, embriológicos, ecológicos, comportamentais, biogeográficos e
geológicos (FONSECA, 2008).
Entendeu-se então que os grupos naturais de organismos eram
simplesmente reflexos de relações evolutivas. As classificações passaram a ser
vistas como representações da história evolutiva e avaliadas de acordo com seu
sucesso em representar essa história. Aqui, causas e efeitos se misturam, pois para
o próprio Darwin a existência de padrões taxonômicos era uma das principais
evidências da evolução. Para ele, a hierarquia dos seres vivos só poderia ter sido
tão bem definida se fosse resultado de um processo histórico de descendência com
modificação – isto é, evolução (DE PINNA, 2001).
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Posteriormente, o zoólogo alemão Ernst Haeckel (1834 – 1919) foi um dos
pioneiros na construção de árvores filogenéticas baseadas na comparação de
similaridades compartilhadas pelos organismos e criou termos como “antropogenia”,
“filo”, “filogenia”, “ecologia” (SANTOS, 2008) e ainda descreveu o Reino Protista,
táxon aparentemente polifilético para os padrães atuais (WILLMANN 2003). É
necessário esclarecer que o nome “Protista”, organismos unicelulares conforme
proposto por Haeckel (1866), diz respeito à animais distribuídos por vários reinos do
sistema atual de classificação (CAVALIER-SMITH, 1998). Para discussão mais
completa sobre isto, ver Corliss (1988).
Posteriormente, as idéias de Darwin foram somadas a novas descobertas e
teorias, como aquelas de genética, propostas por Gregor Mendel (1822 – 1884).
Então formulou-se a “síntese da teoria evolutiva” ou “teoria sintética da evolução” –
erroneamente denominada por alguns de “teoria neodarwinista”, como lembra
MAYR (1982). Segundo SANTOS (2008), os principais arquitetos dessa síntese
(mas que nunca se reuniram, de fato, em um grupo sob a mesma égide) foram
Theodosius Dobzhansky, Julian Huxley, Ernst Mayr, George G. Simpson e George
L. Stebbins, bem como Sergeevich Chetverikov, Ronald A. Fisher, John Burdon S.
Haldane, Cyril D. Darlington e Sewall Wright. A ramificação na Sistemática da teoria
sintética da evolução deu origem ao que hoje se chama taxonomia clássica ou
evolutiva, cujos expoentes são os supracitados Mayr e Simpson (SANTOS, 2008).
O biólogo alemão Ernest Mayr (1904 – 2005) revolucionou os conceitos
evolutivos em sua época, propondo teorias para perguntas que nem memso Charles
Darwin conseguia responder: como várias espécies podem evoluir a partir de um
único ancestral comum? Mayr tratou a resposta desta pergunta com uma nova
definição para o conceito de espécies. Em seu livro de 1942 “Systematics and the
Origin of Species” (Sistemática e a Origem das Espécies) ele escreveu que uma
espécie não é apenas um grupo de indivíduos morfologicamente similares, mas um
grupo que pode reproduzir apenas entre eles mesmos, excluindo todos os outros.
Quando populações dentro de uma espécie se tornavam isoladas pela geografia,
estratégia de alimentação, seleção sexual ou por outros meios, elas poderiam
começar a diferir de outras populações através de deriva genética e seleção natural;
e através do tempo, poderiam evoluir para novas espécies. As mais significativas e
rápidas reorganizações genéticas ocorrem em populações extemamente pequenas
que foram isoladas (como populações presentes em ilhas).
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A taxonomia clássica, então, seguia à risca a tradição de Darwin, Wallace e
Haeckel no que tange ao não desenvolvimento de um método objetivo para a
obtenção das classificações biológicas (SANTOS, 2008). Sistematas como Georges
Simpson viam na prática classificatória uma mistura de ciência e arte, uma vez que
se fazia necessário o balanceamento de um amplo espectro de considerações e o
equilíbrio não partia de um método rotineiro, como apresentado em seu livro
“Principles of animal taxonomy” (Princípios de taxonomia animal), de 1961. Assim,
um taxonomista “evolutivo” ou “clássico” deveria construir cenários elaborados sobre
a evolução de determinado grupo e esse cenário serviria para a construção de
sistemas classificatórios. Dessa forma, essa “escola” de Sistemática baseava-se
muito mais na autoridade de um pesquisador sobre determinada área do que em um
método passível de repetição (SANTOS, 2008). Como as classificações oriundas da
taxonomia clássica estão profundamente arraigadas às concepções e ao
conhecimento prévio dos seus autores, não há como esperar que duas delas,
obtidas independentemente por pesquisadores trabalhando com o mesmo grupo de
estudo, sejam congruentes ou ao menos semelhantes, do ponto de vista das
relações de parentesco entre os organismos considerados (SANTOS, 2008). Em
breves palavras, não há um método. Essas hipóteses não podem ser confrontadas
à luz de novas evidências ou a partir da análise de sua coerência interna:
classificações da taxonomia clássica não são científicas, visto que não configuram
hipóteses testáveis ou falseáveis (cf. POPPER, 1959, 1962, 1972). As chamadas
árvores evolutivas da taxonomia clássica são apenas asserções sem
fundamentação metodológica adequada. Posteriormente à este período foram
apresentadas diversas escolas de Sistemática, para resolver esta idiossincrasia.
Tais escolas são apresentadas em separado, em um tópico neste mesmo Capítulo.
Após a proposição do Reino Protista por Haeckel, os seres vivos passaram a
ser divididos em três reinos: Protista, Plantae e Animalia. Posteriormente, surgiu um
novo sistema de classificação agrupando os organismos em quatro reinos: Monera
(bactérias e cianofícias), Protista (demais algas, protozoários fungos), Plantae ou
Metaphyta (desde briófitas até angiospermas) e Animalia ou Metazoa (desde
espongas até mamíferos). Um sistema de classificação mais recente, compreende
cinco reinos e foi proposto por Whittaker (1969). É composto por um reino
procariótico, Monera, e outros quatro reinos eucarióticos (Figura 1). Dos grupos
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eucarióticos, acredita-se que o Protista deu origem aos outros três grupos restantes
(Plantae, Animalia e Fungi).
Figura 1 - Divisão dos seres vivos em cinco reinos proposta por Whittaker (1969).
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representantes (bactérias e algas unicelulares) não possuem características
comuns. A transcrição, por exemplo, é realizada de maneira distinta em algas
unicelulares e bactérias (PACE, 2006).
Atualmente existem diversas novas classificações, porém muitas delas não
utilizam mais o sistema hierárquico tradicional, conforme proposto por Lineu, devido
à grande quantidade de grupos e sub-grupos, tornando suas categorizações uma
tarefa difícil de ser compreendida (ADL et al., 2005). A classificação apresentada
por Adl et al., (2005), que é baseada em todas as informações de ultraestrutura
coligidas desde 1980 e uma filogenia molecular, por exemplo, reconhecem seis
linhagens de eucariotos que podem representar grupamentos similares aos
tradicionais “reinos”. Mais informações sobre este novo sistema de classificação
podem ser encontradas em Adl et al., (2005) e Keeling et al., (2011).
CATEGORIAS HIERÁRQUICAS
Devido ao grande número de espécies e a diversidade de seres vivos
existentes tornou-se necessário a elaboração de sistemas de classificação com
categorias hierárquicas, que tivesse como finalidades básicas de simplificar o
estudo dos seres vivos e estabelecer parentesco entre diferentes grupos. Em suma,
a finalidade fundamental da classificação seria a simplificação do estudo pela
descoberta de parentesco.
É claro que qualquer sistema de classificação apresenta muitas dificuldades,
pois os seres vivos se modificam e evoluem ao longo do tempo e ainda, com o
avanço da ciência, surgem novas descobertas a respeito das relações existentes
entre os organismos. Isto é particularmente verdadeiro após o surgimento da
Sistemática filogenética em meados da década de 60 e com o desenvolvimento de
métodos modernos de análises filogenéticas com a utilização de informações
morfológicas, moleculares, etológicas e bioquímicas, entre outras.
A classificação taxonômica, conforme proposta por Lineu, organiza os seres
vivos em uma hierarquia começando com o nível de Reino e terminando no grupo
da espécie. A hierarquia, portanto, é uma estrutura organizacional (Sistemática)
para classificação zoológica, formada por uma sequência de classes (ou conjuntos)
em níveis diferentes; em que cada classe, exceto a mais baixa (espécie), inclui uma
ou mais classes subordinadas (SIMPSON, 1981). Cada grupo de uma dada
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categoria acima da espécie é formado por um ou mais grupos de categorias
inferiores.
Segundo SIMPSON (1981) em taxonomia, a pesquisa é dirigida para grupos
de organismos interrelacionados; o qual, em seu significado geral, recebe o nome
de táxon, também frequentemente designado como unidade taxonômica. De acordo
com Papavero (1994), táxon é um determinado grupo de organismos, ou qualquer
unidade taxonômica, tal como uma família, um gênero, uma espécie particular. Os
primatas, incluindo o homem, foram um táxon, por exemplo.
Categoria taxonômica é um determinado nível hierárquico em que certos
táxons são classificados (ex.: Reino, Filo, Classe, etc.). Isto significa a existência de
hierarquia taxonômica, constituída pelos diferentes níveis resultantes das
subdivisões dos táxons e, consequentemente, implicando diversos graus de
sucessão taxonômica. Em Zoologia, são reconhecidas sete categorias principais,
assim hierarquicamente dispostas: REINO → FILO → CLASSE → ORDEM →
FAMÍLIA → GÊNERO → ESPÉCIE. Estas categorias são mutuamente inclusivas,
conforme exemplificado na Figura 2.
Fonte: Do autor.
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obrigatoriedade para qualquer deles. Ao designá-las, utiliza-se os prefixos “infra”,
“sub” e “super”; como por exemplo, infraclasse, superfamília e subgênero. Além
disso, e também na dependência da complexidade atingida pelo grupo, tem-se
empregado outras categorias e correspondentes denominações como ramo, coorte,
tribo (MATEUS, 1989).
De qualquer maneira, as categorias situadas acima de espécie na hierarquia
taxonômica são consideradas como superiores e definidas como sendo as que
incluem todos os táxons ali alocados nos correspondentes níveis de classificação.
Estes táxons são então denominados táxons supraespecíficos. Deve-se ter
presente que, abaixo da categoria de espécie, nas formas de reprodução sexuada,
o relacionamento taxonômico deixa de ser hierárquico, em virtude do resultado de
mutações e combinações. Ao passo que, acima desse nível, como os caracteres
são fixados, torna-se possível recuperar a informação histórica e, portanto, as
relações taxonômicas são hierárquicas.
O “reino” é a maior unidade usada em classificação biológica. Entre o nível
de “reino” e de “gênero”, entretanto, Lineu e taxonomistas posteriores adicionaram
diversas categorias. Temos então, os gêneros agrupados em famílias (o cão, o lobo
e a raposa pertencem à Família Canidae, por exemplo). As famílias podem ser
agrupadas e formar uma ordem, por exemplo: o cão, o lobo e a raposa fazem parte
da Ordem Carnivora, juntamente com os gatos, leões, tigres, onças, guaxinins,
camgambás e furões, entre outros. As ordens podem ser agrupadas e formar uma
Classe, por exemplo: todos os mamíferos já listados, incluindo todos os demais (o
homem, por exemplo) fazem parte da Classe Mammalia. As classes podem reunir e
formar um Filo, por exemplo: todos os mamíferos, somados aos peixes, répteis,
anfíbios e aves, formam o Filo Chordata. Os Filos podem ser agrupados e formar
um Reino, por exemplo: o conjunto de fotos os filos de animais, constituem o Reino
Animmalia.
Assim sendo, todas as categorias utilizadas em Zoologia apresentam-se
hierarquicamente dispostos da seguinte maneira (em negrito e letras maiúsculas
estão listadas as categorias obrigatórias):
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REINO CLASSE FAMÍLIA
Subreino Subclasse Subfamília
Superfilo Infraclasse Tribo
FILO Coorte Subtribo
Subfilo Superordem GÊNERO
Ramo ORDEM Subgênero
Superclasse Subordem ESPÉCIE
Infraordem Subespécie
Superfamília
ESCOLAS DE SISTEMÁTICA
Na Sistemática, as linhas ou escolas de pensamento têm por objetivo
principal explicar e ordenar a natureza da diversidade dos organismos. Os animais
são reunidos em função de critérios de semelhanças, formando grupos e subgrupos,
conforme a maior ou menor afinidade. Normalmente, os resultados dessa
ordenação são apresentados na forma de classificação, árvores genealógicas ou
sob a forma de um texto, narrando, discutindo e estabelecendo a história evolutiva
dos grupos, também denominada Cenário Evolutivo.
De acordo com Amorim (1994), a questão das bases lógicas e filosóficas de
cada escola de Sistemática é complexa e, talvez na maior parte dos casos, é
ignorada pelos próprios adeptos da escola, que só dominam a técnica e não sua
fundamentação. Este mesmo autor afirma que pode identificar pelo menos cinco
escolas ou linhas principais de Sistemática: essencialista, catalográfica, fenética,
gradista e filogenética. Abaixo é apresentada uma síntese sobre cada uma das
escolas.
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Figura 3 – Animais cuja classificação taxonômica é apresentada na Tabela 1. (A)
Molusco, Charonia tritonis Linnaeus, 1758; (B) Escorpião, Tityus maranhensis
Lourenço, Jesus Júnior e Limeira-de-Oliveira, 2006; (C) Louva-a-deus, Mantis
religiosa Linnaeus, 1758; (D) Anfíbio, Phylomedusa nordestina Caramaschi, 2006;
(E) Lagarto, Gonatodes humeralis (Guichenot, 1855); (F) Mamífero, Didelphis
marsupialis Linnaeus, 1758.
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Escola lineana (essencialista ou tipológica)
Esta escola fundamenta-se na lógica aristotélica e na visão de mundo de
Aristóteles, ou seja, em sua ontologia essencialista. A Escola Lineana visa reunir
táxons com base em semelhanças compartilhadas pelos seres vivos. Na prática,
corresponde a um método intuitivo de comparação, uma vez que não existe um
critério que determine qual característica deve ser considerada na separação dos
táxons, carecendo assim, de uma ontologia bem definida. De acordo com Amorim
(1994), ainda hoje existem sistematas que utilizam essa lógica, mas sem um
princípio definido. Esta Escola não leva em conta a evolução e sim as semelhanças
compartilhadas entre os seres para reunir em grupos. Resgata a idéia de essência e
esta pode ou não ser compartilhada por duas ou mais espécies, método intuitivo e
arbitrário de comparação de semelhanças. Contudo, qualquer método utilizado para
reunir táxons tem como base o compartilhamento de semelhanças definido por
Aristóteles.
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Tabela 1 – Classificação taxonômica de um molusco, Charonia tritonis Linnaeus, 1758; um escorpião, Tityus maranhensis
Lourenço, Jesus Júnior e Limeira-de-Oliveira, 2006; um louva-a-deus, Mantis religiosa Linnaeus, 1758; um anfíbio, Phylomedusa
hypocondrialis (Daudin, 1803); um lagarto, Gonatodes humeralis (Guichenot, 1855); e um mamífero, Didelphis marsupialis
Linnaeus, 1758.
CATEGORIA Molusco Escorpião Louva-a-deus Anfíbio Lagarto Mamífero
REINO Animmalia Animmalia Animmalia Animmalia Animmalia Animmalia
RAMO Eumetazoa Eumetazoa Eumetazoa Eumetazoa Eumetazoa Eumetazoa
SECÇÃO Eucoelomata Eucoelomata Eucoelomata Eucoelomata Eucoelomata Eucoelomata
DIVISÃO Bilateria Bilateria Bilateria Bilateria Bilateria Bilateria
FILO Mollusca Arthropoda Arthropoda Chordata Chordata Chordata
SUBFILO - - - Vertebrata Vertebtata Vertebtata
SUPERCLASSE - - - Tetrapoda Tetrapoda Tetrapoda
CLASSE Gastropoda Arachnida Insecta Amphibia Reptilia Mammalia
SUBCLASSE Prosobranchia - - - - Marsupialia
ORDEM Mesogastropoda Scorpiones Orthoptera Anura Squamata Didelphimorphia
SUBORDEM - - - - Sauria -
FAMÍLIA Ranellidae Buthidae Mantidae Hylidae Sphaerodactylidae Didelphidae
SUBFAMÍLIA Cymatiinae - - - - Didelphinae
GÊNERO Charonia Tityus Mantis Phylomedusa Gonatodes Didelphis
SUBGÊNERO - Archaeotityus - - - -
ESPÉCIE Charonia tritonis Tityus Mantis Phylomedusa Gonatodes Didelphis
maranhensis religiosa hypocondrialis humeralis marsupialis
Fonte: Do autor.
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Exercícios
4. Conceitue espécie e explique por que os híbridos não fazem parte de uma
classificação biológica específica.
10. Conceitue cladística e explique frase: “toda relação filogenética hipotética entre
dois organismos só pode ser considerada se houver aceitação de que estes
organismos compartilham um ancestral comum”.
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Capítulo 2 – Importância e Objetivos da
Sistemática Zoológica
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IMPORTÂNCIA DA SISTEMÁTICA FRENTE ÀS OUTRAS CIÊNCIAS
A determinação da espécie é necessária não só na Zoologia, mas em outras
ciências. Um trabalho sobre fisiologia, genética, parasitologia pode estar bem feito
no que diz respeito ao conteúdo científico, mas perde o seu valor se não tiver o
nome científico do animal que serviu de base ao trabalho, porque o nome vulgar não
satisfaz. Isso é ainda especialmente importante na investigação de agentes
causadores de patologias em animais ou plantas, tais como protozoários,
platelmintos, nematóides, entre outros. Uma identificação errônea poderia provocar
a aplicação de um procedimento inadequado para o controle do problema ou da
patologia decorrente de tal animal.
O objetivo da Zoologia, então, é dar um conhecimento definido de todo o
Reino Animal e o da Sistemática é reconstruir a árvore filogenética ou filogenia que
relaciona todas as espécies viventes e extintas. Tal objetivo norteou os zoólogos
desde a mais remota antiguidade, e os fez agrupar os animais para um estudo mais
sistemático, surgiu então a Sistemática Zoológica.
A Sistemática Zoológica, então, é o ramo da Zoologia que se ocupa da
organização, caracterização e denominação dos grupos de animais, do
estabelecimento das relações de parentesco entre esses grupos, da identificação
das formas já conhecidas e da descrição e denominação de formas novas
(MATEUS, 1989). É, portanto, interesse da Sistemática Zoológica o conhecimento
dos animais, sua ordenação segundo o grau de parentesco, bem como o
estabelecimento de regras. Interessa-lhe, portanto, a filogenia e,
consequentemente, os problemas da evolução. A Sistemática Zoológica
compreende duas partes: a taxonomia e a nomenclatura. A taxonomia refere-se à
organização, definição e ordenação dos grupos; enquanto a nomenclatura diz
respeito às regras para dar os nomes aos grupos organizados pela taxonomia.
Assim, a taxonomia é a finalidade da Sistemática, enquanto que a nomenclatura é o
meio pelo qual nos entendemos, pelo qual comunicamos os pensamentos
taxonômicos. Ambos têm, por isso, o seu valor.
A importância da taxonomia é tanta que alguns autores, sem razão,
consideram taxonomia como sinônimo de Sistemática. Para outros, porém, a
Sistemática envolve, além da taxonomia, o estudo das relações de parentesco entre
as espécies, ou seja, a filogenia. Portanto, o objetivo de quem trabalha com
30
Sistemática não é apenas descrever a diversidade existente e elaborar um sistema
geral de referência, mas também contribuir para a compreensão dessa diversidade.
33
divididos em dois grupos maiores, enaima e anaima, cada um subdividido em
outros quatro grupos menores (MATEUS, 1989), como se segue:
1 – Mammalia
2 – Aves
3 – Amphibia
4 – Pisces
5 – Insecta
6 – Vermes
35
anguílulas e protozoários livres, todos inclusos na classe dos Infusórios (MATEUS,
1989).
36
são definidos por conjuntos de caracteres morfológicos. Podemos dizer que o
método de Claus é o ponto de partida das classificações modernas. Compreende
nove grandes grupos (Tabela 3). Para uma descrição pormenorizada das
características que definem cada um dos grandes grupos, ver Mateus (1989).
Nesta classificação há melhoramentos importantes, como a separação de
Braquiopoda dos Mollusca; que, juntamente com os Bryozoa foram os Molluscoidea.
Além disto há a instituição dos Tunicata, que ficaram separados definitivamente dos
Mollusca e colocados próximo dos Vertebrata, com os quais tem estreita relação. No
grupo dos Vertebrata, os Amphibia são separados dos Reptilia. Outras
inconsistências ainda permaneciam, como os poríferos junto aos celenterados; os
Enteropneusta considerados anelídeos e Vermes ainda formavam um grupo
heterogêneo, embora em menor escala que aquele apresentado por Lineu
(MATEUS, 1989).
Ainda que os quadros de classificação tenham neles implícita a idéia de
filiação dos grupos, não a indicam claramente. Só uma representação gráfica, com o
aspecto de árvore genealógica, nos pode mostrar as relações de parentesco entre
os grupos. As representações das relações filogenéticas podem ter formas variadas.
Tem o aspecto de árvores e, por isso se chamam dendrogramas. Podem indicar,
simplesmente, as relações de parentesco, ou também, acrescentar outras
informações, como grau de semelhança entre os grupos, duração destes,
desenvolvimento que tiveram através da história da Terra, etc. Podem organizar-se
representações filogenéticas de todo o Reino Animal, com base, sobretudo, nos
conhecimentos morfológicos, paleontológicos e embriológicos.
A Sistemática moderna utiliza-se de esquemas feitos com a utilização de
métodos bem definidos, em que uma determinada proposição ou hipótese deve ser
explícita e testável. Os métodos modernos buscam recuperar a história completa
das relações entre os seres vivos, buscando então, a filogenia. A primeira
representação filogenética do Reino Animal foi apresentada por Lamarck. Foi este
cientista quem fundou a teoria transformista e que dela deu uma interpretação do
mecanismo e das causas da transformação das espécies. Ele elaborou um
esquema representativo da filogenia do Reino Animal (Figura 4). De Lamarck para
cá outras árvores genealógicas, representativas das relações filogenéticas do Reino
Animal têm sido organizadas e aperfeiçoadas com o decorrer do tempo e o
37
incremento dos conhecimentos. Como exemplo, apresentamos uma árvore
filogenética sugerida por Halanych (2004) (Figura 5).
38
Figura 4 – Diagrama apresentado por Lamarck, mostrando a representação
filogenética do Reino Animal.
39
Figura 5 – Uma hipótese de relacionamento filogenético entre os grandes grupos do
Reino Animal.
40
Capítulo 3 – Nomenclatura Zoológica
41
São excluídos das determinações do Código: (1) conceitos hipotéticos; (2)
espécimes com modificações teratológicas; (3) espécimes híbridos; (4) entidades
infrasubespecíficas (categoria abaixo de subespécie); (5) para propósitos de
referência temporária; e (6) nomes atribuídos após 1930 para trabalhos
desenvolvidos por animais.
A nomenclatura zoológica, regida pelo Código, é independente de outros
sistemas de nomenclatura, de forma que o nome de um táxon animal não é
rejeitado somente por ser idêntico ao nome de um táxon que não seja animal (ICZN,
1999). O Código, em sua Recomendação 1A (Artigo 1.4; ver ICZN, 1999), sugere
ainda que autores que pretendam publicar novos nomes para o grupo de gênero
devem consultar o Index Nominum Genericorum (Plantarum) e a Lista de Nomes
Aprovados de Bactérias para determinar se nomes idênticos foram estabelecidos
sob os Códigos Internacionais de Nomenclatura relevantes àquelas listas e, em
caso positivo, desistirem de publicar nomes zoológicos idênticos.
O Código objetiva que cada táxon animal tenha um nome único, distinto,
estável e universal (BERNARDI, 1994). Por estabilidade entende-se que o nome
correto de um táxon não deve ser alterado injustificadamente, facilitando a
comunicação. A universalidade, por sua vez, determina que o nome correto seja
válido em qualquer parte, proibindo a existência de nomes regionais, mesmo que
estes sejam estáveis. Por este motivo, há obrigatoriedade na unicidade, em que o
nome correto de um táxon é um e um só. Para completar, a distinção, em que o
nome correto de um táxon é distinto do de qualquer outro é fundamental, pois a
comunicação seria comprometida se dois ou mais táxons tivessem o mesmo nome
estável e universal (BERNARDI, 1994).
Embora tais determinações sejam válidas para nomes zoológicos, o Código
só se ocupa de táxons classificados em algumas categorias taxonômicas
congregadas em três grupos (BERNARDI, 1994): grupo da família (superfamília,
família, subfamília, tribo e qualquer outra categoria abaixo de superfamília e acima
de gênero que for conveniente adotar em determinada classificação), grupo do
gênero (gênero e subgênero e grupo da espécie (espécie e subespécie).
No decorrer deste Capítulo, como já explicitado anteriormente, será utilizada
a palavra “Código” para referir-se ao Código Internacional de Nomenclatura
Zoológica, publicado pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica
42
(ICZN, 1999). Quando necessário, Artigos e Recomendações, presente no Código
serão ainda apresentados, sem a completa citação de sua fonte: ICZN (1999).
NOMENCLATURA BINOMIAL
O nome dos táxons podem ser originados em palavras latinas ou latinizadas;
que, em grande parte, provem da língua Grega Clássica. Porém, vocábulos de
várias línguas modernas ou palavras arbitrariamente formadas (no caso de gêneros
e espécies) podem ser utilizados (BERNARDI, 1994).
Os nomes podem ser uninominais, binominais ou trinominais, isto é, são
nomes compostos de uma, duas ou três palavras. Os nomes das espécies são
binominais; os das subespécies são trinominais; os demais (nomes de um táxon
com ranking mais alto que o grupo da espécie) são uninominais. Os nomes
específicos e subespecíficos escrevem-se sempre com inicial minúscula; os demais
com inicial maiúscula. Os nomes genéricos, subgenéricos, específicos e
subespecíficos costumam ser escritos de forma que fiquem destacados do restante
do texto em que aparecem. Para tanto, são escritos em grifo (ou itálico) e, quando
usados em manuscritos, costumam ser sublinhados. Esse preceito, porém, é
apenas uma recomendação, não uma regra, ou seja, não é obrigatório (BERNARDI,
1994). Os nomes de táxons supragenéricos são substantivos no nominativo plural,
isto é, teriam tradução do tipo: os animais, os aracnídeos, os coleópteros, as aves,
entre outros. Os nomes de gêneros e subgêneros são substantivos no nominativo
singular (BERNARDI, 1994).
Todos estes preceitos podem assim ser exemplificados:
Nomes de filos: Arthropoda, Onychophora, Annelida, Chordata,
Priapulida;
Nomes de classes: Arachnida, Mammalia, Aves, Cephalopoda,
Hexapoda;
Nomes de ordens: Ephemeroptera, Diptera, Araneae, Passeriformes,
Chiroptera, Rodentia;
Nomes de superfamílias: Araneoidea, Ichneumonoidea, Scarabaeoidea;
Nomes de famílias: Turdidae, Araneidae, Scarabaeidae, Muridae,
Didelphidae, Hylidae, Viperidae;
43
Nomes de subfamílias: Myrmicinae, Corinninae, Formicinae,
Discocephalinae;
Nomes de tribos: Formicini, Ichneumonini, Discocephalini;
Nomes de gêneros: Edessa, Araneus, Corinna, Dipsas, Monodelphis,
Didelphis, Turdus, Coprophanaeus, Peripatus
Nomes de espécies: Edessa rufomarginata, Araneus diadematus,
Corinna nitens, Dipsas catesby, Monodelphis domestica, Didelphis
albiventris, Turdus leucomelas, Coprophanaeus ensifer, Peripatus acacioi;
Nomes de subespécies: Araneus angulatus afolius, Araneus angulatus
crucinceptus, Tityus confluens bodoquena, Tityus confluens confluens;
44
uma letra ou número depois da abreviação “sp.” (Ex.: Tenedos sp.1,
Tenedos sp.2, etc.). Como esses nomes se referem a espécies
indeterminadas, não são seguidos de nomes de autores.
spp. – Abreviação para “espécies”, indica duas ou mais espécies
indeterminadas do mesmo gênero. Um exemplo seria Tenedos spp., que
se refere a material sabidamente pertencentes a duas ou mais espécies
indeterminadas do gênero Tenedos.
ssp. – Abreviação para “subespécie”, só deve aparecer após o nome da
espécie. Exemplo: Atta sexdens ssp., indica que a subespécie de Atta
sexdens não foi determinada.
HOMONÍMIA
Quando dois nomes são atribuídos a dois ou mais táxons do mesmo grupo,
denomina-se homonímia. O Código proíbe terminantemente homonímia dentro dos
grupos da família e do gênero em todo o Reino Animal. No grupo da espécie, é
proibida a homonímia dentro de cada gênero (BERNARDI, 1994). Assim, Barbus
quadripunctatus (um peixe actinopterígeo), Dolichoderus quadripunctatus (uma
formiga), Nicrophorus quadripunctatus (um besouro silfídeo) e Cryptocephalus
quadripunctatus (um besouro crisomelídeo) não são homônimos. Nestes casos,
embora a segunda palavra seja a mesma, os binômios são diferentes.
Analogamente, também não são sinônimos o nome genérico Ensifera (aves), o
nome específico Ensifera ensifera e o nome da ordem ou subordem Ensifera
(insetos ortopteróides).
Nos grupos do gênero e da espécie, basta a diferença de uma letra para que
não ocorra homonímia (BERNARDI, 1994). Assim, nomes muito parecidos não são
homônimos, tais como:
Nomes de gêneros: Apodrassus e Apodrassodes; Galianoella e
Gallieniella; Psomophis e Phimophis;
Nomes de espécies: Araneus annuliger e Araneus annulipes; Rhinella
marina e Rhinella merianae; Dendropsophus minimus, Dendropsophus
minusculus e Dendropsophus minutus.
45
Para os nomes do grupo da família, consideram-se homônimos os nomes do
grupo da família cuja única diferença seja o sufixo. Este, por exemplo, é o caso dos
nomes Chrysopidae (uma família de insetos da ordem Neuroptera) e Chrysopinae
(uma subfamília de insetos da ordem de Diptera).
SINONÍMIA
Quando um determinado táxon possui dois ou mais nomes, diz-se que há
sinonímia. Tal ocorrência também é proibida pelo Código e deve ser corrigida,
quando descoberta. Isto pode ocorrer por erros de interpretação ou
desconhecimento da atividade de outros zoólogos, havendo a proposição de um
nome para o que se pensa ser uma nova espécie, ou um táxon supraespecífico
novo, sem se dar conta da existência de um nome prévio para a(o) mesma(o)
(BERNARDI, 1994).
