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—— A QUESTAO DA TECNICA A seguir, questionaremos a técnica. 0 questionamento traba tha na eonstrucao de um caminho. Por isso aconselha-se conside- rar sobretudo o caminho enéo ficar presos vias sentencas eas diversas titulos. 0 caminho um caminho do pensamento. Todo caminho de pensamento passa, de maneira mais ou menos percep. tivele de modo extraordinério, pela linguagem. Questionaremos a técnica e pretendemos com isto preparar um relacionamento livre com a técnica. Livre é o relacionamento capaz de abrir nossa Presenga & esséncia da técnica. Se the respondermos & essencia, podderemos fazer a experiéncia dos limites de tudo que € téenico, A técnica ndo ¢ igual & esséncia da técnica. Quando procure mos a esséncia de uma érvore, temos de nos aperceher de que aqui- To que rege toda érvore, como drvore, nao é, em si mesmo, uma frvore que se pudesse encontrar entre as érvores. ‘Assim também a essncia da técnica ndo 6, deforma alguma, nada de técnico, Por isso nunca faremos a experiéncia de nosso re- Jacionamento com a esséncia da técnica enquanto concebermos € lidarmos apenas com o que 6 técnico, enquanto a ele nos moldar- ‘mos ou dele nos afastarmos. Haveremos sempre de ficar presos, sem liberdade técnica tanto na sua afirmagao como na sua neg ‘Go apaixonada. A maneira mais teimosa, porém, de nos entregar- mos técnica &consideréla neutra, pois essa concepedo, que hoje goza de um favor especial, nos torna inteiramente cegos para a es- séncia da técnica. De acordo com uma antiga ligdo, a esséneia de alguma coisa é ‘aguilo que ela 6. Questionar a técnica significa, portanto, pergum~ tar o que ela é. Todo mundo eonhece ambas as respostas que res- pondem esta pergunta. Uma diz: téenica é meio para um fim, A ‘outra diz: téeniea é uma atvidade do homem, Ambas as determing: ‘ies da téenica pertencem reciprocamente uma 8 outta. Pois estabe- lecer fins, procurar e usar meios para alcangélos é uma atividade 2 Ensaio econferénias humana, Pertence & técnica a produgio ¢ 0 uso de ferramentas, aparelhos e méquinas, como a ela pertencem estes produtos © ‘utensflios em si mesmos e as necessidades a que eles server. 0 conjunto de tudo isto € a técnica. A prépra técnica é também um instrumento, em latim énstramentu. ‘Acconcepeio corrente da téenica de ser ela um meio e uma ati vvidade humana pode se chamar, portanto, a determinagéo instru: mental e antropolégica da téenica. Quem ousaria negar que ela correta? Ela se rege evidente ‘mente pelo que se tem diante dos olhos quando se fla em técnica ‘A detetminagéo instrumental da técnica é mesmo tio extraordina Fiamente correta que vale até para a técnica moderna. Desta, de resto, afirmase com certa razio ser algo completamente diverso © por isso novo face técnica artesanal mais antiga. Também a usina de forga, com suas turbinase geradores, & um meio produzido pelo ‘homem para um fim estabelecido pelo homem. Também o avigo a Jato, também a méquina de alta frequéncia sio meios para fins. Na ‘uralimente, uma estagio de radar é muito menos simples do que uum catavvento, Naturalmente, fabricar uma méquina de alta fre ‘quéncia exige a integragio de diversos processos da produc tée- hieo industrial, Naturalmente, uma serraria perdida em algum vale dda Floresta Negra & um meio primitivo quando comparada com @ sina hidroelétrica instalada no Rio Reno. Permanece, portanto, correto: também a técnica moderna é ‘meio para um fim, E por isso que a concepcio instrumental da tc nica gia todo esforgo para colocar 0 homem num relcionamento direto com a técnica. Tudo depende de se manipula a téenica, en quanto meio e instrument, da maneira devida. Pretendese, como se costuma dizer, “manusear com espirto a técnica’. Pretendese ddominar a técnica, Este querer dominar torna-se