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REVISTA INSTITUTO HISTORICO € GEOGRAPHICO BRASILEIRO Fundado no Rio de Janeiro em 1838. RIO DE JANEIRO 1016 08 Cursos, da Instituio Histarico ¢ Geopraphico Brasitetre vieram eonsubstaneiar, si brn que em proporpbes restrictas, a formosa ¢ util iaéa de uma Bschola de Alias Estudos, por cxja fundacao propugnou o eminente socio honorario dr. Manuol de Oliveira Lima. Tniciados eller em fins lo anno do 1913, eonti- nuaram om 1914 © até ao presente, om brillantes sévies de pro- eocies, que constituem outros tantos elementos de contriluicao para a nossa Historia sb os differentes aspectos por que tem ‘ido tractadta, @ consniuintemente wm relevante sérvico prestado ‘pelo Instituto Historica. © primeiro eurso foi 0 do socio effectivo dr. Atberto Rang sibre o# Aspectos geraas do Beactl, em quatto prelecrbes Uzadas om 2,9 e 23 de Dezembro le 1919 ¢ & de Janeiro de 1924, estudlando a Physiographia brasileira, Seyntiu-ne 0 dr. José Vioire Fazenda, bibliothecario co Ius- tituto, ave discorren Wbre os—Aepectos do periods régencal do Brasil, em 6 de Fevereiro de 1914, Constante de tres. preleccirs fos 9 curse do prof. Basilio ie Magathies, sveio correspndente do Instituto, sibre 0 Bandel- rismo no Brasil, efectuadas emt 18 6 25 do Maio 0 3 de Junko de I914;, nellas estuuton @ expansio geogrophica dp Brasil wos pri- nctras. secutos, decorrente das euitudss ¢ Iwindelioe. O-dr. Antonio Goncalves Pereira da Silea, cm wma pro- Veepiio effectuaita. em 30 de Jutho de 1914, discorren sibre oF Antigos yehifentos no fijo de Janeleo. © eurso professado pelo dr. Aurstino Leal, sibre a Histor la Constituelonal do Brasil, ene cinco proleerbes, effectuou-se em 15, 28-6 29de Outubro €5 6 £1 de Novembro de 1014, 0 esta publl- ado polo anetor. Odo dr. Arthur Pinto da Rocka conston de sets preleerbes -sdbre q Historia Diplomatica do Brasil (1 série), reatizadas em 24 de Dezembro dé 1018 © 7 ¢ 21 do Janciro, 4 618 de Bevereiro e4de Marco do corven'e anno. Bate curso fot jd publcado ma parte 1 do tomo Lxxen da ‘nossa « Tevista ». Intercorrentemente, 0 dr. Nicoldu Joss Dubbant, socio eor- ls, effectuou, sibre o thema—Dotn Pedro 11 no Egypto, uma conferencia, que ss reatizon no dia dy Fevereiro ; ¢ 0 dr. Tous Vieira Fazenda, en 12 lo mesmo mes, owtra silire 08 rie fandamantos do Bio de daneiro. 9 do Wislorin Tribtaria, do Teasll fot professado pelo s0céo honoraria ido Instituto, dr- Augusto Olympio Viveiros de Castro, em cinco prelesriee, que se wfectuaram em 22 ¢ 20 de de Abril, 6 8 20 dle Maio ¢ 8 de Junko, uttimo, A Revista do Institato, por obsequio do insigne professor, imiore no presente volume, integralmento, este curso ainda inédito, (oa vivecao Historia Tributaria do Brasil “Curso professade na Instituto Histeion © Gangraphion Brasileiro rmuo Dr. Augusto Olympio Viveiros de Castro (Socio mmvoini0 vo Tertercx0) Historia Tributaria do Brasil PRIMEIRA PALESTRA Suamanig— Objecto do cerso. Difficuldade do eatuto to systema tributario no periods colonial, devido i fatta de wma Tepis- Tapio wniforme. O mesmo phenomeno se observow wo Chile. Direito de taxar; sex exercicio. Opinibes de Felisbello Freire, Oliveira Martins © Joie Francisoo Lisbon. Refutagto. Can- “sas do eqitivoco em que caivam 08 citaidos escriptores. Brro Kistorico de wm porlamentar do Tmporio. 0 pague & nao bute, Modatidates da tawara0, Os fornes de doagio ans capitanias, As instracctes expedidas ao conde de Mexensle. A mineracto. 0 moxopotio do pav-brasit ¢ das madeiras de construcpio, Transplantagto da Famitia Real para o Bra- sit. Recrudeseencia da actividada tributaria ; nem o1 bilbo- tes de confissio eseaparam d tazapto, Krams da respectica Tegistario. Os impostos aduaneiros. O traciady eetebradto com @ Inglaterra ¢ a intignagio popu fanifesto real ao Clero, Nobreca 0 Povo. A dacima srbana. Imposto do ‘ntllo de papel, Inposto de transmissno de propriadade, In- oslo de industrias e profissbes. Apreciarao do systema tri dutario no periodto colonial; sua defieiencia. Prequente de- erstacho de reositas especializadas, Projecto de reforma REVISTA DO INSTITUTO HISTONICD fentativa para fazer desapparecer 0 imposto de exportacio. © inposto considerado como instrnwenio economico desti- nado a inorsmentar a produceao nacional. 