PRINCÍPIO DA PRIORIDADE
A resolução casos de homonínia e sinonímia deve ser feita com a utilização
do princípio da prioridade. Este é o mais importante princípio do Código e versa
que em caso de existência de dois ou mais sinônimos ou homônimos, vale o mais
antigo. Neste caso, o nome mais antigo, que deve ser mantido, passa a ser
denominado sênior (sinônimo sênior ou homônimo sênior); enquanto o nome
mais novo, que deve ser descartado e substituído, passa a ser denominado júnior
(sinônimo júnior ou homônimo júnior).
O nome válido de um táxon é o nome mais velho aplicado a ele, exceto se
aquele nome tiver sido invalidado ou outro nome seja considerado por possuir
precedência por qualquer provisão do Código ou regramento da Comissão
Internacional de Nomenclatura Zoológica (Artigo 23.1). Por esta razão a prioridade
se aplica à validade de sinônimos, à relativa precedência de homnônimos e à
validade de atos nomenclaturais (ex.: fixação de tipos portadores de nomes).
O princípio da prioridade deve ser utilizado para promover a estabilidade e
não se destina a ser utilizado para perturbar a longa aceitação de um nome em seu
significado habitual, através da introdução de um nome que seja seu sinônimo
sênior ou homônimo sênior, ou através de uma ação tomada seguindo a descoberta
46
de um ato nomenclatural anterior e até então não reconhecido (Artigo 23.2). Além
disto, um táxon formado pela junção de dois ou mais táxons nominais previamente
estabelecidos, dentro dos grupos da família, do gênero ou da espécie, leve o seu
nome válido o nome determinado em acordo com o Princípio da Prioridade (Artigo
23.1), o seu propósito (Artigo 23.2) e com as devidas correções de sufixos no caso
de nomes do grupo da família (Artigo 34). Desta forma, o nome válido de um gênero
formado pela união dos gêneros Aus Medina, 1880 e Cus Dupont, 1860, e do
subgênero Bus Hamman, 1800 (transferido do gênero Xus Linnaeus 1758), é Bus
Hamman, 1800.
A seguir, apresentam-se dois exemplos de problemas como os descritos
acima. Seguindo o princípio da prioridade, ao constar-se que o nome Atea proposto
por C. L. Koch em 1837 referia-se às mesmas aranhas denominadas por C. Clerck
em 1757 como Araneus, considerou-se o nome Atea sinônimo-júnior de Araneus,
sendo este último mantido.
Analogamente, o nome Euzonus estava sendo utilizado paralelamente na
Sistemática de anelídeos poliquetos (Opheliidae) e para diplópodes. O nome do
diplópode Euzonus foi apresentado por Menge em 1854, baseado na descrição de
uma única espécie, Euzonus collulum Menge, 1854 e precede a descrição do nome
do poliqueto Euzonus, por Grube em 1866, apresentado para Euzonus arcticus
Grube, 1866 (BLAKE, 2011). Após perceber tal ocorrência, Brewer et al. (2011)
sugeriram a utilização do nome Pectinophelia proposto por Hartman em 1938 para
os poliquetos incluídos no gênero Euzonus Grube, 1866. O nome Pectinophelia até
então era considerado inválido, sinônimo-júnior de Euzonus Grube, 1866. No
entanto, posteriormente, Blake (2011) percebeu que antes do nome Pectinophelia
ser utilizado para referir-se à poliquetos, atualmente no gênero Euzonus, algumas
espécies foram incluídas no gênero Thoracophelia, proposto por Ehlers, 1897. Este
nome, Thoracophelia, até então também era considerado inválido, por também ser
sinônimo-júnior de Euzonus Grube, 1866, assim como Pectinophelia. Assim, nesse
contexto, o próximo nome disponível para os poliquetos alocados em Euzonus
Grube, e que deve passar a ser considerado válido e deve ser mantido, é o nome
Thoracophelia Ehlers, 1897 (BLAKE, 2011).
A ocorrência de um caso de homonímia foi apresentada por Ho et al., (2010).
Neste caso, apresenta-se a descrição do nome Synodus cresseyi por Prokofiev
(2008), pertencente à família Synodontidae, como um nome em substituição a
47
Synodus macrocephalus Cressey, 1981, que estava pré-ocupado por Synodus
macrocephalus Lacépède 1803. No entanto, Synodus macrocephalus Lacépède é
um membro da família Cyprinidae e agora é válido como Luciobrama
macrocephalus (Lacépède). Então, estas duas espécies encontram-se em famílias
diferentes (Synodontidae e Cyprinidae) e uma confusão é improvável de acontecer
(HO et al., 2010). Estes dois nomes aplicam-se a táxons que não são considerados
cogenéricos após 1899, e segundo o Artigo 23.9.5 do Código, e o homônimo-
júnior não deve ser automaticamente substituído. Neste caso, o uso atual de
Synodus macrocephalus Cressey, 1981 deve ser mantido e tratado como disponível
e válido. Conseqüentemente, Synodus cresseyi Prokofiev, 2008 é considerado um
nome substituto desnecessário e é inválido (HO et al., 2010).
O artigo supracitado (Art. 23.9.5) afirma que quando um autor descobre que
um nome do grupo da espécie, em uso, é homônimo júnior de outro nome do grupo
da espécie, também em uso, mas cujos nomes aplicam-se a táxons não
considerados cogenéricos (pertencentes a um mesmo gênero) após 1899, o autor
não deve automaticamente substituir o homônimo júnior. O caso deve ser remetido
para a Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica para análise; e,
enquanto isso, o uso predominante de ambos os nomes deve ser mantido.
Esta situação descrita acima se refere à reversão da precedência, que deve
ser mantida quando as seguintes condições acontecem (Artigo 23.9.1): (1) o
sinônimo ou homônimo sênior não é utilizado como um nome válido após 1899
(Artigo 23.9.1.1), e (2) o sinônimo ou homônimo júnior tem sido utilizado para um
táxon particular como um nome considerado válido em pelo menos 25 publicações,
feitas por pelo menos 10 autores nos últimos 50 anos precedentes e não passados
mais de 10 anos da última publicação (Artigo 23.9.1.2).
Desta forma, um autor que descubra que ambas condições listadas acima
(Artigos 23.9.1.1 e 23.9.1.2) ocorrem, deve citar os dois nomes juntos e estabelecer
explicitamente que o nome mais recente é válido, e que a ação é tomada de acordo
com as condições do Artigo 23.9, apresentando evidências para tal (Artigo 23.9.2).
A partir da data de publicação daquele ato, o nome mais recente tem precedência
sobre o nome mais velho. Quando citado, o nome mais recente, mas válido, deve
ser qualificado pelo termo nomen protectum e o inválido, porém mais antigo, pelo
termo nomen oblitum.
48
Exemplo: O nome válido de uma espécie formada pela inclusão do táxon
nominal Aus xus Schmidt, 1940 e Aus wus Jones, 1800 em uma única espécie
taxonômica é Aus wus Jones, 1800. Mas as condições do Artigo 23.9.1.1 e Artigo
23.9.1.2 são atingidas, então Aus xus Schmidt, 1940 torna-se o nome válido para
aquela espécie. Entretanto, se estes táxons nominais referirem-se a espécies
taxonômicas distintas, então seus nomes são Aus xus Schmidt, 1940 e Aus wus
Jones, 1800. Se, por outro lado, estes dois táxons são tratados como subespécies
de uma única espécie, então seus nomes são Aus xus xus Schmidt, 1940 e Aus xus
wus Jones, 1800 – não Aus wus xus Schmidt, 1940 e Aus wus wus Jones, 1800.
Quando homônimos ou sinônimos são estabelecidos simultaneamente, mas
propostos em diferentes categorias no grupo da família, grupo do gênero ou grupo
da espécie, o nome proposto com a categoria mais elevada tem precedência (Artigo
24.1). Exemplo: Os nomes estabelecidos para o grupo da espécie, vulgaris Schmidt
e sinensis Chang são considerados sinônimos. Como sinensis foi proposto para
uma espécie, ele leva precedência sobre vulgaris, porque este último foi proposto
para uma subespécie.
Quando a precedência de nomes ou atos nomenclaturais não pode ser
objetivamente determinada, a precedência é fixada pela ação do primeiro autor
citando em um trabalho publicado aqueles nomes ou atos e selecionando dentre
eles, sendo este autor denominado “primeiro revisor”. Este regramento chama-se
“princípio do primeiro revisor” (Artigo 24.2.1). Assim, se dois ou mais nomes,
diferentes ou idênticos, e baseados nos mesmos ou diferentes tipos, ou dois ou
mais atos nomenclaturais, são publicados na mesma data no mesmo ou em
diferentes trabalhos, a precedência de nomes ou atos é fixado pelo primeiro revisor,
exceto quando estes nomes ou atos são propostos ou relacionados à diferentes
categorias taxonômicas, como descrito no Artigo 24.1 (Artigo 24.2). Exemplo: Os
nomes das aves Strix scandiaca e S. nyctea foram publicados juntos por Linnaeus
(1758) e são considerados sinônimos-subjetivos. Lönnberg (1931) agiu como o
primeiro revisor e deu precedência para o nome Strix scandiaca; assim, o nome
válido atualmente para a coruja-das-neves é Nyctea scandiaca (Linnaeus, 1758), ao
invés de N. nyctea (Linnaeus, 1758).
Se um nome for escrito mais de uma maneira no trabalho original, o primeiro
autor que citá-los juntos e selecionar uma das duas formas de escrita como correta,
também será considerado o primeiro revisor (Artigo 24.2.3). O próprio autor do
49
trabalho original pode ser considerado o primeiro revisor, desde que use um dos
nomes em uma publicação válida, não necessitando obrigatoriamente fazer a
citação de ambas formas de escrita (Artigo 24.2.4). O Código recomenda que ao
agir como primeiro revisor, um autor deve selecionar o nome, grafia ou ato
nomenclatural que melhor sirva para a estabilidade e a universalidade da
nomenclatura (Recomendação 24A). Além disto,
O Código estabelece arbitrariamente um início para a aplicação do princípio
da prioridade: 1 de janeiro de 1758. Duas obras são consideradas como publicadas
nesta data: a décima edição do Systema Naturae de Linnaeus (LINNAEUS, 1758) e
a obra Aranei Svecici de Carl Alexander Clerck (CLERCK, 1758), tendo a segunda
precedência sobre a primeira. Qualquer outra publicação de 1758 é posterior às
duas. Daí em diante, toda a determinação de prioridade deve ser estabelecida pela
averiguação das datas de publicação (BERNARDI, 1994).
VALIDADE DE PUBLICAÇÕES
Todo nome zoológico, para ser válido, deve ser devidamente publicado. Para
ser considerado “devidamente publicado”, no sentido do Código (Artigo 8), um
trabalho deve satisfazer os seguintes critérios: (1) ser publicado para proporcionar
um registro público e permanente; (2) estar disponível para compra ou permuta na
ocasião da publicação; e (3) devem ser produzidos em uma edição com cópias
disponíveis através de um método que assegurasse cópias idênticas, numerosas e
duráveis. O Código ressalta que teses (dissertações de mestrado e teses de
doutorado) não constituem publicações formais, para fins nomenclaturais.
Ainda de acordo com o Código (Artigo 9), nenhuma das formas de publicação
a seguir são são consideradas pelo propósito do Código: (1) trabalhos manuscritos
depois de 1930; (2) fotografias; (3) provas de publicações; (4) microfilmes; (5)
registros acústicos; (6) etiquetas de espécimes; (7) cópias obtidas sob demanda de
um artigo não publicado, mesmo se previamente depositado em uma biblioteca ou
outro arquivo; (8) texto ou ilustrações distribuídas por meios eletrônicos (ex.:
internet) ou (9) resumos de artigos, publicações, pôsteres, textos de palestras e
materiais similares, quando publicados primariamente em encontros, simpósios,
colóquios ou congressos.
50
AUTORIA E DATA
Como salienta Bernardi (1994), todo nome publicado tem autor e data de
publicação. O autor de um nome é a pessoa que o publicou pela primeira vez como
nome de um táxon. Podem existir dois ou mais autores para um mesmo nome.
No entanto, embora todo nome publicado tenha autor e data de publicação, o
nome científico de uma espécie, não de um táxon de qualquer outra categoria
hierárquica, é uma combinação de dois nomes (um binômio), o primeiro sendo o
nome genérico e o segundo sendo o nome específico (Artigo 5.1). Assim, o autor e
a data da publicação de um nome científico não fazem parte do mesmo, embora
possam ser citados em conjunto, como orientado através de seus Artigos 22 (no que
diz respeito à citação da data de publicação) e 51 (no que diz respeito à citação da
autoria).
Segundo o Artigo 51, a citação do autor de um nome é opcional, embora seja
costumeira e recomendável. O Código recomenda (Recomendação 51A) que o
autor e a data de um nome devem ser citados no texto pelo menos uma vez em
cada trabalho tratando com o táxon denotado pelo nome. Isto é especialmente
importante na distinção entre homônimos e na identificação de nomes do grupo da
espécie, que não estejam em sua combinação original. Se o nome e o sobrenome
de um autor forem passíveis de confusão, estes devem ser distinguidos como em
referências bibliográficas. Por exemplo: Carl Ludwig Koch é normalmente referido
como C. L. Koch ou Koch; enquanto seu filho Ludwig Carl Christian Koch é referido
como L. Koch.
O nome de um autor deve seguir imediatamente após o nome do táxon, sem
qualquer marca de pontuação (vírgula, por exemplo), exceto em combinações
alteradas, como veremos adiante. Quando três ou mais autores forem responsáveis
por um nome, então a citação dos nomes dos autores pode ser expressa pelo uso
do termo “et al.”, seguindo o nome do primeiro autor, desde que o nome de todos os
autores seja citado por completo em algum lugar no mesmo trabalho, seja no texto
ou nas referências bibliográficas (Recomendação 51C).
Se o nome de um táxon foi (ou considera-se que tenha sido) estabelecido
anonimamente, então se deve utilizar o termo “Anon.” como se fosse o nome do
51
autor. Entretanto, se a autoria for conhecida ou inferida a partir de evidências
externas (não presentes no trabalho original), o nome do autor, caso citado, deve
ser disposto entre colchetes, para mostrar que era anônimo originalmente
(Recomendação 51D).
A citação da data, por sua vez, segue o nome do autor; e, assim como a
citação da autoria de um nome, é importante para a distinção entre homônimos e na
identificação de nomes do grupo da espécie, que não estejam em sua combinação
original. Na citação da data, não se deve colocar mais que uma vírgula entre o
nome do autor e a data da publicação do nome (Artigo 52).
Quando um nome do grupo da espécie é combinado com um nome genérico
outro que o original, o nome do autor do nome do grupo da espécie, se citado, deve
ser mantido entre parênteses (a data, se citada, deve ficar dentro dos mesmos
parênteses). Exemplo: o gato mourisco foi descrito originalmente como Felis
yagouaroundi E. Geoffroy, 1803, no entanto, após novas análises esta espécie foi
transferida para o gênero Herpailurus Severtzow, 1858, passando a ser conhecida
como Herpailurus yagouaroundi (E. Geoffroy, 1803).
No entanto, conforme lembra Bernardi (1994), estas mudanças de gêneros
são potencialmente reversíveis; pois, normalmente, baseiam-se na interpretação de
um ou mais autores. Assim, digamos que em um novo arranjo taxonômico, conclua-
se que o gato mourisco, de fato, não pertença ao gênero Herpailurus, mas que o
autor original estava correto. Assim, volta-se a falar em Felis yagouaroundi E.
Geoffroy, 1803.
Em suma, o nome do autor e a data são citados entre parênteses quando o
nome do grupo da espécie é citado em uma nova combinação, isto é, quando o
segundo termo do binômio ou o terceiro termo do trinômio são usados em
combinação com o nome de um gênero diferente do nome com que combinaram
pela primeira vez (BERNARDI, 1994).
Além disto, como enfatiza Constantino (2012), nomes de gêneros podem ser
abreviados depois que o nome completo já apareceu pelo menos uma vez no texto,
tomando sempre o cuidado de evitar ambigüidade. Desta forma, Coptotermes
havilandi poderia ser abreviado como C. havilandi; porém se no mesmo texto
aparecer a espécie Cryptotermes havlandi, a abreviação “C.” seria ambígua. Neste
caso, seria suficiente acrescentar mais uma letra na combinação: Co. havilandi e Cr.
havilandi (CONSTANTINO, 2012).
52
PRINCÍPIO DA TIPIFICAÇÃO
Cada táxon nominal do grupo da família, gênero ou espécie tem atualmente,
ou potencialmente, um tipo portador do nome, sendo esta determinação
conhecida como princípio da tipificação (Artigo 61.1). O próprio Código descreve
como “tipo portador do nome”: o gênero-tipo, espécie-tipo, holótipo, lectótipo,
síntipos (que em conjunto constituem um tipo portador do nome) ou um neótipo, que
fornece o padrão de referenciar, mediante o qual a aplicação do nome de um táxon
pode ser determinado. Em outras palavras, tipos portadores de nomes é/são o(s)
indivíduo(s) ou táxon(s) que representa(m) o parâmetro de comparação para a
aplicação de um determinado nome. Assim, o tipo de um nome do grupo da
família é um gênero-tipo. O tipo de um nome genérico ou subgenérico é uma
espécie-tipo. O tipo de um nome específico ou subespecífico pode ser um
espécime (holótico, lectótipo ou neótipo) ou um conjunto de dois ou mais
espécimes (série-tipo). O Código estabelece que, não importando como varie os
limites de um táxon na opinião dos zoólogos, o nome válido de um táxon é
determinado pelo tipo portador do nome considerado a pertencer dentro destes
limites (Artigo 61.1.1).
Para evitar confusões com outras áreas do conhecimento, como a genética, o
tipo portador do nome de um gênero ou de um subgênero deve ser referido
estritamente como “espécie-tipo” (correspondente, em português, do termo, em
inglês, “type species”), evitando assim confusão com o uso do termo “genótipo”, por
exemplo (Recomendação 67A).
Se um táxon nominado (ex.: uma espécie descrita formalmente) possui
diferentes tipos portadores de nomes que se referem à mesma unidade taxonômica,
seus nomes são sinônimos subjetivos para aquela categoria taxonômica (Artigo
61.3.1). No entanto, para categorias subordinadas (inferiores) eles não necessitam
ser sinônimos. Por exemplo: os diferentes tipos portadores de nomes de Psittacus
elegans Gmelin, 1788 e Platycercus flaveolus Gould, 1837 são considerados como
pertencentes de uma mesma espécie de papagaios, a qual Platycercus elegans
(Gmelin, 1788) – em nova combinação – é o nome válido, por ser o sinônimo-
sênior. Embora, os nomes sejam sinônimos subjetivos ao nível de espécie, eles
não são sinônimos ao nível subordinado de subespécie de Platycercus elegans,
53
para o qual os nomes válidos são Platycercus elegans elegans (Gmelin, 1788) e
Platycercus elegans flaveolus Gould, 1837.
Se dois ou mais nomes genéricos sinônimos forem utilizados como a base
para nomes do grupo da família, então estes nomes do grupo da família são
sinônimos objetivos (Artigo 61.3.2). Analogamente, se dois ou mais táxons
nominados do grupo do gênero tem a mesma espécie-tipo ou nomes diferentes de
espécies tipos baseado no mesmo tipo portador do nome, seus nomes são
sinônimos objetivos (Artigo 61.3.3). Da mesma forma, se dois táxons nominais do
grupo da espécie tiverem o mesmo tipo portador do nome, então seus nomes são
sinônimos objetivos (Artigo 61.3.4).
A proposição de sinonímias tem importância direta na citação de tipos
portadores de nomes. Assim, a citação de uma espécie-tipo deve seguir sempre seu
binômio original, mesmo que a mesma seja ou esteja atualmente tratada como um
nome inválido; citando-se também o nome válido. Exemplo: Astacus marinus
Fabricius, 1775, uma das espécies originalmente incluídas no gênero de crustáceos
decápodes do gênero Homarus Weber, 1795, foi subsequentemente designada por
Fowler (1912) como a espécie-tipo de Homarus. A espécie-tipo é, e deveria ser
citada como, Astacus marinus Fabricius, 1775. Astacus marinus Fabricius, 1775 é
atualmente sinonimizada com Cancer gammarus Linnaeus, 1758, mas esta última
não é a espécie-tipo de Homarus e não deve ser citada como tal. Se a menção da
espécie-tipo de Homarus for necessária, ela deve ser feita de alguma maneira como
“espécie-tipo Astacus marinus Fabricius, 1775, um sinônimo-júnior de Cancer
gammarus Linnaeus, 1758”; ou “espécie-tipo Astacus marinus Fabricius, 1775,
agora considerada como um sinônimo-júnior de Cancer gammarus Linnaeus, 1758”
(Recomendação 67B).
A escolha de um gênero-tipo para a fixação de um novo um táxon nominal do
grupo da família também é regida pelo Código (Artigo 64). Um autor não é obrigado
à escolher necessariamente o nome mais velho, porém deve utilizar um gênero
considerado como válido pelos dispositivos do Código (segundo o Artigo 11.7.1). A
escolha do gênero-tipo determina o radical do nome do táxon nominal do grupo da
família. O Código recomenda ainda que um autor que queira estabelecer um táxon
nominal do grupo da família deve escolher como seu gênero-tipo um gênero que
seja tanto bem conhecido como representativo para o táxon do grupo da família
(Recomendação 64A).
54
Além disto, se um autor publicar um novo nome do grupo do gênero
expressamente como um nome para substituição (nomen novum) de um nome
previamente estabelecido (por exemplo, um novo nome para um homônimo-júnior),
ambos, tanto o nome antigo quanto o seu nome substituto, terão a mesma espécie-
tipo e o mesmo fixador do tipo (Artigo 67.8). Examplo. O gênero hipotético Bus
Schmidt, 1890 foi proposto expressamente como um novo nome em substituição
(nomen novum) para o homônimo-júnior Aus Medina, 1880, preocupado por
Dupont, 1860 (ou seja, Dupont em 1860 também descreveu um gênero chamado
Aus, sinônimo-sênior do gênero também chamado Aus, descrito por Medina em
1880). Se Cus xus é validamente fixado como a espécie-tipo de Aus Medina, ele é
automaticamente a espécie-tipo de Bus. Se, por outro lado, nenhuma espécie-tipo
tiver sido fixada para Aus Medina e Cus xus é validamente fixada como a espécie-
tipo de Bus, então ela também é espécie-tipo de Aus Medina.
A designação de subgêneros ou subespécies como tipos portadores de
nomes é permitida pelo código, desde que os mesmos sejam primeiro elevados à
categoria de gênero ou de espécie, respectivamente (Artigo 61.4). Por exemplo:
Planigale Troughton, 1928 (Mammalia) foi estabelecido com as espécies P.
subtilissima (Lönnberg, 1913), P. tenuirostris Troughton, 1928 e P. ingrami (Thomas,
1906) e a subespécie P. ingrami brunnea Troughton, 1928. Na descrição original, a
“última subespécie de ingrami” (considerando a existência de duas subespécies: P.
ingrami ingrami e P. ingrami brunnea) foi designada para o tipo de Planigale. Assim,
P. brunnea Troughton, 1928 é a espécie tipo por designação original e não P.
ingrami (Thomas, 1906). Assim, considera-se que Troughton, em sua publicação de
1928 descreveu a espécie P. ingrami e que esta é a espécie-tipo de Phanigale,
sendo posteriormente transferida para a categoria de subespécie, no mesmo
trabalho.
A fixação do tipo de um gênero por uma determinada espécie pode
acontecer, de quatro mandeiras, seguindo a ordem de precedência: (1) descrição
original, (2) monotipia, (3) tautonomia absoluta, (4) tautonomia lineana (Artigo 68.1).
A fixação da espécie-tipo pela descrição original ocorre quando uma espécie
nominal é explicitamente designada como a espécie-tipo quando o nome do táxon
do grupo da espécie é estabelecido (Artigo 68.2). As expressões “gen. n., sp. n.”,
“novo gênero e espécie”, ou um equivalente para apenas uma de duas ou mais
espécies nominais incluídas originalmente no novo gênero nominal ou subgênero
55
nominal são consideradas a serem uma designação original se nenhuma outra
espécie-tipo tiver sido explicitamente designada (Artigo 68.2.1).
A fixação da espécie-tipo por monotipia acontece quando um autor
estabelece um novo táxon nominal do grupo do gênero para uma única espécie
taxonômica, sendo esta considerada a espécie-tipo (Artigo 68.3). Esta forma de
realizar a fixação independe de qualquer sinônimo citado, subespécies ou nomes
não válidos e independente do(a) autor(a) considerar que o novo táxon nominal
contenha outras espécies que não foram explicitamente citadas.
A fixação de uma espécie-tipo por tautonomia absoluta ocorre quando um
nome válido do grupo da espécie, ou seu sinônimo citado, originalmente incluído em
um táxon nominal do grupo do gênero é idêntico ao nome daquele táxon, a espécie
nominal denotada por aquele nome específico é a espécie-tipo (Artigo 68.4).
Exemplo: O novo gênero nominal Aus Smith contem entre suas espécies nominais
Aus xus (Brown) e entre os sinônimos citados desta espécie há o nome disponível
Bus xus aus Robinson. A espécie-tipo de Aus é Bus aus Robinson, não Bus xus
Brown.
A fixação da espécie tipo por “tautonomia Lineana” acontece se, na
sinonímia de apenas uma das espécies nominais originalmente incluídas em um
táxon nominal do grupo do gênero estabelecidos antes de 1931, existir uma citação
de um nome de antes 1758 (ano em que ocorreu a publicação do Systema Naturae
por Linnaeus), de uma palavra idêntica ao novo nome do grupo do gênero, aquela
espécie nominal é a espécie-tipo (Artigo 68.5). Ou seja, quando há ortografia
idêntica de um nome genérico ou subgenérico e um nome anterior a 1758, citado
como sinônimo de só uma das espécies ou subespécies originalmente incluídas
nesse gênero. Exemplo: O gênero Castor Linnaeus, 1758 (o castor) foi estabelecido
com duas espécies inclusas. Na lista sinonímica de uma destas espécies (Castor
fiber) é citado o nome de uma só palavra “Castor”, utilizado por Conrad Gesner
(1516 – 1565). Além disto, no que diz respeito à fixação de espécies-tipo, o Código
trata ainda de quando a fixação não ocorre na publicação original e sobre sua
subseqüente fixação (Artigo 69), além da identificação da espécie-tipo (Artigo 70).
O uso do termo “tipo” forma parte de muitos termos compostos utilizados por
taxonomistas para distinguir entre diferentes tipos de espécimes, apenas alguns dos
quais são “tipos portadores de nomes” (Artigo 72.1). São reconhecidas três
categorias de espécimes:
56
(1) Série-tipo: todos os espécimes utilizados por um autor para estabelecer
um táxon nominal do grupo da espécie. Na ausência da designação de um holótipo,
ou designação de síntipos ou de subseqüente designação de um lectótipo, todos os
espécimes da série-tipo são considerados síntipos e, coletivamente, eles constituem
o tipo portador do nome (Artigo 72.1.1).
(2) Tipos portadores de nomes: espécimes com uma função de carregar
um nome, quando fixados originalmente (holótipo ou síntipo) ou fixados
subseqüentemente (lectótipo ou neótipo).
(3) Outros espécimes: aqueles sem uma função de tipo portador de nome
(parátipos ou paralectótipos).
57
Quando um autor designa um holótipo, então outros espécimes de uma série-
tipo são parátipos. Estes não se tornam síntipos e não podem ser utilizados para a
seleção de um lectótipo, se o holótipo estiver perdido ou destruído; entretanto, eles
são elegíveis para a seleção de um neótipo (Artigo 72.4.5).
O Código estabelece que holótipos, síntipos, lectótipos e neótipos são os
portadores dos nomes científicos de todos os táxons nominais do grupo da espécie
(e, indiretamente, de todos os táxons de animais). Eles são os padrões
internacionais de referência que provem objetividade na nomenclatura zoológica e
devem receber os cuidados, mantidos com segurança para a ciência, por pessoas
responsáveis para tal (Artigo 72.10). Assim, deve haver rotulagem adequada de
holótipos, síntipos, lectótipos e neótipos de uma maneira que seu status seja
inconfundível (Recomendação 72D).
Um holótipo, termo já citado outras vezes anteriormente, é um único
espécime através do qual o novo táxon nominal do grupo da espécie é baseado na
publicação original (Artigo 73.1).
De acordo com o Código (Artigo 72.5), entende-se por espécimes, um
animal ou parte de um animal, ou representações fossilizadas de animais. Pode
ainda ser uma colônia de animais que existam na natureza como uma única
entidade (ex.: uma colônia ou parte de uma colônia de cnidários, como os corais).
Em espécies de protistas, uma ou mais preparações de indivíduos diretamente
relacionados, representando diferentes estágios do ciclo de vida podem também
representar um tipo portador do nome. Uma preparação para exame ao microscópio
contendo um ou mais organismos individuais, em que o tipo portador do nome seja
claramente indicado e identificável também pode ser utilizado. O Código frisa ainda
que ilustrações ou descrições, por si mesmas, não representam tipos portadores de
nomes, no entanto, o(s) espécime(s) utilizado(s) para fazer as ilustrações ou
desenhos, sim.
Se um autor, quando estabelecendo um novo táxon nominal do grupo da
espécie, afirma em sua publicação original que um espécime, e apenas um, é o
holótipo, ou “o tipo”, ou usa alguma expressão equivalente, aquele espécime é o
holótipo, fixado por designação original (Artigo 73.1.1). Se o táxon nominal do
grupo da espécie é baseado em um único espécime, aquele espécime é o holótipo,
fixado por monotipia (Artigo 73.1.2).
58
O holótipo de um táxon nominal do grupo da espécie só pode ser fixado em
sua publicação original pelo autor original (Artigo 73.1.3). Porém, se um autor
subseqüente descobrir que um holótipo que consiste de um grupo de componentes
(ex.: partes desarticuladas de corpo) não é derivado de um único indivíduo animal,
os componentes estranhos devem, através de citação apropriada, ser excluídos do
holótipo (Artigo 73.1.5).