tanto mais urger te quanto mais a técnica ameaca escapar ao controle do homem. Supondo, no entanto, que a técnica ndo seja um simples meio, ‘como fica entio a vontade de dominésla? Dissemos acima que ade terminagio instrumental da téenica era correta. Com certeza. ‘correto constata sempre algo exatoe acertadlo naguilo que se da e std em frente (dele), Para ser correta, a constatagdo do certo e A questo da tenia B cexato nio precisa descobrir a esséncia do que se die apresenta, (Ora, somente onde se der esse descobrir da esséncia, acontece 0 verdadeiro em sua propriedade. Assim, o simplesmente correto ain da ndo € o verdadeiro,E somente este nos eva a uma aitude livre ‘com aquilo que, a partir de sua prOpria essencia, nos concern. Emhora correta, a determinacio instrumental da técnica nao nos mostra a sua esséncia, Para chegarmos a esséncia ou a0 menos & sua vizinhanga, temos de procurar 0 verdadeiro através e por dentro do correto, Devemos, pois, perduntar: 0 que é 0 instrumental em si mesmo? A que pertence meio e fim? Um meio € aquilo pelo que se faz e obtém alguma coisa, Chama-se causa o que tem como conse- ‘quéncia um efeito, Todavia, causa ndo é apenas o que provoca vn ‘outro, Vale também como causa o fim com que se determina o tipo do meio utilizado. Onde se perseguem fins, aplicamse meios, onde rena a instrumentalidade, ai também impera a causalidade. A filosoia ensina ha séculos que existem quatro causas: 1) a ‘causa materials, o material, a matéria de que se fax um cdlice de prata;2)a causa formalis, a forma, a figura em que se insere o ma- terial; 3) a causa finals, o fim, por exemplo,o culto do sacrficio aque determina a forma ea matétia do calice usado; 4) a causa ef ciens, 0 ourives que produz 0 efeto, o célice realizado, pronto. Descobre-se a técnica concehida como meio, reconduzindo-se ains trumentalidade as quatro causas. E sea causalidade for obscura justamente em sua essencia, na- aquilo que ela & Sem divida, ha séculos considerase a doutrina das quatro causas uma verdade cafda do céu, clara como a luz do sol. E, nio obstante, jd é tempo de se perguntat: por que existem precisamente quatro causas? No tocante as quatro causas, 0 que significa “causa” em sentido préprio? De onde se determina o caré- terde causa das quatro causas de modo tio uniforme a ponto de se pertencerem uma & outra numa coeréncia? Enquanto no nos empenharmos nestas perguntas, a causal dade permaneceré obscura e sem fundamento , com ela, a instru- mentalidade e, com esta, a determinagdo corrente da técnica De hi muito, costumase conceber a causa como 0 que é efit cente. Ser eficiente significa, aqui, alcancar, obter resultados e eft: “ sais econerenclas tos. A causa efficiens, uma das quatro causas, determina de maneira decsiva toda causalidade. Esso tal ponto que i no se conta mais a causa finalis entre as causas. A finalidade nfo perten- ce A causalidade. Causa, casus provém do verbo cadere, cair. Diz, aquilo que faz com que algo caia desta ou daquela maneira num re- sultado. A doutrina das quatro causas remonta a Aristételes. No entanto, para o pensamento grego eno seu Ambito, tudo que a pos- teridade procurou entre os gregos com a concepeio com o titulo, de “causalidade” nada tem a ver com a eficiéncia ea eficécia de um. fazer. O que os alemées chamam de Ursache, o que nés chamamos de causa, foi chamado pelos gregos de aliov, aquilo pelo que um. ‘outro responde e deve. As quatro causas so os quatro mods, coe rentes entre si, de responder e dever. Um exemplo pode aclarar. A pata € aquilo de que é feito um cdice de prata. Enquanto uma ‘matéria (GAn) determinada, a prata responde peo cle, Este deve & prata aquilo de que constae é feito. O utensilo sacificial nao se deve, porém, apenas & prata. No calice,o que se deve &prata aparece na fi sara de