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souDAd E RISCO NO CAMPO Dos AFETOS: ines SIMBOLICAS E FATAIS VIVENCIADAS ee Om ‘OR MULHERES NEGRAS LONELINESS AND RISK IN THE REALM oF. SYMBOLIC AND FATAL VIOLENCES EXPERI AFFECTIONS: & review og IENCED gy BLACK WOMEN Maat Mestra em Direito Penal pela Faculdade de Caton Gono oo Com Bacharela em Direito pela mesma Institugdo. Jas vo Dinero: Penal; Direitos Humanos feumo:0 presente artigo dedica-se a investigar éticarelativa as violéncias de género que, zando sobrepostas a questdes raciais, manifes- ane de forma particularizada. A abordagem tenstufoco no campo dos afetos das mulheres sxy@s ¢ pousa 0 olhar sobre dois aspects em ‘pti: solid&o vivenciada por essas mulheres tmvivéniasafetivas € a alta representatividade és mulheres negras nos indices de feminicidio ‘» Brasil ~ contraposta & queda constante do sinero de vitimas brancas. O artigo tem como focondutor a produg3o de autoras € autores ‘nBasi edo exterior que se dedicam @ estudar ‘erinismo negro e questdes interseccionais, 2m de siuar 0 debate no campo tedrico. S40 ‘dos também relatérios de pesquisa recentes temen dados para andlise do fendmeno we Trabalha-se com a hipotese de "ge mn Simba irecionada @ mulher a = stada em Ambito intimo pode re- ‘ese Outras espécies de agressao € que aS ty Sttuturais por ela sofridas podem Se teal i Feta €™ tia instancia, em uma vio- “Mata Caudia Grotto do, Soldao e isco no campo fe fatais vivenciadas 146, ano 26-P- Pesta Basen de ibaine Criminal 146 © de Dirito da Universidade de So Paulo. outoranda em Diteito Penal Advogada Semariaclaudia@gmailcom esti em mn208 : rovado em: 14052018 ttm verséo do () autor (}: 21062018 Asstaact: This article focuses on investigating the issue of gender-based violence thats expres- sed in a particular way when intertwined with racial issues. The approach focuses on the realm of black women's affection and on two speci= fic aspects: the solitude these women undergo in emotional experiences and the high share of black women in the feminicde rate in Brazil ~as opposed to the constant decrease among white vietims. The article aims at fostering Brazilian and foreign authors that are devoted to studying black feminism and related issues, in order to place the debate in the theoretical field, Recent research reports are also used to provide data for the feminicide phenomenon review. It is accep ted the hypothesis that symbolic power applied towards black woman expressed inthe intimacy can affect ather types of aggression and thatthe structural oppressions they suffer can ultimately be translated into a fatal violence dos afetos: uma a ier ee ala: RT ase 28 por mulher39-556. 58 Digitalizado com CamScanner MIN at yencras CH racializad .gsoes estruturais € fundamentay - . e ese provwgonzam™ # vida SOc epg entendimento acerca dos 07 TT cao ja bast pa in zat a mera observacio dos maniien hoje, na § ociedade brasileira,! a despa de representatividade ae a igualdade entre homens e mulheres em dg, orientacao constitucion’ ne sa ieimninagbes de qualquer ened tos e obrigacdes eat anon pao eendola inal “ Se mesmo eae subsistem profundas marcas de SEBTEBACHO, faz song reo ee forcas sociais. O racismo € 0 machismo $40, aind, cessitio olf cmos de sociaizacio individual que exercem controle sae a imaginrio e, consequentemente, sobre instituicoes. / As lutas das mulheres e dos movimentos negros, capitaneadas Por grupos que se recusam a permanecer 4 margem da Tepresentagao social, tem hé déca. das quebrado barreiras de poder e alcancado repercussao crescente, tendo no ativismo digital, hoje, um importante aliado.? Dentre os intimeros desafios en- IntropUu¢Ao bre opre 4 precisa compreens#0 so 1. Segundo dados oficiais da Camara dos