A designação de um holótipo, por um autor que estabelecer um novo táxon
nominal do grupo da espécie, deve ser feita de uma maneira que facilite o
subseqüente reconhecimento do mesmo (Recomendação 73A). Preferivelmente,
este autor deve designar como holótipo um espécime atualmente estudado por
ele(a), e não um espécime conhecido por ele(a) apenas através de descrições ou
ilustrações da literatura (Recomendação 73B). Isto torna-se importante, para evitar
problemas com más identificações. Se um táxon nominal do grupo da espécie é
baseado, completamente ou em parte, em uma má identificação publicada por um
autor precedente, a série-tipo consiste/inclui o espécime ou espécimes que foram
identificados erroneamente, se o autor atual referir-se à eles diretamente ou através
de ilustração ou uma descrição (Artigo 72.4.2).
O Código afirma ainda que informações sobre o holótipo devem ser
apresentadas por um autor que queira estabelecer uma nova espécie ou
subespécie, desde que estas sejam relevantes e conhecidas por este autor
(Recomendação 73C). Assim, recomenda-se a publicação das seguintes
informações sobre o holótipo: (1) tamanho de um ou mais órgãos relevantes ou
partes ou o tamanho total do mesmo; (2) localidade completa (incluindo
coordenadas geográficas), data e outras informações que acompanhem as
etiquetas (rótulos); (3) o sexo, se aplicável; (4) o estágio do desenvolvimento e sua
casta, se o táxon incluir mais de uma casta; (5) o nome do coletor; (6) a coleção na
qual ele está depositado e qualquer número de registro ou número da coleção
associado ao mesmo; (7) no caso de parasitas, o nome da espécie hospedeira; (8) a
profundidade (para animais aquáticos atuais) ou a altitude (para animais terrestres
atuais) em metros da localidade onde o espécime foi coletado; e (9) no caso de um
táxon fóssil, a era geológica e a posição estratigráfica do holótipo.
Quando um autor descreve um novo táxon nominal do grupo da espécie e
não promove a fixação de um holótipo ou de um lectótipo, então, automaticamente,
todos os espécimes da série-tipo são denominados síntipos. Os síntipos são
59
espécies de uma série-tipo que, coletivamente, constituem o tipo portador do nome.
Alternativamente, um autor também podem expressamente designar todos os
indivíduos de uma série-tipo como síntipos.
O tipo portador de um nome pode ainda ser constituído por uma ou mais
preparações ou culturas para designar um táxon nominal de protistas atuais, sendo
assim chamado de hapantótipo. Este hapantótipo é o holótipo do táxon nominal
(Artigo 73.3). Um hapantótipo, embora consista de um número de organismos
separados, é considerado ser indivisível e não pode ser restrito pela seleção de um
lectótipo (Artigo 73.3.1); mas, se um hapantótipo for constituído de mais que um
táxon do grupo da espécie, seus componentes podem, através de citação
apropriada, ser excluídos dele, até que contenha apenas indivíduos de apenas um
táxon do grupo da espécie (Artigo 73.3.2), uma ação análoga à exclusão de partes
componentes de um holótipo originado em diversos organismos (descrito no Artigo
73.1.5).
Um tipo portador de nome pode ainda ser fixado subseqüentemente a partir
da série-tipo (Artigo 74.1). Assim, dentre os síntipos de um táxon nominal do grupo
da espécie, um indivíduo pode ser designado para ser o único portador daquele
nome e representar os padrões para sua aplicação, sendo este indivíduo
denominado de lectótipo (Artigo 74.1). A válida designação de lectótipos fixa o
status de um espécime como o único tipo portador do nome de um táxon nominal e
nenhuma designação posterior de um lectótipo, para aquele mesmo táxon, terá
validade (Artigo 74.1.1).
A designação de um lectótipo permanentemente destitui todos os outros
espécimes, que eram formalmente síntipos daquele táxon nominal, do status de
síntipos; tornando-se então, paralectótipos (Artigo 74.1.3). Os paralectótipos não
tem função de portadores de nome e não retornam ao seu status de síntipos se o
lectótipo for perdido ou destruído (Artigo 73.2.2).
O Código estabelece ainda que a designação de lectótipos não pode ser
realizada coletivamente através de uma regra generalizada, devendo ser feita
especificamente para um táxon nominal. Exemplo: Smith, revisando coleções
descritas em publicações de Dupont, fez o regramento que no cado de cada nova
espécie descrita por Dupont, “o espécime portando etiqueta de determinação feita
por Dupont é o tipo” ou “o espécime listado primeiro na publicação é designado
60
como o lectótipo”. Tal ato feito por Smith não constitui uma designação válida de
lectótipo de acordo com o Artigo 74.3 do Código.
O Código descreve ainda diversas recomendações acerca da designação de
lectótipos:
Deve preferencialmente ser feita a partir de indivíduos com uma ilustração
publicada (Recomendação 74B);
Um autor que queira designar um lectótipo deve publicar as mesmas
informações recomendadas para publicação sobre um holótipo
(Recomendação 73C – descritas acima), além de descrever qualquer
característica individual que permita o seu reconhecimento
(Recomendação 74C);
Quando possível, um lectótipo deve ser escolhido de síntipos da coleção
de uma instituição pública, preferencialmente da instituição contendo o
maior número de síntipos do táxon nominal do grupo da espécie, ou
contendo a coleção da qual o autor do táxon nominal do grupo da espécie
trabalhou, ou contendo a maioria dos tipos daquele autor (Recomendação
74D);
Um síntipo de localidade conhecida deve ser preferível em relação a um
de origem desconhecida;
Um autor que designe um lectótipo deve claramente rotulá-lo como tal,
bem como rotular os outros síntipos como “paralectótipos”, pois tanto
parátipos, quanto paralectótipos, embora não possuam status de
portadores de nome, podem ser elegíveis para designação de neótipos
(Recomendação 74F).
61
naquele nomento em que foi designação, o suposto “neótipo” não possui status de
portador do nome.
Visto isto, o Código determina em seu Artigo 75.3, condições que qualificam a
designação válida de um neótipo quando há uma necessidade excepcional e
apenas quando esta necessidade é expressamente reportada e quando a
designação é publicada de acordo com as seguintes particularidades:
A afirmação que é designação com o propósito expresso de clarificar o
status taxonômico ou a localidade-tipo de um táxon nominal;
A relação dos caracteres que o autor considera como diferenciadores
daqueles de outros táxons nominais do grupo da espécie, para os quais o
neótipo é designado, ou uma referência bibliográfica com tal relação;
Informações e descrição suficiente para garantir o reconhecimento do
espécime designado;
A razão do autor para acreditar que o(s) espécime(s) tipo portador(es) do
nome (ex.: holótipo, lectótipo, síntipo ou um neótipo anterior) está/estão
perdido(s) ou destruído(s), e o que foi feito para descobrir tais
informações;
Evidências de que o neótipo é consistente com o que é conhecido para o
anterior tipo portador do nome da descrição original e de outras fontes;
embora um neótipo possa ser baseado em um diferente sexo ou estágio
de vida, se necessário ou desejável para assegurar a estabilidade da
nomenclatura;
Evidências de que o neótipo veio tão próximo quanto possível da
localidade-tipo original e, quando relevante, do mesmo horizonte
geológico ou espécie hospedeira que o original tipo portador do nome;
A garantia de que o neótipo é, ou imediatamente após a publicação se
tornará, propriedade de uma reconhecida instituição científica ou
educacional, citada por nome, que contenha uma coleção de pesquisa,
com recursos apropriados para preservar os tipos portadores do nome e
que os faça acessíveis para estudos.
62
válida, e nenhuma designação subseqüente terá validade (exceto em casos
decididos pelo poder da plenária da Comissão Internacional de Nomenclatura
Zoológica) (Artigo 75.4). No entanto, se um neótipo validade designado é perdido ou
destruído, um novo neótipo pode ser designado para substituí-lo (Artigo 75.4.1). O
Código aconselha ainda que autores devam escolher neótipos de qualquer parátipo
ou paralectótipos existentes, exceto se houver razões convincentes para o contrário,
como informações inadequadas para atender às exigências taxonômicas, a má
condição de conservação dos espécimes, ou provável mistura de táxons
(Recomendação 75A).
Em casos extremos, pode haver a designação de um neótipo mesmo quando
o tipo portador do nome ainda é conhecido. Isto acontece quando um autor
considera que a identidade taxonômica de um táxon nominal do grupo da espécie
não pode ser determinado pelo seu tipo portador do nome (ex.: o nome é um
nomen dubium), e a estabilidade ou universalidade estão, portanto, ameaçadas.
Então, o autor pode requerer à Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica
para deixar de lado, sob poderes de sua plenária, o atual tipo portador do nome e
designar um neótipo. Exemplo: o holótipo da espécie de gastrópode amonito
Cycloceras laevigatum M'Coy, 1844 faltava importantes características diagnósticas.
Através de requermento, a Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica,
através de poderes de plenário, retirou o status de tipo do seu espécime-tipo e
designou um neótipo.
Pode ainda acontecer do(s) tipo(s) portador(es) do nome de um táxon
nominal do grupo da espécie (ex.: holótipo, lectótipo, síntipo ou um neótipo anterior),
que era(m) considerado(s) perdido(s) ou destruído(s), ser(em) encontrado(s) após a
designação de um neótipo. Neste caso, no momento da publicação da sua
redescoberta o material torna-se novamente o tipo portador do nome e o neótipo é
deixado de lado (exceto, por algum motivo especial, através de decisão da
Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica) (Artigo 75.8).
Como já mencionado anteriormente, informações sobre a procedência dos
indivíduos utilizados na descrição de um novo táxon do grupo da espécie (ex.:
holótipo) são importantes. A localização geográfica do local de captura, coleta ou
observação do tipo portador do nome, ou seu posicionamento estratigráfico, quando
relevante, é denominada localidade-tipo (Artigo 76.1). Se todos os síntipos de um
táxon nominal do grupo da espécie tem o mesmo local de origem, aquela é a
63
localidade-tipo; porém, se síntipos originados de duas ou mais localidades (incluindo
estratos diferentes), a localidade-tipo engloba todos os lugares de origem (Artigo
73.2.3). O local de origem de um lectótipo ou de um neótipo, após suas
designações, tornar-se-á a localidade-tipo de um táxon nominal do grupo da
espécie, independente se qualquer publicação anterior sobre a localidade-tipo
(Artigos 73.2.3, 76.2 e 76.3).
Se a captura ou coleta acontecer após transporte por meios artificiais, a
localidade-tipo é seu lugar do qual o tipo portador do nome, ou seu progenitor
selvagem, começou sua viagem não natural (Artigo 76.1.1).
O Código apresenta ainda diversas recomendações sobre as localidades-
tipo. Assim, para precisar e esclarecer uma localidade-tipo um autor deve levar em
consideração (1) as informações acompanhando o material original; (2) notas dos
coletores, itinerários ou comunicações pessoais; (3) a descrição original do táxon; e
(4) como último recurso, e sem prejuízo de outras precisões, localidades dentro do
alcance conhecido do táxon ou de que os espécimes do táxon tenham sido
registrados.
Resumidamente, são reconhecidas várias categorias de tipos através do
Código, além de algumas que são utilizadas, na prática, mesmo sem seu
reconhecimento formal. São listadas e conceituadas abaixo algumas destas
categorias:
Alótipo: um termo regulamentado pelo Código (Recomendação 72A),
para um espécime designado, com sexo oposto ao do holótipo, porém
que formalmente não possui função de tipo portador do nome;
Cótipo: termo antes utilizado para síntipo ou parátipo;
Hapantótipo: uma ou mais preparações consistindo de indivíduos
diretamente relacionados representando estágios distintos do ciclo de
vida, que juntas formam o tipo portador do nome de uma espécie atual de
protozoário. Um hapantótipo, enquanto uma série de indivíduos, é um
holótipo que não deve ser restrito pela seleção de um holótipo; entretanto,
se um hapantótipo for constituído de indivíduos de mais de uma espécie,
alguns componentes devem ser excluídos até conter indivíduos de uma
única espécie.
64
Holótipo: um único espécime (exceto no caso de hapantótipo, conforme
definido pelo Código) designado ou de alguma forma fixado como tipo
portador do nome de uma espécie nominal ou subespécie quando o táxon
nominal é estabelecido. Ou seja, é o único espécime utilizado pelo autor
para basear-se na descrição de uma espécie; ou o espécime determinado
pelo autor, dentre um conjunto de indivíduos examinados, como aquele
utilizado para basear-se na descrição de uma espécie.
Lectótipo: um sintipo designado como o único espécime tipo portador do
nome, subseqüente ao estabelecimento nominal da espécie ou
subespécie. Exemplo: Um autor utiliza uma amostra de dois ou mais
exemplares para descrever uma espécie, sem designar o holótipo, sendo
assim todos denominados síntipos. Em uma publicação subseqüente
(posterior), este ou outro autor promove a designação do espécime tipo
portador do nome, dentre os síntipos desta espécie, sendo este único
exemplar denominado lectótipo.
Neótipo: é o único espécime designado como tipo portador do nome de
uma espécie ou subespécie nominal, quando há a necessidade de definir
claramente este táxon e acredita-se que o tipo portador do nome não
exista mais (ex.: holótipo ou síntipos perdidos ou destruídos).
Paralectótipo: cada espécime de uma série-tipo formal, restante após a
designação de um lectótipo. Exemplo: Um autor utiliza uma amostra de
dois ou mais exemplares para descrever uma espécie, sem designar o
holótipo, sendo assim todos denominados síntipos. Em uma publicação
subseqüente (posterior), este ou outro autor promove a designação do
espécime tipo portador do nome, dentre os síntipos desta espécie, sendo
este único exemplar denominado lectótipo. Todos os indivíduos restantes
são então denominados paralectótipos.
Parátipo: cada espécime de uma série-tipo, outros que não o holótipo.
Exemplo: Um autor utiliza uma amostra de dois ou mais exemplares para
descrever uma espécie, e faz a designação de um deles como holótipo,
assim todos demais são denominados parátipos.
Síntipo: cada espécime de uma série-tipo da qual nem um holótipo ou um
lectótipo foram designados. Os síntipos coletivamente constituem o tipo
65
portador do nome. Exemplo: Um autor utiliza uma amostra de dois ou
mais exemplares para descrever uma espécie, sem designar o holótipo,
sendo assim cada um denominado, individualmente, síntipo.
Topotipo: um termo não regulamentado pelo Código, para um espécime
originado da localidade tipo da espécie ou subespécie da qual se acredita
que pertença, seja ou não o espécime parte da série típica.
TÁXONS NOMINOTÍPICOS
Por definição, quando um táxon do grupo da família é subdividido, o táxon
subordinado que contém o gênero-tipo é indicado pelo mesmo nome (alterando-se
apenas seu sufixo) com o mesmo autor e data. Este táxon subordinado é
denominado “táxon nominotípo” (Artigo 37.1). Exemplo: A família Tipulidae
Latreille, 1802 possui o gênero-tipo Tipula Linnaeus, 1758. Ela é dividida em um
número de subfamílias nomeadas. A subfamília contendo Tipula é chamada
Tipulinae Latreille, 1802 e é a subfamília nominotípica.
Analogamente, quando um gênero é considerado conter subgêneros, o
subgênero que contém a espécie-tipo daquele gênero é indicada pelo seu mesmo
nome, com o mesmo autor e data. Este subgênero é denominado gênero
nominotípico (Artigo 44.1). Assim, um gênero e o seu subgênero nominotípico tem
a mesma espécie-tipo (Artigo 67.1.1). Por exemplo: Se um autor descreve o gênero
Capullaria com base na espécie-tipo Capullaria hirsuta, incluindo diversas outras
espécies e dividindo-o em subgêneros; logo, o subgênero nominotípico Capullaria,
também terá sua espécie-tipo Capullaria hirsuta, com mesmo autor e data.
Da mesma forma, quando uma espécie é considerada conter subespécies, a
subespécie que contenha o tipo portador do nome daquela espécie é indicada pelo
mesmo nome da espécie, com o mesmo autor e data. Esta subespécie é
denominada subespécie nominotípica (Artigo 47.1). Assim, uma espécie nominal
e sua subespécie nominotípica tem o mesmo tipo portador do nome (Artigo 72.8).
PRINCÍPIO DA COORDENAÇÃO
Um nome estabelecido para um táxon de qualquer categoria no grupo da
família é considerado como tendo sido estabelecido para táxons nominais de todos
66
as outras categorias do grupo da família. Todos estes táxons tem o mesmo gênero-
tipo e seus nomes são formados pelo radial do nome do gênero-tipo (Artigo 29.3),
com a apropriada mudança do sufixo (Artigo 34.1). O nome tem a mesma autoria e
data para todas as categorias taxonômicas. Este princípio é denominado princípio
da coordenação (Artigo 36.1).
Exemplo: A família de borboletas, Hesperiidae, baseada em Hesperia
Fabricius, 1793, foi estabelecida em 1809 por Latreille. Este autor é considerado
como tendo estabelecido simultaneamente o nome coordenado da superfamília
Hesperioidea e o nome coordenado da subfamília Hesperiinae, mesmo que estes
tenham sido utilizados pela primeira vez muito tempo após a publicação do trabalho
de Latreille em 1809. A autoria e a data de todos os três nomes (Hesperioidea,
Hesperiidae e Hesperiinae) é Latreille, 1809.
Quando um táxon nominal é elevado ou abaixado na categoria do grupo da
família, seu gênero tipo permanece o mesmo (Artigo 36.2).
67
EXERCÍCIOS
02. (Vunesp - SP) Alunos de uma escola, em visita ao zoológico, deveriam escolher
uma das espécies em exposição e pesquisar sobre seus hábitos, alimentação,
distribuição, etc. No setor dos macacos um dos alunos ficou impressionado com a
beleza e agilidade dos macacos-pregos. No recinto desses animais havia uma placa
com a identificação: “Nome vulgar: Macaco-prego (em inglês: Raing-tail Monkeys ou
Cupuchin monkey); Ordem: Primates; Família: Cebidae; Espécie: Cebus apella”.
Esta foi a espécie escolhida por esse aluno. Chegando em casa, procurou um site
de busca e pesquisa na Internet. O aluno deveria digitar até duas palavras-chaves e
iniciar a busca. Que palavras o aluno deve digitar para obter informações apenas
sobre a espécie escolhida? Justifique a sua resposta.
68
05. Identifique a categoria taxonômica a que se referem cada um dos nomes
citados, de acordo com as regras de nomenclatura zoológica, e justifique sua
resposta.
a) Hominidae
b) Ascaris lumbricoides
c) Homo sapiens sapiens
d) Phlebotomini
d) Rattus
06. (PPGZoo - MPEG) Interprete a lista sinonímica abaixo, apresentada por Ávila-
Pires (1995) para o lagarto Crocodilurus lacertinus, e responda as duas questões
que se seguem.
Tupinambis lacertinus Daudin, 1802: 85 (holotype MHNP 8372, type-locality:
´Cayenne´).
Crocodilurus amazonicus Spix, 1825: 19 (holotype ZSMH 638/0, type-locality: São
Paulo de Olivenças, Rio Solimões); Cope, 1876: 162.
Crocodilurus ocellatus Spix, 1825: 20 (lectotype, according to designation by
Hoogmoed & Gruber, 1983, ZSMH 639/0; type-locality: Tefé, Rio Solimões).
Crocodilurus lacertinus; Duméril & Bibron, 1839: 46; Guichenot, 1855: 29; Boulenger,
1885b: 380; Goeldi, 1902: 537, 546; Burt & Burt, 1931: 326; Cunha, 1961: 116;
Vanzolini, 1972: 105, 1981a: xxi, 1986a: 14; Hoogmoed & Lescure, 1975: 157;
Hoogmoed, 1979: 278; Hoogmoed & Gruber, 1983: 392.
Crocodilurus lacertina; Crump, 1971: 20.
a) Faça a citação completa do nome da espécie.
b) O que fez Duméril & Bibron, 1839?
69
Briliant (1910). A análise filogenética feita por Costa (2001) indicou que
Trompsonidae é um grupo polifilético e, por este motivo, Costa (2001) elevou alguns
dos subgrupos de Trompsonidae ao status de família, incluindo Taumaturginae”.
Com base nos dados acima, faça a citação completa do nome da família
Taumaturgidae e justifique a atribuição de autoria à família Taumaturgidae.
70
12. (Modificado do PPGZoo – MPEG) Analise a figura abaixo, considerando o
objetivos principais da escola cladista (definir e propor grupos monofiléticos),
resposta as perguntas que se seguem.
71
11. (UFPB 2008) Um professor de Biologia orientou os estudantes para coletarem
exemplares diversos do reino Animalia, e os agruparem de acordo com as
carac-terísticas que julgassem comuns. Os estudantes organizaram os animais nos
seguintes grupos:
72
UNIDADE 2
Coleta, Preparação e
Armazenamento de Material
Zoológico
Objetivos da unidade
1. Apresentar os principais itens a serem utilizados em atividades de
campo;
2. Caracterizar as armadilhas para amostragem de animais invertebrados
(especialmente terrestres) e vertebrados;
3. Apresentar as técnicas de biometria, registro do comportamento
biológico e de preservação de vertebrados;
4. Caracterizar e classificar as coleções zoológicas;
5. Apresentar as ações de curadoria de coleções zoológicas;
6. Mostrar o estado da arte de coleções zoológicas brasileiras.
73
Capítulo 4 - Métodos e Técnicas de
Coleta e Preparação de Invertebrados
74
para que estes possam ser mantidos nas coleções zoológicas a fim de que outros
pesquisadores possam ter acesso e estudar o material disponível.
Neste Capítulo abordaremos os principais métodos de amostragem e de
preparação de invertebrados, especialmente invertebrados terrestres.
75
Figura 6 – Modelos de armadilhas etanólicas, testadas por Pelenir (2007) quanto à
eficiência na amostragem de Scolytidae. A: Modelo de armadilha Roechling
(modificada); B: Modelo de armadilha PET Santa Maria; C: Modelo de armadilha
Marques-Carrano; D: Modelo de armadilha Escolitídeo-Curitiba.
76
2. Armadilhas de funil de Lindgren
As armadilhas de funil de Lindgren são um tipo especializado de armadilha de
interceptação de vôo, que utilizam diversos (8-10 ou mais) funis dispostos em uma
organização vertical, um em cima do outro (Figura 7). Este método de coleta utiliza
o comportamento de muitos insetos de (particularmente besouros) de dirigir-se em
direção ao solo após bater em um objeto sólido durante o vôo. Os espécimes que
batem em qualquer funil organizados em uma disposição vertical são direcionados
para o próximo funil abaixo, então passam para os funis mais baixos conseguintes e
eventualmente ao coletor disposto abaixo do último funil (LINDGREN, 1983).
A amostragem da armadilha aumenta com o uso de funis em que os
espécimes não consigam aderir (ex.: plásticos lisos). A forma fina e a cor
geralmente escura do funil de Lindgren mimetizam o tronco de uma árvore. Assim, a
armadilha passivamente atrai insetos, especialmente besouros que vivem em
cascas de árvores ou associados à madeira. A eficiência da amostragem pode
ainda ser aumentada com o uso de iscas atrativas, como ferormônios, etanol ou
qualquer outro tipo de isca atrativa (LINDGREN, 1983). Portanto, este é um
método passivo para a amostragem de insetos, especialmente besouros.
Fonte: Do autor.
77
3. Armadilhas de interceptação e de queda ou armadilhas de queda
Estas armadilhas são utilizadas para a amostragem de invertebrados e
vertebrados terrestres, de acordo com o tamanho da armadilha utilizada. Dentre os
invertebrados, podem ser coletados aracnídeos, quilópodes, diplópodes, sínfilos e
diversos grupos de insetos (Collembola, Protura, Diplura, Archaeognatha,
Zyngentoma, Hymenoptera, Coleoptera, Blattodea, entre outros).
As armadilhas são constituítas por baldes ou recipientes (copos, tubos de
PVC ou garrafas PET) plásticos de enterrados ao nível do solo, unidos (ou não) por
cerca-guia. Seu funcionamento é relativamente simples: os animais ao encontrarem
a cerca-guia, quando presente, tentam desviar lateralmente da mesma e caem nos
coletores enterrados; ou, na ausência de cerca-guia, os animais caem nos coletores
enterrados quando encontram com estes em seu caminho.
O uso destas armadilhas para invertebrados é feito sem a utilização de
cercas-guia (portanto são apenas armadilhas de queda) com a utilização de
recipientes plásticos de aproximadamente 500 ml, contendo cerca de 200-300 ml de
líquido conservante (Figura 8A).
O líquido conservante pode ser álcool etílico (70% ou 96%), solução saturada
de bórax, propileno glicol (35%, 50% ou 75%), vinagre branco, etileno glicol (100%),
FAACC (uma mistura de formaldeído à 4%, ácido acético a 5% e cloreto de cálcio a
1,3%), formaldeído tamponado com fosfato à 4%, formalina (formol) a 5%, ou
solução saturada de sal de cozinha (salmoura) (ARISTOPHANOUS, 2010;
Carvalho, L.S. observação pessoal). Para a preservação dos órgãos reprodutivos
internos de besouros, por exemplo, Aristophanous (2010) recomenda a utilização de
álcool etílico a 96%, FAACC e formaldeído tamponado com fosfato à 4%. Ao líquido
conservante é ainda possível adicionar algumas gotas de detergente para quebrar a
tensão superficial da água, a fim de impedir que os insetos saiam do pote coletor.
As armadilhas devem permanecer instaladas no local de coleta por cerca de
cinco dias e o conjunto de todos os indivíduos coligidos em cada armadilha durante
seu período de funcionamento (ou conjunto de armadilhas) deve ser considerado
uma amostra. A permanência por mais de cinco dias pode resultar na total
evaporação do líquido conservante, afetando significativamente a eficiência da
armadilha. Para a permanência por mais de uma semana em campo Aristophanous
(2010), recomenda a utilização de formaldeído tamponado com fosfato à 4%.
78
Outra opção para a amostragem de invertebrados é a instalação destas
armadilhas com a utilização de cercas-guia (portanto são denominadas armadilhas
de interceptação e de queda), em proporções menores que aquelas para
vertebrados. Neste caso, as armadilhas podem ser instaladas em um arranjo em
formato de “X” ou “+”, utilizando uma área de 4m². Instala-se uma armadilha e,
posteriormente, outras quatro armadilhas são instaladas perpendicularmente à esta,
à um metro de distância, formando assim uma “estação de coleta” (Figura 8B). Entre
uma e outra armadilha, instala-se uma cerca-guia feita de lona ou qualquer outro
material (chapa de zinco, por exemplo), com cerca de 10cm de altura e enterrada
1cm abaixo do nível do solo. Neste caso, cada amostra será formada pelo conjunto
dos indivíduos coletados nas cinco armadilhas de cada estação, durante todo o
período de funcionamento da mesma.
Em ambos os casos, pode utilizar-se um prato plástico (ou qualquer outro
objeto) para evitar a entrada excessiva de água da chuva ou matéria orgânica (ex.:
folhas mortas) no interior do pote coletor. Estas armadilhas utilizando recipientes
pequenos ainda são eficientes na amostragem de pequenos répteis e anfíbios,
embora para estes grupos outros métodos de amostragem sejam mais eficientes.
Podem-se utilizar ainda as armadilhas originalmente desenvolvidas para a
amostragem de vertebrados, para a amostragem de invertebrados. Neste caso, o
que diferente dos equipamentos descritos acima são as proporções, pois se utiliza
baldes de pelo menos 35 litros para a amostragem de répteis e anfíbios ou ainda
baldes maiores para a amostragem de mamíferos (RIBEIRO-JÚNIOR et al., 2011).
No entanto, se o objetivo da pesquisa for a amostragem de aranhas da infra-ordem
Mygalomorphae ou mesmo grandes quilópodes (Scolopendromorphae), esta
configuração dele ser adotada, pois apresenta resultados mais satisfatórios.
Para a amostragem de insetos necrófagos ou coprófagos (ex.: besouros
Scarabeoidea) também se pode utilizar estas armadilhas. Neste caso, deve-se
utilizar iscas nas mesmas. As iscas a serem utilizadas podem ser carne ou vísceras
(ex.: fígado) em decomposição, massa fecal fresca ou frutas bem amadurecidas, de
acordo com o grupo de insetos-alvo do trabalho. Estas devem ser colocadas sobre o
pode coletor, em um pequeno recipiente suspenso com o auxílio de hastes de
madeira (ex.: palitos para churrasco) ou outro objetivo, de forma que os insetos
tenham dificuldade de alcançá-la. O odor exalado pela decomposição da isca atrairá
os insetos que serão coletados no pote coletor.
79
Figura 8 – Armadilhas de queda (A) e de interceptação e de queda (B) para
invertebrados.
80
4. Atração com iscas
Este, na verdade, não consiste de um método específico para amostragem
de invertebrados, mas de uma forma geral utilizada para pegar grupos específicos
de invertebrados (especialmente insetos), utilizando informações de sua história
natural: atração por iscas. Diversos grupos de insetos não apenas tem preferências
alimentares definidas, como também têm uma capacidade apurada de detecção da
presença desses alimentos (ALMEIDA et al., 1998). Estes animais podem ser
atraídos utilizando cores (ex.: abelhas), e matéria orgânica em decomposição (ex.:
besouros e moscas), entre outros. É importante lembrar que para cada determinado
grupo de insetos, objetivo da pesquisa, um tipo de isca específico ou uma
combinação de iscas deve ser utilizado (ALMEIDA et al., 1998).
As iscas mais comuns são: acetato de benzila (C9H10O2), benzoato de benzila
(C14H12O2), beta ionona (C13H20O), cinamato de metila (C10H10O2), escatol (C9H9N),
etanol (CH3CH2OH), eucaliptol (C10H18O), eugenol (C10H12O2), metanol (CH3OH),
sacarose (C12H22O11), salicilato de benzila (C14H12O3), salicilato de metila (C8H8O3),
vanilina (C8H8O3), massa fecal fresca, frutas amadurecidas ou em decomposição,
entre outros (ALMEIDA et al., 1998; FARIAS et al., 2007; KRUG; ALVES-DOS-
SANTOS, 2008; NOLL; GOMES, 2009). Além disto, a luz também funciona como
atrativo para diversos grupos de invertebrados. Os métodos de amostragem com
atração por isca serão tratados em tópicos específicos para determinados grupos de
animais (ex.: moscas) ou por estratos do ambiente (ex.: armadilhas de queda, que
amostram indivíduos de solo).
6. Amostragem de térmitas
A metodologia sugerida para a amostragem de térmitas segue um protocolo
bem estabelecido e já aplicado em diversos estudos científicos (ex.:
VASCONCELLOS et al., 2005), facilitando a sua replicação e comparação dos
resultados entre estudos distintos. O protocolo consiste na demarcação aleatória de
seis transectos de 65 x 2 m, distribuídos pela área de estudo, preferencialmente, em
locais com ausência aparente de distúrbio antrópico recente. Em cada transecto são
estabelecidas cinco parcelas de 5m x 2m, com distância de 10m entre elas,
totalizando 30 parcelas (300 m2) por localidade. O tempo de coleta em cada parcela
é de 1h/pessoa. Nesse período, os térmitas são procurados no solo (até cerca de
15cm de profundidade) (Figura 11), em ninhos ativos e abandonados, troncos e
galhos caídos, no folhiço, sob cascas de árvores, raízes mortas, etc.