0 protecciontsmo agricola. A penuria do Thesonro publico 6, wo Brasit, wm phenomeno physiotogiea.. A historia tribularia do Brasil, metisSenhores, j4 nfo oppie aos exforgos do Investigador o inextrionyel emmaranhado das flo- rostas ainda virgens; mis esti muito longe de ser uma estrada faclisnente palmithevel. Distinctos esoriptores, dentre os quaes é de justica salientar, pela onfem chronolojgica, Castro Carreira, Amaro Cavalcanti Felisbello Fretre, lornaram menos densas as treyas do chaos, assentando marcos preotosos, quo mais tarde hilo de me facilitar a Jornada, Estes escriptores, porém, se oceapairam sobretudo do Brasil indepentente, ¢ encararam oassumpto como tnancistas, fallando dos tribatos para olsssifiai-tos selentifieamente. Ora & orfentagto deste curso & exclasivamente hisiorica ; exporel factos em vox de urchitestar thenrias, © formalar planos salvyadoros que solucionem do ver 0 tetneroso problema fnaneelto ‘que, como umn espectro sinisteo, tom paitado sobre todos 03 po- riodos da Historia patria. Obedecendo 20 criterio da especializacto que domina 0 mo- ‘vimonto scfentifico nos tempes modernos, entenden V. Exo, snr. presidente, muito agorladamente, estabelecer mats dous cursos =0 de Historia finarceira 0 de Historia econamiea, 0 assumpto das minhas palestras, portanto, flea cireuns- cripto 4 tridutacito propriamente dicta, oveupando-me tambsm dos ‘monopoliog, quando estabelecidos exclusivamente como fontes de renda, ‘A principal difflenldade, quo offerece o estudo do nosso sys~ tema tributatio no period colonial, consiste na absoluta auseneta de qualquer organizacno systamatica, nfo hayendo so menos uma egislagio uniforme. (1) (1) Reforindo-20 & xtuagio duChile no periodo eulenial, Lastarria observa ‘que la igfalasion positiva coloaint formabs un yordudoro laborinte: yea HISTORIA TRIBUTARIA DO BRASIL MW Nio vigorava nas eolonias a logistacho teibutaria da metro- polo; © nas proprias colonias no eram cobrados os mesmos im- postos. Gonseguintomente, para conhecor @ systema teibutario do periodo colonial, tive nevessidade de recorrer aos chronistas da ‘epoca, fs colleogdes dus cartas reglos e alvaris, as instrucebes expedidas 805 govertiadotes @ vice-rels, e, sobretudo, ao pre- cioso mananofal da utilissitoa Reviata deste Instituto. Estando tio esparsos os materines, facil nto era 2 tarefi de construirs ¢ assim, si elificlo nio se recommendar pela purezn das suas Uphas arcbitectonicas, si 1or—fei € farte—como as anti- ‘gas obras do Porto, nio condemnets o arehitecto sem reconhecer circunstancias altenvantes, Pradisposio 0 vosso esplrito a beneyolencla, de que tenho tants nosessidado, abortemos resolutamente 0 assumpto. Direto de azar, O mals importante problema deste periodo da Historia (ributaria consisie em saber a quem pertencia ou, elo menos, quem exeroin habitusimente o poter (ribularto, Sastentando quo, por nnis de dons seoutos, as eamaras ma nigipaes excroere’n eecluafenmente esse poder, assim doatrina 0 dr. Felistello Freire, em mim substanctoso estudo que publicou no Bsonomista: Drsaittro © gavémno mnnicipal folo creador dos tmposios, leando na mais completa inaetividade o govérno detegado da mettopole, A tributaglo consistin em impostus de Importagao, consumo ‘© exportagiio; oram Impostos sfbro a ctreulagte de valores com- mercines, Delles estavam exemptos o trabalho @ 0 capital, que nto eram geayailos nem diresta nem indirectamente, propianante in hastnamlento, ain plan ni sisters, do oodulas, roalos oréo~ ‘noe, cartus, pevinionos, ordeamnsas, instruosfones, autos do gobiorno f ota, hufbnidad de despachor inookerenter, hetore}inoo i abwurdos. La clonola do In jlalasion colonial oxpanoin Hogo a ser por arte im tivo ws Yerdiders nigromsncia, en eayos arcaroy solo urtatun iniclados os quo teniat bastanto osndls par huver {inporar 94 eapricho 0 sn