Deputados, os parlamentares brancos repre: sentam mais de 70% das vagas, enquanto os Negros ocupam apenas 3,5%. Mulhe- res brancas ocupam 8% das cadeiras, enquanto as autodeclaradas pretas e pardis vr ln somente 2.4% das vagas. Fonte: site da Camara dos Deputados: [hp www2.camara.leg br. Visita realizada em: 24.02.2018. » Particularmente, © canais de video online tem conseguido democ exismo estabelecendo um didlogo acessivel ¢o™ tulheres jovens. Conforme relata Djamila R tear debates acerca de racism ¢ g impacto especialmente dentre ag €m entrevista 4 Ay sco no ‘ adas 1B °° afetos: uma andlise sobre violence Sol 145, fo Mulheres nearas a Digitalizado com CamScanner - —__D055I8 esrecya.: a 5 ado pelts MIIRNCIAS Se insere a ag, " wil 23 : erenga”,) a ; feo da diferene fim de compreend Mr iduos (Ue ocupam simult incl ‘Ao d ler a 4 Perspectiy, Adequadamente 4 mais de um a ‘Ade “diferenca aneamente a 's demandas de ren por exemplO, significa ter que en et eee ee nl gcotidianos, esses obstaculos se 4 a gama py a jg em questao sao racializadas, pet ‘ar opressoes espectficas de que sao vii enial para evitar invi- giscrminacoes multiplas, As agressies dis ersticas especficas, nao sendo fruto de igolado, mas sim de sua interacao, jadocao de uma lente interseccional ao se her é imprescindtvel para a plena apreensao d. este artigo tem como objetivo lancar luz sobre duas manifestacses d é gadiecionadas & mulher negra de forma especial, sendo uma dele stan campo simbdlico e outra em Ambito concreto,* quais sejam: a era eat po dos afetos € 0 assassinato de mulheres negras em razio de seu género (ou, conforme diccao legal, feminicidio).* i 'aS0, tém carac- um o} , outro marcador de diferenca Hird de violencia contra a mu lo fendmeno. Com essa premissa, A fim de concretizar o presente estudo, tracar-se-4, a principio, um pano- rama a respeito de violéncia de género, de violéncia com componente racis- ae interseccionalidade a partir do levantamento bibliografico sobre o tema. Posteriormente, abordar-se-4 o fendmeno da solidao afetiva vivenciada pelas movimentos-sociais-encontram-na-internet-o-caminho-para-mobilizar-militantes, hup://blogueirasnegras.org/2016/10/20/internet-como-um-apendice-da-resistencia~ negra/] e [htips:/medium.com/@winniebueno/o-ativismo-negro-no-mundo-virtual- fTe0d1d024b2]. Acesso em: 24.02.2018. 3. CRENSHAW, Kimberlé, Documento para o encontro de especialistas em aspectos da diseriminagao racial relativos ao genero. Revista de Estudos Feministas, Florianépolis, ¥.10,n. 1, jan, 2002. p. 3. 4 Nao se desprezam as imimeras simbol agressoes fatais, A classificacao visa somente Yoriza de forma mais evidente de outro que s ot a qual 5. Em marco de 2015 fot incluido no Cédigo Penal, a parirda el 1s. Tr cadora relatva ao feminicidio, que prevé sangao mals BHO PN ut. cometidos contra mulheres em determinados cas0®. Segund 2 err par oes da linia-seg feminitdio. quando assassinato Se d4 cOnTs AT NT envotve Condigao de sexo feminino, sendo essas ulimas verfleadas QT Ot cao de ) violencia domestica e familiar e (ii) menosprez0 °8 Mlher ogjas que s4o atualizadas no momento das ‘a diferenciar um fendmeno que se exte- ;¢ aloca em ambito intimo. snalise sobre violéncias simbol Se Naa Claudia Girotto da, Solddo ¢ risco no campo dos afetos ua lise ; roto do Sata ernest ee “vista Brasitera de Ciéncias Criminais. vol. 148. 