calice e nao de um broche ou ane, O utenslio do sacificio deve tamibém o que € 20 perfil (488g) de céice. Tanto a prata,em que entra o peril do clic, como o perl, em que a prata aparece, respon dom, cada uma, a seu modo, peo utenslio do sacrificio, Responsivel por ele é no entanto, sobretudo um terceiro modo. Tratase dagulo que o define, de manera prvi e antec da, onde o elie na esfera do sagrado eda ibagho, Com ee, lice crcunserevese, como wtenslo sacrificial. A ctcunscrigao fialzao wens. Com ese fm, porém,o tens no termina cis deta dese, mas comera a ser 0 que seré depos de pronto ortanto, que fialza, no sentido delevar plenitude que, em fre, se diz com a palara véh0s. Com muita fequénca, tr thuese 720g por fin", entendio, como meta tambm por“ nalidade’,entendida, como propésito,interpretandose mal esa talavra sega. 0 réh05 responde pelo que, na matéria eno perf também responde pelo wtensio sacrificial Por fim, um quarto modo responde anda pela integragso do tensile pronto: oourives. Mas, de forma alguma, como causa efficiens,fazendo com que, peo trabalho, ocdlce pronto sia tfeito de uma atividade. A questo da tenia % Adoutrina de Aristételes nio conhece uma causa chamada efi ciente ¢ nem usa uma palavra arega que Ihe corresponda. (0 ourives reflete e recohe numa unidade os trés mods mencio- nadbos de responder e dever.Refletir diz, em grego, Aéyewv, Adyox, Fundase no énopat veo, no fazer aparecer.O ourives € também, responsivel, como aquilo de onde parte e que preserva 0 apresen tarse e repousar em sido cilice sacrificial. Os tes modos anteriores, de responder devem 3 reflesio do ourives o fato e 0 modo em que cles aparecem ¢ entram no jogo de producio do cdlice sacrificial Assim, no utensflio, ue sede propée no culo, egem e vigem ‘quatro modos de dever e responder. Entre si sto diferentes, embo- a pertengam um ao outro na unidade de uma coeréneia. O que os tune antecipadamente? Em que se joa 0 jogo de articulacao dos ‘quatro modos de responder e dever? De onde provém a unidade das quatro causas? Pensando de maneira grega, o que significa res ponder e dever? ‘Temos, hoje em dia, a tendéncia de entender a responsabilidade ‘ou em sentido moral, como culpa, ou, entéo, como uma espécie de acio, Fm ambos os casos, obstruimos 0 caminho para o sentido origi- nirio do que se chamou posteiormente de causalidade. Enquanto este caminho nio se abrir, também nao pereeberemos o que é propria: ‘mente a instrumentalidade do que repousa na causalidade Para nos precavermos dos malentendidos acima mencionados sobre o que é dever e responder, tentemos esclarecer seus quatro ‘modos, a parti daquilo pelo que respondem. Segundo o exemplo dado, cles respondem pelo dare e proporsse do edlice, como uter sflio sacrificial. Darse e proporse (OnoxeToOat) designam a vigen- cia de algo que esté em vigor. E que os quatro modos de responder ce dever evam alguma coisa @ aparecer. Deixam que algo venha a viger. Bstes modos soltam algo numa vigéncia e assim deixam viger, a saber, em seu pleno advento. No sentido deste deixar, res- ponder e dever so um deixariger. A partir de uma visio da expe riencia grega de responder e dever, de alr(a, portanto, damos aqui 4 expressio deixar-viger um sentido mais amplo, de maneira que cla evoque a esséncia grega da causalidade. 0 significado corrente ce restrito da expressio delxar-viger diz, ao contrario, apenas ofere- 6 Ensais econfertcias cer oportunidade e ocasio, indicando assim uma espécie de causa deirailusio, segundo a qual, em toda parte, o home s6 se encon- ‘tra consigo mesmo. Heisenberg mostrou, com toda razio, que & ” Ensaios econferéncias assim mesmo que o real deve apresentarse ao homem moderno'. Entretanto, hoje em dia, na verdade, o homem ja nao se encontra ‘em parte alguma, consigo mesmo, iso é, com a sua esséncia. 