lntorahy fnvoonde eh su apoyo una lel de Tudins w otra codula qualquiera do S Majentir i REVISTA NO INSTITUTO INISTORICO A propriedads urbsns, « proprisdade rural ¢ 0 capital autfe- Flam as yantagens da exempeo tributatia, 4 sombra da qual se ereow a avistocracia agricola, que fol a primeira manitestagho his- toriea, entre nés, do capitallsmo, Elle nascen com a immunidada teibutarin a sombra della desenvolveu-se, até agora, quasi que sob a mesma immunidade. B ago podia deixar de ser assim, porquanto a matoria dos metabros do govérno munieipal, do potlor que tinha a iniefativa tribntaria, ora composta de layradores. © primeiro golpe da absorpcio da Inictativa tributaria dos governios muntoipaes pelo govérno detegado da motropole tove logar em 1727; 9 arrecadacdo dos impostos e os proprios impos- tos passaram a perlencer & Fazenda Real, © governo munieipal passou a percetier as migalhas, que Ihe quizessom dar de suas rendos para ns despesns locaes. E acto politico de mais sloanco da vida nacional e 8 origem das mais graves e sérins consequencins, Elle firniou © programma do arroxo da pollitea economica, que nos accompanhow até Nepubliea, foi causa do nosso em- pobrecimento, ‘A siluagho de guerta defensiva, a que nos levou a politica expansionista das reputlioas platinas, toraou mais eomplicade & compleso 0 regime tributario, porne 0 Impasto ota @ unlea foute que allmentava 0 Erario, Gresram-se sonhoreogem da Caso da Mooda, o imposto sobre officinas, sOlire ns eartus do seguro, soliry ax provisdes de meroés © sibre a passage dos rios; ¢ alargnn-s0 6 Imposto de consumo sobre 0 sal @ 0 Assucar, @ um direito aildictonal sobre a dizima da Alfandega A causa principal dessa absorpgia do poder tribatatio, que © govermo da metropole operon ein 1727, Tok a necessidade de inyostit o representante do inesino govérno da auctoridadeneces- soria poro punt 08 contractadores di artecadacho dos iinpostos, oujas irregularidades erm aeobertaiss pels auctoridades inant eipaes, is qunes prestavain mao forte thas suas luctas com o po der central. Dons desses contractadores—Manue) Macedo (ouro ein Mi- ISTONIA TRINLTANIA DO NASI. w nas), & Felisherto Brant—oontractador de diamantes) exerceram ¢onsideravel infiuenoia no periodo colonial, Oliveica Martins — <0 Braxit © as colonias portiguezass — tuntem aflitima terminantemente (er sido o marquez de Pombol quem cbolia os antigos privilegios das Camaras Municfpaes no ‘ungamento dos impostos. £0 mou illustre contertanes, Joie Fransisco Lisboa, assi- gals como um dos phenomenos mais extraordinarios quo oife- rece a historia’ do regime colonial —a grande expansto do ele- mento umnicipal, ou melhor o Immenso poder polttico que se arrogarim os Senados das duas cidades de8. Laiz e do Relem, Aceoniua mals que os mesmos sennides, com diveito ou sem lig, exerciam as mals importantes attribuigbes, dentre as quaes sobresaia « de impor e reausar tributes, ‘Apesar da auctoridaie dos padrinhos, no posso acceltar somo vetdadetra a opiniio de que as camaras muntelpaes tives- sem gasado legatiiente, até os meados do seenlo xvi, da {nicks iva’ exelusiva em materia tributaria, basenio a minha manetea de pensar nos seguinies argumentos = 1° Si as camaras municipaos tivessom gosado isoladamente do alludito diretto, a nossa organizagio municipal, no referide periodo, ao seria menos fndepondente do que a ‘tos municipios itaianos na epochs medieval. Dispondo dos reowrsos financeiros, tendo sua disposigiio os conddes da bolsa, as camaras municipats torlan ascumide no govorno colonial a mestna preponderancia que, pelo mesmo mo- tivo, « Camara dos Communs consoguia obter na Inglaterra, ra nds nio encontramos vestlyios dessa preponderancin; 40 contrario, todos 0s historindores recontiocem que, quando.se descobiu o Brasil, j4 era lettrs morta a aulonomia dos municipios, que tanto florira, nos seealos xin © xtv, em Portigal, As munfefpalidades exam instituigdes apagadas, submissas, flelinante retratadas nas disposicdes das Ordenagies do Reino. Mesmo em Portugal, os yerendores tito tinham, em materia