2° 26. P. Digitalizado com CamScanner RF, agosto 2018. jcial que cnvoIve A maior niatorios de pesqtiga Pate de ¢ violencia doméstieg «Mey ef, para a andlise em tog. eleva tS ode sett genero obedece a Awol gulher ra 4 violencia girecion Sr ede infligit ‘dor ou softlments ‘etn petted. NBO trata wd He atingit a mulher em sua ca ci joa pa firma-la numa posigao de infer que ao longo ct historia sca opressora, € certo que a yj reproduz c atualiza a diferene, festagoesy Jiza a mulher como sujeito ge ¢ inviabil o masculino € historica e se m o feminino & ia de poder entre TL eae recente em grande parte das civilizagoes ocidentais e orientais, sendo tema de presente cm SFT reas de conhecimento- ‘Aessa divisto desigual de poder, Joracio das mulheres, convencionou-se estudos em dive fandada no binomi genominar patriarcat dos homens de determinar De tal modo, o masculino éautorizado pela socie mo desvio dos padroes que ele mesmo forjou como naturai: mando reveste-se, consequentemente, do exercicio da violéncia. : A concepeao de género contraria 0 entendimento de que os padroes de femi- nino « maseulino s20 caractersticas estaticas e polarizadas determinadas pe- lo discurso biolégico. A adocao da categoria género, ao tomar a desigualdade ‘mo produto de uma construgao social, desnaturaliza a diferenca dos sex0s biologicos, que legitimaria a hierarquizagdo entre os dois papeis Const” one de Beauvoir, € posst: ia valores; re “on ‘9 dominacao-exp) k io, Segundo Saffioti, 0 pat condutas ¢ papéis de arcado se manifesta pelo poder categorias sociais nomeadas*, dade a punir o que define s. A capacidade de Desde a segunda metade do século XX, j4 em Sim vel encontrar a concepeto segunda a qual nl & : a qual nao é a fisiologia que mas as relacdes de poder dentro de uma sociedade: no [Sendo oc pees om arama de nosso dominio do mundo, este s¢ 4 ente diferente segundo seja apreendido de wma 6, SAFFIOTI, Hel } Heleieth 1. B genero. Cad . Contribui a lermos Pagu. Campinas: Oe para o estudo da viol > 2001, p. 15. oc Revista Br en esa de Cini 2 vveciadas por sees ume analise sobre violencias minis. Vol. 146, ba 9a ese geas. 2018 mtn Se exe Onsslns Fa RT, 290500 T a Digitalizado com CamScanner - Dossié especya eNO € Sie Poxmyg" - Especy, ERO € SisTeMA Punto = 543 gu de outta. Eis por que os estuca oe emitem compres 1 » gc atudatmes ta dem, quel preender a mulher, Ma oradamente; sao 4 a. Nao be nS éaideia de que , ‘am p: A mulher é 9 ¢ ndigéo de subordina quia dos SeXOS; NAO explicam por qu ervar para sempre essa ara definit uma hierar. Dutro; na + Nao a condenan ila,’ " c act gg homen historicamente se reserva a est | material com a justificativa de que seu cor jdes que demandam forea, expressio, ra mente natural € a esfera privada, local ra publi ime €0 Ambito da produ- r © sua mente sio mais aptas a lonalidade. A mulher, o destino post da reproducao d ho epradutor), que demanda manutengs $40 do trabalho (edo aalho TEP! tengo das relacdes familiares, expli- iado.a partir de uma suposta fragilidade corporal, da docilidade que seria ine- temperamento feminino e de um: Aan te 20 n a aproximagao tid: . fas de cuidado. ‘cao tida quase como inata pura. as tare Nesse contexto, a violéncia contraa mulher se inseriu durante muito tempo como parte integrante dessa organizacao social de género, sendo reconhecida como um mecanismo legitimo de manutengdo dos papéis masculinos e femini- ne! A violencia contra a mulher, assim, tornou-se um instrumento natural dndo de opressao, uma resposta a fuga da mulher de seu personagem submisso, que deveria dedicar-se exclusivamente a familia e a satisfacao dos desejos do homem, Insere-se, portanto, como um controle masculino no corpo feminino. loméstico, desenhado como local de pertencimento da mulher, litico, no sentido da compreensio das relagoes poder envolvidas. Nao por acaso, € 0 local onde, via de regra, as mulhe- ressoftem violencia. Tal invisibilidade, conjugada com a opressao patriarcal, constitui terreno favoravel ao exercicio do controle da mulher. Aideia de quea politica, as leis e 0 espago publico seriam campos de protagonismo masculino ‘i sedimentada em variados momentos historicos, o que conferiu a mulher ° distamento da vida social ¢ firmou seu pertencimento a0 Sei eee Em ma sociedade em que o individuo considerado padrao para 0 ae os _ nica €o homem (e, além disso, o homem branco), 2 EE eae aides de Tees sempre encontrou diversos abstaculos, com reduridhs Pos regio e de concretizacao de suas demandas especificas: a id O espaco d tesvaziado de seu conteudo po “eon 4, Sto Paulo: Difusto Europela do Livro, Tp UVOIR, Simone. 