0 ho» mem esta to decididamente empenhado na busca do que a compo sigdo provoca e explora que jd nao a toma, como um apelo, e nem se sente atingido pela exploracio. Com isto nlo eseuta nada que faa sua esséncia exsistir no espago de um apelo por isso nunca ‘pode encontrarse, apenas, consigo mesmo, A composigio nao pe, contudo, em perigo apenas o homem em sua relagao consigo mesmo e com tudo que é e est send. Como destino, a composigio remete ao desencobrimento do tipo da dispo- sigdo. Onde esta domina, afastase qualquer outra possbildade de desencobrimento. A com-posigao encobre, sobretudo, o desencobri ‘mento, ue, no sentido da notnc, deixao real engi para apare- cer em seu ser. Ao invés, 0 por da exploragao impele & referéncia contrria com o que €e esté sendo. Onde reina a composigio é od recionamento e asseguramento da disponibilidade que marcam todo o desencobrimento. Jd néo deixam surgi e aparecer o desenco- brimento em si mesmo, trago essencial da disponiildade, Assim, pois, a composigao provocadora da exploragio ni en- cobre apenas um modo anterior de desencobrimento, a producio, ‘mas também o préprio desencobrimento, como tal, e, com ele, 0 €5- ago, onde acontece, em sua propriedade, o desencobrimento isto 6 a verdade, A composicao depde a fulguracio e a regéncia da verdade. O destino enviado na disposicao €, pois, o perigo extremo. A téenica 1nio ¢ perigosa. Nao hé uma demonia da técnica. 0 que ha € 0 mis trio de sua esséncia. Sendo um envio de desencobrimento, a es: séncia da técnica o petigo, Talvez a alteracio de significado do termo “composigdo” tomese agora mais familiar, quando pensado no sentido de destino e pevigo, ‘A ameaca, que pesa sobre o homem no vem, em primeito Iv far, das maquinas e equipamentos téenicos, cuja agio pode ser ‘eventualmente mortifera. Aameaca, propriamente dita, i atingiu a cesséncia do homem. O predominio da composigio arrasta consigo, 4 0p pe questo da tecnica at possibilidade ameagadora de se poder vetar ao homem voltarse para um desencobrimento mais originavio e fazer assim a experi. cia de uma verdade mais inaugural. Assim, pois, onde domina a composigo, reina, em grau extre: mo, o perigo: “Ora, onde mora o perigo € la que também cresce © que salva’ Pensemos esta palavra de Holderin com todo o cuidado: 0 que significa “salvar"? Geralmente, achamos que sgnitica apenas rtirar, 3 tempo, da destruicio 0 que se acha ameagado em continuar a ser 0 ‘que vinha sendo, Ora, “salvar” diz muito mais. “Salvar" diz: chegar & esséncia, afm de fzélaaparecer em seu proprio bilho. Sea esséncia da técnica, a composici, constitu o perigo extremo e se também & verdadeira a palavra de Holderlin, entio 0 dominio da composicio, rio se poder’ exaurir simplesmente porque ela depoe a flguracto de todo desencobrimento, ndo poderd deturpar todo o brilho da ver: dade. Ao ims, a esséncia da técnica ha de guardar em sia medranga do que salva, Neste caso, uma percepcéo profunda o bastante do que 6 a composigio, enquanto destino do desencobrimento, no poderia, fazer brlhar o poder salvador em sua emengncia? Em que medida a forca salvadora tamibém cresce onde mora o perigo? Onde algo cresce, é ki que ele deita razes,é de ld que ele me- dra e prospera, Ambas as coisas se do escondidas, em silencio eno seu tempo, Segundo a palara do poeta, porém, nao nos € permitido ‘esperar que, no perigo, se possa apanhar aforcasalvadora, imediata mentee sem preparagio. Por isso que temos de pensar agora a me- dida em que, no perigo extremo, isto é, na regencia da composicdo, a forca salvadora se enraiza até o mais profundamente possive él ‘que ela media e prospera, Para pensélo, tornase mister olhar, com ‘um olho mais vivo ainda, o perigo, num iltimo e derradeiro passo de nossa cainhada, Assim deveros questionar, mais uma vez, a essén- cia da técnica, Pois, em sua esséncia, deita raizes e prospera, como se disse, a forga salvadora. Como nos seré possivel, porém, olhar a forca salvadora na es séncia da téenica, em pensarmos o sentido de “esséncia” em que a com-posigdo ¢, propriamente, a esséncia da técnica? 