friduaria, outea attribuigto altm da de langar fintas para acudir iis obris extraordinaias do interes coinmam dos munici- plos. REVISTA DO INSTITUTO MmSTORICO E outro nfio era o regine imunictpal, que vigorava nas co- Iontas, Na sna bem elibora ta memoria que aprosentou 90 «Primeiro Cangresso de Historia Nacional, ossim doatrina o dr. Carvalho Mourho + 48 As comaras municipes isumpayam frequentemente as ‘lLribuiebes dos propostos do. rel, @ preteniiam exercer peivile- gloss 16 qué, nfo estavan logalmente Invesidns, Apretancio de serem ouridas previaiiente sobre a taxagho dos impostos era uma desses usurpagies : 9 procedimento abu- sive nto podia crear direitos. Certa tolerangia com o procedimento das c.marss munici- pies se explica facilmente pela distancia em que as cotontas esta- vam da metropole, pelos servigos que os povos prestavam na repulsa dos invasores extmngeltas e nos ataques contea os indios, ¢, principalmente, pela protecytio quo os vereaores obtinham na Corte, devido As yelagdes de parentesco © ag emprego.de certos meios, a que talver no fosso oxtranha a euri sacra fame f preciso nfo exquecer que, em regra, niio podiam sor elei- tos veresdores pessoas mechanicas, mergadores, judeus, solda- 8 REVISTA DO INSTITUTO uISTORICO dos nom degredados, e sim Lio sémente nobres, naturaes da tera edsszendentes dos conquistadores © povoadors, (Alvari de 29 de Julho de 1643; cartas regins do 16 de Feverelro de 1671 7 de Fevereiro de 1091, 10 de Dezoubro de 1698, 19 de Novem. ‘bro de 1700, © 14 te Junho de 1719). 2a Para evitar reslamagdys dos povos, e tornar mils facil ‘© mats harata @ arrecadaghio dos impostes, og representantes do rel, sompre que havin necessidate de qualquer eontribuigio ex- trordinaria, proferiam recorrer intervengio das Gamaras, dei- xando-Ihes 0 odioso da taxagho, Dous exemplos apenas pars comprovar esta assergio : 1, O deoreto do governaor dv Babla, condo do Castelmilhor de 1.° de Julho de 1652 determinon sos officiacs da Camara que convocassem o povo para deliberar sibro o grande doficit exts- tente entre a receita en despesa, @ eluger pessoas de considera- 20 © suiffliencia quo se encarregassom do sustento do Prexidio, @ mals despesas que se faziam na Casa dos Contos, providenciando ‘sibre a cobranca dos direilas, consignagies © donativos que tos- sem necessarios, = IL, Pela carta tégia de 16 de Dozombeo de 1785, communi- cou el-rei a José Antonio Froite de Andrade, depois conde do Bobadella, que governava entfo interinamente a capitania de Mi- nas, oterrivel terremolo, que quasi destrulra completamente a eldade de Liston; e recommendo-the que delxasse ao arbitrio das camaras municipaes a escolha dos meios que achassem mais convenientes para acudir 4 miseria do reino. Em 6 de Julho de 1756, 0 governador reuniu em Juncta os procuradores das camaras, ficando assentado o pagamento de um ailsidio voluntario, palo prazo de dex annos, ¢ de accordo com { seguinte taxagRo: pela’ imporlacto de cada eseravo — $300, além dos outros impostos ; cada besta muar nova —25400 ; cada cavallo ou egua nova — 1800; cada cabega de gado vaccum — 450 reis; cada barril oa frasqueira do vinho ou aguardente do reino — 900 reis; @ cada negociante que tivesse venda— 45200 por mez. Ficon resolyido nessa ooeasio que, terminalo o reterido WISYORIA TRIBUTARTA DO BRASIL 13 praz do dex anos, ficarla fps facv estinelo 0 reterido subsidio Yoluntatio, sem necossidade de se solicitar as ordens del-rei. A vista disto, resolven a Gamara de Villa Riea, em 1786, sus far a cobranca das snpradictas toxas; mas 0 governador, Lux Diogo Lobo da Silva, protestou contra a alludida resolugio, sus fentando que, mesmo no caso de se (ractar de um subsidio volun fario, no podia ser sustada a cobringa sem expressa ordem tigi. Consia do auto'de vereanca, de 41 de Outubro de 4708, ter yesolvido @ Gamora 2 prorogacto do pagamento das taxas, com pequenas alteraghes, por mais dez annos, a oontar de 1.