0 segundo sexo. 4. ed: me nae ue & violencia contra 4 . OT TELES, Maria Amelia de Almeida; MELO, Monica de: © mulher. Sao Paul ii 002. p. 18. 0: Brasiliense, 2002. P. ies SCOTT, joan. O enigma da igualdade. Revista Estudos feministas, 1 -Jan.-abr. 2 on ee ore vokeneas sibolicas rise os aero: ua came mulheres Negras 6.538 Florianopolis, «13. (any 4, RT, agosto 2018 iia Cauda fe risco nO Giroto do. Sete vveciadas PO 13556, $do Paul Digitalizado com CamScanner 2018 * RBCCh 146 scans CIMINA'S _ pe CIENCIAS: asin BRASILEIRA DE \ 544 ‘Rows sro € @OPFCSSAO Softida ye gis de gener nsileira € ct las any izacao dos pare reicchade brasileira © constitigyy 5 "he, A mate tales cr vria domestica Se reconhegan in wane produzem cfeite as de Vi Mee een tn ‘Omg ge Enrave para que a SS «por outro fado, ¢ petbem Para ques oun aressao injustt = ¢ empregar a violéncia tos de uma agresste THN igo de empreei ie Contra mls homens ainda se vem ne LEY Gye thes foi legitimameng ain omens 4 esse € 0 Pa atti as Th enga de que ¢ , ei renga de q a violéncia doméstica insere.. firmados na cr nizaca : vee teal, compondo a dinamica qe On, te do cotidiano do Ca limenta-se a cada dig (ony © imtegrante enta-se a cada dia,to ‘ parte integrat um cielo perverso, retroalime dia, Dea mento que, em estrutura de dominacdo que cerceia 8 autongn a e prio corp, gerando nea vergonjy Sea ma, € construida uma Pa. liberdade da vitima sobre seu pr i 10. . " Essas circunstancias explicam, em parte, pala ae. sub i: violencia doméstica no Brasil, embora ia se at 2 a a, a cinco mae uma mulher é agredida no pats, de acordo co} ip a Vi ncn de ag homicidio de mulheres no Brasil." Considerar as particul atidades que eng) vem as varias dimensdes da violéncia de género (razdes historicas, sock, culturais, econémicas, entre outras) ¢ um dos desafios do direito No enfrent,. mento dessa especie de violencia, principalmente na perspectiva preventivad, cacao g, tais comportamentos. Faz-se necessirio, fundamentalmente, compreender vulnerabilidades par ticulares de alguns grupos de mulheres que as fazem padecer de forma dif. rente ou desproporcional” diante de fendmenos como a violencia de gener, O marcador da raca, nesse contexto, demonstra-se relevante para a andlise des agressoes domésticas ¢ a sua nao verificacdo ndo sé mascara uma caracteris ca importante do fendmeno como invisibiliza a demanda das mulheres nt em situacdo de violéncia. 10. BARROSO FILHO, José. 0 Perverso ciclo da violéncia doméstica contra a mulhet.. Afrontaa dignidade de todos nés. Portal do ‘Conselho Nacional de Justica. Disponivelem: thup/www.enj jus. br/atos-administrativos/atos-secretaria-geral/433-informacoe Fara/imprensa/artigos/13325-o-perverso-ciclo-da-violia.domica-conta-#-ili- alronta-a-dignidade-de-todos-n}. Acesso em: 24.02.2018, ae 11. MAPA DA VIOLENCIA 2015. Homicédios de mulheres no Brasil: Dispontvel (htp:/svww.mapadavio} nivel Aces em 24022016, "EM PaI2O1SMapaViolenca_2015_ mule 12. CRENSHAW Ki; dkcrininado na ros aay Patt 0 enconto de especilisas em a ¥10,n. 1, jan, 2009, a 0520 genera Revista de Estudos Feministas, Florian) Cao, Maria Cauda ; Girotto do. Sofas idioeraco no ae ili Fada P® dos afetos: jendias Peseta dens cae Cas To ee uaa Ste vil 1 148. ano 26. p, 539-55 Ea. RT; a903t0 