2 sao econferencias [AE agora pensamos a palavra “esséncia” no sentido comum. Na linguagem da escola, “esséncia” diz aguilo que alguma coisa é, em lati, quid, A quidditas, a quididade, responde & pengunta pela esséncia de alguma coisa, O que, por exemplo, convém e pertence a todas as espécies de érvores;carvalho, fai, bétula,pinheiro, €uma mesma arboridade, 0 mesmo sersrvore. As drvores reais e possveis caem todas sob esta arboridade, como seu genero comum, 0 “univer sal", no sentido de genérico. Ser, entdo, que a composigao, a essétr cia da téenica, constitu o genera comum de tudo que € técnica? Se fosse assim, a turbina a vapor, o transmissor de ridio,ociclotrénio seriam uma com-posigiol Ora, 0 termo, “composicao” nio diz, agi, um equipamento ou qualquer tipo de aparelho. Diz, ainda me- nos, 0 conceito genérico destas disponibilidades. As miquinas e apatelhos so tampouco casos e espécies de composicao, como 0 ‘operador na mesa de controle ou 0 engenheiro no escritorio de pla nejamento, Tudo isto, sendo pecas, disponibilidades e operadores de dispositivos, pertence, cada qual & sua maneira,& com-posigio, ‘mas esta, acomposigao, nunca & a essencia da técnica, entendida, ‘como um género. A com posigio é um modo destinado de desenco- brimento, a saber, o desencobrimento da exploracio e do desafio. Ume outro modo destinado é 0 desencobrimento da producio, da, roinoic, Esses modos ndo sao, porém, espécies que, justapostas, fossem subsumidas no conceito de desencobrimento. descobri mento é o destino que, cada vez, de chofre e inexplcavel para 0 pensamento, se parte, ora num desencobrirse produltor ora num desencobrirse explorador e, assim, se reparte ao homem. O de- sencobrimento explarador tem a proveniéncia de seu envio no des cobrimento prodlutor, a0 mesmo tempo em que a composigio ddepse num envio do destino a noinots, ‘Assim, a composigho se tora a esséncia da téenica, por ser destino de um desencobrimento, nunca, porém, por ser esséncia, no sentido de género e essentia. Se levarmas em conta essa con juntura, algo de espantoso nos atinge: a prdpria técnica exige de ins pensar que, em geval, se chama de “ess2ncia, num outro se tido, Mas em qual? ‘i:ao flarmos de “Hauswesen” (os afazeres da casa), de “Staats twesen” (as coisas do Bstado), nio nos referimos a generalidade de lum género, mas 8 maneira em que casa e Estado sio e deixam de A questo da tena 3% ser 0 que sio, ito é se administram, se realizam e desfazem. Trax tase do modo em que vigem e exercem o seu ser. LP. Hebel utiliza a antiga palavra alema *Wesere’", na poesia Fantasma na Rua ‘Kanderer (Gespenst an der Kanderer Strasse), pela qual Goethe tinha especial apreco. “Weserei” diz 0 Conselho Municipal, en- {quanto ld se retinee esté em causa a vida da comunidade, ou sea, tenquanto vige e se realiza a Presenca da aldeia. & do verbo “we- son", viger, que provém 0 substantivo vigencia. Wesen, esséncia, fem sentido verbal de viéncia, € 0 mesmo que “waren”, durar € ‘ndo apenas no sentido semantico, como também na formagao fono- logica. 