° de Ja neiro de 1709. Fm sessfio da Juneta de Fazenda Real realizada aM de No- yembro de 1778, o governador © eaplilio general d. Antonio: No- ronha communtcon haver annuido & suspensio do pagamento, visto se tractar de urn subsidio yoluntario e nto de um imposto que Sua Magestade houvesse estabelecido. Esta permissio concadida iis eamnras municipaes de revolve. ‘rom sobre a tribulacto extraonfinaria, consuliando a commodi- daile dos povos, nos permite reclificar um erro historico comme- Lido por um dos mais espirituosos parlamentares do Imperlo, 0 ‘qual, si bem que fillado a0 partido conservador, contribulu mule tissimo para a propaganda reputlicana, diminuindo 0 prestigio a Inslituigo monarchica pelo ridiculo, com que procurara com ‘brie @ pessoa do Impstador, de quem allis, fol mintstro. Segundo affirmou esse parlamentar, em um dos seus discur- 405, toda n difforenga entre 0 absolutisma @ © reyime conatitucionst representotivo podia ser synthetizada na seguinte f6rumla : No primeiro, el-rel, langando um novo tribato, dizia imperto- samento a0 contribuinte — pague « ndo bufe, Em identicas cireunstancias, o Imperador consiituctonal per= mittia paternalmmente que a viotima bufiusse it vontade, Espirituoso, porém tnexacto. Nos tempos coloniaes, el-rel no tolhin absolutamente 0 di- relto de queixa; fazondo questio fechada do ser abuadante a tosquia, abanddonaya de bom grado a0 rebanho a eseolha do tos- qhiaor e os methodos a operagto. ‘ REVISTA DO INSTITUTO mIsTORIGO ‘Como o corinheiro da conhecida anecdota, deixava ao povo gallinadeo « esdolha do molho, Modatidades da tazapdo, Encontramos nos foraes de doacio das capitanine os primeiros proceitos legilatinos sibbre a tribatagio no Brasil; © transerevemos do relativo capitania da Bahia, doada a Francisco Pereira Coutinho, a 26 de Agosto de 1586, as soguintes clavsulas, reproduzidas allis em todos os outros foraes: 2° Sord pogo clrot o quinlo sihro qualquer sorte de pe- Ariria, perola, aljofur, ouro, prala, coral, cobre, estantio, chumbo, ‘au qalquor onitea so;to de mets! que houver nas terras, costs, mares, rlos © hahas da capitania, Evdeste quinto, 0 donatario hayerd a sua dizima, * Seri propriedade régid todo paw-bradil, asstin como qualquer estevaria (2) ou drogaria existente na eapllania, 42” De todo opescedo, que no seja de canna, o Erario Real perceberd a sua disina, fsto 6, de cada dex pelxes tera direito a ‘ui; ¢ 0 donatario percoberi meta dizima, Permits a exportacio, foita por Portuguezes, de quaes- quer sortes de meroadorias da capilania, excepto escravos e ou- tras Gousas prohibitas, pars qualquer porto dos relnos @ senho- rios Web-ret, podendo desembarca-las © vende-las livremente, pagundo apenas a siza, Sta exportagio, porém, fosse para porto extrangelro, ou si fosae exttungciro o exportador, o Erarlo terla direito dizima, @ © capitho do navio perceberia a redizima, 6° A importsgio de meroadorias, que ji tivessem ago, direitos nas alfandegas do reino, era livre, si o importador era Portuguez, Mas si era extrangoiro, estiva snjeita no pagamento da di ima. Bra livre a importagto @ commercio dos mantimentos, armas, artilharia, polvora, salitre, enxofre, chumbo © quaesquer ou(ras munighes de guerra, 41.* Era livre o cotmercio entre as eapitanias. “A344 Permittia que 08 aleaites mores das capitanins arreca- ‘HISTORIA TRIBUTARIA DO BRASIL a dasiem om seu proveito todos os foros @ tributos, que as Orde- nogbes do Reino lies conosdiam. 16% Estabelecia que cadi tabeltito poblieo ou Judicial que funoelonaese nus villas © povongdos da capitanta, pagasso annuale ‘mente 800 rels ao donattio, ‘As Instrucgdes expedidas pelo ministro Martinho de Mello e Castro, em 6 de Margo de 1790, a0 vice-rei © capitio general conde da Resende, assim entimeraram os tributos que vigoravam na colonia: 5 Direito de disima, estabelecido na Alfandega do Rio de Ja- nofro, em 1600, na roxio de 10 Mg sobre 0 valor das tazondos irt- portadas, sem distinecdo de procedencia, Subsidio grande dos vinkos. Fol estabclecida em 4641 © con sistia no pogamento das seguintes toxas pela importacno de cada Pipa de vinho de Portngal ou das ilhas «los Acores 25800 ; @ por ‘cada plpa de vinho da