9-556. So Paulo: Ed RT, = __ Digitalizado com CamScanner jain de uma lente iMlerseccional revel, la mas interagdes que ger Pits AM eSpécies distining re Oe B40 Sto me- so jiferenca dentro da diferenca-™ Mea a discriminagao, ; us 20. Esse vo do discriiminaeéta eae IMe @ construcdo das narrati nei res " 5 privilegiados dentro de pair cada F]sic enquadramento em um tinico eixo iuacio, identificagao e re tando a investigacao Apaga mulheres mediagao de discri a 6 dle sexo ¢ rac, limi 108 do grupo que, de s dos me 7 Je. de ontea m outris Palavras, em casos de discrimin, 3 ser vista em termos de negras privilegiados em casos de discrimina : lacao sexual, o foca é mulheres privilegiadas em relagao a raga e clases" Reo ecm : a iminac as experi¢ncias dos membr, mancira, sto privilegiados, Em outr racial, a discriminagao tende cm relacao a sexo ou classe; Conforme analisa Kimberlé Crenshaw, a " hibridez das experiéncias de vio- ia vivenciads — por mulheres negras faria com que elas s6 tivessem suas de- nandas valorizadas quando se aproximassem dos sujeitos universais dentro de «ada marcador de diferenca, quais sejam, o homem negro ¢ a mulher branca.”” Sao por outra razao, Carmen Hein de Campos, ao tratar da simplificacio da categoria mulher pela Lei 11,340/2006 — Lei Maria da Penha, defende que 0 imento de solugdes legais padronizadas permite pouca margem de arti- culacao de outras respostas as violéncias com componente de género. Segundo scutora, para que a mulher possa agir como sujeito politico, € necessario dis- unciarse de um conceito unificado de vitima e contemplar a violéncia de gée- eto sob uma perspectiva nao normatizadora."® Dados do Mapa da Violéncia de 2015 relatam que 59,7% das mulheres que sessaram 0 Ligue 180 — canal para dentincia e busca sobre informacdes sobre ——___ 3. Idem, . c olence H CREW any e margins: intersectionality polities and vie RENSHAW, Kimberlé, Mapping the margi 1245, Tradugd livre against women of color. Stanford law review, 1981, p. _ panne 5 “Aimterseceionalidade uma conceituacto do problema que busca eapeat 8 Sequncis estraturas dinamicas da itera ene dvs ow mats es 8 TE dina, Ela ata especificamente da forma pela qual o vacsne, © RATT’ NS + opressao de elasse e outros sistemas discriminators crit ST “2s que estruturam as posigoes relativas de mulheres, en necialistas em aspectos la (CRENSHAW, Kimberlé, Documento part 0 EnCon sen ianopolisy 4Uscriminagag racial relativos ao genero. Revista dle Estudes *10,n.1, jan, 2002, pd, 16 ¢, CAMPOS, Carmen I HO. Texto fem Jin. Violencia de genera €° nny ae ia fe resentado no evento Fazendo Genero, i sco io campo dos afte ra 18 aati vivenadas PO! UIDEES 0S Ful: E.R 0819701 "evista Brasiira de Ciéncias Criminois. vol. 146.800 Digitalizado com CamScanner 46 ° negras. A despeito das inam, : era se evidente xm esse 0 dente ques” possucm um componente racia} rile! Bes Je invisibilizar mais afetagy “Meg am ce autodecN™ aco, most violencia doméstica ‘ lologicas 4° ‘as como + desprezado circunda veis ctor ems 5, sob 0 risco soes dome nao pode 5 que fendmeno. ; ‘Ainda que existam var a das na Lei 11.340/2006 ~ Le! ra dois fenomenos (Ue ia simbolica no camp’ ncias violencia doméstica ¢ familia, ria da Penha,"” nos inleressa, No presente < lata, nao compoem explicitamente esse dliptons® 0 dos afetos € a violéncia fatal (leminienn” das mulheres negras. ig) species de olhar pa gal: a violenel a tendo como perspectiva as vive 2. A SOLIDAO ESTRUTURAL O racismo presente na sociedade brasileira, me vezes descreditady pe la crenga em uma suposta democracia racial, esta presente em diversos am. bitos: no alto indice de mortalidade violenta ou de evasao escolar, na quase inexisténcia de pessoas racializadas em postos de poder e em Tepresentacies estereotipadas nas midias.'