(VASCONCELLOS et al., 2005). Para a complementação da lista de espécies de
uma determinada localidade, térmitas avistados fora das parcelas pré-estabelecidas
podem ainda ser coligidos (ex.: revoada de cupins alados, térmitas em
forrageamento, etc.). A captura dos indivíduos deve ser realizada com o auxílio de
pinças de pontas finas ou pinças entomológicas para evitar danificar os espécimes e
seu armazenamento deve ser realizado em recipientes (tubos de ensaio com
tampas ou potes) contento álcool a 75%.
82
Figura 9 – Desenho esquemático de armadilha luminosa. A. Tipo “Luiz de Queiroz”.
B. Suporte de madeira para a armadilha.
83
Figura 11 – Realização da amostragem de térmitas. A: Pesquisador procurando por
térmitas no solo, com o auxílio de um cavador; B: Pesquisador coletando térmitas
alados em revoada, com o auxílio de uma pinça de ponta fina.
84
abertas próximas à vegetação por dois dias consecutivos (48h), distantes cinco
metros entre si e com as cores intercaladas. Neste mesmo trabalho, os pratos
amarelos foram mais eficientes que aqueles azuis ou brancos, sendo responsáveis
por quase metade de todas as abelhas coletadas. A cor amarela para Diptera é
muito eficiente na captura de Sciaridae, Phoridae, Anthomyiidae e Muscidae
(RAFAEL, 2002).
Iscas de cheiro: Este tipo de armadilha é amplamente utilizado para
amostragem de machos da subtribo Euglossina. Para a atração dos machos podem
ser utilizados tipos diferentes de essências artificiais, como eucaliptol, vanilina,
eugenol, benzoato de benzila, salicilato de metila e salicilato de benzila. As iscas de
cheiro consistem de chumaços de algodão com algumas gotas de uma das
essências, que são presas à vegetação na área de estudo, a cerca de 1,5 m do
solo, para facilitar a visualização, e ao abrigo da insolação direta, para evitar a
rápida evaporação das fragrâncias e distantes cerca de 5 m entre si (FARIAS et al.,
2007; KRUG; ALVES-DOS-SANTOS, 2008). Na metodologia utilizada por Farias et
al., (2007), uma vez preparado, o chumaço, este era umedecido com o respectivo
composto aromático, as iscas mais visitadas eram reabastecidas de fragrâncias a
cada 2h e as abelhas eram capturadas, ao pousarem na isca, com rede
entomológica e agrupadas por horário de coleta e iscas visitadas. As iscas de cheiro
podem ainda ser colocadas presas no interior de garrafas PET, com furos para a
entrada das abelhas. Nestes furos (de diâmetro de 2-3 cm), encaixa-se a parte
superior de outras garrafas PET cortadas, de forma a produzir um funil, facilitando a
entrada dos indivíduos, que ficam presos dentro da armadilha (Figura 13).
Ninhos-armadilha: Esta metodologia consiste na oferta de cavidades artificiais
para a nidificação de abelhas solitárias. No trabalho de Krug e Alves-dos-Santos
(2008) foram oferecidos ninhos-armadilha de dois tipos: em blocos de madeira com
três diferentes diâmetros (0,3 cm; 0,6 cm e 1 cm) e gomos de bambu com diversos
diâmetros. As cavidades em blocos de madeira foram revestidas por tubos de papel
que possibilitaram a retirada dos ninhos e substituição por novo tubo na cavidade.
Os tubos ou bambus ocupados e fechados eram retirados e substituídos por novos.
Na metodologia utilizada por Viana et al., (2001) os ninhos-armadilha eram
constituídos por duas peças de madeira, 30x30x150 mm, furadas em sentido
longitudinal, de forma que, quando as duas metades da peça estavam unidas,
formavam-se orifícios com os diâmetros de 8, 10, 15 e 20 mm e 100 mm de
85
profundidade. As duas metades eram unidas com fita adesiva. Em cada árvore ou
arbusto selecionado para a instalação da armadilha foi colocado, a 1,5 m de altura,
um conjunto contendo 16 ninhos-armadilha, sendo quatro de cada classe de
diâmetro, também distribuídos ao acaso, com os orifícios de entrada voltados para o
mesmo lado. Foram utilizadas tiras de borracha para unir os ninhos em blocos, que
foram presas aos galhos das árvores, em posição horizontal, com cordão de náilon.
Outra opção é a utilização de tubos feitos com cartolina preta de tamanhos variados
(0,4-1,5 cm de diâmetro e 8-11 cm de comprimento) inseridos em orifícios feitos em
blocos de madeira, conforme descrito por Camillo et al. (1995) e utilizado por Aguiar
e Martins (2002). Nestes trabalhos, à medida que os ocupantes dos ninhos
emergiam, estes eram mortos com acetato de etila, alfinetados, etiquetados com
dados dos ninhos e data de emergência, e identificados.
Fonte: R. B. Querino.
86
Figura 13 – Armadilha feita com garrafas PET para coleta de abelhas, utilizando-se
iscas atrativas.
Fonte: Do autor.
87
8. Armadilhas para borboletas
Muitas espécies de borboletas são atraídas por frutos em decomposição,
uma vez que elas aí encontram água e os açúcares necessários para sua
alimentação. É possível utilizar uma armadilha particularmente preparada para
coletar essas borboletas. No entanto é necessário lembrar que as coletas com iscas
são bastante seletivas. Outros grupos de mariposas e borboletas não serão
coletados com essas armadilhas (ALMEIDA et al., 1998).
A armadilha mais utilizada para coleta de borboletas é constituída de uma
rede tubular de 70cm de comprimento, de voal ou renda fina, com os bordos
superior e inferior reforçados por morim, por onde passam dois aros metálicos de 26
cm de diâmetro cada (Figura 13). A abertura superior da rede deve ser fechada com
tecido fino e a inferior deve permanecer aberta. Ao longo da rede tubular, entre os
orifícios do voal, são transpassados quatro fios de náilon. Na parte inferior, os fios
são presos a um disco plástico de 29 cm de diâmetro, que deve distar 5 cm da
abertura inferior da rede. Na região superior, estes fios serão reunidos, formando
uma alça, que é utilizada para pendurar a armadilha em qualquer suporte, como um
tronco de árvore. A isca deve ser colocada no centro do disco plástico inferior,
sendo as frutas em decomposição as iscas mais utilizadas, especialmente a banana
amassada, regada com caldo de cana, o que acelera o processo de fermentação.
Pode-se colocar um plástico amplo cobrindo toda a parte superior da armadilha,
para proteção contra a chuva (ALMEIDA et al., 1998).
As borboletas, atraídas pela isca, entrarão pelo espaço deixado entre a
abertura inferior da rede e o disco plástico, tendendo a subir e ficando presas
(ALMEIDA et al., 1998).
89
Outra maneira de coletar esses animais é, simplesente, localizar matéria
vegetal ou animal em decomposição (fezes, carcaças e frutos em decomposição)
em ambientes naturais e levando-os para laboratório, onde são criados até que os
adultos emerjam (ALMEIDA et al.,1998).
Outro grupo importante de dípteros são as moscas-das-frutas (Diptera:
Tephritidae), que são mundialmente reconhecidas como pragas da fruticultura,
incluindo o Brasil, particularmente espécies do gênero Anastrepha Schiner e da
espécie Ceratitis capitata (Wied.). Estas moscas são também, vulgarmente,
denominadas de “bichos das frutas” ou “bicho da goiaba” (AGUIAR-MENEZES et
al., 2006). A amostragem destes indivíduos pode ser realizada utilizando-se uma
armadilha também feita com garrafas PET ou armadilhas do tipo McPhail (AGUIAR-
MENEZES et al., 2006).
Segundo Aguiar-Menezes et al., (2006), que desenvolveram a armadilha com
garrafas PET, estas são chamadas de frascos caça-moscas e baseam-se no
princípio de que as moscas-das-frutas voam e penetram no interior do frasco em
resposta aos estímulos químicos olfativos provenientes de um atrativo alimentar na
formulação líquida usado como isca, colocado no interior da armadilha. Estes
atrativos alimentares podem ser de três tipos: (1) proteína hidrolisada a 5%, em que
se prepara 500 ml de solução, diluindo 25 ml da proteína hidrolisada em 475 ml de
água; (2) melaço de cana-de-açúcar a 7%, feito diluindo 35 ml de melaço e 465 ml
de água para preparar 500 ml de solução; ou (3) suco de fruta, tais como suco de
uva 1:4, feito com uma parte de suco para 4 partes iguais de água ou suco de
pêssego 1:10, feito com uma parte de suco para 10 partes iguais de água (AGUIAR-
MENEZES et al., 2006).
Na tentativa de se alimentar da isca, as moscas caem dentro da mesma e se
afogam. As armadilhas tipo McPhail são compostas por um vidro ou plástico em
forma de sino com abertura invaginada no fundo, por onde os indivíduos de moscas-
das-frutas entram atraídos pelas iscas (Figura 14). No entanto, este tipo de
armadilha é vendido, no Brasil, apenas por poucos fornecedores. Para mais
informações sobre as armadilhas tipo McPhail, ver Carvalho (2005).
Para resolver este problema, Aguiar-Menezes et al., (2006) desenvolveram
um modelo de frasco caça-mosca, descrito da seguinte forma: marca-se na garrafa
PET, com auxílio de uma fita métrica e uma caneta (marcador permanente), 3
quadrados de 2 cm de altura por 1 cm de largura em sua parede lateral, a uma
90
altura de 10 cm a partir da base da garrafa, e que deverão estar eqüidistantes um
do outro. Para uma garrafa de 32,5 cm de diâmetro, a distância entre cada
quadrado será, então, de aproximadamente 8,83 cm. Assim, 8,83 cm x 3 quadrados
= 26,5 cm, que somados a largura de cada quadrado (2 cm x 3 = 6 cm), totalizarão
os 32,5 cm de diâmetro da garrafa. Corta-se então os quadros, seguindo as linhas
marcadas com a caneta, com a ponta de um estilete ou outro objeto cortante. Para
facilitar o corte, aquecer primeiro a ponta do estilete à medida que os quadrados vão
sendo cortados. Esses quadrados vazados constituirão as aberturas laterais, pelas
quais os insetos entrarão no interior da armadilha. Prende-se o gargalo da garrafa
com um arame, logo abaixo do encaixe da tampa e utiliza-se este arame para
pendurar a armadilha. Posteriormente, as marcações com tinta de caneta deverão
ser retiradas com álcool embebido em um pedaço de algodão.
Fonte: do autor.
91
fermentação, fezes de pássaros ou de outros insetos, néctar etc. (AGUIAR-
MENEZES et al., 2006).
Recomenda-se ainda acrescentar 10 g de bórax na solução atrativa para
retardar a decomposição do atrativo, além desse produto ser tóxico para os adultos
das moscas-das-frutas. A solução atrativa é depositada no fundo da armadilha PET,
com o auxílio de um funil a partir da boca da garrafa, que deve ser fechada com a
tampa para não permitir entrada de chuva (AGUIAR-MENEZES et al., 2006).
O pesquisador deve pendurar a armadilha PET, abastecida com 300 mL de
solução atrativa, na copa da fruteira a uma altura de 3/4 de sua altura, a partir do
nível da superfície do solo, ficando geralmente na porção mediana da copa da
árvore, altura em que normalmente se concentra um maior número de moscas.
Deve-se também instalar a armadilha num galho de modo que fique mais para a
periferia da copa e na porção menos exposta ao sol (de menor incidência de luz
solar), que geralmente é a porção leste (AGUIAR-MENEZES et al., 2006).
Outro modelo de armadilhas para a captura de moscas pode ser construído
com a utilização de duas garrafas PET. Inicialmente corta-se a região superior da
garrafa e o seu fundo (Figura 15A-B), depois une-se as partes cortadas, fazendo
uma “garrafa em miniatura (Figura 15C). A “nova garrafa” deve então ser pintada de
cor preta (Figura 15D), pois isto criará um ambiente escuro, semelhante ao interior
de uma carcaça ou uma fruta em decomposição, por exemplo. Em seguida, une-se
esta garrafa pintada à outra garrafa PET sem a parte de cima (Figura 15E). Para
concluir a armadilha, faz-se furos ou aberturas (2 x 3 cm) na parte lateral da garrafa
pintada, tomando-se cuidado para não furar a outra garrafa colocada acima (Figura
15G). É através destas aberturas que as moscas entrarão, atraídas por iscas
(conforme descritas acima). Ao entrar na garrafa, as moscas tentarão sair pela parte
de cima da armadilha, ficando aprisionadas na garrafa não pintada. Este método,
por exemplo, pode ser utilizado para o controle de moscas domésticas, porém o
odor resultante da decomposição das iscas pode tornar-se desagradável.
Fonte: do autor.
93
armação metálica é formada por eixos de ferro galvanizado com 2 mm de
espessura, que são encaixados em cantoneiras de cobre trifurcadas (Figura 2). A
rede, fixada a esta armação metálica por meio de barbantes, possui, na parte
superior, uma manga de 15 cm de comprimento; e, na inferior, abas de 20 cm feitas
com tecido de "napa". Estas abas, dobradas para o lado externo da base da
armadilha, além de evitar o contato direto do tecido da rede e dos eixos de ferro
com o chão da floresta, auxiliam também na fixação da armadilha no substrato, já
que sobre estas são colocados pedaços de madeira e solo. No aparato da parte
superior da armadilha, um pote plástico de 11 cm de largura por 10 de altura, cujo
fundo foi removido, é colocado sobre o ápice da armação metálica e pelo seu
interior é introduzida a manga da rede. A parte da manga que transpassa a
extensão do pote é dobrada para o lado externo, e em seguida presa pela tampa
oca do próprio pote. Sobre este pote, um funil, perfeitamente encaixado, conecta
toda a parte inferior da armadilha a um segundo pote plástico (coletor) com 7cm de
largura por 7cm de altura, no qual fica armazenado uma solução conservante à
base de água, álcool 96%, ácido acético 10% e caulim. Depois de instaladas, as
armadilhas eram cobertas com sacos plásticos transparentes a fim de evitar chuva
direta sobre as mesmas. Estas armadilhas de emergência seguem os mesmos
princípios para coleta de armadilhas do tipo ecletor de solo.
A coleta de mosquitos hematófagos também pode ocorrer durante
hematofagia. Neste caso, realiza-se uma coleta ativa com a utilização de aspirador
manual ou tubo de sucção oral (Figura 17). Este equipamento é formado por uma
mangueira de sucção e um tubo de entrada, ambos conectados por uma rolha presa
a um frasco coletor. O coletor suga com a boca através da mangueira de sucção
dos mosquitos, que entram no frasco coletor através do tubo de entrada, ficando
aprisionados. A extremidade da mangueira de sucção pode ainda ser protegida por
uma fina tela, para evitar que os mosquitos sejam engolidos pelo pesquisador.
94
Figura 16 – Armadilha de emergência instalada (A), esquema da armadilha pré-
montada (B) e detalhe dos encaixes da cantoneira de cobre com os eixos de ferro.
95
coleta. A armadilha CDC-miniatura é do tipo automática e luminosa, tendo uso
generalizado em pesquisas entomológicas (GOMES et al., 1985). Esta armadilha foi
desenvolvida por Sudia e Chamberlain (1962), possuindo em seu modelo original a
vantagem de ser desmontável, leve e com câmara coletora dobrável, tendo motor
alimentado por 4 pilhas comuns de 1,5 vcc, tipo AA. Essas características,
associadas a seu rendimento, fazem desse equipamento um dos mais práticos,
sendo largamente utilizado em capturas de dípteros de interesse médico,
principalmente culicídeos (GOMES et al., 1985) e flebotomíneos (SILVA et al.,
2007). A armadilha HP, possui funcionamento e design idêntico à armadilha CDC e
sua descrição pode ser encontrada em Pugedo et al., (2005).
96
vivos; sendo, portanto, úteis para uma série de pesquisas de enfoques biológicos ou
médico-epidemiológicos.
97
Os insetos com características de geotropismo negativo e/ou fototropismo
positivo ao serem interceptados pelos septos das armadilhas, voam para a parte
superior ficando presos no copo coletor e por fim morrendo por ação de gás
mortífero, veneno ou substância fixadora (HENRIQUES, 2004).
A vantagem deste tipo de armadilha suspensa é que ela é eficiente para
captura de insetos voadores que habitam preferencialmente a copa das árvores,
habitat pouco explorado pelos colecionadores e com poucos representantes nas
coleções, pode ser montada em diferentes alturas e é eficiente para coleta de
insetos que voam próximo à superfície da água nos rios e lagos (RAFAEL, 2002).
Além disso, não há a necessidade de estruturas adicionais, armações para se
elevar a armadilha até a copa e é mais eficiente na coleta de Diptera e
Hymenoptera. Pode ficar montada por tempo indeterminado, de dia e de noite. É
leve e de fácil transporte. O septo inferior pode ser de diferentes cores para
funcionar como atrativo (ex.: preto e branco, como utilizado por HENRIQUES,
[2004]). As coletas com armadilha suspensa podem ser padronizadas facilmente por
meio do modelo e estipulando-se a quantidade e o tempo de coleta (RAFAEL,
2002).
A eficiência da armadilha suspensa pode ainda ser aumentada com a
utilização de atrativos, como o septo inferior colorido (conforme comentado acima)
ou ainda com a utilização de gás carbônico. Oliveira et al., (2007) utilizaram este
gás à uma vazão média de 2 litros por minuto, utilizando um cilindro de CO2, que
ficou no solo conectado à armadilha suspensa por um tubo flexível de 5mm de
diâmetro (Figura 19).
98
Coleta direta do parasitóide. É captura direta do inseto por meio de
instrumento manual como uma pinça ou até mesmo com um aspirador
entomológico, este pode ser utilizado para coletar pequenos parasitóides que estão
em plantas ou outros substratos. É importante conhecer os hábitos e hábitats do
grupo de parasitóides que se está procurando. Por exemplo, o Ichneumonidae
Apechoneura da subfamília Labeninae é um espécime grande e pode ser
encontrado em áreas de mata preservada próximo a troncos caídos, onde fica a
procura de larvas de Coleoptera (Querino, R.B., comunicação pessoal).
Redes entomológicas. As redes entomológicas (Figura 32) podem ser usadas
pelo coletor para capturar insetos em vôo ou parados em substratos, como plantas.
São conhecidas diferentes modalidades de redes, dependendo do hábito e do local
em que vive o inseto. Assim, redes entomológicas tradicionais são usadas para
coletar insetos em vôo e conhecidas popularmente como “puçá”. Ela é constituída
de um cabo e um aro de metal coberto com um tecido de malha fina, que formar um
funil. O tamanho e o diâmetro da rede dependerão do coletor e seus objetivos.
Muitas vespas parasitóides de tamanho médio a grande podem ser coletadas com
redes, por exemplo, Braconidae e Ichneumonidae (Querino, R.B., comunicação
pessoal).
Outra modalidade é a rede de varredura (Figura 33) que é empregada para
varrer a vegetação, o que permite capturar muitos parasitóides de tamanho reduzido
que estão presentes na vegetação. Esta rede possui como característica ter o pano
mais resistente para suportar o arraste na vegetação e ter a malha do tecido
fechada permitindo capturar os parasitóides e outros insetos de tamanho reduzido,
por exemplos, os micro-hymenoptera de várias famílias de Chalcidoidea (Querino,
R.B., comunicação pessoal).
Para ambiente aquático, pode se usar ainda a rede para insetos aquáticos
conhecida como “rapiché”. É possível com essa rede coletar himenópteros
associados ao ambiente aquático, principalmente, os presentes em plantas
aquáticas (Querino, R.B., comunicação pessoal).
99
Figura 19 – A: Armadilha suspensa instalada a 20 metros do solo. B: Armadilha
suspensa e cilindro de dióxido de carbono com registro controlador de vazão.
100
pela maioria dos estudos com Hymenoptera. O formato é variado, desde circulares
em forma de prato, como retangulares em forma de bandejas (Figura 12). Em cada
bandeja é colocada uma solução de água + detergente. Os insetos capturados são
retirados e transferidos para frascos com álcool 70% para posterior identificação
(Querino, R.B., comunicação pessoal). O emprego de bandejas d’água, de cores
alternativas, foi também utilizado para a coleta de grupos específicos, por exemplo,
a cor azul é preferencialmente utilizada para coletar um grupo raro de Hymenoptera
da família Stephanidae (e.g., Aguiar; Sharkov, 1997). O princípio utilizado por este
método é a atração física pela cor, sendo inseto atraído e capturado na solução da
bandeja (Querino, R.B., comunicação pessoal).
Cartões adesivos. Os cartões adesivos amarelos são também utilizados para
coletar e monitorar pequenos insetos. Eles também podem ser empregados para a
coleta de micro himenópteros parasitóides. Este método, porém, apresenta
desvantagens por requerer cuidado e tempo para retirar os insetos da cola adesiva
sem danificá-los (Querino, R.B., comunicação pessoal).
Armadilha suspensa. Este método é uma adaptação da armadilha de malaise
que é instalada acima do ambiente que se deseja amostrar, por exemplo, em um
sub-bosque ou no dossel de árvores ou sobre um curso d’ água (Figuras 1 -3). Ela é
constituída de septo inferior para intercepção e recipiente de coleta para a captura
de insetos. O princípio utilizado nesta armadilha é o de interceptação de vôo e
atração, quanto o septo é constituído de uma cor atrativa (Querino, R.B.,
comunicação pessoal). Uma das primeiras modificações deste método foi proposta
por Rafael e Gorayeb (1982) que utilizaram o septo com cor preta e frasco para
coleta à seco com um bastão inseticida em seu interior, o objetivo dos
pesquisadores era principalmente a coleta de dípteros hematófagos. Outros
trabalhos podem ser encontrados na literatura, cita-se o de Querino et al., (2011),
que utilizou armadilhas suspensas com o septo inferior de cor amarela e recipiente
de coleta com solução a álcool 80% + glicerina (Figura 20) para coleta de
Hymenoptera parasitóides no sub-bosque e dossel em uma reserva florestal na
Amazônia.
Armadilha de sucção. As armadilhas de sucção são usadas para amostrar a
fauna de um local determinado ou de uma área ou até mesmo de uma planta. Há
vários modelos, dependendo do tipo, podem ser estacionária ou móvel, como a
armadilha de sucção portátil tipo Johnson-taylor (e.g. SILVEIRA-NETO et al., 1976).
101
O princípio dessas armadilhas como o próprio nome indica é succionar os insetos
presentes naquele ambiente ou área, de certa forma, considerada também de
interceptação para aqueles insetos que voam no raio da armadilha estacionária e
são succionados. Um exemplo de armadilha sucção estacionária utilizada para
coleta parasitóides é o modelo usado por Querino e Zucchi (2004), neste trabalho foi
usada uma armadilha de sucção elétrica (Figura 21), que se mostrou útil para a
coleta de Trichogramma em áreas onde é difícil localizar os ovos do inseto
hospedeiro, coletando nove espécies desse parasitóide. A armadilha utilizada por
Querino e Zucchi (2004) era do modelo da Seção de Virologia do Instituto
Agronômico de Campinas e constituída, basicamente, de exaustor, cone de tela,
recipiente de coleta e suporte (SILVEIRA-NETO et al., 1976).
Figura 20. Armadilha suspensa com anteparo atrativo de cor amarela, para a
amostragem de himenópteros.
Fonte: R. Q. Barbosa.
Armadilha luminosa. As espécies parasitóides noturnas podem ser coletadas
utilizando as armadilhas luminosas. O princípio dessas armadilhas é a interceptação
e atração pela luz de insetos com hábito noturno. Há vários tipos de armadilhas
102
luminosa
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até 5 metros a partir do fio-guia. Para a amostragem de escorpiões, pode ainda ser
necessária a utilização de lanternas com lâmpadas de luz ultravioleta, que facilitam
a visualização destes animais à noite, maximizando o esforço amostral. Para uma
descrição detalhada de um modelo de lanterna com luz ultravioleta específico para a
amostragem de escorpiões, ver Lowe et al., (2003).
Todos os indivíduos encontrados durante cada hora de coleta contínua pelo
mesmo coletor deve ser considerado uma amostra. Durante a realização deste
protocolo amostral, o coletor caminha vagarosamente pela área de estudo,
procurando ativamente em locais de possível ocorrência dos animais desejados,
como sob ou sobre pedras e troncos caídos, na vegetação, sobre o solo, entre o
folhiço, etc., tentando acessar o maior número de microhábitats possíveis. Este
método é idêntico à junção dos métodos “looking up” e “looking down”, descrito por
Coddington et al., (1991). Para uma descrição mais detalhada destes métodos, ver
Coddington et al., (1991) e Brescovit et al., (2002, 2004).
O coletor deve levar consigo os equipamentos necessários para realizar a
captura dos indivíduos encontrados, tais como pinças entomológicas ou pinças
grandes (para animais maiores, como caranguejeiras), frascos mortíferos (para
insetos, por exemplo), etc.
Fonte: Do autor.
105
são mais fáceis de transportar e instalar e ainda capturaram mais aranhas por
armadilha, além de um número maior de espécies (PINZÓN; SPENCE, 2008).
106
exterior, mas coletava toda a fauna que estava no interior do funil. Neste mesmo
trabalho, os ecletores ficaram armados por 30 dias consecutivos e o conjunto dos
indivíduos coletados através desta metodologia em cada ecletor foi considerado
uma amostra (RAIZER, 2004).
Raizer (2004) utilizou um modelo de ecletor de tronco (Figura 24B), também
foi modificado a partir do desenho original de fotoecletores de tronco de Funke
(1971). Este aparato obedecia ao padrão de funil descrito para a armadilha anterior
(ecletor de solo), porém envolvia o tronco de uma árvore. Tinha sua abertura maior
dirigida para baixo, para capturar animais que migravam subindo o tronco. Cada
ecletor foi fixado em uma árvore ao acaso a uma altura de aproximadamente 2,5m.
O local dos ecletores não mudou durante os períodos de coletas e o material
coletado era retirado ao final de cada mês.
Figura 24 – Modelos de ecletores de solo (A) e de tronco (B) utilizados por RAIZER
(2004) e desenvolvidos a partir de modificações dos modelos propostos pode
FUNKER (1971).
107
O extrator de Winkler funciona através de dois mecanismos: (a) atividade
locomotora aleatória dos organismos – ao mover-se através do substrato na rede
perfurada de contenção (descrita abaixo), os organismos acidentalmente caem da
rede se eles alcançarem a borda do substrato; (b) dessecação do substrato –
quando o microclima no substrato torna-se desfavorável, os organismos deixam o
substrato intencionalmente. O método tem a vantagem de possuir pouquíssimos
requisitos metodológicos e técnicos e é, portanto, facilmente e efetivamente
aplicável por todo o mundo, mesmo em regiões remotas onde não há eletricidade e
infraestrutura disponível (KRELL et al., 2005).
Considerando-se que este método funciona através de um dessecamento do
substrato, conforme comentado acima, Delsinne e Arias-Penna (2012) testaram o
efeito da umidade da serapilheira na amostragem de formigas. Estes autores
concluíram que a umidade da serapilheira afeta negativamente a amostragem
destes animais e que um aumento no tempo da amostragem para tentar compensar
uma maior umidade não apresenta um custo-benefício aceitável.
Para a aplicação desta metodologia, coleta-se 1m² de material particulado de
serapilheira, concentrado com auxílio de peneira de metal com malha de 0,5cm
(Figura 25-26). O material peneirado é levado ao laboratório, onde é acondicionado
em uma rede de contenção de tecido perfurado, de 40 cm de comprimento por 20
cm de largura, com malha de 4mm². Cada rede acomoda cerca de 600g de material
particulado. A rede contendo o material peneirado é suspensa dentro de uma
armação de metal, revestida por tecido resistente. A parte superior do extrator é
vedada e pendurada por uma corda. Na parte inferior do extrator acopla-se um pote
de plástico com líquido mortífero (álcool 70-80%, por exemplo). As armadilhas
devem ficar armadas por um período de pelo 48hrs e o conjunto de indivíduos
coletados no correspondente à 1m² de serapilheira concentrada e exposta no
extrator pelo seu período total de funcionamento é considerado uma amostra. A
utilização deste método de amostragem é extremamente útil em inventários de
biodiversidade de artrópodes de solo, visto que a unidade amostral é facilmente
replicável, e diversas amostras podem ser realizadas sem haver acréscimo de
custos com material de consumo (ex.: pilhas ou plásticos descartáveis). O único
problema relacionado à aplicação desta metodologia é que cada armadilha fica
utilizada por um longo período para produzir uma única amostra, demandando
tempo em campo.
108
Sobre a eficiência deste método de amostragem de acordo com o tempo de
funcionamento da armadilha, Krell et al., (2005) realizaram um experimento para
testar esta eficiência em um período que variou de 3 horas à 7 semanas. Eles
concluíram que, se for objetivo da pesquisa registrar mais que 70% dos espécimes
presente nas amostras de solo/serapilheira, é preciso escolher os seguintes
períodos de extração para os diferentes grupos (valores entre parênteses
representam o tempo para a captura de 50% dos espécimes): Formicidae, dois dias
(um dia); Coleoptera adultos, três dias (dois dias); larvas de Coleoptera, 12 dias
(três dias); larvas de Lepidoptera, seis dias (três dias); Diptera, 12 dias (cinco dias);
Hemiptera, nove dias (cinco dias); Hymenoptera, (exceto formigas), três semanas
(12 dias); Arachnida, nove dias (três dias); Diplopoda, 18 dias (quatro dias);
Chilopoda, quatro semanas (três semanas); Oligochaeta, três semanas (15 dias).
Além disto, mais que 50% dos Mollusca e Isopoda são extraídos depois de 12 dias e
três semanas, respectivamente (KRELL et al., 2005).
Fonte: Do autor.
109
Figura 26 – Etapas da amostragem com extrator de Winkler. A: delimitação de
quadrante de 1m²; B: quadrante de 1m² quase completamente já peneirado.
110
foi o método mais eficiente para a amostragem quantitativa de diversos grupos de
artrópodes, especialmente Psocoptera, Araneae, Isopoda e Formicidae.
111
15. Funil de Berlese-Tullgren
Este método é empregado principalmente para a amostragem de mesofauna
de solo, que inclui os ácaros (Acari), aranhas (Araneae), colêmbolos (Collembola),
sínfilos (Symphyla), e insetos de várias ordens, entre outros (AQUINO et al., 2006).