Ihe da Madesra 5600. Sulbsidio pequeno dos vinhos. B ignorada a data do sewesto. hetectmento, sendo, porém, certo que ja era percebido em 1058, Consistin ino pagnmento do imposto de importacto de 26000 ror plpa de vinho, sem distinogtio de provedencia, ‘A Importagiio do vinho estava tambem sujelta ao pagamento do-tum addictonal de 26400, sob 0 titulo de donativo, Swhsidio daa aguardentes do rei ¢ ithat, Fol estabelecido em 4081, consistindo no imposto de importacto de #00 rels por barril € 38000 por Pipa. Acoreseentouse depois um sddieional de 35200 por pipa, tambem sob 0 titulo de donatico. A Companhia do Alto Douro, estabelecda em 1796, gosavi do priviiegio exclusive de fmporlagio de vinhos @ aguantente nas capitanias dé Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e S. Paulo, ‘A Ondem de 29 de Agosto de 1700 eximiu do subsidio de 36200, por pips, toda a aguantente produzida © consumida na area; mis a exporlacio eontinuou sujelta ao paxamento do: ti- poste de 65400 por plpa. © ministro Mello e Castro pensava que se devia txer exte ‘ctamonte 0 contrario, isto &, taxar fortemente a aguardento alm de impedir que diminulsse a fabricagto do assuear, gener que 2 REVISTA DO INSTITUTO HISTORICO! constituia um dos ramos mais importantes do commercio brast- Jeiro, © a0 mesino lempo eombater os fungsios effeilos do aleoo- Usmo, prinoipalmente entre os pretos @ os indios ; e diminuir on exlinguir os direitos do exportagio conforme ax nevexsidades da oozastio, porque, quanto maior quantl lade de aguardente fosse exportada para Angola e Bongnella, maior namoro de esoravos viriam em retérno para o Rio de Janeiro. Azle doce. Pagava do subsidio ¢ donativo 74000 por pipa, Tmposisao para guarda costa. Foi vstabelecida em 1719, sendo colada de aecordo com a seguinte tabella: navio ou sumaca — £48800 do entrada ; onda lancha costelra—G40 rots ; euda pipa eons: fante do manifesto — 400 reis; eal pacole, fardo ou eatsio — 200 rels ; cada embrutho — 100 reis ; eada escravo ~ 4000; cada duzia de cougostras — 200 rels; © cada quintal de pat de juca~ ‘rand — 50 rels, Desta imposigio estavam exemptas as embaroagdes perten- centes 4s pragas de Lisboa e Porto. As alludidas InstruogSes mandavatn faaor as éoguintes alto ragbes neste tributo: reduzir a 94200 a ancoragem dos navios & sumacas 4 Sejarme permlttide dizer a V. A, qite esses dous yor conto (20) deyem ser abolidos. umm tributo estabslecido contra todos os principtos da Beo~ ‘nomia Polftica,© quo asniagios mais oxslarocitas, @ que eonbecem 5 seus verdadalros Interesses, nto 16m; anles animam a expor- taglio com premios. Y.A. R. fhabolin na cabotagem esses dous por cento; ¢ preciso que sejano total. No Rio de fanelro, onde esse tributo ren te mais, ess@ au- ‘gmento 6 tirado de generos, que devem ser inteftamente livres, taes como o algodio © o fumo, quo vem de Minas ; cours do Rio Grande; assuear, que, sendo um genero em qe tudo 6 manafa- cetura, paga o dizimo rigoroso ; café, que pagando 80 reis por ar~ Toba, quando esta valia 96200, pga por excesso ao preco de hoje ‘quasi o dobro; agnariente da terra, etc., 0 que se vé pelo mappa que apresento, que fez conhecer o nada de quem se lenbrou de similhante imposto, estabelectlo ha tres annos. Paroceri tlver extranho que o thesntiveiro-mor de wm Bra rio, que conhoce a grande divida do Bstado, falle em se abotirein impostos ; porém, Senhor, quanlo estes sho gravosos, @ desant- mam a industria, 6 preciso practicar este acto, nio sé de justiga mas do interesse. A grande maacima de um tom governo, @ que mesmo deve ser HISTORIA TRIBUTARIA DO BRASIL. ss grads, é 0 de diminuiy deapesne, porque a¢ eugmentan ar rendia do Brdado te outro tanto, ‘Nesta mesma Represonogio elle alvitron a iléa de ser esta- beleoldo um Impasto exclusive sobre a renda etn Matto Grosso © Goinr ‘car nos tmpiches sem Haver quem compre, 0s senhores delle, como dover mals do quo tim, no podem manoja-to, @ caida am chora, @ nto sabe porque. En sé 0 sinto porque estou governando, @ nilo posso reme- iar, fazendo tudo quanto & posstvel. » Ovicerei, conde