14 Sécrates e Platio pensaram a esséncia de uma coisa, ‘como a vigencia, no sentido de duracio. Mas eles pensaram 0 dura douro, como o que sempre é e perdura (det Bv).O que sempre per dura, eles o encontraram no que permanece em tudo o que ocorre ‘ese dé, Esta permanéncia, eles a encontraram na estrutura (e150, {5éa) do perfil, por exemplo, na ideia de "cas Nadeia mostrase o que & tudo que se constitu como casa. Ji ‘easas reais epossveis si variagbes mutants e passageiras da dei’ «nesta condigio, no perduram e nem pertencem a0 duradoure. ra, po outro lado, nao se pode, de modo algum, provar que 0 dduradouro deva fundarse dnicaeexclusivamente na 1déq_ pensada por Platio, no 78 71 fv elven (0 que cada coisa jé sempre foi, 0 ser em tendo sido), pensado por ArstSteles ou no que, nas mais d; ‘yersasinterpretagoes, a metafisca pensa, como essentia, ‘Todo vigente dura. Mas sera mesmo que sé € duradouro 0 que perdura e permanece? Sera mesmo que a esséncia da técnica vige no sentido da duracao de uma ideia que paira acima de tudo que € ‘éenico, a ponto de se formar a aparéncia: 0 termo “a técnica” ‘uma abstragio mitica? Ora, s6 se pode perceber, como vge a técni- ‘a, pela continuidade da duracdo em que a com-posigao se di © acontece em sua propriedade, no envio de um descobrimento. Goe- the chegow a usar’ no lugar de “fortwdhren”, perdurar, a palavra misteriosa “fortgewdhren”, continuar a conceder. Sua escuta ‘ouve, nesta palavra, uma harmonia implicita decontinvidade entre *withren’, dura, e“gewahren", conceder. Ora, se pensarmos ago- ‘5 COPTIE, Die Watersandcatn (Akad lati pate ap 1, da 0c Sri cro rete ant IVENSIOAUE FeUEnee Li Seioraca cunraan. 1324 4 3 Ensaios econeréncias rade modo mais profundo do que até aqui, o que dura propriamen- tee talvez até unicamente, deveremos,entio, dizer: somente dura ‘0 que foi concedido, Dura o que se concede e doa com forca inau- ‘gural, a partir das ovigens. Como vigenca da ei, acomposicio & o que dua. Esta dura «lo age no sentido de uma conessio? Ha perunta parece uma eve dente mancada Pois a.com pos é de fat, segundo tudo que lou Ato, um envio, que rine e concentra no desencobrmento da explo racio. Eexploragio € qualquer cosa menos conceder. Eo que parece enguanto io levarmos em conta que mesmo o desafo da explo ¢éo, que leva disporse do elcome disponibldade continua endo Sempre um envio que peo homem no caminho de um desencobri mento, Na condgio de destino, a vigéna da ténica impde ao ho sem entrar no que ele mesmo no pode por si mesmo nem imsentar€ nem fazer que no hi algo assim, como um home, que, excuse mente por si mesmo, ose to omen Todavia, so destino (o envio) da composico & realmente o pe igo extremo, no $6 para a essncia do homem, mas também para todo desencobrimento, como ta, seré que ainda se pode chamar de concessio um envio assim? Sem divida e sobretudo, caso no envio, tenha de medrare crescer 0 que sah. Todo destino de um envio acontece, em sua propriedae, a partir de um concedere como wm conceder,Pois€a concessio que acareta para o homem ter parte no desencobriment, parte esta de que arece a aproximagéo do de- sencobrimento Pr ser asin encaresdo,o homem se aca apropt- ado pela apropriacio da verdad. A propiciaco, que envia para o desencobrimento de uma maneia ou de outra, €0 que salva, em ‘quanto tal. Pos € que salva que leva o homem a perebere a en- {rar na masalta dignidade de sua essncia. Uma dignidade, que est em proteerevardar, nesta terra odesencobriment com ee, cada ver, antes, o encobrimento, A com-posiao €o pergo extremo Porque justamente ela ameaca trancar © homem na disposcio, como pretensamente otnico mado de descobrimento. assim tra cado, tent levlo para o perigo de abandonar sua esséncia de ho mem live, Precsamente, neste pergo extremo, ver a lume sua pertenca mais intima. Tratase da pertencaindestrutvel ao que se Ihe concede eoutora. Tudo iso, na suposico de que da nossa par te, comecemos a pensar, com euidado, a esséncia da tenia A questo da tenia 5 Assim, a vig@neia da téenica guarda em sio que menos esperar ‘mos, uma possivel emergncia do que salva Por isso, tudo depende de pensarmos esta emergéncia e a pro ‘teermos com a diva do pensamento. E como & que isto se da? So- bretudo, percebendo o que vige na técnica, ao invés de ficar estarrecidodiante