Um dos métodos mais utilizados para a amostragem desta fauna é o aparato
modificado de Tullgren, baseado no funil de Berlese, freqüentemente denominado
de funil de Berlese-Tullgren (LASEBIKAN, 1974).
A descrição de um aparato de funil de Berlese-Tullgren é apresentado por
Aquino et al., (2006), em que é utilizado: uma lâmpada de 25W, como fonte de
calor; um container, receptor das amostras de solo, com 9cm de altura e 13cm de
diâmetro, contendo uma peneira com malha de 2mm soldada no fundo,
confeccionado com alumínio ou aço inoxidável; um funil com tubo coletor com
ângulo de 60o, confeccionado com alumínio ou aço inoxidável; e um frasco plástico
de 100mL contendo álcool 70-80% como solução preservativa (Figura 28).
A amostra de serapilheira ou de solo é acondicionada no container, abaixo do
qual há um funil que direciona para dentro do frasco coletor. A amostra é submetida
à luz e calor por sete dias, para criar um gradiente de temperatura e umidade. Os
microartrópodes reagem ao calor movendo-se para baixo caindo no frasco contendo
solução preservativa (AQUINO et al., 2006).
As principais vantagens desse método são: uma alta eficiência de extração
para microartrópodes e pouca necessidade de mão-de-obra para a amostragem e
extração. Como a amostragem é muito simples e rápida, é possível coletar um
grande número de amostras, em poucas horas. Como o padrão de atividade dos
microartrópodes varia ao longo do dia, em função da temperatura e umidade, em
uma coleta demorada pode-se ter um efeito sobre as densidades não só relativo aos
tratamentos, mas também ao período do dia. Como desvantagens têm-se: a
impossibilidade de recuperação de formas inativas, baixa eficiência de extração
para alguns grupos taxonômicos, dificuldade de acondicionamento de solos
arenosos nos containers, o consumo de energia e limitação do número de
tratamentos e repetições em função do número de extratores disponíveis, já que
para cada ponto de coleta são necessários dois funis extratores, um para a
serapilheira e outro para o solo (AQUINO et al., 2006).
112
Figura 28 – Amostragem com funil de Berlese-Tullgren. (A) Extratores em
funcionamento indicando a submissão das amostras a luz e calor por sete dias para
criar um gradiente de temperatura e umidade; (B) Detalhes do armário que contem
os extratores de Berlese-Tullgren.
113
16. Guarda-chuva entomológico
Este é um método ativo de coleta em que o pesquisador utiliza um aparato
formato com um quadrado de pano branco com 0,8m x 0,8m, fixado pelos vértices
em dois cabos cruzados, presos entre si no centro, denominado guarda-chuva
entomológico (GCE). O guarda-chuva é colocado sob os ramos das árvores e
arbustos, os quais são agitados com um bastão, de forma que os animais caiam
sobre o instrumento, onde são capturados pelo pesquisador (Figura 29). O conjunto
de todos os indivíduos coletados por um determinado coletor, durante uma hora
contínua de amostragem é considerada uma unidade amostral. Este método permite
a coleta de um grande número de indivíduos de insetos de diversas ordens e
aracnídeos.
Fonte: F. M. Oliveira-Neto.
114
como já demonstrado em diversos aparatos descritos neste Capítulo. Um método
direto de se explorar este atrativo é utilizar um lençol ou qualquer tecido,
preferencialmente branco, pendurado ao ar livre à noite com uma fonte de luz
apropriada ou uma combinação de fontes como tubos de luz ultravioleta, lanternas à
gasolina ou faróis de carros colocados próximos ao lençol. Os insetos são atraídos e
pousam no lençol, onde são facilmente capturados com fracos mortíferos (com
cianeto ou acetato de etila) ou potes, pelo coletor (SCHAUFF, 2004).
O lençol pode ser preso em duas árvores ou esticado ao lado de uma
construção, com a borda inferior espalhada no chão, sob a luz. Alguns coletores
usam suportes na borda inferior do lençol para manter o lençol alguns centímetros
acima do solo e garantir que nenhum inseto do chão suba no lençol. Outro coletores
dobram a borda inferior para formar uma calha na qual os insetos podem cair
quando baterem no lençol (SCHAUFF, 2004).
Este método é ideal para coletar mariposas em perfeitas condições ou para
obtê-las vivas para fins de reprodução ou criação. Sua desvantagem é que as
espécies que só saem para vôo tardiamente na noite ou apenas nas primeiras horas
do dia dificilmente são capturadas, exceto se o coletor estiver preparado para
passar a maior parte da noite no lençol (SCHAUFF, 2004).
É importante ressaltar que as fases da lua podem influenciar a atração de
insetos por luzes artificiais. Uma lua brilhante pode competir com a fonte de luz,
resultando em uma captura reduzida. O melhor período para coleta em cada mês se
estende a partir da quinta noite após a lua cheia até quase uma semana antes da
próxima lua cheia (SCHAUFF, 2004).
116
Figura 30 – Desenho esquemático de uma armadilha tipo Malaise.
117
pode variar de acordo com as condições da água e a forma pela qual ela e operada.
Segundo Tranter e Heron (1965, 1967), as redes mais eficientes devem ser dotadas
de cone redutor e a área de filtragem deve ser, aproximadamente, três vezes maior
do que a área da boca da rede. Normalmente, desaconselha-se o uso de redes para
amostragens qualitativas em lagos com elevada turbidez (BICUDO; BICUDO, 2007).
118
Pelo contrário, redes com dimensões de poro iguais ou menores do que 20µm não
são capazes de coletar eficientemente rotíferos. Normalmente, os programas de
amostragem de zooplâncton regulares devem considerar dois tamanhos distintos de
poros (BICUDO; BICUDO, 2007). Para o microzooplâncton (organismos menores do
que 200 µm), sugere-se uso de redes na faixa de 50-65µm e, para organismos
mesozooplanctônicos (>200µm), sugere-se adoção de redes com poros na faixa de
120-160 µm (BICUDO; BICUDO, 2007). Essa recomendação resulta do fato de que
os organismos terem diferentes dimensões Iineares (antero-posterior versus
laterais), além de poderem se curvar e se contrair em decorrência das ondas de
pressão durante a filtragem. Por exemplo, uma larva de copépode com mais de 400
µm de comprimento poderá passar através de rede de 200 µm de abertura de malha
dependendo da posição e de sua reação no momento em que tocar a rede
(BICUDO; BICUDO, 2007).
O copo coletor das redes e um acessório que influencia muito a eficiência do
aparato como um todo. Normalmente, ele deve ser dotado de áreas laterais forradas
com a mesma rede utilizada no cone e de abertura inferior por onde serão coletados
os organismos (BICUDO; BICUDO, 2007). O uso de coletores sem tais
características irá impedir que organismos eventualmente aderidos ao tecido da
rede sejam lavados de modo eficaz ao final do arrasto (BICUDO; BICUDO, 2007).
Normalmente, as redes obtem maiores eficiências quando são desenhadas
especificamente para o ambiente onde serão operadas. Assim, um lago eutrófico,
dominado por pequenos organismos, poderá ser convenientemente amostrado
utilizando rede pequena com diâmetro entre 20-40cm e abertura de malha por volta
de 70µm, desde que os arrastos sejam relativamente pequenos para que a rede não
fique colmatada (BICUDO; BICUDO, 2007). Para um lago oligotrófico, entretanto,
dominado por grandes cladóceros e calanóides, recomenda-se uso de redes
maiores, com diâmetro de 60-80cm e abertura de malha da ordem de 200µm
(BICUDO; BICUDO, 2007).
Um dos maiores problemas relacionados ao uso das redes é que não se
pode estudar seções individualizadas da coluna d'água. Isto é particularmente
relevante no caso do zooplâncton que, em muitos casos, apresenta deslocamento
conspícuo, ou seja, migração vertical diurna (BICUDO; BICUDO, 2007). Assim,
foram desenvolvidas redes especiais dotadas de mecanismos que permitem
abertura e fechamento do cone coletor em determinadas profundidades. Na maioria
119
dos casos, esse mecanismo é acionado por mensageiros. Ha dois tipos dessas
redes, a de Nansen e o planctonômetro (BICUDO; BICUDO, 2007).
Rede de Nansen. Estas são redes tradicionais dotadas de mecanismo de
trava que, ao ser acionado por mensageiro, impede que a rede continue a filtrar.
Embora seja muito fácil de operar, a rede de Nansen apresenta os mesmos
inconvenientes de toda rede de plâncton, sendo o principal deles a inexistência de
mecanismo medidor do volume filtrado (BICUDO; BICUDO, 2007).
Planctonômetro. Estas são redes de plâncton acopladas a uma seção
cilíndrica de metal onde há um mecanismo de abertura e fechamento comandado
por mensageiro. Na parte metálica, comumente há um medidor de fluxo que permite
determinar, com precisão, o volume efetivamente filtrado. O planctonômetro mais
conhecido é o de Clarke-Bumpus (DE BERNARDI, 1984). Este é o equipamento
preferido para amostragern de zooplâncton em grandes sistemas lacustres e em
áreas oceânicas, principalmente por ser muito eficiente na coleta de organismos de
médio a grande porte. Apresenta o inconveniente de ser muito pesado, sendo,
usualmente operado por guinchos elétricos ou hidráulicos fixados a embarcações.
Os planctonômetros e alguns tipos de redes podem ser utilizados em arrastos
horizontais a diferentes profundidades, se o aparato for dotado de pesos ou lastros
posicionados adequadamente. A embarcação deve mover-se com velocidade
constante, entre 50 e 125 m.s-1 (BICUDO; BICUDO, 2007).
122
Figura 33 – Pesquisador realizando amostragem da fauna de artrópodes em
vegetação rasteira com o uso de uma rede de varredura.
123
23. Termonebulizador de copa
Este método, também conhecido por “canopy fogging” é um método passivo
de coleta, empregado para a amostragem de artrópodes habitantes dos estratos
superiores da vegetação, especialmente o dossel de grandes árvores. Para isto,
utiliza-se um equipamento, denominado termonebulizador, que possui uma bateria
de 6 volts para iniciar o seu funcionamento e um motor de 24 cv para produzir a
termonebulização. A fumaça produzida com a termonebulização pode ser
direcionada a partir do solo em direção às copas das árvores, quando a armadilha
estive em posse do coletor; ou pode ser direcionada diretamente às copas das
árvores elevando-se a armadilha com o auxílio de uma corda. Neste último caso,
utiliza-se um controle remoto para ligar e desligar o equipamento.
Para que haja a coleta de artrópodes, emprega-se um piretróide sintético não
residual (inseticida), diluído em óleo diesel a uma concentração de 10% e
permetrina (100 ml) como princípio ativo para maximizar o efeito de queda (knock
down) sobre o organismos.
Para a captura dos indivíduos mortos com a ação dos venenos empregados,
utiliza-se anteparos de pano, preferencialmente branco para facilitar a visualização
dos indivíduos. Estes panos devem ser dispostos no local de coleta antes da
aplicação do veneno. Pode-se utilizar anteparos de pano com formatos cônicos ou
retangulares e cada unidade amostral a ser considerada para inventários de
biodiversidade deve ser o conjunto de todos indivíduos coletados em todos os
anteparos instalados em uma determinada aplicação de veneno. Neste caso, devido
à proximidade entre os anteparos, considerar o material capturado em cada
anteparo como amostras distintas poderia ser considerado um caso de
pseudoreplicação espacial.
Batirolla et al., (2004) utilizou funis de 1 m de diâmetro para a realização de
um estudo sobre a ecologia de comunidade de aranhas de Attalea phalerata Mart.
(Arecaceae) (Figura 34); e, como produto nebulizado, empregou Lambdacialotrina a
0,5% (Icon ®), um piretróide sintético não residual, diluído em óleo diesel a uma
concentração de 1% e associado ao sinergista (DDVP 0,1%), para aumenta o efeito
de queda sobre os organismos, diminuindo o seu deslocamento. Diferentemente,
Costa et al., (2010) utilizou anteparos de 1,5 x 4 metros para capturar os indivíduos
que caíram das copas das árvores após a aplicação da nebulização (Figura 35). Em
ambos trabalhos a realização da nebulização ocorreu no período da manhã, devido
124
a uma circulação de ar menos intensa, permitindo que a nuvem de inseticida
subisse vagarosamente através do dossel, conforme proposto por Adis et al.,
(1998).
125
Figura 35 – Etapas da metodologia de coleta de artrópodes com termonebulização
de colas. A: Preparação da área de coleta e disposição dos anteparos de 1,5 x 4
metros; B: Aplicação do veneno utilizando um termonebulizador; C: Fumaça
direcionando-se para a copa das árvores acima dos anteparos; D: Pesquisadores
recolhendo os indivíduos coletados.
126
O fixador mais utilizado é o álcool 70%. Este pode ser comprado já nesta
concentração ou ainda ser preparado a partir de da de álcool 96º GL (70 cm³do
álcool e 26cm³ de água). Este fixador deve ser utilizado para a fixação de
aracnídeos, quilópodes, diplópodes, colêmbolos e insetos adultos dos seguintes
táxons: Thysanura, Mecoptera, Ephemeroptera, Phasmatodea, Isoptera, Plecoptera,
Dermaptera, Embioptera, Psocoptera, Zoraptera, Hemiptera (apenas pulgões,
cochonilhas e moscas-brancas), Trichoptera, Hymenoptera (formigas), Orthoptera
(podem ser também sacrificados com gases tóxicos) e Strepsiptera (VANZOLINI;
PAPAVERO, 1967; GALLO et al., 2002; RAFAEL et al., 2012). As ninfas de insetos
também podem ser mortos em álcool 70% e são mantidas na coleção nesse líquido
(GALLO et al., 2002). No caso de diplópodes, se o álcool se mostrar tingido, deve
ser trocado ((VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
Em campo, Acosta et al., (2007) recomenda a utilização de álcool etílico 80%,
pois esta concentração será diluída através da água existente no corpo de espécies
grandes de opiliões. Tal observação pode ser igualmente estendida a outros grupos
de invertebrados. Estes mesmos autores afirmam que a utilização somente de
etanol como fixador para indivíduos grandes ou de corpos moles pode resultar em
má preservação de tecidos internos, afetando a aparência do tegumento. Para evitar
este efeito, pode-se utilizar um fixador composto por 12 partes de formalina, 30
partes de álcool etílico absoluto, 2 partes de ácido acético glacial e 56 partes de
água destilada (ACOSTA et al., 2007). Neste caso, os espécimes devem ser
mantivos nesta solução por 1,5-2 horas e depois transferidos para álcool etílico 80%
para uma fixação final e preservação. Mais tempo neste primeiro fixador irá enrijecer
as articulações demais (ACOSTA et al.,2007).
O sacrifício com a utilização de gases tóxicos é realizado em frascos
mortíferos ou vidros letais (Figura 36). Os insetos das ordens Diptera, Odonata,
Neuroptera, Coleoptera, Hemiptera, Hymenoptera e Lepidoptera devem ser mortos
dessa maneira (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967; ALMEIDA et al., 1998; GALLO et
al., 2002). Estes podem ser preparados de diversas formas (ver Figura 36); porém,
independente do modelo utilizado, deve-se colocar uma etiqueta nos mesmos, com
uma advertência escrita com letras grandes: “VENENO”. Isso ajuda a diminuir o
risco de acidentes. A seguir são descritos três modelos de vidros letais, um que
utiliza cianeto (de cálcio, de sódio ou de potássio), outro que utiliza acetato de etila:
127
Vidro letal com cianeto. Coloca-se no fundo de um frasco uma camada de
aproximadamente 1cm de cristais de cianeto de cálcio, cianeto de sódio ou cianeto
de potássio (Figura 36A). Sobre esta, deve ser colocada uma camada mais fina de
serragem. A camada de serragem deve ser separada de uma quarta camada, a ser
adicionada depois, por uma rodela de papelão não muito grosso. A quarta e última
camada deve ser preparada com gesso em pó, misturado à água e deve ter
aproximadamente 1,5 cm de espessura. Quando o gesso estiver quase seco, deve
ser perfurado com auxílio de um alfinete grosso, para que o gás cianeto passe para
a porção superior do vidro e mate os insetos. Assim, o cianeto começa a agir
apenas quando os primeiros insetos são colocados no vidro (ALMEIDA et al., 1998).
Recomenda-se a colocação de tiras de papel absorvente dentro do frasco
para evitar que os insetos se choquem (danificando uns aos outros) e para controlar
o excesso de umidade do vidro. É importante proteger a parte inferior do vidro com
esparadrapo ou adesivos para que caso o vidro caia e quebre o veneno não se
espalhe (ALMEIDA et al., 1998).
As principais vantagens deste tipo de vidro letal são: (a) a ação do cianeto
dura muito tempo, não sendo necessária a reposição de veneno; (b) o cianeto mata
quase instantaneamente; (c) os insetos não são colocados em contato direto com o
veneno. Por outro lado, o uso desta técnica é desaconselhável ou deve ser utilizada
com extremo cuidado, visto que o cianeto é uma substância química muito tóxica.
Assim, sempre se deve utilizar luvas, pinças e máscaras, afastando-se o produto o
mais longe possível do rosto. Além disso, alguns insetos mortos com cianeto podem
perder a coloração e endurecer, depois de algum tempo.
Vidro letal com líquido tóxico. Uma maneira mais fácil de fazer um vidro letal
é colocar no fundo de um frasco, uma camada de algodão, gesso ou cortiça picada
e sobre esta um círculo de cortiça com cortes laterais recoberta com papel
absorvente, para receber as dejeções dos insetos e excesso do veneno
(VANZOLINI; PAPAVERO, 1967; ALMEIDA et al., 1998; GALLO et al., 2002). Nesse
frasco coloca-se um pouco de éter, acetato de etila ou clorofórmio e tampa-se bem.
Outra maneira mais prática de preparar o frasco consiste em comprimir apenas
algodão no fundo, que será embebido pelo líquido mortífero, tampando bem o frasco
(Figura 36B-C). A utilização destes líquidos mortíferos em comparação ao cianeto é
vantajosa por não alterar a pigmentação dos insetos, matar rapidamente e não ser
muito tóxico (para o homem). Por outro lado, como esses venenos evaporam-se, é
128
necessário renová-los periodicamente (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967; ALMEIDA
et al., 1998).
Figura 36 – Vidros letais para coletas entomológicas. A: Vidro letal com cristais de
cianeto; B: Vidro legal com acetato de etila; C: Tubo coletor com éter ou clorofórmio.
129
Vanzolini e Papavero (1967) recomendam ainda sacrificar borboletas e
mariposas injetando nestas uma quantidade suficiente (algumas gotas para insetos
pequenos até alguns centímetros cúbicos para maiores) de um líquido conservador
composto por ácido acético glacial (1cm³), formol (2cm³), glicerina (10cm³), álcool
etílico 95% (12cm³), água destilada (75cm³) e nipasol sódico (5cm³). Este líquido,
além de promover a morte do animal ainda conserva a elasticidade do inseto,
tornando-o pergamináceo, e preserva as estruturas internas. É aconselhável para
qualquer inseto volumoso, especialmente aqueles de abdômen bem desenvolvido.
Após a morte do inseto com este fixador, as asas devem ser estendidas, pois elas
endurecem fechadas e nunca mais poderão ser abertas (VANZOLINI; PAPAVERO,
1967).
Larvas e lagartas de insetos devem ser mortas em água quente, isto é,
devem ser mergulhadas na água quente e retiradas em seguida. Dessa forma, as
larvas e lagartas morrem com o corpo e apêndices distendidos. Não devem nunca
ser colocadas diretamente no álcool, pois assim ficam com o corpo e apêndices
encolhidos. Depois de mortas na água quente, podem ser transferidas para álcool
70%. Entretanto, para melhor conservação, antes de serem transferidas para o
álcool, devem ser passadas num outro fixador, por exemplo, o KAAD (1 parte de
querosene; 7-9 partes de álcool 96%; 1 parte de ácido acético; 1 parte de dioxana).
As larvas devem ficar nesse fixador durante 12 a 24 horas, sendo depois
transferidas para o álcool 70%. O KAAD é indicado principalmente para as larvas de
Hymenoptera, Diptera, Coleoptera e Neuroptera e para as lagartas de Lepidoptera
(GALLO et al., 2002). Pode-se utilizar também um fixador chamado KAA, preparado
com 1 parte de querosene, 10 partes de álcool isopropílico e 2 partes de ácido
acético glacial (ALMEIDA et al., 1998).
Outro fixador que pode ser usado para larvas e lagartas é o líquido de
Pampel (água destilada 30 partes; ácido acético glacial 4 partes; formaldeído 40% 6
partes; álcool etílico 96% 15 partes, adicionado por último), seguindo-se as etapas:
(1) anestesiar as larvas (ou lagartas) em acetato de etila por pouco tempo (até que
cessem os movimentos); (2) transferir para água quente (tirar água do fogo após
fervura) por alguns segundos e remover as larvas da água antes que fiquem
infladas; (3) perfurar cada larva 1 ou 2 vezes entre os segmentos abdominais com
alfinete entomológico, para evitar deformações osmóticas; (4) colocar no líquido de
130
Pampel (1 ou 2 dias); (5) transferir novamente para o líquido de Pampel (1 ou 2
semanas); e (6) conservar em álcool 80% (GALLO et al., 2002).
A fixação de crustáceos recém-coletados não apresenta nenhuma
dificuldade; pois tanto o formol a 4%, como o álcool a 70% são ótimos fixadores
(VANZOLINI; PAPAVERO, 1967). Os caranguejos não devem ser mortos em
massa, pois na agonia mutilam-se mutualmente. Devem ser sacrificados, por
imersão no fixador, isoladamente ou aos dois ou três. Os tatuzinhos são usualmente
fixados e conservados em tubinhos com álcool etílico a 70% (VANZOLINI;
PAPAVERO, 1967).
132
Figura 37 – Triângulo de papel para armazenamento temporário de insetos. A-D:
Sequência de dobras.
133
maleáveis, de modo que eles possam ser alfinetados e seus apêndices
posicionados de forma correta, sem que se partam (ALMEIDA et al., 1998).
134
Figura 39 – Modelo de câmara úmida.
Fonte: Do autor.
135
Figura 40 – Eixos corretos e incorretos de alfinetagem de insetos.
136
para que seja possível a correta identificação do material. Como organismos
bilaterais, uma boa parte das estruturas dos insetos é produzida aos pares. Assim,
quase sempre a inserção do alfinete dá-se ligeiramente deslocada para a direita.
Além disso, o tórax é a parte mais resistente do corpo, de modo que é onde a
perfuração deve ser feita na maior parte dos insetos, em especial, no mesotórax
(ALMEIDA et al., 1998).
Alguns grupos de insetos devem ser alfinetados em posições apropriadas.
Em Blattaria, Ensifera e Caelifera a perfuração deve ser feita na parte posterior do
pronoto, logo à direita da linha mediana do corpo (Figura 42A). Em Hemiptera e
Homoptera a perfuração deve ser feita no escutelo, um pouco à direita da linha
mediana (Figura 42B-C). Em Coleoptera a perfuração deve ser feita no élitro direito,
próximo à sua base (Figura 42D). Em Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera a
perfuração deve ser feita no mesotórax, entre a base das asas anteriores, um pouco
à direita da linha mediana (Figura 42E-F) (ALMEIDA et al., 1998).
Logo após a alfinetagem, antes que os insetos sequem completamente, as
antenas, asas e pernas devem ser arranjadas de forma que fiquem bem visíveis
para estudo (Figura 43). Nesse processo, para muitos grupos são utilizadas placas
de isopor cobertas com papel para fixação do exemplar e alfinetes que, cruzados,
facilitarão a acomodação dos apêndices na posição adequada (ALMEIDA et al.,
1998). Em Lepidoptera, são utilizados “esticadores”, tábuas de distensão
confeccionadas conforme Figura 44A. As borboletas são alfinetadas em um sulco no
centro da tábua e, com auxílio de tiras de papel e alfinetes, as asas são distendidas
e presas junto à tábua (Figura 44B-D), sobrepostas às tábuas laterais.
Quando houver necessidade do uso de coleta para fixação de peças
quebradas (o que ocorre com freqüência) ou durante o processo de dupla
montagem, a cola deve ser à base de água. Este tipo de cola pode ser facilmente
dissolvido quando houver necessidade de observação de estruturas taxonônimas
importantes que se tornaram pouco visíveis após o processo de montagem do
exemplar. Entretanto para borboletas, mariposas ou outros insetos com escamas ou
pelos, deve ser usada cola orgânica solvente. Esmalte de unha transparente
também pode ser utilizado na montagem de pequenos insetos, que podem ser
removidos com acetona ou “thinner” (ALMEIDA et al., 1998).
137
Figura 42 – Posição correta para inserção do alfinete em vários grupos de insetos.
A: Orthoptera; B: Homoptera; C: Hemiptera; D: Coleoptera; E: Lepidoptera; F:
Hymenoptera.
138
Dupla montagem. Para pequenos insetos, pode ser utilizada a técnica de
dupla montagem, pois seriam danificados facilmente ou mesmo destruídos se
alfinetados. Assim, o exemplar pode ser espetado com um micro-alfinete que é
aposto a um suporte de cortiça, o qual é montado em um alfinete maior (Figura
45A). Outra maneira de “montar” insetos pequenos é colando-o no vértice dobrado
de um pequeno triângulo de papel resistente (Figura 45B), cuja base é espetada por
um alfinete número 2 ou 3 (ALMEIDA et al., 1998).
139
As formigas de tamanho médio ou pequeno não são coladas lateralmente,
mas descansam sobre a face superior do triângulo, com o abdômen quase
encostado no alfinete, enquanto pernas e antegas ficam fora do triângulo (Figura
45C). Como geralmente se coletam séries de uma mesma espécie, o material é em
parte conservado em via líquida e, em parte, montado. Além disso, por economia,
montam-se de 3 a 5 formigas num mesmo alfinete. Insetos em cópula devem ser
espetados juntos (Figura 45D), e o alfinete trazer uma etiqueta indicando esse fato
(VANZOLINI; PAPAVERO, 1967). No caso de insetos de corpo muito alongado, a
montagem é feita sobre dois triângulos, como indicado na Figura 46 (ALMEIDA et
al., 1998).
140
Figura 46 – Montagem de insetos de abdômen longo com dois triângulos.
141
a coloração dos afídeos quando vivos, além de dados ecológicos (ALMEIDA et al.,
1998). Alguns outros grupos, como os Thysanoptera, Collembola e Diptera
Flebotominae, também devem ser montados em lâmina para facilitar a identificação.
Além disso, quase todos os estudos mais detalhados de morfologia ou Sistemática
envolvendo insetos pequenos exigem um processo de montagem em lâmina para
estudo em microscópio (ALMEIDA et al., 1998).
142
meio por cerca de 6 a 24 horas, o inseto deve ser transferido para o álcool etílico
70% (ALMEIDA et al., 1998).
Após a montagem, os insetos devem ser etiquetados e levados à estufa por
no mínimo 24 horas, ou até que seja eliminada a umidade por completo (ALMEIDA
et al., 1998, 2000). Este procedimento evita o surgimento de fungos e insetos
sarcofágicos (que atacam cadáveres) que possam, depois atacar e destruir toda a
coleção à qual este inseto será incorporado (ALMEIDA et al., 1998, 2012). Os
procedimentos para etiquetagem, depósito e acondicionamento de espécimes de
animais nas coleções científicas serão detalhados no Capítulo 6 – Coleções
Zoológicas: panorama geral e perspectivas.
Preservação de tecidos
Tecidos têm que ser preservados de uma maneira particular para permitir a
extração de DNA. As condições ótimas para armazenagem incluem álcool etílico a
95%-100%, congelamento ou “retardadores” de RNA (RNAlater; para pesquisadores
que objetivam a extração de RNA ao invés de DNA). Os tecidos têm foram
preservados em etanol 70% geralmente não são úteis para a extração de DNA,
sendo o ideal levar etanol 95% para campo em recipientes específicos e fixar os
indivíduos coletados imediatamente com este líquido (BOYER; GIRIBET, 2007). O
congelamento dos tecidos deve ser realizado o mais rápido possível após a coleta,
utilizando-se nitrogênio líquido ou gelo seco. Alternativamente, para expedições
curtas de coleta, pode-se levar os indivíduos vivos para laboratório e realizar o
congelamento no laboratório em freezer a -80ºC (BOYER; GIRIBET, 2007).
A preservação de tecidos por períodos prolongados para mandar o DNA
estável deve ser realizada em álcool etílico 95%-100% em temperaturas amenas, ou
pelo menos em condições à prova de fogo. A melhor maneira para garantir a
segurança contra degradação à longo prazo de DNA é guardar as amostras em
etanol a 20ºC ou menos. Boyer e Giribet (2007), por exemplo, armazenam as
amostras em freezer -80ºC, em frascos bem selados, preferencialmente de vidro
(para evitar o vazamento de compostos orgânicos do plástico e a evaporação). A
maioria das coleções de tecidos armazena as amostras à -130ºC a -150ºC, embora
elas manter-se-ão estáveis, indefinidamente, à -70ºC a -80ºC (PRENDINI et al.,
2002; BOYER; GIRIBET, 2007).
148
Preservação de artrópodes em resina (emblocamentos em resina)
A preservação de artrópodes em resina é muito utilizada como souvenir
(chaveiros, brincos, pingentes) e em algumas culturas são sinal de boa sorte. No
presente capítulo temos como objetivo preservar artrópodes que possam ser
manipulados por alunos durante aulas práticas, sem que ocorram danos ao
exoesqueleto e ao mesmo tempo reduza o número de animais sacrificados para
cada vez que o professor de ciências tenha necessidade de ensinar através de aula
prática.
Ao comprar a resina é importante observar sempre a data de validade, a
densidade e transparência da mesma, para evitar que a resina seja muito velha,
tenha prováveis impurezas ou que esteja ficando endurecida. O processo de
endurecimento de resina pode ser contido com o uso de acetona, que após a
homogeneização através da mistura dos componentes, solubiliza diluindo a
densidade da resina tornando-a mais fácil para manuseio.
Para melhores resultados, devem ser utilizados preferencialmente animais,
recentemente capturados. Clorofórmio, éter e formol são utilizados para anestesiar e
sacrificar os animais, no entanto, não reagem bem com a resina e geram
imperfeições. Bons resultados são obtidos com animais fixados preferencialmente
em álcool 70%.
A escolha do molde ideal deve ser feita observando o tamanho relativo da
peça que se pretende preservar, levando sempre em consideração um molde de
boa resistência visto que a resina no processo de polimerização gera muito calor
fazendo com que derreta materiais mais frágeis. Além disto, a superfície para
montagem do molde deve ser lisa para que auxilie o “desmolde” da peça ao final de
todo o processo de preservação. Após a escolha do molde aplica-se um
desmoldante em toda área de modulação e aguarda-se entre 10 e 20 minutos.