da Canha, em officio ditizido ao mfnistro dos negocios ultramarinos, declaron ter encontrado a Fazenda Real no mois deploravel apuro ; existia ein cofre apenas 8:2005000 ‘© nom o pagamento dns tropas estava en ita. £m 1768 o conde de Azamboja caloalaya a divida pablica em mats de cinco milhoes, No Meatorio com que o marquez do Lavradio passou 0 go- ‘Yérno a Liniz. de Vaseoncetios ¢ Sousa, a 19 de Junho de 1779, HISTORIA THIBUTANIA DO DNASIL. aT encontramos assignalada a pobreza © absolata falta de meios em ‘que se achavam os gofres publicos, sendo os pagamentos mais urgentes feilos ’ custa do thesoureiro gerl, que ‘ja havia adean- tado mais de sessenta mil cruzados | ‘© manquer do Lavradio attribula a deeadencta do commereto ‘no facto de estar el-rei devendo 4 Pragh mals de cinco mithdes, ficando assim os nogociantes privados de capital pera movimen- tarem os seus negocios ! : Nihil sul sole norwn. Em cleio dirigido a el-rel, em 4781, 0 vice-rel Lute de Yor concellos e Sousa communicou que a despesa da capitanin exce- din a receita em H1:2054722, © que a divida pablica, somente ‘quanto as capitanias do Rio de fanelto, Sineta Catharina @ Rio Grande attingia 4 quantia de 1.272:3148125, "Fim carta eseripta a d. Manuel de Portugal ¢ Gastro, gover- nailor e eapitio general de Minas Geraes, 210 de Agosto de 1821, José Castano Gomes lamentava 6 sua desgraga de ser thesou- reiro-mér de um Erario sem yintem ¢ muito endividado, ho insistamos, por enquanto, nestas Jmentagtes. A penuria do Thesouro Publico yae ser o lait matif destas palestras, ingenita no Brasil a fulla de dinheito: a crise Gnanoeira ¢, entre nbs, um phenomeno physiologicn. SEGUNDA PALESTRA SUMARIO —Deploravel sitwapio do Thesouro Pubtico, durante « regencta do principe d. Pec, € av praclamar-se a énde- pondencia nacional. Fallas do throna de 1992 @ 1897. Esta- gnapto legistativa om materia tribularia, Projecto de Cons- iluigdo organizado pela Constituinte. A Constituigho do Imperio, 0 Acto adticional ¢ « lei de interprotacao. A polt- tiea atuaneiva do 1.° reinado: 09 tractados commorciaes, 0 imposto sibro 0 owro, Dowativos voluntarios ; continua em vigor @ taxa sobre bilhetes de coniissie. Exame da questo do saber qual foi a primeira lei di orgamento do Brasil: de 14 de Novembro de 1827 ow a de 15 de Decombro de 18302 Enumoracto das fontes da receita, segunito essa ultima lei, Agito benefica do ministro da Fozenda, Miguel Calmon Du Pin 6 Almeida, depois marques de Abrantes ; as circulares 10" 126 0 120 de 17 ¢ 19 de Decembro de 1827 ¢ 0 Relatorlo do 1828, A flegencta. Os relatorios des ministros da Fazenda. do 1831 © 1832. Quadro da receita publien, 20 terminar 0 1. reinado, Simplificartio do systena tributario. Diserini- mapdo das rendas: leis do 24 de Outubro de 1832, 8 de Outu- ‘bro de 1839, 3 de Outubro de 1834, 31 de Outubro de 1596 ¢ 26 de Maio do 1840. Diversos actos leyistatives referentes HISTORIA TRIBUTARIA Do BRASIL 30) 4 tributagio, A suppressio das loterias, fonte abundantio- sima da receila especializada. Os Pedagios. 0 Danco do Bra- sil, Consideragbes finaes. Quando © principe @. Pedro, meus senhores, conseguindo ‘apressur 0 regresso ie d. Joo vi, realizou sev sonho de gover: nar o Brusil, nao podia ser mals doploravel o estado da Fazenda Pablica, ELRei drendra completamente nfo s6 6 Thesouro como 6 Banco, deisando o filho na angustiosa situagio, que elle mesino descreveu em dyas dessus cartas escriptas em desalinho fami- liar, mas que {inham a pretengio algum tanto ingenua de commo- yer as Cirles de Lisboa. Pezava sobre o Erarlo um deficit colossal; © capital se re- {rahira; desappareoerim 9 ouro ea prata, ficanido 0 eabre om {80 pequena quantidade que era comprado com 0 agio de 3 % ‘as fontes da reooita amengavam estancar, @ a despesa continuava ayultada, sugando o Thesouro grande. aumero de parasites. «No ha dinheiro, conciuia o principe; ¢ nio sei 0 que hel de fazer. Proclamada a independencia nacional, a situagio continuow ‘afllictiva ; 6 na Falla com que abriu a Assombléa Constituinte, a 3 de Maio de 1828, d. Pedro 4.