do que 6 técnico. Enquanto representarmos a técni- ‘a, como um instrumento, ficaremos presos & vontade de querer do- rind. Todo nosso empenho passar por fora da essénia da tenia. Questionando, porém, o modo em que a instrumentalidade vi ‘dora numa espécie de causalidade, faremos a experiéncia do que vige na técnica, como destino de um desencobrimento. Pensando, por fim, queo vigente de toda esséncia se da no que se concede e que este carece da participacao do homem no desencobrirse do desencobrimento, entio se mostra que: ‘Acesstneia da técnica é de grande ambiguidade. Uma ambigué dade que remete para o mistério de todo desencobrimento, isto é, da verdade. De um lado, a com posico impel &firia do dispor que destréi ‘toda visio do que o desencobrimento faz acontecer de prOprio e,as- sim, em prinipio, pe em pero qualquer relacionamento com a es- sincia da verdade. De outro lado, a com-posic2o se dé, por sua ves, em sua propriedade na concessio que deixa o homem continuar a ser ~ até agora sem experiéncia nenhuma, mas talvez no potvir com mais experiéncia -o encarecido pela verificagdo da essénca da ver dade, Nestas condigBes € que surg e aparece a aurora do que salva 0 irresistivel da disposigao e a resistencia do que salva pas- sam, a0 largo, um do outro como, no curso dos astros, a rota de dduas estelas, Mas este passar ao largo alherga o mistério da pro pria vizinhanca de ambos. ‘Se olharmos dentro da esséncia ambigua da técnica, veremos ‘uma constelagio, o percurso do mistrio. ‘A questio da técnica é a questio da constelagio em que acon tece, em sua propriedade, em desencobrimento e encobrimento, a vigencia da verdade. ‘Mas de que adianta olhar dentro da constelacdo da verdade? ~ Propicia ver o perio e perceber o crescimento do que salva 36 Bnaioseeonferéncias ‘Com isto, entretanto, ainda nio estamos salvos, embora seja- mos convocados a esperar & luz crescente do que salva. E como a espera podese dar? Aqui e agora, no minimo, de maneira a fomen- taro crescimento do que salva, o que inclu ter sempre em mente o Perigo extremo. A vigéncia da técnica ameaca o desencobrimento e 0 ameaga com a possibilidade de todo desencobrir desaparecer na disposicao « tudo apresentar apenas no desencobrimento da disponibilidade ‘Nenhuma agio humana jamais poderd fazer frente a esse perigo ‘Mas a consideragio do sentido proprio do homem pode pensar que toda forca salvadora deve ser de esstncia superior, mas, a0 mesmo ‘tempo, aparentada com o que ests ameagado e em perigo Seré, entio, que um desencobrimento concedido de modo mais origindro seria capaz de fazer aparece, pela primeira vez, a forca salvadora no meio do perigo que, na idade da téenica, mais encobre do que mostra? utrora, nao apenas a técnica trazia o nome de éxv, Outro- 1a, chamava-se também de réxvn 0 desencobrimento que levava a verdade a fulgurar em seu préprio bilho. Outrora, chamavase também de réxvn a producao da verda dena beleza. Téxvn designava também a notnais das belasartes. [No comega do destino ocidental na Grécia, as artes ascende- ram as alturas mais elevadas do desencobrimento concedido. Blas faziam resplandecer a presenga dos deuses e o encontro entre © destino de deuses e homens. A arte chamavase apenas réxvn. Era ‘um des-encobrirse tnico numa multiplicidade de desdobramentos. ‘arte era piedade, npduo, isto €, integrada na regéncia e preser- vagéo da verdade, Asartes no proviaham do artistico, As obras de arte no provo- cavam prazeresttico, A arte no era setor de uma atividade cultural ‘Mas, entlo, como eraa arte? Talvez Somente por poucos anos, ‘embora anos sublimes? Por que a arte tinha o nome simples esi elo de 12 vn? Porque era um desencobrir produtor e pertencia & rro{neic. O ultimo desvelo, que atravessa toda arte do belo, era moins, era poesia A questo da