* Mas gostarfamos de tratar, neste momento, sobre uma modalidade especifica de violencia que, de tao recorrente, quase se ele. va a agressio estrutural: a solidao a qual as mulheres negras estao sujeitas nos campos dos afetos. Ha um niimero expressivo de agressdes simbélicas direcionadas a pessoas negras e, se dialogarmos esse tipo de violéncia com 0 sexismo, temos como re- ee ume oeesio ae em especial as mulheres negras. Neuza dis, relata ue ocne gar a fragil izagao da autoestima de pessoas racializa- ‘gros tém como parametro Para construcao de sua imagem 17. Segundo o art. 7° da Lei 11.34 cias domésticas e familiares ¢ Psicologica, sexual e patrimo, 702006 ~ Lei Maria da Pena, sto consideradasvee™ ra a mulher, entre outras, a violencia fisica, mot 18. nial. encla 2017. Disponivel em: [http/Avwwipe?S ie 018). Acerca do racism, «oom: fa ie iat an SIL, ¶gigne2OU7 Pall. Acesso em: 24022 i a " forme pode se ler ny oP 4€ un eridicg we ° el recente da publicagto de e Se identifica como de esquer™, Tges : BCS eNigaindan nes monas ee * Disponivel em: {htrps://www.caTtaeP Bes-engajadas].. Acesso em: 24.02.20)8: tulado Q parse. nO Attigo di TAK e Ros, com. brisociedaden char, ‘ane Bo) evista, er M00 de Cnn. fatale NO i is vive 9 cam a encios Crimins’™Mciadas roe °°S Afetos: uma andlice ne Pera Oe jo privilegiado AMMAN ia lancada a fim de rep. de homie PHC frequene caaeraten © Telativis, paix’ amento N&O apenas o oo. 1 jsiiatis PT ean como feacamento cont wide desse crime Ve OT, mas toda wma bagagem histérjcg 4° i ravi ae agressoh aoa terindvidal ene vt FT jedade do homem € 120 comg ing no momento das arguicdes pela ap lig ri la er como 0 da mulhe tural © ocorre, ca-se que C0! slice nao 86 autonome. Cos a do Juri, a analise no $0 da culpabilidade do aut cacao no Tribuna pela acusacio 4 ‘a conduta da vitima como mulher. Mostra-se frequente © recy, mas da propria siativas da conduta feminina em seus supostos Pape soa descricdes deprec nie sugerem que a vitima nao seria “uma boa eyo. gener, co le ter tablhadors” ma tentativa de elatigh un vidade do homicidio.* vi De acordo com dados do Mapa da Violéncia 2015: homicidio de mulheres no Brasil, no lapso temporal compreendido entre 2003 e 2013, houve uma queda de 1.747 para 1.576 (9,8%) no total de homicidios de mulheres bran. cas registrados. Porém, quando se olha para as mortes violentas de mulheres negras, vemos um aumento de 54,2% no mesmo periodo: houve um salto de 1.864 mortes em 2003 para 2.875 em 2013. Essa disparidade evidencia a ne- cessidade de verificar quem sdo as vitimas para além de seu género (ou, na pers- pectiva reducionista da diccao legal, sexo). : Ponivel em: [http/Avww.compromissor, !promissocatitude.org. br/wp-content/uploads/2015/0% Caius FGY_feminicidiointimo2015,paf] Acesso bat 34.03 2018. ; 34. MACHADO, Marta R ‘ i Ponivel em: (hup:/Avww, : Cejus_ EGY feminicidiintin ren soeatitude.org br/wp-content/uploads/2015004 'imo2015.pdf}. Acesso em: 24.02.2018. mull 5, diferentes.» yen 88 OU mulher branca morta é igualzinha. Mis 35, tuo Paria oO para o relay net Jurema Wemneck, a frente 4 cia Galya, TO pan Fetinicidio: #invizibilidadeMata, do isponivel em: mee CIA GALVAO, Feminictdio: sini : {ntP!