° saliontou as deploravels eireunstan- cias em qute 0 Brasil inielira a sua yida de nagio Independente, ‘sendo a renda insufliciente para se pagarem os credores © os ‘emprogados em elfoetivo servico. ‘Tio eritien era a situagio, seventuaya o Imperador, que ulle se Limitow a civer eomo simples particuler. exacto que d. Pedro, entoando das ao actrto das suas providencias governameniaes, procuron fuzer erer que o The- souro jA regorgitaya de dinhelro, sendo © nosso credito fal que, Ji soava na Eurvpa, ‘Mas, pelas proprins informagdes da Falla do throno, nds ve- rifleamnos queos effeltos das decantadas providencias (que, aliés, eonsistirim unlcamente na midaniga de empregados © numa fisealizagio mais rigorosa)se limitaram a, or em dia o pagamento ‘do fancelonstismo piblico, 9 fornecer ds provinclas petrechos 0 REVISTA Do INSTITUTO HSTORICO. hellioos necessarios sua defesa, ea saldar uit parte do debito do Thesouro, A situagao continuon tio calamitosa que, em sessio de 5 de Agosto do 1823, a Assembléa Conatituinte rejeiton um projecto do deputado Montezuma exemptando do pagamento dos diximos e outros direitos estubelecidos, as safras de assucar e demais productos da provincia da Babia, até 1826, apesar de haver 0 auctor do projecto allegado os grandes prejuizos, que os Bahia. nos hayiam Soffrido na defess da causa da indepondencis na- ‘ional, E © imperador, nn Falla do throne lida na sessto de 8 de Maio de 4327, recommendou ao espoctal cuida to da Asgembléa a ‘a organizngio de um systema de finances, porque o existente iio era somente mau, era pessimo, dando logar a toda qualidade de delapidacdes, : Sendo esta a siluagio, era natural que o problema tributario se impnzesse a0 estudo dos estadistas no 1.° reinado, provooando ‘uma prompta solugho. Mos nto foi isto 0 que se dens as questdes politicas mono- polizaram completamente os lucldos espiritos daquella epecha agitadissima; © @ taxagto continvow chaotien, incanveniente absurda, sem respaitar ao menos o principio do mon bis in idem, A tributagio no entrou nas ongitagbes do logisiador consti- {tuinte sinio vagamente, © quast exclusivamente sob 0 seu aspo- ‘ote politico. Examinemos as disposigbes altinentes uo assumpto. © Projecto de Constituicto, organtzudo pela Commissio no- moada pola Constitulnta, ¢!) contina o$ seguintes proceltos : «Artigo 8.2 Nenhum Brasileiro seri obrigndo a prestar gra- tuitamente, contra a sua yontade, servigos pessoaes, () Este prijeoto fol ido an seiato do 1. de Septombro de 129, vents datndo de % do Agosto, w amsignade polos snr: Antonio Carlon Ribeiro de Andrnds Machaido @ Silvas Ton! Bonifhels do Andrada « Sitvay Antonio Iie Perwira da Conta; Manuel Ferreira da Camara de Bittencourt @ Sk; Pedro de Aragjo Lima, com reatriegoon; Joxd Ricardo da Costa Aguiar de Andrada; Pranelvo Muniz ‘Tayares, HISTORIA TRIBUTARIA DO BASIL, at Antigo 19, Nao se estabolecerio noyns monopolios, antes as le's culdario em acabar com prudencia os que ainda existe. Artigo 83. dever ile todo Brasileira: IV. Gontribuir para as despesas pilicas. Antigo 42. Pertenow ao Poder Legislativo: IL, Pixar annualmente as despesas pablicas © as contribul- ‘ches, delerminar a saa naturoza, quiantidade € manetra de eo- ‘branga. IV. Repartir a conteibuicho directa, havendo-a, entre os diversas comaroas do Imperio, ‘Artigo 80, £ privativa da sala dos deputados a iniolativa : 1, Dos projectos do lei stbre impastos, os quaes mito podem ‘ser emendados pelo Sendo, mas to somente serio approvades ‘ow refeitados, Artigo 216. Ninguem 6 exempto de contribuir. Artigo 247. As contribuigbes sero proporcionadas is des- ‘poses pitblicas. ‘Artigo 248, O Poder Logisiativo repartica « contribuigto directa pelas comatoas; o presidente eZconselho presidial palos Uistrictos; o sub-presidente e conselho de districto pelos ter~ mos; ¢ 0 decutilio ¢ munieipulidade pelos individuos, em Fazio dos readimentos que no termo Uiverem, quer resfdam nelle quer fora (8) ‘A Constituleto do Imperio assim dispunha:

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