tenia a (© mesmo poeta, de quem escutamos a palavra da salvacdo: ‘Ora, onde mora o perigo 1 que também cresce ‘oque sala’, nos diz ainda » poeticamente ‘© homem habia esta tera’. B 0 postico que leva a verdade ao esplendor superlativo que, no Fedo, Platio chama de 7d ?xgavéararoy, “o que saia brilhar da forma superlativa”, © poético atravessa, com seu vigor, toda arte, todo desencobrimento do que vige na beleza ‘Sera que as helasartes sio convocadas ao desencobrir post 0? Serd que o desencobrimento hé de reivindicéas mais originaria mente para que fomentem, por sua parte, 0 crescimento do que salva, para que despertem ¢ instaurem em nova forma, a visio e a conflanga no que se concede e outorga? [Ninguém poderd saber se esté reservada & arte a suprema pos sibilidade de sua esséncia no melo do perigo extremo. Mas todos nds poderemos nos espantar. Com o qué? Com a outra possibilida- de, a possibilidade de se instalar por toda parte a fia da técnica até que, um belo dia, no meio de tanta téeniea, a esséncia da técni- ‘ea vera a vigorar na apropriagio da verdade, ‘io sendo nada de téenico aesséncia da técnica, a consideragio cessencial do sentido da téenica ea discussao decisiva com ela tém de darse num espaco que, de um lado, seia consanguineo da esséncia, dl técnica e, de outro, Ie sea fundamentalmente estranho. AA arte nos proporciona um espago assim. Mas somente se a consideragio do sentido da arte nao se fechar & constelagao da ver. dade, que nés estamos a questionar, Questionando assim, damastestemunho da indigéncia de, com toda técnica, ainda ndo sabermos a vigéncia da técnica, de, com tanta estética, if nfo preservarmos a viséncia da arte. Todavi quanto mais pensarmos a questio da esséncia da técnica, tanto, ‘mais misteriosa se torna a esséncia da art. 8 Ensaio econeréncas (Quanto mais nos aviginharmos do perigo, com maior clareza co- _megardo a brilhar os caminkos para o que salva, tanto mais questoes hhaveremos de questiona,Pois questionar €piedade do pensamento. ‘Traducao de Emmanuel Cameiro Leto CIENCIA E PENSAMENTO DO SENTIDO Segundo uma representagdo habitual, designamos com a pala ‘ra “cultura” o espaco em que se desenrolaaatividade espritual e criadora do homem. A cultura pertence a cigncia, sua pratica € oF sanizacdo. Na cultura, a ciéncia se insere entre 0s bens que 0 ho- mem preza ea que, por Varios motivos, dedica seu interess. Nunca haveremos, porém, de avaliar 0 aleance da esséneia da cigncia enquanto a tomarmos apenas neste sentido cultural. 0 rmesino vale para a arte Ainda hoje costuma-se evocar ambas jum tas: arte e cigncia, & que também se pode representara arte, omo ‘um setor da atividade cultural Neste caso, porém, nada se petcebe de sua esséncia, Encarada em sua esséncia, a arte € uma sagracio & um refigio, a saber, a sagragio eo refigio em que, cada vez de ma neira nova, o real presenteia o homem com o esplendor, até entio, cencoberto de seu brilho a fim de que, nesta claridade, possa ver, ‘com mais pureza, escutar, com maior transparéncia, 0 apelo de Como a arte, a cigncia tampouco é, apenas, um desempenho ‘cultural do homer, & um modo decisivo de se apresentar tudo que 6c esti sendo. Por isso devemos dizer: 0 que se chama de ciéncia ocidental ‘europeia determina também, em seus tracos fundamentais € em ‘proporcao crescente, a realidade na qual o homem de hoje se move e tenta sustentarse. Meditando o sentido deste processo, percebese que, no mundo Ado Ocidente e nas épocas de sa historia, a ciéncia desenvolveu um. poder que nio se pode encontrar em nenhum outro ugar da terra fe que esta em vias de estender-se por todo o globo terreste. ‘Serda cinca, apenas, um conjunto de poderes humanos,alga- do a uma dominagéo planetiria, onde seria ainda admissivel pen

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