/rrvagenciapatriciagalva.org bi es Digitalizado com CamScanner eso questiONAt: POF Ge as Dotitien pre Bivatinn cS pri eto part salvar apenas mutheres pee 0 hoe aneg cits ~ OM ANCA, qUAIS respostag ‘o de politicas de prevencag? laveas de Vilma Reis, a destriggo discriminagoes acumntlad tis, NdO se trata de mer Nas P* da vida das. mulheres negras ¢ sseveram as teoriag ladles de opressio di. bordinacdo que gera lentes quando anali- no Brasil, las,35 ef nova faceta de opressio,” qos classe social e a raga d, Os indicadores sociais brasileiros, Iheres negras, revelam um contex risco de vida, prejudicam o acess ser garantidos pelo Estado e refor Quando avaliados na perspectiva das to de desigualdades que potencializam g 0 a Justica e a outros servicos que deve ‘am caminhos de desvalor de vidas, * Aopressao de classe nao pode ser dissociada da discriminacao de gene- wpe de raca. Mulheres negras habitam, em sua maioria, regides vulnerabili, zadas, onde a violéncia incide de forma mais Stavosa e a seguranca publica se mostra menos presente. Ademais, um historico de reduzida escolaridade, combinado com 0 racismo e 0 machismo, determinam que essas mulheres ccupem vagas de empregos com remuneracoes baixas e distantes dos espa- cosde poder. Importa destacar que a investigacdo a respeito de crimes que tém como fandamento marcadores sociais da diferenca nao pode se distanciar da propria «rtica ao sistema punitivo como via de composicao de conflitos. Conforme as- severa Maria Lticia Karam, a légica punitiva ¢ em si contraditoria a defesa de gupos vulnerabilizados e visa sempre a manter ou reproduzir mecanismos dedominagdo.2° Ainda assim, a andlise critica da distribuicdo de punigdes de- ‘elevar em conta as particularidades das vitimas ¢ sua eventual alocagao em thos de opressao especificos. = % Idem oe u, CRENSHAW, Kimberlé. Documento para 0 encontro ee ee ‘ ‘heviminagao racial relativos ao genero. Revista de Est vg Ot Lsjan, 2002, p. 7. - 3, SSTITUTO PATRICIA GALVAO. Feminitdi akan, Maria Luicia. A esquerda punitiva. Discurso’ Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, 199! sm aspects da Florianopolis, cit. ‘Sedicl roto do, Soiddo ¢risco n @ fatais vivenciadas PO! Digitalizado com CamScanner RBCCHM 146 IS 2018 * oo Ree 5 ocortencia de wnat AUTESSAO fatal g a pocessro ress “eevotenecias SUE jonais ¢ interpege, Peis Fazese Mya wo “ce ve psto do Estado &m prover Si aponta extte 7 cs 3 .. educacio ¢ seg Gites, pontjos por mule ie eA SERA = ws nis sa rm xpondo-as a sitta ven as propor OO sto isc as ncn ee a8 vvenciadas por um homem ge ao mais conmuTiges i “ “a por exempl0- 2 mali “1 cinegivel ¢ s¢ exterioriza nas to a sic. E cil 4 respons ona pblico espe. FE, nesse con sine ge naan POT ete i daa uid er men SS ConsiDERAGOES FINAIS Pretendeu-se, neste irecionadas a rem de forma disti anigo, agar uma possivel lina de continuldade eq opressbes dit s mulheres negras. Os motivos que leva a Iheres a sofre nta com a solidao podem trazer em si simi des com todos as outros processos de discriminacao vivenciado por mulheres intimos e fendmenos exteriorizados nos fndj. racializadas. Assim, sentimentos ces de seguranca publica fundem-se em quest0es estruturais (estruturantes) de uma sociedade racista e machista. Morre-se na rua, pela violéncia urbana espacialmente localizada; morte. 5 se sm casa, pelas maos do companheiro; morre-se simbolicamente pela austncia de oportunidades e pelas doses cotidianas de senso de inadequagao estético. tomo seo corpo negro feminino pertencesse a todos ~ mercado, homens, s tema -, do a ic é : is ". = oe nao’ propria mulher; motivo pelo qual a retomada da autoestima do, pelas mulheres negras, d de eae ged en ee “Bl seus corpos e potencialidades € uma 40. Mulheres ney gras dan do Lies Tanah 58.86% ds vtimas de viléncia domestic segundo 201 do ins da Sander 5,990 ge remilidade materna segundo dados de los de 2014 da Fur 3 05.9% das vitimas de ia obste un ‘ viole gun dacdo Oswaldo Cruz; 68,8% das She cane ages sto, de acordo com PATI dados de 20) . RICIA GALVAO, Fomine Misterio da Justica, Compilagao: INSTITU 4 + TAluas do rosto ‘escuro de cag . 1995, Ra Nossa capacidade de autodetert 5 a, oe P5352), Bénero e ascensao social. 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