A técnica de montagem deve evidenciar características de partes peculiares
do artrópode, que foi previamente montado sem fazer uso de alfinete em seu corpo,
pois o local do furo gera bolhas durante a resinagem. Caso o artrópode a ser fixado
apresente proporções grandes (e.g. antenas, apêndices locomotores) deve-se
depois de retirada do líquido de preservação (álcool 70%) mergulhar as peças em
banhos gradativos de acetona 50%, 70% e 100% durante 20 minutos
aproximadamente em cada concentração, antes do processo de montagem e
secagem.
149
O procedimento de secagem da peça é muito importante antes de imergi-lo
em resina. Neste procedimento a peça “ganha ar” em seu interior. Quando algumas
peças de artrópodes que já possuem abdomens grandes, como as aranhas e entre
outros, tem grande tendência de murchar, descaracterizando a peça, é necessário o
banho em xilol (70% e 100%) durante 20 minutos aproximadamente antes do
processo de montagem e secagem, e em seguida com uso de parafina liquefeita
aplica-se no abdômen, banha-se a peça em água gelada e retoma-se os processos
de secagem e montagem.
A preparação da primeira camada de resina deverá ser realizada em
recipiente descartável com uso de suportes de mistura (espátulas). O principal
objetivo de se fazer uma primeira camada é criar uma superfície de posicionamento
para fixação da peça, sendo assim, no recipiente descartável de mistura
derramamos resina suficiente para confecção da superfície, e em seguida com uso
de conta gotas pinga-se de 3 a 5 gotas de polimerizante (conforme indicação do
fabricante). Os rótulos ou etiquetas de identificação podem ser inseridos com “letra
sete” ou decalque de letras que são montados na resina endurecida, nesta etapa da
técnica.
Após a mistura derrama-se a primeira camada no molde e aguarda-se a
polimerização desta. No momento da homogeneização da resina com o
polimerizador criam-se bolhas de ar na resina. Quando derramamos a resina no
molde fica evidente a importância da menor densidade da resina, pois as bolhas de
ar sobem mais facilmente e poderão ser “retiradas” por meio de palitos de dentes ou
instrumentos similares. Quando estiver fixando artrópodes alados, deve-se atentar
para a formação de bolhas de ar embaixo das asas.
Após polimerização da peça, coloca-se a peça em água, retira-se o molde,
acerta-se as margens da resina endurecida com instrumento de desbaste ou
cortante; e, por fim, lixa-se com lixa d’água de acabamento de nº 600, evoluindo
para nº 1200. Posteriormente inicie o processo de polimento da peça resinada.
150
EXERCÍCIOS
151
8. Associe os grupos de insetos listados na coluna da esquerda com as posições
adequadas de alfinetagem para cada um deles, listados na coluna da direita. As
posições anatômicas listadas podem aparecer uma, mais de uma ou nenhuma vez.
152
Capítulo 5 - Métodos e Técnicas de
Coleta e Preparação de Vertebrados
153
animais, estabelecidos pela Resolução Nº 714, de 20 de junho de 2002, do
Conselho federal de Medicina Veterinária – CFMV.
Estudos taxonômicos buscam obter amostras adequadas de cada população,
para se avaliar a variabilidade específica. O perímetro de distribuição geográfica da
espécie e o local de maior densidade populacional é que estabelecerá o número de
indivíduos a serem coletados ocorrendo o sacrifício de alguns animais a serem
depositados em coleções zoológicas credenciadas (e.g. Museu Paraense Emílio
Goeldi – Belém/PA; Museu Nacional do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro/RJ; Museu
de Zoologia da Universidade de São Paulo – São Paulo/SP;Coleção de História
Natural da Universidade Federal do Piauí – Floriano/PI; etc.).
Em estudos etológicos, não haverá necessidade de sacrifício e os registros
poderão ser digitais (vídeos, fotos e sons). Em estudos direcionados a autoecolgia
ou sinecologia seus sinais típicos durante seu repasto e deslocamento ficam no
ambiente, tais como: rastros, fezes, tocas, e restos alimentares. Estes, quando
interpretados, podem fornecer uma identificação segura do animal que o produziu e
fornecer dados para a conservação, manejo e ecologia da espécie.
No presente capítulo são apresentados diversos métodos e técnicas para
estudos na área de Zoologia de vertebrados, tais como peixes, anfíbios, répteis,
mamíferos e aves.
154
que andar sobre a tampa cairá dentro da lata. A lata deve estar enterrada ao nível
do solo e a tampa deverá estar camuflada com gravetos e terra solta (Figura 48)
155
eventualmente fugir das armadilhas. Através deste método de amostragem, pode-se
coletar um grande número de vertebrados, como mamíferos (especialmente
roedores e marsupiais), répteis (ex.: Figura 51) e anfíbios; além de invertebrados
(aracnídeos, quilópodes, diplópodes, crustáceos, insetos, etc.).
Segundo Umetsu et al., (2006) armadilhas de interceptação e de queda são
eficientes na captura de espécies raras e indivíduos jovens, provavelmente porque
elas são menos seletivos e são, então, essensicais para o inventariamento da rica e
pouco conhecida fauna de pequenos mamíferos dos trópicos e para estudos
demográficos.
De acordo com Ribeiro-Júnior et al. (2011) a utilização de baldes de 35 litros
apresenta um melhor custo-benefício para amostragem exclusiva de répteis e
anfíbios. No entanto, em estudos multitaxonômicos recomenda-se a utilização de
baldes com pelo menos 100 litros, pois estes permitem a amostragem de um maior
número de espécies de mamíferos (RIBEIRO-JÚNIOR et al., 2011). Ainda de acordo
com estes autores a forma de disposição das armadilhas (em formato de “linha” ou
de “Y”) não apresenta influêcia sobre o número de espécies amostradas de répteis,
anfíbios ou mamíferos.
156
Figura 49 – Desenho esquemático de uma armadilha de interceptação e de queda,
instalada em formato de “Y”, em vista superior (a) e em corte (b).
157
Figura 50 – Armadilhas de interceptação e de queda, instaladas em formato de “Y”
(A) e em linha (B).
158
Figura 51 – Lagarto (Tupinambis quadrilineatus Manzani & Abe, 1997) capturado
com armadilha de interceptação e de queda.
Carmignotto e Aires (2011), por exemplo, utilizaram uma isca que visava
atrair espécies que apresentam dietas variadas e foi constituída por uma mistura de
pasta de amendoim, sardinha e fubá, sendo que nas gaiolas uma rodela de
mandioca foi colocada como suporte. Neste mesmo trabalho, os autores utilizaram
armadilhas com três tamanhos distintos: 7,5x8,5x23cm, 10x12x37,5cm e
19,5x20x32cm. Podem ainda ser utilizadas armadilhas maiores para mamíferos de
médio e grande porte, com tamanho, por exemplo, de 50x60x120cm.
Antes da utilização das armadilhas é importante deixá-las dispostas na área
de estudo, quando viável, alguns dias para que os animais acostumem-se com seu
cheiro e sua presença, de modo a maximizar o sucesso de captura. Durante a
realização da amostragem com este tipo de armadilhas, é importante também
instalar as armadilhas à diferentes alturas, dispondo-as desde ao nível do solo até 2
metros, com o intuito de amostrar espécies de hábito escansorial ou arborícola
159
(ASTÚA et al., 2006; CARMIGNOTTO; AIRES, 2011). A disposição das armadilhas
em campo pode ser feita à cada 15 metros para maximizar o esforço de coleta.
4. Armadilhas de caixa
Estas armadilhas de caixa consistem em caixas de madeira com uma ou
duas portas em lados opostos e possuem funcionamento idêntico às armadilhas tipo
gaiolas. São confeccionadas por marceneiro supervisionado pelo pesquisador que
estabelece o número de portas e as dimensões. Quando o mamífero tenta
atravessar a caixa aberta, um gatilho é acionado e a porta se fecha, no caso de
duas portas se fecham simultaneamente, capturando o mamífero. As vantagens
destas caixas são a facilidade de manejo uma vez que o animal já está em
contenção no interior da caixa. A desvantagem é que nem sempre a caixa obedece
160
a proporcionalidade desejada uma vez que não temos como prever a possibilidade
de captura de outro animal que não seja a espécie em estudo Normalmente a
armadilha é colocada em trilhas e são utilizadas iscas para atrair os indivíduos
(Figura 53).
Figura 53. Armadilha em caixa com gatilho lateral e porta que se fecha ao ser
acionada pela passagem do animal que aciona o gatilho ou por tentativa de retirar a
isca.
161
As armadilhas-fotográficas são instaladas em árvores, a uma altura média de
45 cm do solo e aproximadamente dois metros do ponto alvo da fotografia (LIMA,
2009). Locais estratégicos são selecionados (trilhas naturais de animais, que,
muitas vezes, são antigas estradas ou aceiros) uma vez que mamíferos de médio e
grande porte geralmente usam essas áreas nos seus deslocamentos (LIMA, 2009).
Este método de coleta pode ser considerado caro, visto à necessidade de aquisição
dos equipamentos, porém é extremamente eficiente em estudos de inventários ou
ecologia de mamíferos de médio e grande porte.
6. Procura em estradas
Este método corresponde ao encontro de animais avistados em estradas e
aceiros no interior da área de estudo, percorridos com veículo. Podem ser utilizados
os aceiros percorridos frequentemente para a realização de outros protocolos
amostrais ou ainda estradas ou vias pavimentadas (ou não) para a realização desta
metodologia. O esforço de coleta pode ser quantificado em quilômetros rodados,
com uma velocidade do veículo entre 20 e 30 km/h, no máximo 40 km/h (SAWAYA
et al., 2008). Esta metodologia pode ser empregada no estudo de mamíferos
162
(BROCK; KELT, 2004; CÁCERES et al., 2010; CÁCERES, 2011) e répteis
(SAWAYA et al., 2008).
8. Armadilhas de cola
Essa metodologia tem sua aplicação recente, embora tenha sido proposta há
bastante tempo (BAUER; SADLIER, 1992) e é utilizada para a amostragem de
lagartos arbóreos ou semiarbóreos (RIBEIRO-JÚNIOR et al., 2006) ou mesmo
serpentes (RIBEIRO-JÚNIOR et al., 2008). Estas armadilhas são adesivos plásticos,
colocados em galhos e troncos de árvores e em lianas ou troncos caídos. Quando
os indivíduos passam por estas armadilhas ficam grudados e posteriormente são
recolhidos pelo coletor. Elas devem ser checadas mais de uma vez por dia, visto
que há grande taxa de predação dos indivíduos coletados por formigas (RIBEIRO-
JÚNIOR et al., 2006). A taxa de mortalidade pode variar entre 11 e 48% (GLOR et
al., 2000; VARGAS et al., 2000; RIBEIRO-JÚNIOR et al., 2006). Diversos autores
afirmam que este método é o mais apropriado para a amostragem de espécies
arbóreas ou semiarbóreas, podendo ser complementar à métodos tradicionais de
amostragem de répteis (BAUER; SADLIER, 1992; GLOR et al., 2000; RIBEIRO-
JÚNIOR et al., 2006, 2008).
163
9. Armadilhas tipo covo ou muzuá
Esta metodologia é indicada para a amostragem, principalmente, de
vertebrados aquáticos, como peixes, girinos, cágados, tartarugas e serpentes
aquáticas; embora, eventualmente, invertebrados aquáticos (camarões, por
exemplo) possam ser coletados. Pode ser construída artesanalmente, cortando-se a
parte superior de uma garrafa PET de 2 litros (ou de maior volume) e virando-se a
ponta da garrafa para o seu interior, formando assim um funil. É possível ainda
montar-se um funil duplo, acoplando-se duas partes superiores em uma mesma
garrafa cortada. Pode-se utilizar iscas como farinha de mandioca ou fubá para atrair
os indivíduos. Estes covos podem ainda ser construídos com gravetos
artesanalmente ou com arames. As armadilhas são colocadas no interior de cursos
d’água lênticos ou lóticos (de acordo com o objetivo do estudo), próximos à tocas ou
à beira dos cursos d’água.
Os modelos feitos com garrafas PET podem ser utilizados em complemento a
armadilhas de interceptação e de queda, para maximizar a amostragem daquele
método, dispondo-se os covos próximos às cercas-guia. Neste caso, as armadilhas
poderão maximizar a amostragem de répteis e anfíbios, principalmente.
Pode-se ainda confeccionar estas armadilhas utilizando-se tubos de PVC,
com o diâmetro correlacionado com o grupo zoológico que deseja coletar. O funil,
em ambas as extremidades ou apenas em uma, pode ser feito com tela de arame
flexível de forma a moldar-se ao diâmetro do tubo (Figura 55). Para a captura de
animais atraídos por luz, pode, pode ser colocado no interior do tubo um lanterna,
que deve estar hermeticamente protegida da água. Uma opção para isto é a
colocação da lanterna no interior de um frasco de vidro com tampa de boa vedação.
A lanterna acessa no interior do tubo atrairá organismos aquáticos, assim com
alguns peixes bioluminescentes atraem suas presas (e.g. Argyropelecus aculeatus
Valenciennes, 1850) (DURRELL; DURRELL, 1982).
164
Figura 55. Armadilha tipo covo, com iluminação interna.
165
Figura 56. Armadilha tipo fyke net com 10 metros de largura e quatro argolas tipo
funil em cada extremidade
166
Figura 57. A: Vista geral do equipamento utilizado para pesca elétrica: gerador
portátil de corrente alternada (centro, acima), cabo de conexão entre o gerador e os
eletrodos (centro abaixo), com interruptor de segurança, puçá condutor (esquerda) e
eletrodo em forma de espátula, formado por rede metálica (direita); B: Equipe de
coleta preparando-se para iniciar a passagem de pesca elétrica; os dois coletores
do lado esquerdo da foto portam os eletrodos e o do lado direito, um balde com
água e um puçá simples, não condutor.
167
ser abertas no período do final da tarde e durante o período noturno, horários de
atividade destes animais. As redes podem ser instaladas nas bordas e no interior
das matas, ou próximo à cursos d’água, de acordo com os objetivos do trabalho, e
devem ser checadas a cada uma hora. Quando a amostragem é realizada em
períodos mais secos e quentes do ano, em regiões pouco sombreadas, recomenda-
se checar as armadilhas com maior periodicidade.
Figura 58 – Espinhel com lastro ao fundo, bóia para o encontro da linha com vários
anzóis
168
gravações com aqueles disponíveis em coleções privadas ou laboratórios
especializados.
Este último procedimento é ainda possível ser realizado com anfíbios anuros,
em que as vocalizações de muitas espécies encontram-se disponíveis em CD’s
(HADDAD et al., 2005, 2008; TOLEDO et al., 2007; TOLEDO; HADDAD, 2011).
Inventários de anuros onde a espécie é identificada pela vocalização são comuns e
constituem um importante método de amostragem (ex.: CARVALHO-E-SILVA et al.,
2008; SILVA-SOARES, 2010). Como a maioria dos anuros inicia seu ciclo de
vocalização no período crepuscular com pico até as 22:00, a realização do senso
auditivo de anfíbios deve ser realizado neste período do dia (ZINA et al., 2007;
MELO et al., 2007); embora algumas poucas espécies vocalizam durante o período
diurno (M.S.C.S. Lima, observação pessoal).
170
Figura 60 – Métodos de registros indiretos de vertebrados. A: Fezes de um
carnívoro, contendo restos de um lagarto predado; B: Pegada de um felino
(Leopardus sp.); C: Pesquisadores examinando raposa (Cerdocyon thous)
encontrada morta em estrada; D: Felino (Leopardus sp.) encontrado morto em
estrada.
CONTENÇÃO DE ANIMAIS
A contenção de animais exige experiência e pode ocorrer de forma mecânica
ou com aplicação de anestésicos. Independente do método a ser escolhido é
recomendado a vacinação de pré-exposição da raiva através do uso de doses
repetidas para adquirir imunidade (COSTA, 2000). É ainda importante destacar que
um grande número de doenças são transmitidas por vertebrados, portanto, é
imprescindível o uso de EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual, tais como
óculos, luvas, botas e tantos outros que se fizerem necessário a técnica de manejo
relacionada a espécie em estudo.
171
1. Contenção Mecânica
Cambão. É o instrumento mais utilizado para contenção de animais,
capturando-os pelo pescoço. Este método exige experiência; pois, do contrário,
ocorrem lesões na coluna cervical ou mesmo asfixia do animal. O cambão pode ser
adquirido ou montado de forma artesanal, utiizando-se uma haste de madeira ou
PVC com furo para passagem de um cordão ou cabo de aço, preso em nó e uma
braçadeira para correr o laço.
Laçada com cabresto. Esta é outra forma de prender a cabeça do animal sem
o uso do cambão ou de forma associada onde o animal é preso pelo cambão e em
seguida é colocado um laço na cabeça fazendo o aprisionamento de sua mandíbula
(Figura 61) (MILLEN, 1988).
Laçada dos membros. As laçadas de membros para derrubar são muito
utilizada em animais rurais (eqüinos e bovinos) e também podem ser utilizada com
animais silvestres, porém tudo vai depender do nível de estresse do animal e da
experiência de manejo com a laçada (Figura 62A-B).
172
Figura 62 – Desenho esquemático do laço para membros (A) e laçada nas patas
traseiras e dianteiras, que, quando puxadas, derrubam o animal (B).
173
Figura 63 – Utilização de trava herpetológica para manejo de uma serpente
(cascavel, Caudisona durissa). A: Pesquisador segurando serpente utilizando a
trava herpetológica; B: Serpente contida utilizando a trava herpetológica.
2. Contenção química
Dardos anestésicos: O funcionamento de dardos tranqüilizantes para
contenção de animais se baseia no uso de um êmbolo injetor de droga no momento
do impacto contra o animal disparado por arma de gás comprimido. O porte da arma
é regido pela Lei Federal 9.437/1997 e o protocolo anestésico obrigatoriamente
deve ser preparado por médico veterinário, visto que o uso incorreto de um
determinado anestésico, ou sua dosagem, pode acarretar na morte do animal. O
uso de dardos em veados campeiros (Ozotoceros bezoarticus) e antas (Tapirus
terrestris), por exemplo, podem ser consultados em Medici (2007) e Piovezan et al.,
(2006). A possibilidade de contenção sem o uso de dardo com anestésicos
inaladores é factível e produzem imobilidade desejada para o manejo do indivíduo
capturado (DUARTE; SARAIVA, 2005).
174
Figura 64 – Morcego (Artibeus lituratus) sendo anestesiado para o manejo.
BIOMETRIA DE VERTEBRADOS
A biometria é a técnica utilizada para obter informações morfológicas sobre a
espécie. Normalmente as determinações morfométricas são feitas para uma
determinada amostra de estrutura de indivíduos diferentes e obter-se um resultado
que deve representar estatisticamente a média das medidas. Muitas vezes estes
resultados correspondem a relações matemáticas entre a forma e o tamanho nas
diferentes estruturas anatômicas. Esta relação entre a forma e o tamanho é dita
alométrica e pode responder a um conjunto de indagações como faixa etária, grau
de desenvolvimento e ontogenia (MANDARIN-DE-LACERDA, 1995)
A realização de medidas deve preferencialmente ser feita em animal
recentemente abatido, nunca sobre a pele já taxidermizada ou animal já fixado
(VANZOLINI; PAPAVERO, 1967), utilizando-se régua ou paquímetro. A realização
deste procedimento garante maior confiabilidade às medidas realizadas, visto que
após a fixação e a taxidermia as proporções de um determinado animal podem estar
alteradas.
175
Biometria de Peixes
Quando se trabalha com indivíduos muito grandes para serem fixados e
transportados, preserva-se somente a cabeça em via úmida ou seca e tomam-se as
seguintes medidas (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967): (1) altura máxima das
nadadeiras dorsal, peitoral, ventral e anal; (2) altura mínima do pedúnculo caudal;
(3) altura: medida logo à frente da nadadeira dorsal; (4) comprimento da base das
nadadeiras dorsais e anal; (5) comprimento da cabeça; (6) comprimento da
nadadeira peitoral; (7) comprimento padrão: medido da ponta do focinho até o início
da nadadeira caudal; (8) comprimento total: medido da ponta do focinho até a
extermidade da nadadeira caudal; (9) distâncias pós e pré-orbitais; (10) largura do
olho; (11) largura do opérculo; (12) largura máxima; (13) número de escamas
perfuradas na linha lateral e de escamas em série transversal, isto é da linha lateral
até o início da nadadeira dorsal e da linha lateral até a base da ventral; e (14)
número de raios rios e moles em todas as nadadeiras. Nas Figuras 65-67 esquemas
de medidas de peixes ósseos (Osteichthyes; Figura 65) e peixes cartilaginosos
(Chondrichthyes Figuras 66-67) podem ser encontrados, retirados de Carvalho-Filho
(1999).
176
Figura 66 – Esquema detalhado de medidas de um peixe cartilaginoso (tubarão). A:
Comprimento total; B: Cabeça (inclui as fendas branquiais); C: Tronco; D: Cauda (do
ânus para trás); E: Comprimento da nadadeira peitoral; F: Espaço interdorsal; G:
Comprimento do focinho; H: Espaço internasal; I: Largura da boca; 1: Focinho; 2:
Boca; 3: Sulco labial; 4: Fenda nasal; 5: Olho com membrana nictitante (semelhante
à pálpebra); 6: Espiráculo; 7: Fendas branquiais; 8: Nadadeira peitoral; 9: Espinho
da nadadeira dorsal; 10: Primeira nadadeira dorsal; 11: Segunda nadadeira dorsal;
12: Pedúnculo caudal; 13: Sulco pré: caudal; 14: Nadadeira caudal; 15: Lóbulo
inferior; 16: Lóbulo superior; 17: Sulco subterminal; 18: Lóbulo terminal; 19: Quilha
dérmica.
177
Figura 67 – Esquema detalhado de medidas de um peixe cartilaginoso (arraia). A:
Comprimento do focinho (preorbital); B: Comprimento do disco; C: Comprimento do
focinho (preoral); D: Largura do disco (envergadura); E: Comprimento da cauda; 1:
Olho; 2: Espiráculo; 3: Nadadeira peitoral; 4: Espinhos das peitorais (no macho); 5:
Fileira longitudinal de espinho; 6: Nadadeira pélvicas; 7: Aguilhão (espinho); 8:
Primeira nadadeira dorsal; 9: Segunda nadadeira dorsal; 10: Nadadeira caudal; 11:
Clásper (no macho); 12: Fenda nasal; 13: Boca; 14: Fendas branquiais; 15: Ânus.
178
Figura 68 – Esquema em vista dorsal de anuro adulto.
Biometria de girinos
Esta fase morfológica dos anuros requer um cuidado especial e devem ser
levados em consideração os estágios de desenvolvimento desde o zigoto até o
estágio de imago, correspondendo a 46 estágios de desenvolvimento (GOSNER,
1960; DUELLMAN; TRUEB, 1994; McDIARMID; ALTIG, 2000). Para girinos, são
consideradas as seguintes medições: comprimento do corpo, distância internasal,
distância iterorbital, altura da cauda, comprimento total, altura até o eixo muscular
caudal,altura do músculo caudal, altura do músculo caudal.
179
Figura 69 – Desenho esquemático das medidas de um girino, em vistas dorsal (A) e
lateral (B). BL: comprimento do corpo; IND: distância internasal; IOD: distância
nterorbital; LB: broto do membro; MTH: altura da cauda; OD: disco oral; SP:
espiráculo; TAL: comprimento da cauda; TL: comprimento total; TMA: altura até o
eixo muscular caudal; TMH: altura do músculo caudal; TMW: largura do músculo da
cauda; e, VT: tubo anal.
Biometria de répteis
Esta classe compreende serpentes, lagartos, jacarés, jabutis e tartarugas; e,
em virtude das diferenças corporais entre estes animais, trataremos suas biometrias
separadamente.
Lagartos. Em trabalhos recentes de Sistemática de lagartos (ex.: SILVA,
2011), as seguintes medidas padrões são utilizadas: comprimento rostro-cloacal,
medido desde a ponta do focinho até a abertura cloacal (CRC); largura da cabeça,
medida na altura das parietais, transversalmente (LCA); altura da cabeça, medida
na altura das parietais (ACA); comprimento da cabeça, medido da ponta do focinho
à margem posterior da abertura auricular (CCA); comprimento do braço, medido do
ponto de inserção do membro no corpo até a articulação do cotovelo (CB);
180
comprimento do antebraço, medido da articulação do cotovelo até a articulação do
pulso (CA); comprimento da coxa, medido do ponto de inserção ântero-ventral do
membro até a articulação do joelho (CC); comprimento da perna, medido da
articulação do joelho até o calcanhar (CP); comprimento da cauda, medido a partir
da abertura cloacal à extremidade distal da cauda (CCD). Segundo SILVA (2011)
para efeito de análises estatísticas em trabalhos de Sistemática de lagartos, como
em muitos espécimes a cauda pode se apresentar regenerada ou quebrada, essa
medida não deve ser utilizada nas análises.
Crocodilos e jacarés. Como estes animais costumam permanecer com seus
corpos encobertos pela água e a cabeça parcialmente exposta alguns autores
desenvolveram técnicas morfométricas que permitem a partir da avaliação da
cabeça do indivíduo avistado estabelecer o tamanho corpóreo, isto é, a cabeça
apresenta alometria positiva, permitindo estabelecer o tamanho do animal
(VERDADE, 2001; BONACH et al., 2006; WU et al., 2006). Ao capturar um animal
destes, é possível tomar-se as seguinte medidas: largura da cabeça (CV), largura
orbital (OL), largura máxima nasal (WN), largura da base do focinho (SW), largura
interorbital (IOW), largura orbital (OW), comprimento pós orbital (LCR), comprimento
total da cabeça (DCL), comprimento do focinho (SL), comprimento do palato maxilar
(PXS), comprimento da mandíbula (ML) (WU et al., 2006).
Quelônios. Tartarugas, cágados e jabutis apresentam plastrão e carapaça.
Para estes animais, existe uma técnica de biometria plana que pode ser empregada.
As medições são: o número de escudos dérmicos marginais e o comprimento
retilíneo da carapaça (LUZ et al., 2003). Segundo ECKERT et al., (2000) as medidas
transversal e longitudinal da carapaça, feitas de maneira retilínea são as duas
medidas padrões para avaliação do crescimento de quelônios, pois o uso de fita
métrica gera erros. Outra forma de estabelecimento das medidas é considerar o
plastrão e a carapaça identificando e medindo cada um dos escudos da carapaça e
regiões do plastrão (POUGH et al., 2008; KARDONG, 2011), como mostrado na
Figura 71.
181
Figura 70. Desenho esquemático da região anterior do corpo de um crocodiliano em
vistas dorsal (A) e lateral (B).
182
Figura 71 – Escudos dérmicos da carapaça (A) e regiões ósseas do plastrão de um
cágado (Phrynops sp.).
183
Figura 72
7 – Esquema das esccamas dorssais de um colubrídeo
o, mostrand
do a maneirra
ero de fileiras. À esquerda, ind
de conttar o núme dicação essquemática
a de quilha
as
simples;; no meio, de
d quilhas duplas;
d à direita, dois tipos de fosssetas apic
cais (simple
es
e duplass).
Fonte: Vanzolini
V et al. (1980).
Biometrria de aves
s
A medidas padrões pa
As ara aves, de acordo co
om Sick (19
997): (1) altura do bico
o,
e; (2) comprrimento da asa, medid
na base do desde a base até o final (exc
cluindo-se a
as
penas); (3) comp
primento da
d cauda, medido a partir d
da base das
d retrize
es
(encosta
ando-se à pele da cauda) até
é a ponta
a das retriizes mais longas; (4
4)
mento do bico (cúlmen
comprim n), medido da base o início das narinas até
é a ponta do
d
bico; (5)) comprimento do dedo mais com
mprido, inclu
uindo a unh
ha; (6) com
mprimento do
d
tarso, medido
m desd
de a base até
a o final d
das penas; (7) comprim
mento total com penass,
medindo
o desde a ponta do bico
b até o final das penas
p da ca
auda; (8) compriment
c to
total sem
m penas, medindo
m dessde a ponta
a do bico atté o final da
a cauda (se
em contar as
a
penas da
d cauda); (9) largura do bico
o na base;; e (10) m
massa, medido com a
ão de balanças.
utilizaçã
1884
Figura 73.
7 Esquem
mas de me
edidas de aves. Med
didas: A: co
omprimento
o total, com
m
penas; B: mento total, sem penass; C: comp
B comprim primento do
o bico: (1) compriment
c to
do cúlmen, medido
o da base até
a a ponta bico, (2) quando exisste uma "ce
era" se med
de
da boda
a anterior da
a narina até
é a ponta do
d bico; D: altura do b
bico na base; E: largurra
do bico na base; F:
F comprime
ento da asa
a, modo de medir uma
a ave meno
or, esticand
do
a asa; G:
G medição
o da asa pouco flexívvel de uma
a ave grand
de; H. com
mprimento da
d
cauda, medido
m da base das retrizes,
r encostando-sse à pele, a
até a ponta das retrize
es
mais lon
ngas; I: com
mprimento do
d tarso; J. comprime
ento do ded
do mais com
mprido, com
m
a unha. Outras ab
breviações:: CA: calca
anhar; O: osso
o do crrânio; P: contorno da
as
penas; C:
C coberteirras da caud
da; R: cálam
mos das rettrizes.
Fonte: Sick
S (1967)..
1885
Biometria de ovos
Pode-se ainda realizar medidas de ovos de aves ou de répteis. Neste caso,
as medidas a serem tomadas são o comprimento total, largura máxima e o peso
total em gramas. A partir destas medidas podem ser calculados outros parâmetros,
tais como o volume de um determinado ovo.
Biometria de mamíferos
Em geral segue-se o seguinte processo, conforme descreve Vanzolini e
Papavero (1967): (1) mede-se a cabeça e o corpo, da ponta do focinho à base
(início) da cauda, dorsalmente; (2) mede-se a cauda, desde a base até a ponta, com
exclusão dos pelos terminais, se houver; (3) mede-se a planta do pé, do calcanhar à
ponta do dedo mais longo, com exclusão de pelos e unhas; e (4) mede-se a orelha,
por dentro, desde a parte presa à cabeça até a extremidade livre. Para medir
cabeça e corpo, além da cauda, coloca-se o animal deitado de barriga para cima,
sobre uma prancha ou mesa, puxando-o ligeiramente para trás, pela cauda, para
186
que não fique encolhido e deixando a cauda pendente. Coloca-se a ponta da régua
(ou paquímetro) na região da primeira vértebra caudal, onde ela flexiona com o
corpo e mede-se, sucessivamente, cabeça e corpo, com a régua ao longo do
animal, e depois a cauda (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967). No caso de morcegos é
considerado como aspecto biométrico o comprimento do antebraço, a envergadura
das asas e o peso (REIS et al., 2005). Na Figura 75, é possível ver esquemas de
medidas para mamíferos.
Registros em abrigo
O abrigo para os registros pode ser de lona ou mesmo barraca de camping
camuflada. Pode-se ainda construir abrigos suspensos permanentes, para facilitar a
visualização de animais a uma distância maior e observando-se acima do nível da
vegetação herbácea e arbustiva (Figura 76). Este deve possuir aberturas frontais,
laterais e dos fundos. Estas aberturas devem ser discretas e servirão apenas paro o
uso do binóculo, máquina fotográfica ou filmadora. O esconderijo deve ser instalado
com pelo menos uma semana de antecedência para que os animais se acostumem
com a presença do abrigo.
188
Figura 76 – Pesquisador em observatório permanente elevado.
189
Registro do deslocamento
A utilização de bandejas plásticas com isca, farelo, grãos ou qualquer outro
alimento e uso de corante comestível como os usados para confeitar bolos, pode
ser uma excelente experiência para avaliar o deslocamento de pequenos mamíferos
em busca de alimentos. Inicialmente usa-se a isca sem corante e depois de alguns
dias coloca-se o corante. Os mamíferos costumam deixar excremento enquanto se
alimentam e com a distribuição de várias bandejas seus excrementos serão
deixados ao longo de trilhas onde poderá ser estudado deslocamento e outros
hábitos associados à espécie (DURRELL; DURRELL, 1982).
190
Figura 79 – Desenhos esquemáticos da impressão da pata anterior direita (A) e da
pata posterior direita (B) de um mamífero plantígrado.
193
Figura 82 – Molde de gesso com moldura em papelão e gesso de escultor.
194
Os anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) devem ser mortos por
afogamento em álcool diluído (20-40%); ou, em animais maiores (Rhinella spp.,
Leptodactylus spp., etc.) através de injeção intracraniana ou intracardíaca de
barbitúrico (Nembutal, Tiopental, etc.), álcool absoluto, anestésicos (quetamina,
xilocaína, lidocaína, etc.) ou formol, com o uso de uma agulha inserida através do
canto do olho ou da narina, ou diretamente no coração (VANZOLINI; PAPAVERO,
1967).
Para répteis, incluindo quelônios, pode-se sacrificar os animais colocando-os
diretamente em contato com gelo ou geladeira ou em um freezer, de forma que eles
morrerão lentamente com a diminuição da temperatura corporal. Outra opção é
fazer o uso de anestésicos ou barbitúricos em via intracraniana ou intracardíaca
(VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
Segundo Vanzolini e Papavero (1967) é ainda possível fazer-se uma câmara
de gás com éter ou clorofórmio para morte de animais menores. O éter mata bem e
causa poucas contraturas, embora não dê relaxamento perfeito, ao contrário do
clorofórmio, que causa contraturas fortes. Além disto, ambos produtos são muito
voláteis. Assim, recomenda-se o uso dos mesmos apenas em último caso. Para
uma discussão mais completa sobre métodos de sacrifício de répteis e anfíbios, ver
COOPER et al., (1984, 1989).
Para aves, o método mais comum é a compressão do tórax, que retarda a
respiração e o batimento cardíaco, resultando em uma morte rápida. Isto pode ser
feito segurando-se a ave pelo ventre, passando-se o dedo indicador e o médio ao
redor de seu pescoço, colocando-os na região dorsal do tórax e o polegar na região
peitoral. Em seguida, pressionam-se estes dedos, promovendo uma compressão do
pulmão. Se a ave for grande, esta deve ser deitada de lado, e uma das asas
afastada com o pé; comprimi-se, então, diretamente o lado do peito com o outro pé
até que o coração pare (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967). Outra opção rápida para a
morte de aves é utilizar espingardas, mas para isto deve-se adequar o calibre da
arma, o tamanho do cartucho e do chumbo e a distância de tiro ao tamanho da ave
e ao local de coleta, para evitar maiores danos ao espécime coletado (VANZOLINI;
PAPAVERO, 1967). Este método com utilização de arma de fogo, querer
autorização específica das autoridades policiais (ex.: Polícia Federal).
Para matar mamíferos, Vanzolini e Papavero (1967) recomendam o uso
câmaras de gás para animais menores (alguns roedores e marsupiais) ou de
195
barbitúricos ou anestésicos em doses maiores para animais maiores. É possível
ainda utilizar-se doses de anestésicos em vias intracranianas ou intracardíacas,
assim como para répteis. Os métodos de sacrifício de animais menores por
destroncamento (deslocamento cervical), embora eficientes, podem provocar
hemorragias ou ainda a fratura de ossos, prejudicando os procedimentos de
taxidermia e preparação de ossos (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
TÉCNICAS DE PRESERVAÇÃO
Após a captura dos animais, em determinados estudos faz-se necessário a
realização da coleta (morte) de alguns indivíduos para identificação e/ou registro do
trabalho. Estes indivíduos deverão então passar por processos de preparação para,
então, serem preservados em via seca ou úmida. Além disto, amostras de tecidos e
sangue podem ser preparados para estudos moleculares e/ou citogenéticos, etc.
O preparo de peles para exposição ou estudo denomina-se taxidermia
(HJORTAA, 1975) e o material necessário para a prática de taxidermia exige que o
pesquisador tenha disponíveis bisturis com cabos e lâminas diferentes para não ser
necessária a troca de lâminas durante a dissecção, evitando assim o risco com a
troca das lâminas durante a realização do procedimento. É importante ainda ter
estiletes feitos com agulhas montadas para levantar partes delicadas e pinças de
diversos tamanhos e formatos (Figura 84).
Quando tiver de preparar um animal, dá-se preferência a indivíduos
recentemente abatidos ou preservados congelados. Neste último caso, a pele pode
ficar sensibilizada e quebradiça, tornando o processo mais delicado. A verdadeira
arte da taxidermia, “empalhar o animal”, é uma arte que confere ao exemplar as
características dimensionais em vivo. Existe ainda um método alternativo, que
consistem em montar a pele em papelão, denominado “pele de museu”; que ocupa
pouco espaço e é mais adequado para coleções. Após o preparo de qualquer peça
é sempre importante colocar uma etiqueta no espécime, com dados completos (e.g.
nome vulgar; local de coleta; medidas e data), de forma a não perder informações,
independentemente da técnica utilizada.
196
Figura 84 – Instrumentos de dissecção: pinças diversas (A); cabos de bisturis
compatíveis com a escolha das lâminas (B); bisturi com lâmina colocada (C); estilete
com agulhas montadas sendo uma reta e outra curva (D); e lâminas reta, meio
curva, curva e côncava para bisturis (E).
197
d) Continua-se o deslocamento da pele até as costas, tomando cuidado para
não quebrar a inserção da cauda e corta-se a ligação dos genitais e do
intestino com a pele.
e) Procede-se agora a retirada da cauda, que deve ser feita inicialmente com
auxílio do bisturi até onde der sem esforço. Depois, usa-se as hastes de uma
tesoura para auxiliar a inversão da pele da cauda com firmeza, porém sem
força excessiva para não quebrá-la (Figura 88).
f) A inversão da pele é feita até chegar aos membros anteriores, onde se repete
o procedimento realizado nos membros posteriores (Figura 89).
g) Descola-se o resto da pele das costas até expor o pescoço e atingir a cabeça
e corta-se a inserção das orelhas, bem próximo ao crânio, tomando cuidado
para não danificar as pálpebras (Figura 90).
h) Descola-se então a pele da boca rente aos dentes e prossegue-se até que
toda a pele da cabeça esteja descolada, cuidado para não cortar os lábios.
i) Então, deixa-se de lado a carcaça, que poderá ser preparada posteriormente
e trabalha-se na pele para retirar o excesso de gordura (com auxílio de bisturi
ou pedra ume) e do excesso de carne nos ossos restantes. A pele retirada
pode ser lavada com água e sabão neutro para limpeza e pode ser
armazenada em álcool comercial para transporte e posterior preenchimento.
j) Para o preenchimento, inicialmente prepara-se a face interna da pele com
tetraborato de sódio (bórax), evitando contato desta substância com os pelos,
para evitar descoloração.
k) Os ossos das pernas devem ser envolvidos com algodão de forma, tomando
cuidado para a manter uma forma semelhante à original. Então, desvira-se
toda a pele para iniciar então o seu preenchimento.
l) A boca deve ser costurada com pontos delicados e isolados, de forma a
tentar manter a mesma aparência do animal.
m) Um pedaço de arame envolto por uma camada firme de algodão deve então
ser utilizado para preencher a cauda do animal, dobrando as pontas para
evitar que este perfure a pele e tomando cuidado para não esticar a cauda
para além de suas proporções naturais.
n) Então procede-se o preenchimento da pele, que pode ser feito com algodão
hidrófobo ou fibras acrílicas, sendo colocadas aos poucos. Pode-se também
fazer um molde do corpo do animal como na Figura 92. Neste procedimento
198
deve-se tomar cuidado para manter as pernas em uma posição paralelas ao
eixo longitudinal do corpo e para não alterar a forma do animal, enchendo
demasiadamente ou insuficientemente uma determinada parte do corpo.
Após o preenchimento, fecha-se a incisão ventral de frente para trás com
agulha e linha.
o) Pode-se então injetar um pouco de formol nos dedos não escalpelados do
animal, para acelerar a desidratação e sua preservação.
p) Então procede-se a fixação do animal taxidermizado, colocando-o em uma
prancha de fixação (placa de isopor, suporte de madeira ou cortiça),
prendendo os membros dianteiros ao lado da cabeça, e os membros
traseiros com a sola dos pés voltados para baixo, dispostos paralelamente à
cauda. Esta, por sua vez, deve ficar esticada para trás e presa por alfinetes
em sua extremidade.
q) Então, deixa-se o animal secar à sombra, devidamente etiquetado.
199
Figura 85 – Taxidermia de mamíferos: primeira incisão na região abdominal do
animal.
200
Figura 86 – Taxidermia de mamíferos: perna preparada para ser cortada.
201
Figura 87 – Taxidermia de mamíferos: membros posteriores cordados.
202
Figura 88 – Taxidermia de mamíferos: procedimentos de retirada da cauda.
203
Figura 89 - Taxidermia de mamíferos: corte dos membros anteriores.
204
Figura 90 – Taxidermia de mamíferos: procedimentos para retirada da pele na
região da cabeça.
205
Figura 91 – Taxidermia de mamíferos: ossos dos membros, descarnados e/ou
envoltos com algodão.
206
Figura 92 – Taxidermia de mamíferos: detalhe da carcaça do animal, e moldes da
cauda e do corpo, para preenchimento da pele, com forma e volume parecidos com
o animal original.
207
Figura 93 – Taxidermia de mamíferos: animal taxidermizado e disposto em posição
anatômica.
208
3. Montagem de peles de aves
Etapas sintéticas para o preparo de aves (Figuras 94-102), de acordo com
Anthony (1931), Vanzolini e Papavero (1967), Hjortaa (1975), McFall (1975), Pray
(1978), Metcalf (1981) e Durrell e Durrell (1982).
a) Toma-se a ave, colocando-a com o dorso para a mesa; e, em seguida,
com as pontas dos dedos, separam-se as penas do peito até o baixo
abdomen, onde será feita a incisão (Figura 94);
b) Separa-se a pele da carne sem gerar sangramento e evitando-se a perda
de penas;
c) Fécula de batata e/ou fubá de milho deve ser espalhados com abundância
nas penas para evitar vestígios de sangue para evitar sujá-las; ou ainda, a
água oxigenada pode ser usada com cautela caso isso aconteça;
d) Um chumaço de algodão pode ser colocado no bico da ave de forma
aprofundada para evitar hemorragias;
e) Continua-se a retirada da pele até encontrar a articulação da coxa,
promovendo a desarticulação na cabeça da tíbia com alicate de ponta fina
ou tesoura de desossar; e, em seguida, força-se o osso da coxa quebrado
até que fure a carne (Figura 95);
f) Vira-se a perna pelo avesso e retira-se rigorosamente toda a carne da
pele e do osso; e, posteriormente, envolve-se o osso da coxa com
algodão, de preferência hidrofóbico, preenchendo o volume retirado;
g) Após a operação aplica-se tetraborato de sódio (bórax) em abundância na
superfície interna da pele do animal;
h) Solta-se a pele do resto do corpo, um pouco acima do cóccix, neste local
retira-se a glândula uropigeana, que está um pouco acima da cloaca; e
toma-se cuidado com a região cloacal (ânus) pois uma ação forçosa neste
local pode perder as penas que formam o crisso (coberteiras inferiores da
cauda) (Figura 96);
i) Continua-se a retirada da pele da ave até a região das assas; e, ao
encontrar a musculatura da asa destacada, desarticula-se a mesma na
altura do rádio com o cúbito, repete-se a operação de limpeza e aplica-se
bórax (Figura 97);
209
j) Para que as asas fiquem na posição correta, junta-se estas ao corpo,
podendo fazer uso de fios ou linha de uma extremidade a outra para
garantir o fechamento das asas rente ao corpo;
k) Continua-se o escalpelamento até a região dos ouvidos e próximo aos
olhos, atentando para para não cortar os cílios (pêlos que recobrem as
membranas dos olhos);
l) Continua-se destacando a pele até o início do bico, onde a pele termina;
e, neste ponto é como se a ave estivesse do avesso, pena e pele de um
lado, presas ao bico e o corpo do outro lado;
m) Secciona-se o corpo na região do final do pescoço com o crânio,
retirando-se a língua e o olho e limpando-se o crânio (Figura 98);
n) Secciona-se no início do pescoço, junto do crânio da separando o corpo
em definitivo da ave;
o) Segue o processo de limpeza do interior do crânio, puxando-se por baixo
o interior cefálico; e, em seguida, introduz-se bórax à vontade no interior e
preenche-se a cavidade com algodão hidrobóbico;
p) Após a completa separação da pele e da carcaça, passa-se bórax na pele
de maneira total e continuada por todo segmento tegumentar (Figura 99);
q) Retorna-se a ave para a posição natural, pele para dentro pena para fora
e inicia-se o acabamento com a construção de um corpo de algodão;
r) Compara-se o volume do corpo e constrói-se um corpo em forma de funil,
como se fosse um manequim com algodão e com talas que podem ser de
bambu ou arame (Figura 100);
s) Enfia-se este corpo de algodão com a parte afunilada do funil na ave até
que apareça no bico; e, em seguida cobre-se o manequim com a pele da
ave
t) Caso fique sobrando empurre o excesso de algodão para dentro, de
maneira que não altere a forma do corpo da ave;
u) Mantém-se parte da tala para fora, por onde se manuseia a peça,
evitando danos durante as preparações;
v) Costura-se a ave com agulha e linha na incisão central;
w) Como o bico está aberto por causa da tala, com auxílio de linha através
de um nó, fecha-se o bico;
210
x) Junta-se as pernas, cruzando-as e amarra-se uma etiqueta com
informações sobre o indivíduo taxidermizado (Figura 101);
y) As aves recém preparadas, devem ser armazenadas em funis de papel,
por alguns dias, para que o indivíduo adquira esta forma ideal para
estudos posteriores (Figura 102).
211
Figura 95 – Taxidermia de aves: perna preparada para ser cortada.
212
Figura 96 – Taxidermia de aves: corte da cauda.
213
Figura 97 – Taxidermia de aves: corte das asas.
214
Figura 98 – Taxidermia de aves: procedimentos de retirada de pele da região da
cabeça.
215
Figura 99 – Taxidermia de aves: pele totalmente retirada da carcaça.
216
Figura 100 – Taxidermia de aves: preparação de molde em forma de funil e
membros posteriores envoltos em algodão.
217
Figura 101 – Taxidermia de aves: animal taxidermizado, disposto em posição
anatômica (esqueda) e já envolto em algodão para armazenamento e preservação
da forma (direita).
218
Figura 102 – Taxidermia de aves: animal taxidermizado e armazenado em funil de
papel.
219
4. Preparação didática de peles
Este método de preparo é também semelhante aos anteriores; porém, neste
caso, há aplicação de um molde de madeira ou corpo artificial do mesmo tamanho
que o animal original. O crânio ou um molde do mesmo pode ser utilizado para dar
maior realismo e este fica preso ao molde através de arames. A sustentação
corporal também é feita internamente com arames, que passam o nível das mãos e
pernas dos animais, ficando para fora do corpo, para que estes possam ser presos
em anteparos. A secagem dos animais preparados também deve ser feita à sombra.
Pode-se utilizar olhos de vidro para dar maior realismo. Para uma descrição
detalhada destes procedimentos, ver Anthony (1931), Hjortaa (1975), McFall (1975),
Pray (1978), Metcalf (1981) e Durrell e Durrell (1982).
a) Desmembramento:
É a primeira etapa a ser desenvolvida.
Para peças menores (pequenos roedores, aves, lagartos, etc.) esta etapa
pode ser passada e as peças podem ser tratadas inteiras.
Para peças de tamanho médio (ex.: um cão) pode-se realizar o
desmembramento realizando-se incisões circulares que alcancem
exatamente as articulações.
220
Para animais de porte maior, é necessário ainda a separação do crânio com
cuidado, além da separação do tronco em duas partes, separando-se a caixa
torácida e as vértebras, sem costelas e a bacia.
Quando somente o crânio ser utilizado, deve-se aproveitar ainda as três
primeiras vértebras, por possuírem importância taxonômica.
b) Descarnamento:
A primeira etapa agora consiste na retirada de todas as partes moles
facilmente retiráveis, como vísceras, olhos e cérebro (em animais grandes) e
as grandes massas musculares.
Para retirada das partes moles mais fácil, é importante promover a retirada
do excesso de sangue, deixando a carcaça imersa em água corrente ou em
um recipiente, trocando a sua água 1 ou 2 vezes por dia.
A retirada de toda a carne dos ossos nem sempre é suficiente e pode ser
necessário também eliminar a gordura. Pendurando-se os ossos em um
frasco, ou mergulhando-os em um fluido desengordurante ou solução de
amônia é possível realizar esta tarefa. Ossos maiores podem ser furados
para que a gordura de dentro dos mesmos saia com maior facilidade.
As carcaças podem ainda ser fervidas em água ou água amoniacal (1 a 5%)
ou solução de água com detergente e carbonato de potássio (uma colher de
chá para cada meio litro de água) para promover o amolecimento da carne e
sua posterior retirada com pinças e tesouras. Pode-se ainda colocar a
carcaça de molho em água com pedaços de mamão verde, pois bestes
contêm papaína, que ajudam a amolecer a carne. É importante atentar para o
tempo de cozimento quando se pretende preservar as articulações. Durante o
processo de cozimento é importante colocar pés e mãos em sacos para
evitar que os ossículos sejam perdidos.
Outra opção é a realização de um processo denominado maceração, em que
as carcaças, após o descarnamento inicial, são fervidas para amolecer a
carne restante e depois são colocadas imersas em água para que bactérias
promovam a decomposição da matéria orgânica. Este processo é muito
demorado (pode chegar a meses) e resulta em um odor extremamente
desagradável, embora produza ossos não danificados.
221
Uma terceira opção é a utilização de larvas de insetos (moscas ou
besouros) para a limpeza de ossos e esqueletos. Para a limpeza com larvas
de moscas necessita-se deixar a carcaça em contato com moscas para que
estas depositem seus ovos. Ao eclodirem, as larvas farão a limpeza total da
carcaça, deixando apenas ossos e ligamentos. Este método é pouco
recomendado por deixar odor extremamente desagradável e causar
problemas sanitários. Para a limpeza larvas de besouros recomenda-se o
uso de besouros do gênero Dermestes, que promovem uma limpeza mais
rápida da carcaça já desidratada e deixam um odor menos desagradável. É
importante frisar que para o uso destas técnicas, carcaças tratadas com
formol dificilmente são aceitas pelos insetos. Neste caso, pode tentar-se fazer
uma lavagem com água em abundância por vários dias, ou ainda caldo de
carne.
Dentes e maxilas são estruturas chaves na identificação de mamíferos e
deve-se ser preservar, preferencialmente as duas arcadas.
Para promover uma melhor limpeza dos ossos, pode-se colocá-los imersos
em uma solução de água oxigenada (peróxido de hidrogênio 10 volume) por
10-15 minutos, porém é importante não deixá-los muito tempo nesta solução,
pois a água oxigenada por corroer os ossos.
c) Secagem:
Quando há necessidade de preparação de um esqueleto ainda em campo,
após o descarnamento pode-se realizar a fixação da carcaça colocando-a em
uma solução de formol , para depois secá-la. Quando os músculos
estiverem brancos, a fixação estará pronta. Na ausência de formol, gasolina
pode ser utilizada, com as cautelas que demanda. No entanto o uso de
gasolina ou formol dificulta uma posterior limpeza da carcaça por besouros
dermestídeos, devendo ser evitada.
Para realizar a secagem da carcaça, recomenda-se o uso de álcool etílico ou
cloreto de sódio (sal de cozinha; NaCl).
É também possível realizar a secagem da carcaça diretamente ao sol, mas
para isto é importante fazer um descarnamento mais cuidadoso.
222
A secagem de ossos e esqueletos já descarnados deve sempre ser feita à
sombra e, em caso de ser feita fervura dos ossos, estes devem ser resfriados
lentamente. Estes processos evitam o surgimento de rachaduras ou
entortamento dos ossos.
d) Acondicionamento:
Em montagens didáticas de esqueletos, pode-se utilizar arames entre as
vértebras, como contas em um colar, para garantir a fixação da coluna. Os
demais ossos podem ser furados ou colados para garantir a fixação das
articulações, quando os ligamentos não foram mantidos.
O acondicionamento para coleções científicas requer maior cuidado, pois
nenhum osso ou dente de um determinado animal pode ser perdido ou
misturado à ossada de outro espécime. Para isto, cada animal deve ser
preparado em recipientes individualizados (sacos plásticos ou garrafas
plásticas) para garantir que este tipo de problema não ocorrerá. Além disso,
após preparados, todos os ossos devem ser numerados com os números de
tombo da coleção onde são depositados, de forma a garantir que quando um
pesquisador esteja trabalhando com o material, sempre seja possível saber
de qual espécime aquele determinado osso pertence.
Os ossos devem ser guardados preferencialmente em caixas de papel,
devidamente etiquetadas, ou em frascos de plástico. Estes últimos são
menos recomendáveis, por permitirem menor ventilação e facilitar a
proliferação de fungos.
6. Preparo de cabeças
Alguns mamíferos possuem chifres ou haste e muitas vezes existem a
necessidade de preservar estas estruturas através da montagem da parte ossificada
da cabeça com a haste. Inicia-se esfolando a cabeça, o corte deve ser iniciado pelo
pescoço, passando pelos olhos até o nariz. A seguir esfola-se a pele da parte
superior da cabeça. Corta-se a pele à volta das hastes liberando até a base da
haste. Assim que extrair os olhos realiza-se o corte da cabeça promova a limpeza
da peça. A fixação em base de madeira é recomendada e para isso deve ser
223
executado mais um corte transversal (HJORTAA, 1975; DURRELL; DURRELL,
1982).
Figura 103 – Corte esquemático com tracejado onde deve ocorrer a inserção da
serra (A) e montagem da cabeça com as hastes em placa de madeira (B).
7. Esquemas de dentição
As técnicas para o preparo da dentição junto às maxilas são as mesmas,
porém é extremamente importante que junto ao registro da peça conste a fórmula
dentária.
3 1 4 2
No exemplo i c pm m 42 , apresenta-se a dentição da “raposinha-do-campo”
3 1 4 3
Pseudalopex vetulus, isto é seis incisivos, sendo três superiores e três inferiores; 2
caninos; 8 pré-molares e 5 molares. Dessa forma, temos 10 dentes na arcada
superior e 11 na inferior, considerando o lado direito e esquerdo 42 dentes totais
formam a arcada da raposa.
224
musculares. A aplicação de formol enrijece os exemplares e uma posição de
montagem deve ser planejada para futuros estudos (PAPAVERO, 1994). Dentre os
mamíferos, este método é bastante utilizado para morcegos, embora sua taxidermia
também seja possível (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
Para peixes répteis e anfíbios este método de preservação é o mais utilizado.
Injeta-se uma quantidade de formol suficiente para que se perceba que o bicho está
injetado, mas não estufado. No caso de peixes é recomendado o formol a 10%,
porém além da aplicação interna de formol, os indivíduos podem ser mantidos em
formol por alguns dias para maximizar a fixação do animal. Para girinos recomenda-
se a utilização de formol a 5%; e, neste caso, basta a imersão da larva em formol.
Para répteis, uma aplicação de formol próximo à cloaca dos machos é
recomendada, para tentar promover a eversão de seus hemipenis, porém com
cuidado para não danificá-los.
Deve-se tomar cuidado para não forçar a injeção de formol em qualquer das
partes do corpo, para evitar que o formol não extravase e atinja os olhos,
provocando um acidente (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
Após a fixação, os indivíduos (répteis e anfíbios) são mantidos em posição
anatômica por 12-24 horas ou até alguns dias, cobertos por papel molhado com
solução de formol a 10%. Nesta posição, os membros anteriores devem ser
mantidos paralelos à cabeça, com os dedos afastados uns dos outros. Posição
análoga deve ser feita com os membros posteriores, paralelos à cauda. Em animais
de cauda longa, deve-se dobrá-la para frente. Pode ser necessária a utilização de
agulhas ou espinhos de plantas (ex.: cactáceas) para a fixação dos membros, dedos
ou cauda na posição ideal. Sabe-se que a fixação está boa quando, levantando-se o
lagarto, a cauda fica firme na posição (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
Para a fixação de cobras, a posição ideal é atingida dobrando-se o corpo do
animal em forma redonda ou elipsóide, de forma que a cabeça fique mais
externamente para facilitar seu posterior exame. No caso de serpentes muito
grandes, tira-se o couro, deixando a cabeça e a cauda, mais um palpo de tronco
acima desta e guarda-se no líquido fixador (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967). No
caso de quelônios, deve-se injetar bastante formol na cavidade geral (pela inserção
dos quatro membros), nas pernas e no pescoço (VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
As gimnofionas (cobras cegas ou cecílias) e as salamandras devem ser
fixadas como se fossem cobras. Anfíbios anuros pequenos podem ser fixados
225
apenas colocados em contato direto com formol 10%, em posição anatômica, na
bandeja de fixação, o formol pode ser absorvido diretamente pela pele, promovendo
assim a fixação do animal. Os animais maiores exigem a injeção de formol, assim
como os répteis. Girinos devem ser mortos e fixados diretamente em formol a 5%
(VANZOLINI; PAPAVERO, 1967).
226
EXERCÍCIOS
227
7. Associe os grupos de vertebrados listados na coluna da esquerda com os
métodos preferenciais de preparação e de preservação com finalidade científica,
listados na coluna da direita. Cada associação pode acontecer uma, mais de uma
ou nenhuma vez.
228
Capítulo 6 – Coleções Zoológicas:
panorama geral e perspectivas
229
científica das coleções zoológicas, tornando-as um patrimônio pelo qual a sociedade
deve zelar, através das instituições mantenedoras (TADDEI et al., 1999)
As coleções científicas são um registro permanente da herança natural do
planeta e a base para o desenvolvimento de muitas pesquisas (MAGALHÃES et al.,
2005; BRAZIL; PORTO, 2011). Estes ambientes têm como função principal
armazenar, preservar e ordenar o acervo de espécimes representando a
diversidade biológica de organismos (fósseis e atuais) que povoaram o planeta até
os dias de hoje (ZAHER; YOUNG, 2003). Além disto, elas estão na base das
pesquisas sobre a diversidade animal e constituem o acervo básico a partir do qual
essa diversidade é reconhecida e localizada. Apesar de diferirem em seu tamanho,
escopo e tradição, cada coleção zoológica é única e irreproduzível, pois as
amostras que contêm representam indivíduos biológicos e momentos únicos na
história dos ecossistemas amostrados. Freqüentemente, as coleções abrigam
espécimes da fauna silvestre provenientes de regiões atualmente alteradas pela
ação humana e das quais nada saberíamos, se não fossem os acervos disponíveis
(TADDEI et al., 2003).
231
Uma base de planejamento para pesquisas futuras;
Um recurso de grande valor didático, ao dar suporte a atividades de
ensino secundário (feiras de ciências), universitário e pós-graduação, bem
como apoio a programas de educação ambiental, auxiliando a promover a
conscientização do público para as questões ambientais e de preservação
da biodiversidade;
Um valioso potencial cultural, ao propiciar possibilidades de
entretenimento e de divulgação de valores culturais de uma região,
relacionadas a elementos da fauna e flora, tanto em termos de exposições
físicas, quanto virtuais (páginas eletrônicas bem elaboradas, com
informações e jogos visando divertir, educar e informar o visitante).
Além disto, há uma série de benefícios que pode ser extraída das coleções, a
partir do manejo adequado das informações nelas contidas. Abaixo são transcritos
alguns dos benefícios advindos das coleções biológicas, retirados de MAGALHÃES
et al., (2005) e MARINONI et al., (2006):
Análise e monitoramento a longo prazo de mudanças ambientais;
Descoberta de novos recursos biológicos, direcionando melhor a pesquisa
por genes, agentes biocontroladores e espécies potencialmente úteis para
a humanidade;
Estímulo ao ecoturismo, ao fornecer elementos para exibições sobre a
história natural de ecossistemas de uma região.
Fornecem o contexto científico para o entendimento dos processos de
especiação, extinção e adaptação que produziram a atual diversidade da
vida;
Incremento da comunicação e colaboração global, com conseqüente
redução da duplicação de esforços e aumento da produtividade científica;
Melhor documentação sobre extinção e alterações de distribuição de
espécies;
Melhora na relação custo-benefício do manejo de recursos biológicos à
medida que bancos de dados on line possibilitam um acesso mais
eficiente a informações sobre Sistemática e disciplinas relacionadas;
232
Possibilidade de acesso imediato ao conhecimento sistemático para a
resolução de problemas;
Promoção de novas possibilidades de comparações e associações entre
os dados biológicos e os de outras fontes, como biotecnologia, geologia,
ecologia, genética molecular, etc., que promovam uma melhor
compreensão, preservação e uso sustentável da diversidade biológica em
escala global;
Subsídio à modelagem de nicho ecológico, com seu uso potencial na
previsão de alterações bióticas decorrentes de mudanças no clima global,
assim como de rota e disseminação de espécies invasoras
Subsídio a políticos, legisladores, técnicos e tomadores de decisão no
estabelecimento de prioridades em políticas conservacionistas e de
manejo de recursos naturais sustentáveis;
233
população local, prefeituras, centros de controle de zoonoses, hospitais e órgãos
ambientais (IBAMA, ICMBio, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, etc.).
Coleções de pesquisa
São aquelas que incluem espécimes relacionados à pesquisa imediata de
seu criador, tais como as coleções realizadas ao longo do desenvolvimento de um
determinado projeto (TADDEI et al., 1999). Praticamente todos os zoólogos e
ecólogos que desenvolvem pesquisas no campo eventualmente coletam alguns
espécimes com finalidades diversas e os mantêm em seus laboratórios, para estudo
e consulta. Parece ser um tipo bastante comum de coleção e freqüentemente os
pesquisadores por ela responsáveis depositam material tipo ou séries já estudadas
em coleções maiores. Essas coleções podem ser bem complexas e até grandes,
mas sua manutenção pelos departamentos ou instituições geralmente não é
interessante na ausência do pesquisador (TADDEI et al., 1999). Por exemplo:
durante a realização de um resgate de fauna de um empreendimento a longo prazo,
os pesquisadores envolvidos podem realizar coleta de espécimes biológicos, montar
uma pequena coleção de referência para a pesquisa durante a realização de tal
atividade e proceder a incorporação dos espécimes restantes à coleções de caráter
geral ou regional. Posteriormente, todos os espécimes deste pequeno acervo
também serão incorporados à coleções maiores.
Coleções particulares
Esta categoria inclui as coleções particulares, que infelizmente ainda existem
e que variam em seu escopo, tamanho e objetivos. Em comum, possuem a
característica de serem de difícil acesso e, quando são valiosas, representam ônus
para o estado, que freqüentemente as adquire após o desinteresse ou morte do
colecionador. Quando são confeccionadas por especialistas, podem ser tão
importantes quanto as coleções gerais ou regionais; nas mãos de amadores, são
geralmente pouco confiáveis, principalmente quando a motivação original é
financeira (TADDEI et al., 1999).
Esses tipos de coleções zoológicas - variáveis como são em termos de
acesso, representatividade, qualidade de manutenção e fidedignidade das
informações que contêm - representam, em última instância, um patrimônio a ser
236
mantido e utilizado. Entretanto, uma vez que o grau de comprometimento
institucional não é o mesmo, acervos bastante interessantes podem ser perdidos
quando o pesquisador que os criou é transferido, se aposenta ou falece (TADDEI et
al., 1999).
A criação de coleções particulares, pelos motivos acima expostos não é
recomendada, porém é compreensível quando trata-se de coleções de referência ou
coleções para projetos de pesquisa, havendo posterior incorporação destes acervos
à coleções de caráter geral ou regional. Este foi o caso da incorporação da coleção
particular do entomólogo Johan Becker ao Museu de Zoologia da Universidade
Estadual de Feira de Santana, que era composta de mais de 14 mil insetos de
diversos estados brasileiros; e ainda do acerco particular de mais de 120 mil
espécimes, do herpetólogo Werner Bokermann, incorporado ao acervo do Museu de
Zoologia da Universidade de São Paulo.
240
Os crustáceos encontram-se representados em coleções de distintos níveis
de tamanho, representatividade e situação de gerenciamento, distribuídos em 21
instituições brasileiras em 16 unidades da federação, porém o total de indivíduos
presentes nestes acervos não seja conhecido (MAGALHÃES et al., 2005). As
coleções de moluscos ou no mínimo de conchas, são virtualmente produzidas por
todas as instituições de ensino de biologia, seja pública, seja privada (MAGALHÃES
et al., 2005). Dentre as coleções científicas de moluscos, as grandes coleções de
caráter geral (MNRJ, MZSP, INPA, MCN, INPA, etc.) são as que detêm a maior
representatividade nacional, somando mais de 130 mil exemplares (MAGALHÃES et
al., 2005).
As coleções entomológicas (insetos) brasileiras podem ser consideradas
enormes quando comparadas a outros grupos de animais, porém isto reflete a
diversidade do grupo. Os insetos representam cerca de 50% das espécies descritas
no mundo e com estimativas de um total de 10 milhões (MARINONI et al., 2006),
sendo conhecidas para o Brasil entre 91 a 126 mil espécies deste táxon
(LEWINSOHN; PRADO, 2005). O estado-da-arte das coleções entomológicas
brasileiras é apresentado por Marinoni et al., (2006) por ordem de insetos. Com
tamanha diversidade e grande abundância em ambientes tropicais, grandes
números de indivíduos podem ser encontrados em coleções nacionais para alguns
grupos. Pode-se citar, por exemplo, a presença estimada de cerca 2 milhões de
coleópteros (besouros) nas coleçãos do INPA e também do MNRJ; cerca de 500 mil
dípteros na coleção do MZSP; cerca de 100 mil hemípteros no MNRJ; 1,6 milhão de
hemípteros no MPEG; e cerca de 260 mil lepidópteros (borboletas e mariposas) na
Coleção Entomológica Pe. Jesus Santiago Moure da Universidade Federal do
Paraná (DZUP).
As coleções helmintológicas estão presentes em poucas instituições
brasileiras, destacando-se a do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma das maiores do
mundo com cerca de 33.000 lâminas, de grande importância, tanto pelo seu valor
histórico e taxonômico, quanto pelas suas implicações nas ciências da saúde
(MAGALHÃES et al., 2005). Além disto, diversos outros grupos de invertebrados
(ex.: Tardigrada, Onychophora, Nematoda, Chaetognatha, Sipuncula, Echiura,
etc.) encontram-se representados por poucos indivíduos em coleções científicas
nacionais, devido à inexistência de pesquisadores trabalhando com estes grupos ou
as informações não estão disponíveis na literatura (MAGALHÃES et al., 2005).
241
Panorama das coleções de vertebrados no Brasil
As instituições brasileiras abrigam 71 coleções de vertebrados, com mais de
3,2 milhões de exemplares, 130 pesquisadores e 110 técnicos listados nos
diagnósticos publicados (BRANDÃO et al., 2006). Embora estes números sejam
menores que aqueles apresentados para invertebrados, um grupo muito mais
diverso, pode-se considerar que as coleções de vertebrados são melhores e mais
representativas que as de invertebrados (BRANDÃO et al., 2006).
São conhecidas cerca de 50 mil espécies viventes de vertebrados (SABINO;
PRADO, 2005) e, no decorrer dos últimos 15 anos, foram descritas em média, por
ano no Brasil, uma espécie de mamífero, uma de aves, três de répteis, seis de
anfíbios e 18 de peixes (ZAHER; YOUNG, 2003). A taxa constante de descoberta
de novas espécies se deve ao aumento significativo das coleções científicas
brasileiras e ao crescente número de especialistas atuando no país. Por outro lado,
os mesmos dados apontam para a necessidade de maiores investimentos na área
no intuito de viabilizar a elaboração de um quadro mais estável, em médio prazo,
sobre a biodiversidade dos vertebrados brasileiros (ZAHER; YOUNG, 2003).
As coleções brasileiras de peixes somam cerca de 265.000 lotes, sendo
4.684 lotes de material tipo. Uma comparação inevitável, que demonstra a
necessidade imediata de investimentos para incentivo, formação e estruturação dos
acervos científicos brasileiros de peixes, é com o acervo ictiológico do American
Museum of Natural History (Nova Iorque, Estados Unidos), que possui cerca de
150.000 lotes, mais da metade do número de lotes de todos os 13 acervos
brasileiros somados (PRUDENTE et al., 2005).
As coleções de anfíbios são estimadas em 30, no Brasil, existindo desde
coleções pequenas (até 3.000 espécimes) até acervos que se aproximavam ou
superavam os 100 mil espécimes (PRUDENTE et al., 2005). A maioria das coleções
de anfíbios possui acervos situados entre 5 e 10 mil espécimes, em geral,
associadas a núcleos de pesquisa nas Universidades. O número de espécimes
incorporados a esses acervos vem crescendo, e mesmo coleções vêm se
estabelecendo, na medida em que ocorre a fixação de pesquisadores interessados
em anuros em novas áreas, o que tem caracterizado, por exemplo, o Nordeste, nos
últimos 10 anos (PRUDENTE et al., 2005).
242
As coleções brasileiras de répteis possuem mais de 310 mil indivíduos de
lagartos, serpentes, quelônios e crocodilianos, sendo as coleções do MPEG, IBSP e
MZSP as mais representativas (PRUDENTE et al., 2005). Estas coleções
herpetológicas ainda não representam toda riqueza e diversidade de répteis do
Brasil, embora, possuam significativos e valiosos acervos em termos de número de
espécimes e de biomas amostrados (PRUDENTE et al., 2005). Vários biomas
encontram-se mal representados, com um grande número de espécies mal
amostradas, principalmente as que apresentam distribuição e localização em áreas
remotas. Além disso, não há uma boa representatividade das populações
pertencentes às espécies ou complexos de espécies com grande abrangência
geográfica (PRUDENTE et al., 2005). Desta forma, se considerarmos apenas os
dados contidos nos acervos brasileiros, provavelmente não seria possível avaliar de
forma satisfatória a diversidade de répteis presente no território nacional
(PRUDENTE et al., 2005). Além disto, o incêndio ocorrido no Laboratório de
Herpetologia do Instituto Butantan, em maio de 2010, destruiu parte da maior
coleção de serpentes da região neotropical do mundo, a Coleção Herpetológica
"Alphonse Richard Hoge", que possuía cerca de 80 mil exemplares.
As coleções brasileiras de aves estão entre as mais significativas do mundo e
têm exercido um enorme impacto internacional no desenvolvimento da ornitologia
na região Neotropical. Essas coleções incluem tantos acervos “tradicionais” (peles,
meio-líquido, esqueletos e fragmentos), quanto aqueles de origem mais recente
(tecidos e arquivos áudio-visuais) (PRUDENTE et al., 2005). Existem 33 acervos
ornitológicos no Brasil, porém informações sobre o tamanho de seus acervos não
são totalmente disponibilizadas. Prudente et al., (2005) apresentou os acervos de 12
destas 33 coleções ornitológicas, que totalizam cerca de 250 mil espécimes
taxidermizados, 13.500 espécimes em meio-líquido, 11 mil ninhos e ovos, 10 mil
espécimes osteológicos e 800 fragmentos. Embora todas as coleções pesquisadas
por Prudente et al., (2005) estejam em expansão, na maior parte delas esse
crescimento é inconstante e oportunista, ou seja, normalmente feito através de
projetos não direcionados à coleta científica geral de espécimes, como estudos que
envolvam a captura/soltura de aves, ou projetos ecológicos / taxonômicos
direcionados a poucas espécies. Poucas coleções têm uma política de organizar
excursões de campo cujo objetivo, ainda que secundário, seja a coleta geral de
espécimes ornitológicos, fator decisivo para o crescimento constante e a ampliação
243
da representatividade taxonômica e geográfica de uma determinada coleção
(PRUDENTE et al., 2005). Embora a opção por uma política de coleta como essa
seja facultativa a uma determinada instituição e aos seus curadores, ela é
certamente a mais adequada para um aprimoramento contínuo das coleções
ornitológicas brasileiras e deve ser estimulada ao máximo (PRUDENTE et al.,
2005).
As coleções mastozoológicas apresentam atualmente uma amostragem
apenas satisfatória da fauna de mamíferos, em se tratando de número de
espécimes, diversidade taxonômica e cobertura geográfica (PRUDENTE et al.,
2003). Segundo Mendes e Souza (2003) 13 instituições nacionais possuem
coleções de mamíferos que somam cerca de 200 mil exemplares, um número ainda
insuficiente para o conhecimento da diversidade mastofaunística no Brasil (VIVO,
1996). Estas coleções continuam expandindo-se, em número de espécies, táxons e
de localidades amostradas, devido ao aumento do número de mastozoólogos
profissionais, embora as dificuldades, como acondicionamento de espécimes e
equipamentos, apresentadas por Mendes e Souza (2003) não tenham sido
abrandadas na maioria das instituições. Todavia, o ritmo de expansão não é
adequado à obtenção de amostras satisfatórias para uma estimativa mais realista
da atual diversidade de mamíferos (PRUDENTE et al., 2005).
ORGANIZAÇÃO DE COLEÇÕES
A organização de uma coleção deve ser pensada de forma a facilitar a
localização do material incorporado ao acervo científico. Geralmente este
ordenamento é dado pelos catálogos, que organizam os lotes seguindo uma ordem
numérica. No interior das coleções científicas, os lotes podem (ou devem) ser
organizados de alguma forma que permita sua rápida localização, como já dito
anteriormente. Isto pode ser feito seguindo uma ordem alfabética, uma ordem
taxonômica ou separados por outras características dos espécimes de um acervo.
Por exemplo: pode-se organizar os lotes de uma coleção de invertebrados,
colocando para família ou ordem de organismos em um armário, prateleira ou
gaveta. Dentro deste ambiente, os lotes podem ser organizados em categorias
menores (sub-famílias, tribos, gêneros, etc.) de forma a facilitar sua localização,
quando necessário.
No Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém – PA, a coleção de aranhas é
disposta em diversos de armários individualizados. Os lotes de aranhas são
organizados separados por famílias, cuja seqüência de disposição dos armários
segue uma ordem filogenética das famílias de aranhas, embora uma ordem
alfabética também pudesse ser igualmente utilizada. Dentro de cada armário, os
lotes são organizados de acordo com o nível de determinação de seus espécimes.
Assim, quando uma aranha é identificada apenas como pertencente à família
245
Corinnidae, o lote correspondente ficará em um pote de vidro rotulado como
“Corinnidae”, numerado de acordo com a quantidade de potes deste tipo existam na
coleção (ex.: “Corinnidae 1", “Corinnidae 2”, etc.). Caso os espécimes deste mesmo
lote sejam determinados como pertencentes ao gênero Corinna, então este lote será
transferido para um pode de vidro rotulado como “Corinna”, numerado de acordo
com a quantidade de potes deste tipo existam na coleção (ex.: “Corinna 1", “Corinna
2”, etc.). Analogamente, caso a identificação em nível específico para estes
espécimes seja alcançada e estes sejam determinados como Corinna nitens, então
este lote será transferido para um pode de vidro rotulado como “Corinna nitens”,
numerado de acordo com a quantidade de potes deste tipo existam na coleção (ex.:
“Corinna nitens 1", “Corinna nitens 2”, etc.). Todas estas informações devem ser
registradas na planilha de tombo da referida coleção. Desta forma, um pesquisador
interessado em analisar um determinado lote específico ou um conjunto de lotes,
através da análise do banco de dados do acervo da coleção científica, poderá saber
exatamente em qual armário e em qual pote de vidro (ex.: pote de vidro “Corinnidae
1”, “Corinnidae 2”, etc.) aqueles espécimes encontram-se e ainda reuni-los
rapidamente (L.S. Carvalho, observação pessoal).
A forma de organização descrita acima é replicável de maneira análoga em
coleções de outros grupos taxonômicos, como aves, mamíferos, peixes, répteis,
anfíbios e insetos, por exemplo. Estes podem ser armazenados em meio seco ou
em meio líquido, mas organização semelhante à descrita ainda pode também ser
feita em ambos os casos.
Em uma coleção de insetos conservados à seco (alfinetados), por exemplo,
os espécimes são organizados em gavetas entomológicas compostas por diversas
caixas móveis. Em cada gaveta, pode-se colocar apenas espécimes de uma ordem
(ou qualquer outra categoria taxonômica) específica e dentro desta gaveta, cada
caixa móvel pode conter espécimes de alguma categoria taxonômica subjacente
(ex.: família ou gênero).
Esta forma de organização de uma coleção científica ainda facilita
reorganização contínua de uma coleção por conta da adição de material novo. Isto
poderia ser um problema, especialmente em grupos muito numerosos, quando, às
vezes, centenas de indivíduos devem ser introduzidos entre os já existentes
(MARTINS, 1994). Neste caso, é, obviamente, muito mais rápido movimentar as
246
caixinhas com vários exemplares do que transferi-los individualmente (MARTINS,
1994).
Segundo Martins (1994), os recipientes para conservação de coleções
(armários, gavetas, estantes, laminários, etc.) são variáveis (ex.: distribuição interna
do armário e tipo de gaveta variam com o material a conservar) segundo o material
que conterão. Para qualquer caso, entretanto, a uniformidade é muito importante.
Recipientes com as mesmas dimensões resultam sempre em grande economia de
espaço e fornecem melhor estética (MARTINS, 1994).
247
Definir a forma de organização da coleção; escolhendo, por exemplo,
tipos de alfinetes entomológicos, tamanhos das caixas entomológicas,
tipos de armários utilizados, concentração dos líquidos preservativos,
etc.;
Definir os procedimentos para a catalogação e a informatização do
acervo da coleção;
Estabelecer normas e/ou regimentos para uso e organização da
coleção que contemple a comunidade científica interna e externa
(professores, pesquisadores, estudantes e técnicos) e o público em
geral;
Estabelecer os procedimentos a serem adotados para a preparação
(técnicas de fixação, taxidermia, alfinetagem, etc.) e incorporação
(catalogação e tombamento) do material biológico;
Realizar a catalogação e o tombamento do material biológico no
acervo;
Realizar checagem de líquidos (ex.: álcool, formol, etc.) e produtos
(ex.: naftalina, cravinho, etc.) preservativos do acervo, mantendo-os
em níveis adequados;
Realizar coletas de material biológico para promover o aumento do
acervo da coleção científica;
Substituir etiquetas danificadas, rasuradas ou desgastadas, mantendo
os dados originais; ou ainda, substituir etiquetas antigas de forma a
manter uma padronização das informações da coleção;
Organizar a coleção de forma lógica (por grupos taxonômicos, por
regiões geográficas, por números de tombo, etc.), para que o acesso
ao material incorporado seja facilitado;
248
Em algumas dessas necessidades a informação existe, porém, o acesso às
mesmas encontra-se disperso e em diferentes fontes, algumas de fácil obtenção
como periódicos e livros científicos, relatórios técnicos-científicos, dissertações e
teses, e outras de difícil localização e acesso, como arquivos, pastas e cadernos de
campo. Essas fontes tradicionais não atendem as necessidades atuais de forma
urgente e abrangente (MAGALHÃES et al., 2001).
É nesse contexto que as coleções biológicas podem exercer um importante
papel no atendimento a essas demandas, pois acumulam investimentos de anos em
exploração e pesquisa sobre a fauna, flora e microbiota. No entanto, tornar esse
conhecimento acessível ao público de forma adequada e rápida, versátil e confiável,
na melhor relação custo/benefício possível, depende cada vez mais do
estabelecimento de sistemas automatizados de informação biológica, capazes de
armazenar, gerenciar, analisar e disseminar dados e informações sobre
biodiversidade (MAGALHÃES et al., 2001). Um sistema de informação pode ser
entendido como uma série de elementos ou componentes interrelacionados que
coletam (entrada), manipulam, armazenam (processo) e disseminam (saída) os
dados e informações e fornecem um mecanismo de retroalimentação (MAGALHÃES
et al., 2001).
Existem diversos programas disponíveis e que podem ser utilizados para a
informatização de coleções, variando desde a simples construção de planilhas em
formato Microsoft Excel ou OpenOffice, construção de bancos de dados em formato
Microsoft Access, ou ainda a criação de plataformas específicas para a curadoria de
uma coleção zoológica. Existem ainda programas disponíveis e, exclusivamente,
desenvolvidos para a curadoria e o gerenciamento de coleções científicas, tais
como o Specify (The Specify Software Project, http://specifysoftware.org).
A informatização de coleções zoológicas apresenta diversas vantagens,
dentre as quais pode-se listar: (1) acesso rápido as informações através de simples
consulta da base de dados através de um programa de computador ou plataforma
on-line; (2) possibilidade de pesquisar registros cruzados, como por exemplo,
buscar registros de espécimes ou táxons de uma mesma localidade, ou coletados
por um mesmo pesquisador ou em uma mesma época do ano; (3) permitir melhor
gerenciamento de empréstimos, devoluções e permutas de material; (4) facilita a
atualização de informações taxonômicas, quando um indivíduo ou lote tombado em
uma coleção científica é avaliada por um especialista ou possui seu nome alterado
249
através de alguma nova proposta taxonômica; (5) facilita a localização de erros e
agiliza suas correções, à medida que é possível produzir relatórios do banco de
dados e/ou pesquisar por informações incorretas ou erros de catalogação; (6)
possibilita armazenar um número maior de informações dos exemplares tombados
nas coleções; (7) permite criar um acervo magnético de sons e imagens
relacionados aos exemplares tombados; (8) facilita criação de cópias de segurança
dos catálogos da coleção; e (9) viabiliza o compartilhamento e/ou troca de
informações entre coleções científicas ou ainda a sua disponibilização à
comunidade em geral.
Por outro lado, a informatização de coleções científicas pode trazer
problemas: (1) perda de informações no caso de pane ou mal funcionamento de um
programa devido à atuação de vírus; (2) necessita de pessoal apto à realizar a
inserção das informações no sistema utilizado pela coleção; (3) promove maior
dispêndio de recursos para compra de equipamentos e programas já existentes ou
ainda para a criação de plataformas específicas para uma determina coleção, além
de gastos com manutenção e atualização destes itens; (4) permite acesso
indiscriminado à informações, quando ligado à internet. No entanto estes problemas
podem ser resolvidos através de medidas simples de serem realizadas: (1)
instalação, utilização e manutenção atualizada de programas anti-vírus em
computadores; (2) realização de treinamento com o pessoal responsável pela
incorporação de novos espécimes à coleção, para sua familiarização com o sistema
utilizado; (3) utilização de filtros ou sistemas codificados para permitir acesso
controlado às informações da base de dados somente à pessoas autorizadas.
RECOMENDAÇÕES FINAIS
Por fim, conforme afirmam Taddei et al., (1999), considera-se que as
coleções zoológicas constituem um patrimônio público e sua manutenção para o
futuro deve ser considerada fundamental pela comunidade de zoólogos e pelas
instituições mantenedoras. Assim, estes mesmos autores, Taddei et al., (1999),
sugerem as seguintes recomendações:
a) Cada pesquisador que inicie uma coleção zoológica ou adquira
responsabilidade sobre ela deve ter claro o grau de comprometimento da instituição
250
onde trabalha com sua manutenção futura, de preferência com base em decisão
referendada pelo órgão colegiado superior da instituição;
b) Caso a instituição mantenedora não se interesse em manter a coleção
zoológica indefinidamente, o pesquisador responsável deve procurar meios de
garantir que os espécimes passarão aos cuidados de uma instituição especializada
e interessada no acervo. Assim, poder-se-ia criar a figura da Coleção Associada,
que ficaria sob a responsabilidade do pesquisador até que este não estivesse
interessado ou não mais pudesse cuidar dela. A Coleção Matriz receberia então os
espécimes; e
c) Os espécimes e a infra-estrutura da coleção não podem ser considerados
como “propriedade” do curador. O acesso a pesquisadores qualificados deve ser
permitido o mais livremente possível. Na inexistência de curadores especialistas, as
instituições mantenedoras das coleções devem se comprometer a manter aberto o
acesso na máxima extensão possível.
251
EXERCÍCIOS
252
SAIBA MAIS
253
Disponível em: <http://www.nhm.ac.uk/hosted-sites/iczn/code/>. Acesso em: 21
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Arthropods: Standards for Components of British Columbia's Biodiversity No. 40.
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Montevideo: Banda Oriental. 243 p.
255
APÊNDICE: A mochila do
pesquisador
CARTA TOPOGRÁFICA
A carta topográfica é uma representação codificada de um determinado
espaço real. A informação é transmitida por meio de uma linguagem cartográfica
que pode incluir bacias hidrográficas, limite políticos, rodovias, relevo. As cartas e as
plantas topográficas são representações planas da informação dita topográfica. Esta
informação engloba tanto objetos naturais quanto artificiais sobre a superfície
terrestre: relevo, hidrografia, vegetação, edificações, vias de comunicação, redes de
transporte de energia, limites administrativos, dentre outros. A designação carta
topográfica costuma ser utilizada para representações compreendidas entre as
escalas 1:10000 e 1:500000. (IBGE,2011). A carta topográfica sempre que possível
deve compor os itens de campo, pois complementa informações e pode ser
atualizada com o GPS e mesmo a bússola. Além disto, a presença de uma carta
topográfica da área a ser estudada facilita o planejamento na disposição de
armadilhas e o delineamento amostral, por exemplo.
256
BÚSSOLA
A bússola é indicada para fazer a orientação diretamente na carta
topográfica, calcular distâncias e direções, fazer medidas de ângulos horizontais e
medir o rumo. O melhor modelo de bússola é a geográfica que possui base de
acrílico e régua graduada. As bússolas indicam o norte magnético (MN) que é o
ponto de convergência das linhas magnéticas com desvio de 10o Leste.
BINÓCULOS
Equipamento que permite a observação de objetos à longas distâncias.
Normalmente as embalagens descrevem o produto com numerações (7x50; 10x50;
10x30x50) o primeiro número corresponde ao número de vezes que o binóculo
aumenta, aproximando a imagem observada. O número seguinte é o diâmetro em
milímetros das lentes objetivas. Quando o binóculo possui vários números significa
que o equipamento possui ZOOM que proporciona vários aumentos, no exemplo
10x30x50, “10” é o mínimo e “30” o máximo de aumentos e o “50” é o diâmetro das
objetivas. A escolha deste equipamento está diretamente relacionada com o tipo de
estudo e animal a ser observada, bem com a distância observadora da espécie focal
MÁQUINA FOTOGRÁFICA
A máquina fotográfica a ser adquirida está relacionada com a distância com
que o observador está do animal e quais elementos deste ambiente devem ser
257
registrados. A lente de sua máquina e os recursos eletrônicos é que definirão sua
escolha, além da capacidade de armazenamento da qualidade da imagem no cartão
de memória. O ideal é possuir uma máquina digital que permita a troca de objetivas
conforme a finalidade. É importante conhecer alguns componentes destes
equipamentos para definir melhor a escolha do equipamento a ser utilizado:
Obetivas do tipo micro e macro - imagens de assuntos muito pequenos os
quais são ampliados pelas lentes; exemplo ectoparasitos na pelagem do
animal;
Objetivas do tipo “olho de peixe” ou “grande angular” – imagens de assuntos
extremamente grandes e de ambientes; exemplo uma manada em campo ou
um animal de grande porte onde se deseja aumentar a perspectiva de visão
global ou o enquadramento do animal junto à amplitude da paisagem; ou
ainda, a fotografia de um dossel para a realização do cálculo da cobertura de
dossel em estudos ecológicos;
Objetiva do tipo normal – imagem menor que o fotografado com a distorção
semelhante à visão humana;
Objetiva do tipo tele – aproximação de imagens, quanto maior a distância
focal, maior é a perda da perspectiva e maior a aproximação do elemento
focal. Por exemplo, o uso de uma tele 30x600mm permite a fotografia de
imagens próximas e ao mesmo tempo imagens distantes sem a necessidade
de troca de lentes.
258
informações como descrição da paisagem, formações vegetais, biótopo,
informações abióticas (como a umidade relativa e a temperatura do ar, água ou
solo, por exemplo), informações etológicas, marcas naturais, coloração da pelagem,
constituição do grupo, etc. (MARTINS, 1994). Alguns aspectos fundamentais e
imprescindíveis que devem conter nas notas de campo são:
Itinerário – O itinerário claro e minucioso de uma viagem de coleta permitirá
esclarecer dúvidas futuras, especialmente quando muitas localidades são
exploradas (MARTINS, 1994). Assim, o máximo de detalhamento possível do
local de coleta é bem-vindo, visto que permitirá o retorno à mesma
localidade, quando houver necessidade pelo pesquisador ou pesquisadores
futuros. É ainda possível realizar marcação da coordenada geográfica com o
uso de um aparelho GPS, provendo maior precisão da localização do local de
coleta. Além disto, deve-se caracterizar no caderno, com minucioso
detalhamento, com esquemas que favoreçam o retorno ao local onde ocorreu
o estudo.
Data – Diversos grupos de animais apresentam sazonalidade marcante, de
forma que uma informação precisa sobre o período de coleta pode permitir
que um pesquisador, à posteriori, possa retornar na mesma época do ano na
localidade de coleta de um espécime e ter maior probabilidade de encontrar
nos indivíduos do mesmo táxon.
Localidade – Considerando as informações precárias de muitos municípios e
principalmente os distritos e localidades rurais onde uma propriedade utiliza
como passagem a propriedade vizinha, é importante registrar o nome do
município, distrito, fazenda e fundamentalmente as coordenadas geográficas.
Este tipo de informação é indispensável para a incorporação de espécimes
em coleções científicas; sendo, portanto, a principal informação ser registrada
em qualquer estudo zoológico. É ainda importante registrar-se a altitude do
local de coleta, especialmente em regiões com notáveis acidentes
orográficos, pois a paisagem nestas regiões sobre marcante variação
provocada pela altitude.
Paisagem – Segundo MARTINS (1994), a descrição da paisagem das
localidades de coleta permite decidir os tipos de vegetação, de coleções
259
d’água, de solo, e assim por diante. Em geral, a documentação fotográfica da
paisagem facilita futuras interpretações sobre o habitar do material coletado.
Informações de campo – É óbvio que as informações de campo a registrar,
sua extensão e minúcia, dependem do destino do material e da área de
estudo do coletor ou pesquisador (MARTINS, 1994). Em resumo,
subordinam-se ao tipo de interesse do coletor. Anota-se, por exemplo, o local
específico da coleta, isto é, “sob casca”, “em fungo”, “em toca de...”, “sobre
flores de...”, “sobre pedras, na praia...”, “à luz”, etc. (MARTINS, 1994).
261
SOBRE OS AUTORES
262
Mauro Sérgio Cruz Souza Lima
Graduado em Ciências Biológicas, Especialista em Ecologia,
Mestre em Ciências Ambientais e Doutor em Biologia Animal
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalha
com autoecologia e sinecologia com ênfase em anuros.
Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal do
Piauí (UFPI), no Campus Amilcar Ferreira Sobral (CAFS), em
Floriano. Já publicou onze artigos científicos e quase 100
trabalhos em eventos nacionais e internacionais; além de atuar como revisor ad hoc
de periódicos científicos. Atualmente é Diretor do Campus Amílcar Ferreira Sobral –
CAFS/UFPI. Endereço para correspondência: Universidade Federal do Piauí,
Campus Amílcar Ferreira Sobral, Meladão, Floriano, Piauí, Brasil, CEP 64800-000.
E-mail: slmauro@ufpi.edu.br.
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7: 1-9.
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